2014 seminário formação de gestores e educadores - direito à diversidade (1)
Jornal malungos
1. Brigadeiro Negro e suas Diversidades
FORMAÇÃO DA
IDENTIDADE
NEGRA, PÁG. 3
BRASIL, PAÍS DAS
DIVERSIDADES,
pág. 4
Alafim apresenta: O Resgate de uma Raça
Sábado,
01 de dezembro de 2012
Ano III – n° 03
brigadeduardogomes@gmail.com
RENUNCIANDO
O IMPOSSÍVEL,
pág. 6
Gazeta Estudantil Malungos
2. 01 de Dezembro de 2012 Malungos
AGRADECIMENTO
“POSSO TODAS AS COISAS EM CRISTO QUE ME FORTALECE”.
(Filipenses 4:13)
OBRIGADA, SENHOR DEUS, POR TUDO QUE NOS TÊM
CONCEDIDO, POR TUDO QUE TENS PROMOVIDO, POIS SEM
Ti NADA PODEMOS FAZER.
TE AGRADECEMOS PELAS NOSSAS VIDAS, PELO QUE TENS
NOS ENSINADO A CADA DIA E PEÇO-TE QUE CONTINUES NOS
ABENÇOANDO COM O DOM DA SABEDORIA PARA QUE
POSSAMOS FAZER SEMPRE TUA VONTADE E CONTRIBUIR
PARA O BEM DO NOSSO PRÓXIMO.
PALAVRAS SÃO INSUFICIENTES PARA TE AGRADECER, POR
ISSO, TE DIZEMOS SOMENTE, OBRIGADO!
Marília Vieira Lustosa
Gazeta Estudantil Malungos
Direção, Revisão, Coordenação: Marília Vieira Lustosa
Colaboração/Organização Gráfica: Antonio Bernardo
Fioravanti & Bira Vianna
História em Quadrinhos: Beatriz Conrado, Brenda de
Souza, Cleidson Nascimento, Davi Ferraz, Danilo Néri,
Gabriela Silveira, Regina Suzarth
Endereço:
Colégio Estadual Brigadeiro Eduardo Gomes
Rua São Geraldo, 24 – Matatu
Fone 3233-2150 / 3382-6477
Blog – http://cebegomes.blogspot.com
Malungo era o termo usado pelos cativos para
nomear um companheiro durante a desafortunada
viagem dos navios negreiros.
ESCLARECIMENTOS
A IDEALIZAÇÃO DESTA PUBLICAÇÃO SURGIU EM 2009, APÓS
A DIREÇÃO DA ESCOLA TER MANIFESTADO O DESEJO DE
INCLUIR TODOS OS DEPARTAMENTOS DA MESMA NOS
PROJETOS DE COMEMORAÇÃO DO DIA DA CONSCIÊNCIA
NEGRA. A BIBLIOTECÁRIA MARÍLIA VIEIRA COM A
COLABORAÇÃO DOS EDUCADORES: ANTONIO BERNARDO
FIORAVANTI, ÁUREA CRISTINA SOARES E SILVANA CALAZANS
CRIA O JORNAL COMUNIDADE QUILOMBOLA, ELE TEM
COMO OBJETIVO REUNIR MEMBROS DA UNIDADE ESCOLAR,
PRINCIPALMENTE OS ALUNOS PARA DISSERTAR SOBRE
TEMAS RELATIVOS À HISTÓRIA DOS NEGROS.
O JORNAL VEM MELHORADO SUA PRODUÇÃO A CADA
EDIÇÃO, O PRIMEIRO FOI RÚSTICO, O TERCEIRO JÁ
ADQUIRIU UM FORMATO E PARA FICAR MAIS AUTÊNTICO
PASSA A CHAMAR-SE GAZETA ESTUDANTIL MALUNGOS.
Malungos = Companheiros
Fonte: PERUSA, Edmilson de A. Malungos na
Escola:questões sobre... pág. 12
“A ideia de criar um jornal para o dia da Consciência
Negra foi ótima e trouxe estímulo à leitura e a
escrita para os alunos do colégio. A oportunidade de
participar e escrever foi muito boa para minha
formação intelectual, pois eu pude aprender mais
sobre os assuntos abordados e sobre a técnica da
escrita”. (Clara Chamusca, 2°A)
Parabéns !!
É com muita satisfação e alegria que recebi a notícia
sobre o lançamento do jornal Brigadeiro Negro este
ano abordando e trazendo reflexão sobre as
questões etnorraciais afrodescendentes na nossa
cidade, onde 80% da população é negra. São ações
como essa que além de informar e educar eleva a
consciência cidadã e aborda temas relevantes para a
escola e a sociedade como um todo. Assim, é que
construímos uma sociedade democrática e um
mundo melhor sem barreiras e preconceitos num
Estado laico. (Silvana Calazans, prof. de Português)
“Sou uma professora apaixonada pela cultura
do povo brasileiro e em especial a região
nordeste que com suas cores, sabores e odores,
preenche a atmosfera onde pulsa o resultado
da grande miscigenação.
A idéia de criar um jornal com a participação de
discentes, docentes, direção e funcionários, tem
contribuído bastante não só para a apren-
dizagem dos alunos, mas também porque nos
permite rever concepções e refletir sobre a
nossa prática cotidiana.
Considero o jornal “Malungos” uma das
melhores experiências vivenciadas no
CEBEG,porque vejo o interesse e a alegria dos
alunos ao escrever a própria história.”
Áurea Cristina Soares dos Santos – Professora
de História (Matutino)
Comentários
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3. 01 de Dezembro de 2012 Malungos
Raça Negra
Presidente do Grupo Aldeia,
o jornalista Raimundo Lima, foi o
único empresário a conquistar o
troféu Raça Negra 2012. A entrega
da premiação ocorreu no teatro Sala,
São Paulo, durante as comemo-
rações da Semana da Consciência
Negra. Estiveram presentes várias
autoridades entre elas, Bernice King,
filha de Martin Luther King.
FORMAÇÃO DA IDENTIDADE
NEGRA
O homem só se afirma como ser
social quando é capaz de reconhecer
e informar os dados que o identifica.
A identidade dos negros se formou
com a inclusão de elementos, tais
como, os valores e costumes
herdados de seus ancestrais, e são
eles que definem a origem dessa
raça.
Na luta pela sobrevivência em
um continente formado por países
que sempre enfrentou duras
adversidades, um dos recursos
empreendidos para garantir a vida e a
superioridade tribal era a
comercialização para outros povos de
inimigos, geralmente subjugados nas
guerras; os países que mais
comercializaram escravos na África
foram: Senegal, Gana e Nigéria, os
negros pertenciam a diversas etnias,
para o Brasil foram destinados na sua
maioria: bantos, jejês, males e nagôs;
os que conseguiam sobreviver a
travessia eram comercializados como
objetos animados de exploração,
afinal, as peças eram cobiçadas e
caras; a certeza de lucros abundantes
era o que motivava o arriscado e
perigoso investimento nesse lucrativo
comércio. As mercadorias mesmo
sendo reconhecidas como valiosas
eram transportadas em condições
indignas, muitas pereciam e tinham
que ser descartadas durante o
percurso, as aproveitáveis eram
vendidas e seguiam destino diversos,
mas com a mesma finalidade, servir
como bestas ao sistema escravocrata.
Nas senzalas após o labor, os negros
se reuniam para praticar seus
costumes, seus cultos, sua língua,
pois preservar sua identidade cultural
era fundamental e eram esses atos
expressos em lamentos que
minimizavam as tristezas e
sofrimentos vividos tão distantes da
pátria saudosa.
O sistema escravista brasileiro
foi um dos mais duradouros, por mais
de trezentos anos, os negros
estiveram sob o jugo da servidão,
direitos não tinham, humilhações
sofriam, como bestas serviam, mas
lutavam por suas alforrias. Após a
abolição oficial da escravidão, eles
deixaram as senzalas, como não
foram indenizados, se aglomeraram
nos guetos e continuaram vivendo
em condições desumanas, pois não
possuía habitação, profissão,
emprego ou educação. Por isso,
enfrentaram injustas adversidades
como: a exclusão, a discriminação e a
marginalização, todavia a identidade
da raça foi resguardada e transmitida
aos seus descendentes que ao se
mesclarem passaram a fazer parte
integrante e indestituível da nação
brasileira – são os afrodescendentes
que revelam através de suas práticas
os costumes herdados de seus
antepassados e são eles que
continuam diferenciando o povo de
matriz africana.
A segregação imposta aos negros
desde sua chegada ao Brasil não foi
aceita pacificamente, ao contrário,
sempre foi enfrentada com
manifestações, conflitos e rebeliões;
sobrepor-se as imposições sepa-
ratistas das elites não foi nada fácil,
contudo barreiras têm sido
paulatinamente transpassadas, com
isso, os negros vêm mudando sua
condição histórica e social; acesso
tem sido exigido, oportunidades vêm
sendo conquistadas, pois a cons-
trução da identidade é feita de
afirmativas e negativas diante de
certas questões, a prova disso se
configura na preservação dos valores
que caracterizam e diferenciam os
negros de outras raças que são: suas
crenças, sua alegria, sua força, sua
ginga e os costumes que firmam as
raízes que determinam a origem de
um povo que se mostrará sempre
guerreiro.
Marília Vieira Lustosa
Bibliotecária
Ao longo de todo o ano, a
Secretaria Municipal da
Reparação (Semur) vem
realizando ações em diferentes
áreas para combater o
preconceito, promover a saúde
e a educação, e garantir maior
inserção socioeconômica para a
população negra.
Entre essas iniciativas, o
destaque vai para o Programa
de Atenção às Pessoas com
Doença Falciforme, o Programa
de Combate ao Racismo Ins-
titucional, o Observatório Racial
do Carnaval, O Selo da
Diversidade Étnico-Racial e o
mapeamento e legalização dos
terreiros de candomblé.
______________________
Em relação a Unegro, ele
conta que é uma entidade de
expressão nacional, fundada em
14 de julho de 1988, na cidade
de Salvador. Hoje está
organizada em 23 (vinte e três)
Estados da Federação e no
Distrito Federal (RO, RR, AM,
AP, AC, PA, TO, SP, MG, ES, RJ,
MT, MS, RS, MA, BA, AL, PI, SE,
PE, CE, RN, SC e DF). Compõe o
Conselho Nacional de Promoção
da Igualdade Racial – CNPIR e o
Conselho Nacional de Políticas
de Juventude – Conjuve.
Na Bahia está organizada
nos municípios de Camaçari,
Simões Filho, Dias D’Ávila, Feira
de Santana, Conceição do
Almeida, Santo Amaro da
Purificação, Cruz das Almas,
Valença, Senhor do Bonfim,
Ilhéus, Coração de Maria, Terra
Nova, São Sebastião do Passé,
Caetité, Salinas da Margarida,
Itabuna e Salvador.
Segundo o coordenador, a
Unegro tem intensificado sua
ação na busca de alternativas
sócias-políticas de combate ao
racismo, preconceito, discrimi-
nação racial imposto à
população negra, bem como na
busca de justiça social a todos –
indistintamente. Essa inten-
sificação se dá através de
formulação de diagnóstico e
propostas para superação do
racismo, ações comunitárias,
articulação em Fóruns do
movimento social e do movi-
mento negro, participação nos
conselhos paritários – governo
e sociedade civil – de formação
política para promoção da
igualdade racial.
3
4. 01 de Dezembro de 2012 Malungos
BRASIL, PAÍS DAS DIVERSIDADES
O Brasil é mundialmente conhecido
como o país tropical de belas riquezas
naturais, da alegria, do futebol, do
samba, do carnaval, das atraentes
mulatas e da diversidade cultural, é a
soma de todos esses elementos que
encantam pessoas dos diversos
continentes, bem como o torna mais
atrativo e desejado.
A diversidade brasileira se
multiplicou com a mistura inter-
continental entre os povos. Quando
os brancos europeus se deslocaram
em busca de riquezas, encontraram o
“Brasil”, aqui conheceram os aborí-
genes indígenas, ao se estabele-
cerem, uniram-se, nascem os mame-
lucos, começa assim o surgimento da
nação brasileira. Com a implantação
das capitanias hereditárias e a
instalação da manufatura açucareira,
chegaram os negros, eles se fundiram
aos brancos gerando os mulatos e aos
índios gerando os cafuzos.
É preciso conhecer as diversas
regiões do Brasil para materializar a
força e as curiosidades das diver-
sidades da nação. Na região Central e
Norte do país há uma destacada
influência indígena; na região
Nordeste e parte do Sudeste predo-
mina a influência negra e na região
Sul sobressai-se a influência branca.
Somente conhecendo do Oiapoque
ao Chuí para se deleitar com as mara-
vilhas das misturas que certamente
só encontramos no país chamado
Brasil.
É a multipluralidade racial e
cultural do Brasil que o torna exótico
e fascinante, e também, enriquece,
fortalece e permite pela riqueza de
sua história que o país de dimensões
continentais acomode prazerosa-
mente as diversidades recebidas
desde o início de sua formação.
Marília Vieira Lustosa
Bibliotecária
4
Índio
Mameluco
Negro
Mulato
Cafuzo
5. 01 de Dezembro de 2012 Malungos
A vergonha da escravidão
no Brasil
Segundo a História, o Brasil foi
descoberto em 1500 pelos portu-
gueses que primeiramente se
interessaram em realizar o
extrativismo do pau-brasil, uma
madeira da qual se extraia uma
tinta vermelha muito comer-
cializada na Europa, a mão de obra
utilizada para essa atividade foram
os aborígenes, eles ajudavam no
corte e no carregamento da
madeira em troca de bugigangas
(espelhos, chocalhos, apitos) ob-
jetos que lhe eram concedidos
pelos exploradores. Por ser o pau-
brasil um produto muito cobiçado,
outros povos como: franceses,
holandeses e ingleses invadiam a
costa brasileira para traficarem a
madeira. Temendo perder as terras
para os invasores, Portugal resolve
estabelecer uma colônia nas terras
do Brasil. Em 1530, Martim Afonso
de Souza sai de Portugal com a
missão de proteger a colônia,
fundar vilas, erguer fortificações no
litoral além de explorar outras
riquezas da terra e implantar o
cultivo da cana-de-açúcar.
Os portugueses tentam
ordenar a exploração da mão de
obra indígena, pois a economia
açucareira seria implantada na
colônia, porém os índios não
aceitaram a condição e se
revoltaram o que ocasionou em
lutas travadas com os portugueses
e muitos índios foram dizimados.
Deste modo, o recurso a ser
utilizado era transportar escravos
do continente africano para
trabalharem na lavoura açucareira.
A travessia era feita em navios
negreiros, os negros ficavam em
porões sem mínimas condições de
higiene e assim, muitos morriam
devido à aquisição de doenças,
além dos maus-tratos que sofriam
e a precária alimentação. Os que
conseguiam sobreviver eram
comercializados como mercadorias
nas feiras livres onde eram ana-
lisados fisicamente pelos com-
pradores. Desta forma, tem-se o
início da exploração africana no
Brasil colonial.
No Brasil, os negros eram sub-
metidos a uma subordinação
preconceituosa e cruel. Além da
exploração mais comum nos
engenhos açucareiros, existia a
exploração sexual das escravas
pelos senhores, esta soma de
agressões resultavam em danos
físicos, psicológicos e morais. Os
escravos trabalhavam sem des-
canso, não tinham direito a ali-
mentação condigna, vestimenta
descente; dormiam em galpões
escuros sem higiene, chamados de
senzalas. Embora fossem exaus-
tivamente explorados, muitos
negros encontravam forças para
resistir, o que mostrava o anseio de
liberdade perseverante em seus
pensamentos; isso os motivava a
reagir contra o sistema escra-
vocrata.
Assim, muitos se arriscavam
na fuga mesmo enfrentando a
vigilância dos feitores usando como
arma a capoeira. Os que
conseguiam consumar a fuga se
juntavam nas comunidades de
refúgio. Nos quilombos, os negros
praticavam a economia de sub-
sistência e compartilhavam dos
mesmos valores que formam um
povo. O quilombo mais importante
foi o Quilombo dos Palmares,
fundado em 1630 seu líder foi
zumbi, esse quilombo durou 65
anos, resistiu a varias expedições
de combate e se tornou o símbolo
da resistência negra contra a
escravidão.
Somente em 13 de maio de
1888 é assinada pela Princesa
Isabela Lei Áurea que libertava
todos os negros escravizados (ou
seja, o sistema escravocrata durou
cerca de 350 anos até ser abolido
formalmente pelo Brasil) e a
princesa é considerada uma
“heroína”. Porém, é importante
deixar claro que a lei foi assinada
por consequência da pressão dos
abolicionistas e de países do
mundo que consideravam o Brasil
atrasado, pois preservava o sistema
escravocrata, além disso, a
Inglaterra que cobiçava o mercado
consumidor brasileiro pressionava
para que o país suprimisse a
escravidão; diante da pressão a
princesa Isabel resolveu proclamar
a abolição. O fim da escravidão não
garantiu uma vida digna aos
negros, pois eles continuavam
sendo discriminados, não tinham
emprego com isso, migravam para
o campo ou viviam do subemprego.
A liberdade concedida aos negros
não os tirou da posição de
subalternos, eles permaneceram
sendo tratados como seres
inferiores, postura que se estende
até os dias atuais.
A população negra ainda sofre
com os preconceitos gerados pelo
sistema escravocrata, ela continua
sendo discriminada e são poucas as
oportunidades de crescimento
profissional e social; a implantação
de políticas afirmativas minimizou
as desigualdades, todavia as
mudanças permanecem lentas. O
preconceito aparentemente foi
reduzido, porém persiste em
continuar assolando a raça negra; e
como foi aqui relatada através dos
fatos históricos, a escravidão
manchou a história do nosso país
que foi acompanhado por essa
prática absurda durante os anos
mais importantes da sua jornada. A
vergonha originada por esse grande
erro que foi a escravidão segue
afligindo a parte da sociedade que
não concorda com o preconceito, e
a todo o momento temos que
buscar reparar os danos provo-
cados por essa experiência deplo-
rável.
Clara Chamusca/ 2º Ano - U
5
6. 01 de Dezembro de 2012 Malungos
Mudança x Mito
Ao falarmos sobre preconceito
racial, devemos recordar como
tudo começou. Séculos atrás o
comércio escravo era uma
constante realidade. A negritude
era tratada como espécie inferior.
Depois de muito esforço a
escravidão acabou, porém a
discriminação não. O que
realmente mudou? O que foi feito
para resgatar o tempo perdido?
A aceitação da sociedade em
relação aos negros e a convivência
igualitária entre diferentes etnias
fazem com que o negro não seja
mais visto como raça inferior pela
maioria das pessoas.
No Brasil muitas medidas sociais,
culturais, educativas e políticas
foram tomadas para que o negro
tenha benefícios para compensar o
passado dos seus ancestrais, como
o reconhecimento das religiões de
origem africana e a criação da lei
7.716 que visa combater o racismo,
esta lei diz que serão punidos os
crimes resultantes de discriminação
ou preconceito de raça, cor, etnia,
religião ou procedência nacional.
Mas algumas medidas governa-
mentais geram dúvidas e precon-
ceitos como o sistema universitário
de cotas para afrodescendentes
que coloca o negro como menos
capaz para a aprovação no
vestibular. Melhor seria se mais
investimentos fossem feitos no
Ensino Básico para que todos
pudessem concorrer com as
mesmas condições.
Para acabar com a dis-
criminação racial é preciso que os
negros conheçam suas origens, sua
história e sua cultura e que o
governo invista mais em educação.
Filipe R. Matos/1º Ano - A
RENUNCIANDO O
IMPOSSÍVEL
Erasmo Carlos cantou no refrão da
música “Mulher”: Mulher!
Mulher!/do barro/de que você foi
gerada/me veio inspiração/pra
decantar você/nessa canção...”.
Erasmo Carlos encontrou ins-
piração equivocadamente no barro
(segundo o relato bíblico a mulher
foi formada da costela de Adão -
Gênesis 2:21-22), eu a encontrei na
interessante colocação feita pelo
professor José Jairo Gonçalves
Júnior, no dia 20 de novembro, Dia
da Consciência Negra. Ele ao se
despedir disse: “eu agora vou ouvir
Gilberto Gil falar de racismo, com
sua mulher branca; Vovô do Ilê,
com sua mulher branca; Carlinhos
Brown, com sua mulher branca”, e
ainda acrescentou: “que onda,
entenda uma coisa dessa”; essa são
ponderações que não podemos
deixar de compartilhar,
principalmente quando está em
discussão questões relacionadas a
consciência negra, pois enten-
demos que ter consciência é em
essência refletir sobre certas
posições.
Os estigmas carregados pelos
negros ao longo da história são tão
acentuados que os leva a negar na
prática o que eles apontam na
teoria como fatores que
motivariam as mudanças. Será que
a real conscientização dependa da
formação, da educação, ou da
promoção ainda na infância da
valorização e da aceitação? Estes
são questionamentos que conti-
nuaremos a cogitar, contudo
entendemos que as marcas afli-
gem, a história machuca, pois a cor
da pele ainda é um entrave que
limita a valorização, o reconhe-
cimento e o respeito para com os
negros.
O preconceito e a discriminação
com todos os males que causam
aos seres humanos são práticas
muito ocorrentes nas diversas
sociedades. Os negros são as
maiores vítimas dessas infâmias.
Por isso, os que conseguem fama e
ascensão social, geralmente
passam a rejeitar tudo que os faça
rememorar seus sofrimentos,
inclusive, preferem unir-se em
conúbio com mulheres brancas,
eles tentam frustradamente
superar as sequelas adquiridas ao
longo de suas trajetórias. Eldridge
Cleaver escreveu em sua auto-
biografia Alma no Exílio “... Amo as
mulheres brancas e odeio as
negras. Está dentro de mim, tão
profundas que já não tento mais
arrancar. Toda vez que eu abraço
uma mulher negra, estou
abraçando a escravidão, e quando
envolvo em meus braços uma
mulher branca... Estou abraçando a
liberdade.”. Acreditamos que os
negros bem-sucedidos no Brasil
coadunam com Cleaver, pois é
visível a rejeição que eles têm pela
sua raça, muitos chegam a negar
sua identidade, tentando mudar os
traços físicos que tanto os
envergonham. Se quiséssemos
listar os negros famosos e com
grande poder aquisitivo que
casaram com mulheres brancas
(louras) não encontraríamos
nenhuma dificuldade, difícil é nos
lembrar de negros com as citadas
condições casados com seus iguais,
no momento só recordo-me de
Lázaro Ramos x Taís Araújo.
Apontar esses fatos é para mim o
mesmo que voltar aos porões
fétidos dos tumbeiros e ter que
ajudar a lançar ao mar o corpo de
um parente próximo; é retornar às
senzalas e ouvir os oprimidos
desabafarem em lamentos e
prantos a sorte seus infortúnios; é
ser obrigada a presenciar um
malungo gemer no tronco com os
açoites das chibatadas; é vê uma
criança ser tirada de sua mãe aos
prantos, enfim, é apagar a história
da resistência, luta pela pre-
servação da vida e aniquilar o
direito de viver com digna
liberdade.
Marília Vieira Lustosa
Bibliotecária
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7. 01 de Dezembro de 2012 Malungos
Aquarela do Brasil
Composição: Ary Barroso
Brasil!
Meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
O Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingar
O Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil! Pra mim! Pra mim, pra mim
Ah! abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do cerrado
Bota o rei congo no congado
Brasil! Pra mim!
Deixa cantar de novo o trovador
A merencória luz da lua
Toda canção do meu amor
Quero ver a sá dona caminhando
Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado
Brasil! Pra mim, pra mim, pra mim!
Brasil!
Terra boa e gostosa
Da morena sestrosa
De olhar indiscreto
O Brasil, samba que dá
bamboleio que faz gingar
O Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil! Pra mim, pra mim, pra mim
Oh esse coqueiro que dá coco
Onde eu amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
Brasil! Pra mim
Ah! ouve estas fontes murmurantes
Aonde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincar
Ah! esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiro
Brasil! Pra mim, pra mim! Brasil!
Brasil! Pra mim, pra mim! Brasil!,
Brasil
Fazendo Acontecer
O Dia da Consciência Negra é uma
data para refletir sobre a
importância da Cultura e da
história do negro no Brasil. Em
1695 morreu Zumbi dos Palmares,
um símbolo de resistência á
escravidão. Ele nasceu em 1655
entre escravos no Quilombo dos
Palmares.
Zumbi com 6 anos de idade foi
capturado por soldados e entregue
ao Padre Antonio Melo. Esse padre
lhe ensinou o português e o latim,
e o batizou com o nome de
Francisco, aos 15 anos ele fugiu,
voltou para o Quilombo, no qual foi
um líder. Ele lutou contra a
escravidão, ficando conhecido
como Zumbi dos Palmares.
A resistência negra não
terminou com a abolição da
escravatura, ao contrário, se
intensificou, pois os negros apesar
de terem deixado as senzalas
continuaram prisioneiros da
exclusão e do preconceito; a passos
lentos e com persistência, o
reconhecimento de uma raça que
foi a base da formação econômica
desse país vem sendo conquistado.
Em 2003 por meio de uma lei, 20
de novembro foi declarado como o
Dia da Consciência Negra. Em 10 de
março de 2008 foi promulgada a lei
11.645, que tornou obrigatório o
ensino sobre História e Cultura
Afro-Brasileira.
As mudanças vêm ocorrendo
embora de forma lenta. Em 2000 o
governador federal estabeleceu
ações afirmativas através de
política de cotas, visando com isso,
possibilitar o ingresso de negros,
afrodescendentes e índios nas
universidades públicas do país. Essa
conquista amplia o leque de
oportunidades para as classes
excluídas.
Muita coisa ainda precisa
mudar, principalmente certos
conceitos e preconceitos. Há que se
rever certas posições para que o
negro não seja avaliado pela sua
cor, mas sim por sua capacidade e
inteligência.
Respeitar a diversidade é
respeitar a si próprio.
Michelle da Silva/1º Ano – A
Enem: Bahia tem 6ª melhor
média
EDUCAÇÃO A média das escolas da
Bahia no Enem 2011 foi a sexta
melhor do país. As notas foram
divulgadas ontem pelo MEC. As
instituições baianas obtiveram uma
média de 529,65 pontos na prova,
atrás de Rio de Janeiro, São Paulo,
Minas Gerais, Distrito Federal e
Santa Catarina (veja ranking). A
escola com melhor pontuação no
estado foi o Colégio Helyos (média
de 694,59 pontos), instituição
particular de Feira de Santana. A
escola obteve a 11ª posição no
ranking nacional. Depois dela, a
Bahia só tem mais um
representante entre os 100
primeiros do país: o Colégio
Anchieta (653,54), de Salvador.
Todas as dez melhores na Bahia são
privadas: cinco de Salvador, três de
Feira de Santana, uma de Vitória da
Conquista e uma de Alagoinhas. Na
outra ponta, as dez piores escolas
são estaduais – confira na tabela as
cinco piores. A escola de Salvador
que teve a pior média foi a Escola
Estadual Raymundo Matta, no
Lobato. Ela foi a 10ª pior do estado.
Foram divulgadas as notas de
10.076 escolas no país. Só tiveram
a nota divulgada as escolas com
mais de dez alunos inscritos na
prova e onde mais de 50% dos
inscritos no último ano do ensino
médio tenham realizado o exame.
As escolas sem divulgação, com
menos de dez alunos participantes,
somam 14.766 instituições.
MÉDIA DOS ESTADOS
RIO DE JANEIRO 554,27 pontos
SÃO PAULO 539,35
MINAS GERAIS 534,24
DISTRITO FEDERAL 532,52
SANTA CATARINA 529,74
BAHIA 529,65
AS 5 MELHORES E AS 5 PIORES DA
BAHIA
ESCOLA MUNICÍPIO NOTA
RANKING
NO PAÍS
AS MELHORES
Colégio
Helyos
Feira de
Santana
694,59 11º
Colégio
Anchieta
Salvador 653,54 99º
Colégio
Gregor
Mendel
Salvador 647,25 134º
Colégio São
Paulo
Salvador 645,58 145º
Colégio
Oficina
Vitória da
Conquista
642,50 170º
AS PIORES
Escola Est.
Cel.Jeronimo
Rodrigues
Ribeiro
Uauá 420,19 9.925º
Colégio
Estadual
Anativo do
Sacramento
Sapeaçu 419,98 9.929º
Col. Est.
Rodolfo de
Queiroz
Riachão das
Neves
408,18 10.032º
Esc. Est.
Prof. Maria
José de Lima
Riachão do
Jacuípe
401,79 10.056º
Col. Est. Luis
Eduardo
Magalhães
Boquira 401,03 10.059º
Fonte: Correio da Bahia, 23 de novembro de 2012
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8. 01 de Dezembro de 2012 Malungos
O sucesso só está longe de quem não acredita.
Nessa edição homenageamos e tornamos conhecidos alguns cidadãos, profissionais e trabalhadores negros, eles não estão
nos anais da História, mas fazem parte de nossa história bem como, contribuem de forma positiva e produtiva para o
progresso do país.
ESTES EU CONHEÇO
Prof. Ubiratan Vianna
(Inglês)
Cláudia Domiense
(Enfermeira)
José Augusto
(Técnico em Enfermagem)
Marília Lustosa
(Bibliotecária)
Everaldo Lustosa
(Advogado)
Marli Lustosa
(Ciências Humanas)
Eraldo Lustosa
(Advogado)
Luci-Meire Vasconcelos, Márcia R. Vasconcelos, Regina Vasconcelos
(Dentista) (Professora e Nutricionista) (Enfermeira)
Juliana Lustosa
(Assistente Social)
Aíres Rolim
(Pedagoga)
Álvaro Carvalho
(Administrador)
Altaí Carvalho
(Administrador) Família Carvalho Rolim
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9. 01 de Dezembro de 2012 Malungos
ALAFIM APRESENTA!
O RESGATE DE UMA RAÇA
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10. 01 de Dezembro de 2012 Malungos
Olá Pessoal!
Lembra-se de mim, sou Alafim, já
tenho 16 anos. Estive com vocês em
2010, estou retornando para contar-
vos uma nova história.
O resgate de uma raça.
A escravidão foi um longo período onde
negros traficados da África foram
forçados a trabalhar para os brancos
senhores de engenho, sem nenhuma
remuneração e sendo tratados de
forma cruel e desumana.
A escravidão durou mais de 300 anos.
Os negros foram a base econômica do Brasil.
Durante a escravidão a cana-de-açúcar foi a
propulsora do mercado manufatureiro.
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11. 01 de Dezembro de 2012 Malungos
O ouro era um metal muito cobiçado pelos
colonizadores, todavia só foi encontrado no
século XVII, quando um mulato descobriu as
Minas Gerais dos Cataguás.
A escravidão foi abolida oficialmente no
Brasil em 13 de maio de 1888.
Após 124 anos da abolição pouco mudou
em relação à situação dos negros na
sociedade, eles saíram da escravidão, mas
foram para a marginalização, para a
exclusão, ainda hoje os negros e mulatos
disputam um lugar ao sol, tentando se
libertar dos grilhões invisíveis do racismo e
da discriminação.
Os negros ainda sofrem muito com
o preconceito e a discriminação
racial e social, possuem baixa
escolaridade, a remuneração
salarial é inferior; muitos vivem do
subemprego ou da marginalização.
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12. 01 de Dezembro de 2012 Malungos
A influência cultural negra é sentida
nas diversas regiões do país, mas sua
predominância concentra-se no
Nordeste, principalmente na Bahia. A
religiosidade, alimentação, música e a
dança caracterizam de forma mais
acentuada a influência negra.
O Nordeste é a região que concentra o
maior número de negros, a maioria
mora em salvador, capital da Bahia.
Políticas afirmativas de reparação em
2000 começaram a ser implantadas,
elas pretendem minimizar as
desigualdades sociais no país.
Cinquenta por cento das vagas nas
universidades públicas estão
reservadas aos afrodescendentes,
alunos de escolas públicas e pessoas de
baixa renda.
Muita coisa mudou e muitas ainda
precisam mudar, entre elas a vontade do
negro, a valorização e o respeito do negro
para com o negro. A consciência, a
competência adquirida através da
educação, da formação e da atitude para
provar que somos capazes.
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13. 01 de Dezembro de 2012 Malungos
FINALIZAMOS O 3º NÚMERO DESTA PUBLICAÇÃO FAZENDO UMA HOMENAGEM NÃO A ZUMBI, MAS SIM A
JOAQUIM.
Joaquim Benedito Barbosa Gomes nasceu em Paracatu, Minas Gerais, em 7 de outubro de 1954. É o primogênito de
oito filhos, pai pedreiro e mãe dona de casa. Aos 16 anos foi para Brasília, lá trabalhou na gráfica do Correio Brasiliense,
sempre estudou em escolas públicas. Formou-se em direito na Universidade de Brasília, onde, em seguida, obteve seu
mestrado em Direito do Estado.
Prestou concurso público para Procurador da República, em seguida foi para França onde fez mestrado e doutorado
em Direito Público pela Universidade de Paris (Panthéon-Assas) em 1990 – 1993.
Ao retornar para o Brasil assumiu o cargo de Procurador no Rio de Janeiro e professor concursado na Universidade do
Estado do Rio de Janeiro. Foi Visiting Scholar no Human Rights Institute da Faculdade de Direito da Universidade Columbia
em Nova York (2002-03) e na Universidade Califórnia Los Angeles School of Law (2002-03). Fez estudos complementares de
idiomas estrangeiros no Brasil, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Áustria e na Alemanha. É fluente em francês, inglês,
alemão e espanhol. Toca piano e violino.
Para mudar é preciso se conscientizar, estudar e provar que a diferença se supera com competência.
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14. 01 de Dezembro de 2012 Malungos
Enfim, finalizamos mais um capítulo de nossa história apresentando-vos os artífices dessa produção e dizendo,
aguarde-nos, pois voltaremos!
Regina Suzarth(1°A)
Regina Suzarth (1ºA)
Cleidson Nascimento (2ºA) Filipe Matos (1ºA)
Prof. Bernardo (Ciências)
Prof. Ubiratan (Inglês)
Michele da Silva (1ºA)
Clara Chamusca (2ºU) Danilo Néri (7ºA)Davi Ferraz (2ºU)
Brenda Souza (8a
A)
Marília Lustosa (Bibliotecária)
Gabriela Silveira (8ª A)
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