Fazendo breves analogias de sua desmotivação e frustração profissional com imagens de aviões sucateados, Elk Tyfalay questiona-se, culpa-se e desculpa-se em sua busca por um meio de voltar a voar, sem cair na mesmice do sistema com o qual não mais se adapta. Haverá um caminho para a dignidade remunerada, ao mesmo tempo em que permaneça fiel a princípios pessoais, espirituais e ecológicos, sem os quais a liberdade de ser, e de voar, não existe. 1) Não é o meu nome, meus equipamentos ou meu corpo. Nem minhas asas, as turbinas da motivação ou a competência do piloto. Falta-me a graça que eu sentia ao voar, acreditando que nunca iria pousar, porque lá encima era o meu lugar. Tantos foram os vôos, tantas foram as nuvens de sonhos. Hoje entorpeço-me com enjoo, num chão de lembranças e ferrugem. 2) Somos tão passageiros, e tão orgulhosos, quanto mais nos sentimos pilotos. 3) Engano dizer o que é bom dura pouco. A gente é que não vê o tempo passar. Dizer que o que é bom dura pouco é o mesmo que dizer que quem vive bem vive menos, em "quantidade". Afinal, quando não se está bem, os dias ficam longos e, para quem está feliz, a vida até parece curta. O que nós queremos, viver bem ou viver muito? É... importante é prestar atenção na qualidade do que se quer e do que já se tem. 4) O dinheiro não me tira do chão. Seu cheiro não é combustível. Preciso mais que a razão para ter um motivo. Dentre tudo o que tive para hoje estar vivo, basta-me um sonho sensível. 5) Quem me viu, quem me vê, me encontrou no alto e no baixo. Talvez aquelas asas não fossem as minhas. Talvez eu não precise mais delas. Talvez, afinal, seja melhor arrancá-las. 6) É mais fácil ser carregado em chão com a ajuda e admiração de amigos que cedo me viram decolar e voar alto, do que conseguir trabalho de quem acha que é tarde demais para me levantar de minhas quedas. Para esses, não é aquilo que já fizemos o que importa, mas o que deixamos de fazer; não é todos os que carregamos, mas quem não mais podemos carregar. O esquecimento chega rápido pra quem não abre as asas nem faz barulho. 7) Já perdi a hora do vôo. Já pulei fora da nave. E ela voltou num vôo rasante para me buscar. Consideração, oportunidade e momento certo: é pegar ou largar. Gratidão a todos os amigos que em diferentes tempos e formas me tiraram do chão, resgatando-me a confiança para voar. É um grande prazer estarmos a bordo da mesma nave outra vez! 8) Após os fortes ventos da descida, encontrarei-me sem turbulências em novas brisas de subida, sem a obrigação de ser avião, em toda a sua glória de tecnologia. Porém livre... como um pássaro. Elk Tyfalay por Gutto Carrer Lima