O documento discute as ligações políticas entre Limírio, Demóstenes e Vergílio e como isso os colocou no centro de investigações sobre desvios na venda do Hotel Nacional em 2009. Vergílio recebeu doações de empresas ligadas a Limírio e não assinou pedido de CPI sobre Cachoeira.
1. Denominada "Nova Faculdade", a instituição de ensino é dividida entre três cotistas, dois dos
quais são Limírio (60% do empreendimento) e Demóstenes (20%). O empresário foi até bem
generoso com o senador, deixando que ele parcelasse em 25 vezes o investimento de R$ 200
mil na empresa.
2. Com campanha financiada por Limírio, Vergílio não assinou pedido de CPI para investigar
Cachoeira
A proximidade de Limírio com Cachoeira e Demóstenes coloca outro político na roda: o
deputado federal Armando Vergílio (PSD-GO). Ele era o superintendente da Susep em 2009,
mesmo ano no qual o órgão leiloou o Hotel Nacional por duas vezes, baixando seu preço de R$
118 milhões para R$ 84 milhões em função da falta de compradores na primeira tentativa de
venda.
Meses após a venda, Vergílio deixaria a Susep para se candidatar à Câmara Federal e um dos
seus principais doadores foi a SS Comércio de Cosméticos, que contribuiu com R$ 100 mil
através de uma doação eletrônica. A Hypermarcas, a mesma da qual Limírio é o principal
acionista, adquiriu naquela ocasião algumas das linhas de produto da SS Comércio de
Cosméticos por R$ 25 milhões. Vergílio concorreu pelo cargo de deputado federal justamente
no estado no qual a quadrilha de Cachoeira exercia maior controle: Goiás.
Retificação (17/04): a Hypermarcas informou que não comprou a SS Comércio de Cosméticos,
apenas adquiriu algumas de suas linhas de produtos.
Além das digitais de Limírio, a lista de doadores de Armando Vergílio revela nomes curiosos.
Ex-superintendente de um órgão cujo objetivo é controlar e fiscalizar o mercado de seguro,
previdência privada aberta e capitalização, o deputado federal recebeu uma série de doações
que atuam na área. Entre seus principais doadores estão a Porto Seguro (R$300 mil), Banco
Pottencial (R$ 200 mil), Itaú Unibanco (R$ 100 mil), Liderança Capitalização (R$ 100 mil) e GPS
Corretora de Seguros (R$ 100 mil). Como era integrante do PMN na época das eleições,
Vergílio ainda recebeu, através do comitê financeiro único do partido, doações da Alvorada
Cartões (R$ 200 mil) e Liderança Capitalização (R$ 200 mil). No total, o deputado federal
recebeu R$ 1,2 milhão em recursos de empresas da mesma área que ele fiscalizava nos
tempos de Susep.
Aliança política
Antes da eclosão das denúncias da Operação Monte Carlo, o senador Demóstenes Torres era
um dos favoritos para disputar a prefeitura de Goiânia. No entanto, uma possível ida para o
Supremo Tribunal Federal, cogitada algumas semanas antes da revelação de suas ligações com
Cachoeira, afastava essa possibilidade. Nesse momento, um dos nomes ventilados para a
3. disputa foi o de Armando Vergílio, que recebeu o sinal verde do senador para a candidatura,
segundo jornais locais. Em contrapartida, Vergílio foi um dos poucos deputados que não
assinaram o pedido de abertura da CPI de Cachoeira.
Quebra de sigilo
De acordo com reportagem da "Época", a Justiça autorizou a quebra de sigilo bancário de
todos os investigados por suspeita de desvio de recursos da Interunion Capitalização (antiga
proprietária do Hotel Nacional) e até lavagem de dinheiro. Marcelo Limírio também já foi
convocado a prestar esclarecimentos à CPI do Cachoeira.
Leia trecho da reportagem:
- O leilão foi remarcado várias vezes sem que o hotel fosse vendido. A última tentativa
malsucedida, em 4 de novembro de 2009, estabeleceu um preço mínimo de R$ 118,5 milhões,
com o pagamento mínimo de R$ 100 milhões praticamente à vista. No leilão seguinte, um mês
e meio depois, o preço foi para R$ 85 milhões, com o pagamento inicial de R$ 21 milhões.
Nessas condições bem mais amigáveis, foi arrematado por Limírio.(...) A queda de preço
ocorreu com a aprovação da Superintendência de Seguros Privados, a Susep, órgão federal que
fiscaliza 25% do mercado financeiro nacional – cujo comando, uma indicação política, vem
sendo disputado pelo PT e pelo PTB desde o governo Lula. Na ocasião do leilão, o
superintendente da Susep era o deputado federal Armando Vergílio, do PSD de Goiás, cujo
padrinho é o deputado federal Jovair Arantes, do mesmo Estado. Líder do PTB na Câmara dos
Deputados, Arantes é citado na Operação Monte Carlo da Polícia Federal, que deu origem à
CPI do Cachoeira.
- Foram contratados dois leiloeiros, um em São Paulo e o outro no Rio de Janeiro, para o leilão
do Hotel Nacional. O de São Paulo era Luiz Fernando Sodré Santoro, suplente do senador
Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR). Outra empresa, de propriedade da mulher de Santoro, ainda
entrou no negócio. Junto, o casal recebeu R$ 3,85 milhões.
- A Polícia Federal investiga também a contratação do escritório de advocacia Mattos,
Rodeguer Neto, Victoria, de São Paulo, por R$ 2,76 milhões, num processo do qual já
participavam três escritórios de advocacia. Segundo ex-acionistas da Interunion Capitalização,
a contratação teve como efeito apenas “arruinar o patrimônio alheio”.