O documento discute a complexidade e a transdisciplinaridade. Apresenta como o paradigma galileico-newtoniano enfrentou limites para explicar sistemas complexos, levando ao surgimento de novas abordagens sistêmicas e transdisciplinares. Exemplifica a proposta transdisciplinar de Capra, que articula diversas áreas para uma síntese sistêmica capaz de compreender a complexidade da natureza. Por fim, avalia os avanços e limites deste novo paradigma.
3. Estrutura da Apresentação
1. Contextualização histórica
2. A disciplinaridade em questão
3. Exemplo de abordagem transdisciplinar
4. Um olhar para o futuro
5. Fato importante da segunda metade do
século XX:
Mudança de perspectiva, caracterizada por:
Declínio do paradigma galileico-
newtoniano
Ascensão de novos paradigmas de
caráter sistêmico
6. Principais aspectos do paradigma
galileico-newtoniano:
Universo como sistema mecânico
Vida em sociedade como competição
Crença no progresso material ilimitado
Valores antropocêntricos
Método analítico
Perspectiva monodisciplinar
Metáfora de base: EDIFÍCIO
7. A complexidade e o paradigma
galileico-newtoniano
A própria ciência nos levou a certos objetos que
se revelam complexos demais para serem
explicados como sistemas mecânicos
A idéia de competição e os valores
antropocêntricos dificultam a compreensão
desses objetos
O método analítico e a monodisciplinaridade
são insuficientes para o estudo desses objetos
8. Dificuldades para superar esse
problema
• o paradigma galileico-newtoniano foi
responsável pelo avanço científico-
tecnológico e não pode ser abandonado
sem problemas
• por mais limitado que seja, o
conhecimento disciplinar especializado
constitui um instrumento indispensável
9. Estratégia para superar essas
dificuldades
• a situação sugere a instauração de processos
de colaboração entre as diversas disciplinas
• isso poderia permitir uma abordagem mais
adequada dos objetos complexos sem
abandonar as vantagens das disciplinas
• os processos de colaboração podem assumir
múltiplas formas, cada uma das quais sendo
selecionada em virtude de sua adequação
11. Formas possíveis de articulação
das diversas disciplinas
monodisciplinaridade
perdisciplinaridade
multidisciplinaridade
interdisciplinaridade
transdisciplinaridade
12. Monodisciplinaridade
• envolve uma única disciplina
• conhecimento especializado
• ausência de articulação com as demais
disciplinas
• modelo acadêmico tradicional, de tipo
compartimentalizado
• produz conhecimento, mas restrito a um
campo específico
13. Perdisciplinaridade
• envolve duas disciplinas especializadas
• uma delas explica através de seus
métodos o objeto da outra
• as fronteiras disciplinares são cruzadas,
mas de um ponto de vista exterior e sem
cooperação de outras disciplinas
• exs.: física da música, política da literatura
14. Multidisciplinaridade
• envolve mais de uma disciplina
• cada disciplina envolvida mantém sua
metodologia e teoria, sem modificações
• não há integração dos resultados obtidos
• busca a solução de um problema
imediato, sem explorar a articulação
• ex.: institutos de pesquisa como a RAND
Corporation (think tank)
15. Interdisciplinaridade
• envolve mais de uma disciplina
• adota uma perspectiva teórico-
metodológica comum para as disciplinas
envolvidas
• promove a integração dos resultados
obtidos
• busca a solução dos problemas através
da articulação de disciplinas
16. Estudos Interdisciplinares
são programas de estudo que usam a
interdisciplinaridade para investigar um
determinado objeto que é muito complexo
ou muito abrangente para ser
compreendido através do conhecimento e
da tecnologia de uma única disciplina
18. Estudos de Ciência e Tecnologia –
Detalhamento
• objeto: as interações entre os valores
sociais, políticos e culturais e a pesquisa
científica e tecnológica
• suposição básica: a ciência e a tecnologia
são fenômenos sociais (isso permite
descobrir novas perspectivas)
• preocupação: a direção tomada pela
ciência e tecnologia e seus riscos
19. Breve histórico dos Estudos de
Ciência e Tecnologia
• surgimento a partir da década de 1960,
quando se percebeu a inserção social da
ciência e da tecnologia
• realizou uma articulação de disciplinas
inicialmente independentes (História e
filosofia da ciência, História da tecnologia,
Estudos de ciência, tecnologia e
sociedade, etc.)
20. Transdisciplinaridade
• envolve um grande número de disciplinas
• gera um enfoque teorica e
metodologicamente unificado
• integra as diversas disciplinas através da
superação de fronteiras
• ex.: as diversas abordagens sistêmicas
(Capra, Morin, Nicolescu, Wilber)
21. Ponto de interseção
interdisciplinaridade e transdisciplinaridade
lidam com a complexidade através de
uma articulação teorico-metodológica com
integração de resultados
22. Explicação da diferença
• interdisciplinaridade
• programa de estudos
de abrangência
limitada
• a integração
disciplinar obtida é
independente das
disciplinas e
repercute sobre elas,
mas não as explica
(inter-disciplina)
• transdisciplinaridade
• programa de estudos
de abrangência bem
maior
• a integração
disciplinar é
independente das
disciplinas e não só
repercute sobre elas,
mas as explica
(macro-disciplina)
23. 3. EXEMPLO DE ABORDAGEM
TRANSDISCIPLINAR
A Proposta de Capra
24. Principais aspectos do paradigma
sistêmico emergente:
Universo como rede de relações
Corpo humano como sistema
Vida em sociedade como cooperação
Descrença no progresso material ilimitado
Método holístico
Valores ecocêntricos
Metáfora de base: REDE
25. Avanços científicos que viabilizaram o
novo paradigma sistêmico
Mecânica quântica (Bohr, Heisenberg)
Teoria dos sistemas (Bertalanffy)
Cibernética (Norbert Wiener)
Matemática da complexidade
(Mandelbrot)
Termodinâmica dos sistemas abertos
(Prigogine)
Teoria de Santiago (Maturana e Varela)
26. Contribuição da Mecânica Quântica
(Bohr, Heisenberg):
Processo de observação envolvendo
PREPARAÇÃO separada da MEDIÇÃO
Partícula observada = possibilidade de
interconexão entre preparação e medição
Cientista implicado na observação: o
modo de medir determina a propriedade
medida
Síntese: mútua ligação e
interdependência dos fenômenos
subatômicos
27. O princípio de complementaridade
onda
partícula
elétron
domínio de descrição1
lógica de tipo 1
domínio de descrição 2
lógica de tipo 2
independência
28. Contribuição da Teoria dos Sistemas
(Bertalanffy):
há uma contradição entre a
termodinâmica (desordem crescente) e a
teoria da evolução (ordem crescente)
Os sistemas vivos são abertos e não
podem ser descritos pela termodinâmica
clássica
A ciência clássica deve ser
complementada por uma nova
termodinâmica dos sistemas abertos
29. Contribuição da Cibernética
(Wiener e outros):
Na tentativa de desenvolver máquinas
auto-reguladoras, os estudiosos da
cibernética chegaram à noção de
RETROALIMENTAÇÃO
30. A noção de retroalimentação:
fator A
fator B
sensor
máquina efeito
Retroalimentação produz auto-organização
31. Contribuição da matemática da
complexidade (Mandelbrot):
Mundo das equações lineares: sistemas
descritos por equações deterministas
simples se comportam de maneira
simples
Mundo não linear: equações deterministas
simples podem produzir riqueza e
variedade de comportamento
insuspeitadas
32. Contribuição da matemática da
complexidade:
Comportamentos complexos e
aparentemente caóticos podem produzir
estruturas ordenadas (atratores
estranhos)
O comportamento de sistemas caóticos
não é meramente aleatório, mas exibe
ordem padronizada num nível mais
profundo
33. Geometria Fractal (Mandelbrot)
Fornece a linguagem matemática adequada
para descrever a estrutura em escala fina
dos atratores caóticos
É a linguagem para falar de nuvens, para
descrever e analisar a complexidade das
formas irregulares da natureza
34. Termodinâmica dos sistemas abertos
(Prigogine)
Mais adequada para descrever sistemas
afastados do equilíbrio
Estruturas dissipativas: afastadas do equilíbrio,
desenvolvem formas de complexidade sempre
crescente
Ligando não equilíbrio e não linearidade,
Prigogine desenvolveu uma termodinâmica
própria para sistemas afastados do equilíbrio
35. Estrutura dissipativa
Aberta ao fluxo de energia e de matéria
Envolve a coexistência de mudança com
estabilidade
A dissipação torna-se uma fonte de
ordem, através de laços de
retroalimentação
36. Exemplo de estutura dissipativa: o redemoinho
gravidade
forças centrífugaspressão da água
Estrutura de vórtice auto-organizada,
estável e dissipativa ao mesmo tempo,
enquanto houver fluxo de água
37. A célula como estrutura dissipativa
A célula pode ser descrita como uma
estrutura estável com matéria e energia
fluindo através dela, formando um
verdadeiro
redemoinho químico
38. Contribuição da Teoria de Santiago
(Maturana e Varela):
Ser vivo como sistema autopoiético
Níveis de descrição complementares:
Fechamento operacional
Acoplamento estrutural
39. O ser vivo como sistema
autopoiético
Dinâmica interna Fronteira externa
(metabolismo) (membrana)
40. Níveis complementares de descrição
do ser vivo:
ambiente
sistema
Fechamento operacional:
domínio de descrição da
causalidade circular
Acoplamento
estrutural: domínio
de descrição da
causalidade linear
síntese por
tensão
complementar
41. 1º Domínio de descrição:
fechamento operacional
domínio em que os componentes do
sistema operam, em que as mudanças
estruturais ocorrem
neste caso, a dinâmica interna do sistema
é relevante e o ambiente é irrelevante
42. 2º Domínio:
acoplamento estrutural
domínio das interações do sistema com o
ambiente, da história destas interações
neste caso, o ambiente é relevante e a
dinâmica interna do sistema é irrelevante
43. Fechamento operacional e
acoplamento estrutural:
As duas descrições são válidas e
necessárias para que tenhamos uma
compreensão mais completa do sistema
Mas podemos criar problemas quando
inadvertidamente passamos de um
domínio de descrição para o outro
44. A construção do novo paradigma:
Segundo Capra, a articulação dos
elementos provenientes dessas
abordagens científicas envolve uma
SÍNTESE SISTÊMICA
45. Principais aspectos da nova síntese
sistêmica
Propriedades emergentes
Ênfase no método holístico
Níveis de descrição sistêmica
Rede de sistemas e relações
Perspectiva ética
48. Níveis de Descrição
Dn + 1 => nível de descrição do sistema Sn + 1
Dn => nível de descrição do sistema Sn
Dn - 1 => nível de descrição do sistema Sn - 1
49. A rede de sistemas e relações
Sn + 1 = partes de Sn + 1 (incluindo Sn) +
relações entre as partes de Sn + 1
Sn = partes de Sn (incluindo Sn - 1) + relações
entre as partes de Sn
Sn - 1 1 = partes de Sn - 1 (incluindo Sn - 2) +
relações entre as partes de Sn - 1
50. Perspectiva ética:
Ecologia superficial:
é antropocêntrica
(o homem está acima
ou fora da natureza,
podendo dispor dela
como quiser)
não envolve
preocupação ética
Ecologia profunda:
é ecocêntrica
(o homem é apenas um
fio particular na trama
da teia da vida,
devendo respeitá-la)
envolve
preocupação ética
52. Avaliação do paradigma dos
sistemas
• articula os conceitos de caos, de
complexidade, e as ciências não-lineares
• produz nova compreensão da natureza
(sistemas caóticos, sistemas vivos)
• ainda não foi satisfatoriamente aplicado a
domínios mais complexos do que o
biológico
• esse domínio ainda é melhor explicado
pelas abordagens interdisciplinares
53. Os limites da transdisciplinaridade
• a transdisciplinaridade sistêmica
conseguiu elevar o ponto de vista
científico da física para a biologia
• falta elevar esse ponto de vista para as
interações sociais e psicológicas
• o campo está aberto para a imaginação
criadora