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apresenta
VIVER
(adaptação realizada a partir de “Húmus” de Raúl Brandão)
Adaptação (a partir da obra): Maria Lima
Adaptação do texto de Maria Lima ao grupo de teatro escolar: Elinete Megda e Manuela
Paredes
2
A VILA
CENA 1
(Apresentação da vila)
Nota de ambiente - húmido e deserto; som constante dos relógios
(A entrada dá-se ao fundo do palco na área pouco iluminada. Um realiza o jogo com a
ampulheta para iniciar o tempo da vila. Desloca-se lentamente para a frente enquanto
fala, dando espaço a que se ilumine pouco a pouco a mesa, onde já se encontram figuras
sentadas)
EDUARDO: Aqui se enterraram todos os nossos sonhos...Afigura-se-me que estes seres
estão encerrados num invólucro de pedra: talvez queiram falar, talvez não possam falar.
As paixões dormem, o riso postiço criou cama, as mãos habituaram-se a fazer todos os
dias os mesmos gestos.
A paciência é infinita e mete espigões pela terra dentro: é a insignificância que governa
a vila. É a paciência, que espera hoje, amanhã... Não há obstáculo que a esmoreça.
JOSÉ LUÍS: Já a mentira é de outra casta, faz-se de mil cores e toda a gente a acha
agradável.
LAURA: (da mesa): Pois sim...pois sim...Não se passa nada, não se passa nada. Todos os
dias dizemos as mesmas palavras, cumprimentamos com o mesmo sorriso e fazemos as
mesmas mesuras.
CRISTINA: Um dia - uma semana - um século - e só o pêndulo invisível vai e vem com a
mesma regularidade implacável.
TODOS: Prá morte! Prá morte! Prá morte!
EDUARDO: Não há anos…há séculos que dura esta bisca de três.
Desde que o mundo é o mundo que as velhas se curvam sobre a mesma mesa do jogo.
3
O jogo banal é a bisca - o jogo é o da morte...
Reparem, vê-se daqui a vila toda... (iluminação sobre o resto das figuras) Mora aqui a
insignificância, velhas a quem só restam palavras, dum lado o espanto, do outro o
absurdo. Mora aqui o egoísmo que faz da vida um casulo, e a ambição que gasta os
dentes da casa. Cabem aqui seres que fazem da vida hábito. Cabem aqui dentro as velhas
cismáticas; os homens a quem se foram apegando pela vida fora dedadas de mentira,
prontos para a cova - e o Gabiru e o seu sonho.
JOSÉ LUÍS: Cabem aqui o céu e as lambisgoias com as suas mesuras, a morte e a bisca de
três.
CENA 2
BEATRIZ: E cabe aqui também uma velha criada, que se não tira diante dos meus olhos.
Serve as outras velhas todas. A Joana é uma velha estúpida. Serviu primeiro na vila,
serviu depois na cidade. Serviu com uma saia rota, as mãos sujas de lavar a louça, uma
camisa, os usos e seis mil réis de soldada. Lavou, esfregou, cheira mal. Serviu o tropel, a
miséria, o riso, que caminha para a morte com um vestido de aparato e um chapéu de
plumas na cabeça.
JOÃO: Sempre a comparei à macieira do quintal: é inocente e útil e não ocupa lugar e
não vem primavera que não dê ternura, nem inverno sem produzir maçãs. A vida gasta-
a, corroem-na as lágrimas, e ela está aqui tal qual como quando entrou para casa da D.
Hermengarda.
CRISTINA: Os meninos borraram-na - adorou os meninos. Os doentes que ninguém quer
aturar, atura-os a Joana. Já ninguém estranha - nem ela - que a Joana aguente… Há seres
criados de propósito para os serviços grosseiros.
BEATRIZ: No entanto, por dentro… a Joana é só ternura, mas por fora a Joana é
denegrida. A mesma fealdade reveste as pedras. Reveste também as árvores.
4
EDUARDO: Velha tonta abre de quando em quando os olhos, põe o ouvido à escuta num
movimento instintivo, à espera de uma imaginária ordem: ouve sempre a voz da D.
Hermengarda a chamá-la.
JOSÉ LUÍS: Debaixo destes tetos, entre cada quatro paredes, cada um procura reduzir a
vida a uma insignificância. (sino) Remoem hoje, amanhã, sempre as mesmas palavras
vulgares…
CENA 3
CRISTINA: A poeira entranhada sufoca-nos. É necessário abalar os túmulos e
desenterrar os mortos. É o Gabiru que se põe a falar sem tom nem som. Um homem
absurdo. (…) Para ele a vida consiste, encolhido e transido, em embeber-se em sonho,
em desfazer-se em sonho, em atascar-se em sonho. Ignora todas as realidades práticas.
Na árvore vê a alma da árvore, na pedra a alma da pedra. A alma, como ele diz, a alma
é exterior: envolve e impregna o corpo como um fluido envolve a matéria. Em certos
homens a alma chega a ser visível, a atmosfera que os rodeia toma cor. Há seres cuja
alma é de uma sensibilidade extrema: sentem em si todo o universo. Daí também
simpatias e antipatias súbitas quando duas almas se tocam, mesmo antes da matéria
comunicar. O amor não é senão a impregnação desses fluidos, formando uma só alma,
como o ódio é a repulsão dessa névoa sensível. Assim é que o homem faz parte da
estrela e a estrela de Deus. Nos minerais, na pedra concentrada e recalcada, que dor
inconsciente, que esforço cego e mudo por não poder abalar as paredes e comunicar
com a alma do universo! A pedra espera ainda dar flor.
EDUARDO: O quintal escorre sonho como a alma do Gabiru. Tanta flor!
CRISTINA: Para a sua cova. A morte é o repouso eterno. Um repouso eterno, estúpido!
É exatamente o que está vivo, a morte. É o que está mais vivo. E o pior é que este sonho
é afinal o meu sonho e o teu sonho. Ninguém o confessa senão a si próprio. O nosso
5
sonho é não morrer.
BEATRIZ: Juntem a isto a vila comezinha, e o negrume que levanta os cotos esfarrapados!
Juntem a isto a grande nódoa de humidade! Juntem a isto a morte e aquela voz de
desespero que me põe em frente de mim mesmo, que é o que mais temo no mundo! O
que eu quero é tornar a viver.
CRISTINA: Encontrei há pouco uma árvore carcomida: deixaram-na de pé, e um único
ramo ainda verde desentranhou-se em flor... Pudesse eu recomeçar a vida! Viver é que
é bom, viver com o instinto, como os ladrões e os bichos, os malfeitores e as feras, sem
pensar, sem sonhar, sem palavras nem leis, até cair a um canto, morto e feliz, de barriga
para o ar. Mas nenhum de nós se atreve e passamos a vida a fingir que não existe. Se
não nos detivéssemos com palavras, se avançássemos todos ao mesmo tempo,
esquecendo o que é inútil para esta coisa que nos devora, subjugávamo-la!
Conquistávamo-la por uma vez, por maior que ela fosse.
CENA 4
CRISTINA: Eu não vivi.
JOÃO: Que importa, vais morrer! Que outra coisa fizeste na vida senão esperar a morte?
CRISTINA: Então para que nasci? Para ver isto e nunca mais ver isto? Para adivinhar um
sonho maior e nunca mais sonhar? E, confesso, o que mais me custa a largar é a vida
comezinha.
BEATRIZ: Acaba a hipocrisia. Acaba principalmente a hipocrisia para connosco.
EDUARDO: A pobreza e a humildade não se toleram para sempre. Com ilusões, podia-se
ser pobre – sem ilusões só se pode ser rico.
6
CRISTINA: Sei que tudo são aparências, com uma única realidade, a morte.
LAURA: Sim, a vida tem minutos belos, quando a gente a esquece. E acima de tudo o
sonho. O sonho vale a vida.
CRISTINA: A vida é tecida como o linho: um fio de dor, um fio de ternura. Eu intrometo-
lhe sempre um fio de sonho. Foi o que me perdeu. As horas mais belas perdi-as a so-
nhar… Eu não vivi! Eu não vivi!
EDUARDO: Trouxe sempre consigo debaixo do xale um resto de sonho amargo.
JOSÉ LUÍS: Há sonhos humildes que ninguém quer sonhar: servem à Joana que quando
os usa, os vira do avesso.
Tem uma filha, nunca fala da filha. A tua filha?...
CENA 5
BEATRIZ: No desespero percebo uma palavra, outra palavra. Sobre isto choro, sobre isto
lágrimas em barda. A Joana chora sempre, chora por tudo e por nada, chora por si e
pelos outros. Não se sabe onde vai buscar tantas lágrimas. Mas, como alguém disse: “A
ternura é húmida.”
JOÃO: Não compreendo este ser. Viro-o, reviro-o. É um ser com duas ou três ideias no
caco. Cheira mal… Passou a vida a aturar os doentes e a vida repele-a. Posso dizer quase
dia a dia como as mãos se lhe deformam, como os olhos se lhe aguam, explicar como a
mulher da esfrega se parece com o pano da esfrega. Não sei explicar o resto.
BEATRIZ: Tenho passado noites em debate com este ser absurdo. Enfurece-me e apega-
me ternura. Resiste à desgraça, resiste à vida, resiste ao ridículo. A velha consegue ser
maior que a desgraça. O meu desespero termina aqui, diante desta criatura que não
compreendo… Mete-me medo. Tanto faz que a Joana viva ou morra, que grite ou se
7
cale… E, no entanto, nesta confusão esplêndida só a sua alma comunica com a minha
alma. A sua dor, a sua mentira é que importam à minha vida e à tua vida.
(Por fim chora. Fecha a boca como se tivesse medo de falar)
LAURA: É sonho contra sonho. A sua vida é um monólogo que não sei traduzir. Há-de
acabar por falar…
CRISTINA: A minha filha… (debalde se debate: tem de falar) A minha filha casou rica, a
minha filha tem uma casa de visitas como a das outras senhoras. A minha filha… Não
posso! Não posso! (Para não avançar mais a Joana ri-se de si própria) Tenho uma tristeza
metida em mim…
EDUARDO: Já a história entra noutra fase. Tantas vezes se lhe tem perguntado porque é
que a filha a deixa andar na esfrega, que a velha acrescenta pormenores embaraçosos.
CRISTINA: A esta hora lá está ela… A esta hora… A esta hora a minha filha…
JOÃO: Na realidade a Joana é insuportável. Repete sempre as mesmas coisas… Todas as
noites a velha, quando sai da esfrega, dá uma grade volta ao negrume, molhada até aos
ossos. Para numa ruela, senta-se à porta de um casebre. Esta casa não é como as outras
casas, nem esta rua como as outras ruas.
CRISTINA: O sonho é um – a realidade é outra: a realidade é uma figura só de dor. As
mãos secas de desespero tentaram em vão arrancá-la à desgraça. A filha desceu mais
fundo, a Joana desceu mais fundo. Deu-lhe a vida e suportou o escárnio. Andou nas
mãos dos ladrões e tem tal ar de aflição, que parece tonta. A desgraça pega-lhe pela
mão e leva-a mais fundo ainda: aperta-a de encontro ao peito descarnado... Não faz
ideia nítida da vida e da morte, nem daquela viela com mulheres.
EDUARDO: Foi disto que ela fez sonho – das noites de dor e do riso dos ladrões.
8
CRISTINA: Nunca se queixou, escondeu de todos a sorte da filha. Guardou aquilo para si,
noite a noite, toda a vida.
EDUARDO: Passou por tudo, e um resto de ilusão bastou-lhe para poder viver.
CENA 6
CRISTINA: Cumpri sempre o meu dever. Dei-te o sustento, tens de ser agradecida. Tirei-
te do nada, livrei-te da fome, é preciso seres agradecida. Cumpre o teu dever. Eu cumpri
sempre o meu dever. Para cumprir o meu dever repeti a toda a hora que os pobres têm
um lugar marcado na vida. Fi-lo por dever. Cumpri-o contrariada numa eterna
contradição, mas cumpri-o. Cumpri o meu dever e amarguei o meu dever. Mas qual é o
meu dever? Se fazia o bem, amargava o bem; e tu não me largavas se tentava o mal.
Cumpri sempre o meu dever!
(Queda-se estrangulada e surpresa, mais estrangulada e surpresa ainda, diante da voz
que lhe diz não sei o quê de temeroso...)
LAURA: Tu não deste um passo na vida sem obedecer às conveniências e sem consultar
o teu código de meticulosidade. Tiveste inveja?
CRISTINA: Tive e recalquei-a. Arranquei tudo, destruí tudo, por ti que não existias. Há só
uma coisa que eu queria ainda dizer, e não a sei dizer diante de isto que tenho ao pé de
mim, dentro de mim e me não larga... (baixa o tom de voz)
JOSÉ LUÍS: Mas eu não posso! Eu não posso! Tu obrigas-me a fazer o que não devo!
BEATRIZ: Fala mais alto!
CRISTINA: Tenho aqui o fel e hei-de, para cumprir o meu dever, fazer o contrário do que
sinto: dominar-me todos os dias, moer-me todos os dias, pregar-me todos os dias.
9
JOSÉ LUÍS: A gente só vem a este mundo para cumprir o seu dever!
TODOS: Não grites, D. Leocádia, não grites.
BEATRIZ: Reconheço que tomaste a vida a sério. Que exiges tu então que não
compreendo?
CRISTINA: Mas então não há dever nenhum? Não há bem nenhum?
TODOS: Não grites...
BEATRIZ: Oh D. Leocádia como tu tapas os olhos com desespero para não ver! Há-de
aguentar com este peso, que não podemos suportar...
LAURA: Para largar a pele, D. Leocádia, até a cobra adoece. D. Leocádia, o dever é um
contrato. Há deveres para com Deus e deveres para com os homens. O contrato com
Deus falhou, porque Deus não existe.
JOSÉ LUÍS: Oh D. Leocádia, eis o fundamento da questão!... O dever era frio e amargo e
tu cumpriste-o. Foi a razão da tua vida. Azedou-te e sustentou-te.
LAURA: Perdeste a vida e transtornaste a vida atrás de uma sombra. Restam-te mil anos
e um dia, para cumprires, se queres, o teu dever inútil…
CRISTINA: Eu sou de muito boa família! (Mas a figura verde não cede: Traça o xaile…e
exclama do alto do seu pedestal)
LAURA: Só tu D. Leocádia te deste ao gozo superior de teres uma alma à tua descrição.
CRISTINA: Para a livrar da fome, para a subtrair à desgraça. Se não fosse eu ia parar a
uma viela. Cumpri o meu dever.
10
LAURA: Obrigou-a a levantar-se de noite, mas levantou-se primeiro do que ela. Quando
a órfã a olhou transida de dor e a D. Leocádia lhe bradou: - Cumpre sempre o teu dever!
– já ela tinha cumprido o seu dever até ao final.
BEATRIZ: Não te queixes, porque afinal foste buscá-la ao asilo para te sentires maior no
teu orgulho. A desgraça dos outros não comove, a desgraça alheia consola. A tua piedade
amesquinha-me.
CRISTINA: (protesta) Matei-lhe a fome.
BEATRIZ: Mataste-lhe a fome mas não pudeste amá-la.
CRISTINA: Nem posso! Nem posso! Nem posso! Trouxe-a para casa, sustentei-a, mas
nunca a pude ver.
LAURA: Deste-lhe côdeas, mas não pudeste amá-la.
CRISTINA: Mantive-a para manter o meu dever.
LAURA: Que dever? Antes a deixasses morrer de fome.
Final
CRISTINA: Ia parar a uma viela! Ir parar a uma viela é o que há de pior no mundo!
(desespera) É o que há de pior no mundo! (com angústia, para si própria) É o que há de
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Viver

  • 1. TEX apresenta VIVER (adaptação realizada a partir de “Húmus” de Raúl Brandão) Adaptação (a partir da obra): Maria Lima Adaptação do texto de Maria Lima ao grupo de teatro escolar: Elinete Megda e Manuela Paredes
  • 2. 2 A VILA CENA 1 (Apresentação da vila) Nota de ambiente - húmido e deserto; som constante dos relógios (A entrada dá-se ao fundo do palco na área pouco iluminada. Um realiza o jogo com a ampulheta para iniciar o tempo da vila. Desloca-se lentamente para a frente enquanto fala, dando espaço a que se ilumine pouco a pouco a mesa, onde já se encontram figuras sentadas) EDUARDO: Aqui se enterraram todos os nossos sonhos...Afigura-se-me que estes seres estão encerrados num invólucro de pedra: talvez queiram falar, talvez não possam falar. As paixões dormem, o riso postiço criou cama, as mãos habituaram-se a fazer todos os dias os mesmos gestos. A paciência é infinita e mete espigões pela terra dentro: é a insignificância que governa a vila. É a paciência, que espera hoje, amanhã... Não há obstáculo que a esmoreça. JOSÉ LUÍS: Já a mentira é de outra casta, faz-se de mil cores e toda a gente a acha agradável. LAURA: (da mesa): Pois sim...pois sim...Não se passa nada, não se passa nada. Todos os dias dizemos as mesmas palavras, cumprimentamos com o mesmo sorriso e fazemos as mesmas mesuras. CRISTINA: Um dia - uma semana - um século - e só o pêndulo invisível vai e vem com a mesma regularidade implacável. TODOS: Prá morte! Prá morte! Prá morte! EDUARDO: Não há anos…há séculos que dura esta bisca de três. Desde que o mundo é o mundo que as velhas se curvam sobre a mesma mesa do jogo.
  • 3. 3 O jogo banal é a bisca - o jogo é o da morte... Reparem, vê-se daqui a vila toda... (iluminação sobre o resto das figuras) Mora aqui a insignificância, velhas a quem só restam palavras, dum lado o espanto, do outro o absurdo. Mora aqui o egoísmo que faz da vida um casulo, e a ambição que gasta os dentes da casa. Cabem aqui seres que fazem da vida hábito. Cabem aqui dentro as velhas cismáticas; os homens a quem se foram apegando pela vida fora dedadas de mentira, prontos para a cova - e o Gabiru e o seu sonho. JOSÉ LUÍS: Cabem aqui o céu e as lambisgoias com as suas mesuras, a morte e a bisca de três. CENA 2 BEATRIZ: E cabe aqui também uma velha criada, que se não tira diante dos meus olhos. Serve as outras velhas todas. A Joana é uma velha estúpida. Serviu primeiro na vila, serviu depois na cidade. Serviu com uma saia rota, as mãos sujas de lavar a louça, uma camisa, os usos e seis mil réis de soldada. Lavou, esfregou, cheira mal. Serviu o tropel, a miséria, o riso, que caminha para a morte com um vestido de aparato e um chapéu de plumas na cabeça. JOÃO: Sempre a comparei à macieira do quintal: é inocente e útil e não ocupa lugar e não vem primavera que não dê ternura, nem inverno sem produzir maçãs. A vida gasta- a, corroem-na as lágrimas, e ela está aqui tal qual como quando entrou para casa da D. Hermengarda. CRISTINA: Os meninos borraram-na - adorou os meninos. Os doentes que ninguém quer aturar, atura-os a Joana. Já ninguém estranha - nem ela - que a Joana aguente… Há seres criados de propósito para os serviços grosseiros. BEATRIZ: No entanto, por dentro… a Joana é só ternura, mas por fora a Joana é denegrida. A mesma fealdade reveste as pedras. Reveste também as árvores.
  • 4. 4 EDUARDO: Velha tonta abre de quando em quando os olhos, põe o ouvido à escuta num movimento instintivo, à espera de uma imaginária ordem: ouve sempre a voz da D. Hermengarda a chamá-la. JOSÉ LUÍS: Debaixo destes tetos, entre cada quatro paredes, cada um procura reduzir a vida a uma insignificância. (sino) Remoem hoje, amanhã, sempre as mesmas palavras vulgares… CENA 3 CRISTINA: A poeira entranhada sufoca-nos. É necessário abalar os túmulos e desenterrar os mortos. É o Gabiru que se põe a falar sem tom nem som. Um homem absurdo. (…) Para ele a vida consiste, encolhido e transido, em embeber-se em sonho, em desfazer-se em sonho, em atascar-se em sonho. Ignora todas as realidades práticas. Na árvore vê a alma da árvore, na pedra a alma da pedra. A alma, como ele diz, a alma é exterior: envolve e impregna o corpo como um fluido envolve a matéria. Em certos homens a alma chega a ser visível, a atmosfera que os rodeia toma cor. Há seres cuja alma é de uma sensibilidade extrema: sentem em si todo o universo. Daí também simpatias e antipatias súbitas quando duas almas se tocam, mesmo antes da matéria comunicar. O amor não é senão a impregnação desses fluidos, formando uma só alma, como o ódio é a repulsão dessa névoa sensível. Assim é que o homem faz parte da estrela e a estrela de Deus. Nos minerais, na pedra concentrada e recalcada, que dor inconsciente, que esforço cego e mudo por não poder abalar as paredes e comunicar com a alma do universo! A pedra espera ainda dar flor. EDUARDO: O quintal escorre sonho como a alma do Gabiru. Tanta flor! CRISTINA: Para a sua cova. A morte é o repouso eterno. Um repouso eterno, estúpido! É exatamente o que está vivo, a morte. É o que está mais vivo. E o pior é que este sonho é afinal o meu sonho e o teu sonho. Ninguém o confessa senão a si próprio. O nosso
  • 5. 5 sonho é não morrer. BEATRIZ: Juntem a isto a vila comezinha, e o negrume que levanta os cotos esfarrapados! Juntem a isto a grande nódoa de humidade! Juntem a isto a morte e aquela voz de desespero que me põe em frente de mim mesmo, que é o que mais temo no mundo! O que eu quero é tornar a viver. CRISTINA: Encontrei há pouco uma árvore carcomida: deixaram-na de pé, e um único ramo ainda verde desentranhou-se em flor... Pudesse eu recomeçar a vida! Viver é que é bom, viver com o instinto, como os ladrões e os bichos, os malfeitores e as feras, sem pensar, sem sonhar, sem palavras nem leis, até cair a um canto, morto e feliz, de barriga para o ar. Mas nenhum de nós se atreve e passamos a vida a fingir que não existe. Se não nos detivéssemos com palavras, se avançássemos todos ao mesmo tempo, esquecendo o que é inútil para esta coisa que nos devora, subjugávamo-la! Conquistávamo-la por uma vez, por maior que ela fosse. CENA 4 CRISTINA: Eu não vivi. JOÃO: Que importa, vais morrer! Que outra coisa fizeste na vida senão esperar a morte? CRISTINA: Então para que nasci? Para ver isto e nunca mais ver isto? Para adivinhar um sonho maior e nunca mais sonhar? E, confesso, o que mais me custa a largar é a vida comezinha. BEATRIZ: Acaba a hipocrisia. Acaba principalmente a hipocrisia para connosco. EDUARDO: A pobreza e a humildade não se toleram para sempre. Com ilusões, podia-se ser pobre – sem ilusões só se pode ser rico.
  • 6. 6 CRISTINA: Sei que tudo são aparências, com uma única realidade, a morte. LAURA: Sim, a vida tem minutos belos, quando a gente a esquece. E acima de tudo o sonho. O sonho vale a vida. CRISTINA: A vida é tecida como o linho: um fio de dor, um fio de ternura. Eu intrometo- lhe sempre um fio de sonho. Foi o que me perdeu. As horas mais belas perdi-as a so- nhar… Eu não vivi! Eu não vivi! EDUARDO: Trouxe sempre consigo debaixo do xale um resto de sonho amargo. JOSÉ LUÍS: Há sonhos humildes que ninguém quer sonhar: servem à Joana que quando os usa, os vira do avesso. Tem uma filha, nunca fala da filha. A tua filha?... CENA 5 BEATRIZ: No desespero percebo uma palavra, outra palavra. Sobre isto choro, sobre isto lágrimas em barda. A Joana chora sempre, chora por tudo e por nada, chora por si e pelos outros. Não se sabe onde vai buscar tantas lágrimas. Mas, como alguém disse: “A ternura é húmida.” JOÃO: Não compreendo este ser. Viro-o, reviro-o. É um ser com duas ou três ideias no caco. Cheira mal… Passou a vida a aturar os doentes e a vida repele-a. Posso dizer quase dia a dia como as mãos se lhe deformam, como os olhos se lhe aguam, explicar como a mulher da esfrega se parece com o pano da esfrega. Não sei explicar o resto. BEATRIZ: Tenho passado noites em debate com este ser absurdo. Enfurece-me e apega- me ternura. Resiste à desgraça, resiste à vida, resiste ao ridículo. A velha consegue ser maior que a desgraça. O meu desespero termina aqui, diante desta criatura que não compreendo… Mete-me medo. Tanto faz que a Joana viva ou morra, que grite ou se
  • 7. 7 cale… E, no entanto, nesta confusão esplêndida só a sua alma comunica com a minha alma. A sua dor, a sua mentira é que importam à minha vida e à tua vida. (Por fim chora. Fecha a boca como se tivesse medo de falar) LAURA: É sonho contra sonho. A sua vida é um monólogo que não sei traduzir. Há-de acabar por falar… CRISTINA: A minha filha… (debalde se debate: tem de falar) A minha filha casou rica, a minha filha tem uma casa de visitas como a das outras senhoras. A minha filha… Não posso! Não posso! (Para não avançar mais a Joana ri-se de si própria) Tenho uma tristeza metida em mim… EDUARDO: Já a história entra noutra fase. Tantas vezes se lhe tem perguntado porque é que a filha a deixa andar na esfrega, que a velha acrescenta pormenores embaraçosos. CRISTINA: A esta hora lá está ela… A esta hora… A esta hora a minha filha… JOÃO: Na realidade a Joana é insuportável. Repete sempre as mesmas coisas… Todas as noites a velha, quando sai da esfrega, dá uma grade volta ao negrume, molhada até aos ossos. Para numa ruela, senta-se à porta de um casebre. Esta casa não é como as outras casas, nem esta rua como as outras ruas. CRISTINA: O sonho é um – a realidade é outra: a realidade é uma figura só de dor. As mãos secas de desespero tentaram em vão arrancá-la à desgraça. A filha desceu mais fundo, a Joana desceu mais fundo. Deu-lhe a vida e suportou o escárnio. Andou nas mãos dos ladrões e tem tal ar de aflição, que parece tonta. A desgraça pega-lhe pela mão e leva-a mais fundo ainda: aperta-a de encontro ao peito descarnado... Não faz ideia nítida da vida e da morte, nem daquela viela com mulheres. EDUARDO: Foi disto que ela fez sonho – das noites de dor e do riso dos ladrões.
  • 8. 8 CRISTINA: Nunca se queixou, escondeu de todos a sorte da filha. Guardou aquilo para si, noite a noite, toda a vida. EDUARDO: Passou por tudo, e um resto de ilusão bastou-lhe para poder viver. CENA 6 CRISTINA: Cumpri sempre o meu dever. Dei-te o sustento, tens de ser agradecida. Tirei- te do nada, livrei-te da fome, é preciso seres agradecida. Cumpre o teu dever. Eu cumpri sempre o meu dever. Para cumprir o meu dever repeti a toda a hora que os pobres têm um lugar marcado na vida. Fi-lo por dever. Cumpri-o contrariada numa eterna contradição, mas cumpri-o. Cumpri o meu dever e amarguei o meu dever. Mas qual é o meu dever? Se fazia o bem, amargava o bem; e tu não me largavas se tentava o mal. Cumpri sempre o meu dever! (Queda-se estrangulada e surpresa, mais estrangulada e surpresa ainda, diante da voz que lhe diz não sei o quê de temeroso...) LAURA: Tu não deste um passo na vida sem obedecer às conveniências e sem consultar o teu código de meticulosidade. Tiveste inveja? CRISTINA: Tive e recalquei-a. Arranquei tudo, destruí tudo, por ti que não existias. Há só uma coisa que eu queria ainda dizer, e não a sei dizer diante de isto que tenho ao pé de mim, dentro de mim e me não larga... (baixa o tom de voz) JOSÉ LUÍS: Mas eu não posso! Eu não posso! Tu obrigas-me a fazer o que não devo! BEATRIZ: Fala mais alto! CRISTINA: Tenho aqui o fel e hei-de, para cumprir o meu dever, fazer o contrário do que sinto: dominar-me todos os dias, moer-me todos os dias, pregar-me todos os dias.
  • 9. 9 JOSÉ LUÍS: A gente só vem a este mundo para cumprir o seu dever! TODOS: Não grites, D. Leocádia, não grites. BEATRIZ: Reconheço que tomaste a vida a sério. Que exiges tu então que não compreendo? CRISTINA: Mas então não há dever nenhum? Não há bem nenhum? TODOS: Não grites... BEATRIZ: Oh D. Leocádia como tu tapas os olhos com desespero para não ver! Há-de aguentar com este peso, que não podemos suportar... LAURA: Para largar a pele, D. Leocádia, até a cobra adoece. D. Leocádia, o dever é um contrato. Há deveres para com Deus e deveres para com os homens. O contrato com Deus falhou, porque Deus não existe. JOSÉ LUÍS: Oh D. Leocádia, eis o fundamento da questão!... O dever era frio e amargo e tu cumpriste-o. Foi a razão da tua vida. Azedou-te e sustentou-te. LAURA: Perdeste a vida e transtornaste a vida atrás de uma sombra. Restam-te mil anos e um dia, para cumprires, se queres, o teu dever inútil… CRISTINA: Eu sou de muito boa família! (Mas a figura verde não cede: Traça o xaile…e exclama do alto do seu pedestal) LAURA: Só tu D. Leocádia te deste ao gozo superior de teres uma alma à tua descrição. CRISTINA: Para a livrar da fome, para a subtrair à desgraça. Se não fosse eu ia parar a uma viela. Cumpri o meu dever.
  • 10. 10 LAURA: Obrigou-a a levantar-se de noite, mas levantou-se primeiro do que ela. Quando a órfã a olhou transida de dor e a D. Leocádia lhe bradou: - Cumpre sempre o teu dever! – já ela tinha cumprido o seu dever até ao final. BEATRIZ: Não te queixes, porque afinal foste buscá-la ao asilo para te sentires maior no teu orgulho. A desgraça dos outros não comove, a desgraça alheia consola. A tua piedade amesquinha-me. CRISTINA: (protesta) Matei-lhe a fome. BEATRIZ: Mataste-lhe a fome mas não pudeste amá-la. CRISTINA: Nem posso! Nem posso! Nem posso! Trouxe-a para casa, sustentei-a, mas nunca a pude ver. LAURA: Deste-lhe côdeas, mas não pudeste amá-la. CRISTINA: Mantive-a para manter o meu dever. LAURA: Que dever? Antes a deixasses morrer de fome. Final CRISTINA: Ia parar a uma viela! Ir parar a uma viela é o que há de pior no mundo! (desespera) É o que há de pior no mundo! (com angústia, para si própria) É o que há de pior no mundo!?