1. POLÍTICA
C M Y K
CMYK
CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, sábado, 21 de outubro de 2006 • 13
A - 13
A-13
Comoosenhorsoubedaoperação
Candango,queculminouana
prisãode12pessoas?
Nodiaeuchegueiemcasadepoisda
corrida matinal e minha esposa estava
apavorada. Em questão de minutos es-
tava toda a família aqui. O Correio fez
uma matéria, muito bem produzida,
duas semanas atrás, abordando escân-
dalosenvolvendooICS.Naquelamaté-
ria mencionava empresas registradas
em nome de parentes do presidente
Ronan Batista que eram usadas para
desvio de recursos. Eu fiquei preocupa-
do. Mesmo tendo um contrato total-
mentelícito,fiqueicommedodeserjo-
gado na vala comum. Mas a conclusão
eradequesehouvessealgumasuspeita
elesiriamchamarantes.
Oqueestavaprevistonocontrato?
Em 2000, ou 2001, foi feita uma de-
missão em massa, 3.652 funcionários
do ICS. Eles não tinham a menor con-
dição de administrar o passivo traba-
lhista. Foi isso que gerou a necessidade
de uma consultoria nessa área. O ICS
fez um projeto básico com requisitos
técnicos para as empresas interessa-
das. Foi uma concorrência onde várias
empresas apresentaram suas propos-
tas.Aempresanaqualtenhoparticipa-
ção foi vencedora pela modalidade do
menor preço.
Aempresadosenhoredoseu
irmão,aGerencialApoioe
ConsultoriadeGestãoLtda.,
recebeuR$2milhões
peloserviço?
Não. O valor real está muito aquém
disso. Isso foi inventado. O contrato te-
ve uma vigência de três anos e meio,
quase quatro anos, e ao longo desse
período recebemos um pouco acima
de R$ 1 milhão por serviços prestados
continuamente.
AGerencial,segundoaJunta
ComercialdoDF,temsededo
SetordeOficinasdeTaguatingae
possuiumcapitaldeR$10mil.
Comofoipossívelelaconseguir
umcontratodeR$1milhão,
comoosenhormencionou,
comoICS?
Tem versões distintas. Ela foi fun-
dada com capital de R$ 10 mil e de-
pois alterada para R$ 100 mil. Não
lembro se foi fundada em 2001 ou
2002. Foi logo depois que começaram
a surgir os problemas no ICS que a
gente foi chamado a orientar as pes-
soas, eu indiquei outras consultorias.
O preço das outras foi exorbitante em
relação ao nosso, depois que a nossa
empresa foi constituída.
Entãoaempresanãohaviasido
constituídaatéaconsulta
depreços?
Foi constituída antes. Mas na imi-
nência do ICS necessitar daquele re-
curso, pela familiaridade plena que a
gente tem desse assunto, começamos
inicialmente a orientar pelo telefone.
Depois a gente começou a colocar a
mão na massa, porque vimos que o
trabalho não ia sair.
Aempresafoiformadaantes
daconsultadepreços,comum
capitalinicialdeR$10mil,
depois,segundoosenhor,
alteradoparaR$100mil,
evenceuoprocesso,contando
comempresasmaisexperientes.
Issonãoé,nomínimo,estranho?
Não, pois vencemos na modalidade
de menor preço. As outras tinham toda
acondiçãodeconcorrercomagente.A
empresa era um projeto desde 1990.
Além de atuar junto a prefeituras, tí-
nhamos uma idéia maior. Um dos ob-
jetivos era levar essa empresa a prestar
consultorias internacionais, inclusive
prestar consultoria para grandes em-
presas de consultoria. Pegar terceiriza-
ção de grandes consultorias.Tanto que
o nome de fantasia da Gerencial era
Global Management, em inglês, para
entrar no mercado internacional.
Asededaempresafica
mesmoemTaguatinga?
Por falta de disponibilidade tanto
minha quanto do Cássio, não se pe-
gou mais nenhum projeto. Comecei
então a negociar a empresa com a
contadora da firma. Nós temos um
contrato pronto. É só questão de re-
gistrar. Nessa alteração, ela deve ter
feito alguma espécie de pré-registro e
colocado o endereço lá deTaguatinga.
Daí essa confusão toda. A sede da em-
presa, na prática, era na 502 Sul. Du-
rante a vigência do contrato era lá.
AGerencialéacusadadeseruma
empresadefachada.Elafoi
formadaantesdatomadade
preços.Oúnicocontratoqueela
tevefoicomoICS,comoosenhor
mesmodisse.Depoisdeacabado
ocompromissocomoICS,
nenhumoutronegóciofoi
fechado.AGerencialfoiusada
paradesviarosrecursos
públicos?Osenhoreoseu
irmãosãolaranjas?
Não. Os contratos com o ICS, o que
estava previsto no projeto básico, a Ge-
rencial cumpriu. Assim como todas as
cláusulas contratuais. Foi uma relação
saudável e legal, sem nenhum distúr-
bio. A relação contratual foi altamente
vantajosa para o instituto e nem tanto
para a prestadora de serviço. O ICS
chegou a passar oito meses sem repas-
sar o dinheiro previsto em contrato. E
eu arquei com o pagamento dos fun-
cionários free-lancers do meu bolso.
ENTREVISTA//MÁRCIO ROBERTO CAETANO DE ALMEIDA
“Contratosforam
cumpridos”
TJDFtiraacusadosdacadeia
OPERAÇÃO CANDANGO
Ministério Público garante que, mesmo com a libertação dos suspeitos de envolvimento em fraudes
no ICS, tem provas suficientes para oferecer denúncia à Justiça e mostrar destino do dinheiro público
DA REDAÇÃO
O
s últimos cinco acusados
de envolvimento com o
desviodeR$25,8milhões
do Instituto Candango
de Solidariedade (ICS), que esta-
vam presos desde terça-feira na
Polícia Federal, foram liberados
entre a noite de ontem e a ma-
drugada desta sexta-feira. Antô-
nioVeloso Dourado, Antônio Ma-
rim, Ronan José de Almeida,
George Ibrahim Obeid e Nilson
José Pereira foram beneficiados
pela extensão do habeas corpus
concedido pelo Tribunal de Jus-
tiça do Distrito Federal a outros
oitoenvolvidosnairregularidade.
Na última terça-feira de ma-
nhã,aOperaçãoCandangodefla-
grada pela Polícia Federal, cum-
priu 12 mandados de prisão. Na
ocasião, o presidente do ICS, Lá-
zaro Severo Rocha, o ex-presi-
dente Ronan Batista de Souza,
parentes e amigos acabaram de-
tidos. Todos são acusados pelos
crimes de desvio e lavagem de di-
nheiro e formação de quadrilha.
Um 13º suspeito, Ronan José de
Almeida,ficouforagidodapolícia
desde terça-feira, mas agora já
não corre mais o risco de parar
atrás das grades, por ter sido be-
neficiado pelo habeas corpus.
Promotores do Ministério Pú-
blico do DF, integrantes da força-
tarefa que pediu a prisão dos sus-
peitos, ignoraram a soltura dos
detidos. Para eles, a operação foi
um sucesso porque as provas —
notas fiscais e comprovantes de
pagamento e de transferência
bancária — e depoimentos foram
efetivamente coletados. O procu-
rador-geral de Justiça, Leonardo
Bandarra, disse que o próximo
passo é analisar a documentação
para,“nos próximos dias”, oferecer
denúncia aos tribunais. Ele disse
que a ação mostrará para quais
pessoas e empresas foi parar cada
realdosR$26milhõesdesviados.
MÁRIO COELHO
DA EQUIPE DO CORREIO
Funcionário público há 18 anos,
Márcio Roberto Caetano de Almeida é
um dos acusados de desvios de dinheiro
público por uma força tarefa de órgãos
do governo federal, que resultou na
Operação Candango. A empresa Ge-
rencial Apoio e Consultoria de Gestão
Ltda.,deleemsociedadecomseuirmão,
CássioWilliam de Almeida,prestou ser-
viços ao Instituto Candango de Solida-
riedade (ICS) por quase quatro anos.
Em entrevista exclusiva ao Correio,
Márcio Roberto não conseguiu justifi-
caromotivodaGerencialtersedenoSe-
tor de Oficinas de Taguatinga e de ven-
cerumatomadadepreçostendoumca-
pital de apenas R$ 10 mil.
Marcelo Ferreira/CB
CAETANO DE ALMEIDA CULPA CONTADORA POR TER REGISTRADO EM TAGUATINGA A EMPRESA SUSPEITA DE FRAUDAR RECURSOS