1. EDUCAÇÃO EMOCIONAL
NOELIZA BIANCHINI DE LIMA *
O objetivo deste artigo é despertar o público para a questão das emoções e sua
expressão adequada no ambiente interpessoal, em especial no trabalho.
Pretende-se aqui trabalhar o indivíduo em sua expressividade cognitiva e emocional.
Muito se tem dito e ouvido sobre este assunto, através de Inteligência Emocional
(Goleman), Educação emocional (Claude Steiner), QI Emocional, etc. Tudo que vem de
afetividade é correto e útil. Estes temas foram todos abordados e estudados
profundamente por Eric Berne (o criador da análise transacional, método psicológico), em
meados dos anos 60.
Em uma visão psicológica ampla, daremos aqui uma idéia geral do assunto.
Os estímulos chegam ao nosso cérebro e são percebidos primeiramente através dos
órgãos dos sentidos. Entendê-los exige um processo cognitivo amplo, o qual depende do
sentimento que o estímulo provoca.
A população em geral desconhece este caminho, passando do estímulo a ação sem
avaliar que impacto emocional que sofre neste caminho. Saber o que se sente, e
expressar o que se sente é um aprendizado. As crianças manifestam aquilo que
aprenderam. Pais calorosos criam filhos calorosos. Pais que confundem seus
sentimentos ensinam as crianças a não saberem direito o que sentem, o que as leva, na
vida adulta a desconfiarem de suas intuições e sentimentos, trazendo posteriormente
uma deformação em sua percepção dos fatos e portanto em seu comportamento.
No trabalho tornam-se pessoas as vezes confusas, omissas, iradas, sem motivo
aparente, ocasionando estresse e desarmonia no ambiente.
A cognição é um fenômeno físico-químico – elétrico. A emoção surge de sensações
agradáveis ou desagradáveis dentro do organismo, decorrentes de estímulos internos
(como a fome) ou externos (como um susto). Esta é a primeira aprendizagem do bebê.
Se a pessoa não entra em contato com estas sensações e emoções subsequentes, pode
entrar em estresse e ter um comportamento completamente contrário ao esperado. Este
estresse é orgânico-funcional, já que lida tanto com a parte neurovegetativa do organismo
(responsável por músculos lisos e glândulas), como o sistema nervoso central
(pensamento). Toda esta energia mal direcionada tem que encontrar um caminho para
ser descarregada. Assim, surgem as somatizações ( que são causa de absenteísmo e até
2. de licenças saúde), dificuldades de relacionamento (levando a perda de emprego, de
separações, (ocasionando a depressão e outras doenças), auto estima baixa.
Interpretações inadequadas da realidade interna e externa - levam a conflitos que
comprometem a vida de relação do indivíduo.
As emoções básicas são afeto, alegria, medo, raiva, tristeza. Aceitá-las como naturais e
de expressão necessária pode romper uma rede de angustia, facilitando a convivência.
Nossa cultura valoriza a expressão de emoções agradáveis, tais como a alegria e o afeto,
desde que sejam contidas, ou disfarçadas em outras que não causam dano ao ambiente.
Sabe-se que um indivíduo autêntico e caloroso é bem vindo em qualquer situação,
entretanto se exercer esta liberdade em outras emoções tais como medo, raiva ou
tristeza, pode ser considerado respectivamente: inseguro, agressivo e fraco.
Desde crianças aprendemos a lidar com as emoções de uma forma que não fira os
valores culturais e familiares. Elogiar-se é entendido em algumas famílias como falta de
humildade. Abraçar um amigo tem sempre que estar acompanhado de tapas nas costas,
assim como entre as mulheres o abraço só é considerado livre de problemas até a
adolescência, pois pode ser mal interpretado em termos de opção sexual. Pais
carinhosos deixam de sê-lo quando os filhos atingem a puberdade. O medo é
característica de um perdedor, a tristeza é tida como emoção de fragilidade, e a raiva
sugere uma pessoa difícil.
Pessoas que não expressam seu desconforto através do medo, raiva ou tristeza não
saberão expressar adequadamente e sem culpa a alegria e o afeto.
Desta forma as pessoas aprendem a esconder as emoções naturais, transformando-as
em sensações, sentimentos e comportamentos crônicos, parasitas, tais como:
Inadequação culpa remorso, timidez, inveja, depressão, problemas gastrointestinais,
medos, dores, alergias, bronca, ressentimento, ciúme, poder, solidão, rejeição,
desespero.
Fica claro que este mecanismo defensivo tem conseqüências negativas para a pessoa e
para os que a cercam, levando-a a somatizações, perda da auto-estima e motivação,
dificultando a vida de relação.
Entende-se, portanto que a base da competência emocional é conhecer e expressar suas
próprias emoções, o que trará a pessoa a capacidade intuitiva e precisa lidar com as
situações. Isto exige conhecimento de si, o que levará ao entendimento do outro,
ferramentas essenciais na profissão.
NOTAS
• NOELIZA LIMA é psicóloga, prof. universitária, docente e palestrante em congressos, instituições,
empresas.
3. Este artigo foi publicado: Temas Multidisciplinares em Neuropsicologia e Aprendizagem, São Paulo,
Tecmedd, 1a. ed.
Contato: ngroupsy@yahoo.com
Noelizapsy.blogspot.com