A religião e a cultura no sistema toyota de produção
1. A INFLUÊNCIA DA
CULTURA E DAS RELIGIÕES NO
MODO DE PENSAR DA
TOYOTA: A ORIGEM DO LEAN
EMBRACO
Vers. 2017 março
2. Módulo 7
•Lean é uma filosofia, uma maneira de pensar, que visa
diminuir os desperdícios através da melhoria contínua, com
respeito ao ser humano. É parte importante do WCM.
•As ferramentas são importantes, mas considero essencial
entender como tudo isso surgiu no Japão pois ajuda na sua
implantação.
Origem do Lean:
3. Módulo 7
•A Toyota fala que, antes de construir carros (“mono zukuri”),
eles “constroem pessoas” (“hito zukuri”). Isso está escrito
nos livros de americanos como o Jeffrey .K. Liker, que
estudam Lean há muito tempo.
Nota: “mono”= coisa; “hito”= pessoa; “zukuri” = construir.
4. Módulo 7
•Mas como mudar a cultura de uma empresa? Não é fácil,
pois é preciso mudar a maneira de pensar das pessoas da
empresa, começando do nível mais alto, que deve dar o
exemplo.
•E isso não é fácil.
•A mudança deve começar com você mesmo.
•Eu sou descendente de japoneses e sei que há muitas
coisas não boas na cultura de lá. Citarei algumas no final.
5. Módulo 7
•Então, para entender o contexto cultural onde nasceu o
STP, é preciso estudar a geografia e a matriz cultural-
religiosa do Japão que enfatiza o trabalho produtivo, a
cooperação, a diligência, a austeridade, a disciplina e o
autocontrole.
•Estes princípios foram publicado em um édito imperial
em 1890 que eram lidos diariamente nas escolas
japonesas até o fim da Segunda Guerra Mundial. Nessa
época o imperador (Meiji) era considerado descendente
dos deuses. Sua palavra era lei.
6. Módulo 7
•Importante ressaltar que essas características nasceram
da NECESSIDADE de SOBREVIVÊNCIA.
•Por isso insisto que o Lean “pega” melhor quando a
empresa implanta o STP por necessidade presente ou
futura, não por “moda”.
•A DOR educa mais que o PRAZER. Há muitos exemplos
que confirmam isso. Na saúde, no trânsito etc.
7. Módulo 7
•Geografia: o Japão é um país pequeno, com poucas áreas
agriculturáveis. A terra tem que ser aproveitada ao máximo e
isso exige bom relacionamento entre os agricultores
vizinhos, muitas vezes donos de patamares vizinhos: não
posso soltar a água (para maior produtividade se planta
dentro da água) sem avisar o dono de baixo. E a terra tem
que ser bem aproveitada, sem desperdício. Isso gerou a
necessidade de harmonia nos relacionamentos.
Quando se viaja
pelo Japão, há
muitas plantações
de arroz.
8. Módulo 7
•O alimento principal é o arroz (“gohan”, que também
significa refeição). O seu plantio, dentro da água, exige
muito trabalho e manutenção (mais que o milho, que
pode ser plantado em morros).
9. Módulo 7
Como a plantação e a colheita devem ser feitas em épocas
bem definidas (clima temperado), os donos das pequenas
propriedades precisavam “convidar” os vizinhos para, em
regime de mutirão, fazer essas atividades muito cansativas.
Isso, claro, antes do aparecimento das mecanizações. Isso
fez surgir o espirito de cooperação. Por necessidade! Isso
ocorre entre os carregadores de caixas de alface no CEASA.
10. Módulo 7
•Por outro lado, o Japão tem terremotos e tsunamis
(maremotos). Não adianta lutar contra a Natureza, é necessário
aceitá-la e, no máximo, evitar maiores consequências
preventivamente. E um incêndio após um terremoto é mais
devastador que o fenômeno.
11. Módulo 7
E notem que a Toyota nasceu no interior do Japão
(província de Aichi) em uma região agrícola, não na
capital, Tokyo, como a Nissan.
12. Módulo 7
•O Japão (como muitos países da Europa) passou por épocas
de grande fome. O desperdício de comida era um pecado e
provocava o “castigo dos deuses”. Uma das palavras que as
crianças (eu, inclusive) mais ouviam dos pais era
“Mottainai”: “não faça desperdício!” Vejam um vídeo.
Wangari Maathai foi a
primeira mulher
Africana (Kenya) a
receber o Premio Nobel
(Paz, 2004). Ela abraçou
o tema Mottainai.
14. Módulo 7
Em uma fábrica, a energia de iluminação é
relativamente barata, mas é a atitude que importa.
Vocês apagam as luzes quando não tem pessoas na
sala?
15. Módulo 7
•O Lean é definido por muitos como a arte de atacar
todas as fontes de desperdícios, de “wastes” (em inglês)
ou “mudás” (em japonês). De novo, por necessidade!
•Alias esse sentimento que abomina desperdícios,
principalmente de comida, é comum também aos
europeus que sofreram duas guerras e muitos passaram
fome. Em geral, países que sofreram muitas
dificuldades (como a neve no inverno) tendem a ser
mais disciplinados e evitam os desperdícios. E ficaram
mais ricos.
16. Módulo 7
O Japão também ficou destruído na Segunda Guerra
Mundial.
“Desperdício é característica de país pobre!”.
17. Módulo 7
•Também, nos anos após a Segunda Guerra Mundial,
donos de empresas e operários, trabalhavam até tarde
para a reconstrução das fábricas e, cansados, iam juntos ao
barzinho tomar seus “sakês” (bebida japonesa à base de
arroz).
•Isso ajudou, em muitas empresas, o bom relacionamento
entre patrões e empregados.
18. Módulo 7
•Uma pessoa que viveu de 1787 a 1856 também
influenciou muito o modo de pensar do fundador da
Toyota Looms (teares), Sakichi Toyoda.
•Foi Ninomiya Kinjiro (Sontoku, depois ao ser
nomeado samurai). Havia muitas estátuas dele
andando com lenha nas costas enquanto estudava.
19. Módulo 7
•Ele restaurou a economia japonesa e alterou o
sistema público administrativo deixando
fundamentos para o progresso na era Meiji (1868 a
1912);
•Pregou o empreendedorismo social e a disciplina nos
negócios;
•Seus ensinos influenciaram na tenacidade e ética os
imigrantes japoneses no Brasil.
20. Módulo 7
• Ele pregava, entre outros: gratidão, visão de
crescimento, valor do tempo, melhorias (Kaizen),
a alegria em produzir, sistematização
(padronização), planejamento estratégico,
trabalho em equipe, reconhecimento ,
cooperativismo.
• Nota: no ocidente, trabalho é “castigo”
(“tripalium”). Vide “Genesis”.
• No oriente, trabalho é necessidade.
21. Módulo 7
•Outro fato é que, nas comunidades agrícolas, para haver
harmonia geral, devem-se evitar conflitos, de modo que as
decisões importantes são bem estudadas por todos os
envolvidos antes de serem implementadas (PDCA);
•Isso, nas empresas japonesas, tem um nome: “ nemawashi”,
que quer dizer preparar o solo para o replante de uma
árvore.
22. Módulo 7
Recomendamos consultar com as pessoas que executam os
trabalhos no “gemba” (local onde as coisas acontecem);
Quando a decisão sobe para escalões superiores, o executivo
sabe que pode aprovar a decisão pois ela já foi bem
analisada por todos os envolvidos, o que aumenta a chance
de ser bem implantada.
24. Módulo 7
Outra palavra interessante muito usada em empresas
japonesas é o HOU-REN-SOU (espinafre japonês):
• Hou : houkoku (報告/ report = past)
• Ren : renraku (連絡/ communication = future)
• Sou : soudan (相談/ discussion or ask for an
advice = nemawashi)
http://www.iromegane.com/japan/culture/what-is-hourensou/
A falta dessas coisas pode dar falhas de comunicação, mal
entendidos ou grandes problemas.
26. Módulo 7
•Um outro fator, agora religioso, foi o budismo que prega que,
como tudo é impermanente, passageiro, nossos atos devem
buscar a perfeição.
•Também o budismo (que na verdade não é uma religião, pois
não há deus para pedir ajuda) prega a humildade. Daí vem um
costume geral de, uma vez por ano, o presidente da empresa
participar de eventos de limpeza (5S) ao redor da fábrica. O
aprendiz de monge budista (e também o lutador de sumô)
deve limpar o banheiro do templo. Limpar não é vergonhoso.
27. Módulo 7
•Para os japoneses, executivos que fazem tarefas manuais são
valorizados;
•Nas escolas japonesas, os próprios alunos limpam as salas de
aula e, nos bairros, é comum ver voluntários fazendo mutirões
de limpezas dos bueiros, praças e ruas;
•Eu mesmo sou um voluntário de uma ONG que faz eventos de
limpeza em ruas e praças de São Paulo (www.zpb.org.br).
29. Módulo 7
•O Confucionismo, de origem chinesa, prega o respeito
aos mais idosos (mais experientes), ao professor, ao
“sensei”;
•Também prega a integridade, a humanidade, a
cortesia, a fidelidade e a justiça;
•Dizem que Confúcio aprendeu com Laozi, fundador do
Taoismo.
30. Módulo 7
•O Taoísmo, também de origem chinesa, prega a
retidão, a flexibilidade de um bambu e não a rigidez de
um carvalho, que durante uma tempestade, pode se
quebrar;
TAO = CAMINHO (para a virtude)
31. Módulo 7
•O Japão nunca foi invadido por outra nação, sendo um
povo mais homogêneo. De modo geral as pessoas pensam
do mesmo modo. Isso evita os conflitos.
•Em 1274, o imperador mongol Kublai Khan tentou invadir
o Japão, mas um vendaval afundou seus milhares de
navios. A isso os japoneses chamaram de “vento divino”
(“Kami kaze”).
32. Módulo 7
•Do Xintoísmo, religião original do Japão, que vê deus
em cada coisa da natureza, vem o respeito ao meio
ambiente e o conformismo com os terremotos e
tsunamis. Isso não impede a pratica da prevenção e os
treinamentos disciplinados para mitigar os efeitos dos
desastres da natureza. Acreditam que tudo que a
Natureza deu deve ser bem utilizado, não pode ser
desperdiçado, não fazer o “mottainai”. Nota: a luta de
“sumô” é para “alegrar os deuses” do Xintoismo.
33. Módulo 7
Outro fato interessante:
No Japão da época dos samurais ( 1603 a 1868) a sociedade
japonesa era dividida em 4 classes importantes:
• Samurais= bushido (guerreiros; tinha o poder mas não o
dinheiro)
• Agricultores = nouguio(alimentavam os samurais e os
demais)
• Artesões= kogyo (deram origem às fábricas)
• Comerciantes= shobai ( tinham o dinheiro, que era
considerado “sujo”, mas não o poder)
Shi- Nou-Kou-Sho
35. Módulo 7
•Outra característica: para escrever (desenhar) os
ideogramas japoneses (chineses) se deve atentar para os
detalhes, há regras.
•Isso tornou os japoneses mais atentos para os detalhes, o
que é importante no Lean; “o diabo mora nos detalhes”.
Treinem a ver detalhes: aqui, no “gemba”, no S.Mercado etc.
36. Módulo 7
•Mais uma curiosidade na disciplina dos japoneses
(atravessar uma rua, funcionário da estação do trem/
metrô, motorista, uso de EPI, parafusos apertados etc):
•Eles dizem a palavra “YOSHI, YOSHI, YOSHI” (= OK, OK,
OK) para sinalizar verbalmente que algo foi checado e
está OK.
•Faz parte do treinamento de integração na Toyota e
outras, saber como atravessar uma rua (interna ou
externa da fábrica): tem que dizer “YOSHI, YOSHI,
YOSHI” , olhando atentamente para os lados. Vamos ver
um vídeo.
38. Módulo 7
•Essa maneira de pensar se reflete quando se
compara os objetivos das empresas ocidentais e no
Japão:
• Ocidente: lucro para acionistas e consumidores
• Japão: bem estar dos empregados e benefícios
para a sociedade e os consumidores (clientes).
•Nas decisões:
• Ocidente: de cima para baixo
• Japão: consensual.
39. Módulo 7
Quero observar que, como em muitos países e culturas, há
coisas não boas no Japão (tenho um PPT só disso!);
Eu, como um nissei (segunda geração de japoneses), sei
muito bem isso;
Mas como bons brasileiros, devemos adaptar à nossa cultura
todas as coisas boas de qualquer país ou cultura;
Assim poderemos ter um país com progresso e felicidade;
No Brasil, há muitas características boas como a criatividade,
a cordialidade e a alegria dos brasileiros.
40. Módulo 7
As empresas brasileiras precisam urgentemente implantar
a filosofia e as ferramentas do Lean.
Seus executivos, gerentes, supervisores, líderes e
colaboradores do “chão da fábrica” devem mudar suas
maneiras de pensar e agir para serem competitivas!
Muitas empresas já estão muito adiantadas na sua Jornada
Lean, mas ela não tem fim!
Apliquem seus conceitos e ferramentas como o Kaizen,
todo dia, em todo lugar, por todos, como falou o Mr.
Masaaki Imai.
“Informação não é formação”
Leandro Karnal
41. Módulo 7
• VOU EVITAR O MOTTAINAI?
• VOU ME LEMBRAR DO HOU-REN-SOU?
• VOU FAZER O NEMAWASHI, CONSULTAR OS ENVOLVIDOS?
• VOU FALAR OK, OK, OK?
MAS O QUE VOU APROVEITAR DESTA PALESTRA?
SE ISSO OCORRER TERÁ VALIDO A PENA MINHA VINDA AQUI!
E ESTA EMPRESA QUE JÁ É CLASSE MUNDIAL SERÁ MAIS
AINDA, POIS “IMPROVEMENT NEVER ENDS!”
42. Módulo 7
Referências bibliográficas:
• SHIMOKAWA, Koichi. O nascimento do Lean. Bookman
• MOURA, Reinaldo. Lições das Missões ao Japão. IMAM
• GARCIA, Hector. Um Nerd no Japão. JBC
• BARBEIRO, Heródoto. Buda, Mito e Realidade. Madras
Editora
• SAKURAI, Célia. Os Japoneses. Editora Contexto
• NITOBE, Inazo. Bushido, Alma de Samurai. Editora Tahyu
• CHUNG, Tsai Chih. Tao em Quadrinhos. Ediouro
• MOROKAWA, Yuho. Os Japoneses e seus Legados
Origem do Lean:
43. Módulo 7
• Bullying forte nas escolas
• Suicídios: de crianças e adultos (70/dia)
• Over work devido a forte competição: Koroshi
• Não se cumprimentam se não foram
apresentados (frios)
• Disciplina muito rígida
• Endereços no Japão: uma bagunça
• Caça a baleias “para fins de pesquisa”
• .Não mostram emoções: preferem se suicidar
• Tatemae e hon-nê: uma coisa é o que mostra,
outra é o que sente.
Algumas coisas não boas do Japão