O documento descreve a vida e obra de Henrique José de Souza, fundador da Sociedade Brasileira de Eubiose. Também discute a mudança do nome da instituição para Eubiose e as divergências que isso causou entre os membros na época. Por fim, relata as experiências do autor ao frequentar o departamento da Eubiose no Rio de Janeiro em 1969 e suas tentativas de aprender mais sobre figuras como Chico Taquara.
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
A Eubiose e a Obra de Henrique
1. A EUBIOSE E A OBRA DE HENRIQUE
Além de ter sido um filósofo, para outros
um visionário, Henrique José de Souza
viveu numa época de grandes
questionamentos educacionais e
políticos. A Educação queria seguir rumos
democráticos. Em 1964, menos de um
ano depois que ele morreu, veio o golpe
militar. Começou o embate entre
Educação e Ditadura. Houve perseguição
aos intelectuais. Grandes expoentes da
escola moderna, como Paulo Freire, estavam sendo obrigados a sair
do Brasil. Henrique vibrava numa tônica educacional. Não foi por
acaso que o prefeito de Juiz de Fora, Minas Gerais, Raimundo
Tarcísio Delgado, em 1987, inaugurou a Escola Municipal Henrique
José de Souza para atender aos moradores do bairro Cidade do Sol.
Quando Henrique fala que veio "trazer um novo estado de
consciência para a humanidade", estava falando de uma escola,
razão pela qual traduz a sua instituição como escola, teatro e templo,
e a chamava também de escola iniciática. Ninguém é perfeito, e acho
que todo mundo concorda com isso. Partindo da premissa de que
Henrique era alguém, deduzimos que era imperfeito, assim como
todo ser humano o é. Porém, mais importante que a perfeição,
principalmente quando lidamos com grupos sociais, como era o caso
ESPIRITISMO com Marco Aurélio Rodrigues Dias
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2. O ESPIRITISMO com Marco Aurélio Rodrigues Dias
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que se dava entre o ele e seu grupo de estudiosos da Teosofia, é a
vontade de acertar e de construir. Essa vontade de acertar e construir
foi uma virtude que eu reconheci nele, mesmo sem o ter conhecido
pessoalmente. Se a obra dele não ficou perfeita, não é problema.
Nenhuma escola é perfeita, nem de religião, teosofia ou científica. As
escolas, como nós e nossas opiniões, estão sempre defasadas. Mas
é preciso seguir em frente e deixar que as próximas gerações
consertem nossos erros. Não obstante isso, conheci pessoas, tanto
no departamento da Eubiose do Rio de Janeiro, quanto ex-eubiotas
residentes em São Lourenço, que pararam no tempo e tentaram
desqualificar a Eubiose e os seus fundadores. Isso não é seguir em
frente. Não se deve cair mesmo erro psicológico das pessoas que
viram seu ego perder espaço e se revoltaram. Quando a gente não
concorda com alguma coisa, basta fazer diferente. Em setembro de
69, quando a instituição mudou o nome de Sociedade Teosófica
Brasileira para Sociedade Brasileira de Eubiose, talvez para se
distinguir melhor da Sociedade Teosófica no Brasil, que ensinava a
doutrina da turma da Helena Blavatsky, do coronel Olcott, da Annie
Besant e outros; quando dessa mudança de nome houve uma certa
politização nos bastidores da Eubiose no departamento do Rio de
Janeiro, uns alegando que "nosso mestre", referindo-se ao Henrique,
que havia morrido em 63, não teria feito e nem consentido na
mudança. Assim que comecei a frequentar o departamento da
Eubiose no Rio de Janeiro, o assunto estava em pauta e dividindo
opiniões. Eu avaliava que o mais importante era considerar que a
teosofia ensinada seria a mesma. Mas temos que reconhecer que
uma escola é feita de pessoas que vão divergir e pensar diferente. O
progresso é efetivado, em muitos casos, depois de grandes atritos.
Naquela época, durante a polêmica da mudança de nome, eu
também achei meio estranho substituir o nome Teosofia por Eubiose
e comentei com meus amigos que poderia ser Eubiosofia em vez de
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Eubiose, pois se aproximaria melhor de Teosofia ou Filosofia, e
soava melhor aos ouvidos. Mas essa minha opinião não saiu dos
bastidores, não a transformei numa bandeira. Faço essa referência
apenas para mostrar como certos assuntos repercutiam nos panos
de fundo da instituição. Minha opinião não era uma discordância.
Todavia o assunto da mudança de nome da instituição não foi tão
simples e causou mágoa em alguns membros. Quando, na década
de 70, fui morar em São Lourenço, observei o grande número de
pessoas jovens que procuravam a cidade em busca de conhecimento
esotérico e como a mudança de nome da instituição não afetou em
nada a sua missão. Um dos meus critérios, naquela época, era
valorizar o que temos no Brasil. Então eu preferia valorizar mais Irmã
Dulce, que fazia um trabalho social na Bahia, do que Madre Tereza
de Calcutá; o educador Paulo Freire ao cientista Jean Piaget; o
baiano Henrique à teosofista russa Helena Blavatsky, e assim por
diante, não deixando contudo de reconhecer o valor desses grandes
obreiros internacionais. Foi dessa forma que eu acabei trocando
meus estudos da teosofia tradicional pela teosofia da Eubiose. Na
verdade, o que me levou a frequentar a instituição no Rio de Janeiro
foi que eu tinha um apreço muito grande pelo yogue Vivekananda,
que foi discípulo de Ramakrishna. Em fins de 1969, ouvi falar de um
anacoreta que viveu em São Tomé das Letras, conhecido como
Chico Taquara. Ele seria uma espécie de yogue ao estilo dos yogues
indianos, o qual havia renunciado ao mundo em busca da iluminação
espiritual. Nessa altura, eu troquei a admiração que tinha pelo yogue
Vivekananda e a substituí pelo anacoreta Chico Taquara. Como
havia sido o professor Henrique quem trouxe à baila a indicação de
que esse eremita seria um adepto, um iniciado, um ser de alta
hierarquia espiritual e que cumpria uma missão de encapuzado, era
na Eubiose que eu deveria buscar mais informação sobre quem eu
já chamava de "yogue Chico Taquara", talvez para fazer melhor a
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substituição à qual me referi. Chegando na Eubiose, perguntei ao
Mário Amazonas, ao Lobão e ao Benedito, que eram membros
antigos, quem seria de fato o Chico Taquara, mas eles também
sabiam pouca coisa dessa pessoa que viveu numa gruta na cidade
de São Thomé das Letras. O Benedito sempre me falava que Pelé
era o Buda do esporte; Paulo Freire, o Buda da educação; Getúlio
Vargas, o Buda da política, e citava outros como sendo o Buda de
alguma área. Então, na época, eu perguntei, na tentativa de
aprofundar o assunto, se Chico Taquara seria o Buda do
conhecimento, e ele me respondeu que o Buda do conhecimento
teria sido o professor Henrique José de Souza. Todas as minhas
tentativas de aprofundar o conhecimento sobre o "Chico Taquara",
dentro da Eubiose, foram em vão. O máximo que o Benedito dizia era
que o professor teria ligação com alguns iniciados que davam suporte
à sua obra teosófica, os quais seriam portadores de mensagens e
orientações do governo oculto do mundo. Ele me contou uma história
assim: certa vez, passando na Praça Tiradentes, o professor
Henrique estava acompanhado do Castanho Ferreira. De repente ele
foi sentar num banco ao lado de um morador de rua barbudo com
aspecto de mendigo. Pediu ao Castanho Ferreira pra esperar um
pouco. Depois de longa conversa, o mendigo se despediu e foi
embora. Henrique, por sua vez, foi ter com Castanho Ferreira. Ele
teria relatado ao amigo que aquele mendigo era um iniciado
encapuzado e que havia trocado com ele informações sobre as
diretrizes que a obra deveria tomar. Benedito me disse que, assim
como ninguém ficou sabendo quem era aquele mendigo, do mesmo
modo ninguém sabia ao certo qual foi a missão específica de Chico
Taquara. A minha intenção ao fazer estes relatos é simplesmente
contar o tipo de experiência que vivi na Eubiose, especificamente no
departamento do Rio de Janeiro, quando ainda era na Rua Buenos
Aires, antes de se mudar para a Rua Gomes Freire. Algumas
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pessoas que saíram magoadas da Eubiose, e não vou citar nomes,
me falaram que muitas dessas histórias eram invenções e que
Henrique era um ilusionista. Então eu pergunto: seria possível que
um hippie da década de 1930, deitado num banco da Praça
Tiradentes, fosse um iniciado encapuzado? Acho que não! Por quê?
Na mesma época que comecei a frequentar a Eubiose no Rio de
Janeiro, conheci na Cinelândia um senhor de aparência simples que
não estava ligado a nenhum movimento filosófico. Eu estava sentado
num banco e ele veio sentar ao meu lado. Puxamos uma conversa e
pude verificar que ele tinha um profundo conhecimento sobre
teosofia. Ele perfeitamente se enquadraria na ideia que se tem do
que seria um encapuzado. A Blavatsky dizia que a humanidade
nunca esteve órfã dos iluminados e que a maioria deles vive no
anonimato. Ela disse que podemos estar algum dia ao lado de um
Cristo encarnado sem desconfiarmos que se trata de um iluminado.
Existem pessoas encarnadas que vão do mínimo ao máximo grau de
consciência. E assim vou parando por aqui essas memórias saídas
da minha experiência durante o tempo curto que passei frequentando
as aulas da Sociedade Brasileira de Eubiose no departamento do Rio
de Janeiro em fins de 1969.
Marco Aurélio Rodrigues Dias – Licenciatura em Pedagogia
Marco Aurélio Rodrigues Dias, educador e pesquisador na área do Espiritismo e
Mediunidade, é um estudioso da doutrina da Reencarnação. Tem uma atuação
declarada na defesa da Lei de Causas e Efeitos Espirituais e dos demais temas da
evolução do espírito, principalmente na defesa do desapego e da vida depois da
morte. Linkedin Facebook