1. TERMO DE RESPONSABILIDADE
E AVISO LEGAL
Este livro foi escrito com a esperança de modificar um
comportamento popular que, na opinião do autor, é prejudicial
para as pessoas. Explica os fatos históricos e os conceitos
científicos que fundamentam as ideias pessoais do autor sobre
reumatismo, assunto de interesse médico e popular, apresentado de
maneira diferente da que é considerada tradicional, preparando o
leitor para refletir e tirar as próprias conclusões a respeito.
A leitura deste livro não deve ser considerada suficiente para o
aprendizado do tema, pois, embora não seja técnico, apresenta
algumas noções científicas cuja compreensão pode variar de
pessoa para pessoa, dependendo do nível intelectual e da
experiência com o assunto.
Para facilitar a compreensão, o autor esforçou-se para utilizar a
linguagem mais simples e clara possível, mas a capacidade de
explicar conceitos científicos através de linguagem popular é
limitada, razão pela qual alguns leitores podem encontrar
dificuldades de entendimento e ficar com dúvidas após a leitura.
Para o esclarecimento de dúvidas exclusivamente a respeito do
conteúdo do livro, o autor oferece a possibilidade de contato pelo
e-mail reumatismosnaoexistem@yahoo.com.br, através do qual o
leitor pode, se desejar, solicitar explicações adicionais, no que será
atendido na medida do possível.
As ideias apresentadas resultam da experiência profissional do
autor e podem ser diferentes das defendidas por outros médicos,
podendo gerar conflito se apresentadas a outros profissionais.
Apesar disso, com propósitos instrutivos, o autor incentiva os
leitores a discutirem casos particulares com seus médicos, se
concluírem que vale a pena debater o assunto, mas não pode se
responsabilizar pelas consequências dessas discussões.
Os raciocínios de diagnóstico e tratamento apresentados neste
livro são noções genéricas que não devem ser entendidas como
instruções de diagnóstico e tratamento a respeito de casos
individuais. Somente o médico responsável pelo paciente pode
tomar decisões de diagnóstico e tratamento a respeito de casos
individuais.
O autor não oferece nenhuma garantia de que a leitura deste
livro irá apresentar soluções para eventuais problemas de saúde do
leitor.
Ao ler este livro, você entende e concorda que o autor não será
responsabilizado por quaisquer consequências decorrentes da
aplicação das informações aqui apresentadas.
Todos os direitos são reservados. Nenhuma parte deste livro
pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer meio sem o
consentimento prévio por escrito do autor.
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2. INTRODUÇÃO
Despertando para o problema
Em 1997, tendo concluído a especialização em Reumatologia
no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, voltei
para minha função no atendimento aos usuários do SUS, no
Ambulatório do Hospital Universitário da Universidade Federal do
Mato Grosso do Sul.
Durante o curso de especialização, a palavra "reumatismo" era
raramente mencionada. Quando algum professor a usava, sempre
fazia um gesto com as mãos esticadas à frente do corpo, movendo
rapidamente dois dedos de cada lado para mostrar que estava
usando "aspas", tentando reproduzir na fala o recurso gramatical
que, na linguagem escrita, destaca o uso de palavras populares,
gírias, neologismos ou arcaísmos. Nunca dei importância ao fato,
pois minha única preocupação naquele momento era concluir o
curso de especialização, absorvendo o máximo de informações
científicas possíveis a respeito das doenças que encontraria no
exercício da especialidade, pois aprendi que o fundamento de todo
tratamento médico é o diagnóstico, e o fundamento do diagnóstico
é o conhecimento das doenças.
Entretanto, ao começar a atender no Ambulatório de
Reumatologia, a realidade brasileira, para a qual não havia sido
preparado na especialização, caiu sobre mim com todo o peso da
palavra "reumatismo", da maneira como era usada pelas pessoas
que vinham "consultar por reumatismo", pedir "exames para
reumatismo", "tratamento para reumatismo", explicações sobre
"reumatismo", etc. O número dos que utilizavam a linguagem de
“reumatismo” era tão grande e havia pessoas de tantos lugares,
tantas cidades e estados diferentes, que, para mim, ficou evidente
que o comportamento de doentes e médicos a respeito do assunto
deveria ser o mesmo em todo o país.
Sem saber como lidar com o problema, minha primeira reação
foi a mesma de todos os profissionais que se veem em igual
situação – fazer de conta que entendia o que as pessoas estavam
dizendo com “reumatismo”.
Apesar da boa vontade inicial para adaptar-me à situação, a
pressão produzida pela realidade esmagadora da ignorância
popular a respeito das doenças que as pessoas conheciam apenas
como "reumatismo" incomodou-me de tal maneira que logo se
tornou fonte de angústia e sofrimento, pois, intimamente, percebi
que fingir entender o que sabia estar errado não era a maneira
adequada de lidar com o problema, que a linguagem usada pela
população não fazia sentido, que aquelas pessoas estavam
iludidas, e eu, aderindo ao comportamento delas, estava de alguma
forma contribuindo para iludi-las também.
Foi nesse cenário, em uma tarde ensolarada de junho, quando
caminhava pelo estacionamento do campus universitário, em
direção ao Ambulatório para mais um dia de trabalho, que a
solução ocorreu-me repentinamente, na forma da expressão que
sintetizava o problema e, ao mesmo tempo, oferecia a resposta
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3. para ele: "Reumatismos não existem".
Quando me ocorreu a ideia, o choque foi tão grande que parei
e, por alguns instantes, fiquei absorvido pela novidade, tão simples
e verdadeira que imediatamente mudou minha maneira de lidar
com o assunto. A partir daquele dia, passei a ensinar às pessoas
que "reumatismos não existem", a responder "não é reumatismo",
quando me perguntavam se era, e a dizer “exames de reumatismo
não existem" aos que pediam para fazer.
Os dias que se seguiram foram confusos e tumultuados, mas,
aos poucos, desenvolvi uma maneira aceitável de apresentar a
ideia nova para as pessoas, ao mesmo tempo em que compreendi
que ainda teria muito trabalho aperfeiçoando as explicações e a
linguagem adequada para transmiti-las à população.
Fosse apenas por uma linguagem nova para dar explicações, o
problema estaria solucionado. Entretanto, o fenômeno cultural
representado pela crença popular em "reumatismo", enredada nas
palavras reumática, reumatóide, reumatologia e reumatologista,
também precisava ser entendido e explicado. Para alcançar tal
objetivo, percebi que precisaria arriscar minha carreira e seguir
pelo caminho perigoso de tentar convencer os reumatologistas da
necessidade de lidar cientificamente com o que parecia ser apenas
um problema de comunicação.
Até então, pessoas falando em “reumatismo”, pedindo para
fazer “exames de reumatismo” e querendo “tratamento para
reumatismo”, juntamente com médicos que faziam uso das
mesmas expressões e agiam como se as entendessem, eram partes
de um fenômeno que, para mim, era digno de estudo, mas, para os
demais especialistas, parecia ser apenas a realidade passando
despercebida, sem provocar nenhuma dúvida que precisasse ser
esclarecida, tão acostumados estavam com aquela situação.
Na época, com muito tempo livre e uma biblioteca universitária
à disposição – a internet estava no tempo das lentas conexões
discadas e o acesso à informação virtual era limitado e difícil –
decidi enfrentar o problema sozinho.
A princípio, não sabia exatamente por onde começar mas
imaginei que entender a relação entre as palavras "reumatismo",
"reumatologia" e "reumatologista" mostraria o caminho. Foi assim
que entrei em contato com dois campos do conhecimento, novos
para mim, a História da Ciência e a Filosofia da Ciência, dos quais
extraí os conceitos fundamentais para o entendimento de
"reumatismo" como um mito, um fenômeno cultural que se
manifesta apenas quando é usada a palavra que o representa.
A História da Ciência ensinou-me que a ciência é uma
atividade, um processo, um método de obter conhecimento a partir
da observação de fenômenos que podem ser percebidos pelos
sentidos ou por aparelhos criados para aumentar a percepção,
como o microscópio, por exemplo, que amplia o alcance da visão.
O método científico só pode ser aplicado ao que pode ser
percebido pelos sentidos, o que significa que o que não pode ser
percebido, não pode ser objeto de estudo, portanto não é científico,
ou seja, não está ao alcance da ciência.
A Filosofia da Ciência ensinou-me que as doenças produzem
fenômenos verificáveis, ou seja, que podem ser percebidos e
estudados, seja uma substância química detectada apenas por
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4. instrumentos de laboratório, uma lesão celular identificada
somente pelo uso de microscópio, ou alguma lesão de órgão vista
diretamente pelo médico ou revelada indiretamente por exames de
imagem, como raios-X, ultrassonografia, tomografia
computadorizada, ressonância magnética, etc. O que não pode ser
identificado materialmente não existe em termos científicos.
Quando aprendi esses fundamentos pude entender que:
1) “Reumatismo” não é uma doença porque não existe uma
substância, uma célula ou um órgão lesado que possam ser usados
para defini-lo em termos científicos;
2) “Reumatismo” é um mito porque existe somente na
linguagem. Todos os motivos e ideias, todos os fatos e fenômenos
usados pelas pessoas – leigas ou formadas – para dizer “é
reumatismo” têm outra explicação científica que nunca é
“reumatismo”, como espero deixar claro mais adiante.
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