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MANUAL DE ORAÇÃO

  Diferentes Modalidades de Oração
    - texto de apoio ao Livro de Orações -




         Casa do Lago
       casadolago-lisdornes.blogspot.com
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Índice

                                          Parte I
♦ Manual de Oração………………………………………………………………....pág. 4
     - Preparação Prévia………………………………………...………………....pág. 4
      - Orientações práticas……………………………….………………………..pág. 5
♦ Modalidades de oração………………………………………………………….…pág. 8
      - Oração a partir da leitura………………………………………………....…pág. 8
      - Leitura meditada……………………………………………………………pág. 8
      - Pedagogia para meditar e vivenciar interiormente a palavra………………....pág. 9
             - Detalhes práticos…………………………………………………...pág. 10
             - Oração com mantras…………………………………………..........pág. 10
     - Oração auditiva……………………………………………………………pág. 10
      - Oração escrita…………………………………………………….……….pág. 11
      - Oração de abandono……………………………………………….……...pág. 11
      - Oração de acolhimento……………………………………….………...…pág. 12
      - Oração de elevação e transcendência de si…………………….…………...pág. 13
      - Oração de contemplação…………………………………………………..pág. 14
              - Sintonia silenciosa de união………………………………………..pág. 14
     - Oração no Espírito de Jesus………………………………….……………pág. 15
      - Orar com a natureza………………………………………………………pág. 15
       - Oração grupal……………………………………………………………..pág. 16
      - Momentos de partilha e reflexão…………………………………………..pág. 17
      - Variantes…………………………………………………………………..pág. 18
♦ Como viver um dia de retiro…………………………………...………………....pág. 20

                                                               Parte II
♦ Como passar da compreensão, da reflexão e estudo à aplicação dos conhecimentos
à vida e ao processo de transformação pessoal……………………………………...pág. 22
        - Compreensão/estudo – Oração/Co-criação………………………………pág. 22
        - No inicio do dia…………………………………………………………...pág. 23
         - Durante todo o dia………………………………………………………..pág. 23
         - No final do dia……………………………………………………………pág. 24
         - Outras formas de utilizar este livro………………………………………..pág. 24
♦ Oração segundo Santa Teresa d´Ávila................................................................………pág. 26

♦ A importância da sintonia, oração e mantras..................................................................pág. 30
      - Oração I....................................................................................................................pág. 32
      - Oração II...................................................................................................................p ág. 38




                                                                                                                                          2
3
MANUAL DE ORAÇÃO 1

                                                - Introdução -

            Há quem pense que a oração é um estado de graça que não depende de métodos e
exercícios. O aprofundar da relação com a alma é uma convergência entre a graça e a
aspiração, uma busca, um esforço consciente de sintonia... A oração é graça, sim, mas
também é arte e como arte exige aprendizagem, método, disciplina e pedagogia. Se muitas
pessoas estagnam no caminho espiritual não é por falta de graça, mas por falta de ordem,
disciplina e paciência. Assim, muita gente não progride na prática da oração por descuidar a
preparação prévia.

                                             Preparação prévia

            Há alturas em que, ao dispor-te a orar te sentirás sereno, a quietude e o silêncio de
imediato se instalam. Nestes momentos não necessitas de nenhum exercício prévio. Sem
mais, concentra-te, invoca a presença da Alma e ora.
            Outras vezes, no início da oração, sentir-te-ás agitado, disperso e tenso; quando isso
acontece se não acalmares previamente, não conseguirás um momento de relação fecunda
com a presença da alma.
            Pode ainda acontecer outra coisa: depois de muitos minutos de oração atenta,
percebes, de repente, que o teu interior está povoado de tensões, preocupações ou
pensamentos dispersos. Se, nesse momento, não recorres a algum exercício de
descontracção ou silenciamento, esse tempo dedicado à relação com a alma não será
fecundo. Por isso propomos alguns exercícios muito simples. De ti depende saber quais,
quando, quanto tempo e de que maneira utilizá-los, segundo as necessidades e as
circunstâncias mais ajustadas a cada momento.
            Sempre que te dispuseres a orar, procura uma posição corporal que favoreça a
interiorização e a abertura. Deixa gradualmente a respiração tornar-se mais lenta, mais
profunda e serena. Relaxa as tensões e preocupações, procura o vazio e o silêncio. Invoca a
presença do Espírito e começa a orar.

            Silenciamento corporal: calmo, concentrado, procura o movimento que
espontaneamente te ajuda a relaxar o corpo (esticando, encolhendo, distendendo os
músculos); experimentarás uma certa libertação e harmonização das energias corporais. Da
mesma forma relaxa os ombros, distende os músculos faciais e da fronte, relaxa os olhos

1
    Transcrito e adaptado do livro “Encontro, manual de oração”, de Inácio de Larrañaga

                                                                                                4
fechando-os. Procura a postura mais justa para esse momento. Relaxa os músculos da nuca
fazendo movimentos lentos e doces, de flexão ou extensão do pescoço.

       Silenciamento mental: concentrado, começa por repetir a palavra PAZ em voz
suave, sentindo gradualmente instalar-se um estado de paz que começa a inundar, primeiro
o cérebro (experimentar esse duche energético de paz que gradualmente vai libertando a
mente de preocupações e distracções); depois, percorre metodicamente todo o corpo
enquanto vais pronunciando a palavra PAZ e vais inundando e preenchendo o teu ser com
uma profunda sensação de paz: “Paz na mente… paz no coração… paz no corpo”, “Paz...
paz… paz…”
       Depois faz esse mesmo exercício e da mesma maneira com a palavra Silêncio,
começando pelo cérebro e seguindo por todo o corpo deixando cada parte ser absorvida,
inundada pela presença do silêncio.



                                 Orientações Práticas

       1. Acima da nossa actividade e vontade humana está o mistério da graça que, por
essência, é imprevisível. A «hora» da alma nem sempre é a nossa hora. Na relação com a
alma é necessário ter serenidade, aceitação e paciência.
        Quando sentires estados de secura ou aridez, procura compreender que pode
tratar-se de um momento em que te são apresentadas provas divinas para que possas
reconhecer e entregar à transformação um aspecto do teu ser. Podem também significar
emergências da natureza, sentimentos de dispersão, de distração ou desintegração. Se isto
acontecer, não faças violência para sentir, faz-te acompanhar por 3 atributos:
       - Paciência: aceita com paz o que não podes solucionar.
       - Perseverança: continua a orar mesmo que não sintas nada.
       - Esperança: tudo passará, amanhã será melhor...
        2. Nunca esqueças que a vida de relação com a alma é uma vida de fé. E a fé não é
sentir mas saber. Não é emoção mas convicção. Nem sempre é experiência mas certeza.
        3. Para orar necessitas de método, ordem, disciplina e também de flexibilidade e
Aceitação, porque a presença da Alma e do Espírito pode fazer-se sentir no momento em
que menos esperas. Muitas pessoas cansam-se de orar por falta de método, disciplina,
persistência e ritmo…
       Assim é importante estabelecer um ritmo, um horário regular por exemplo: 20
minutos de manhã e 20 minutos antes de adormecer e cumpri-lo, quer te apeteça ou não.



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4. Ilusão, não; esperança, sim. A ilusão desvanece-se, a esperança permanece.
Esforço sim, violência não. Uma forte agitação para sentir a presença da alma produz
fadiga mental e desalento. Aceita com serenidade e paz o que cada momento traz.
       5. Realiza que a alma é livre, por isso a Sua pedagogia para connosco é
desconcertante. Assim, na oração, não há lógica humana: a tais esforços, tais resultados; a
tal acção, tal reacção; a tal causa, tal efeito. Pelo contrário, nem sempre haverá correlação
entre os teus esforços na oração e aquilo que consideras como resultado. Tens de saber que
é assim e aceitá-lo em paz.
       6. A oração é o estabelecer de uma relação com a alma. Uma relação que implica
um movimento de reunir as energias mentais, emocionais e físicas, fazendo-as convergir
num acto de entrega de nós mesmos à presença e à acção interna da alma. É normal que
por momentos se produzam na alma emoção ou entusiasmo, porém é imprescindível
manter também a neutralidade e a serenidade.
       7. Durante a actividade orante, a presença da alma pode manifestar-se a qualquer
momento: no princípio, no meio, no fim, em todo o tempo ou em nenhum momento.
Neste último caso, não te deixes levar pelo desânimo e a impaciência. Ao contrário, acalma-
te, abandona-te, procura um estado de aceitação profunda e neutralidade e continua a orar.
O desapego em relação aos resultados faz parte da entrega.
       8. Há pessoas que se queixam: oro mas não sinto modificações na minha vida.
Para que a força da oração se faça sentir na vida existem certas chaves:
      Sintetiza a oração da manhã numa frase simples, por exemplo – Que faria a alma no
       meu lugar? - e recorda-a a cada nova circunstância do dia;
      Quando surgir uma contrariedade ou provação forte, desperta e toma consciência
       que te propuseste sentir, reagir e agir na vida a partir do olhar, da compreensão e do
       amor da alma. Claro que isso implica um processo gradual e profundo de superação
       das forças do ego para a estabilização em nós da energia da alma.
       9. Não pretendas de um dia para o outro mudar radicalmente a tua vida, vai
tecendo a transformação, reajustando, aperfeiçoando gradualmente. Não te assustes com as
recaídas. Recaída significa voltar a reagir segundo os padrões mentais e afectivos,
profundamente enraizados na personalidade. Quando estiveres desatento ou disperso, vais
reagir segundo esses impulsos que estão desfasados em relação ao impulso da alma. É
normal, tem paciência. Quando chegar a ocasião, procura não estar desprevenido mas
desperto e atento para actuar segundo os impulsos da tua alma.




                                                                                            6
10. O crescimento na relação com a alma é progressivo, requer um misto de
humildade, confiança, aceitação, perseverança e sobretudo um libertar-se de todo o
sentimento de culpa que pode surgir neste processo. Com efeito, apesar dos momentos de
uma real relação com a alma, os desfasamentos continuam ainda a manifestar-se pois os
padrões afectivos e mentais são purificados e transformados gradualmente. Depois de cada
recaída, de cada momento de secura, de aridez ou conflito interno, levanta-te e caminha de
novo com confiança, firmeza e serenidade.
       11. Para dar os primeiros passos na relação com a alma, podes utilizar as
modalidades de oração mais simples, que serão para ti um forte apoio na tua caminhada.
Nos momentos de dispersão ou aridez, não percas tempo; nesses períodos poderás orar
com as modalidades Oração Escrita e Oração Auditiva, concentrando serenamente a tua
mente em temas que te ajudam a aprofundar a relação com a alma.




                                                                                        7
MODALIDADES DE ORAÇÃO


                              1. Oração a partir da leitura
        Escolhe uma oração escrita ou um mantra que te inspire no momento. Atenção,
pois não se trata de ler ou estudar um tema de reflexão, mas de ler uma oração que seja
significativa e ajustada ao momento que vives.
        Procura a posição justa e abre-te em atitude de oração. Aquieta, silencia a mente e
invoca o Espírito com uma frase simples, “Abro-me à Presença da alma”. Começa a ler a
oração em voz alta e muito devagar. Ao lê-la procura vivenciar o que lês, pronunciá-lo com
toda a alma, tornando tuas as frases lidas, identificando a tua atenção com o conteúdo e
significado das frases.
        Se encontrares uma expressão, uma frase que te diga muito, pára, repete-a várias
vezes, unindo-te através dessas palavras à presença da alma, aprofundando o significado da
frase, deixando que o seu conteúdo inunde a tua alma e a tua consciência.
        Pensa que a alma é como a outra margem. Para atingires essa margem não
necessitas de muitas pontes. Uma só ponte, uma única frase é suficiente para te religar à
Presença.
        Se isto não acontecer, continua a ler muito devagar, assumindo no interior e
aprofundando o significado daquilo que lês. Pára de vez em quando. Volta atrás para
repetir e reviver as expressões mais significativas.
        Se num dado momento achares que já podes dispensar o apoio da leitura, põe de
lado a oração escrita e deixa que a oração emerja de ti com expressões espontâneas,
inspiradas pela tua própria relação com a vida e a Presença da alma.
        Esta modalidade de oração, a partir de um suporte de leitura, ajuda de maneira
particular a dar os primeiros passos. Por outro lado, pode ser um suporte nos momentos
de menos fervor ou de aridez, ou simplesmente nos dias em que nada ocorre devido ao
estado de dispersão mental ou à agitação da vida.


                                   2. Leitura Meditada
        Para a prática desta modalidade é necessário escolher, cuidadosamente, um texto ou
um cd, em função de um tema que seja pertinente para o momento que se está a viver
individualmente ou em grupo. Por exemplo, sobre a paciência, a esperança, a
perseverança… escolhe o tema que a tua alma mais necessita nesse dia.
        Procura a posição adequada, aquieta o teu ser e abre-te à presença da alma.



                                                                                         8
Começa a ler alto e devagar, muito devagar. Enquanto lês, procura penetrar o
significado profundo das frases. Aqui está a diferença entre a Oração a partir da leitura e a
Leitura Meditada: na oração a partir da leitura assume-se e vive-se numa ressonância
interior o que se lê (fundamentalmente é tarefa do coração); na Leitura Meditada trata-se de
aprofundar a compreensão de certos processos, clarificar o sentido de certos conceitos para
os aplicar eficazmente na vida.
         Continua a ler devagar, procurando aprofundar a compreensão do que lês. Se
aparece alguma ideia que te chame fortemente a atenção, pára e procura ficar com essa
ideia, meditando nela, aplica-a à tua vida, tira conclusões, toma decisões.
         Se nada disto acontecer (ou depois de ter acontecido) continua com uma leitura
repousada, concentrada, tranquila.
         Prossegue lendo lenta e atentamente, procurando compreender e reflectir o que lês.
É normal e conveniente que a Leitura Meditada acabe com uma oração pessoal, inspirada
na reflexão que foi suscitada pela leitura.
         É também importante que a leitura meditada se concretize em frases síntese,
critérios práticos de vida, susceptíveis de serem aplicados ao longo do dia, perante as
diferentes situações e desafios que a vida nos coloca.


       3. Pedagogia para meditar e vivenciar interiormente a palavra

        1. Procura esvaziar a mente, esvaziar as emoções, aquietar o corpo. Abre -te à
presença da alma, sereno e disponível, pois é a alma que vem, na sua palavra, ao teu
encontro.
        2. Pega num livro e depois de invocar a alma abre numa página ao acaso, faz uma
leitura lenta, muito lenta, com pausas frequentes, pensando que a alma te está a falar a ti,
neste momento, através das palavras que estás a ler.
        Procura sentir com a alma o significado de cada frase, identificando a tua atenção e
sentimentos com o conteúdo das expressões. Com a ajuda do fogo do Espírito procura
identificar-te com a disposição interior de entrega à acção da presença interior.
        Procura questionar a tua vida à luz da Palavra, aplicando-a permanentemente à
situação concreta da tua vida e ao momento que vives no teu processo espiritual,
perguntando-te, em cada momento: O que é que a alma me está a dizer através desta frase?; Em
que sentido os atributos divinos presentes nesta Palavra interpelam o meu modo de pensar, sentir e actuar?;
Em que aspectos devo mudar?; Que faria a alma no meu lugar?.




                                                                                                         9
Detalhes práticos:

       Não procures compreender racionalmente o significado da frase, mas antes procura
meditá-la, sentir a sua ressonância no coração, deixando-te impregnar por dentro, com as
vibrações e sentimentos que acontecem quando entramos em proximidade com a alma.
       Pode acontecer que algumas expressões despertem em ti ressonâncias profundas e
desconhecidas. Detém-te nelas, aprofunda o seu significado na tua mente e deixa a
ressonância acontecer no coração, revendo, ponderando e aprofundando essas expressões.
Sublinha-as, escreve na margem, uma palavra ou frase breve que sintetize aquela impressão.
       Sintetiza em frases curtas e concisas num significado pertinente para ti. Memoriza
essa frase, utiliza-a como um mantra e deixa que, ao longo de todo o dia, essa ressonância e
significado continuem a vibrar no teu interior.
        Se, em qualquer momento da leitura escutada, o teu coração sente o impulso de
orar, deixa-o ir, livremente ao encontro do Ser interno.
        Se num dado momento o teu coração sente vontade de agradecer… fá-lo
livremente.


                                 Oração com mantras
       Um dos elementos mais sólidos de aspiração e devoção para a alma são os mantras.
Os mantras são um meio eficaz para criar condições de relacionamento com a alma. De
que forma? Eles são portadores de uma intensa carga de experiência e foram enriquecidos
pelo fervor de seres que realizaram o processo de união com a alma.
       Os mantras não se lêem, oram-se. Anota os mantras que te dizem mais,
classificando-os segundo diferentes sentimentos e qualidades que eles invocam, como por
exemplo vontade, gratidão, compreensão, aceitação…
       Escolhe os mantras que criam mais ressonância em ti. Aprende e repete os
versículos que são mais significativos para ti. Enquanto fores repetindo as frases, deixa-te
contagiar pela vibração que elas contêm. Deixa-te absorver pela presença viva que esses
sons solicitam. Deixa-te envolver pelos sentimentos, vibrações e atributos que impregnam
esses sons e palavras.

                               4. Oração auditiva
       Escolhe uma frase simples, curta e significativa. Uma frase que te preencha a alma
pelo seu significado e ressonância, por exemplo: “silêncio e paz” ou “nas Tuas mãos me
entrego em silêncio e paz”.


                                                                                         10
Começa a pronunciá-la, com quietude e concentração, com uma voz suave e lenta,
deixando a palavra criar ressonância no silêncio. Adapta a cada momento a intensidade e a
ressonância da voz. Por vezes é justo pronunciar as palavras num murmúrio interiorizado,
noutros momentos o que é pedido é uma afirmação firme e claramente projectada no
espaço. Ao pronunciá-las procura vivenciar interiormente o significado das palavras.
Começa a aperceber-te de como a presença ou “substância” contida nessa expressão vai,
lenta e suavemente, inundando o teu Ser, impregnando as tuas energias mentais,
emocionais e físicas, imprimindo em todo o teu ser uma nova vibração e um novo estado.
         Vai espaçando pouco a pouco a repetição das frases, deixando cada vez mais
espaço ao silêncio.

                                   5. Oração escrita


         Trata-se de criar uma conexão com a alma através da escrita, escrevendo aquilo que
a pessoa, em oração, quereria comunicar à alma. Nos momentos de aridez ou de dispersão,
nos dias em que sentimos conflitos, confusão, fragilidades, resistências... a oração escrita
pode ser a única maneira de orar. Esta modalidade tem a vantagem de concentrar muito a
atenção, através de uma escrita que, directamente dirigida à Presença da alma, clarifica os
sentimentos e pensamentos.


                                6. Oração de abandono
         É a oração mais genuína, transparente, libertadora e pacificadora. Não há acto
interior que tanto suavize os conflitos da vida como um murmúrio sincero: Em Tuas mãos
me entrego em silêncio e paz.
         Aconselha-se que aprendas de cor uma oração simples e significativa para a orares
quando te encontras, a cada passo, com grandes ou pequenas contrariedades e resistências.
         Abre-te à Presença da alma em atitude de entrega. Podes usar como fórmula “Faça-
se a Tua vontade” ou “Em Tuas mãos me entrego em silêncio e paz”. Como disposição
incondicional, deves entregar ao silêncio a rebeldia da mente e o caos das emoções. O
abandono é uma homenagem ao silêncio, na fé.
         Começa com a repetição da frase e depois vai expondo à Alma, numa confidência
íntima e sincera, tudo aquilo que te perturba: os sentimentos confusos, os sentimentos de
impotência, conflitos, limitações, traços negativos da tua personalidade, dificuldades na
relação com as pessoas, memórias dolorosas, fracassos, equívocos... Pode ser que ao




                                                                                         11
recordá-los surja de novo a dor. Porém, ao depositá-los e entregá-los à acção purificadora
da alma, gradualmente tudo vai sendo absorvido pela Paz interior.


                                   7. Oração de acolhimento
         Enquanto que na oração de “Elevação” procuramos transcender-nos e ir para além
de nós mesmos, ou seja, transcender o nível humano e polarizar firmemente a consciência
na Presença da alma. Nesta oração de acolhimento, permaneçemos serenos e receptivos, a
Presença vem até nós e acolhemos a sua chegada.
         Recorre a certas expressões simples como: “Abro-me à tua Presença e à Tua acção”,
“Vem com a tua Paz, dissolve o conflito interior”, “Preenche-me com a Tua luz, liberta a escuridão”,
“Purifica a mente, purifica as emoções...”
         Começa a acolher, na fé, a Presença que chega a ti, deixa que, gradualmente, a
energia da alma penetre e inunde todo o teu ser. Sente que a presença da alma entra até aos
últimos recônditos do teu ser, imprime-se na tua mente, nos teus sentimentos, no teu
corpo, enquanto serenamente vais pronunciando as expressões. Sente como essa Presença
te vai preenchendo e impregnando profundamente aquilo que és, aquilo que pensas, sentes
e fazes. Sente como a Sua Presença absorve o mais íntimo do teu coração. Na fé, recebe-a
sem reservas...
         Na fé, sente como a Presença age como um bálsamo reconciliador que toca e cura a
ferida que te dói, liberta a angústia que te oprime, alivia o conflito, liberta os medos,
clarifica os sentimentos confusos...
         Depois serenamente volta à vida. Acompanhado da Presença, dirige-te aos lugares
onde trabalhas ou vives. Apresenta-te perante aquela pessoa com quem tens conflitos,
procura olhá-la com o olhar da alma. Olha-a com os olhos da alma. Como reagiria a alma
se tivesse que enfrentar aquele conflito? Perante essa situação, que diria a alma a essa
pessoa, como agiria? Imagina todo o tipo de situações, mesmo as mais difíceis, e deixa a
presença da alma actuar através de ti. Procura a cada momento que não sejas tu que vives,
mas a Presença que vive e age através de ti.
         É uma modalidade de oração profundamente transformante. Procura uma posição
de oração. Depois de pronunciares e viveres a frase, permanece algum tempo quieto e em
silêncio, permitindo que a vida da frase ressoe e preencha o âmago da tua alma.
         Eis algumas expressões que podes usar na prática desta oração:
         - “Alma, abro-me à Tua Presença, entra dentro de mim”
         - “Esvazia-me de mim, preenche todo o meu ser com a Tua Luz”
         - “ Preenche tudo o que sou, o que penso, o que sinto, o que faço...”
         - “Entra no mais íntimo do meu coração”

                                                                                                 12
- “Cura esta ferida, liberta este sofrimento”
        - “Liberta a angústia, liberta a ansiedade, o medo...”
        - “Preenche a minha mente com a Tua Luz,
            ampara-me no desalento e na desorientação”
        - “Como olharias esta pessoa? Como reagirias perante esta situação?”
        - “Qual seria a Tua atitude perante esta dificuldade?”
        - “Purifica e educa o meu ser até que eu seja a viva transparência da Tua Presença”


                 8. Oração de elevação e de transcendência de si
                                   Invocação do fogo do Espírito

        Nesta modalidade de oração trata-se de transcender os limites humanos, indo para
além de nós mesmos, entrando na consciência e no coração da alma. Apoiado na frase, “Eu
abro-me à luz da minha alma, abro-me ao fogo do espírito”, assumir e vivenciar o significado da
frase – identificando-se com o seu conteúdo, transportando, elevando e depositando a alma
na imóvel e estável Presença do espírito.
        Neste nível de oração, a alma abre-se à Presença do espírito e quieta e unida,
contempla amorosamente. Por exemplo, através da frase “És a Eternidade”, “És um imenso
oceano de Amor” não deverás preocupar-te em entender como e porquê a realidade do
espírito é eterna e um imenso amor, mas contemplá-la estaticamente como eternidade e
Amor.
        Depois de encontrares um ponto de neutralidade na consciência podes pronunciar
frases como: “Presença eterna, estável e imutável”, “Oceano de Luz”, “Oceano de Amor”
fica suspenso em silêncio, quieto, como quem escuta uma ressonância, estando suspenso
em atenção imóvel, compenetrada, identificada afirmativamente com a própria Presença do
espírito.
        Neste exercício procura deixar-te tocar por essa Presença neutra, estável, imóvel e
eternizante. À medida que o eu se esvazia de si a Presença vai preenchendo toda a esfera do
ser. Eis algumas expressões que podes usar nesta oração:
        - “Presença, vem com a Tua Luz, preenche o meu ser”
        - “Absorve-me em Ti”
        - “Vem... preenche-me com a Tua Paz”.




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9. Oração de contemplação
                                    Sintonia silenciosa de união

        A oração de contemplação acontece nos momentos de união silenciosa da alma
com a Presença do espírito. Pode ser preparada por frases breves e murmuradas, mas
intercaladas por longos silêncios durante os quais a alma, suspensa e neutra, se une em
contemplação com o espírito. Enquanto este estado de união dura, nenhuma palavra é
necessária, o silêncio é o próprio estado é oração.
        A frase de preparação deve ser dita lentamente, murmurada e já imbuída de
silêncio:
        “Silencio a mente em Deus, em Deus, em Deus...”
        “Repouso o coração em Deus...”
        “Repouso o corpo em Deus...”
        “Repouso a minha vida... em Deus”
        Esta modalidade de oração pode ser uma maneira de se preparar qualitativamente
para um momento do repouso ou para o próprio adormecer.
        Os sinais de que a alma entrou em contemplação, segundo S. João da Cruz, são os
seguintes:
        - Quando a alma gosta de estar a sós e em silêncio com a atenção neutra, amorosa e
serena em Deus.
        - Nestes momentos de bênção deixar a alma livre e absorta no silêncio e na
Presença de Deus, sem se preocupar em pensar, orar ou meditar. Deixar estar a alma serena
e quieta, atenta à presença de Deus, ainda que, absorvida na paz interior, pareça estar
perdendo tempo na quietude e no repouso.


        1. Silêncio – Esvaziar a mente, apaziguar o sentimento, procurar o vazio interior.
Suspender a actividade dos sentidos. Esquecer recordações, desligar-se das preocupações.
Isolar-se do mundo exterior, não pensar em nada, ou melhor, não pensar nada, suspender a
consciência num ponto de neutralidade.
        Permanecer atento, neutro no Vácuo Sagrado, deixar-se absorver na Paz.
        Fora de mim, o vácuo sagrado, dentro de mim, o vácuo sagrado. O que resta? Uma atenção de
mim mesmo a mim mesmo, em profundo silêncio e paz.
        2. Presença – Abrir a atenção para a Presença, na fé, como quem olha e se sente
olhado, como quem ama e se sente amado...
        Evitar “imaginar” Deus. Toda a imagem ou forma de Deus deve desaparecer. É
preciso “silenciar” todas as representações de Deus, abrir-se à Sua Presença para além de



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todas as formas. Deus é a Presença Pura, Amante, Envolvente, Compenetrante e
Omnipresente.
        Uma Presença para a qual nós somos uma atenção aberta, amorosa e serena.
        Praticar o exercício auditivo, repetindo uma palavra como por exemplo “Paz”, até
que a palavra “caia” por si mesma. Ficar sem pronunciar nada com a boca ou com a mente.
        Olhar e sentir-se olhado. Amar e sentir-se amado. Deixar-se preencher, inundar,
amar... Deixar-se amar.


                            10. Oração no Espírito de Jesus


        Imagina Jesus em adoração de manhã ou à noite sobre as estrelas. Com infinita
reverência, com Fé e Paz, procura penetrar o estado interior de Jesus. Procura
compenetrar-te e reviver a atitude que Jesus viveria na sua relação com o Pai e participa da
Sua experiencia profunda de união. Procura sentir em ti os sentimentos de reverência, de fé
e confiança que Jesus sentiria pelo Pai. Procura sentir, com o coração de Jesus, com as suas
vibrações o significado da frase: “Santificado seja o Teu Nome, venha a nós o Teu Reino, seja feita a
Tua Vontade”.
        Procura identificar-te com o interior de Jesus, assume a harmonia da Sua alma e
revive aquela atitude de entrega sem condições que Jesus experimentaria diante da Vontade
do Pai quando dizia: “Não a minha vontade, mas a Tua seja feita”, “Faça-se, na minha vida, a Tua
Vontade”.


                                    11. Orar com a natureza
                      - Oração no Espírito de S. Francisco de Assis -
        Se se está ao ar livre, frente a uma bela paisagem, um dos exercícios orantes mais
belos que se pode fazer é orar procurando comunhão com toda a criação, tal como o fazia
S. Francisco de Assis.
        Começa a olhar, a contemplar tudo quanto os teus olhos alcançam, sentindo a
ressonância com todos os elementos da natureza: nuvens, vento, montes, cascatas, rios,
pássaros, ninhos, plantas, borboletas, flores, árvores, sol, lua, sombra…
        Em cada elemento da Criação, na essência de cada reino – animal, mineral, vegetal
– procura sentir a presença viva do Criador. Escuta, deixa-te absorver e submergir na
harmonia da criação. Permanece assim, concentrado, receptivo e atento a cada uma das
vozes do mundo: os mil insectos que gritam a sua alegria de viver, os vários cantos de aves,
o som do vento ou o movimento das águas e dos rios; rãs, galos, cães... todos os seres


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vivos que expressam a alegria do seu viver e, à sua maneira, aclamam e cantam agradecidos
ao Pai Criador. Em nome deles e unindo-te com eles aclama e honra a Vida na terra.
       Vivencia em ti uma sensação de fraternidade universal; sente, em cada criatura a
Presença viva de Deus; sente que, em Deus, és uma unidade com tudo o que te rodeia,
submerge-te vitalmente na grande família da criação, sente-te a participar da palpitação de
todas as criaturas, como se estivesses nadando no imenso mar da vida universal, vibrando
com a textura e a ternura do mundo.
       Invoca a profunda reconciliação entre o reino humano e os reinos animal, vegetal e
mineral. Sente e expressa gratidão por tantos benefícios que os outros reinos trazem ao
homem.
       Estabelece um diálogo afectuoso com os elementos da natureza... uma flor, uma
árvore, uma pedra, a água. Admira e agradece pela sua beleza, perfume e contribuição para
a harmonia do mundo.
       Procura sentir constantemente em cada elemento da criação a ressonância do
próprio Criador, procurando olhar tudo a partir dos Seus olhos e sentir tudo a partir da
profunda Unidade do Seu coração.



                                   12. Oração grupal

       A oração grupal é uma oração partilhada por um grupo de pessoas. Para que a
oração grupal seja verdadeiramente eficaz deve respeitar as seguintes condições:
       1. Deve ser realizada em voz alta, em orações expressas não em simultâneo, mas
alternadamente.
       2. É necessário que cada um dos orantes esteja conectado com a essência de si
mesmo, procurando uma relação autêntica com a sua própria alma. De outra maneira, a
oração grupal torna-se numa actividade artificial e vazia, pois a sua força depende da
conexão de cada um dos elementos com sua própria alma, da autenticidade com que cada
um se entrega, através da oração, à sua própria alma.
       3. Os orantes devem falar com grande à vontade, autenticidade e liberdade,
estabelecendo uma relação íntima e viva com a Presença da alma.
       4. Deve-se evitar, se possível, orar a partir de frases estereotipadas cujo significado
não é sentido, vivenciado e compreendido. Evitar frases formais e repetidas de cor. A
chave está na sinceridade da comunicação que cada um estabelece com a sua alma e na
ausência de inibição ou necessidade de afirmação perante os outros.
       5. A unidade grupal nasce da unidade que cada um atinge no interior de si mesmo.


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Unidade que se encontra intensificada pela unidade de intenção grupal: “Unidos numa
mesma intenção, num mesmo coração”.
       6. É importante que entre os orantes não haja curto-circuitos emocionais, nem
qualquer espécie de competitividade espiritual. É necessária uma profunda cumplicidade
entre as almas, capaz de dissolver os movimentos do ego que criam competitividade e
separatismo. Para que a oração grupal seja fecunda é essencial transcender estes
mecanismos do ego, sejam eles de auto-afirmação ou de inibição. Isto porque, a profunda
sinceridade de cada um, na comunicação com a sua própria alma, sem inibições, é a chave
que abre o coração.
       7. É também imprescindível que haja sinceridade, veracidade e humildade, quer
dizer, que o orante ao expressar-se em voz alta não seja motivado por necessidade de auto-
afirmação, sentimentos de vaidade ou orgulho espiritual. A cada momento, é importante
rectificar a intenção, purificar a motivação e expressar-se como se o orante estivesse só,
num estado de nudez e transparência, diante da presença da alma.
       8. A condição essencial é que seja uma oração verdadeiramente partilhada. Ou
seja, quando um elemento do grupo está a orar com a presença interior, os outros não têm
de ser meros ouvintes ou observadores; cada um pode assumir em si as palavras que estão a
ser ditas pelo irmão, sentindo a ressonância que estas criam na sua própria relação com a
presença da alma. No caso dessa ressonância ser profunda poderá repetir essas frases que
escutou, assumindo-as em seu nome.
       Dito de outra forma, quando oro em voz alta, supõe-se que os meus irmãos se
unam às minhas palavras e com elas se dirigem à presença da sua própria alma. E assim,
durante todo o tempo, oram todos com todos. E aqui está o segredo da riqueza e grandeza da
oração grupal. O Fogo do Espírito derrama-se através de personalidades e histórias tão
variadas e diferentes e por isso pode resultar uma oração muito enriquecedora.



                       13. Momentos de partilha e reflexão

       Os momentos de partilha e reflexão em grupo são sessões em que várias pessoas se
reúnem para se unir à Presença da alma através da sintonia silenciosa, da oração e da
reflexão sobre temas relativos ao caminho espiritual.
       Para que os momentos de partilha e reflexão sejam verdadeiramente eficazes e
enriquecedores é preciso ter em atenção as condições que assinalámos para a oração grupal.
       É importante começar estas sessões com a invocação à Presença da alma, através de
um mantra ou uma breve oração, para o grupo encontrar uma unidade de coração e


                                                                                       17
intenção. Também é conveniente iniciar a meditação lendo textos, ouvindo cd´s, para
circunscrever o tema no qual se vai reflectir e meditar. Depois da escuta em grupo do tema
de reflexão, passa-se ao momento da partilha no qual os elementos que sentirem,
expressam diante dos outros o que o tema de reflexão lhe sugeriu.
       É também importante que durante a reflexão se façam referências às aplicações à
vida, se tirem tomadas de consciência práticas, que se possam transformar em orientações e
decisões concretas para a vida.


                                     14. Variantes
       a) Oração grupal com o apoio dos mantras e orações rítmicas
       Trata-se de ter diante dos olhos um determinado mantra ou oração, o grupo orante
mantraliza-o primeiro em comum, em seguida e em silêncio, cada um ora em si. Depois de
alguns minutos, um dos participantes ora em voz alta desenvolvendo, em forma de oração,
um tema que mais lhe tenha chamado a atenção. Depois, outro elemento faz o mesmo. E
assim sucessivamente todos os que desejam intervir.
       b) Momentos de partilha e reflexão em grupo, com o apoio de um texto ou cd
       É algo semelhante ao anterior, tendo todos um livro aberto num capítulo
determinado, um elemento do grupo lê um trecho. Ficam em seguida um pouco em
silêncio, enquanto cada um vai meditando em privado.




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19
COMO VIVER UM DIA DE RETIRO

          Um retiro é um momento de recolhimento dedicado a aprofundar a relação viva
com a alma.
          A única maneira de vivenciar o mundo interior é vivenciando o coração. Quando o
coração se preenche da presença viva da alma, a vida enche-se de encanto e sentido. E o
coração vivencia-se nos Tempos Fortes. Assim fizeram os profetas, os santos e também,
Cristo.
          Tempos Fortes significa reservar, no interior da vida, momentos especialmente
dedicados à relação com a alma. Tempos Fortes é um tempo de interiorização e de silêncio,
não só para orar, mas também para sintonizar o silêncio interior e recuperar o equilíbrio
emocional, o silêncio mental, a unidade interior, a serenidade e a paz. Sem estes momentos
de centragem e harmonização, as pessoas acabam por desintegrar-se na dispersão da vida.
          Os que querem levar a sério a vida espiritual, necessitam de integrar o sistema dos
Tempos Fortes na organização das suas actividades quotidianas. Se salvares os Tempos Fortes,
os Tempos Fortes te salvarão a ti. De quê? Do desalento, das forças dispersivas, do vazio da
vida, do desencanto existencial. Se te queixas dizendo que te falta tempo, dir-te-ei que o
tempo é uma questão de preferências e as preferências dependem de prioridades. Temos
sempre tempo para o que realmente é importante para nós.
          Quando nos dedicamos ao aprofundar da relação com a alma um dia inteiro, em
silêncio e recolhimento, a esse dia chama-se Retiro. Para fazer um Retiro é conveniente,
quase necessário, sair do lugar onde se vive ou trabalha e retirar-se para um lugar solitário
(campo, montanha ou um espaço de retiro). Uma vez chegado ao lugar onde se vai passar o
dia é indispensável que o grupo disperse e cada pessoa permaneça em recolhimento. Nas
primeiras e últimas horas do dia podem reunir-se para fazerem Oração grupal.
          Em suma: retiro é um tempo forte dedicado à relação com a alma em silêncio e
recolhimento individual. É conveniente dispor de um conjunto de textos, orações, mantras
e exercícios de relaxamento. E tudo isto se encontra no presente livro. Não esquecer de
levar um caderno para anotar as impressões.


          Orientações para um retiro
          1. Utiliza estas orientações com flexibilidade porque a alma pode ter outros planos.
Deves dar sempre uma margem para a espontaneidade da Graça.
          2. Uma vez chegado ao lugar onde vai decorrer o dia, começa com uma leitura
meditada ou com uma oração a partir da leitura. Estas modalidades de oração procuram



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preparar e ambientar gradualmente o nível profundo do ser, o nível no qual acontece a
relação viva com a alma.
       3. No caso de te encontrares num momento de conflito, de confusão, de ansiedade
ou de desalento, prepara o nível periférico do teu ser com exercícios de concentração e
silenciamento. Por exemplo, se te encontrares na natureza aprende um mantra, um cântico
ou uma oração simples e dá longas caminhadas repetindo essa frase ritmicamente,
procurando silenciar a mente e apaziguar as emoções. Se necessário podes repetir estes
exercícios, apoiando-te na oração a partir da leitura, na oração escrita e na leitura meditada.
No início é preciso conseguir um estado elementar de serenidade e silêncio.
       4. Momentos de oração, de diálogo pessoal com a alma. Este diálogo não é
necessariamente feito de muitas palavras mas de uma ressonância na interioridade: procura
falar com a alma, abrir-te à sua Presença e sua acção, amar e sentires-te amado...
       5. Por ser um dia de intensa actividade cerebral é conveniente fazer vários
intervalos breves de descanso, em que o importante é ficar sem fazer nada, passear,
contemplar…
       6. Um momento importante num retiro é uma Leitura Meditada, utilizando textos
de seres que percorreram este caminho de relação e busca de união com a alma,
confrontando as suas reflexões com o teu percurso de vida espiritual.
        7. Também é importante haver um prolongado diálogo com a alma. Falar com Ela
com a mesma intimidade com que se fala a um grande amigo, fazendo um passeio com Ela
pelos caminhos da vida, solucionando as dificuldades.
       8. Um exercício intensivo de oração, de abandono: curar feridas, aceitar, perdoar-se
e perdoar, consolidar a paz, reconciliar-se consigo, com a vida, com os outros...
       9. Procura ao longo de todo o processo manter um estado de neutralidade não
ficando eufórico nos momentos de intensa união, nem deprimido nos momentos de aridez.
O critério mais seguro da Presença Divina é a Paz. Se procuras, antes de mais um estado de
neutralidade, de aceitação e paz, ainda que em plena aridez, a Presença está contigo.




                                                                                            21
COMO PASSAR DA COMPREENSÃO,
 DA REFLEXÃO E ESTUDO À APLICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS
       À VIDA E AO PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO PESSOAL

                         Compreensão/estudo ---------- Oração/Co-criação


       O propósito deste livro é abrir uma porta e tornar acessíveis, à experiência de cada
um, a sabedoria espiritual de seres que buscaram e realizaram a união da alma com o
espírito. Tem também o propósito de perceber como aplicar essa compreensão ao nosso
próprio processo evolutivo.
       Não se trata de um livro para simples leitura e compreensão, mas de um livro que
convida a meditar profundamente e, a partir dessa reflexão, entrar em oração através do
portal do coração.
       Antes de ler os princípios de utilização deste instrumento de trabalho, que te
permite assumir de um forma activa o teu processo de evolução através de uma relação
activa com a alma, lembra-te que este livro foi feito para libertar o espírito não para
confiná-lo.
       Para auxiliar-te ao longo do caminho de aspiração e entrega que conduz à união
com a alma e com o espírito, seguem-se algumas sugestões para poder usar este livro como
base para reflexão, introspecção e oração diária. É sugerido que cada dia te sirvas das três
formas de conexão com o sagrado características da tradição espiritual: instrução,
meditação e oração . Estes três instrumentos estão intimamente ligados, pois se não pode
haver reflexão ou compreensão profunda sem uma leitura ou escuta prévia, não se pode
chegar à verdadeira oração sem antes termos reservado tempo para reflectir e interiorizar
profundamente a compreensão daquilo que ouvimos ou lemos.
       Dessa forma, este livro propõe um método de trabalho:
       1. A partir de leituras diárias desenvolvidas a partir dos escritos de certos autores
propomos um momento de reflexão e introspecção no sentido de sentir em que pontos
tocam no nosso próprio processo de transformação pessoal.
       2. A partir desse processo de tomada de consciência convidamos a uma oração
profunda no sentido de co-criar com o nosso ser interior a libertação de certos padrões e
processos emocionais e mentais, que condicionam a nossa liberdade interior.
       3. Segue-se a aprendizagem duma meditação, na forma de mantra, uma frase que
sintetiza numa fórmula breve a essência de cada tomada de consciência, para a conservar
viva na memória e, numa atitude de vigilância, sobre ela reflectir no decorrer do dia.


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4. No final do dia há um exercício sugerindo-lhe que se recolha num local onde
haja tranquilidade para que possa penetrar no silêncio interior e, numa oração sintética e
conclusiva, entregar-se ao processo de transmutação que decorre durante o sono.


                                   No início do dia
       Quando o dia se inicia reserva um momento de sintonia em silêncio, num lugar
calmo, para ler a meditação sugerida para o dia. As passagens são breves, mas foram
cuidadosamente seleccionadas para proporcionar um enfoque espiritual, um suporte de
tomada de consciência para o teu processo de desenvolvimento interior. Destinam-se a
lembrar-te, no início do dia, da tua própria existência num nível espiritual e também a
colocar-te na presença do ensinamento que poderá ser um suporte de compreensão e
discernimento para guiar-te nesta jornada de entrega à vida da alma.

       Lê alto e devagar, bem devagar... As passagens foram divididas em linhas de
significado compreensíveis para te auxiliar a fazeres exactamente isso. Não leias apenas
para chegar ao fim, mas para sentir a ressonância e entrar numa compreensão profunda de
cada palavra, de cada frase, de cada processo, de cada tomada de consciência. Não se pode
saber por antecipação que frase ou que palavra vai suscitar uma resposta no nível interior
do teu ser. Lembra-te que não estás simplesmente a ler, não estás apenas a receber
informação, mas a interiorizá-la através de um processo de introspecção que permitirá
transformar cada tomada de consciência numa oração.
       A partir de cada tomada de consciência solicitada pela leitura, procure realizar um
momento de oração.




                                 Durante todo o dia
       Imediatamente após a leitura do dia encontrarás uma frase síntese, uma meditação
à qual chamamos mantra. Tal frase apresenta-se como uma espécie de síntese da tomada
de consciência à qual a leitura convida. Esse mantra poderá ser um suporte para a
consciência no decorrer do dia. Escreve esse mantra, repete-o calmamente para ti mesmo,
enquanto prossegues com as tuas actividades.
       Tal recurso destina-se simplesmente a lembrar-te da presença da tua alma e da tua
aspiração de responder a essa presença. Trazer consigo esse mantra, extraído da leitura do
dia, é um meio para possibilitar que o seu significado penetre mais profundamente na tua
compreensão da vida.


                                                                                        23
No final do dia
       É o momento de fazer a entrega do dia para ingressar no processo de purificação e
transmutação que ocorre através do sono e do sonho.
       Sugerimos que procures um local tranquilo ao qual possas retornar ao final de cada
dia. Quando voltares a ele, a primeira coisa a fazer é aquietares-te, pousando-te
profundamente no silêncio do coração. Senta-te, faz aquilo que for necessário para te
coligares à alma. Respira profundamente. Inspira, expira…lenta e profundamente até
sentires o teu corpo a libertar-se de toda a tensão, a tua mente libertar-se de preocupações
e distracções e a atenção ficar imersa no coração.
       Essa oração do final do dia é um acto de fé e confiança, uma entrega para uma
entrada no sono com uma oração simples, capaz de abranger os aspectos do processo
espiritual que ocorreram durante o dia que agora está a terminar, exactamente como
iniciou: na presença da alma. É um momento de recapitulação e síntese do processo que
ocorreu entre o eu consciente e a alma. Invoca à alma que te envolva no seu amor, que te
proteja durante a noite e que, através do sono e do sonho purifique, transmute os registos
mentais e emocionais que sentes necessidade de libertar para avançar no teu processo
evolutivo.



                        Outras formas de utilizar este livro
       Utiliza-o de acordo com a inspiração da tua alma. Como já foi dito, salta uma
passagem que num determinado dia não te está a causar nenhuma ressonância ou repite
num segundo dia, ou mesmo em vários dias, uma passagem cuja riqueza está a ser
significativa nesse momento do teu processo de crescimento e transformação.


       Comeca a escrever um diário espiritual para registar e aprofundar a experiência que
vais iniciar nesta jornada de busca e união com a alma. Utilizando um mantra ou uma frase
da leitura que está a despertar o teu interesse, escreve um relato do processo espiritual do
seu dia, uma reflexão sobre as suas tomadas de consciência e tomadas de decisão. Cria a
tua própria meditação, a tua própria forma de introspecção e oração, enquanto
instrumentos para uma coligação sincera e consciente com a alma.




                                                                                          24
25
ORAÇÃO SEGUNDO SANTA TERESA D´ÁVILA 2

            A oração autêntica é um estado de receptividade e aspiração ao contacto com a
energia da alma e com o fogo do espírito. Pela oração o indivíduo invoca essas energias e
afirma a disposição de entrega para unir-se a elas, no interior do seu ser.
            A oração desinteressada é abertura incondicional, pura entrega e doação sincera à
vontade da Consciência Suprema que se espelha na vontade do eu interior. A oração
mobiliza as energias do indivíduo e eleva-as ao nível intuitivo, numa busca irrestrita da
verdade. Construída no silêncio interior alicerça-se na fé e na vigilância. Projecta-se no
mundo interno como pacificação de desejos e de pensamentos e também como cessação
de acções supérfluas. Mesmo sem saber e sem nada direccionar, o indivíduo em oração
estimula transformações nos demais: irradia clareza e lucidez para a aura planetária. A
oração é pois, instrumento de serviço ao mundo, e para ser eficaz, deve nascer da
humildade.
            Na condição actual da superfície da terra, é importante a acção de indivíduos e
grupos, dedicados ao Plano Evolutivo. A estes indivíduos e grupos de serviço é pedido
para cumprirem o papel de intermediários entre a luz da Hierarquia espiritual e a vida
terrestre, pois transmutações profundas são requeridas para que as energias de mundos
superiores possam penetrar e agir mais livremente nos níveis concretos da vida.
            É possível cultivar o estado de oração mesmo durante actividades externas,
doando-se inteiramente ao que se apresenta como necessidade e oferecendo os frutos do
empenho à Consciência Suprema. Esta é uma forma de oração activa, em que se reconhece
a Presença divina em todas as coisas, situações e seres.
            Quando um ser começa um processo de oração é importante que tenha
consciência de algumas recomendações inspiradas nos escritos de Santa Teresa d´Ávila:
            1) Durante a actividade orante, não pensar em outra coisa fora do foco da oração;
            2) Despreocupar-se e desapegar-se de toda a expectativa em relação aos seus
efeitos, já que estes podem apresentar-se apenas posteriormente e dependem de vários
factores, nomeadamente da preparação dos corpos mental, emocional e físico do ser para
receber energias mais potentes;
            3) não se fixar com o que vê ou ouve durante o momento de recolhimento, mas
buscar a união silenciosa com a Presença;
            4) reconhecer os próprios erros e dispor-se a superá-los;
            5) louvar e alegrar-se por se dedicar ao serviço impessoal num mundo que tanto
carece dele;
2
    Texto retirado do Glossário Esotérico de Trigueirinho

                                                                                            26
6) não abandonar a oração, por mais árido que por períodos se torne o terreno
sobre o qual se caminha;
       7) não comparar o progresso que se faz com o obtido por outros;
       8) buscar luz para discernir se o que lhe chega provém do Alto ou é criação da
imaginação humana;
       9) perseverar, sem se preocupar com as inquietações ou distracções do pensamento;
       10) não olhar para os defeitos alheios, mas abrir-se para que os seus sejam
purificados e transmutados;
       11) superar a tendência de querer conduzir a evolução dos outros pois a
transmutação deles será ajudada pela simples irradiação daquilo que é elevado e
transcendido em si mesmo. Lembrar-se que o exemplo actua mais que mil palavras.
       Santa Teresa diz que o Criador pode por vezes dar-nos entendimento instantâneo,
sem precisarmos do raciocínio. Acrescenta ainda ser possível acontecer num instante o que
não se conseguiu durante muitos anos de trabalho e esforço consciente. O importante é
prosseguir sempre, mesmo em fases de aridez que correspondem a momentos de
purificação do nosso ser. Tudo é para ser aceite como dádiva preciosa e os pontos de vista
antigos devem ser substituídos por novos, cada vez mais impessoais e abrangentes.
       Para chegar ao estado de oração autêntico e profundo, o indivíduo passa por várias
etapas. Santa Teresa enumerou-as no Livro da Vida, Caminho de Perfeição e Castelo Interior,
conforme resumidas a seguir.
       ♦ Primeira etapa: o indivíduo aspira a uma consciência da vida interior. De vez em

quando entrega-se ao ser interno, porém com ressalvas. Reflecte sobre os estados de alma,
busca momentos de sintonia com a vida da alma, mas não detidamente. Ora busca a
quietude, ora se distrai com os interesses do mundo. O seu coração e sentimentos rendem-
se com frequência a interesses e forças humanas.
       Nessa luta, procura libertar-se, embora se envolva em afectos, com o amor-próprio,
deixando-se facilmente vencer pelos vínculos e apegos que o prendem ao mundo. Nesta
etapa necessita de outros que o inspirem e intensifiquem a sua aspiração pela relação com a
alma. Os dons naturais do indivíduo oferecem-lhe campo para aprofundamento e são
meios de ele aproximar-se da interiorização. A mente participa de modo activo no
processo, seja de oração, seja de recolhimento silencioso, seja de reflexão. Transcende-se
esta etapa quando se renuncia a tudo o que é supérfluo e a vida espiritual se torna uma
prioridade.
       ♦ Segunda etapa: o indivíduo prossegue e os progressos fazem-se perceber,

todavia ainda não se sente firme no caminho. Começa a reconhecer os caminhos que o
afastam do interior e a afastar-se deles conscientemente. O chamado interno chega-lhe por

                                                                                        27
intermédio de outros, de leituras e também através de doença e sofrimentos. Nesta fase
tem início o processo da purificação e, ao deixar-se permear pela energia da alma, começa o
refinamento mais intenso dos corpos mental, emocional e físico. Os assédios das forças
adversas tornam-se frequentes. A consciência torna-se cada vez mais activa e as faculdades
mentais mais hábeis. Nesta fase o ser já reconhece claramente que fora do Caminho
espiritual não encontrará o que procura, a sua única esperança está no auxílio interno.
Transcende-se esta etapa orando sem cessar. A oração incorpora-se ao ser e torna-se
permanente quando há uma intensa aspiração, empenho, persistência e dedicação.
       ♦ Terceira etapa: o indivíduo percebe que está a ser ajudado interiormente a

superar dificuldades. Quer ainda muito à vida externa para poder doá-la por inteiro, no
entanto, receia comprometimentos e vínculos não evolutivos com o mundo e com os
outros. Nesta fase o ser tem excesso de zelo por si, ou seja, está ainda preocupado com a
sua própria evolução e realização. O amor ainda não o projectou além do nível humano e
da esfera da consciência pessoal. Consegue olhar mais os próprios desfasamentos do que os
alheios, mas descobre o gosto e o prazer em ensinar os demais. Transcende-se esta etapa
quando se adquire uma real e profunda humildade, e se ultrapassa a esfera da preocupação
e motivação pessoal.
       ♦ Quarta etapa: o indivíduo está num nível mais subtil de consciência, ao qual as
forças involutivas têm menos acesso. Nesta fase, a esfera da consciência pessoal, os
projectos e motivações pessoais têm pouco valor, o amor transforma-os em obras. A sua
parte sensitiva começa a aquietar-se, diminui a sua identificação com as forças da
personalidade, não se preocupa e não é tão afectado com provas ou factos desconcertantes.
Mesmo que os seus corpos sejam de algum modo perturbados, a consciência está estável na
alma e mantém a paz interior. Reconhece que os obstáculos estão dentro de si e não fora.
Reconhece as fragilidades e imperfeições que tem e quer a todo o custo atender ao
chamado de voltar-se para o seu centro e lá permanecer. A consciência vai sendo cada vez
mais conduzida a recolher-se e a centrar-se na vida da alma e a renunciar aos apegos e
envolvimentos não evolutivos com o mundo. Deixar-se cada vez mais abandonar n´Aquele
que o guia, sem se preocupar com qualquer tipo de reconhecimento e compensações,
torna-se a única meta do ser. A mente é permeada por uma Luz superior que a eleva; perde
todo o temor e vai-se afastando dos gostos do mundo. Nesta fase é mais indicado o
indivíduo lembrar-se do Supremo e esquecer-se constantemente de si mesmo.
       ♦ Quinta etapa: não há no indivíduo a mínima reserva em entregar-se por inteiro

ao Supremo. Muitos podem ter as condições de manter a disciplina para orar nesse nível,
mas para chegar às virtudes internas, características desta fase, não são tantos os
preparados. As impurezas humanas desaparecem, porém as menores e mesquinhas

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persistem. A quietude prolonga-se por períodos maiores, a oração torna-se livre de
fórmulas. A consciência reconhece a sua aliança com o mundo interno, a paz e a alegria
provindas desses encontros são reais; totalmente irreal torna-se o contentamento que nasce
da identificação com o eu psicológico.
       ♦ Sexta etapa: a consciência purificada fica diante da sua própria limitação, intenso

é o sofrimento. É levada a entregar-se totalmente, na dor encontra o que dantes encontrava
na alegria. A consciência nunca esteve tão atenta à vida interna, jamais teve tanta luz, porém
vislumbra mistérios ainda irrevelados. A vida na terra e os outros seres não lhe parecem os
mesmos, vive em divino amor. As dádivas oferecidas à alma são a entrega à Lei, o
autoconhecimento, a humildade e a indiferença em relação a tudo o que é material.
       ♦ Sétima etapa: imensa é a clareza que emerge no ser perante a Presença. Todavia
a experiência de plenitude é temporária e só se tornará permanente quando a alma for
absorvida por inteiro pelo espírito. A consciência está desperta onde a alma se expressa e m
plenitude. Mesmo que nos corpos haja por momentos desequilíbrio e dor, como o ser já
não está identificado com esse nível, permanece em Paz. A quietude é quase contínua e
sente o sofrimento dos seres que permanecem afastados em relação à essência de si
mesmos. Após esta etapa, um portal haverá de ser cruzado pela consciência, que então
ingressará num novo Caminho, o da união total da alma com o espírito.




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A importância da Sintonia, Oração e Mantras




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3
                                                   Oração I


           Porque razão somos convocados a orar? E porque será que as forças involutivas
nos fizeram crer que a oração é uma coisa sem importância e sem eficácia? Parece que a
oração é algo muito eficaz, tão eficaz que as forças adversas à evolução fizeram com que
pensássemos o contrário.
           Quando um ser ora com sinceridade encontra uma conexão real e extremamente
potente. Essa conexão vai construindo e fortalecendo um canal de coligação e
comunicação com a alma.
           Porque razão no processo de orar repetimos a oração, a frase, o mantra? Esta é
uma questão muito importante, especialmente hoje em dia, pois estamos a viver um
período de transição.
           Quando se vive um período de transição as coisas estão um pouco instáveis: neste
momento já não estamos no ciclo passado mas não estamos ainda no ciclo futuro e por
isso as coisas estão “fora do lugar”, estão a “cair”. Neste contexto em que as coisas se estão
a desconstruir, a compreensão de como funciona a oração, de como funciona o trabalho
com os mantras, de como funciona o poder criador da palavra, é essencial. Compreender
isto é importante porque quando fazemos este trabalho conscientemente ele adquire uma
potência maior.
           Um grupo que se reune conscientemente para fazer uma sintonia, tem um poder
nos planos subtis muito maior do que milhares de pessoas que não estão a fazer um
trabalho consciente. O poder de criação na oração varia com o grau de ligação de cada ser
com a sua alma e com a abrangência que cada ser ou cada grupo inclui na sua consciência.
           Quando sentimos raiva, ciúme, tristeza… cria-se uma determinada vibração na aura
mental, emocional e física, é como um movimento que circula na nossa aura e faz contacto
com a aura colectiva. Então, se temos um sentimento denso, ele vai fazer contacto com a
aura colectiva num nível vibratório denso. Quando sentimos um sentimento como a
compaixão é criada uma ressonância com esse mesmo nível vibratório na atmosfera
terrestre e universal. Nós estamos o tempo todo a construir estados vibratórios na nossa
aura psíquica em função dos pensamentos e sentimentos que em nós são gerados.
           Então porque será que a Hierarquia espiritual nos pede para orar? Não se trata de
orar para ela, não é que seres como Mainhdra precisem da nossa oração, eles já se
libertaram da vida planetária, nós é que precisamos abrir a porta para que a energia de
Mainhdra ingresse através do nosso canal e transmute a vibração na aura psíquica do
planeta. Dito de outra forma, a energia de Mainhdra não pode ancorar na atmosfera da

3   Texto transcrito a partir de uma conferência realizada por Artur

                                                                                           32
terra e dos corpos da humanidade se não existirem canais humanos em sintonia para que a
sua energia possa manifestar-se. Nós sozinhos, através da conexão só com a nossa alma,
não temos ferramentas para trabalhar a um nível planetário. A Hierarquia não precisa da
nossa oração ou devoção infantil, ela precisa de nós conscientes e entregues, unindo as
nossas forças em direcção ao alto, para que, junto connosco, a Hierarquia possa canalizar a
energia para transmutar o planeta, purificando-o e libertando-o de certas forças que não
devem mais estar aqui.
        A Hierarquia não pode fazer este trabalho de transmutação sem a nossa
colaboração. Na medida em que fomos nós que abrimos as portas para as forças
involutivas, teremos de ser nós a ajudar, a co-criar para que essas forças sejam
transmutadas.
        Então orar, num certo sentido, significa activar, criar, construir uma certa vibração,
ou seja, repetindo, repetindo… mantras, orações, afirmações começa-se a tecer no campo
etérico uma nova vibração que vai permeando a densidade da aura psíquica da terra,
purificando, transmutando e implantando gradualmente a vibração da paz e da harmonia.
        Neste processo de criação de uma nova vibração há uma fase de conflito vibratório,
o trabalho começa a ajustar uma nova vibração, ela vai subindo e tudo aquilo que não
acompanha a subida é transmutado, purificado.
        Então, vamos orando e repetindo, repetindo e invocando… e assim, gradualmente,
vai-se criando uma nova vibração na nossa aura, na aura do grupo e na atmosfera. O que é
da velha vibração ou se eleva ou sai. Um indivíduo que ora realmente, muito
provavelmente tem a sua aura limpa de forças estranhas, porque a oração vai activar
aquelas partículas da aura, que vibram mais alto e purificam. Dessa forma acendemos os
núcleos onde o fogo transmutador do espírito age e os átomos da nossa aura vão sendo
purificados, tornando a aura luminosa e organizada.
        A oração faz um trabalho científico de transformação ao nível atómico, molecular e
celular. À medida que nos vamos ligando a um estado mais elevado de vibração
começamos a atrair uma potente energia transmutadora que vai operando uma
transformação vibratória da aura. À medida que um indivíduo começa a mudar a vibração
da própria aura ele vai-se literalmente transformando, vai aprendendo a transmutar forças
mais densas, ou seja, se um indivíduo aprende a transmutar um certo estado de densidade
na sua aura, se ele aprende a superar uma certa dificuldade, ele gerou na sua aura aquela
capacidade de transmutação. Então começa a transmutar forças do ambiente, da aura
colectiva, da aura planetária.
        Quando começamos a orar vamos transmutando, primeiro na nossa aura, antes de
mais temos de limpar a nossa casa – os corpos mental, emocional e físico etérico. Por isso

                                                                                           33
quando um ser assume esse trabalho de oração, muda de estado de consciência, porque
acende partículas ígneas que purificam profundamente a aura. Essas partículas
correspondem a outro grau de consciência – à vibração da alma ou do plano espiritual - e
quando são activadas vão impregnando os vários planos, mental e emocional, até ancorar
no nível físico. Nesse momento as glândulas começam a funcionar de outra maneira, a
química do sangue muda, a pessoa pode inclusive sentir necessidade de outro tipo de
alimentação, pois as glândulas estão respondendo a outro modo vibratório.
       A repetição de mantras e orações é feita para que se dê essa mudança de ritmo e de
vibração. À medida que a pessoa começa a organizar-se, a sua oração deixa de ser apenas
um trabalho de transmutação pessoal para tornar-se um serviço que se presta ao processo
de purificação e transmutação da humanidade e da terra.
       O que acontece é que transformamos um nível em nós mesmos e logo estamos
aptos a transformar esse mesmo nível nos outros e na aura da terra. Não é necessário
estarmos perfeitos para começar a servir.
       Quando estamos a orar, a mantralizar ou a fazer silêncio ofertamos esse momento
de sintonia à Hierarquia espiritual e ela vai usar o nosso canal para transformar aquilo que,
na aura planetária, precisa ser transformado.
       Quando fazemos este trabalho em grupo, o processo tem muito mais força que
quando fazemos individualmente. Um grupo sincero de trabalho não vai ser um grupo
perfeito, é um grupo que se está a trabalhar. Um grupo de oração, sincero e consciente,
pode fazer um trabalho profundo na aura planetária e é por isso que a Hierarquia necessita
que em cada região existam grupos que façam um trabalho de transmutação.
       Os grupos de sintonia e oração, se se mantêm fiéis ao trabalho, são grupos de
transformação que colaboram efectivamente na purificação e elevação da vibração da aura
planetária. Desta forma, podem haver mudanças no cenário mundial porque existem
grupos orantes. Um acontecimento planetário pode ser mais ou menos denso externamente
em função do grau de consciência e sinceridade com que a humanidade ora. Em que
sentido? Se a humanidade se eleva e transmuta a vibração da aura psíquica, acontece uma
alteração vibratória e não é necessário o mesmo grau de violência para que ocorra o
processo de transmutação.
       Se os grupos orantes assumem um trabalho de purificação do planeta ele não vai
precisar de um processo tão violento como precisaria se estivéssemos a fazer um trabalho
contrário, ou seja, contribuir com a vibração dos nossos pensamentos e sentimentos para o
estado de densidade psíquica já existente no planeta. Enquanto estamos neste trabalho de
purificação, transmutação e elevação da vibração fazemo-lo em nome da humanidade.



                                                                                          34
Oramos para fazer uma ligação à nossa alma, ao fogo espiritual unindo-nos à
Hierarquia que canaliza potentes correntes de purificação e assim, a vida na superfície da
terra, pode passar por uma mudança evolutivamente transformadora. Fazemos esta entrega
sem tentar dirigir o resultado porque nós não sabemos o que é melhor. A Hierarquia vê de
uma forma mais abrangente que nós, ela vai conduzir a energia exactamente onde esta é
necessária.
       Fazemos um trabalho de sintonia, oração e mantras para elevar a vibração da terra e
estarmos unidos à Hierarquia. Se estamos em contacto com a nossa alma e com a
Hierarquia sabemos onde devemos estar, o que devemos estar a fazer e de que forma.
       A oração é um processo real e muito eficaz. É de tal forma importante que as
forças contrárias à evolução subtilmente fazem com que não acreditemos no real alcance da
oração. Assim muitas vezes oramos durante alguns dias e depois paramos porque existem
outras prioridades, porque estamos cansados ou porque não sentimos logo o efeito da
oração e desanimamos. É importante que compreendamos que a dispersão, a inércia, a
identificação com o plano do ego - medos, dúvidas... - são instrumentos das forças
involutivas para desmobilizarem a vontade espiritual do ser humano.
       Temos que vencer esta oposição pois a oração é um instrumento de transformação
de nós mesmos e da vida planetária, se for feito sem motivações egoístas e sem tentarmos
dirigir os resultados. Trata-se de orar para que um Propósito divino, que nós
desconhecemos, desça à terra… para que a vibração da Paz desça à terra. À medida que os
seres se entregam ao processo orante começam a viver esta realidade independentemente
do que se passa no exterior.
       Então, porque se usa a repetição? Porque repetimos a mesma palavra, o mesmo
mantra, a mesma oração? Repete-se porque temos de ir transmutando, purificando e
construindo gradual e persistentemente uma mudança vibratória. Um detalhe importante é
que se podemos orar em voz alta trazemos a vibração que vai sendo gerada, ancorando-a
inclusive no plano etérico e físico. Assim, orando, mantralizando vamos tecendo uma nova
vibração.
       Imaginem todas as pessoas do planeta conversando, a maior parte dos assuntos são
supérfluos, quando não são negativos. Imaginem todas as televisões ligadas, os rádios, os
ruídos dos automóveis e das máquinas… tudo isto cria uma densidade na vibração do
planeta. Se um grupo se reúne e entoa em voz alta uma oração, produz uma vibração num
tom mais elevado, vai construindo uma frequência mais elevada que vai irradiar para o
espaço. Tudo isto tem uma força de construção maior, se é feito com amor e consciência.
       É obrigatório orar e mantralizar em voz alta? Não! A oração em voz alta não é a
única maneira, podemos fazê-lo mentalmente também, mas quando o fazemos em voz alta

                                                                                       35
a vibração criada pode ancorar até ao plano etérico, irradiando para a atmosfera envolvente.
Quando estamos em grupo, o facto de orarmos em voz alta permite criar uma unidade de
intenção, reunindo a energia de todos os corações num mesmo propósito.
        É obrigatório usar a oração da Mãe Universal? Não. Cada um deve orar da forma
que for mais real para si. No entanto, quando vamos orar em grupo podemos usar uma
fórmula de oração, como seja a da Mãe Universal, pois ajuda-nos a criar uma força de
coesão e uma unidade na consciência grupal.
        Se vários grupos, em vários países, usam a mesma fórmula, essa oração começa a
criar um canal nos planos subtis do planeta e cada vez que os seres oram fortalecem-no.
Desta forma, a Hierarquia pode usar este canal para irradiar a sua energia de purificação,
transmutação e criação.
        À medida que vamos orando, orando… vamos construindo, através desta fórmula,
um canal com a energia de Mainhdra e de cada vez que vamos orar usufruímos deste canal
que já foi sendo tecido e por isso é mais facilmente activado.


        Para além deste trabalho de sintonia e oração grupal, existe um trabalho de oração
individual, que podemos fazer à nossa maneira, da forma que for mais sincera e real para
nós. Ou seja, nos momentos de oração individual podemos criar uma oração conversando
com a nossa alma ou com Deus de uma forma mais autêntica, íntima e sincera. Isto pode
ser feito durante um momento de recolhimento ou mesmo quando estamos a trabalhar, ou
seja, podemos estar em actividade orando!
        No entanto, quando nos reunimos a um grupo para este trabalho de oração, se
usarmos uma fórmula de oração que permita criar coesão e unidade na consciência e no
coração, essa fórmula vai dar mais força a esse momento. A energia de Mainhdra é a
energia necessária para que o processo terrestre e humano passe pela alquimia da
transformação. A energia de Mainhdra contém o componente necessário para que a vida
terrestre evolua.
        O que Mainhdra irradia é algo que temos dentro de nós e, quando nos começamos
a ligar a Ela, estamos a activar dentro de nós esse fogo, essas partículas que lhe
correspondem e que purificam, transmutam e recriam a vibração da mente, do sentimento
e do corpo.


        Concluindo, a oração é um trabalho que aplicamos a nós próprios e através do qual
nos oferecemos ao serviço da cura planetária.




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37
4
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            Na terra existe esta característica que é o livre arbítrio, ele é uma parte da
experiência terrestre e por isso é respeitado até ao último momento. Ainda que todo o
processo plasnetário, suportado pelas Hierarquias espirituais, esteja a trabalhar para que
tudo evolua no caminho da união, se nós não quisermos, nós não vamos. Se nos quisermos
opôr a este trabalho evolutivo – que tende para a união, para a unificação do ser - estamos
a fazer uso da vontade pessoal e a resistir à evolução.
            Por vezes uma parte do nosso ser quer profundamente caminhar neste eixo que
conduz à união com a alma e uma parte resiste porque tem apegos, sentido de posse,
medos… uma série de ilusões que atam a consciência e prendem a alma ao plano humano.
            O que Mainhdra nos está a transmitir é que temos de criar uma canal de conexão
com a alma, unindo-nos à sua Luz, ao seu Amor mas também à sua Vontade, ou seja, ao
compromisso evolutivo pelo qual a alma encarnou.
            Nesta busca de união com a alma existe um precioso instrumento de criação: a
oração. Um dos trabalhos das forças que se opõem a este processo de união é impedir que
compreendamos o poder da oração. Então, para muitos de nós a oração é algo sem valor,
sem sentido e sem qualquer eficiência.
            Em vários caminhos espirituais, no oriente e no ocidente, quando um ser começava
um processo intensivo de busca, de união com a alma recebia estes instrumentos de
trabalho: meditação (sintonia), oração e mantras. Estes são instrumentos preciosos para
criar a conexão, aprofundar a relação com a alma e unir-se gradualmente à sua Luz, ao seu
Amor e à sua Vontade.
            Mantras e orações são instrumentos de criação que nos permitem perfurar os véus
da consciência e abrir o canal de comunicação com a alma.
            Se Mainhdra nos está a instruir para que oremos, é porque precisamos desse
instrumento para criar uma conexão e uma comunicação sincera com a alma,
aprofundando a relação e unindo-nos cada vez mais ao seu propósito evolutivo.
            A Hierarquia espiritual instrui-nos para que oremos, em representação da
humanidade. A humanidade tem livre arbítrio, ou seja, grande parte da humanidade vive
num estado de inconsciência, ignorância e alienação em relação à sua própria realidade
espiritual; existe ainda outra parcela da humanidade que apesar de já estar desperta para a
realidade da alma, ainda não entrou num nível de uma entrega total do livre arbítrio. Neste
contexto, a oração dos seres que entregam o livre arbítrio e se unem à Vontade Suprema, é



4
    Texto transcrito a partir de uma conferência realizada por Artur

                                                                                         38
importante no grau em que estes seres estão unidos ao Plano Divino e ao orar estão a fazê-
lo em nome da humanidade.
       A humanidade é uma unidade de consciência e à medida que um ser se entrega, se
transforma e se une à vontade da alma, é a humanidade inteira que, num certo grau, se está
a entregar, a transformar e a unir à Vontade do Criador.
       É importante termos esta consciência e esta compreensão abrangente do que
estamos a realizar quando oramos para não usarmos a Luz Suprema para a nossa lâmpada
de cabeceira. Se utilizamos o processo de oração para pedir algo para nós mesmos, para
resolver algo pessoal, estamos a usar a Luz Suprema, que vem para redimir e operar um
processo de resgate na vida planetária.
       Então, por exemplo, temos um instrumento de trabalho, a oração da Mãe Universal.
Esta oração é uma fórmula de criação e ao aplicá-la estamos a aprender a criar, a entrar em
sintonia, a sincronizar com a corrente criadora do princípio feminino na terra. Enquanto
repetimos aquelas palavras, aquele ritmo, aqueles sons, se estamos na atitude correcta de
sinceridade e entrega, então estamos a afinar os nossos átomos, moléculas, células do físico,
do emocional e da mente, com uma certa corrente criadora que é a acção deste princípio
feminino, projectando-se na terra.
       Nós estamos a orar em nome da humanidade e quanto mais abrangente for o grau
de união que possamos incluir na nossa consciência, mais vamos sentir a humanidade Una,
orando em nós, apelando e respondendo a esta Luz Suprema.
       Quando dizemos, “Nós Te saudamos Mãe Universal”, isto significa que, em nome
da humanidade, estamos a dar a permissão para que este princípio feminino de criação,
actue sobre a humanidade e a vida terrestre. Thaykhuma, Mainhdra, Mishuk, Maia… são
diferentes núcleos de consciência deste princípio feminino.
       Com a oração estamos a criar uma forma pensamento que fica inscrita no plano
psíquico da terra. O nível global dos pensamentos, dos desejos, dos sentimentos, das
motivações dos seres humanos cria uma densidade vibratória no plano psíquico da terra.
Este grau vibratório denso cria uma opacidade, uma capa psíquica na aura da terra e para
que a Luz, a energia do Amor e da Vontade espiritual possam penetrar na aura psíquica da
terra, a consciência dos seres tem que romper, tem que perfurar certas camadas densas
dessa opacidade e resistência.
       Com o ardor da oração e da mantralização estamos a ajudar a transmutar, a
purificar essa vibração densa criando um canal para que a Luz, o Amor e a Vontade
possam ancorar no campo psíquico da terra e na aura da humanidade.




                                                                                          39
À medida que este princípio feminino ancora na aura da terra, ele transmuta,
purifica, reorganiza as auras e vai acendendo os códigos lumínicos do amor e da vontade
espiritual na substância humana e terrestre.
        Enquanto repetimos a oração, com a mente e o verbo unidos ao coração, isto vai
criando uma forma pensamento na aura psíquica da terra. Essa forma pode depois ser
preenchida com a energia destes princípios que invocamos – Paz, Luz, Unidade... Ao orar
estamos a construir uma forma pensamento que começa a vibrar nos diferentes planos,
irradiando a energia com que foi preenchida. Por isso se pede a repetição no trabalho
mantrico e de oração, a repetição é um mecanismo de criação que permite inscrever
gradualmente a forma pensamento na vibração do éter.
        A forma pensamento criada fica impressa no éter e começa a vibrar e a ser
preenchida com a energia do princípio que invoca… Luz, Paz… depois de preenchida
começa a irradiar para a vida terrestre.
        Quando invocamos: “Sagrada energia feminina, princípio criador que estás
gestando a nova consciência, a nova substância, a nova humanidade”, invocamos esta
consciência para que ancore e preencha a aura da terra, propulsionando a evolução da vida
terrestre.
        É necessário que a vida terrestre mude de lei, que os seres deixem de viver a partir
das forças humanas e passem a viver a partir das leis da alma. Tudo o que são problemas,
conflitos, sofrimentos são problemas porque estão sob uma certa lei – a lei do ego, a lei do
plano humano, a lei do carma. Estes problemas, estes conflitos, estes sofrimentos não têm
qualquer solução enquanto o ser estiver preso àquelas leis humanas, terrestres e cármicas.
Este processo é infindável enquanto o ser não se liberta e transcende estas leis. Isto implica
libertar-se de preconceitos, de medos, de apegos, de vínculos, de ilusões que prendem a
consciência e a alma às leis humanas, terrestres e cármicas. Só quando o ser se liberta dessas
leis é que começa a viver a lei da alma, a lei do dharma, a lei que lhe permite dar os passos
para cumprir o propósito evolutivo pelo qual a alma encarnou.
        A humanidade inteira terá que dar esse passo, que colocará a vida na terra sob
outras leis, e é esse mesmo passo que é pedido a cada ser, para que possa viver a lei da alma
– um grau maior de amor, de paz e de unidade. A lei da alma começa a pautar a vida do ser
na medida em que ele se libertou das ilusões, dos desejos, conflitos e da dualidade do ego.
        Quando invocamos: “Para que possamos consagrar-nos como dignos filhos de
Deus”, consagrar-nos implica entregarmo-nos totalmente à purificação e à transformação
que permitirá essa mudança de lei na nossa vida. Entregando totalmente o livre arbítrio, a
vontade pessoal… para honrar o compromisso e a vontade da alma. É o honrar desse
compromisso que faz de nós “dignos filhos de Deus”. Então, nós vamo-nos entregando

                                                                                           40
gradualmente a este processo de união com a alma. Quando oramos em voz alta confirma-
mos esses votos, deixando impressa no éter a nossa entrega. Esse acto de criação vibrou no
éter, preencheu aquele conteúdo com uma certa vibração, uma certa vida…
       Cada vez que repetimos Fé, Luz, Paz, Unidade, Transmutação… devemos
preencher aquele significado com vida, com vibração e isso vai ter um poder de criação
intenso, transmutando, purificando, reorganizando as energias da nossa aura. Assim, com o
poder de criação da oração sincera somos capazes de romper as camadas densas do
psiquismo terrestre. O nosso verbo soa nos níveis superiores, abrindo um canal para que
essa luz purificadora, esse fogo transmutador, esse princípio criador, penetre a aura
psíquica, irradiando no éter, para que a humanidade possa receber os códigos lumínicos da
Nova Vida.
       Então, a oração não serve para resolver problemas pessoais, mas para criar a nova
vida em nós mesmos, na humanidade e na terra. Ela é um instrumento preciso que permite
canalizar e ancorar na terra os princípios criadores – a consciência de amor crístico, o
princípio de energia feminina e a vontade espiritual.
       Este conhecimento oculto do poder da oração é essencial. Para que as energias da
mente, as energias do corpo emocional e as energias etéricas e físicas possam ser realmente
canais de irradiação têm que estar totalmente concentradas, entregues em devoção e
sintonia com estes princípios criadores.
       Então, ao orar repetimos aquela fórmula de criação, preenchendo-a de conteúdo,
de vibração, de vida… isto vai criando no campo psíquico da terra um canal e assim, este
princípio criador da Mãe Universal pode ancorar e encarnar, num certo grau, na
humanidade e na vida terrestre.
       Este princípio feminino tem de ser activado com urgência, para isso precisa de
canais através dos quais possa ancorar e irradiar na aura da terra. É fundamental que hajam
estes canais, que possam ser preenchidos, deixando irradiar e fluir para a terra estas
vibrações.
       Sintonia, mantras e orações são instrumentos essenciais neste processo.
       É importante persistir neste trabalho de oração, às vezes a água jorra e bebemos da
Fonte, outras temos que cavar fundo para encontrar um pouco de água. É essencial não
orar pelos benefícios que recebemos, mas orar esquecido de si em doação permanente.
Esteja a água jorrando ou tenhamos que cavar fundo para chegar no leito profundo ou
mesmo na aridez total, devemos persistir orando, com fé, com confiança, doando-nos,
doando-nos em permanência à realidade do Amor.




                                                                                        41

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Manual de Oração

  • 1. MANUAL DE ORAÇÃO Diferentes Modalidades de Oração - texto de apoio ao Livro de Orações - Casa do Lago casadolago-lisdornes.blogspot.com
  • 2. 1
  • 3. Índice Parte I ♦ Manual de Oração………………………………………………………………....pág. 4 - Preparação Prévia………………………………………...………………....pág. 4 - Orientações práticas……………………………….………………………..pág. 5 ♦ Modalidades de oração………………………………………………………….…pág. 8 - Oração a partir da leitura………………………………………………....…pág. 8 - Leitura meditada……………………………………………………………pág. 8 - Pedagogia para meditar e vivenciar interiormente a palavra………………....pág. 9 - Detalhes práticos…………………………………………………...pág. 10 - Oração com mantras…………………………………………..........pág. 10 - Oração auditiva……………………………………………………………pág. 10 - Oração escrita…………………………………………………….……….pág. 11 - Oração de abandono……………………………………………….……...pág. 11 - Oração de acolhimento……………………………………….………...…pág. 12 - Oração de elevação e transcendência de si…………………….…………...pág. 13 - Oração de contemplação…………………………………………………..pág. 14 - Sintonia silenciosa de união………………………………………..pág. 14 - Oração no Espírito de Jesus………………………………….……………pág. 15 - Orar com a natureza………………………………………………………pág. 15 - Oração grupal……………………………………………………………..pág. 16 - Momentos de partilha e reflexão…………………………………………..pág. 17 - Variantes…………………………………………………………………..pág. 18 ♦ Como viver um dia de retiro…………………………………...………………....pág. 20 Parte II ♦ Como passar da compreensão, da reflexão e estudo à aplicação dos conhecimentos à vida e ao processo de transformação pessoal……………………………………...pág. 22 - Compreensão/estudo – Oração/Co-criação………………………………pág. 22 - No inicio do dia…………………………………………………………...pág. 23 - Durante todo o dia………………………………………………………..pág. 23 - No final do dia……………………………………………………………pág. 24 - Outras formas de utilizar este livro………………………………………..pág. 24 ♦ Oração segundo Santa Teresa d´Ávila................................................................………pág. 26 ♦ A importância da sintonia, oração e mantras..................................................................pág. 30 - Oração I....................................................................................................................pág. 32 - Oração II...................................................................................................................p ág. 38 2
  • 4. 3
  • 5. MANUAL DE ORAÇÃO 1 - Introdução - Há quem pense que a oração é um estado de graça que não depende de métodos e exercícios. O aprofundar da relação com a alma é uma convergência entre a graça e a aspiração, uma busca, um esforço consciente de sintonia... A oração é graça, sim, mas também é arte e como arte exige aprendizagem, método, disciplina e pedagogia. Se muitas pessoas estagnam no caminho espiritual não é por falta de graça, mas por falta de ordem, disciplina e paciência. Assim, muita gente não progride na prática da oração por descuidar a preparação prévia. Preparação prévia Há alturas em que, ao dispor-te a orar te sentirás sereno, a quietude e o silêncio de imediato se instalam. Nestes momentos não necessitas de nenhum exercício prévio. Sem mais, concentra-te, invoca a presença da Alma e ora. Outras vezes, no início da oração, sentir-te-ás agitado, disperso e tenso; quando isso acontece se não acalmares previamente, não conseguirás um momento de relação fecunda com a presença da alma. Pode ainda acontecer outra coisa: depois de muitos minutos de oração atenta, percebes, de repente, que o teu interior está povoado de tensões, preocupações ou pensamentos dispersos. Se, nesse momento, não recorres a algum exercício de descontracção ou silenciamento, esse tempo dedicado à relação com a alma não será fecundo. Por isso propomos alguns exercícios muito simples. De ti depende saber quais, quando, quanto tempo e de que maneira utilizá-los, segundo as necessidades e as circunstâncias mais ajustadas a cada momento. Sempre que te dispuseres a orar, procura uma posição corporal que favoreça a interiorização e a abertura. Deixa gradualmente a respiração tornar-se mais lenta, mais profunda e serena. Relaxa as tensões e preocupações, procura o vazio e o silêncio. Invoca a presença do Espírito e começa a orar. Silenciamento corporal: calmo, concentrado, procura o movimento que espontaneamente te ajuda a relaxar o corpo (esticando, encolhendo, distendendo os músculos); experimentarás uma certa libertação e harmonização das energias corporais. Da mesma forma relaxa os ombros, distende os músculos faciais e da fronte, relaxa os olhos 1 Transcrito e adaptado do livro “Encontro, manual de oração”, de Inácio de Larrañaga 4
  • 6. fechando-os. Procura a postura mais justa para esse momento. Relaxa os músculos da nuca fazendo movimentos lentos e doces, de flexão ou extensão do pescoço. Silenciamento mental: concentrado, começa por repetir a palavra PAZ em voz suave, sentindo gradualmente instalar-se um estado de paz que começa a inundar, primeiro o cérebro (experimentar esse duche energético de paz que gradualmente vai libertando a mente de preocupações e distracções); depois, percorre metodicamente todo o corpo enquanto vais pronunciando a palavra PAZ e vais inundando e preenchendo o teu ser com uma profunda sensação de paz: “Paz na mente… paz no coração… paz no corpo”, “Paz... paz… paz…” Depois faz esse mesmo exercício e da mesma maneira com a palavra Silêncio, começando pelo cérebro e seguindo por todo o corpo deixando cada parte ser absorvida, inundada pela presença do silêncio. Orientações Práticas 1. Acima da nossa actividade e vontade humana está o mistério da graça que, por essência, é imprevisível. A «hora» da alma nem sempre é a nossa hora. Na relação com a alma é necessário ter serenidade, aceitação e paciência. Quando sentires estados de secura ou aridez, procura compreender que pode tratar-se de um momento em que te são apresentadas provas divinas para que possas reconhecer e entregar à transformação um aspecto do teu ser. Podem também significar emergências da natureza, sentimentos de dispersão, de distração ou desintegração. Se isto acontecer, não faças violência para sentir, faz-te acompanhar por 3 atributos: - Paciência: aceita com paz o que não podes solucionar. - Perseverança: continua a orar mesmo que não sintas nada. - Esperança: tudo passará, amanhã será melhor... 2. Nunca esqueças que a vida de relação com a alma é uma vida de fé. E a fé não é sentir mas saber. Não é emoção mas convicção. Nem sempre é experiência mas certeza. 3. Para orar necessitas de método, ordem, disciplina e também de flexibilidade e Aceitação, porque a presença da Alma e do Espírito pode fazer-se sentir no momento em que menos esperas. Muitas pessoas cansam-se de orar por falta de método, disciplina, persistência e ritmo… Assim é importante estabelecer um ritmo, um horário regular por exemplo: 20 minutos de manhã e 20 minutos antes de adormecer e cumpri-lo, quer te apeteça ou não. 5
  • 7. 4. Ilusão, não; esperança, sim. A ilusão desvanece-se, a esperança permanece. Esforço sim, violência não. Uma forte agitação para sentir a presença da alma produz fadiga mental e desalento. Aceita com serenidade e paz o que cada momento traz. 5. Realiza que a alma é livre, por isso a Sua pedagogia para connosco é desconcertante. Assim, na oração, não há lógica humana: a tais esforços, tais resultados; a tal acção, tal reacção; a tal causa, tal efeito. Pelo contrário, nem sempre haverá correlação entre os teus esforços na oração e aquilo que consideras como resultado. Tens de saber que é assim e aceitá-lo em paz. 6. A oração é o estabelecer de uma relação com a alma. Uma relação que implica um movimento de reunir as energias mentais, emocionais e físicas, fazendo-as convergir num acto de entrega de nós mesmos à presença e à acção interna da alma. É normal que por momentos se produzam na alma emoção ou entusiasmo, porém é imprescindível manter também a neutralidade e a serenidade. 7. Durante a actividade orante, a presença da alma pode manifestar-se a qualquer momento: no princípio, no meio, no fim, em todo o tempo ou em nenhum momento. Neste último caso, não te deixes levar pelo desânimo e a impaciência. Ao contrário, acalma- te, abandona-te, procura um estado de aceitação profunda e neutralidade e continua a orar. O desapego em relação aos resultados faz parte da entrega. 8. Há pessoas que se queixam: oro mas não sinto modificações na minha vida. Para que a força da oração se faça sentir na vida existem certas chaves:  Sintetiza a oração da manhã numa frase simples, por exemplo – Que faria a alma no meu lugar? - e recorda-a a cada nova circunstância do dia;  Quando surgir uma contrariedade ou provação forte, desperta e toma consciência que te propuseste sentir, reagir e agir na vida a partir do olhar, da compreensão e do amor da alma. Claro que isso implica um processo gradual e profundo de superação das forças do ego para a estabilização em nós da energia da alma. 9. Não pretendas de um dia para o outro mudar radicalmente a tua vida, vai tecendo a transformação, reajustando, aperfeiçoando gradualmente. Não te assustes com as recaídas. Recaída significa voltar a reagir segundo os padrões mentais e afectivos, profundamente enraizados na personalidade. Quando estiveres desatento ou disperso, vais reagir segundo esses impulsos que estão desfasados em relação ao impulso da alma. É normal, tem paciência. Quando chegar a ocasião, procura não estar desprevenido mas desperto e atento para actuar segundo os impulsos da tua alma. 6
  • 8. 10. O crescimento na relação com a alma é progressivo, requer um misto de humildade, confiança, aceitação, perseverança e sobretudo um libertar-se de todo o sentimento de culpa que pode surgir neste processo. Com efeito, apesar dos momentos de uma real relação com a alma, os desfasamentos continuam ainda a manifestar-se pois os padrões afectivos e mentais são purificados e transformados gradualmente. Depois de cada recaída, de cada momento de secura, de aridez ou conflito interno, levanta-te e caminha de novo com confiança, firmeza e serenidade. 11. Para dar os primeiros passos na relação com a alma, podes utilizar as modalidades de oração mais simples, que serão para ti um forte apoio na tua caminhada. Nos momentos de dispersão ou aridez, não percas tempo; nesses períodos poderás orar com as modalidades Oração Escrita e Oração Auditiva, concentrando serenamente a tua mente em temas que te ajudam a aprofundar a relação com a alma. 7
  • 9. MODALIDADES DE ORAÇÃO 1. Oração a partir da leitura Escolhe uma oração escrita ou um mantra que te inspire no momento. Atenção, pois não se trata de ler ou estudar um tema de reflexão, mas de ler uma oração que seja significativa e ajustada ao momento que vives. Procura a posição justa e abre-te em atitude de oração. Aquieta, silencia a mente e invoca o Espírito com uma frase simples, “Abro-me à Presença da alma”. Começa a ler a oração em voz alta e muito devagar. Ao lê-la procura vivenciar o que lês, pronunciá-lo com toda a alma, tornando tuas as frases lidas, identificando a tua atenção com o conteúdo e significado das frases. Se encontrares uma expressão, uma frase que te diga muito, pára, repete-a várias vezes, unindo-te através dessas palavras à presença da alma, aprofundando o significado da frase, deixando que o seu conteúdo inunde a tua alma e a tua consciência. Pensa que a alma é como a outra margem. Para atingires essa margem não necessitas de muitas pontes. Uma só ponte, uma única frase é suficiente para te religar à Presença. Se isto não acontecer, continua a ler muito devagar, assumindo no interior e aprofundando o significado daquilo que lês. Pára de vez em quando. Volta atrás para repetir e reviver as expressões mais significativas. Se num dado momento achares que já podes dispensar o apoio da leitura, põe de lado a oração escrita e deixa que a oração emerja de ti com expressões espontâneas, inspiradas pela tua própria relação com a vida e a Presença da alma. Esta modalidade de oração, a partir de um suporte de leitura, ajuda de maneira particular a dar os primeiros passos. Por outro lado, pode ser um suporte nos momentos de menos fervor ou de aridez, ou simplesmente nos dias em que nada ocorre devido ao estado de dispersão mental ou à agitação da vida. 2. Leitura Meditada Para a prática desta modalidade é necessário escolher, cuidadosamente, um texto ou um cd, em função de um tema que seja pertinente para o momento que se está a viver individualmente ou em grupo. Por exemplo, sobre a paciência, a esperança, a perseverança… escolhe o tema que a tua alma mais necessita nesse dia. Procura a posição adequada, aquieta o teu ser e abre-te à presença da alma. 8
  • 10. Começa a ler alto e devagar, muito devagar. Enquanto lês, procura penetrar o significado profundo das frases. Aqui está a diferença entre a Oração a partir da leitura e a Leitura Meditada: na oração a partir da leitura assume-se e vive-se numa ressonância interior o que se lê (fundamentalmente é tarefa do coração); na Leitura Meditada trata-se de aprofundar a compreensão de certos processos, clarificar o sentido de certos conceitos para os aplicar eficazmente na vida. Continua a ler devagar, procurando aprofundar a compreensão do que lês. Se aparece alguma ideia que te chame fortemente a atenção, pára e procura ficar com essa ideia, meditando nela, aplica-a à tua vida, tira conclusões, toma decisões. Se nada disto acontecer (ou depois de ter acontecido) continua com uma leitura repousada, concentrada, tranquila. Prossegue lendo lenta e atentamente, procurando compreender e reflectir o que lês. É normal e conveniente que a Leitura Meditada acabe com uma oração pessoal, inspirada na reflexão que foi suscitada pela leitura. É também importante que a leitura meditada se concretize em frases síntese, critérios práticos de vida, susceptíveis de serem aplicados ao longo do dia, perante as diferentes situações e desafios que a vida nos coloca. 3. Pedagogia para meditar e vivenciar interiormente a palavra 1. Procura esvaziar a mente, esvaziar as emoções, aquietar o corpo. Abre -te à presença da alma, sereno e disponível, pois é a alma que vem, na sua palavra, ao teu encontro. 2. Pega num livro e depois de invocar a alma abre numa página ao acaso, faz uma leitura lenta, muito lenta, com pausas frequentes, pensando que a alma te está a falar a ti, neste momento, através das palavras que estás a ler. Procura sentir com a alma o significado de cada frase, identificando a tua atenção e sentimentos com o conteúdo das expressões. Com a ajuda do fogo do Espírito procura identificar-te com a disposição interior de entrega à acção da presença interior. Procura questionar a tua vida à luz da Palavra, aplicando-a permanentemente à situação concreta da tua vida e ao momento que vives no teu processo espiritual, perguntando-te, em cada momento: O que é que a alma me está a dizer através desta frase?; Em que sentido os atributos divinos presentes nesta Palavra interpelam o meu modo de pensar, sentir e actuar?; Em que aspectos devo mudar?; Que faria a alma no meu lugar?. 9
  • 11. Detalhes práticos: Não procures compreender racionalmente o significado da frase, mas antes procura meditá-la, sentir a sua ressonância no coração, deixando-te impregnar por dentro, com as vibrações e sentimentos que acontecem quando entramos em proximidade com a alma. Pode acontecer que algumas expressões despertem em ti ressonâncias profundas e desconhecidas. Detém-te nelas, aprofunda o seu significado na tua mente e deixa a ressonância acontecer no coração, revendo, ponderando e aprofundando essas expressões. Sublinha-as, escreve na margem, uma palavra ou frase breve que sintetize aquela impressão. Sintetiza em frases curtas e concisas num significado pertinente para ti. Memoriza essa frase, utiliza-a como um mantra e deixa que, ao longo de todo o dia, essa ressonância e significado continuem a vibrar no teu interior. Se, em qualquer momento da leitura escutada, o teu coração sente o impulso de orar, deixa-o ir, livremente ao encontro do Ser interno. Se num dado momento o teu coração sente vontade de agradecer… fá-lo livremente. Oração com mantras Um dos elementos mais sólidos de aspiração e devoção para a alma são os mantras. Os mantras são um meio eficaz para criar condições de relacionamento com a alma. De que forma? Eles são portadores de uma intensa carga de experiência e foram enriquecidos pelo fervor de seres que realizaram o processo de união com a alma. Os mantras não se lêem, oram-se. Anota os mantras que te dizem mais, classificando-os segundo diferentes sentimentos e qualidades que eles invocam, como por exemplo vontade, gratidão, compreensão, aceitação… Escolhe os mantras que criam mais ressonância em ti. Aprende e repete os versículos que são mais significativos para ti. Enquanto fores repetindo as frases, deixa-te contagiar pela vibração que elas contêm. Deixa-te absorver pela presença viva que esses sons solicitam. Deixa-te envolver pelos sentimentos, vibrações e atributos que impregnam esses sons e palavras. 4. Oração auditiva Escolhe uma frase simples, curta e significativa. Uma frase que te preencha a alma pelo seu significado e ressonância, por exemplo: “silêncio e paz” ou “nas Tuas mãos me entrego em silêncio e paz”. 10
  • 12. Começa a pronunciá-la, com quietude e concentração, com uma voz suave e lenta, deixando a palavra criar ressonância no silêncio. Adapta a cada momento a intensidade e a ressonância da voz. Por vezes é justo pronunciar as palavras num murmúrio interiorizado, noutros momentos o que é pedido é uma afirmação firme e claramente projectada no espaço. Ao pronunciá-las procura vivenciar interiormente o significado das palavras. Começa a aperceber-te de como a presença ou “substância” contida nessa expressão vai, lenta e suavemente, inundando o teu Ser, impregnando as tuas energias mentais, emocionais e físicas, imprimindo em todo o teu ser uma nova vibração e um novo estado. Vai espaçando pouco a pouco a repetição das frases, deixando cada vez mais espaço ao silêncio. 5. Oração escrita Trata-se de criar uma conexão com a alma através da escrita, escrevendo aquilo que a pessoa, em oração, quereria comunicar à alma. Nos momentos de aridez ou de dispersão, nos dias em que sentimos conflitos, confusão, fragilidades, resistências... a oração escrita pode ser a única maneira de orar. Esta modalidade tem a vantagem de concentrar muito a atenção, através de uma escrita que, directamente dirigida à Presença da alma, clarifica os sentimentos e pensamentos. 6. Oração de abandono É a oração mais genuína, transparente, libertadora e pacificadora. Não há acto interior que tanto suavize os conflitos da vida como um murmúrio sincero: Em Tuas mãos me entrego em silêncio e paz. Aconselha-se que aprendas de cor uma oração simples e significativa para a orares quando te encontras, a cada passo, com grandes ou pequenas contrariedades e resistências. Abre-te à Presença da alma em atitude de entrega. Podes usar como fórmula “Faça- se a Tua vontade” ou “Em Tuas mãos me entrego em silêncio e paz”. Como disposição incondicional, deves entregar ao silêncio a rebeldia da mente e o caos das emoções. O abandono é uma homenagem ao silêncio, na fé. Começa com a repetição da frase e depois vai expondo à Alma, numa confidência íntima e sincera, tudo aquilo que te perturba: os sentimentos confusos, os sentimentos de impotência, conflitos, limitações, traços negativos da tua personalidade, dificuldades na relação com as pessoas, memórias dolorosas, fracassos, equívocos... Pode ser que ao 11
  • 13. recordá-los surja de novo a dor. Porém, ao depositá-los e entregá-los à acção purificadora da alma, gradualmente tudo vai sendo absorvido pela Paz interior. 7. Oração de acolhimento Enquanto que na oração de “Elevação” procuramos transcender-nos e ir para além de nós mesmos, ou seja, transcender o nível humano e polarizar firmemente a consciência na Presença da alma. Nesta oração de acolhimento, permaneçemos serenos e receptivos, a Presença vem até nós e acolhemos a sua chegada. Recorre a certas expressões simples como: “Abro-me à tua Presença e à Tua acção”, “Vem com a tua Paz, dissolve o conflito interior”, “Preenche-me com a Tua luz, liberta a escuridão”, “Purifica a mente, purifica as emoções...” Começa a acolher, na fé, a Presença que chega a ti, deixa que, gradualmente, a energia da alma penetre e inunde todo o teu ser. Sente que a presença da alma entra até aos últimos recônditos do teu ser, imprime-se na tua mente, nos teus sentimentos, no teu corpo, enquanto serenamente vais pronunciando as expressões. Sente como essa Presença te vai preenchendo e impregnando profundamente aquilo que és, aquilo que pensas, sentes e fazes. Sente como a Sua Presença absorve o mais íntimo do teu coração. Na fé, recebe-a sem reservas... Na fé, sente como a Presença age como um bálsamo reconciliador que toca e cura a ferida que te dói, liberta a angústia que te oprime, alivia o conflito, liberta os medos, clarifica os sentimentos confusos... Depois serenamente volta à vida. Acompanhado da Presença, dirige-te aos lugares onde trabalhas ou vives. Apresenta-te perante aquela pessoa com quem tens conflitos, procura olhá-la com o olhar da alma. Olha-a com os olhos da alma. Como reagiria a alma se tivesse que enfrentar aquele conflito? Perante essa situação, que diria a alma a essa pessoa, como agiria? Imagina todo o tipo de situações, mesmo as mais difíceis, e deixa a presença da alma actuar através de ti. Procura a cada momento que não sejas tu que vives, mas a Presença que vive e age através de ti. É uma modalidade de oração profundamente transformante. Procura uma posição de oração. Depois de pronunciares e viveres a frase, permanece algum tempo quieto e em silêncio, permitindo que a vida da frase ressoe e preencha o âmago da tua alma. Eis algumas expressões que podes usar na prática desta oração: - “Alma, abro-me à Tua Presença, entra dentro de mim” - “Esvazia-me de mim, preenche todo o meu ser com a Tua Luz” - “ Preenche tudo o que sou, o que penso, o que sinto, o que faço...” - “Entra no mais íntimo do meu coração” 12
  • 14. - “Cura esta ferida, liberta este sofrimento” - “Liberta a angústia, liberta a ansiedade, o medo...” - “Preenche a minha mente com a Tua Luz, ampara-me no desalento e na desorientação” - “Como olharias esta pessoa? Como reagirias perante esta situação?” - “Qual seria a Tua atitude perante esta dificuldade?” - “Purifica e educa o meu ser até que eu seja a viva transparência da Tua Presença” 8. Oração de elevação e de transcendência de si Invocação do fogo do Espírito Nesta modalidade de oração trata-se de transcender os limites humanos, indo para além de nós mesmos, entrando na consciência e no coração da alma. Apoiado na frase, “Eu abro-me à luz da minha alma, abro-me ao fogo do espírito”, assumir e vivenciar o significado da frase – identificando-se com o seu conteúdo, transportando, elevando e depositando a alma na imóvel e estável Presença do espírito. Neste nível de oração, a alma abre-se à Presença do espírito e quieta e unida, contempla amorosamente. Por exemplo, através da frase “És a Eternidade”, “És um imenso oceano de Amor” não deverás preocupar-te em entender como e porquê a realidade do espírito é eterna e um imenso amor, mas contemplá-la estaticamente como eternidade e Amor. Depois de encontrares um ponto de neutralidade na consciência podes pronunciar frases como: “Presença eterna, estável e imutável”, “Oceano de Luz”, “Oceano de Amor” fica suspenso em silêncio, quieto, como quem escuta uma ressonância, estando suspenso em atenção imóvel, compenetrada, identificada afirmativamente com a própria Presença do espírito. Neste exercício procura deixar-te tocar por essa Presença neutra, estável, imóvel e eternizante. À medida que o eu se esvazia de si a Presença vai preenchendo toda a esfera do ser. Eis algumas expressões que podes usar nesta oração: - “Presença, vem com a Tua Luz, preenche o meu ser” - “Absorve-me em Ti” - “Vem... preenche-me com a Tua Paz”. 13
  • 15. 9. Oração de contemplação Sintonia silenciosa de união A oração de contemplação acontece nos momentos de união silenciosa da alma com a Presença do espírito. Pode ser preparada por frases breves e murmuradas, mas intercaladas por longos silêncios durante os quais a alma, suspensa e neutra, se une em contemplação com o espírito. Enquanto este estado de união dura, nenhuma palavra é necessária, o silêncio é o próprio estado é oração. A frase de preparação deve ser dita lentamente, murmurada e já imbuída de silêncio: “Silencio a mente em Deus, em Deus, em Deus...” “Repouso o coração em Deus...” “Repouso o corpo em Deus...” “Repouso a minha vida... em Deus” Esta modalidade de oração pode ser uma maneira de se preparar qualitativamente para um momento do repouso ou para o próprio adormecer. Os sinais de que a alma entrou em contemplação, segundo S. João da Cruz, são os seguintes: - Quando a alma gosta de estar a sós e em silêncio com a atenção neutra, amorosa e serena em Deus. - Nestes momentos de bênção deixar a alma livre e absorta no silêncio e na Presença de Deus, sem se preocupar em pensar, orar ou meditar. Deixar estar a alma serena e quieta, atenta à presença de Deus, ainda que, absorvida na paz interior, pareça estar perdendo tempo na quietude e no repouso. 1. Silêncio – Esvaziar a mente, apaziguar o sentimento, procurar o vazio interior. Suspender a actividade dos sentidos. Esquecer recordações, desligar-se das preocupações. Isolar-se do mundo exterior, não pensar em nada, ou melhor, não pensar nada, suspender a consciência num ponto de neutralidade. Permanecer atento, neutro no Vácuo Sagrado, deixar-se absorver na Paz. Fora de mim, o vácuo sagrado, dentro de mim, o vácuo sagrado. O que resta? Uma atenção de mim mesmo a mim mesmo, em profundo silêncio e paz. 2. Presença – Abrir a atenção para a Presença, na fé, como quem olha e se sente olhado, como quem ama e se sente amado... Evitar “imaginar” Deus. Toda a imagem ou forma de Deus deve desaparecer. É preciso “silenciar” todas as representações de Deus, abrir-se à Sua Presença para além de 14
  • 16. todas as formas. Deus é a Presença Pura, Amante, Envolvente, Compenetrante e Omnipresente. Uma Presença para a qual nós somos uma atenção aberta, amorosa e serena. Praticar o exercício auditivo, repetindo uma palavra como por exemplo “Paz”, até que a palavra “caia” por si mesma. Ficar sem pronunciar nada com a boca ou com a mente. Olhar e sentir-se olhado. Amar e sentir-se amado. Deixar-se preencher, inundar, amar... Deixar-se amar. 10. Oração no Espírito de Jesus Imagina Jesus em adoração de manhã ou à noite sobre as estrelas. Com infinita reverência, com Fé e Paz, procura penetrar o estado interior de Jesus. Procura compenetrar-te e reviver a atitude que Jesus viveria na sua relação com o Pai e participa da Sua experiencia profunda de união. Procura sentir em ti os sentimentos de reverência, de fé e confiança que Jesus sentiria pelo Pai. Procura sentir, com o coração de Jesus, com as suas vibrações o significado da frase: “Santificado seja o Teu Nome, venha a nós o Teu Reino, seja feita a Tua Vontade”. Procura identificar-te com o interior de Jesus, assume a harmonia da Sua alma e revive aquela atitude de entrega sem condições que Jesus experimentaria diante da Vontade do Pai quando dizia: “Não a minha vontade, mas a Tua seja feita”, “Faça-se, na minha vida, a Tua Vontade”. 11. Orar com a natureza - Oração no Espírito de S. Francisco de Assis - Se se está ao ar livre, frente a uma bela paisagem, um dos exercícios orantes mais belos que se pode fazer é orar procurando comunhão com toda a criação, tal como o fazia S. Francisco de Assis. Começa a olhar, a contemplar tudo quanto os teus olhos alcançam, sentindo a ressonância com todos os elementos da natureza: nuvens, vento, montes, cascatas, rios, pássaros, ninhos, plantas, borboletas, flores, árvores, sol, lua, sombra… Em cada elemento da Criação, na essência de cada reino – animal, mineral, vegetal – procura sentir a presença viva do Criador. Escuta, deixa-te absorver e submergir na harmonia da criação. Permanece assim, concentrado, receptivo e atento a cada uma das vozes do mundo: os mil insectos que gritam a sua alegria de viver, os vários cantos de aves, o som do vento ou o movimento das águas e dos rios; rãs, galos, cães... todos os seres 15
  • 17. vivos que expressam a alegria do seu viver e, à sua maneira, aclamam e cantam agradecidos ao Pai Criador. Em nome deles e unindo-te com eles aclama e honra a Vida na terra. Vivencia em ti uma sensação de fraternidade universal; sente, em cada criatura a Presença viva de Deus; sente que, em Deus, és uma unidade com tudo o que te rodeia, submerge-te vitalmente na grande família da criação, sente-te a participar da palpitação de todas as criaturas, como se estivesses nadando no imenso mar da vida universal, vibrando com a textura e a ternura do mundo. Invoca a profunda reconciliação entre o reino humano e os reinos animal, vegetal e mineral. Sente e expressa gratidão por tantos benefícios que os outros reinos trazem ao homem. Estabelece um diálogo afectuoso com os elementos da natureza... uma flor, uma árvore, uma pedra, a água. Admira e agradece pela sua beleza, perfume e contribuição para a harmonia do mundo. Procura sentir constantemente em cada elemento da criação a ressonância do próprio Criador, procurando olhar tudo a partir dos Seus olhos e sentir tudo a partir da profunda Unidade do Seu coração. 12. Oração grupal A oração grupal é uma oração partilhada por um grupo de pessoas. Para que a oração grupal seja verdadeiramente eficaz deve respeitar as seguintes condições: 1. Deve ser realizada em voz alta, em orações expressas não em simultâneo, mas alternadamente. 2. É necessário que cada um dos orantes esteja conectado com a essência de si mesmo, procurando uma relação autêntica com a sua própria alma. De outra maneira, a oração grupal torna-se numa actividade artificial e vazia, pois a sua força depende da conexão de cada um dos elementos com sua própria alma, da autenticidade com que cada um se entrega, através da oração, à sua própria alma. 3. Os orantes devem falar com grande à vontade, autenticidade e liberdade, estabelecendo uma relação íntima e viva com a Presença da alma. 4. Deve-se evitar, se possível, orar a partir de frases estereotipadas cujo significado não é sentido, vivenciado e compreendido. Evitar frases formais e repetidas de cor. A chave está na sinceridade da comunicação que cada um estabelece com a sua alma e na ausência de inibição ou necessidade de afirmação perante os outros. 5. A unidade grupal nasce da unidade que cada um atinge no interior de si mesmo. 16
  • 18. Unidade que se encontra intensificada pela unidade de intenção grupal: “Unidos numa mesma intenção, num mesmo coração”. 6. É importante que entre os orantes não haja curto-circuitos emocionais, nem qualquer espécie de competitividade espiritual. É necessária uma profunda cumplicidade entre as almas, capaz de dissolver os movimentos do ego que criam competitividade e separatismo. Para que a oração grupal seja fecunda é essencial transcender estes mecanismos do ego, sejam eles de auto-afirmação ou de inibição. Isto porque, a profunda sinceridade de cada um, na comunicação com a sua própria alma, sem inibições, é a chave que abre o coração. 7. É também imprescindível que haja sinceridade, veracidade e humildade, quer dizer, que o orante ao expressar-se em voz alta não seja motivado por necessidade de auto- afirmação, sentimentos de vaidade ou orgulho espiritual. A cada momento, é importante rectificar a intenção, purificar a motivação e expressar-se como se o orante estivesse só, num estado de nudez e transparência, diante da presença da alma. 8. A condição essencial é que seja uma oração verdadeiramente partilhada. Ou seja, quando um elemento do grupo está a orar com a presença interior, os outros não têm de ser meros ouvintes ou observadores; cada um pode assumir em si as palavras que estão a ser ditas pelo irmão, sentindo a ressonância que estas criam na sua própria relação com a presença da alma. No caso dessa ressonância ser profunda poderá repetir essas frases que escutou, assumindo-as em seu nome. Dito de outra forma, quando oro em voz alta, supõe-se que os meus irmãos se unam às minhas palavras e com elas se dirigem à presença da sua própria alma. E assim, durante todo o tempo, oram todos com todos. E aqui está o segredo da riqueza e grandeza da oração grupal. O Fogo do Espírito derrama-se através de personalidades e histórias tão variadas e diferentes e por isso pode resultar uma oração muito enriquecedora. 13. Momentos de partilha e reflexão Os momentos de partilha e reflexão em grupo são sessões em que várias pessoas se reúnem para se unir à Presença da alma através da sintonia silenciosa, da oração e da reflexão sobre temas relativos ao caminho espiritual. Para que os momentos de partilha e reflexão sejam verdadeiramente eficazes e enriquecedores é preciso ter em atenção as condições que assinalámos para a oração grupal. É importante começar estas sessões com a invocação à Presença da alma, através de um mantra ou uma breve oração, para o grupo encontrar uma unidade de coração e 17
  • 19. intenção. Também é conveniente iniciar a meditação lendo textos, ouvindo cd´s, para circunscrever o tema no qual se vai reflectir e meditar. Depois da escuta em grupo do tema de reflexão, passa-se ao momento da partilha no qual os elementos que sentirem, expressam diante dos outros o que o tema de reflexão lhe sugeriu. É também importante que durante a reflexão se façam referências às aplicações à vida, se tirem tomadas de consciência práticas, que se possam transformar em orientações e decisões concretas para a vida. 14. Variantes a) Oração grupal com o apoio dos mantras e orações rítmicas Trata-se de ter diante dos olhos um determinado mantra ou oração, o grupo orante mantraliza-o primeiro em comum, em seguida e em silêncio, cada um ora em si. Depois de alguns minutos, um dos participantes ora em voz alta desenvolvendo, em forma de oração, um tema que mais lhe tenha chamado a atenção. Depois, outro elemento faz o mesmo. E assim sucessivamente todos os que desejam intervir. b) Momentos de partilha e reflexão em grupo, com o apoio de um texto ou cd É algo semelhante ao anterior, tendo todos um livro aberto num capítulo determinado, um elemento do grupo lê um trecho. Ficam em seguida um pouco em silêncio, enquanto cada um vai meditando em privado. 18
  • 20. 19
  • 21. COMO VIVER UM DIA DE RETIRO Um retiro é um momento de recolhimento dedicado a aprofundar a relação viva com a alma. A única maneira de vivenciar o mundo interior é vivenciando o coração. Quando o coração se preenche da presença viva da alma, a vida enche-se de encanto e sentido. E o coração vivencia-se nos Tempos Fortes. Assim fizeram os profetas, os santos e também, Cristo. Tempos Fortes significa reservar, no interior da vida, momentos especialmente dedicados à relação com a alma. Tempos Fortes é um tempo de interiorização e de silêncio, não só para orar, mas também para sintonizar o silêncio interior e recuperar o equilíbrio emocional, o silêncio mental, a unidade interior, a serenidade e a paz. Sem estes momentos de centragem e harmonização, as pessoas acabam por desintegrar-se na dispersão da vida. Os que querem levar a sério a vida espiritual, necessitam de integrar o sistema dos Tempos Fortes na organização das suas actividades quotidianas. Se salvares os Tempos Fortes, os Tempos Fortes te salvarão a ti. De quê? Do desalento, das forças dispersivas, do vazio da vida, do desencanto existencial. Se te queixas dizendo que te falta tempo, dir-te-ei que o tempo é uma questão de preferências e as preferências dependem de prioridades. Temos sempre tempo para o que realmente é importante para nós. Quando nos dedicamos ao aprofundar da relação com a alma um dia inteiro, em silêncio e recolhimento, a esse dia chama-se Retiro. Para fazer um Retiro é conveniente, quase necessário, sair do lugar onde se vive ou trabalha e retirar-se para um lugar solitário (campo, montanha ou um espaço de retiro). Uma vez chegado ao lugar onde se vai passar o dia é indispensável que o grupo disperse e cada pessoa permaneça em recolhimento. Nas primeiras e últimas horas do dia podem reunir-se para fazerem Oração grupal. Em suma: retiro é um tempo forte dedicado à relação com a alma em silêncio e recolhimento individual. É conveniente dispor de um conjunto de textos, orações, mantras e exercícios de relaxamento. E tudo isto se encontra no presente livro. Não esquecer de levar um caderno para anotar as impressões. Orientações para um retiro 1. Utiliza estas orientações com flexibilidade porque a alma pode ter outros planos. Deves dar sempre uma margem para a espontaneidade da Graça. 2. Uma vez chegado ao lugar onde vai decorrer o dia, começa com uma leitura meditada ou com uma oração a partir da leitura. Estas modalidades de oração procuram 20
  • 22. preparar e ambientar gradualmente o nível profundo do ser, o nível no qual acontece a relação viva com a alma. 3. No caso de te encontrares num momento de conflito, de confusão, de ansiedade ou de desalento, prepara o nível periférico do teu ser com exercícios de concentração e silenciamento. Por exemplo, se te encontrares na natureza aprende um mantra, um cântico ou uma oração simples e dá longas caminhadas repetindo essa frase ritmicamente, procurando silenciar a mente e apaziguar as emoções. Se necessário podes repetir estes exercícios, apoiando-te na oração a partir da leitura, na oração escrita e na leitura meditada. No início é preciso conseguir um estado elementar de serenidade e silêncio. 4. Momentos de oração, de diálogo pessoal com a alma. Este diálogo não é necessariamente feito de muitas palavras mas de uma ressonância na interioridade: procura falar com a alma, abrir-te à sua Presença e sua acção, amar e sentires-te amado... 5. Por ser um dia de intensa actividade cerebral é conveniente fazer vários intervalos breves de descanso, em que o importante é ficar sem fazer nada, passear, contemplar… 6. Um momento importante num retiro é uma Leitura Meditada, utilizando textos de seres que percorreram este caminho de relação e busca de união com a alma, confrontando as suas reflexões com o teu percurso de vida espiritual. 7. Também é importante haver um prolongado diálogo com a alma. Falar com Ela com a mesma intimidade com que se fala a um grande amigo, fazendo um passeio com Ela pelos caminhos da vida, solucionando as dificuldades. 8. Um exercício intensivo de oração, de abandono: curar feridas, aceitar, perdoar-se e perdoar, consolidar a paz, reconciliar-se consigo, com a vida, com os outros... 9. Procura ao longo de todo o processo manter um estado de neutralidade não ficando eufórico nos momentos de intensa união, nem deprimido nos momentos de aridez. O critério mais seguro da Presença Divina é a Paz. Se procuras, antes de mais um estado de neutralidade, de aceitação e paz, ainda que em plena aridez, a Presença está contigo. 21
  • 23. COMO PASSAR DA COMPREENSÃO, DA REFLEXÃO E ESTUDO À APLICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS À VIDA E AO PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO PESSOAL Compreensão/estudo ---------- Oração/Co-criação O propósito deste livro é abrir uma porta e tornar acessíveis, à experiência de cada um, a sabedoria espiritual de seres que buscaram e realizaram a união da alma com o espírito. Tem também o propósito de perceber como aplicar essa compreensão ao nosso próprio processo evolutivo. Não se trata de um livro para simples leitura e compreensão, mas de um livro que convida a meditar profundamente e, a partir dessa reflexão, entrar em oração através do portal do coração. Antes de ler os princípios de utilização deste instrumento de trabalho, que te permite assumir de um forma activa o teu processo de evolução através de uma relação activa com a alma, lembra-te que este livro foi feito para libertar o espírito não para confiná-lo. Para auxiliar-te ao longo do caminho de aspiração e entrega que conduz à união com a alma e com o espírito, seguem-se algumas sugestões para poder usar este livro como base para reflexão, introspecção e oração diária. É sugerido que cada dia te sirvas das três formas de conexão com o sagrado características da tradição espiritual: instrução, meditação e oração . Estes três instrumentos estão intimamente ligados, pois se não pode haver reflexão ou compreensão profunda sem uma leitura ou escuta prévia, não se pode chegar à verdadeira oração sem antes termos reservado tempo para reflectir e interiorizar profundamente a compreensão daquilo que ouvimos ou lemos. Dessa forma, este livro propõe um método de trabalho: 1. A partir de leituras diárias desenvolvidas a partir dos escritos de certos autores propomos um momento de reflexão e introspecção no sentido de sentir em que pontos tocam no nosso próprio processo de transformação pessoal. 2. A partir desse processo de tomada de consciência convidamos a uma oração profunda no sentido de co-criar com o nosso ser interior a libertação de certos padrões e processos emocionais e mentais, que condicionam a nossa liberdade interior. 3. Segue-se a aprendizagem duma meditação, na forma de mantra, uma frase que sintetiza numa fórmula breve a essência de cada tomada de consciência, para a conservar viva na memória e, numa atitude de vigilância, sobre ela reflectir no decorrer do dia. 22
  • 24. 4. No final do dia há um exercício sugerindo-lhe que se recolha num local onde haja tranquilidade para que possa penetrar no silêncio interior e, numa oração sintética e conclusiva, entregar-se ao processo de transmutação que decorre durante o sono. No início do dia Quando o dia se inicia reserva um momento de sintonia em silêncio, num lugar calmo, para ler a meditação sugerida para o dia. As passagens são breves, mas foram cuidadosamente seleccionadas para proporcionar um enfoque espiritual, um suporte de tomada de consciência para o teu processo de desenvolvimento interior. Destinam-se a lembrar-te, no início do dia, da tua própria existência num nível espiritual e também a colocar-te na presença do ensinamento que poderá ser um suporte de compreensão e discernimento para guiar-te nesta jornada de entrega à vida da alma. Lê alto e devagar, bem devagar... As passagens foram divididas em linhas de significado compreensíveis para te auxiliar a fazeres exactamente isso. Não leias apenas para chegar ao fim, mas para sentir a ressonância e entrar numa compreensão profunda de cada palavra, de cada frase, de cada processo, de cada tomada de consciência. Não se pode saber por antecipação que frase ou que palavra vai suscitar uma resposta no nível interior do teu ser. Lembra-te que não estás simplesmente a ler, não estás apenas a receber informação, mas a interiorizá-la através de um processo de introspecção que permitirá transformar cada tomada de consciência numa oração. A partir de cada tomada de consciência solicitada pela leitura, procure realizar um momento de oração. Durante todo o dia Imediatamente após a leitura do dia encontrarás uma frase síntese, uma meditação à qual chamamos mantra. Tal frase apresenta-se como uma espécie de síntese da tomada de consciência à qual a leitura convida. Esse mantra poderá ser um suporte para a consciência no decorrer do dia. Escreve esse mantra, repete-o calmamente para ti mesmo, enquanto prossegues com as tuas actividades. Tal recurso destina-se simplesmente a lembrar-te da presença da tua alma e da tua aspiração de responder a essa presença. Trazer consigo esse mantra, extraído da leitura do dia, é um meio para possibilitar que o seu significado penetre mais profundamente na tua compreensão da vida. 23
  • 25. No final do dia É o momento de fazer a entrega do dia para ingressar no processo de purificação e transmutação que ocorre através do sono e do sonho. Sugerimos que procures um local tranquilo ao qual possas retornar ao final de cada dia. Quando voltares a ele, a primeira coisa a fazer é aquietares-te, pousando-te profundamente no silêncio do coração. Senta-te, faz aquilo que for necessário para te coligares à alma. Respira profundamente. Inspira, expira…lenta e profundamente até sentires o teu corpo a libertar-se de toda a tensão, a tua mente libertar-se de preocupações e distracções e a atenção ficar imersa no coração. Essa oração do final do dia é um acto de fé e confiança, uma entrega para uma entrada no sono com uma oração simples, capaz de abranger os aspectos do processo espiritual que ocorreram durante o dia que agora está a terminar, exactamente como iniciou: na presença da alma. É um momento de recapitulação e síntese do processo que ocorreu entre o eu consciente e a alma. Invoca à alma que te envolva no seu amor, que te proteja durante a noite e que, através do sono e do sonho purifique, transmute os registos mentais e emocionais que sentes necessidade de libertar para avançar no teu processo evolutivo. Outras formas de utilizar este livro Utiliza-o de acordo com a inspiração da tua alma. Como já foi dito, salta uma passagem que num determinado dia não te está a causar nenhuma ressonância ou repite num segundo dia, ou mesmo em vários dias, uma passagem cuja riqueza está a ser significativa nesse momento do teu processo de crescimento e transformação. Comeca a escrever um diário espiritual para registar e aprofundar a experiência que vais iniciar nesta jornada de busca e união com a alma. Utilizando um mantra ou uma frase da leitura que está a despertar o teu interesse, escreve um relato do processo espiritual do seu dia, uma reflexão sobre as suas tomadas de consciência e tomadas de decisão. Cria a tua própria meditação, a tua própria forma de introspecção e oração, enquanto instrumentos para uma coligação sincera e consciente com a alma. 24
  • 26. 25
  • 27. ORAÇÃO SEGUNDO SANTA TERESA D´ÁVILA 2 A oração autêntica é um estado de receptividade e aspiração ao contacto com a energia da alma e com o fogo do espírito. Pela oração o indivíduo invoca essas energias e afirma a disposição de entrega para unir-se a elas, no interior do seu ser. A oração desinteressada é abertura incondicional, pura entrega e doação sincera à vontade da Consciência Suprema que se espelha na vontade do eu interior. A oração mobiliza as energias do indivíduo e eleva-as ao nível intuitivo, numa busca irrestrita da verdade. Construída no silêncio interior alicerça-se na fé e na vigilância. Projecta-se no mundo interno como pacificação de desejos e de pensamentos e também como cessação de acções supérfluas. Mesmo sem saber e sem nada direccionar, o indivíduo em oração estimula transformações nos demais: irradia clareza e lucidez para a aura planetária. A oração é pois, instrumento de serviço ao mundo, e para ser eficaz, deve nascer da humildade. Na condição actual da superfície da terra, é importante a acção de indivíduos e grupos, dedicados ao Plano Evolutivo. A estes indivíduos e grupos de serviço é pedido para cumprirem o papel de intermediários entre a luz da Hierarquia espiritual e a vida terrestre, pois transmutações profundas são requeridas para que as energias de mundos superiores possam penetrar e agir mais livremente nos níveis concretos da vida. É possível cultivar o estado de oração mesmo durante actividades externas, doando-se inteiramente ao que se apresenta como necessidade e oferecendo os frutos do empenho à Consciência Suprema. Esta é uma forma de oração activa, em que se reconhece a Presença divina em todas as coisas, situações e seres. Quando um ser começa um processo de oração é importante que tenha consciência de algumas recomendações inspiradas nos escritos de Santa Teresa d´Ávila: 1) Durante a actividade orante, não pensar em outra coisa fora do foco da oração; 2) Despreocupar-se e desapegar-se de toda a expectativa em relação aos seus efeitos, já que estes podem apresentar-se apenas posteriormente e dependem de vários factores, nomeadamente da preparação dos corpos mental, emocional e físico do ser para receber energias mais potentes; 3) não se fixar com o que vê ou ouve durante o momento de recolhimento, mas buscar a união silenciosa com a Presença; 4) reconhecer os próprios erros e dispor-se a superá-los; 5) louvar e alegrar-se por se dedicar ao serviço impessoal num mundo que tanto carece dele; 2 Texto retirado do Glossário Esotérico de Trigueirinho 26
  • 28. 6) não abandonar a oração, por mais árido que por períodos se torne o terreno sobre o qual se caminha; 7) não comparar o progresso que se faz com o obtido por outros; 8) buscar luz para discernir se o que lhe chega provém do Alto ou é criação da imaginação humana; 9) perseverar, sem se preocupar com as inquietações ou distracções do pensamento; 10) não olhar para os defeitos alheios, mas abrir-se para que os seus sejam purificados e transmutados; 11) superar a tendência de querer conduzir a evolução dos outros pois a transmutação deles será ajudada pela simples irradiação daquilo que é elevado e transcendido em si mesmo. Lembrar-se que o exemplo actua mais que mil palavras. Santa Teresa diz que o Criador pode por vezes dar-nos entendimento instantâneo, sem precisarmos do raciocínio. Acrescenta ainda ser possível acontecer num instante o que não se conseguiu durante muitos anos de trabalho e esforço consciente. O importante é prosseguir sempre, mesmo em fases de aridez que correspondem a momentos de purificação do nosso ser. Tudo é para ser aceite como dádiva preciosa e os pontos de vista antigos devem ser substituídos por novos, cada vez mais impessoais e abrangentes. Para chegar ao estado de oração autêntico e profundo, o indivíduo passa por várias etapas. Santa Teresa enumerou-as no Livro da Vida, Caminho de Perfeição e Castelo Interior, conforme resumidas a seguir. ♦ Primeira etapa: o indivíduo aspira a uma consciência da vida interior. De vez em quando entrega-se ao ser interno, porém com ressalvas. Reflecte sobre os estados de alma, busca momentos de sintonia com a vida da alma, mas não detidamente. Ora busca a quietude, ora se distrai com os interesses do mundo. O seu coração e sentimentos rendem- se com frequência a interesses e forças humanas. Nessa luta, procura libertar-se, embora se envolva em afectos, com o amor-próprio, deixando-se facilmente vencer pelos vínculos e apegos que o prendem ao mundo. Nesta etapa necessita de outros que o inspirem e intensifiquem a sua aspiração pela relação com a alma. Os dons naturais do indivíduo oferecem-lhe campo para aprofundamento e são meios de ele aproximar-se da interiorização. A mente participa de modo activo no processo, seja de oração, seja de recolhimento silencioso, seja de reflexão. Transcende-se esta etapa quando se renuncia a tudo o que é supérfluo e a vida espiritual se torna uma prioridade. ♦ Segunda etapa: o indivíduo prossegue e os progressos fazem-se perceber, todavia ainda não se sente firme no caminho. Começa a reconhecer os caminhos que o afastam do interior e a afastar-se deles conscientemente. O chamado interno chega-lhe por 27
  • 29. intermédio de outros, de leituras e também através de doença e sofrimentos. Nesta fase tem início o processo da purificação e, ao deixar-se permear pela energia da alma, começa o refinamento mais intenso dos corpos mental, emocional e físico. Os assédios das forças adversas tornam-se frequentes. A consciência torna-se cada vez mais activa e as faculdades mentais mais hábeis. Nesta fase o ser já reconhece claramente que fora do Caminho espiritual não encontrará o que procura, a sua única esperança está no auxílio interno. Transcende-se esta etapa orando sem cessar. A oração incorpora-se ao ser e torna-se permanente quando há uma intensa aspiração, empenho, persistência e dedicação. ♦ Terceira etapa: o indivíduo percebe que está a ser ajudado interiormente a superar dificuldades. Quer ainda muito à vida externa para poder doá-la por inteiro, no entanto, receia comprometimentos e vínculos não evolutivos com o mundo e com os outros. Nesta fase o ser tem excesso de zelo por si, ou seja, está ainda preocupado com a sua própria evolução e realização. O amor ainda não o projectou além do nível humano e da esfera da consciência pessoal. Consegue olhar mais os próprios desfasamentos do que os alheios, mas descobre o gosto e o prazer em ensinar os demais. Transcende-se esta etapa quando se adquire uma real e profunda humildade, e se ultrapassa a esfera da preocupação e motivação pessoal. ♦ Quarta etapa: o indivíduo está num nível mais subtil de consciência, ao qual as forças involutivas têm menos acesso. Nesta fase, a esfera da consciência pessoal, os projectos e motivações pessoais têm pouco valor, o amor transforma-os em obras. A sua parte sensitiva começa a aquietar-se, diminui a sua identificação com as forças da personalidade, não se preocupa e não é tão afectado com provas ou factos desconcertantes. Mesmo que os seus corpos sejam de algum modo perturbados, a consciência está estável na alma e mantém a paz interior. Reconhece que os obstáculos estão dentro de si e não fora. Reconhece as fragilidades e imperfeições que tem e quer a todo o custo atender ao chamado de voltar-se para o seu centro e lá permanecer. A consciência vai sendo cada vez mais conduzida a recolher-se e a centrar-se na vida da alma e a renunciar aos apegos e envolvimentos não evolutivos com o mundo. Deixar-se cada vez mais abandonar n´Aquele que o guia, sem se preocupar com qualquer tipo de reconhecimento e compensações, torna-se a única meta do ser. A mente é permeada por uma Luz superior que a eleva; perde todo o temor e vai-se afastando dos gostos do mundo. Nesta fase é mais indicado o indivíduo lembrar-se do Supremo e esquecer-se constantemente de si mesmo. ♦ Quinta etapa: não há no indivíduo a mínima reserva em entregar-se por inteiro ao Supremo. Muitos podem ter as condições de manter a disciplina para orar nesse nível, mas para chegar às virtudes internas, características desta fase, não são tantos os preparados. As impurezas humanas desaparecem, porém as menores e mesquinhas 28
  • 30. persistem. A quietude prolonga-se por períodos maiores, a oração torna-se livre de fórmulas. A consciência reconhece a sua aliança com o mundo interno, a paz e a alegria provindas desses encontros são reais; totalmente irreal torna-se o contentamento que nasce da identificação com o eu psicológico. ♦ Sexta etapa: a consciência purificada fica diante da sua própria limitação, intenso é o sofrimento. É levada a entregar-se totalmente, na dor encontra o que dantes encontrava na alegria. A consciência nunca esteve tão atenta à vida interna, jamais teve tanta luz, porém vislumbra mistérios ainda irrevelados. A vida na terra e os outros seres não lhe parecem os mesmos, vive em divino amor. As dádivas oferecidas à alma são a entrega à Lei, o autoconhecimento, a humildade e a indiferença em relação a tudo o que é material. ♦ Sétima etapa: imensa é a clareza que emerge no ser perante a Presença. Todavia a experiência de plenitude é temporária e só se tornará permanente quando a alma for absorvida por inteiro pelo espírito. A consciência está desperta onde a alma se expressa e m plenitude. Mesmo que nos corpos haja por momentos desequilíbrio e dor, como o ser já não está identificado com esse nível, permanece em Paz. A quietude é quase contínua e sente o sofrimento dos seres que permanecem afastados em relação à essência de si mesmos. Após esta etapa, um portal haverá de ser cruzado pela consciência, que então ingressará num novo Caminho, o da união total da alma com o espírito. 29
  • 31. A importância da Sintonia, Oração e Mantras 30
  • 32. 31
  • 33. 3 Oração I Porque razão somos convocados a orar? E porque será que as forças involutivas nos fizeram crer que a oração é uma coisa sem importância e sem eficácia? Parece que a oração é algo muito eficaz, tão eficaz que as forças adversas à evolução fizeram com que pensássemos o contrário. Quando um ser ora com sinceridade encontra uma conexão real e extremamente potente. Essa conexão vai construindo e fortalecendo um canal de coligação e comunicação com a alma. Porque razão no processo de orar repetimos a oração, a frase, o mantra? Esta é uma questão muito importante, especialmente hoje em dia, pois estamos a viver um período de transição. Quando se vive um período de transição as coisas estão um pouco instáveis: neste momento já não estamos no ciclo passado mas não estamos ainda no ciclo futuro e por isso as coisas estão “fora do lugar”, estão a “cair”. Neste contexto em que as coisas se estão a desconstruir, a compreensão de como funciona a oração, de como funciona o trabalho com os mantras, de como funciona o poder criador da palavra, é essencial. Compreender isto é importante porque quando fazemos este trabalho conscientemente ele adquire uma potência maior. Um grupo que se reune conscientemente para fazer uma sintonia, tem um poder nos planos subtis muito maior do que milhares de pessoas que não estão a fazer um trabalho consciente. O poder de criação na oração varia com o grau de ligação de cada ser com a sua alma e com a abrangência que cada ser ou cada grupo inclui na sua consciência. Quando sentimos raiva, ciúme, tristeza… cria-se uma determinada vibração na aura mental, emocional e física, é como um movimento que circula na nossa aura e faz contacto com a aura colectiva. Então, se temos um sentimento denso, ele vai fazer contacto com a aura colectiva num nível vibratório denso. Quando sentimos um sentimento como a compaixão é criada uma ressonância com esse mesmo nível vibratório na atmosfera terrestre e universal. Nós estamos o tempo todo a construir estados vibratórios na nossa aura psíquica em função dos pensamentos e sentimentos que em nós são gerados. Então porque será que a Hierarquia espiritual nos pede para orar? Não se trata de orar para ela, não é que seres como Mainhdra precisem da nossa oração, eles já se libertaram da vida planetária, nós é que precisamos abrir a porta para que a energia de Mainhdra ingresse através do nosso canal e transmute a vibração na aura psíquica do planeta. Dito de outra forma, a energia de Mainhdra não pode ancorar na atmosfera da 3 Texto transcrito a partir de uma conferência realizada por Artur 32
  • 34. terra e dos corpos da humanidade se não existirem canais humanos em sintonia para que a sua energia possa manifestar-se. Nós sozinhos, através da conexão só com a nossa alma, não temos ferramentas para trabalhar a um nível planetário. A Hierarquia não precisa da nossa oração ou devoção infantil, ela precisa de nós conscientes e entregues, unindo as nossas forças em direcção ao alto, para que, junto connosco, a Hierarquia possa canalizar a energia para transmutar o planeta, purificando-o e libertando-o de certas forças que não devem mais estar aqui. A Hierarquia não pode fazer este trabalho de transmutação sem a nossa colaboração. Na medida em que fomos nós que abrimos as portas para as forças involutivas, teremos de ser nós a ajudar, a co-criar para que essas forças sejam transmutadas. Então orar, num certo sentido, significa activar, criar, construir uma certa vibração, ou seja, repetindo, repetindo… mantras, orações, afirmações começa-se a tecer no campo etérico uma nova vibração que vai permeando a densidade da aura psíquica da terra, purificando, transmutando e implantando gradualmente a vibração da paz e da harmonia. Neste processo de criação de uma nova vibração há uma fase de conflito vibratório, o trabalho começa a ajustar uma nova vibração, ela vai subindo e tudo aquilo que não acompanha a subida é transmutado, purificado. Então, vamos orando e repetindo, repetindo e invocando… e assim, gradualmente, vai-se criando uma nova vibração na nossa aura, na aura do grupo e na atmosfera. O que é da velha vibração ou se eleva ou sai. Um indivíduo que ora realmente, muito provavelmente tem a sua aura limpa de forças estranhas, porque a oração vai activar aquelas partículas da aura, que vibram mais alto e purificam. Dessa forma acendemos os núcleos onde o fogo transmutador do espírito age e os átomos da nossa aura vão sendo purificados, tornando a aura luminosa e organizada. A oração faz um trabalho científico de transformação ao nível atómico, molecular e celular. À medida que nos vamos ligando a um estado mais elevado de vibração começamos a atrair uma potente energia transmutadora que vai operando uma transformação vibratória da aura. À medida que um indivíduo começa a mudar a vibração da própria aura ele vai-se literalmente transformando, vai aprendendo a transmutar forças mais densas, ou seja, se um indivíduo aprende a transmutar um certo estado de densidade na sua aura, se ele aprende a superar uma certa dificuldade, ele gerou na sua aura aquela capacidade de transmutação. Então começa a transmutar forças do ambiente, da aura colectiva, da aura planetária. Quando começamos a orar vamos transmutando, primeiro na nossa aura, antes de mais temos de limpar a nossa casa – os corpos mental, emocional e físico etérico. Por isso 33
  • 35. quando um ser assume esse trabalho de oração, muda de estado de consciência, porque acende partículas ígneas que purificam profundamente a aura. Essas partículas correspondem a outro grau de consciência – à vibração da alma ou do plano espiritual - e quando são activadas vão impregnando os vários planos, mental e emocional, até ancorar no nível físico. Nesse momento as glândulas começam a funcionar de outra maneira, a química do sangue muda, a pessoa pode inclusive sentir necessidade de outro tipo de alimentação, pois as glândulas estão respondendo a outro modo vibratório. A repetição de mantras e orações é feita para que se dê essa mudança de ritmo e de vibração. À medida que a pessoa começa a organizar-se, a sua oração deixa de ser apenas um trabalho de transmutação pessoal para tornar-se um serviço que se presta ao processo de purificação e transmutação da humanidade e da terra. O que acontece é que transformamos um nível em nós mesmos e logo estamos aptos a transformar esse mesmo nível nos outros e na aura da terra. Não é necessário estarmos perfeitos para começar a servir. Quando estamos a orar, a mantralizar ou a fazer silêncio ofertamos esse momento de sintonia à Hierarquia espiritual e ela vai usar o nosso canal para transformar aquilo que, na aura planetária, precisa ser transformado. Quando fazemos este trabalho em grupo, o processo tem muito mais força que quando fazemos individualmente. Um grupo sincero de trabalho não vai ser um grupo perfeito, é um grupo que se está a trabalhar. Um grupo de oração, sincero e consciente, pode fazer um trabalho profundo na aura planetária e é por isso que a Hierarquia necessita que em cada região existam grupos que façam um trabalho de transmutação. Os grupos de sintonia e oração, se se mantêm fiéis ao trabalho, são grupos de transformação que colaboram efectivamente na purificação e elevação da vibração da aura planetária. Desta forma, podem haver mudanças no cenário mundial porque existem grupos orantes. Um acontecimento planetário pode ser mais ou menos denso externamente em função do grau de consciência e sinceridade com que a humanidade ora. Em que sentido? Se a humanidade se eleva e transmuta a vibração da aura psíquica, acontece uma alteração vibratória e não é necessário o mesmo grau de violência para que ocorra o processo de transmutação. Se os grupos orantes assumem um trabalho de purificação do planeta ele não vai precisar de um processo tão violento como precisaria se estivéssemos a fazer um trabalho contrário, ou seja, contribuir com a vibração dos nossos pensamentos e sentimentos para o estado de densidade psíquica já existente no planeta. Enquanto estamos neste trabalho de purificação, transmutação e elevação da vibração fazemo-lo em nome da humanidade. 34
  • 36. Oramos para fazer uma ligação à nossa alma, ao fogo espiritual unindo-nos à Hierarquia que canaliza potentes correntes de purificação e assim, a vida na superfície da terra, pode passar por uma mudança evolutivamente transformadora. Fazemos esta entrega sem tentar dirigir o resultado porque nós não sabemos o que é melhor. A Hierarquia vê de uma forma mais abrangente que nós, ela vai conduzir a energia exactamente onde esta é necessária. Fazemos um trabalho de sintonia, oração e mantras para elevar a vibração da terra e estarmos unidos à Hierarquia. Se estamos em contacto com a nossa alma e com a Hierarquia sabemos onde devemos estar, o que devemos estar a fazer e de que forma. A oração é um processo real e muito eficaz. É de tal forma importante que as forças contrárias à evolução subtilmente fazem com que não acreditemos no real alcance da oração. Assim muitas vezes oramos durante alguns dias e depois paramos porque existem outras prioridades, porque estamos cansados ou porque não sentimos logo o efeito da oração e desanimamos. É importante que compreendamos que a dispersão, a inércia, a identificação com o plano do ego - medos, dúvidas... - são instrumentos das forças involutivas para desmobilizarem a vontade espiritual do ser humano. Temos que vencer esta oposição pois a oração é um instrumento de transformação de nós mesmos e da vida planetária, se for feito sem motivações egoístas e sem tentarmos dirigir os resultados. Trata-se de orar para que um Propósito divino, que nós desconhecemos, desça à terra… para que a vibração da Paz desça à terra. À medida que os seres se entregam ao processo orante começam a viver esta realidade independentemente do que se passa no exterior. Então, porque se usa a repetição? Porque repetimos a mesma palavra, o mesmo mantra, a mesma oração? Repete-se porque temos de ir transmutando, purificando e construindo gradual e persistentemente uma mudança vibratória. Um detalhe importante é que se podemos orar em voz alta trazemos a vibração que vai sendo gerada, ancorando-a inclusive no plano etérico e físico. Assim, orando, mantralizando vamos tecendo uma nova vibração. Imaginem todas as pessoas do planeta conversando, a maior parte dos assuntos são supérfluos, quando não são negativos. Imaginem todas as televisões ligadas, os rádios, os ruídos dos automóveis e das máquinas… tudo isto cria uma densidade na vibração do planeta. Se um grupo se reúne e entoa em voz alta uma oração, produz uma vibração num tom mais elevado, vai construindo uma frequência mais elevada que vai irradiar para o espaço. Tudo isto tem uma força de construção maior, se é feito com amor e consciência. É obrigatório orar e mantralizar em voz alta? Não! A oração em voz alta não é a única maneira, podemos fazê-lo mentalmente também, mas quando o fazemos em voz alta 35
  • 37. a vibração criada pode ancorar até ao plano etérico, irradiando para a atmosfera envolvente. Quando estamos em grupo, o facto de orarmos em voz alta permite criar uma unidade de intenção, reunindo a energia de todos os corações num mesmo propósito. É obrigatório usar a oração da Mãe Universal? Não. Cada um deve orar da forma que for mais real para si. No entanto, quando vamos orar em grupo podemos usar uma fórmula de oração, como seja a da Mãe Universal, pois ajuda-nos a criar uma força de coesão e uma unidade na consciência grupal. Se vários grupos, em vários países, usam a mesma fórmula, essa oração começa a criar um canal nos planos subtis do planeta e cada vez que os seres oram fortalecem-no. Desta forma, a Hierarquia pode usar este canal para irradiar a sua energia de purificação, transmutação e criação. À medida que vamos orando, orando… vamos construindo, através desta fórmula, um canal com a energia de Mainhdra e de cada vez que vamos orar usufruímos deste canal que já foi sendo tecido e por isso é mais facilmente activado. Para além deste trabalho de sintonia e oração grupal, existe um trabalho de oração individual, que podemos fazer à nossa maneira, da forma que for mais sincera e real para nós. Ou seja, nos momentos de oração individual podemos criar uma oração conversando com a nossa alma ou com Deus de uma forma mais autêntica, íntima e sincera. Isto pode ser feito durante um momento de recolhimento ou mesmo quando estamos a trabalhar, ou seja, podemos estar em actividade orando! No entanto, quando nos reunimos a um grupo para este trabalho de oração, se usarmos uma fórmula de oração que permita criar coesão e unidade na consciência e no coração, essa fórmula vai dar mais força a esse momento. A energia de Mainhdra é a energia necessária para que o processo terrestre e humano passe pela alquimia da transformação. A energia de Mainhdra contém o componente necessário para que a vida terrestre evolua. O que Mainhdra irradia é algo que temos dentro de nós e, quando nos começamos a ligar a Ela, estamos a activar dentro de nós esse fogo, essas partículas que lhe correspondem e que purificam, transmutam e recriam a vibração da mente, do sentimento e do corpo. Concluindo, a oração é um trabalho que aplicamos a nós próprios e através do qual nos oferecemos ao serviço da cura planetária. 36
  • 38. 37
  • 39. 4 Oração II Na terra existe esta característica que é o livre arbítrio, ele é uma parte da experiência terrestre e por isso é respeitado até ao último momento. Ainda que todo o processo plasnetário, suportado pelas Hierarquias espirituais, esteja a trabalhar para que tudo evolua no caminho da união, se nós não quisermos, nós não vamos. Se nos quisermos opôr a este trabalho evolutivo – que tende para a união, para a unificação do ser - estamos a fazer uso da vontade pessoal e a resistir à evolução. Por vezes uma parte do nosso ser quer profundamente caminhar neste eixo que conduz à união com a alma e uma parte resiste porque tem apegos, sentido de posse, medos… uma série de ilusões que atam a consciência e prendem a alma ao plano humano. O que Mainhdra nos está a transmitir é que temos de criar uma canal de conexão com a alma, unindo-nos à sua Luz, ao seu Amor mas também à sua Vontade, ou seja, ao compromisso evolutivo pelo qual a alma encarnou. Nesta busca de união com a alma existe um precioso instrumento de criação: a oração. Um dos trabalhos das forças que se opõem a este processo de união é impedir que compreendamos o poder da oração. Então, para muitos de nós a oração é algo sem valor, sem sentido e sem qualquer eficiência. Em vários caminhos espirituais, no oriente e no ocidente, quando um ser começava um processo intensivo de busca, de união com a alma recebia estes instrumentos de trabalho: meditação (sintonia), oração e mantras. Estes são instrumentos preciosos para criar a conexão, aprofundar a relação com a alma e unir-se gradualmente à sua Luz, ao seu Amor e à sua Vontade. Mantras e orações são instrumentos de criação que nos permitem perfurar os véus da consciência e abrir o canal de comunicação com a alma. Se Mainhdra nos está a instruir para que oremos, é porque precisamos desse instrumento para criar uma conexão e uma comunicação sincera com a alma, aprofundando a relação e unindo-nos cada vez mais ao seu propósito evolutivo. A Hierarquia espiritual instrui-nos para que oremos, em representação da humanidade. A humanidade tem livre arbítrio, ou seja, grande parte da humanidade vive num estado de inconsciência, ignorância e alienação em relação à sua própria realidade espiritual; existe ainda outra parcela da humanidade que apesar de já estar desperta para a realidade da alma, ainda não entrou num nível de uma entrega total do livre arbítrio. Neste contexto, a oração dos seres que entregam o livre arbítrio e se unem à Vontade Suprema, é 4 Texto transcrito a partir de uma conferência realizada por Artur 38
  • 40. importante no grau em que estes seres estão unidos ao Plano Divino e ao orar estão a fazê- lo em nome da humanidade. A humanidade é uma unidade de consciência e à medida que um ser se entrega, se transforma e se une à vontade da alma, é a humanidade inteira que, num certo grau, se está a entregar, a transformar e a unir à Vontade do Criador. É importante termos esta consciência e esta compreensão abrangente do que estamos a realizar quando oramos para não usarmos a Luz Suprema para a nossa lâmpada de cabeceira. Se utilizamos o processo de oração para pedir algo para nós mesmos, para resolver algo pessoal, estamos a usar a Luz Suprema, que vem para redimir e operar um processo de resgate na vida planetária. Então, por exemplo, temos um instrumento de trabalho, a oração da Mãe Universal. Esta oração é uma fórmula de criação e ao aplicá-la estamos a aprender a criar, a entrar em sintonia, a sincronizar com a corrente criadora do princípio feminino na terra. Enquanto repetimos aquelas palavras, aquele ritmo, aqueles sons, se estamos na atitude correcta de sinceridade e entrega, então estamos a afinar os nossos átomos, moléculas, células do físico, do emocional e da mente, com uma certa corrente criadora que é a acção deste princípio feminino, projectando-se na terra. Nós estamos a orar em nome da humanidade e quanto mais abrangente for o grau de união que possamos incluir na nossa consciência, mais vamos sentir a humanidade Una, orando em nós, apelando e respondendo a esta Luz Suprema. Quando dizemos, “Nós Te saudamos Mãe Universal”, isto significa que, em nome da humanidade, estamos a dar a permissão para que este princípio feminino de criação, actue sobre a humanidade e a vida terrestre. Thaykhuma, Mainhdra, Mishuk, Maia… são diferentes núcleos de consciência deste princípio feminino. Com a oração estamos a criar uma forma pensamento que fica inscrita no plano psíquico da terra. O nível global dos pensamentos, dos desejos, dos sentimentos, das motivações dos seres humanos cria uma densidade vibratória no plano psíquico da terra. Este grau vibratório denso cria uma opacidade, uma capa psíquica na aura da terra e para que a Luz, a energia do Amor e da Vontade espiritual possam penetrar na aura psíquica da terra, a consciência dos seres tem que romper, tem que perfurar certas camadas densas dessa opacidade e resistência. Com o ardor da oração e da mantralização estamos a ajudar a transmutar, a purificar essa vibração densa criando um canal para que a Luz, o Amor e a Vontade possam ancorar no campo psíquico da terra e na aura da humanidade. 39
  • 41. À medida que este princípio feminino ancora na aura da terra, ele transmuta, purifica, reorganiza as auras e vai acendendo os códigos lumínicos do amor e da vontade espiritual na substância humana e terrestre. Enquanto repetimos a oração, com a mente e o verbo unidos ao coração, isto vai criando uma forma pensamento na aura psíquica da terra. Essa forma pode depois ser preenchida com a energia destes princípios que invocamos – Paz, Luz, Unidade... Ao orar estamos a construir uma forma pensamento que começa a vibrar nos diferentes planos, irradiando a energia com que foi preenchida. Por isso se pede a repetição no trabalho mantrico e de oração, a repetição é um mecanismo de criação que permite inscrever gradualmente a forma pensamento na vibração do éter. A forma pensamento criada fica impressa no éter e começa a vibrar e a ser preenchida com a energia do princípio que invoca… Luz, Paz… depois de preenchida começa a irradiar para a vida terrestre. Quando invocamos: “Sagrada energia feminina, princípio criador que estás gestando a nova consciência, a nova substância, a nova humanidade”, invocamos esta consciência para que ancore e preencha a aura da terra, propulsionando a evolução da vida terrestre. É necessário que a vida terrestre mude de lei, que os seres deixem de viver a partir das forças humanas e passem a viver a partir das leis da alma. Tudo o que são problemas, conflitos, sofrimentos são problemas porque estão sob uma certa lei – a lei do ego, a lei do plano humano, a lei do carma. Estes problemas, estes conflitos, estes sofrimentos não têm qualquer solução enquanto o ser estiver preso àquelas leis humanas, terrestres e cármicas. Este processo é infindável enquanto o ser não se liberta e transcende estas leis. Isto implica libertar-se de preconceitos, de medos, de apegos, de vínculos, de ilusões que prendem a consciência e a alma às leis humanas, terrestres e cármicas. Só quando o ser se liberta dessas leis é que começa a viver a lei da alma, a lei do dharma, a lei que lhe permite dar os passos para cumprir o propósito evolutivo pelo qual a alma encarnou. A humanidade inteira terá que dar esse passo, que colocará a vida na terra sob outras leis, e é esse mesmo passo que é pedido a cada ser, para que possa viver a lei da alma – um grau maior de amor, de paz e de unidade. A lei da alma começa a pautar a vida do ser na medida em que ele se libertou das ilusões, dos desejos, conflitos e da dualidade do ego. Quando invocamos: “Para que possamos consagrar-nos como dignos filhos de Deus”, consagrar-nos implica entregarmo-nos totalmente à purificação e à transformação que permitirá essa mudança de lei na nossa vida. Entregando totalmente o livre arbítrio, a vontade pessoal… para honrar o compromisso e a vontade da alma. É o honrar desse compromisso que faz de nós “dignos filhos de Deus”. Então, nós vamo-nos entregando 40
  • 42. gradualmente a este processo de união com a alma. Quando oramos em voz alta confirma- mos esses votos, deixando impressa no éter a nossa entrega. Esse acto de criação vibrou no éter, preencheu aquele conteúdo com uma certa vibração, uma certa vida… Cada vez que repetimos Fé, Luz, Paz, Unidade, Transmutação… devemos preencher aquele significado com vida, com vibração e isso vai ter um poder de criação intenso, transmutando, purificando, reorganizando as energias da nossa aura. Assim, com o poder de criação da oração sincera somos capazes de romper as camadas densas do psiquismo terrestre. O nosso verbo soa nos níveis superiores, abrindo um canal para que essa luz purificadora, esse fogo transmutador, esse princípio criador, penetre a aura psíquica, irradiando no éter, para que a humanidade possa receber os códigos lumínicos da Nova Vida. Então, a oração não serve para resolver problemas pessoais, mas para criar a nova vida em nós mesmos, na humanidade e na terra. Ela é um instrumento preciso que permite canalizar e ancorar na terra os princípios criadores – a consciência de amor crístico, o princípio de energia feminina e a vontade espiritual. Este conhecimento oculto do poder da oração é essencial. Para que as energias da mente, as energias do corpo emocional e as energias etéricas e físicas possam ser realmente canais de irradiação têm que estar totalmente concentradas, entregues em devoção e sintonia com estes princípios criadores. Então, ao orar repetimos aquela fórmula de criação, preenchendo-a de conteúdo, de vibração, de vida… isto vai criando no campo psíquico da terra um canal e assim, este princípio criador da Mãe Universal pode ancorar e encarnar, num certo grau, na humanidade e na vida terrestre. Este princípio feminino tem de ser activado com urgência, para isso precisa de canais através dos quais possa ancorar e irradiar na aura da terra. É fundamental que hajam estes canais, que possam ser preenchidos, deixando irradiar e fluir para a terra estas vibrações. Sintonia, mantras e orações são instrumentos essenciais neste processo. É importante persistir neste trabalho de oração, às vezes a água jorra e bebemos da Fonte, outras temos que cavar fundo para encontrar um pouco de água. É essencial não orar pelos benefícios que recebemos, mas orar esquecido de si em doação permanente. Esteja a água jorrando ou tenhamos que cavar fundo para chegar no leito profundo ou mesmo na aridez total, devemos persistir orando, com fé, com confiança, doando-nos, doando-nos em permanência à realidade do Amor. 41