Este documento discute a humanização da saúde e sua interface com os processos de gestão em saúde pública. Argumenta que uma gestão comprometida com a humanização da saúde valoriza mais a dimensão subjetiva e social dos indivíduos. Também analisa a humanização como essencial nos processos de gestão, permitindo que estas considerem cada pessoa em suas circunstâncias específicas.
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Artigo bioterra v16_n1_01
1. REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228
Volume 16 - Número 1 - 1º Semestre 2016
A HUMANIZAÇÃO DA SAÚDE E SUA INTERFACE ENTRE PROCESSOS DE GESTÃO
EM SAÚDE PÚBLICA
Rubens Alex de Oliveira Menezes1
; Romulo Lima de Sousa2
; Ivanete Costa Amanajás3
; Brena Thays Amorim Menezes4
;
Flávio Henrique Ferreira Barbosa5
; Aline Siqueira de Miranda Campos6
RESUMO
A prestação dos serviços públicos em saúde vem ganhando avanços históricos no que se refere a sua
aplicabilidade a partir da valorização humana formada da relação entre profissionais de saúde e
usuários do Sistema Único de Saúde – (SUS). A relação estabelecida entre esse binômio torna-se
possível quando nutrida por uma gestão comprometida com uma saúde pública humanizada, onde
todos os seus processos apontam para a admissibilidade e compreensão do indivíduo em seu sentido
mais amplo, a saber, a sua dimensão biopsicossocial. Nesse sentido, o referido artigo tem como
objetivo discutir a humanização da saúde e sua interface entre os processos de gestão em saúde
pública, haja vista esta perspectiva possibilita uma gestão que atribua maior valor a dimensão
subjetiva e social às suas práticas de atenção à saúde. Inicialmente pretende-se suscitar os aspectos
históricos e conceituais da humanização. Em seguida analisá-la como sendo essencial nos processos
de gestão em saúde pública.
Palavras-chave: Humanização da Saúde, Gestão em Saúde Pública, Atenção à Saúde,
Biopsicossocial.
THE HUMANIZATION HEALTH AND ITS INTERFACE WITH MANAGEMENT
PROCESSES IN PUBLIC HEALTH
ABSTRACT
The provision of public health services has gained historical regarding its applicability from the
human appreciation of the relationship formed between health professionals and clients of Health
System advances - (SUS). The relationship between this binomial becomes possible when nurtured
by a committed management with a humanized public health, where all processes point to the
admissibility and understanding of the individual in its broadest sense, namely, their
biopsychosocial dimension. In this sense, this Article aims to discuss the humanization of health
and its interface with the management processes in public health, given this perspective enable
management to assign subjective and social dimensions of their practices health care higher value.
Initially we intend to raise the historical and conceptual aspects of humanization. Then analyze it as
essential management processes in public health.
Keywords: Humanization of Healthcare, Management in Public Health, Health Care,
Biopsychosocial
01
2. 1 INTRODUÇÃO
A saúde pública passou e vem passando
por um processo de construção histórica no que
tange à atenção em saúde e os seus diversos
modelos de gestão. Numa contextualização
histórica, as ações antes intensificadas
precisavam passar pelo crivo do melhoramento,
tanto no que se referia às condições de trabalho
oferecidas aos profissionais de saúde, quanto à
necessidade de tornar o Sistema Único de Saúde
– (SUS) mais humanizado em sua
funcionalidade geral, o que vem tornando-se
possível a partir de um modelo de gestão em
saúde pública descentralizada, que incorpora em
suas práticas esta máxima, proporcionando
maiores e melhores resultados.
A busca pela humanização da saúde
enquanto tema a ser trabalhado neste estudo,
traz em seu bojo, a necessidade de uma gestão
em saúde pública que seja parte de cada
processo e sensível a realidade atravessada
pelos atores sociais, principais sujeitos dos
serviços de saúde ora prestados. Desse modo,
não basta a aplicabilidade de ações que
vislumbrem a relação doença-saúde, mas o
reconhecimento da saúde como sendo um
direito fundamental de cada cidadão, que
precisa de relações intensificadas quanto à
valorização do cuidado.
Esta relação não supõe ato de caridade
por parte de profissionais de saúde, mas, como
bem nos assevera João (2010), trata-se de “[...]
um encontro entre sujeitos, pessoas humanas,
que podem construir uma relação saudável,
compartilhando saber, poder e experiência
vivida” (2010, p. 13). É uma forma de suscitar
relações que vão além da simples ação do
cuidar, mas que transcendem esta ótica técnica,
passando a considerar de ambos os lados (tanto
os profissionais de saúde, quanto o cliente da
Rede SUS) a perspectiva mais completa do ser
humano.
A escolha e delimitação do tema como
sendo “a humanização da saúde e sua interface
com os processos de gestão em saúde pública”,
justifica-se pela importância e urgência de se
pensar um Sistema Único de Saúde – (SUS) que
privilegie um perfil de gestão que trate dos seus
processos em saúde, não como sendo meros
requisitos justapostos a partir da técnica e da
qualidade, mas de processos que vão muito
além, com ações que proporcionem o
estabelecimento da afetividade, da dignidade e
da humanidade.
Desse modo, o referido artigo buscou
como objetivo geral, analisar a humanização da
saúde a partir da influência de uma gestão em
saúde pública preocupada não apenas com o
perfeito funcionamento técnico das ações em
saúde em seus diversos setores e serviços, mas
também com a atenção mais humanizada ante os
seus principais sujeitos e beneficiários. Este
estudo procurou descrever as principais
características de um modelo de gestão em
saúde pública que permita que a humanização
da saúde seja uma realidade entre os principais
processos de gestão em saúde pública.
Esta pesquisa versa sobre a humanização
da saúde como um instrumento político
necessário na implementação de um Sistema
Único de Saúde comprometido com a
admissibilidade do indivíduo enquanto humano,
propondo não só uma atenção à saúde que
contemple a eficácia e eficiência, mas a
valorização do indivíduo em uma perspectiva
deveras abrangente. Desse modo, pode-se
perceber que a humanização da saúde interfere
positivamente nos processos de gestão em
saúde.
2 METODOLOGIA
A metodologia adotada na formulação do
trabalho foi baseada em pesquisas bibliográficas
através de consultas a livros, revistas e artigos
publicados. A pesquisa bibliográfica foi
desenvolvida com base em material já
elaborado, constituído principalmente de livros
e artigos científicos. A sua principal vantagem
reside no fato de permitir ao investigador a
cobertura de uma gama de fenômenos muito
mais ampla do que aquela que poderia pesquisar
diretamente (GIL, 2002).
Esta pesquisa fundamenta-se sob a ótica
da Gestão em Saúde Pública, destacando
aspectos de um estudo sobre a Humanização da
Saúde e sua interface entre os processos de
Gestão em Saúde. Foi baseada no método
hipotético-dedutivo, e contou como categorias
de análise, requisitos históricos e
3. fundamentalmente de estudos adivindos de um
referencial teórico a partir de artigos científicos
e outros textos técnicos, proporcionando maior
embasamento quanto a problemática aqui
trabalhada.
Segundo Karl R. Popper “a ciência
começa e termina com problemas”. Por isso
desenvolveu um esquema: Problema, teoria-
tentativa, eliminação do erro, novos problemas.
Então, qualquer discussão científica deve
começar do principal Problema (P1), onde
haverá a busca de uma solução, para então
contemplar uma teoria provisória (TT) e esta
deve ser criticada para a eliminação dos erros
(EE) o que levará a novos Problemas (P2), desta
forma:“P1=TT =EE =P2” (POPPER, 2008,
p.186).
Baseado no esquema representado acima
se conclui que, depois de realizados os devidos
testes, se a suposição não resistir é porque não
está certa, então é preciso formar novas
suposições referentes a determinado problema
para resistirem aos testes e se tornarem
suposições admissíveis. Esse problema nos leva
ao processo de investigação, para sabermos o
que é válido ou não analisar, e essa análise é
baseada em suposições que ajudam na pesquisa
(SEVERINO, 2008).
O método hipotético-dedutivo possui as
seguintes etapas: 1) Colocação do problema:
realizar o reconhecimento dos fatos e a
descoberta e formulação do problema; 2)
Construção de um modelo teórico: ocorre a
seleção dos fatores pertinentes e a invenção das
hipóteses centrais e das suposições auxiliares; 3)
Dedução de consequências particulares: ocorre a
procura de suportes racionais e de suportes
empíricos; 4) Teste das hipóteses: realizasse o
esboço e a execução da prova, a elaboração dos
dados e a inferência da conclusão; 5) Adição ou
introdução das conclusões na teoria: etapa onde
os resultados da prova são comparados com as
predições e retrodições e, se necessário,
corrigidos. E nesta etapa que ocorre a sugestão
da realização de uma continuidade do trabalho
ou a procura de erros na realização de sua
execução (SEVERINO, 2008).
Uma grande vantagem do método
hipotético-dedutivo é que, uma vez seguidas de
forma criteriosa todas as etapas acima descritas,
se sua hipótese inicial não é corroborada, têm-se
argumentos científicos para criticar os
conhecimentos prévios existentes (teorias,
paradigmas) e assim contribuir, de forma eficaz,
para a geração de novos conhecimentos e para o
progresso da ciência (SEVERINO, 2008).
3 DISCUSSÃO
Para se falar em humanização da saúde,
cabe neste estudo, primeiramente elucidar o
conceito de humanização em sentido amplo,
bem como as principais características aplicadas
a esta palavra tão pequena mas de tamanho
significado, não obstante o seu surgimento de
maneira contextualizada na história. Para só a
partir de então, propôr discussões mais
profundas acerca do tema em tela enquanto
objeto maior deste estudo.
Quanto a compreensão mais geral da
palavra humanização, o Dicionário Houaiss da
Língua Portuguesa nos dispõe que
“humanização é o ato ou efeito de humanizar (-
se), de tornar (-se) benévolo ou mais sociável”
(2009, p. 1887). A própria estrutura etimológica
da palavra humanização ao dialogar conosco,
nos oferece o entendimento relacionado ao
próprio estado humano, sem levar em conta,
seus bons atos em relação a si próprio, e o
desenvolvimento da inter-relação com o outro.
Desse modo, a humanização figura como uma
“via de mão dupla”, que alcança tanto o “eu”
quanto o “tu”, o que significa dizer da
abrangência de todos.
Nesse sentido, a humanização ganha
dimensões muito mais abragentes quanto ao seu
conceito, aplicabilidade e alcance, sobretudo
quando externalizada em processos de gestão
em saúde. A humanização então deixa de ser
somente um modismo, para se tornar uma
prática constante. Segundo Rios (2009), ao
versar sobre a compreensão do conceito de
humanização nos diz que:
Embora o termo laico
“humanização” possa guardar em
si um traço maniqueísta, seu uso
histórico o consagra como aquele
que rememora movimentos de
recuperação de valores humanos
esquecidos ou solapados em
tempos de frouxidão ética. Em
nosso horizonte histórico, a
humanização desponta,
4. novamente, no momento em que
a sociedade pós-moderna passa
por uma revisão de valores e
atitudes (RIOS, 2009, p. 254).
Quanto a esta assertiva, vemos que a
sociedade vem deixando de ser uma sociedade
exclusivamente utilitarista, a preocupar-se com
as dinâmicas de interesses únicos e exclusivos, e
vem se reconstruindo e passando a ser uma
sociedade que passa a demonstrar um interesse
de mais sensibilidade com seus indivíduos. Algo
que se tinha perdido de vista ao longo da
história e que havia passado por uma profunda
deformação, agora é revisitado e melhorado em
função do humano. Ainda sobre o conceito de
humanização, João (2010) nos apresenta uma
grande lição:
O caminho da humanização
passa pelo reconhecimento do
que o outro tem a dizer. Sendo
este outro não necessariamente
os usuários dos serviços de
saúde, mas, também, os demais
profissionais e a própria
comunidade organizada. O
indivíduo refere-se a um estatuto
universal do ser humano: todos
somos igualmente indivíduos,
pois idealmente temos os
mesmos direitos e
responsabilidades.
Considerando o universo dos
serviços de saúde brasileiros,
pode-se dizer que a organização
do Sistema Único de Saúde
segue esta lógica. Por outro lado,
indo além desta concepção
formal e considerando cada ser
humano a partir de suas
circunstâncias específicas
(JOÃO, 2010, p. 14).
Desse modo, percebe-se que o conceito
de humanização passa por uma perspectiva
dialogal de aceitação, presente nas relações
estabelecidas entre os indivíduos,
independentemete se estes estejam ou não
inseridos no ambiente público de saúde
enquanto usuários ou não, lá estará presente a
humanização, de forma abrangente, global,
transcendendo a técnica e adimitindo cada
indivíduo como este o é: ser humano.
Quanto a isto, vemos que o indivíduo se
faz ao longo das experiências por ele vividas na
dinâmica social, e ressignificando o
conhecimento, sempre a partir da realidade
social, possibilitando a insurgência de novos
modelos de atenção à saúde e processos de
gestão, que por sua vez, passam a exigir a
atualização de estratégias históricas de
valorização e desenvolvimento da pessoa
humana.
Segundo João (2010), o caráter aplicado
à pessoa, não se refere em tentar fazê-la ser
humano, haja vista esta já o ser. Nessa
perspectiva, não caberia a protagonização da
humanização. No entanto, não é o que pretende
o autor, mas remeter-nos a ideia de que cada ser
humano deva ser considerado em sua
individualidade física e espiritual (o que na
atualidade se entende como sendo a perspectiva
biopsicossocial), e dotado de atributos como
racionalidade, autoconsciência, linguagem,
moralidade e capacidade de agir. Logo, pensar o
ser humano como sendo alguém desprovido de
tais atributos e características, seria como
desumanizar o ser humano. Daí a grande
relevância da esfera da humanização. Esta
contempla cada indivíduo em seus aspectos
mais abrangentes, possibilitando desse modo,
que suas relações sejam relações humanizadas.
Nesse contexto, é preciso estabelecer
uma relação entre humanizar e humanização.
Humanizar denota um sentido mais distributivo
dos benefícios necessários aos homens.
Segundo Oliveira, Collet e Viera (2006, p. 280):
[...] humanizar consiste
simplesmente canalizar tais
capacidades no sentido de
estender e distribuir, integral e
igualitariamente à humanidade
uma série de benefícios e
resultados considerados
propriedades sine qua non da
condição humana.
Diz-se dos benefícios necessários e
irremediáveis do ser humano, a saber, os
direitos compreendidos e vistos a partir da
habitação, da educação, da equidade, do acesso
ao emprego e a saúde.
Já a humanização tem a ver com a
necessidade que o ser humano tem de se inter-
5. relacionar com o outro através dos aspectos da
comunicação. Seria um momento de troca de
informações, experiências e admissibilidade do
outro sem nenhuma forma de autoafirmação. É
por esta razão que Oliveira, Collet e Viera (2006,
p. 281) nos diz que:
A humanização depende da
capacidade de falar e de ouvir,
pois as coisas do mundo só se
tornam humanas quando passam
pelo diálogo com os semelhantes,
ou seja, viabilizar nas relações e
interações humanas o diálogo,
não apenas como uma técnica de
comunicação verbal que possui
um objetivo pré-determinado,
mas sim como forma de conhecer
o outro, compreendê-lo e atingir
o estabelecimento de metas
conjuntas que possam propiciar o
bem-estar recíproco.
Daí, portanto, pode-se inferir que a
humanização carrega uma compreensão muito
mais abrangente das diversas práticas e ações
em saúde pública, não obstante a sua incisiva
influência nos diversos espaços e sujeitos, sejam
eles os próprios profissionais de saúde, sejam os
usuários do Sistema Único de Saúde – (SUS).
Desse modo, a comunicação especificada pelo o
autor, trata de um atributo necessário no
melhoramento e fortalecimento do modelo de
atenção à saúde que hoje se tem.
- A história da Humanização da Saúde
Brasileira
Estando de posse de diversos conceitos
sobre humanização, cabe agora percebermos
uma relação entre esta e a saúde, de modo a
entender em que momento da história da saúde
pública brasileira, começa-se perceber a
inserção política de uma saúde humanizada. Ou
em outros termos, qual a origem da
humanização da saúde. Para tanto, resta,
recorrermos a uma história que por sua vez está
intimamente ligada ao surgimento do próprio
SUS.
Assim como em todo e qualquer
movimento ou sistema, que para se desenvolver
passa por processos de constantes embates na
construção de avanços e benefícios coletivos,
assim foi com a saúde pública brasileira. Em seu
percurso histórico foi da criação a partir da
Constituição Federal de 1988, e a sua
regulamentação a partir da Lei Nº 8.080 de 19
de Setembro de 1990, a Lei Orgânica de Saúde
na qual são definidas suas diretrizes, objetivos e
forma de organização nas 3 esferas de governo:
Federal, Estadual e Municipal. Observa-se o
grande salto da saúde brasileira. Este momento
legitima o que nos anos seguintes entende-se
como sendo a gênese da humanização da saúde,
pois a Saúde Pública Brasileira passou a
aperfeiçoar suas diversas ações com o
surgimento do SUS, facilitando o acesso aos
seus usuários. Porém, é necessário descrever
como este processo se deu.
Historicamente falando, a humanização
não surge de forma descontextualizada, mas tem
sua gênese no movimento da Reforma Sanitária
que se deu nos anos 1980. Segundo Rios (2009),
as constantes lutas no cenário sociopolítico
desencadearam o som de inúmeras vozes que
desejaram se fazer ouvir em meio a ausência de
direitos nas diversas áreas, inclusive no campo
da saúde.
A partir da Reforma Sanitarista inicia-se
a concepção de um novo projeto que supõe a
valorização da saúde enquanto direito garantido
a todo o sujeito por parte do Estado. Agora, a
partir deste momento da história, temos um
Estado mais preocupado com as questões da
Saúde Pública. É o que nos assevera João
(2010), ao dizer que “[...] como direito de todo
cidadão a ser garantido pelo Estado, envolvendo
princípios, como a equidade do atendimento, a
integralidade da atenção e a participação social
do usuário, homem como totalidade, entendido
em sua inteireza biopsicossocial” (JOÃO, 2010,
p. 14).
O principal advento da valorização e
modificação da Saúde brasileira, como já visto,
é o surgimento e implementação do SUS,
Sistema que figura como sendo um divisor de
águas ao que se refere a atenção à saúde e o
melhoramento das diversas ações vistas neste
novo Sistema que surge, mas que se acumula
forças em torno desta discussão a partir de
outros institutos de notória relevância para a
humanização da saúde (MIRANDA, 2005).
Dentre os principais institutos destacam-
se a Carta ao Usuário (1999), Programa
Nacional de Avaliação dos Serviços
6. Hospitalares – PNASH (1999); Programa de
Acreditação Hospitalar (2001); Programa
Centros Colaboradores para a Qualidade e
Assistência Hospitalar (2000); Programa de
Modernização Gerencial dos Grandes
Estabelecimentos de Saúde (1999); Programa de
Humanização no Pré-Natal e Nascimento
(2000).
Norma de Atenção Humanizada de
Recém-Nascido de Baixo Peso – Método
Canguru (2000), e ainda, o Programa Nacional
de Humanização da Assistência Hospitalar -
(PNHAH) e Política Nacional de Humanização
da atenção e gestão no Sistema de Saúde
Humaniza SUS - (PNH), criados
respectivamente nos anos de 2002 e 2003,
dentre outros instrumentos que surgem com o
objetivo de fortalecer a Rede SUS. Como bem
versa Benevides e Passos (2005, p. 390):
Ainda que a palavra
humanização não apareça em
todos os Programas e ações e
que haja diferentes intenções e
focos entre eles, podemos
acompanhar uma tênue
relação que vai se
estabelecendo entre
humanização-qualidade na
atenção-satisfação do usuário.
O PNHAH contou em sua primeira etapa
com a realização de um Projeto-Piloto
implementado em dez hospitais distribuídos em
várias regiões do Brasil, situado em diferentes
realidades socioculturais, e que possuíam
diferentes portes, perfis de serviços e modelos
de gestão.
Sendo os principais objetivos deste
Projeto-Piloto: deflagrar um processo de
humanização dos serviços de forma vigorosa e
profunda, processo esse destinado a provocar
mudanças progressivas, sólidas e permanentes
na cultura de atendimento à saúde, em benefício
tanto dos usuários-clientes quanto dos
profissionais.
Além de produzir um conhecimento
específico acerca destas instituições, sob a ótica
da humanização do atendimento, de forma a
colher subsídios que favoreçam a disseminação
da experiência para os demais hospitais que
integram o serviço de saúde pública no Brasil.
Nesse contexto, a figura da Gestão em Saúde
Pública torna-se fundamental, pois como versa o
PNHAH (2001, p.12):
É fundamental a
sensibilização dos dirigentes
dos hospitais para a questão da
humanização e para o
desenvolvimento de um
modelo de gestão que reflita a
lógica do ideário deste
processo: cultura
organizacional pautada pelo
respeito, pela solidariedade,
pelo desenvolvimento da
autonomia e da cidadania dos
agentes envolvidos e dos
usuários.
No entanto, estes instrumentos não
seriam possíveis se a discussão não tivesse sido
primeiramente suscitada na 11ª Conferência
Nacional de Saúde, acontecida no ano 2000,
evento que carregou como título “Acesso,
qualidade e humanização da atenção à saúde
com controle social”. Este evento faz surgir
outras iniciativas como a Humanização do Parto
e da Saúde da Criança e iniciou suas ações em
hospitais com o intuito de criar comitês de
humanização voltados para a melhoria na
qualidade da atenção e, mais tarde, com foco
também no trabalhador. Segundo Pasche e
Passos (2008, p.92)
[...] com a Política Nacional de
Humanização (PNH), se
intensifica esta aposta na
humanização das práticas de
gestão e de atenção (nos modos
de gerir e nos modos de cuidar).
A PNH emerge, então, no cenário
da reforma sanitária brasileira,
que se constitui pari passu à
construção do campo da saúde
coletiva e das experiências de
humanização em curso no SUS,
às quais propõem mudanças em
seu sentido e forma de
organização.
Quanto a esta asseverativa, o que se
percebe é que com a Política Nacional de
7. fundamentalmente de estudos adivindos de um
referencial teórico a partir de artigos científicos
e outros textos técnicos, proporcionando maior
embasamento quanto a problemática aqui
trabalhada.
Segundo Karl R. Popper “a ciência
começa e termina com problemas”. Por isso
desenvolveu um esquema: Problema, teoria-
tentativa, eliminação do erro, novos problemas.
Então, qualquer discussão científica deve
começar do principal Problema (P1), onde
haverá a busca de uma solução, para então
contemplar uma teoria provisória (TT) e esta
deve ser criticada para a eliminação dos erros
(EE) o que levará a novos Problemas (P2), desta
forma:“P1=TT =EE =P2” (POPPER, 2008,
p.186).
Baseado no esquema representado acima
se conclui que, depois de realizados os devidos
testes, se a suposição não resistir é porque não
está certa, então é preciso formar novas
suposições referentes a determinado problema
para resistirem aos testes e se tornarem
suposições admissíveis. Esse problema nos leva
ao processo de investigação, para sabermos o
que é válido ou não analisar, e essa análise é
baseada em suposições que ajudam na pesquisa
(SEVERINO, 2008).
O método hipotético-dedutivo possui as
seguintes etapas: 1) Colocação do problema:
realizar o reconhecimento dos fatos e a
descoberta e formulação do problema; 2)
Construção de um modelo teórico: ocorre a
seleção dos fatores pertinentes e a invenção das
hipóteses centrais e das suposições auxiliares; 3)
Dedução de consequências particulares: ocorre a
procura de suportes racionais e de suportes
empíricos; 4) Teste das hipóteses: realizasse o
esboço e a execução da prova, a elaboração dos
dados e a inferência da conclusão; 5) Adição ou
introdução das conclusões na teoria: etapa onde
os resultados da prova são comparados com as
predições e retrodições e, se necessário,
corrigidos. E nesta etapa que ocorre a sugestão
da realização de uma continuidade do trabalho
ou a procura de erros na realização de sua
execução (SEVERINO, 2008).
Uma grande vantagem do método
hipotético-dedutivo é que, uma vez seguidas de
forma criteriosa todas as etapas acima descritas,
se sua hipótese inicial não é corroborada, têm-se
argumentos científicos para criticar os
conhecimentos prévios existentes (teorias,
paradigmas) e assim contribuir, de forma eficaz,
para a geração de novos conhecimentos e para o
progresso da ciência (SEVERINO, 2008).
3 DISCUSSÃO
Para se falar em humanização da saúde,
cabe neste estudo, primeiramente elucidar o
conceito de humanização em sentido amplo,
bem como as principais características aplicadas
a esta palavra tão pequena mas de tamanho
significado, não obstante o seu surgimento de
maneira contextualizada na história. Para só a
partir de então, propôr discussões mais
profundas acerca do tema em tela enquanto
objeto maior deste estudo.
Quanto a compreensão mais geral da
palavra humanização, o Dicionário Houaiss da
Língua Portuguesa nos dispõe que
“humanização é o ato ou efeito de humanizar (-
se), de tornar (-se) benévolo ou mais sociável”
(2009, p. 1887). A própria estrutura etimológica
da palavra humanização ao dialogar conosco,
nos oferece o entendimento relacionado ao
próprio estado humano, sem levar em conta,
seus bons atos em relação a si próprio, e o
desenvolvimento da inter-relação com o outro.
Desse modo, a humanização figura como uma
“via de mão dupla”, que alcança tanto o “eu”
quanto o “tu”, o que significa dizer da
abrangência de todos.
Nesse sentido, a humanização ganha
dimensões muito mais abragentes quanto ao seu
conceito, aplicabilidade e alcance, sobretudo
quando externalizada em processos de gestão
em saúde. A humanização então deixa de ser
somente um modismo, para se tornar uma
prática constante. Segundo Rios (2009), ao
versar sobre a compreensão do conceito de
humanização nos diz que:
Embora o termo laico
“humanização” possa guardar em
si um traço maniqueísta, seu uso
histórico o consagra como aquele
que rememora movimentos de
recuperação de valores humanos
esquecidos ou solapados em
tempos de frouxidão ética. Em
nosso horizonte histórico, a
humanização desponta,
8. elementos que tragam maior consistência as
ações em saúde, tudo por que hoje já se entende
a Gestão em Saúde Pública numa compreensão
mais abrangente em relação ao indivíduo
enquanto usuário do SUS, mas que ainda é visto
de maneira fragmentada por grande parte dos
profissionais que militam em suas funções na
saúde. Assim sendo, vemos que a Gestão em
Saúde não se constitui somente a luz da
institucionalização da saúde, mas tem um olhar
para o humano. De acordo com o que versa
Miranda (2005, p.84),
[...] a gestão governamental em
saúde é constituída a partir de
uma práxis social de âmbito
institucional, possuindo uma
natureza complexa e um caráter
polivalente (ético, político,
estratégico, técnico,
administrativo). Seus modos de
ser estão conformados em uma
dimensão política, a partir da
intermediação de interesses
distintos, das interações de poder
e de margens de autonomia;
constituídos a partir de ações
intencionais ou comportamentos
regrados de atores sociais;
expressos em distintas
racionalidades da ação;
desencadeados a partir de
decisões (formais e informais); e
consubstanciados em
combinações tecnológicas,
métodos, técnicas, instrumentos e
atividades intermediárias nos
sistemas institucionalizados de
ação.
Este conceito fala de gestão em saúde,
mas infelizmente em quase nada compreende ou
traduz a complexidade que é ter um Sistema de
Saúde embebido na humanização da saúde. Não
se trata somente em ter uma gestão que planeje
ou crie estratégias (isto é deveras importante em
ambientes em que se gere certo coletivo social),
mas uma gestão que perceba os seus usuários
como sendo mais do que clientes, como
humanos, para além da técnica, tratados por um
Sistema de Saúde humanizado.
E para se alcançar este patamar de
desenvolvimento, todos os processos de Gestão
em Saúde Pública devem seguir esta máxima de
valorização do humano, que considere o
universo plural da saúde coletiva, mas cada ser
humano em sua individualidade. Como nos
dizem Pasche e Passos (2008), ao demonstrar
que “O desafio é o de enfrentar o adoecimento e
o risco de adoecer em sujeitos histórico-sociais,
eles próprios entendidos como singularidades e
efeito de múltiplas determinações” (2008, p.
94).
Vemos que as práticas em saúde passam
a dar maior destaque aos sujeitos implicados no
processo de produção de saúde, tomá-los como
protagonistas e corresponsáveis neste processo
obriga-nos a valorizar a dimensão humana
intrínseca a todas as práticas de saúde. Desse
modo, o assunto humanização da atenção e da
gestão das práticas de saúde, deixará o campo
teórico e tornar-se-á uma realidade global da
práxis.
Neste cenário, o modelo retrógrado e
autoritário de gestão em Saúde Pública não cabe
mais, pois se deve também levar em
consideração que a sociedade goza de uma
característica mutacional, pois é formada por
pessoas com pontos de vista diversos que
mudam constantemente, logo, a tendência da
dinâmica dos diversos serviços públicos, como
no campo da saúde, é mudar.
- A Política Nacional de Humanização –
(PNH)
A Política Nacional de Humanização –
(PNH), instituída em 2003, trata-se do principal
instrumento na tarefa de humanização do SUS.
Ela oferece a Gestão em Saúde Pública
suficiente embasamento na implementação e
fortalecimento da Humanização da Saúde, dessa
maneira, esta Política pode ser vista como o
instrumento necessário para se fazer diversas
mudanças na saúde, haja vista a mesma, pontuar
de maneira específica os princípios norteadores
que devem ser observados pela Gestão em
Saúde no caso de se desejar mais atenção aos
diversos processos de saúde de forma
humanizada. Assim dispõe o PNH (2003):
- Valorização da dimensão subjetiva e social em
todas as práticas de atenção e gestão no SUS,
fortalecendo o compromisso com os direitos do
cidadão, destacando-se o respeito às questões de
gênero, etnia, raça, orientação sexual e às
9. populações específicas (índios, quilombolas,
ribeirinhos, assentados, etc.);
- Buscar contagiar trabalhadores, gestores e
usuários do SUS com as ideias e as diretrizes da
humanização e fortalecimento das iniciativas
existentes;
Fortalecimento do trabalho em equipe
multiprofissional, fomentando a
transversalidade e a grupalidade;
- Apoio à construção de redes cooperativas,
solidárias e comprometidas com a produção de
saúde e com a produção de sujeitos;
- Construção de autonomia e protagonismo de
sujeitos e coletivos implicados na rede do SUS,
corresponsabilizando esses sujeitos nos
processos de gestão e de atenção;
Fortalecimento do controle social com caráter
participativo em todas as instâncias gestoras do
SUS;
- Produzir conhecimento e desenvolver
tecnologias relacionais e de compartilhamento
das práticas de cuidado e de gestão em saúde;
- Compromisso com a democratização das
relações de trabalho e valorização dos
profissionais de saúde, estimulando processos
de educação permanente; - Aprimorar e
ofertar/divulgar estratégias e metodologias de
apoio a mudanças sustentáveis nos modelos de
atenção e de gestão em saúde;
- Implementar processos de acompanhamento e
avaliação na/da PNH, na perspectiva de
produção de conhecimento, incluindo
metodologias e informações para
aprimoramento da gestão, ressaltando análises
e saberes gerados no próprio processo de
construção de redes. Aponta-se, com isso,
para a valorização dos processos coletivos e
experiências exitosas, a serem colocadas em
situação de análise (fazendo e aprendendo a
partir da análise de experiências) (BRASIL,
2003, p. 5).
Vemos que a Política está posta, porém
até onde se conseguiu ser concretizada desde o
seu aparecimento e instituição? Percebe-se que
as relações sociais vistas neste universo do SUS,
têm sido relações marcadas por um
desequilíbrio do poder, desconsiderando assim,
a maioria dos interesses e desejos do outro.
Sendo assim, não se pode admitir a existência
da Humanização nesses espaços, pois todos
devem estar integrados, sejam profissionais ou
usuários (clientes), de forma em que as ações
convirjam para relações democratizadas.
Segundo Campos (2005, p. 299):
Humanização depende,
portanto, do
aperfeiçoamento do
sistema de gestão
compartilhada, de sua
extensão para cada
distrito, serviço e para as
relações cotidianas [...]
dirigidas a aumentar o
poder do doente ou da
população em geral
perante o poder e a
autoridade do saber e
das práticas sanitárias.
Porém não é o tom da maioria dos
processos de saúde, atitudes que por sua vez
ignoram todos os princípios norteadores da
humanização da saúde. As ações a serem
desenvolvidas a partir do PNH nos processos de
Gestão em Saúde, devem considerar um circuito
de mudanças nas áreas técnicas e de pessoas, ou
seja, as estruturas devem ser mudadas. Porém
quais os caminhos serem trilhados para essa
possível mudança. É o que Campos (2005) nos
responde, ao dizer que:
A reforma da atenção no
sentido de facilitar a
construção de vínculos entre
equipes e usuários, bem como
no de explicitar com clareza a
responsabilidade sanitária são
instrumentos poderosos para
mudança (2005, p. 400).
Portanto, está claro que a construção de
vínculos e a sua manutenção nos diversos
processos da Gestão em Saúde, possibilita a
Humanização da Saúde. É lógico que a
construção de vínculos figura como sendo
apenas um viés para se atingir este fim, temos
vários outros, que bem trabalhados podem
proporcionar incríveis resultados em níveis
qualitativos e quantitativos.
- Humanização na Gestão Hospitalar
10. O hospital da atualidade é uma
organização complexa, onde atividades
industriais se misturam à ciência e à tecnologia
de ponta, com o objetivo de atender à clientela
nas suas necessidades de saúde, sendo
indisponível que essa atenção seja oferecida em
um ambiente seguro. Existem limites para a
consecução da produtividade nos hospitais
através da tecnologia, equipamentos e
conhecimento técnico-científico; porém, quando
esses limites são atingidos, só há uma coisa a
fazer para melhorar-se no mercado investir na
humanização.
As atribuições de se oferecer bem-estar,
aconchego, conforto, estão relacionadas à
hospitalidade, pois é esta a responsável por tal
efeito, porque resgata as origens e a essência da
assistência hospitalar, como uma organização
acolhedora de pessoas que não estão
desfrutando de saúde.
Destacamos que a própria questão da
humanização de atendimento em saúde pode
estar relacionada ou ainda pode ser beneficiada
da inserção do conceito de hospitalidade. Não
estamos falando de luxo, mas de ambientes
onde haja:
– a preocupação em oferecer aos internados e
familiares espaço para uma convivência não
hostil com profissionais do hospital;
– oferecimento de vínculos com o “mundo” que
continua a “acontecer” fora das fronteiras do
hospital: notícias, contato com amigos. Como
exemplo: oferecimento de jornais, revistas,
televisão, entre outros;
– opção de cardápio;
– cuidados higiênicos: Ambiente bem cuidado
(cheiro, cores agradáveis, confortável, maciez,
aparência, respeito à privacidade);
– acolhimento: não se limita a um curso de
sorrisos, mas o desenvolvimento de atividades
comportamentais que estimulem e levem os
profissionais a repensarem e refletirem sobre
posturas e comportamentos respeitosos,
amistosos, não invasivos nem indiferentes;
– ambientação: cuidado com o paisagismo e uso
de cores, quadros e outros elementos
decorativos etc...
Apesar dos avanços acumulados, hoje, a
saúde pública ainda enfrenta fragmentação dos
processos de trabalho e das relações entre os
diferentes profissionais, fragmentação da rede
assistencial, precária interação nas equipes,
burocratização e verticalização do sistema,
baixo investimento na qualificação dos
trabalhadores, formação dos profissionais de
saúde distante do debate e da resultante de ações
consideradas desumanizadas na relação com os
usuários do serviço público de saúde. Hoje em
dia, com um pouco de criatividade, parcerias e
boa vontade dos colaboradores, é realmente
possível desenvolver esse serviço nas
instituições públicas de saúde. Por exemplo,
providenciando:
– cadeiras nas áreas de espera;
– redução de filas com marcação de consultas
nos postos de saúde ou por telefone;
– bancas móveis, para vender jornais e revistas
nos corredores.
– atividades como palestras, cursos rápidos
(ministrados pelos profissionais da instituição);
– aquisição de novos equipamentos médico-
hospitalares;
– abertura de novos serviços.
Tais benefícios, aparentemente simples,
trazem um reflexo muito grande na diminuição
da angústia e um aumento significativo na
humanização da instituição. Outras ações mais
complexas, também ajudariam na humanização
da saúde pública:
– contratação de profissionais suficientes para
atender à demanda da população;
– melhoria dos salários, das condições de
trabalho e da imagem do serviço público de
saúde junto à população.
Espera-se com a implantação desses
programas a oferta de um tratamento digno,
solidário e acolhedor por parte dos que atendem
o usuário não apenas como direito, mas como
etapa fundamental na conquista da cidadania.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Falar de humanização da saúde não se
mostra uma tarefa fácil, pois mesmo com todos
os institutos legais que garantem direitos,
mesmo com a existência de Programas,
documentos e Políticas que contemplam o
assunto, ainda assim, se percebe uma constante
resistência. Este processo não se solidificará (se
assim o for) facilmente, trata-se de um processo
demorado e extenso, tendo em vista sua
tamanha complexidade.
11. É preciso generalizar a humanização da
saúde, no sentido de desfragmentá-la, ou seja,
os diversos processos e ações em saúde devem
deixar de atuarem isoladamente, onde cada
frente desenvolve o seu ponto de vista da
humanização. O que se vê é que, torna-se mais
cômodo seguir o modo que está posto, do que
buscar modificá-lo em face de um modelo que
carregue uma teoria e prática que seja entendido
e efetivado por todos.
Quanto a humanização da saúde se
apresenta como um instrumento político
necessário na implementação de um Sistema
Único de Saúde comprometido com a
admissibilidade do indivíduo enquanto humano,
propondo não só uma atenção à saúde que
contemple a eficácia e eficiência, mas a
valorização do indivíduo, colaborando
positivamente nos processos de gestão em saúde
se comprova. No entanto, além da comprovação
da referida hipótese, sugiram outras
informações que apontam para a possível
substituição do atual modelo, em vista da
humanização da saúde.
Esta pesquisa, fundamentada em uma
literatura atual sobre gestão em saúde, ocupa um
lugar de extrema importância para o
fortalecimento das discussões em trono do tema
humanização da saúde. Não se trata somente de
mais um estudo sobre saúde, mas de um estudo
que pode contribuir na modificação da
consciência de indivíduos que figuram como
principais sujeitos deste universo chamado SUS.
Além de se mostrar ser de profunda
importância para a conscientização das equipes
gestoras de saúde, o referido estudo também se
mostra de grande relevância para a sociedade,
fim último de todos os processos de gestão em
saúde. Seu destaque consiste em propor
melhores condições de trabalho aos
profissionais de saúde, e em proporcionar
melhor acolhimento e atenção aos usuários da
Rede SUS, tudo a partir de um processo inter-
relacional, onde esses sujeitos admitem a
subjetividade um do outro.
Quanto sua relevância científica, esta
pesquisa se apresenta como mais uma opção de
consulta teórica, de modo a oferecer os
principais conceitos sobre os assuntos mais
importantes ora abordados, de apontar sugestões
que buscam solucionar os problemas que se
erguem em torno do assunto, além de corroborar
para o amadurecimento e popularização dessas
discussões, sobretudo junto aos profissionais de
saúde.
Portanto, o tema humanização da saúde,
deve ser tratado com bastante atenção por parte
da gestão em saúde. Compreender que toda a
funcionalidade do Sistema Único de Saúde –
(SUS) depende de uma política integrada,
genérica, entendida e vivenciada por todos é
prioritário. Não basta desenvolver uma prática
humanizada em saúde isoladamente, mas
convencionar que a humanização da saúde está
intimamente ligada aos processos de gestão em
saúde pública.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENEVIDES, Regina; PASSOS, Eduardo.
Humanização na Saúde: um novo modismo?
São Paulo, Campinas: Revista Interface –
Comunicação, Saúde e Educação, v. 9, n. 17, p.
389-406, mar/ago 2005.
BRASIL. Política Nacional de Humanização –
(PNH). Brasília: Ministério da Saúde – Núcleo
Técnico da Política Nacional de Humanização,
2003.
BRASIL. Programa Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar.
Brasília: Ministério da Saúde – Secretaria de
Assistência à Saúde, 2001.
CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa.
Humanização da Saúde: um projeto em defesa
da vida? São Paulo, Campinas: Revista Interface
– Comunicação, Saúde e Educação, v. 9, n. 17,
p. 389-406, mar/ago 2005.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos
de pesquisa. 4a ed. São Paulo: Atlas; 2002.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da
Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora
Objetiva, 2009.
JOÃO, Walter da Silva Jorge. Humanização da
Saúde. Artigo. Brasília: Pharmacia Brasileira,
julho/agosto, 2010, p. 13-14.
12. novamente, no momento em que
a sociedade pós-moderna passa
por uma revisão de valores e
atitudes (RIOS, 2009, p. 254).
Quanto a esta assertiva, vemos que a
sociedade vem deixando de ser uma sociedade
exclusivamente utilitarista, a preocupar-se com
as dinâmicas de interesses únicos e exclusivos, e
vem se reconstruindo e passando a ser uma
sociedade que passa a demonstrar um interesse
de mais sensibilidade com seus indivíduos. Algo
que se tinha perdido de vista ao longo da
história e que havia passado por uma profunda
deformação, agora é revisitado e melhorado em
função do humano. Ainda sobre o conceito de
humanização, João (2010) nos apresenta uma
grande lição:
O caminho da humanização
passa pelo reconhecimento do
que o outro tem a dizer. Sendo
este outro não necessariamente
os usuários dos serviços de
saúde, mas, também, os demais
profissionais e a própria
comunidade organizada. O
indivíduo refere-se a um estatuto
universal do ser humano: todos
somos igualmente indivíduos,
pois idealmente temos os
mesmos direitos e
responsabilidades.
Considerando o universo dos
serviços de saúde brasileiros,
pode-se dizer que a organização
do Sistema Único de Saúde
segue esta lógica. Por outro lado,
indo além desta concepção
formal e considerando cada ser
humano a partir de suas
circunstâncias específicas
(JOÃO, 2010, p. 14).
Desse modo, percebe-se que o conceito
de humanização passa por uma perspectiva
dialogal de aceitação, presente nas relações
estabelecidas entre os indivíduos,
independentemete se estes estejam ou não
inseridos no ambiente público de saúde
enquanto usuários ou não, lá estará presente a
humanização, de forma abrangente, global,
transcendendo a técnica e adimitindo cada
indivíduo como este o é: ser humano.
Quanto a isto, vemos que o indivíduo se
faz ao longo das experiências por ele vividas na
dinâmica social, e ressignificando o
conhecimento, sempre a partir da realidade
social, possibilitando a insurgência de novos
modelos de atenção à saúde e processos de
gestão, que por sua vez, passam a exigir a
atualização de estratégias históricas de
valorização e desenvolvimento da pessoa
humana.
Segundo João (2010), o caráter aplicado
à pessoa, não se refere em tentar fazê-la ser
humano, haja vista esta já o ser. Nessa
perspectiva, não caberia a protagonização da
humanização. No entanto, não é o que pretende
o autor, mas remeter-nos a ideia de que cada ser
humano deva ser considerado em sua
individualidade física e espiritual (o que na
atualidade se entende como sendo a perspectiva
biopsicossocial), e dotado de atributos como
racionalidade, autoconsciência, linguagem,
moralidade e capacidade de agir. Logo, pensar o
ser humano como sendo alguém desprovido de
tais atributos e características, seria como
desumanizar o ser humano. Daí a grande
relevância da esfera da humanização. Esta
contempla cada indivíduo em seus aspectos
mais abrangentes, possibilitando desse modo,
que suas relações sejam relações humanizadas.
Nesse contexto, é preciso estabelecer
uma relação entre humanizar e humanização.
Humanizar denota um sentido mais distributivo
dos benefícios necessários aos homens.
Segundo Oliveira, Collet e Viera (2006, p. 280):
[...] humanizar consiste
simplesmente canalizar tais
capacidades no sentido de
estender e distribuir, integral e
igualitariamente à humanidade
uma série de benefícios e
resultados considerados
propriedades sine qua non da
condição humana.
Diz-se dos benefícios necessários e
irremediáveis do ser humano, a saber, os
direitos compreendidos e vistos a partir da
habitação, da educação, da equidade, do acesso
ao emprego e a saúde.
Já a humanização tem a ver com a
necessidade que o ser humano tem de se inter-