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Universidade do Porto
Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar
   Licenciatura em Ciências do Meio Aquático – 2008/09

              Ictiologia e Biologia Pesqueira




                                        Ana Catarina da Silva Pereira Reis

                                                Porto, Setembro de 2009
Índice


Introdução............................................................................................................................................ 3
Estado actual das pescas...................................................................................................................... 4
   Produção global da Pesca................................................................................................................. 5
   Capturas em águas interiores .......................................................................................................... 9
   Usos do pescado............................................................................................................................. 10
   Papel da pesca artesanal na diminuição da pobreza ..................................................................... 12
Os atuns ............................................................................................................................................. 13
   Descrição das espécies ................................................................................................................... 17
      Atum-bonito................................................................................................................................ 17
      Albacora ...................................................................................................................................... 19
      Atum patudo ............................................................................................................................... 21
      Atum-voador ............................................................................................................................... 22
      Atum rabilo ................................................................................................................................. 24
   Caracterização dos “stocks” de atum ............................................................................................ 26
Conclusão e Discussão ....................................................................................................................... 38
Bibliografia ......................................................................................................................................... 39




                                                                                                                                                     2
Introdução
Na elaboração de um trabalho, cujo o tema é tão abrangente quanto controverso, tornou-se necessário
seleccionar os tópicos mais influentes na actualidade. Com o desenvolvimento destes tópicos pretende -se
fornecer uma síntese objectiva capaz de servir de base para a formulação de opiniões.

Antes do Homem se dedicar ao cultivo e criação de animais já a pesca era indispensável para a sua
sobrevivência. Com origem na pré-história, os seus métodos evoluiram muito com o passar dos séculos,
sendo o anzol considerado o primeiro verdadeiro instrumento de pesca.




         Figura 1. Pesca no antigo Egipto. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Egyptian_fishery3.jpg)

A pesca do atum tem também uma vasta tradição e importância nas sociedades humanas e, como dois
grandes, embora intimamente relacionados, temas, a sua exposição e desenvolvimento encontram-se
subdividida em dois tópicos centrais:

       Estado actual das pescas Mundiais – cujas conclusões se baseiam nos resultados apresentados
        pela FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) no seu relatório: “The State of
        World Fisheries and Aquaculture - 2008”.
       Definição e análise dos actuais “stocks” de Atum

Na elaboração deste último ponto apenas são referidas as espécies com mais interesse comercial, para que
o trabalho não se torne demasiado extenso e a informação excessiva e desnecessária.

O termo “stock”, amplamente utilizado, na pesquisa usada para a elaboração do trabalho, nem sempre
corresponde a um grupo isolado a nível genético. Por vezes, refere-se a um grupo de indivíduos que
possuem um fenótipo semelhante e que partilham um percurso de vida idêntico na mesma região
geográfica.

Apesar desta definição parecer um pouco irrealista, uma vez que mesmo estudos genético s têm tido
dificuldades em diferenciar os “stocks”, a sua atribuição torna-se essencial para a gestão dos recursos
pesqueiros. Área que tem ganho importância nos últimos tempos, com o crescente esgotamento dos
recursos pesqueiro e, por conseguinte, ameaça ao futuro da Pesca tal como a conhecemos.

                                                                                                                  3
Estado actual das pescas
Capturas totais, resultantes do esforço conjunto da Pesca e Aquacultura produziram, em 2006, cerca de
110 milhões de toneladas de pescado (dos quais 47% provêm apenas de Aquacultura), fornecendo um
aparente valor per capita de 16,7 kg, sendo este um dos valores mais elevados alguma vez registados.
Excluindo a China, o alimento proveniente do mar tem crescido a uma taxa de 0,5% per capita por ano.
Embora este aumento represente algo muito positivo, há que ter em conta que a distribuição mundial não
é homogénea, logo, enquanto alguns países gozam de uma certa abundância de pescado, outros poderão
ter um défice do mesmo.




Figura 2. Produção mundial de pescado no esforço conjunto da pesca e aquacultura. (fonte: “The state of world
                                      fisheries and aquaculture – 2008”, FAO)


Actualmente, a produção de pescado tem contribuído com cerca de 15% da proteína animal necessária per
capita. Embora, o seu consumo em regiões com baixos rendimentos familiares seja superior, uma vez que,
nas regiões mais isoladas, muitas das comunidades dependem da pesca para sobreviver. Assim, 18,5% da
proteína animal ingerida, nestas comunidades, provém do pescado.




                                              Figura 3. Comunidade piscatória no Lago Vitória, Kenya. (fonte:
                                              http://www.iec.ac.uk/wifip_%20intro_part1.html)




                                                                                                           4
Entre os maiores produtores de pescado encontra-se a China, Peru e Estados Unidos da América. Sendo a
China o líder deste sector, com uma produção de 51,5 milhões de toneladas em 2006, e um aparente
fornecimento de 29,4 kg de pescado per capita. Contudo, devido a várias falhas nas estatísticas
apresentadas e devido à grande importância e influência dos seus valores nas estatísticas mundiais, a China
é discutida como um caso aparte.

As capturas de pescado têm-se mantido estáveis na última década, com pequenas flutuações devidas às
inconstantes capturas de anchovas. Estas flutuações na produção de anchova (espécie com maiores
capturas a nível de peso) ocorrem devido à vulnerabilidade desta a alterações, causadas pelo fenómeno –
El Niño (no Pacífico Sudeste). Embora estas flutuações tendam a ser compensadas por variações nas
capturas de outras espécies.




          Figura 4. Cardume de anchovas (fonte: http://www.geocities.com/aquasendas/anchovetas01.jpg)

       Produção global da Pesca
A produção global das Pescas em 2006, de acordo com o relatório da FAO, foi cerca de 92 milhões de
toneladas. Valor que representa um decréscimo de 2,2 milhões, em comparação com as capturas de 2005.
Tal como se verificou noutros anos, esta variação das capturas foi, maioritariamente causada pela flutuação
nas capturas de anchovas.

As capturas no meio marinho, por seu lado, atingiram os 81,9 milhões de toneladas em 2006, o terceiro
valor mais baixo desde 1994. Apenas em 1998 e 2003 se verificou uma produção inferior e, nestes anos
considera-se que a drástica diminuição na captura de anchovas será o principal responsável.

Enquanto se verificou este decréscimo nas capturas totais e marinhas, as capturas em águas interiores
aumentaram significativamente entre 2005 e 2006. Sendo a região asiática a principal responsável,
capturando cerca de 2/3 do total. Este aumento, terá sido proporcionado por práticas que permitiram uma
melhor exploração dos “stocks”, no entanto, prevê-se que, a melhoria nos métodos de recolha de
informação, onde esta era escassa, terá dado um grande contributo.



                                                                                                        5
De acordo com análises preliminares apresentadas no relatório da FAO, as capturas mundiais, no meio
marinho (excluindo a China), aumentaram cerca de 3% em 2007 (valores não apresentados no gráfico
abaixo), em comparação com o anterior ano. E contudo, a China mostrou, nesta fase, uma tendência
contraditória, com a diminuição das suas capturas em mais de 2 milhões de toneladas. Estes resultados,
apresentados pela China foram precedidos por um ajustamento ao seu sistema de recolha de dados, assim
sendo, pensa-se que não haverá nenhum decréscimo real, apenas que as estatísticas anteriores eram mais
optimistas que a realidade.




 Figura 5. Produção mundial de pescado na Pesca. (fonte: “The state of world fisheries and aquaculture – 2008”, FAO)

Focando-nos agora nas análise das capturas por Oceano: verifica-se um aumento no Pacífico e Índico
Oestes, e uma diminuição das capturas no Oceano Atlântico. No Índico Este, as capturas voltaram a crescer
em 2006, depois do decréscimo no ano anterior causado pelos efeitos destrutivos do tsunami em
Dezembro de 2004. Pelas estatísticas fornecidas à FAO, os países mais afectados pelos efeitos do tsunami
foram o Sri Lanka (51,1% de decréscimo na produção), Malásia (-12,1%) e Índia (-8,4%). Embora, a parte
Oeste da Indonésia tenha sido fortemente afectada, este desequilíbrio foi compensado com o aumento das
capturas noutras regiões do país.




                                                      Figura 6. Costa Oeste da Indonésia, antes (esquerda) e
                                                      depois (direita) da passagem devastadora do tsunami em
                                                      Dezembro de 2004 (fonte: guardian.co.uk)



                                                                                                                   6
No que diz respeito às capturas por espécie verificou-se um aumento em diversos grupos durante 2006,
com um novo recorde na captura do atum bonito (skipjack tuna), atingindo as 6,4 milhões de toneladas.
Contudo, o mesmo não se verificou no caso do albacora (yellowfin tuna), cujas capturas diminuiram já 20%
desde o máximo atingido em 2003.




Figura 7. Gráfico que ilustra a captura das dez mais importantes espécies do meio marinho em milhões de
                    toneladas. (fonte: “The state of world fisheries and aquaculture – 2008”, FAO)




As espécies do gráfico anterior, no seu total, contribuem em 30% para as capturas globais no meio
marinho. Os seus “stocks”, submetidos a estudos e análises estatísticas, mostram estar totalmente
explorados ou mesmo sobre-explorados. Sendo o Atlântico Nordeste, Índico Oeste e Pacífico Nordeste as
regiões onde esta tendência é mais preocupante.

A análise geral do estado dos recursos marinhos pesqueiros confirma que, as proporções de “stocks”
sobrexplorados (28%), esgotados (8%) e em recuperação(1%) permanecem estáveis durante os últimos 10-
15 anos. Cerca de 52% dos “stocks” encontra-se totalmente explorado, perto do máximo de capturas e sem
possibilidade de expansão. E apenas 20% permanence moderadamente explorado ou subexplorado, com
uma pequena possibilidade de produzir mais do que produz actualmente.

De acordo com uma visão global da situação prevê-se que, o potencial de exploração pesqueira dos
oceanos terá sido atingido. Assim, torna-se urgente aperfeiçoar as políticas de gestão destes recursos,
particularmente no caso de espécies altamente migratórias (como os atuns) e espécies que são
maioritariamente capturadas em alto mar.




                                                                                                     7
Apesar deste trabalho tratar apenas o estado actual das Pescas, recentemente tem sido difícil distanciá-las
da Aquacultura. Isto ocorre porque, com a sobre-pesca da maioria dos “stocks” e com o aumento da
população mundial, a Pesca deixará de ser suficiente para suprir as necessidades de todos.

A aquacultura surge como um sector que complementa essas necessidades que, todavia, se encontra longe
de ser uma indústria sustentável, que não danifique os ecossistemas. Este sector é dominado pela região
Pacífico-asiática, responsável por 89% da produção mundial.

No entanto, o seu crescimento tem sido incrivelmente lento, com a crescente preocupação pública sobre as
práticas desta indústria e dúvidas sobre a qualidade real do produto. Em resposta a estas dúvidas,
actualmente, tem-se investido em sistemas integrados de aquacultura (com o cultivo de várias espécies em
simultâneo e reciclagem dos resíduos por organismos filtradores, promovendo sustentabilidade económica
e ambiental) e aquacultura orgânica que, à semelhança da agricultura praticada nesse mesmo estilo
pretende causar o mínimo de impactos negativos no meio ambiente e serenar as exageradas
preocupações, expressas pela população, acerca da qualidade de um produto criado em cativeiro com
alimento artificial.




    Figura 8. Cultivo simultâneo de peixe, plantas e crustáceos (na rede), exemplo de uma aquacultura
          integrada no Kenya. (fonte:http://www.azote.se/index.asp?q=Max%20Troell&id=14137&p=1&lang=eng)

Para além do papel óbvio que a Pesca e Aquacultura desempenham no fornecimento de alimento, este
sector é uma importante fonte de postos de trabalho. Estima-se que, em 2006, 43,5 milhões de pessoas
estavam ligadas a esta indústria.

Nas últimas três décadas os postos de trabalho criados pela Pesca e Aquacultura superaram o crescimento
da população mundial e o número de postos de trabalho em Agricultura. Todavia, analisando as estatísticas
globais o número de pessoas envolvidas nas Pescas tem vindo a declinar em cerca de 12% no período de
2001-06. Desta forma, o maior contributo na criação de postos de trabalho deve-se à Aquacultura.


                                                                                                           8
A maioria dos pescadores pratica, ainda, uma pesca artesanal de pequena escala, operando em águas
interiores ou costeiras.


        Capturas em águas interiores
Em 2006 as capturas em águas interiores excederam os 10 milhões de toneladas (mais de 10% das capturas
totais), atingindo um novo recorde. Comparado com as capturas em 2004 o presente valor representa um
aumento de 12,8%. Contudo, resta saber se, este aumento se deve às capturas reais ou se, pelo contrário é
o resultado das melhorias nos métodos de recolha de informação.

A nível mundial é a Ásia quem mais se destaca neste sector, com a captura de 2/3 do total referido;
produzindo 2,4 milhões de toneladas a África ganha um segundo lugar nesta contagem, apesar da sua
produção ter diminuido 2,7% em 2006. Enquanto que, o continente Americano dá mostras de uma ligeira
redução na produção de pescado, a Europa mostra uma tendência contrária, recuperando dos reduzidos
valores registados em 2004 (sendo a Rússia responsável por 60% da produção europeia).




  Figura 9. Países que apresentam maiores valores na captura em águas interiores. (fonte: “The state of world
                                      fisheries and aquaculture – 2008”, FAO)




                                                                                                            9
Analisando a produção por país (figura 9) verifica-se que a China, e outros países em vias de
desenvolvimento são responsáveis, no seu conjunto, por 95% de todas as capturas em águas interiores.
Estes resultados não são inesperados, uma vez que, nestes países a pesca artesanal em cursos de água
doce ou estuarina são uma importante fonte de sustento das pequenas comunidades piscatórias.

Pelo contrário, em países desenvolvidos verifica-se uma redução acentuada deste tipo de pesca, dado lugar
ao desenvolvimento em grande escala da pesca desportiva.




                                                 Figura 10. Concurso de pesca deportiva de Santo Tirso. (fonte:
                                                 http://www.cm-
stirso.pt/index.php?Itemid=247&id=421&option=com_content&task=view)


Uma vez que a pesca em águas interiores não apresenta os mesmos sinais de sobre-exploração do meio
marinho pensa-se que, adoptando uma política de precaução, este sector possa ser mais desenvolvido, sem
riscos para o meio ambiente.

De acordo com diversos estudos efectuados verifica-se que, tanto a pesca como o próprio ecossistema das
águas interiores são altamente complexos. Apesar de tudo, a pesca não parece afectar significativamente o
ecossistema e, desta forma, os “stocks” são principalmente afectados processos ambientais e alterações no
clima, desde flutuações no afluxo de água (cheias, secas, etc.) a variações no “input” de nutrientes (que
pode ser de origem natural ou causado pela poluição).

No entanto, os impactos causados pelo Homem no ecossistema não devem ser ignorados, com a
introdução de espécies exóticas, poluição, fragmentação de habitats (devios de cursos de água, construção
de barragens, etc.), estes frágeis ecossistemas suportam uma pressão antropogénica que poderá reduzir
para além de qualquer esperança os seus preciosos “stocks”.

Em suma, a gestão destes recursos pesqueiros, importante fonte de subsistência em regiões mais isoladas e
empobrecidas, carece de uma abordagem ecossistémica para que possam ser preservados.


        Usos do pescado
De acordo com dados de 2006, cerca de 77% das capturas mundiais tive ram como destino final o consumo
humano. Quanto à restante produção, esta foi aplicada em produtos não-alimentares, como as farinhas e

                                                                                                           10
óleos de peixe. A quantidade de pescado usado no fabrico de farinha de peixe superou os 20 milhões de
toneladas, apresentando, apesar de tudo, uma queda de 14% desde 2005.

Do pescado usado para consumo humano, 48,5% foi comercializado na forma viva ou fresca (produtos que
atingem os maiores preços no mercado). Enquanto que, 54% de toda a produção mundial sofreu algum tipo
de processamento: 74% do peixe processado foi usado para consumo humano directo (congelado, curado
ou preparado) e o restante para usos não alimentares.

O congelamento, é o principal processo utilizado na preservação de produtos destinados a consumo
humano, alcançando 50% de todos os produtos processados, seguido de produtos preparados ou pré-
cozinhados (29%) e produtos fumados (21%). Apesar de que, em Portugal este último tipo de
processamento em pescado não ser muito tradicional e poucos destes produtos serem vendidos com êxito
no nosso país (se calhar, com a excepção do salmão fumado).




       Figura 11. Principais usos do pescado. (fonte: “The state of world fisheries and aquaculture – 2008”, FAO)




O processamento do pescado tem sofrido várias alteração ao longo das passadas duas décadas,
influenciado tanto pelos avanços na tecnologia, logística e transporte como também pela crescente
importância que a indústria coloca nos gostos dos consumidores.

Uma importante aplicação do pescado surgiu na área farmacêutica, com a exploração do pescado como
fonte de moléculas bioactivas.




                                                                                                                    11
Papel da pesca artesanal na diminuição da pobreza
                  “The concept of poverty includes different dimensions of deprivation.”

Definir o conceito de pobreza revelou-se uma tarefa complexa, contudo, é aceite que a pobreza representa
várias dimensões de privação. Estas relacionam-se com os vários graus da necessidade humana, como o
poder de compra, segurança (incluindo alimentar), saúde, educação, direitos, dignidade e trabalho decente.

Os pescadores vivem, geralmente, em comunidades remotas e isoladas. Estas regiões caracterizam-se por
estar mal organizadas, sem representação política e, geralmente mais expostas a desastres naturais. O
isolamento social faz com que não tenham a oportunidade de melhorar os serviços que, em comunidades
desenvolvidas são dados como garantidos.

Desta forma, o seu estilo de vida nem sempre depende das capturas pesqueiras. Apesar de, nalgumas
comunidades a sobre-exploração provocar a pobreza, o que se verifica na maioria dos casos é que, mesmo
com um número razoável de capturas, os cidadãos continuam sem ter acesso a serviços essenciais que
permitam melhorar o seu nível de vida.

O facto da maior parte destas comunidades piscatórias (principalmente em África e Ásia) serem nómadas
aumenta a sua exposição a condições de privação e pobreza. Para além das óbvias privações na saúde e
acesso a condições sanitárias decentes, estas comunidades nómadas tendem a ser marginalizadas pela
restante sociedade por não terem “voz” e, por vezes se caracterizarem por crenças muito próprias e
fechadas. Apesar de serem ainda incompreendidas e pouco se saber acerca do seu contributo real para a
economia, as suas condições de vida são vulneráveis e, por isso devem ser protegidas.

Tendo em conta os impactos negativos que a pesca pode ter num ecossistema, sabe-se que, em pequena
escala esta pode representar algumas vantagens, comparando com uma escala industrial:

      Menos impactos ambientais;
      Capacidade de partilhar a riqueza e os benefícios sociais obtidos de forma descentralizada;
      Forte contributo para a herança cultural, devido aos seus grandes conhecimentos sobre o
       funcionamento dos ecossistemas.

As medidas que dão acesso preferencial aos Pescadores de pequena escala podem, de facto proteger os
recursos. Um exemplo foi a implementação de uma lei que dava prioridade aos pequenos Pescadores , nos
mares Java e Sumatra, pelo governo da Indonésia em 1980. Esta decisão ajudou a preservar os recursos do
Java, aumentando a criação de postos de trabalho e uma maior e equilibrada distribuição da riqueza.




                                                                                                      12
Figura 12. Barcos de pesca num porto do Mar de
                                                        Java. (fonte: http://www.planetpinkngreen.com/when-we-
                                                        ceased-vacationing-and-started-traveling/)




Os atuns
Os atuns assumem um papel de importância nas sociedades humanas desde há milhões de anos, sendo tal
facto comprovado por achados arqueológicos que datam de há 6 000 anos.

Contudo, o seu valor não parece ter diminuido ao longo da história, pelo contrário, actualmente este
continua a ser dos peixes mais capturados e consumidos. Encontra-se disponível nas mais variadas formas:

       Cru;
       Fumado;
       Seco;
       Enlatado (sendo esta a forma preferencial de consumo), etc.




                                                             Figura 13. Fotografia que ilustra o aspecto que
                                                             adquire o atum enlatado. (fonte:
http://www.alibaba.com/product/yehudama-11371177-10894041/Canned_Tuna.html)


Mas não é apenas no sector do consumo humano que estas espécies adquirem importância. As suas
adaptações a um estilo de vida em constantes migrações, tanto horizontais como verticais, não deixam de


                                                                                                                 13
nos surpreender. A par dos espadins e espadartes, os atuns são os únicos peixes ósseos conhecidos capazes
de conservar o calor interno (metabólico), associando a função muscular ao sistema circulatório. Esta
capacidade designa-se de endotermia.


Para entender o seu papel e lugal na escala evolutiva, encontra-se, de seguida, detalhada a sua classificação
taxonómica.


Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Actinopterygii
Infraclasse: Teleostei
Supra ordem: Acanthopterygii
Ordem: Perciformes
Família: Scombridae (constituída por 2 sub-famílias)
        Sub-família: Scombrinae (constituída por 4 tribos)
                Tribo: Thunnini
                        Género: Katsuwonus (espécie: K. pelamis)
                        Género: Thunnus
                                Espécies: T.alalunga
                                          T. maccoyii
                                          T. obesus
                                          T. thynnus
                                                 Subespécie: T. thynnus thynnus
                                                             T. thynnus orientalis
                                          T. albacores
                                          T. atlanticus
                                          T. tonggol




Quanto à sua distribuição pelos oceanos, é sabido que, o Pacífico reúne cerca de 67% das unidades
populacionais de atuns, enquanto que o Índico reúne apenas 21% e, ao Atlântico restam uns meros 12%.

As capturas, são altamente influenciadas por esta distrbuição natural. De acordo com estatísticas de 2000,
é no Pacífico que decorre a sua maioria (cerca de 60%), com a excepção do atum rabilo. Das zonas do
Pacífico, a zona central oeste é a responsável pela maior parte da produção referida, cerca de 30% da
produção mundial.




                                                                                                       14
Figura 14. Capturas de atum por oceano. (fonte:http://www.fao.org/docrep/005/y4499e/y4499e05.htm#bm05.2)



Analisando as tendências dos métodos de captura, verifica-se que cerca de 65% do atum é capturado
usando preferencialmente redes de cerco, contra os restantes métodos de pesca com linhas que não
permitem capturas em grandes quantidades.




       Figura 15. Pesca de atum com rede de cerco com retenida. (fonte: http://tunaseiners.com/blog/wp-
                                   content/uploads/2009/07/purse-seine-net.jpg)




Analisando atentamente o anterior gráfico (figura 14) verifica-se que, no caso do Oceano Índico, antes dos
anos 80, este era responsável pela captura de apenas 8% do atum, sendo o Sri Lanka e as Maldivas os
países que maior contributo deram para esta estatística. Contudo, no princípio dessa década, as frotas
pesqueiras Francesas e Espanholas, enfrentando a crescente escassez de capturas no Atlântico, expandiram
a sua exploração ao Índico oeste, com o aumento exponencial nas capturas de bonito e albacora.




                                                                                                          15
Com este investimento, das frotas europeias no Índico, a produção de atum aumentou para 20%. Sendo o
bonito e o albacora as espécies mais capturadas, alcançando os 80% nas capturas totais neste oceano.

O Atlântico, por seu lado, produz apenas 14% do atum a nível mundial, sendo que 11,2% das capturas
ocorrem no Atlântico Este. Apesar da pesca artesanal destas espécies existir desde o século XII
(especialmente sob a forma de armadilhas no Mediterrâneo), apenas a partir dos anos 50 se verificou um
forte investimento na pesca em grande escala.

Nesta altura, as capturas aumentaram lentamente até aos inícios dos anos 80, quando as frotas pesqueiras
partiram para explorar os recursos no Índico, e, desde aí mantiveram-se estáveis.

Analisando as tendâncias nas capturas por espécie, verifica-se um crescimento regular, em todas elas, ao
longo de todo o período representado. A partir de 1984, ocorre um aumento na taxa de crescimento,
devido à exploração de novos locais de pesca no Pacífico e Índico Oestes. Embora este sector não dê
mostras do seu enfraquecimento, desde 1990 que não são descobertos novos locais de pesca (de
dimensões relevantes) e, grande maioria dos existentes encontra-se ameaçado pela poluição e sobre-
pesca. Desta forma, os aumentos das capturas foram uma consequência do avanço tecnológico e melhorias
nas artes de pesca.




Figura 16. Captura de atuns por espécie ao longo do tempo. SKJ – bonito; YFT – atum amarelo; BET – atum
         patudo; ALB – atum voador. (fonte:http://www.fao.org/docrep/005/y4499e/y4499e05.htm#bm05.2)




                                                                                                       16
Descrição das espécies
Atum-bonito


Nome científico: Katsuwonus pelamis




 Figura 17. Ilustração do bonito. (fonte: http://www.flmnh.ufl.edu/fish/gallery/Descript/SkipjackTuna/SkipjackTuna.html)




Nomes comuns: bonito, gaiado, listado, barriga-listada, bonito-de-ventre-raiado, sarrajão.

Dimensões: pode atingir os 108 cm de comprimento e os 35 kg, contudo as suas dimensões mais comuns
não ultrapassam os 75 cm e dos 23 kg de peso.

Longevidade: 4,5-8 anos, aos 1,5anos atingem a maturidade sexual, quando chega aos 45cm de
comprimento e 1,5Kg de peso.

Distribuição geográfica: superfície de águas tropicais e subtropicais de todos os oceanos, principalmente
entre as latitudes 20ºN e 10ºS. No Atlântico está presente em toda a costa europeia até ao Mar do Norte,
contudo está ausente no Mediterrâneo e Mar Báltico.




                                                                                                                    17
Figura 18. A zona a vermelho no mapa marca a distribuição geográfica do atum bonito. (fonte:
                    http://www.flmnh.ufl.edu/fish/gallery/Descript/SkipjackTuna/SkipjackTuna.html)




Habitat: espécie epipelágica, em águas com temperaturas de 14,7 a 30ºC. Durante o dia permanece à
superfície, enquanto que de noite pode mergulhar até aos 260m. Forma com frequência cardumes
agrupados por tamanhos. Pensa-se que, os indivíduos de menores dimensões, não são capazes de
acompanhar as grandes velocidades dos atuns maiores, por isso ficam na “cauda” do cardume. Estes
podem ser mono ou multi-específicos, sendo frequente a sua associação com mamíferos marinhos,
tubarões e mesmo objectos flutuantes.

Alimentação: predador oportunista, essencialmente ictiófago, embora se alimente também de crustáceos
e moluscos. O pico da alimentação ocorre no final da madrugada e ao cair da noite. Os indivíduos de
menores dimensões normalmente alimentam-se em grupo, enquanto que os maiores são mais solitários.

Reprodução: espécie ovípara, com desovas múltiplas durante todo o ano nos trópicos, contudo, estas
tornam-se mais espaçadas, no tempo, à medida que as populações se afastam do equador. A fecundidade
parece estar dependente do tamanho da fêmea, cada uma pode produzir cerca de 80.000 a 2.300.000
óvulos em cada postura. O desenvolvimento larvar dura cerca de 20 dias.




                                                                                                      18
Albacora


Nome científico: Thunnus alcabacares




      Figura 19. Ilustração do albacora. (fonte: http://www.pattyanncharters.com/image/yellowFin%20Tuna.jpg)



Nomes comuns: albacora, atum-de-galha-à-ré, alvacor, atum-de-barbatana-amarela, atum-amarelo.

Dimensões: peixe de crescimento rápido, pode chegar aos 170-200cm de comprimento e aos 175-200 kg
de peso.

Longevidade: 7,5 anos e alcança a maturidade sexual aos 2,5-3 anos, quando atingem os 105 cm.

Distribuição geográfica: Presentes em águas tropicais e subtropicais, com uma distribuição contínua,
preferencialmente entre as latitudes 35ºN e 20ºS. Ausente no Mar Mediterrâneo e raramente visto nos
mares continentais de Portugal.

No Atlântico os Açores marcam o limite norte da distribuição desta espécie.




                                                                                                               19
Figura 20. Mapa que marca a distribuição (vermelho) do albacora. (fonte:
                http://www.flmnh.ufl.edu/fish/gallery/Descript/YellowfinTuna/yellowfintunabasemap.JPG)




Habitat: espécie epipelágica, habita os primeiros 100m da coluna de água, onde o oxigénio é mais
abundante e as temperaturas variam dos 18 aos 31ºC. Forma com muita frequência cardumes, agrupados
essencialmente por tamanhos, com os espécimens de maiores dimensões na dianteira. Associam -se
frequentemente com outras espécies de atuns, como os bonitos e atum-patudo, e, no Pacífico chega a
associar-se a golfinhos, comportamento pouco frequente noutros oceanos. Muitas vezes associam-se a
objectos flutuantes, comportamento explicado por várias hipóteses: o objecto serve como substrato para a
postura de ovos, local de remoção de parasitas (pelos organismos que vivem neste substrato) ou pode
mesmo ser visto como mais um indivíduo integrante do cardume.

Em mergulhos profundos estes cardumes têm a tendência a dissociar-se, uma vez que há menos ameaças
de predadores e esta formação deixa de ser benéfica.

Alimentação: à semelhança das outras espécies de atuns, é um predador não selectivo, alimentando-se
geralmente de peixes, cefalópodes (lulas) e crustáceos. Ao capturar as suas presas perto da superfície
indica que esta espécie depende da sua desenvolvida visão para se alimentar.

Reprodução: espécie ovípara, cuja época de desova está limita a 6 meses no ano, durante os meses de
maior calor, diferentes em cada hemisfério. As posturas ocorrem em alto mar e cada fêmea pode libertar
até 6.000.000 óvulos. A desova, contudo, será influenciada pela temperatura e salinidade, com 26ºC a
constituir o limite inferior para que esta ocorra. O desenvolvimento larvar decorre durante 28 dias, com as
larvas a apresentar características muito particulares: um único ponto de pigmento ne gro debaixo do
“queixo” e a ausência de pigmentação na barbatana caudal.


                                                                                                         20
Atum patudo
Nome científico: Thunnus obesus




  Figura 21. Ilustração do atum patudo. (fonte: http://www.pattyanncharters.com/Montauk%20Offshore%20Fish.html)

Nomes comuns: atum patudo, albacora, atum-de-olhos-grandes, atum-obeso, atum-da-ilha-da-madeira,
atum-das-canárias, atum-fogo.

Dimensões: pode alcançar os 239 cm de comprimento e uns 225 kg em peso. No entanto, o peso mais
comum situa-se entre os 160-180 kg.

Longevidade: vive cerca de 6 anos e atinge a maturidade sexual aos 3,5 anos com 115-130cm de
comprimento.

Distribuição geográfica: habita águas tropicais e subtropicais, com uma distribuição contínua, exceptuando
no Mar Mediterrâneo onde está ausente. Os Açores constituem a fronteira norte na sua distribuição, no
entanto esta espécie é mais frequente na Madeira.




                      Figura 22. Mapa ilustra a distribuição do atum patudo. (fonte: FAO)




                                                                                                            21
Habitat: espécie epi e mesopelágica em águas com com temperaturas entre os 17 e 22ºC. Podem atingir
profundidades na ordem dos 1000m, contudo em média não ultrapassam os 450m. Habitualmente forma
cardumes agrupados por tamanhos, que podem ser tanto mono como multi-específicos (associados a
espécies como o albacora e bonito), por vezes podem associar-se também a objectos flutuantes.

Alimentação: predadores não selectivos, que se alimentam tanto de dia como durante a noite, perseguindo
peixes pelágicos, crustáceos e cefalópodes.

Reprodução: desova ocorre durante apenas 3 meses, duas vezes ao ano. Em cada postura múltipla uma
fêmea pode libertar até 6.300.000 óvulos, contudo este número é significativamente afectado pelo
tamanho da fêmea.



Atum-voador
Nome científico: Thunnus alalunga




          Figura 23. Ilustração do atum voador. (fonte: http://www.spc.int/OceanFish/html/SAM/albacore.htm)




Nomes comuns: atum-voador, atum-branco, atum-de-galha-comprida, albacora, albacora-branco, tombo,
germão, ilhéu, asinha.

Dimensões: espécie de pequeno porte, com um comprimento máximo de 140cm, raramente alcançando os
80 kg de peso.

Longevidade: vivem cerca de 9,5 anos e aos 4,5 anos com cerca de 90cm e 25kg atinge a maturidade
sexual.


                                                                                                              22
Distribuição geográfica: considerada cosmopolita em águas subtropicais e temperadas, principalmente nas
latitudes 50ºN e 40ºS, incluindo no Mar Mediterrâneo. Enquanto adultos apresentam uma característica
muito peculiar que facilmente os distingue das restantes espécies: as barbatanas peitorais são muito
longas, ultrapassando em comprimento a origem na segunda barbatana dorsal, embora, comparativamente
o atum patudo apresente barbatanas de maior comprimento.




Figura 24. Mapa que ilustra a distribuição mundial do atum voador, a verde estão demarcados os principais
           locais de exploração pesqueira. (fonte: http://www.fao.org/docrep/009/a0653e/a0653e05.htm)




Habitat: espécie epi e mesopelágica, vivem em águas cujas temperaturas variam entre 16 e 20ºC, contudo,
são capazes de tolerar até aos 9,5ºC durante curtos períodos de tempo. Executam curtos mergulhos de
profundidade, podendo alcançar entre os 380 e 600m. Pode m formar cardumes, ocasionalmente
associados a albacoras, bonitos e atum-rabilo, sendo também encontrados junto a objectos flutuantes.

Alimentação: predador voraz não selectivo, que se alimenta de peixes, cefalópodes (lulas e chocos) e
crustáceos; organismos que pode perseguir até aos 500m de profundidade.

Reprodução: a época de desova ocorre sazonalmente durante cerca de 3 meses no ano. Cada fêmea pode
libertar até 2.500.000 óvulos, e o tamanho da mesma não parece influenciar estes números, tal como
ocorre noutras espécies.




                                                                                                       23
Atum rabilo


Nome científico: Thunnus thynnus thynnus




  Figura 25. Ilustração do atum rabilo. (fonte: http://www.pattyanncharters.com/Montauk%20Offshore%20Fish.html)



Nomes comuns: atum rabilo, rabil, albacora-azul, atum-de-direito, atum-de-revés, rabão, atum-vermelho,
atum-legítimo, atum-verdadeiro.

Dimensões: atinge um comprimento máximo de 458 cm e um peso máximo de 684 kg. No entanto, os
valores mais vulgares situam-se entre os 300-400cm.

Longevidade: vive cerca de 20 anos, sendo a espécie de atum de crescimento mais lento e, a sua
maturidade sexual ocorre por volta dos 4-5 anos ao atingir o comprimento de 115-150cm e o peso de
200kg.

Distribuição geográfica: distribui-se pelas águas temperadas e subtropicais do Pacífico e Atlântico,
essencialmente entre as latitudes 35ºN e 60ºN, com temperaturas entre os 17 e 22ºC. No Atlântico Norte
alcança as maiores latitudes, chegando até às águas frias da Noruega. Podem efectuar longas migrações
horizontais, mesmo exclusivamente transatlânticas.




                                                                                                             24
Figura 26. Mapa que demarca a vermelho a distribuição do atum rabilo. (fonte:
                      http://www.flmnh.ufl.edu/fish/gallery/descript/bluefintuna/bluefintuna.html)




Habitat: espécie pelágica veloz que pode atingir os 70 km/h em súbitos arranques, vive sobretudo em alto
mar, contudo verificam-se algumas aproximações sazonais a águas costeiras. Executam mergulhos
profundos, podendo alcançar mais de 1000 m de profundidade. Verifica-se um forte impulso para formar
cardumes, especialmente enquanto jovens, estes agrupamentos surgem tanto de dia como de noite o que
sugere que esta espécie possui um sistema de linha lateral desenvolvido. Normalmente associam-se a
albacoras, bonitos, atuns patudos e voadores.

Alimentação: predador voraz e não selectivo, alimenta-se nas águas mais frias do Atlântico. Exibem
diferentes estratégias de predação de acordo com a presa, atingindo grandes velocidades na perseguição
de cardumes (por exemplo, de anchovas), e agindo quase como filtradores quando se trata de presas que
pouco se movimentam. Alimentando-se também de crustáceos e cefalópodes (lulas, polvos e Nautilus).

Reprodução: espécie ovípara, cuja época de desova se encontra mais limitada que nas outras espécies de
atum. No Atlântico migra para as águas temperadas do Mediterrâneo, Adriático e Golfo do México para
desovar, enquanto que no Pacífico se dirige para as águas costeiras das Filipinas. A época está limitada a 3
meses e ocorre em alturas diferentes consoante o local de desova. Cada fêmea pode libertar até 6.000.000
óvulos em cada postura múltipla, sendo que o desenvolvimento larvar ocorre em 28 dias, findos quais a
larva evolui para alevim (com as mesmas características que os adultos mas de menores dimensões).




                                                                                                       25
Caracterização dos “stocks” de atum
Bonito (Katsuwonus pelamis)
Esta éspecie, apesar de não pertencer ao género Thunnus (os apelidados verdadeiros atuns), dentro da
tribo a que ambos pertencem é o género que mais se aproxima a nível filogenético. A razão pela qual foi
incluida neste trabalho liga-se à sua importância na actualidade.

Actualmente, o bonito é das espécies mais importantes no sector da pesca a nível mundial, representando
40% de todas as capturas mundiais. O principal método usado para a sua captura são as redes de cerco,
sendo comercializado na forma de enlatado, fresco e mesmo seco, esta última modalidade praticada
essencialmente no Japão.




                                                   Figura 27. Venda de bonito no mercado do peixe. (fonte:
                                                   http://www.fmap.ca/ramweb/media/management_effectiveness/h
                                                   ome.php?sub=34)




É no Pacífico Ocidental, que esta espécie apresenta um maior índice de captura (55%), enquanto que no
Atlântico atinge uma quota de apenas 13% (contra 67% em todo o Pacífico e 20% no Índico).

Identificar e contabilizar as populacções de bonito revelou-se uma tarefa bastante complicada, sendo uma
espécie com um ciclo de vida curto e uma elevada e variável produtividade (todos os anos o recrutamento
de novos indíviduos para os “stocks” representa uma grande porção da biomassa destes), sendo difícil
detectar o efeito da pesca nos “stocks”. A sua grande produtividade parece tornar as populações menos
susceptíveis aos fenómenos de sobre-pesca, com grandes recrutamentos que repõe os níveis desgastados
pela pesca.

Contudo, com o significativo aumento do esforço de pesca, o peso médio por indivíduo capturado t em
vindo a declinar desde 2000. Os estudos realizados não são conclusivos, e, pelos dados actuais, sabe -se que
estes fenómenos podem não estar relacionados e que esta diminuição pode ser a consequência do
aumento do recrutamento (mais densidade populacional).

Enquanto que o recrutamento aumenta, certamente em resposta ao aumento da taxa de exploração, não
são visíveis (por enquanto) quaisquer efeitos negativos nas populações.

                                                                                                        26
   Oceano Pacífico

O bonito, em termos de capturas por peso é a espécie dominante no Pacífico. Alguns estudos genéticos
mostram algum grau de mistura entre os “stocks”, no entanto, para efeitos de gestão consideram-se duas
populações independentes:

1. “Stock” do Pacífico Oeste.
2. “Stock” do Pacífico Este.

Esta divisão é suportada por alguns estudos onde se procedeu à marcação e rastreio de indivíduos de
ambas as populações, verificando que os movimentos entre as duas são bastante limitados.

De acordo com um estudo conduzido pela SPC (Secretariat of the Pacific Community), o “stock” Oeste
parece não ter realizado todo o seu potencial e pensa-se que ainda será possível aumentar as capturas nos
próximos tempos.

Contudo, aumentando o esforço de pesca, principalmente se as artes forem pouco selectivas, há risco de
aumentarem, paralelamente as capturas de albacora e atum patudo, uma vez que estas podem viver em
associação com o bonito.

       Oceano Índico

As capturas de bonito neste oceano têm vindo aumentar de forma estável desde a introdução das redes de
cerco provenientes de França e Espanha. Contudo, os seus níveis não são muito elevados, nem constituem
um importante contributo para a produção mundial.

O bonito neste Oceano encontra-se distribuido num único “stock” que, apesar de não aparentar quaisquer
sinais de sobre-exploração, pensa-sa que um aumento do esforço de pesca poderá trazer consequências
perigosas e imprevisíveis.

       Oceano Atlântico

Em termos de peso, as capturas de bonito neste oceano adquirem um grande importância, sendo a espécie
de atum que alcança mais toneladas por ano. Com 85% das capturas no Atlântico Este e as restantes nas
águas costeiras do Brasil.

A população de bonito é distribuida em dois “stocks” distintos:

1. “Stock” do Atlântico Este.
2. “Stock” do Atlântico Oeste.



                                                                                                    27
Apesar de alguns estudos mostrarem que estes “stocks” estão sub-explorados, com a possibilidade de
aumentar as capturas, em anos recentes, outros estudos mostram uma perspectiva bem diferente. Mesmo
com a diminuição do esforço de pesca os “stocks” estarão ameaçados pelas crescentes mortalidades na
pesca, devidas ao aumento do poder de pesca dos próprios navios – situação que deve ser cuidadosamente
controlada.




Albacora (Thunnus albacares)

O albacora é uma espécie bastante apreciada pela sua carne mais clara, principalmente no seio da indústria
conserveira e de restauração.

Maioritariamente pescado no Pacífico Este (25%) e em menor escala no Oceano Atlântico, onde atinge uma
cota de apenas 15% (60% em todo o Pacífico e 25% no Índico). Analisando as capturas por peso verifica-se
que esta é a segunda espécie mais importante a seguir ao bonito, constituindo cerca de 30% das capturas
mundiais.

Apesar da sua alargada distribuição, o albacora parece confinado a águas tropicais em menores latitudes.
Em comparação com o bonito, esta espécie vive mais tempo e alcança maiores dimensões.

O método preferencial de captura são as redes de cerco, contudo, ao contrário do bonito o método dos
palangres flutuantes é também amplamente usado.




                  Figura 28. Ilustração da pesca de atum com palangre flutuante. (fonte:
                        http://www2.convention.co.jp/maguro/e_maguro/e_tuna_facts.html)




                                                                                                    28
   Oceano Pacífico

Desde 1990 as capturas de albacora têm-se mantido relativamente estáveis, após um grande período de
aumento das mesmas. A população de atum divide-se em dois “stocks” neste oceano:

1. “Stock” do Pacífico Oeste.
2. “Stock” do Pacífico Este.

Sendo que, a longitude 150ºW demarca a fronteira entre ambos os “stocks”, Oeste e Este.

No Pacífico Oeste, apesar das poucas evidências de sobre-exploração dos “stocks”, a diminuição das taxas
de capturas e do peso por indivíduo capturado, alertam para essa possibilidade, sendo que devemos estar
atentos a qualquer modificação mais significativa.

Por outro lado o Pacífico Este encontra-se completamente explorado, produzindo muito próximo do seu
máximo, desta forma, já não é possível aumentar o eforço de pesca sem causar efeitos nefastos e a longo
prazo. A pesca de albacora de grandes dimensões apresenta uma mortalidade significativa de golfinhos que
estão a eles associados em grandes cardumes. A utilização de objectos flutuantes na pesca destes atuns
poderá reduzir o impacto nas populações de golfinhos, apesar de este método capt urar espécimens de
menores dimensões.

       Oceano Índico

As capturas aumentaram rapidamente aquando da chegada das frotas Espanholas e Francesas, atingindo
um máximo em 1993, desde então os seus níveis têm-se mantido estáveis.

Considera-se que o Índico possui um único “stock” em toda a sua extensão, contudo, para efeitos de gestão
se os considerarmos dois “stocks”, um Oeste e outro Este acredita-se que ainda é possível aumentar
ligeiramente as capturas na parte Este, de forma sustentável.

       Oceano Atlântico

Neste oceano cerca de 60% do albacora é capturado usando redes de cerco, contudo os palangres
flutuantes e os navios que pescam usando engodo são também métodos de captura muito comuns.

Os indivíduos com um comprimento inferior a 40cm são muitas vezes descartados, pelo seu reduzido valor
commercial. Com o aumento do uso de objectos flutuantes na pesca de albacora, verifica-se um aumento
da captura de espécimens de pequenas dimensões.




                                                                                                    29
A população de albacora constitui, no Atlântico, um único “stock”, cuja postura ocorre nas regiões
equatoriais do Atlântico central. Quando os alevins atingem um determinado comprimento iniciam a sua
migração para a zona Oeste do oceano, podendo migrar para Este quando alcançar perto dos 110cm.

As capturas têm vindo a decrescer desde 1990, com os maiores valores obtidos no Atlântico Este. Estudos
recentes indicam que o “stock” se encontra muito perto do seu máximo de capturas sustentáveis, e, que
qualquer aumento na mortalidade poderá rapidamente levar a situação de sobre-pesca.

Apesar do esforço de pesca não ter aumentado em anos recentes, prevé -se que o aumento da eficiência
das embarcações não está a ser devidamente contabilizado, o que conduz a resultados ilusórios. Desta
forma, existe uma pequena possibilidade do “stock” estar já na fase de sobre-exploração sem que sejamos
capazes de o perceber.

Devido à crescente captura de albacora de pequenas dimensões, o ICCAT (International Commission for the
Conservation of Atlantic Tunas) restringiu a pesca deste com objectos flutuantes, de Novembro a Janeiro,
para reduzir os efeitos nefastos desta prática nas populações.




             Figura 29. Pesca com objecto flutuantes que agregam populações de atum. (fonte:
                               http://www.gap1.eu/Case_Studies/France_Spain.htm)


Em conclusão, verifica-se aumento nas capturas de albacora em todos os oceanos, excepto no Atlântico,
em que as capturas têm vindo a declinar nos últimos 20 anos.




Atum patudo (Thunnus obesus)

O patudo é uma das espécies de atum mais pescada e apreciada no Japão, sendo utilizado como um
substituto do atum rabilo, na preparação das especialidades como sushi – produto de grande importância


                                                                                                   30
no mercado oriental, atingindo o seu pico de vendas por volta do Natal. Este peixe é, na sua maioria
pescado no Pacífico Este (37%), seguido pelos 25% de capturas no Atlântico (ao todo no Pacífico atinge os
60% e apenas 15% no Índico).

                                                               Figura 30. Sushi (conjunto de arroz com
                                                               carne/peixe crus) e sashimi, referente à fina
                                                               fatia de peixe (normalmente atum) cru no
                                                               topo do bolo de arroz. (fonte:
                                                               http://www.nytimes.com/2008/01/23/dining/23sushi.ht
                                                               ml)


O atum patudo é muito semelhante ao albacora a nível morfo e fisiológico, sendo que alguns pescadores
confundem estas duas espécies frequentemente.

Este atum habita águas abaixo da termoclina e, uma das suas mais notáveis adaptações à vida em
profundidade, consiste numa espessa camada de gordura subcutânea, que os isola das frias águas
profundas. Esta camada de gordura torna o patudo um produto de muito valor no mercado de sashimi.

Sendo uma espécie de profundidade, os métodos usados na captura das outras espécies de atuns tiveram
que ser adaptadas. Desta forma, por volta dos anos 70 surgiu o método do palangre fundeado, que,
aplicando o mesmo princípio do flutuante permitiu a captura de atum em profundidade. Com este método
as capturas começaram a aumentar bastante.

       Oceano Pacífico

Durante os anos 80 foram desenvolvidos novos métodos de pescas que permitem uma mais eficaz captura
do atum patudo, esses métodos envolvem o uso de objectos flutuantes (para atrair os atuns), sonares (para
identificar os cardumes) e redes profundas para os capturar.




                                                                 Figura 31. Esquema que ilustra o
                                                                 funcionamento e disposição dos palangres
                                                                 fundeados. (fonte:
                                                                 http://www.afma.gov.au/information/students/metho
                                                                 ds/demersal.htm)




                                                                                                             31
Embora, o atum capturado por este método seja, em geral mais pequeno que aquele que é capturado
usando os palangres. Para além destes dois métodos mencionados, as redes de cerco também são usadas
na pesca de patudo.

Com o aumenta da captura de patudo à superfície (atraído pelos objectos flutuantes) verificou-se um
declínio na pesca em profundidade; o que poderá também ter sido causado pela sobre-exploração do
próprio método. Contudo, o problema torna-se mais grave ao pensarmos no seu efeito no mercado, com o
atum de maiores dimensões (o de maior valor comercial) a aparecer cada vez menos o efeito na economia
de um país ou região poderá ser devastador.

Esta crescente preocupação levou a IATTC (Inter-American Tropical Tuna Commission) a adoptar medidas
de conservação que restringam a captura de patudo usando objectos flutuantes, durante uma parte do
ano.

As capturas de atum patudo encontram-se bastante próximo do máximo sustentável, indicando que
futuros aumentos no esforço pesca poderão conduzir à sobre-pesca dos “stocks”. No Pacífico distribuem-se
em:

1. “Stock” Pacífico Oeste.
2. “Stock” Pacífico Este.


         Oceano Índico

Também neste oceano, se verificou o declínio do uso de navios que praticavam a captura por palangre
fundeado, para dar lugar a capturas à superfície. Contudo, o estado da população de atum no Índico ainda
não é claro. Dado as semelhanças na situação do Pacífico e Índico, tudo indica que neste último as capturas
superficiais devarão ser controladas, para que não ocorra sobre-pesca.

As relações entre as populações das diferentes regiões do Índico são ainda desconhecidas, desta forma,
para efeitos de gestão e estudos científicos considera-se que neste oceano existe um único “stock”.

         Oceano Atlântico

O atum patudo está confinado num único “stock”, apesar da pouca informação disponível que o possa
confirmar. Tradicionalmente, neste oceano o atum era capturado usando palangres, com a introdução das
redes de cerco as capturas cresceram em 30% (apenas no ano em que começaram a ser utilizadas)
continuando com esta tendência nos anos seguintes. Contudo, a partir de 1990, grande parte deste
aumento ocorreu devido ao crescente esforço de pesca, e uso de objectos flutuantes que resultaram, mais
tarde, no aumento de captura de peixes de pequenas dimensões.

                                                                                                      32
Estudos recentes mostram que o “stock” está perto da sobre-pesca, desta forma, as estratégias de gestão
deste precioso recurso terão de ser repensadas. Apesar de o ICCAT ter imposto, à uns anos, um peso
mínimo de capturade 3,2kg esta medida revelou-se ineficaz, uma vez que recentemente 55% do atum
capturado tem um peso inferior.

Esta preocupação, em preservar os “stocks” de atum diminuindo a pesca de pequenos exemplares, é
expressa não só pelos cientistas, mas também por algumas frotas pesqueiras. Estas, recentemente, impõe a
si mesmas limites nas capturas e evitam o uso objectos flutuantes para atrair pequenos atuns.




Atum voador (Thunnus alalunga)

Este peculiar atum apresenta uma carne muito clara, sendo também apelidado “frango-do-mar”. O Pacífico
Norte tem as maiores cotas de captura, 40%, seguido do Atlântico e Mediterrâneo, cujas captura abrangem
uma cota de 25%. Todo o Pacífico é responsável pela captura de 60% de todo o atum, enquanto que no
Índico as produções se ficam pelos 15%.

A carne clara e muito apreciada do atum voador levou a todo um desenvolvimento da indústria dos
enlatados, sendo dos primeiros atuns a ser consumido e comercializado nesta forma. Com o aumento da
demanda, e devido à quantidade limitada deste recurso, começou-se a usar o albacora e bonito como
matérias-primas no fabrico de enlatados, para que esta nova indústria pudesse continuar a crescer.

O atum voador é uma espécie de águas temperadas, que realiza extensas migrações em busca das
condições óptimas para se alimentar e reproduzir. Devido ao seu carácter altamente migratório, as
capturas anuais sofrem imprevisíveis flutuações. Desta forma, não é possível avaliar as tendências das
capturas, nem determinar se os “stocks” estão em sobre-pesca.

                                                Os principais métodos de captura dos atuns desta espécie
                                                são os palangres flutuantes e “trolling”, ambos métodos de
                                                captura à superfície.




                                                Figura 32. Método de captura designado de”trolling” (fonte:
                                                http://www.kongregate.com/forums/2/topics/44070)


       Oceano Pacífico

Existem dois “stocks” distintos neste oceano:


                                                                                                       33
1. “Stock” do Pacífico Norte (entre o equador e a latitude de 40ºN).
2. “Stock” do Pacífico Sul (entre as latitudes 15º e 40ºS, desde a costa do Chile à costa da Nova Zelândia).

Apesar das grandes flutuações nos valores das capturas, verifica-se que a maior parte (60%) provém do
Pacífico Norte. Embora, muitos estudos científicos afirmem que este “stock” se encontra perto da sobre-
pesca, pensa-se que as alterações climáticas vão desempenhar o papel mais importante no valor da
produção futura deste atum.

Por outro lado, são pouco claras as conclusões quanto ao “stock” do Pacífico Sul. Alguns estudos afirmando
que este não se encontra numa situação de sobre-pesca, contudo, os efeitos do aumento das capturas são
ainda difíceis de prever.

       Oceano Índico

                              A introdução de “gillnets” pelágicas como método de captura do atum,
                              aumentou bastante a produção do “stock”, até este ser banido, devido ao seu
                              carácter não selectivo que lesava o ecossistema.




                              Figura 33. Ilustração de “gillnets” pelágicas. (fonte:
                              http://www.greenpeace.org/international/seafood/understanding- the-problem/fisheries-
                              problems-today/midwater-gillnets-2)


Como consequência, as capturas diminuiram novamente e, actualmente, considerando-se que existe um
único “stock” neste oceano, não se conhecendo o seu estado actual, e sendo incerto o resultado de um
aumento do esforço de pesca.

       Oceano Atlântico

Á semelhança do que ocorre nos restantes oceanos, as capturas de atum não evidenciam nenhuma
tendência, positiva ou negativa. A população atlântica de atum voador divide -se em três “stocks”:

1. “Stock” Atlântico Norte.
2. “Stock” Atlântico Sul.
3. “Stock” do Mar Mediterrâneo.

De forma geral, as capturas com palangres flutuantes têm vindo a decair, sendo compensadas por um
maior esforço usando outras técnicas. Apesar dos estudos pouco esclarecedores, acerca do estado dos
“stocks” acredita-se que, o Atlântico Norte está perto da total exploração, sem possibilidade de aumentar
esforços de pesca para níveis sustentáveis.

                                                                                                                  34
No caso do Atlântico Sul, as populações não aparentam estar a sofrer sobre-pesca, contudo, devido à
incerteza inerente aos dados usados nestes estudos, foi decidido que o esforço de pesca não deverá ser
aumentado. Quanto ao “stock” do Mediterrâneo, os estudos realizados não mostram qualquer resultado
conclusivo.




Atum rabilo (Thunnus thynnus thynnus)

Espécie de crescimento lento e vida longa, alguns indivíduos podem viver mais de 25 anos. As capturas
deste peixe, em termos de peso, são as menos importantes. Contudo, devido às suas caracteríticas únicas:
tamanho, cor, textura e alto conteúdo em gordura tornam este peixe na principal matéria prima para o
mercado do sashimi, atingindo os maiores preços no mercado.




               Figura 34. Venda de atum rabilo, no mercado do peixe de Tóquio, Japão. (fonte:
                     http://coexploration.org/ngs/EarthDay/fishmarket_with_bluefin_lined-up300.jpg)


Para diferenciar as populações de atum novas técnicas têm vindo a ser desenvolvidas, uma delas consiste
na análise de otólitos.

Os otólitos são uma interessante fonte de informação que, ao precipitar durante o crescimento do peixe
vão integrar elementos do meio, numa matriz de aragonite e proteína. Desta forma, a análise dos
elementos pode dar-nos uma ideia do espaço e do tempo que o indivíduo percorreu. Embora, a principal
função destes componentes ósseos seja a audição e equilíbrio.




                                            Figura 35. Fotografia de um otólito de atum rabilo (fonte:
                                            http://www.science-in-salamanca.tas.csiro.au/themes/tuna.htm)



                                                                                                            35
A análise de otólitos tem tido uma crescente utilização na diferenciação de “stocks” (não apenas para o
caso do atum rabilo), uma vez que estes constituintes são metabolicamente inertes, não sendo absorvidos
pelo organismo. Desta forma, a sua estrutura mantém-se e não sofre alterações ao longo do tempo, apenas
passa a integrar novos elementos sem afectar a constituição anterior.

       Oceano Pacífico

No Pacífico poucos são os estudos que elucidam acerca da composição e localização dos “stocks”, contudo,
para efeitos de gestão consideram-se duas regiões distintas:

1. “Stock” Pacífico Noroeste.
2. “Stock” Pacífico Este.

No primeiro “stock” as maiores capturas ocorrem perto do Japão. Este peixe de elevada importância e
preço no mercado japonês é capturado utilizando diversas técnicas, desde cerco, palangres e mesmo
armadilhas fixas. Somente o Japão é responsável pela captura de 60% do total de atum rabilo produzido
pelo Pacífico.

Com a progressiva diminuição da captura de atum no Pacífico Este, a taxa de migração deste peixe para
esta região decaiu, uma vez que, a própria pesca parece estimular os “stocks” aumentando os
recrutamentos após anos de grandes capturas; isto se, os níveis forem dentro dos limites sustentáveis.

       Oceano Atlântico

De acordo com observações recentes, dos movimentos dos atuns neste oceano, existe um certo grau de
mistura entre os dois “stocks” de rabilo. Sendo que mesmo estudos genéticos têm tido dificuldade em
contrariar a hipótese de um único “stock” no Atlântico.

Contudo, e para efeitos de gestão, ainda se considera que a população do Atlântico se divi de em dois
“stocks” pela longitude 45ºW:

1. “Stock” Atlântico Oeste.
2. “Stock” Atlântico Este (incluindo o Mediterrâneo).

Com o declínio das capturas no Atlântico Oeste o ICCAT decidiu impor limites, definindo cotas, que
variavam entre 2 e 3 mil toneladas. Embora estudos recentes demostrem que as cotas têm que ser
inferiores para que o “stock” possa repor os seus níveis iniciais de biomassa.

No Atlântico Este a situação é um pouco diferente, com o declínio das capturas a partir de 1996, verificou -
se que a produção do Mediterrâneo começou a aumentar e, actualmente é o maior responsável pela
produção actual desta região do Atlântico.

                                                                                                         36
No entanto, as capturas no Mediterrâneo têm atingido níveis preocupantes com os cientistas a prever uma
situação de sobre-pesca e completo esgotamento do “stock”. Com as frotas pesqueiras a capturarem atum
indiscriminadamente, ignorando quaisquer recomendações científicas.




                 Figura 36. Pesca de atum rabilo no Mediterrâneo com redes de cerco. (fonte:
                            http://www.wildlifeextra.com/go/news/bluefin-tuna829.html#cr)


Em comparação, o “stock” Este cobre uma maior área que o Oeste, desta forma, mesmo que o grau de
mistura entre ambos seja limitado prevê-se que, a sobre-pesca no Atlântico Oeste possa afectar
negativamente os programas de conservação no outro lado do oceano. É por esta razão que muitos
cientistas acreditam que nos programas de gestão e conservação o Atlântico devia ser considerado um
único “stock”.




                                                                                                  37
Conclusão e Discussão
Actualmente, a pesca encontra-se muito perto de uma crise global, com a maioria dos “stocks” importantes
a enfrentarem o desafio da sobre-pesca e das frotas insaciáveis e, por vezes, ilegais, que não estão ainda
cientes da fragilidades destes recursos.

O combate contra a pesca ilegal, não reportada e não regulamentada deve tornar-se uma prioridade para
os governos, uma vez que ainda carecemos de leis e normas que protejam os “stocks” no alto mar. Nestas
zonas, não contempladas na “Convenção das Nações Unidas sobre os direitos do Mar” (Lei do Mar), são
essencialmente capturadas espécies migratórias como o Atum. Para além disso, há também a carência de
uma entidade reguladora que tenha direitos em alto mar para controlar as capturas desmesuradas e a
pirataria.

A quebra das capturas mundiais não irá só afectar a economia, as suas consequências serão muito mais
profundas, afectando as regiões piscatórias que dependem inteiramente da pesca para sobreviver.
Deixando estas comunidades sem sustento e os milhões de trabalhadores do sector da pesca sem
emprego.

As comunidades piscatórias vivem, muitas vezes, à margem de uma socie dade que não as compreende e
tem dificuldades em as aceitar. As artes de pesca e conhecimento sobre o funcionamento da natureza são
passados de geração em geração, acumulando observações de anos, mesmo séculos de trabalho. Se os
recursos se esgotarem, nestas comunidades, para além de ficarem sem a sua fonte de sustento, o seu
conhecimento acabará por cair no vazio, pois certamente terão que investir noutras áreas para poderem
sobreviver.

Embora, actualmente, se comece a investir na Aquacultura como forma de obtenção de pescado , os
progressos feitos estão longe de ser desejáveis. Com uma indústria que provoca ainda grandes alterações
no ecossistema e, com os preços elevados e a incorporação de farinhas de peixe nas rações, diria que ,
ainda faltam alguns anos até que as fórmulas ideais e uma alternativa viável à farinha sejam descobertas.

Contudo, até lá, deve-se investir em campanhas de sensibilização da população e valorização da pesca
artesanal, que, apesar de pouco produtiva, está em equilíbrio com o ecossistema, provocando nele poucas
alterações.

Os “stocks” de atum enfrentam também o problema da sobre -pesca, agravado pela falta de
regulamentação em alto mar, onde são muitas vezes capturados. Estas espécies são parte importante da
cultura de muitas sociedades, sendo a indústria de enlatados uma grande fonte de postos de trabalho. No
caso do atum rabilo, usado no Japão como matéria prima do sushi e sashimi, é um dos pilares de uma

                                                                                                      38
cultura rica e inesgotável, contudo, a demanda incansável e exploração insustentável deste recurso cedo
levarão à sua extinção se não forem controlados.




Bibliografia
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                                                                                                         39

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Estado actual das pescas

  • 1. Universidade do Porto Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar Licenciatura em Ciências do Meio Aquático – 2008/09 Ictiologia e Biologia Pesqueira Ana Catarina da Silva Pereira Reis Porto, Setembro de 2009
  • 2. Índice Introdução............................................................................................................................................ 3 Estado actual das pescas...................................................................................................................... 4 Produção global da Pesca................................................................................................................. 5 Capturas em águas interiores .......................................................................................................... 9 Usos do pescado............................................................................................................................. 10 Papel da pesca artesanal na diminuição da pobreza ..................................................................... 12 Os atuns ............................................................................................................................................. 13 Descrição das espécies ................................................................................................................... 17 Atum-bonito................................................................................................................................ 17 Albacora ...................................................................................................................................... 19 Atum patudo ............................................................................................................................... 21 Atum-voador ............................................................................................................................... 22 Atum rabilo ................................................................................................................................. 24 Caracterização dos “stocks” de atum ............................................................................................ 26 Conclusão e Discussão ....................................................................................................................... 38 Bibliografia ......................................................................................................................................... 39 2
  • 3. Introdução Na elaboração de um trabalho, cujo o tema é tão abrangente quanto controverso, tornou-se necessário seleccionar os tópicos mais influentes na actualidade. Com o desenvolvimento destes tópicos pretende -se fornecer uma síntese objectiva capaz de servir de base para a formulação de opiniões. Antes do Homem se dedicar ao cultivo e criação de animais já a pesca era indispensável para a sua sobrevivência. Com origem na pré-história, os seus métodos evoluiram muito com o passar dos séculos, sendo o anzol considerado o primeiro verdadeiro instrumento de pesca. Figura 1. Pesca no antigo Egipto. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Egyptian_fishery3.jpg) A pesca do atum tem também uma vasta tradição e importância nas sociedades humanas e, como dois grandes, embora intimamente relacionados, temas, a sua exposição e desenvolvimento encontram-se subdividida em dois tópicos centrais:  Estado actual das pescas Mundiais – cujas conclusões se baseiam nos resultados apresentados pela FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) no seu relatório: “The State of World Fisheries and Aquaculture - 2008”.  Definição e análise dos actuais “stocks” de Atum Na elaboração deste último ponto apenas são referidas as espécies com mais interesse comercial, para que o trabalho não se torne demasiado extenso e a informação excessiva e desnecessária. O termo “stock”, amplamente utilizado, na pesquisa usada para a elaboração do trabalho, nem sempre corresponde a um grupo isolado a nível genético. Por vezes, refere-se a um grupo de indivíduos que possuem um fenótipo semelhante e que partilham um percurso de vida idêntico na mesma região geográfica. Apesar desta definição parecer um pouco irrealista, uma vez que mesmo estudos genético s têm tido dificuldades em diferenciar os “stocks”, a sua atribuição torna-se essencial para a gestão dos recursos pesqueiros. Área que tem ganho importância nos últimos tempos, com o crescente esgotamento dos recursos pesqueiro e, por conseguinte, ameaça ao futuro da Pesca tal como a conhecemos. 3
  • 4. Estado actual das pescas Capturas totais, resultantes do esforço conjunto da Pesca e Aquacultura produziram, em 2006, cerca de 110 milhões de toneladas de pescado (dos quais 47% provêm apenas de Aquacultura), fornecendo um aparente valor per capita de 16,7 kg, sendo este um dos valores mais elevados alguma vez registados. Excluindo a China, o alimento proveniente do mar tem crescido a uma taxa de 0,5% per capita por ano. Embora este aumento represente algo muito positivo, há que ter em conta que a distribuição mundial não é homogénea, logo, enquanto alguns países gozam de uma certa abundância de pescado, outros poderão ter um défice do mesmo. Figura 2. Produção mundial de pescado no esforço conjunto da pesca e aquacultura. (fonte: “The state of world fisheries and aquaculture – 2008”, FAO) Actualmente, a produção de pescado tem contribuído com cerca de 15% da proteína animal necessária per capita. Embora, o seu consumo em regiões com baixos rendimentos familiares seja superior, uma vez que, nas regiões mais isoladas, muitas das comunidades dependem da pesca para sobreviver. Assim, 18,5% da proteína animal ingerida, nestas comunidades, provém do pescado. Figura 3. Comunidade piscatória no Lago Vitória, Kenya. (fonte: http://www.iec.ac.uk/wifip_%20intro_part1.html) 4
  • 5. Entre os maiores produtores de pescado encontra-se a China, Peru e Estados Unidos da América. Sendo a China o líder deste sector, com uma produção de 51,5 milhões de toneladas em 2006, e um aparente fornecimento de 29,4 kg de pescado per capita. Contudo, devido a várias falhas nas estatísticas apresentadas e devido à grande importância e influência dos seus valores nas estatísticas mundiais, a China é discutida como um caso aparte. As capturas de pescado têm-se mantido estáveis na última década, com pequenas flutuações devidas às inconstantes capturas de anchovas. Estas flutuações na produção de anchova (espécie com maiores capturas a nível de peso) ocorrem devido à vulnerabilidade desta a alterações, causadas pelo fenómeno – El Niño (no Pacífico Sudeste). Embora estas flutuações tendam a ser compensadas por variações nas capturas de outras espécies. Figura 4. Cardume de anchovas (fonte: http://www.geocities.com/aquasendas/anchovetas01.jpg) Produção global da Pesca A produção global das Pescas em 2006, de acordo com o relatório da FAO, foi cerca de 92 milhões de toneladas. Valor que representa um decréscimo de 2,2 milhões, em comparação com as capturas de 2005. Tal como se verificou noutros anos, esta variação das capturas foi, maioritariamente causada pela flutuação nas capturas de anchovas. As capturas no meio marinho, por seu lado, atingiram os 81,9 milhões de toneladas em 2006, o terceiro valor mais baixo desde 1994. Apenas em 1998 e 2003 se verificou uma produção inferior e, nestes anos considera-se que a drástica diminuição na captura de anchovas será o principal responsável. Enquanto se verificou este decréscimo nas capturas totais e marinhas, as capturas em águas interiores aumentaram significativamente entre 2005 e 2006. Sendo a região asiática a principal responsável, capturando cerca de 2/3 do total. Este aumento, terá sido proporcionado por práticas que permitiram uma melhor exploração dos “stocks”, no entanto, prevê-se que, a melhoria nos métodos de recolha de informação, onde esta era escassa, terá dado um grande contributo. 5
  • 6. De acordo com análises preliminares apresentadas no relatório da FAO, as capturas mundiais, no meio marinho (excluindo a China), aumentaram cerca de 3% em 2007 (valores não apresentados no gráfico abaixo), em comparação com o anterior ano. E contudo, a China mostrou, nesta fase, uma tendência contraditória, com a diminuição das suas capturas em mais de 2 milhões de toneladas. Estes resultados, apresentados pela China foram precedidos por um ajustamento ao seu sistema de recolha de dados, assim sendo, pensa-se que não haverá nenhum decréscimo real, apenas que as estatísticas anteriores eram mais optimistas que a realidade. Figura 5. Produção mundial de pescado na Pesca. (fonte: “The state of world fisheries and aquaculture – 2008”, FAO) Focando-nos agora nas análise das capturas por Oceano: verifica-se um aumento no Pacífico e Índico Oestes, e uma diminuição das capturas no Oceano Atlântico. No Índico Este, as capturas voltaram a crescer em 2006, depois do decréscimo no ano anterior causado pelos efeitos destrutivos do tsunami em Dezembro de 2004. Pelas estatísticas fornecidas à FAO, os países mais afectados pelos efeitos do tsunami foram o Sri Lanka (51,1% de decréscimo na produção), Malásia (-12,1%) e Índia (-8,4%). Embora, a parte Oeste da Indonésia tenha sido fortemente afectada, este desequilíbrio foi compensado com o aumento das capturas noutras regiões do país. Figura 6. Costa Oeste da Indonésia, antes (esquerda) e depois (direita) da passagem devastadora do tsunami em Dezembro de 2004 (fonte: guardian.co.uk) 6
  • 7. No que diz respeito às capturas por espécie verificou-se um aumento em diversos grupos durante 2006, com um novo recorde na captura do atum bonito (skipjack tuna), atingindo as 6,4 milhões de toneladas. Contudo, o mesmo não se verificou no caso do albacora (yellowfin tuna), cujas capturas diminuiram já 20% desde o máximo atingido em 2003. Figura 7. Gráfico que ilustra a captura das dez mais importantes espécies do meio marinho em milhões de toneladas. (fonte: “The state of world fisheries and aquaculture – 2008”, FAO) As espécies do gráfico anterior, no seu total, contribuem em 30% para as capturas globais no meio marinho. Os seus “stocks”, submetidos a estudos e análises estatísticas, mostram estar totalmente explorados ou mesmo sobre-explorados. Sendo o Atlântico Nordeste, Índico Oeste e Pacífico Nordeste as regiões onde esta tendência é mais preocupante. A análise geral do estado dos recursos marinhos pesqueiros confirma que, as proporções de “stocks” sobrexplorados (28%), esgotados (8%) e em recuperação(1%) permanecem estáveis durante os últimos 10- 15 anos. Cerca de 52% dos “stocks” encontra-se totalmente explorado, perto do máximo de capturas e sem possibilidade de expansão. E apenas 20% permanence moderadamente explorado ou subexplorado, com uma pequena possibilidade de produzir mais do que produz actualmente. De acordo com uma visão global da situação prevê-se que, o potencial de exploração pesqueira dos oceanos terá sido atingido. Assim, torna-se urgente aperfeiçoar as políticas de gestão destes recursos, particularmente no caso de espécies altamente migratórias (como os atuns) e espécies que são maioritariamente capturadas em alto mar. 7
  • 8. Apesar deste trabalho tratar apenas o estado actual das Pescas, recentemente tem sido difícil distanciá-las da Aquacultura. Isto ocorre porque, com a sobre-pesca da maioria dos “stocks” e com o aumento da população mundial, a Pesca deixará de ser suficiente para suprir as necessidades de todos. A aquacultura surge como um sector que complementa essas necessidades que, todavia, se encontra longe de ser uma indústria sustentável, que não danifique os ecossistemas. Este sector é dominado pela região Pacífico-asiática, responsável por 89% da produção mundial. No entanto, o seu crescimento tem sido incrivelmente lento, com a crescente preocupação pública sobre as práticas desta indústria e dúvidas sobre a qualidade real do produto. Em resposta a estas dúvidas, actualmente, tem-se investido em sistemas integrados de aquacultura (com o cultivo de várias espécies em simultâneo e reciclagem dos resíduos por organismos filtradores, promovendo sustentabilidade económica e ambiental) e aquacultura orgânica que, à semelhança da agricultura praticada nesse mesmo estilo pretende causar o mínimo de impactos negativos no meio ambiente e serenar as exageradas preocupações, expressas pela população, acerca da qualidade de um produto criado em cativeiro com alimento artificial. Figura 8. Cultivo simultâneo de peixe, plantas e crustáceos (na rede), exemplo de uma aquacultura integrada no Kenya. (fonte:http://www.azote.se/index.asp?q=Max%20Troell&id=14137&p=1&lang=eng) Para além do papel óbvio que a Pesca e Aquacultura desempenham no fornecimento de alimento, este sector é uma importante fonte de postos de trabalho. Estima-se que, em 2006, 43,5 milhões de pessoas estavam ligadas a esta indústria. Nas últimas três décadas os postos de trabalho criados pela Pesca e Aquacultura superaram o crescimento da população mundial e o número de postos de trabalho em Agricultura. Todavia, analisando as estatísticas globais o número de pessoas envolvidas nas Pescas tem vindo a declinar em cerca de 12% no período de 2001-06. Desta forma, o maior contributo na criação de postos de trabalho deve-se à Aquacultura. 8
  • 9. A maioria dos pescadores pratica, ainda, uma pesca artesanal de pequena escala, operando em águas interiores ou costeiras. Capturas em águas interiores Em 2006 as capturas em águas interiores excederam os 10 milhões de toneladas (mais de 10% das capturas totais), atingindo um novo recorde. Comparado com as capturas em 2004 o presente valor representa um aumento de 12,8%. Contudo, resta saber se, este aumento se deve às capturas reais ou se, pelo contrário é o resultado das melhorias nos métodos de recolha de informação. A nível mundial é a Ásia quem mais se destaca neste sector, com a captura de 2/3 do total referido; produzindo 2,4 milhões de toneladas a África ganha um segundo lugar nesta contagem, apesar da sua produção ter diminuido 2,7% em 2006. Enquanto que, o continente Americano dá mostras de uma ligeira redução na produção de pescado, a Europa mostra uma tendência contrária, recuperando dos reduzidos valores registados em 2004 (sendo a Rússia responsável por 60% da produção europeia). Figura 9. Países que apresentam maiores valores na captura em águas interiores. (fonte: “The state of world fisheries and aquaculture – 2008”, FAO) 9
  • 10. Analisando a produção por país (figura 9) verifica-se que a China, e outros países em vias de desenvolvimento são responsáveis, no seu conjunto, por 95% de todas as capturas em águas interiores. Estes resultados não são inesperados, uma vez que, nestes países a pesca artesanal em cursos de água doce ou estuarina são uma importante fonte de sustento das pequenas comunidades piscatórias. Pelo contrário, em países desenvolvidos verifica-se uma redução acentuada deste tipo de pesca, dado lugar ao desenvolvimento em grande escala da pesca desportiva. Figura 10. Concurso de pesca deportiva de Santo Tirso. (fonte: http://www.cm- stirso.pt/index.php?Itemid=247&id=421&option=com_content&task=view) Uma vez que a pesca em águas interiores não apresenta os mesmos sinais de sobre-exploração do meio marinho pensa-se que, adoptando uma política de precaução, este sector possa ser mais desenvolvido, sem riscos para o meio ambiente. De acordo com diversos estudos efectuados verifica-se que, tanto a pesca como o próprio ecossistema das águas interiores são altamente complexos. Apesar de tudo, a pesca não parece afectar significativamente o ecossistema e, desta forma, os “stocks” são principalmente afectados processos ambientais e alterações no clima, desde flutuações no afluxo de água (cheias, secas, etc.) a variações no “input” de nutrientes (que pode ser de origem natural ou causado pela poluição). No entanto, os impactos causados pelo Homem no ecossistema não devem ser ignorados, com a introdução de espécies exóticas, poluição, fragmentação de habitats (devios de cursos de água, construção de barragens, etc.), estes frágeis ecossistemas suportam uma pressão antropogénica que poderá reduzir para além de qualquer esperança os seus preciosos “stocks”. Em suma, a gestão destes recursos pesqueiros, importante fonte de subsistência em regiões mais isoladas e empobrecidas, carece de uma abordagem ecossistémica para que possam ser preservados. Usos do pescado De acordo com dados de 2006, cerca de 77% das capturas mundiais tive ram como destino final o consumo humano. Quanto à restante produção, esta foi aplicada em produtos não-alimentares, como as farinhas e 10
  • 11. óleos de peixe. A quantidade de pescado usado no fabrico de farinha de peixe superou os 20 milhões de toneladas, apresentando, apesar de tudo, uma queda de 14% desde 2005. Do pescado usado para consumo humano, 48,5% foi comercializado na forma viva ou fresca (produtos que atingem os maiores preços no mercado). Enquanto que, 54% de toda a produção mundial sofreu algum tipo de processamento: 74% do peixe processado foi usado para consumo humano directo (congelado, curado ou preparado) e o restante para usos não alimentares. O congelamento, é o principal processo utilizado na preservação de produtos destinados a consumo humano, alcançando 50% de todos os produtos processados, seguido de produtos preparados ou pré- cozinhados (29%) e produtos fumados (21%). Apesar de que, em Portugal este último tipo de processamento em pescado não ser muito tradicional e poucos destes produtos serem vendidos com êxito no nosso país (se calhar, com a excepção do salmão fumado). Figura 11. Principais usos do pescado. (fonte: “The state of world fisheries and aquaculture – 2008”, FAO) O processamento do pescado tem sofrido várias alteração ao longo das passadas duas décadas, influenciado tanto pelos avanços na tecnologia, logística e transporte como também pela crescente importância que a indústria coloca nos gostos dos consumidores. Uma importante aplicação do pescado surgiu na área farmacêutica, com a exploração do pescado como fonte de moléculas bioactivas. 11
  • 12. Papel da pesca artesanal na diminuição da pobreza “The concept of poverty includes different dimensions of deprivation.” Definir o conceito de pobreza revelou-se uma tarefa complexa, contudo, é aceite que a pobreza representa várias dimensões de privação. Estas relacionam-se com os vários graus da necessidade humana, como o poder de compra, segurança (incluindo alimentar), saúde, educação, direitos, dignidade e trabalho decente. Os pescadores vivem, geralmente, em comunidades remotas e isoladas. Estas regiões caracterizam-se por estar mal organizadas, sem representação política e, geralmente mais expostas a desastres naturais. O isolamento social faz com que não tenham a oportunidade de melhorar os serviços que, em comunidades desenvolvidas são dados como garantidos. Desta forma, o seu estilo de vida nem sempre depende das capturas pesqueiras. Apesar de, nalgumas comunidades a sobre-exploração provocar a pobreza, o que se verifica na maioria dos casos é que, mesmo com um número razoável de capturas, os cidadãos continuam sem ter acesso a serviços essenciais que permitam melhorar o seu nível de vida. O facto da maior parte destas comunidades piscatórias (principalmente em África e Ásia) serem nómadas aumenta a sua exposição a condições de privação e pobreza. Para além das óbvias privações na saúde e acesso a condições sanitárias decentes, estas comunidades nómadas tendem a ser marginalizadas pela restante sociedade por não terem “voz” e, por vezes se caracterizarem por crenças muito próprias e fechadas. Apesar de serem ainda incompreendidas e pouco se saber acerca do seu contributo real para a economia, as suas condições de vida são vulneráveis e, por isso devem ser protegidas. Tendo em conta os impactos negativos que a pesca pode ter num ecossistema, sabe-se que, em pequena escala esta pode representar algumas vantagens, comparando com uma escala industrial:  Menos impactos ambientais;  Capacidade de partilhar a riqueza e os benefícios sociais obtidos de forma descentralizada;  Forte contributo para a herança cultural, devido aos seus grandes conhecimentos sobre o funcionamento dos ecossistemas. As medidas que dão acesso preferencial aos Pescadores de pequena escala podem, de facto proteger os recursos. Um exemplo foi a implementação de uma lei que dava prioridade aos pequenos Pescadores , nos mares Java e Sumatra, pelo governo da Indonésia em 1980. Esta decisão ajudou a preservar os recursos do Java, aumentando a criação de postos de trabalho e uma maior e equilibrada distribuição da riqueza. 12
  • 13. Figura 12. Barcos de pesca num porto do Mar de Java. (fonte: http://www.planetpinkngreen.com/when-we- ceased-vacationing-and-started-traveling/) Os atuns Os atuns assumem um papel de importância nas sociedades humanas desde há milhões de anos, sendo tal facto comprovado por achados arqueológicos que datam de há 6 000 anos. Contudo, o seu valor não parece ter diminuido ao longo da história, pelo contrário, actualmente este continua a ser dos peixes mais capturados e consumidos. Encontra-se disponível nas mais variadas formas:  Cru;  Fumado;  Seco;  Enlatado (sendo esta a forma preferencial de consumo), etc. Figura 13. Fotografia que ilustra o aspecto que adquire o atum enlatado. (fonte: http://www.alibaba.com/product/yehudama-11371177-10894041/Canned_Tuna.html) Mas não é apenas no sector do consumo humano que estas espécies adquirem importância. As suas adaptações a um estilo de vida em constantes migrações, tanto horizontais como verticais, não deixam de 13
  • 14. nos surpreender. A par dos espadins e espadartes, os atuns são os únicos peixes ósseos conhecidos capazes de conservar o calor interno (metabólico), associando a função muscular ao sistema circulatório. Esta capacidade designa-se de endotermia. Para entender o seu papel e lugal na escala evolutiva, encontra-se, de seguida, detalhada a sua classificação taxonómica. Reino: Animalia Filo: Chordata Classe: Actinopterygii Infraclasse: Teleostei Supra ordem: Acanthopterygii Ordem: Perciformes Família: Scombridae (constituída por 2 sub-famílias) Sub-família: Scombrinae (constituída por 4 tribos) Tribo: Thunnini Género: Katsuwonus (espécie: K. pelamis) Género: Thunnus Espécies: T.alalunga T. maccoyii T. obesus T. thynnus Subespécie: T. thynnus thynnus T. thynnus orientalis T. albacores T. atlanticus T. tonggol Quanto à sua distribuição pelos oceanos, é sabido que, o Pacífico reúne cerca de 67% das unidades populacionais de atuns, enquanto que o Índico reúne apenas 21% e, ao Atlântico restam uns meros 12%. As capturas, são altamente influenciadas por esta distrbuição natural. De acordo com estatísticas de 2000, é no Pacífico que decorre a sua maioria (cerca de 60%), com a excepção do atum rabilo. Das zonas do Pacífico, a zona central oeste é a responsável pela maior parte da produção referida, cerca de 30% da produção mundial. 14
  • 15. Figura 14. Capturas de atum por oceano. (fonte:http://www.fao.org/docrep/005/y4499e/y4499e05.htm#bm05.2) Analisando as tendências dos métodos de captura, verifica-se que cerca de 65% do atum é capturado usando preferencialmente redes de cerco, contra os restantes métodos de pesca com linhas que não permitem capturas em grandes quantidades. Figura 15. Pesca de atum com rede de cerco com retenida. (fonte: http://tunaseiners.com/blog/wp- content/uploads/2009/07/purse-seine-net.jpg) Analisando atentamente o anterior gráfico (figura 14) verifica-se que, no caso do Oceano Índico, antes dos anos 80, este era responsável pela captura de apenas 8% do atum, sendo o Sri Lanka e as Maldivas os países que maior contributo deram para esta estatística. Contudo, no princípio dessa década, as frotas pesqueiras Francesas e Espanholas, enfrentando a crescente escassez de capturas no Atlântico, expandiram a sua exploração ao Índico oeste, com o aumento exponencial nas capturas de bonito e albacora. 15
  • 16. Com este investimento, das frotas europeias no Índico, a produção de atum aumentou para 20%. Sendo o bonito e o albacora as espécies mais capturadas, alcançando os 80% nas capturas totais neste oceano. O Atlântico, por seu lado, produz apenas 14% do atum a nível mundial, sendo que 11,2% das capturas ocorrem no Atlântico Este. Apesar da pesca artesanal destas espécies existir desde o século XII (especialmente sob a forma de armadilhas no Mediterrâneo), apenas a partir dos anos 50 se verificou um forte investimento na pesca em grande escala. Nesta altura, as capturas aumentaram lentamente até aos inícios dos anos 80, quando as frotas pesqueiras partiram para explorar os recursos no Índico, e, desde aí mantiveram-se estáveis. Analisando as tendâncias nas capturas por espécie, verifica-se um crescimento regular, em todas elas, ao longo de todo o período representado. A partir de 1984, ocorre um aumento na taxa de crescimento, devido à exploração de novos locais de pesca no Pacífico e Índico Oestes. Embora este sector não dê mostras do seu enfraquecimento, desde 1990 que não são descobertos novos locais de pesca (de dimensões relevantes) e, grande maioria dos existentes encontra-se ameaçado pela poluição e sobre- pesca. Desta forma, os aumentos das capturas foram uma consequência do avanço tecnológico e melhorias nas artes de pesca. Figura 16. Captura de atuns por espécie ao longo do tempo. SKJ – bonito; YFT – atum amarelo; BET – atum patudo; ALB – atum voador. (fonte:http://www.fao.org/docrep/005/y4499e/y4499e05.htm#bm05.2) 16
  • 17. Descrição das espécies Atum-bonito Nome científico: Katsuwonus pelamis Figura 17. Ilustração do bonito. (fonte: http://www.flmnh.ufl.edu/fish/gallery/Descript/SkipjackTuna/SkipjackTuna.html) Nomes comuns: bonito, gaiado, listado, barriga-listada, bonito-de-ventre-raiado, sarrajão. Dimensões: pode atingir os 108 cm de comprimento e os 35 kg, contudo as suas dimensões mais comuns não ultrapassam os 75 cm e dos 23 kg de peso. Longevidade: 4,5-8 anos, aos 1,5anos atingem a maturidade sexual, quando chega aos 45cm de comprimento e 1,5Kg de peso. Distribuição geográfica: superfície de águas tropicais e subtropicais de todos os oceanos, principalmente entre as latitudes 20ºN e 10ºS. No Atlântico está presente em toda a costa europeia até ao Mar do Norte, contudo está ausente no Mediterrâneo e Mar Báltico. 17
  • 18. Figura 18. A zona a vermelho no mapa marca a distribuição geográfica do atum bonito. (fonte: http://www.flmnh.ufl.edu/fish/gallery/Descript/SkipjackTuna/SkipjackTuna.html) Habitat: espécie epipelágica, em águas com temperaturas de 14,7 a 30ºC. Durante o dia permanece à superfície, enquanto que de noite pode mergulhar até aos 260m. Forma com frequência cardumes agrupados por tamanhos. Pensa-se que, os indivíduos de menores dimensões, não são capazes de acompanhar as grandes velocidades dos atuns maiores, por isso ficam na “cauda” do cardume. Estes podem ser mono ou multi-específicos, sendo frequente a sua associação com mamíferos marinhos, tubarões e mesmo objectos flutuantes. Alimentação: predador oportunista, essencialmente ictiófago, embora se alimente também de crustáceos e moluscos. O pico da alimentação ocorre no final da madrugada e ao cair da noite. Os indivíduos de menores dimensões normalmente alimentam-se em grupo, enquanto que os maiores são mais solitários. Reprodução: espécie ovípara, com desovas múltiplas durante todo o ano nos trópicos, contudo, estas tornam-se mais espaçadas, no tempo, à medida que as populações se afastam do equador. A fecundidade parece estar dependente do tamanho da fêmea, cada uma pode produzir cerca de 80.000 a 2.300.000 óvulos em cada postura. O desenvolvimento larvar dura cerca de 20 dias. 18
  • 19. Albacora Nome científico: Thunnus alcabacares Figura 19. Ilustração do albacora. (fonte: http://www.pattyanncharters.com/image/yellowFin%20Tuna.jpg) Nomes comuns: albacora, atum-de-galha-à-ré, alvacor, atum-de-barbatana-amarela, atum-amarelo. Dimensões: peixe de crescimento rápido, pode chegar aos 170-200cm de comprimento e aos 175-200 kg de peso. Longevidade: 7,5 anos e alcança a maturidade sexual aos 2,5-3 anos, quando atingem os 105 cm. Distribuição geográfica: Presentes em águas tropicais e subtropicais, com uma distribuição contínua, preferencialmente entre as latitudes 35ºN e 20ºS. Ausente no Mar Mediterrâneo e raramente visto nos mares continentais de Portugal. No Atlântico os Açores marcam o limite norte da distribuição desta espécie. 19
  • 20. Figura 20. Mapa que marca a distribuição (vermelho) do albacora. (fonte: http://www.flmnh.ufl.edu/fish/gallery/Descript/YellowfinTuna/yellowfintunabasemap.JPG) Habitat: espécie epipelágica, habita os primeiros 100m da coluna de água, onde o oxigénio é mais abundante e as temperaturas variam dos 18 aos 31ºC. Forma com muita frequência cardumes, agrupados essencialmente por tamanhos, com os espécimens de maiores dimensões na dianteira. Associam -se frequentemente com outras espécies de atuns, como os bonitos e atum-patudo, e, no Pacífico chega a associar-se a golfinhos, comportamento pouco frequente noutros oceanos. Muitas vezes associam-se a objectos flutuantes, comportamento explicado por várias hipóteses: o objecto serve como substrato para a postura de ovos, local de remoção de parasitas (pelos organismos que vivem neste substrato) ou pode mesmo ser visto como mais um indivíduo integrante do cardume. Em mergulhos profundos estes cardumes têm a tendência a dissociar-se, uma vez que há menos ameaças de predadores e esta formação deixa de ser benéfica. Alimentação: à semelhança das outras espécies de atuns, é um predador não selectivo, alimentando-se geralmente de peixes, cefalópodes (lulas) e crustáceos. Ao capturar as suas presas perto da superfície indica que esta espécie depende da sua desenvolvida visão para se alimentar. Reprodução: espécie ovípara, cuja época de desova está limita a 6 meses no ano, durante os meses de maior calor, diferentes em cada hemisfério. As posturas ocorrem em alto mar e cada fêmea pode libertar até 6.000.000 óvulos. A desova, contudo, será influenciada pela temperatura e salinidade, com 26ºC a constituir o limite inferior para que esta ocorra. O desenvolvimento larvar decorre durante 28 dias, com as larvas a apresentar características muito particulares: um único ponto de pigmento ne gro debaixo do “queixo” e a ausência de pigmentação na barbatana caudal. 20
  • 21. Atum patudo Nome científico: Thunnus obesus Figura 21. Ilustração do atum patudo. (fonte: http://www.pattyanncharters.com/Montauk%20Offshore%20Fish.html) Nomes comuns: atum patudo, albacora, atum-de-olhos-grandes, atum-obeso, atum-da-ilha-da-madeira, atum-das-canárias, atum-fogo. Dimensões: pode alcançar os 239 cm de comprimento e uns 225 kg em peso. No entanto, o peso mais comum situa-se entre os 160-180 kg. Longevidade: vive cerca de 6 anos e atinge a maturidade sexual aos 3,5 anos com 115-130cm de comprimento. Distribuição geográfica: habita águas tropicais e subtropicais, com uma distribuição contínua, exceptuando no Mar Mediterrâneo onde está ausente. Os Açores constituem a fronteira norte na sua distribuição, no entanto esta espécie é mais frequente na Madeira. Figura 22. Mapa ilustra a distribuição do atum patudo. (fonte: FAO) 21
  • 22. Habitat: espécie epi e mesopelágica em águas com com temperaturas entre os 17 e 22ºC. Podem atingir profundidades na ordem dos 1000m, contudo em média não ultrapassam os 450m. Habitualmente forma cardumes agrupados por tamanhos, que podem ser tanto mono como multi-específicos (associados a espécies como o albacora e bonito), por vezes podem associar-se também a objectos flutuantes. Alimentação: predadores não selectivos, que se alimentam tanto de dia como durante a noite, perseguindo peixes pelágicos, crustáceos e cefalópodes. Reprodução: desova ocorre durante apenas 3 meses, duas vezes ao ano. Em cada postura múltipla uma fêmea pode libertar até 6.300.000 óvulos, contudo este número é significativamente afectado pelo tamanho da fêmea. Atum-voador Nome científico: Thunnus alalunga Figura 23. Ilustração do atum voador. (fonte: http://www.spc.int/OceanFish/html/SAM/albacore.htm) Nomes comuns: atum-voador, atum-branco, atum-de-galha-comprida, albacora, albacora-branco, tombo, germão, ilhéu, asinha. Dimensões: espécie de pequeno porte, com um comprimento máximo de 140cm, raramente alcançando os 80 kg de peso. Longevidade: vivem cerca de 9,5 anos e aos 4,5 anos com cerca de 90cm e 25kg atinge a maturidade sexual. 22
  • 23. Distribuição geográfica: considerada cosmopolita em águas subtropicais e temperadas, principalmente nas latitudes 50ºN e 40ºS, incluindo no Mar Mediterrâneo. Enquanto adultos apresentam uma característica muito peculiar que facilmente os distingue das restantes espécies: as barbatanas peitorais são muito longas, ultrapassando em comprimento a origem na segunda barbatana dorsal, embora, comparativamente o atum patudo apresente barbatanas de maior comprimento. Figura 24. Mapa que ilustra a distribuição mundial do atum voador, a verde estão demarcados os principais locais de exploração pesqueira. (fonte: http://www.fao.org/docrep/009/a0653e/a0653e05.htm) Habitat: espécie epi e mesopelágica, vivem em águas cujas temperaturas variam entre 16 e 20ºC, contudo, são capazes de tolerar até aos 9,5ºC durante curtos períodos de tempo. Executam curtos mergulhos de profundidade, podendo alcançar entre os 380 e 600m. Pode m formar cardumes, ocasionalmente associados a albacoras, bonitos e atum-rabilo, sendo também encontrados junto a objectos flutuantes. Alimentação: predador voraz não selectivo, que se alimenta de peixes, cefalópodes (lulas e chocos) e crustáceos; organismos que pode perseguir até aos 500m de profundidade. Reprodução: a época de desova ocorre sazonalmente durante cerca de 3 meses no ano. Cada fêmea pode libertar até 2.500.000 óvulos, e o tamanho da mesma não parece influenciar estes números, tal como ocorre noutras espécies. 23
  • 24. Atum rabilo Nome científico: Thunnus thynnus thynnus Figura 25. Ilustração do atum rabilo. (fonte: http://www.pattyanncharters.com/Montauk%20Offshore%20Fish.html) Nomes comuns: atum rabilo, rabil, albacora-azul, atum-de-direito, atum-de-revés, rabão, atum-vermelho, atum-legítimo, atum-verdadeiro. Dimensões: atinge um comprimento máximo de 458 cm e um peso máximo de 684 kg. No entanto, os valores mais vulgares situam-se entre os 300-400cm. Longevidade: vive cerca de 20 anos, sendo a espécie de atum de crescimento mais lento e, a sua maturidade sexual ocorre por volta dos 4-5 anos ao atingir o comprimento de 115-150cm e o peso de 200kg. Distribuição geográfica: distribui-se pelas águas temperadas e subtropicais do Pacífico e Atlântico, essencialmente entre as latitudes 35ºN e 60ºN, com temperaturas entre os 17 e 22ºC. No Atlântico Norte alcança as maiores latitudes, chegando até às águas frias da Noruega. Podem efectuar longas migrações horizontais, mesmo exclusivamente transatlânticas. 24
  • 25. Figura 26. Mapa que demarca a vermelho a distribuição do atum rabilo. (fonte: http://www.flmnh.ufl.edu/fish/gallery/descript/bluefintuna/bluefintuna.html) Habitat: espécie pelágica veloz que pode atingir os 70 km/h em súbitos arranques, vive sobretudo em alto mar, contudo verificam-se algumas aproximações sazonais a águas costeiras. Executam mergulhos profundos, podendo alcançar mais de 1000 m de profundidade. Verifica-se um forte impulso para formar cardumes, especialmente enquanto jovens, estes agrupamentos surgem tanto de dia como de noite o que sugere que esta espécie possui um sistema de linha lateral desenvolvido. Normalmente associam-se a albacoras, bonitos, atuns patudos e voadores. Alimentação: predador voraz e não selectivo, alimenta-se nas águas mais frias do Atlântico. Exibem diferentes estratégias de predação de acordo com a presa, atingindo grandes velocidades na perseguição de cardumes (por exemplo, de anchovas), e agindo quase como filtradores quando se trata de presas que pouco se movimentam. Alimentando-se também de crustáceos e cefalópodes (lulas, polvos e Nautilus). Reprodução: espécie ovípara, cuja época de desova se encontra mais limitada que nas outras espécies de atum. No Atlântico migra para as águas temperadas do Mediterrâneo, Adriático e Golfo do México para desovar, enquanto que no Pacífico se dirige para as águas costeiras das Filipinas. A época está limitada a 3 meses e ocorre em alturas diferentes consoante o local de desova. Cada fêmea pode libertar até 6.000.000 óvulos em cada postura múltipla, sendo que o desenvolvimento larvar ocorre em 28 dias, findos quais a larva evolui para alevim (com as mesmas características que os adultos mas de menores dimensões). 25
  • 26. Caracterização dos “stocks” de atum Bonito (Katsuwonus pelamis) Esta éspecie, apesar de não pertencer ao género Thunnus (os apelidados verdadeiros atuns), dentro da tribo a que ambos pertencem é o género que mais se aproxima a nível filogenético. A razão pela qual foi incluida neste trabalho liga-se à sua importância na actualidade. Actualmente, o bonito é das espécies mais importantes no sector da pesca a nível mundial, representando 40% de todas as capturas mundiais. O principal método usado para a sua captura são as redes de cerco, sendo comercializado na forma de enlatado, fresco e mesmo seco, esta última modalidade praticada essencialmente no Japão. Figura 27. Venda de bonito no mercado do peixe. (fonte: http://www.fmap.ca/ramweb/media/management_effectiveness/h ome.php?sub=34) É no Pacífico Ocidental, que esta espécie apresenta um maior índice de captura (55%), enquanto que no Atlântico atinge uma quota de apenas 13% (contra 67% em todo o Pacífico e 20% no Índico). Identificar e contabilizar as populacções de bonito revelou-se uma tarefa bastante complicada, sendo uma espécie com um ciclo de vida curto e uma elevada e variável produtividade (todos os anos o recrutamento de novos indíviduos para os “stocks” representa uma grande porção da biomassa destes), sendo difícil detectar o efeito da pesca nos “stocks”. A sua grande produtividade parece tornar as populações menos susceptíveis aos fenómenos de sobre-pesca, com grandes recrutamentos que repõe os níveis desgastados pela pesca. Contudo, com o significativo aumento do esforço de pesca, o peso médio por indivíduo capturado t em vindo a declinar desde 2000. Os estudos realizados não são conclusivos, e, pelos dados actuais, sabe -se que estes fenómenos podem não estar relacionados e que esta diminuição pode ser a consequência do aumento do recrutamento (mais densidade populacional). Enquanto que o recrutamento aumenta, certamente em resposta ao aumento da taxa de exploração, não são visíveis (por enquanto) quaisquer efeitos negativos nas populações. 26
  • 27. Oceano Pacífico O bonito, em termos de capturas por peso é a espécie dominante no Pacífico. Alguns estudos genéticos mostram algum grau de mistura entre os “stocks”, no entanto, para efeitos de gestão consideram-se duas populações independentes: 1. “Stock” do Pacífico Oeste. 2. “Stock” do Pacífico Este. Esta divisão é suportada por alguns estudos onde se procedeu à marcação e rastreio de indivíduos de ambas as populações, verificando que os movimentos entre as duas são bastante limitados. De acordo com um estudo conduzido pela SPC (Secretariat of the Pacific Community), o “stock” Oeste parece não ter realizado todo o seu potencial e pensa-se que ainda será possível aumentar as capturas nos próximos tempos. Contudo, aumentando o esforço de pesca, principalmente se as artes forem pouco selectivas, há risco de aumentarem, paralelamente as capturas de albacora e atum patudo, uma vez que estas podem viver em associação com o bonito.  Oceano Índico As capturas de bonito neste oceano têm vindo aumentar de forma estável desde a introdução das redes de cerco provenientes de França e Espanha. Contudo, os seus níveis não são muito elevados, nem constituem um importante contributo para a produção mundial. O bonito neste Oceano encontra-se distribuido num único “stock” que, apesar de não aparentar quaisquer sinais de sobre-exploração, pensa-sa que um aumento do esforço de pesca poderá trazer consequências perigosas e imprevisíveis.  Oceano Atlântico Em termos de peso, as capturas de bonito neste oceano adquirem um grande importância, sendo a espécie de atum que alcança mais toneladas por ano. Com 85% das capturas no Atlântico Este e as restantes nas águas costeiras do Brasil. A população de bonito é distribuida em dois “stocks” distintos: 1. “Stock” do Atlântico Este. 2. “Stock” do Atlântico Oeste. 27
  • 28. Apesar de alguns estudos mostrarem que estes “stocks” estão sub-explorados, com a possibilidade de aumentar as capturas, em anos recentes, outros estudos mostram uma perspectiva bem diferente. Mesmo com a diminuição do esforço de pesca os “stocks” estarão ameaçados pelas crescentes mortalidades na pesca, devidas ao aumento do poder de pesca dos próprios navios – situação que deve ser cuidadosamente controlada. Albacora (Thunnus albacares) O albacora é uma espécie bastante apreciada pela sua carne mais clara, principalmente no seio da indústria conserveira e de restauração. Maioritariamente pescado no Pacífico Este (25%) e em menor escala no Oceano Atlântico, onde atinge uma cota de apenas 15% (60% em todo o Pacífico e 25% no Índico). Analisando as capturas por peso verifica-se que esta é a segunda espécie mais importante a seguir ao bonito, constituindo cerca de 30% das capturas mundiais. Apesar da sua alargada distribuição, o albacora parece confinado a águas tropicais em menores latitudes. Em comparação com o bonito, esta espécie vive mais tempo e alcança maiores dimensões. O método preferencial de captura são as redes de cerco, contudo, ao contrário do bonito o método dos palangres flutuantes é também amplamente usado. Figura 28. Ilustração da pesca de atum com palangre flutuante. (fonte: http://www2.convention.co.jp/maguro/e_maguro/e_tuna_facts.html) 28
  • 29. Oceano Pacífico Desde 1990 as capturas de albacora têm-se mantido relativamente estáveis, após um grande período de aumento das mesmas. A população de atum divide-se em dois “stocks” neste oceano: 1. “Stock” do Pacífico Oeste. 2. “Stock” do Pacífico Este. Sendo que, a longitude 150ºW demarca a fronteira entre ambos os “stocks”, Oeste e Este. No Pacífico Oeste, apesar das poucas evidências de sobre-exploração dos “stocks”, a diminuição das taxas de capturas e do peso por indivíduo capturado, alertam para essa possibilidade, sendo que devemos estar atentos a qualquer modificação mais significativa. Por outro lado o Pacífico Este encontra-se completamente explorado, produzindo muito próximo do seu máximo, desta forma, já não é possível aumentar o eforço de pesca sem causar efeitos nefastos e a longo prazo. A pesca de albacora de grandes dimensões apresenta uma mortalidade significativa de golfinhos que estão a eles associados em grandes cardumes. A utilização de objectos flutuantes na pesca destes atuns poderá reduzir o impacto nas populações de golfinhos, apesar de este método capt urar espécimens de menores dimensões.  Oceano Índico As capturas aumentaram rapidamente aquando da chegada das frotas Espanholas e Francesas, atingindo um máximo em 1993, desde então os seus níveis têm-se mantido estáveis. Considera-se que o Índico possui um único “stock” em toda a sua extensão, contudo, para efeitos de gestão se os considerarmos dois “stocks”, um Oeste e outro Este acredita-se que ainda é possível aumentar ligeiramente as capturas na parte Este, de forma sustentável.  Oceano Atlântico Neste oceano cerca de 60% do albacora é capturado usando redes de cerco, contudo os palangres flutuantes e os navios que pescam usando engodo são também métodos de captura muito comuns. Os indivíduos com um comprimento inferior a 40cm são muitas vezes descartados, pelo seu reduzido valor commercial. Com o aumento do uso de objectos flutuantes na pesca de albacora, verifica-se um aumento da captura de espécimens de pequenas dimensões. 29
  • 30. A população de albacora constitui, no Atlântico, um único “stock”, cuja postura ocorre nas regiões equatoriais do Atlântico central. Quando os alevins atingem um determinado comprimento iniciam a sua migração para a zona Oeste do oceano, podendo migrar para Este quando alcançar perto dos 110cm. As capturas têm vindo a decrescer desde 1990, com os maiores valores obtidos no Atlântico Este. Estudos recentes indicam que o “stock” se encontra muito perto do seu máximo de capturas sustentáveis, e, que qualquer aumento na mortalidade poderá rapidamente levar a situação de sobre-pesca. Apesar do esforço de pesca não ter aumentado em anos recentes, prevé -se que o aumento da eficiência das embarcações não está a ser devidamente contabilizado, o que conduz a resultados ilusórios. Desta forma, existe uma pequena possibilidade do “stock” estar já na fase de sobre-exploração sem que sejamos capazes de o perceber. Devido à crescente captura de albacora de pequenas dimensões, o ICCAT (International Commission for the Conservation of Atlantic Tunas) restringiu a pesca deste com objectos flutuantes, de Novembro a Janeiro, para reduzir os efeitos nefastos desta prática nas populações. Figura 29. Pesca com objecto flutuantes que agregam populações de atum. (fonte: http://www.gap1.eu/Case_Studies/France_Spain.htm) Em conclusão, verifica-se aumento nas capturas de albacora em todos os oceanos, excepto no Atlântico, em que as capturas têm vindo a declinar nos últimos 20 anos. Atum patudo (Thunnus obesus) O patudo é uma das espécies de atum mais pescada e apreciada no Japão, sendo utilizado como um substituto do atum rabilo, na preparação das especialidades como sushi – produto de grande importância 30
  • 31. no mercado oriental, atingindo o seu pico de vendas por volta do Natal. Este peixe é, na sua maioria pescado no Pacífico Este (37%), seguido pelos 25% de capturas no Atlântico (ao todo no Pacífico atinge os 60% e apenas 15% no Índico). Figura 30. Sushi (conjunto de arroz com carne/peixe crus) e sashimi, referente à fina fatia de peixe (normalmente atum) cru no topo do bolo de arroz. (fonte: http://www.nytimes.com/2008/01/23/dining/23sushi.ht ml) O atum patudo é muito semelhante ao albacora a nível morfo e fisiológico, sendo que alguns pescadores confundem estas duas espécies frequentemente. Este atum habita águas abaixo da termoclina e, uma das suas mais notáveis adaptações à vida em profundidade, consiste numa espessa camada de gordura subcutânea, que os isola das frias águas profundas. Esta camada de gordura torna o patudo um produto de muito valor no mercado de sashimi. Sendo uma espécie de profundidade, os métodos usados na captura das outras espécies de atuns tiveram que ser adaptadas. Desta forma, por volta dos anos 70 surgiu o método do palangre fundeado, que, aplicando o mesmo princípio do flutuante permitiu a captura de atum em profundidade. Com este método as capturas começaram a aumentar bastante.  Oceano Pacífico Durante os anos 80 foram desenvolvidos novos métodos de pescas que permitem uma mais eficaz captura do atum patudo, esses métodos envolvem o uso de objectos flutuantes (para atrair os atuns), sonares (para identificar os cardumes) e redes profundas para os capturar. Figura 31. Esquema que ilustra o funcionamento e disposição dos palangres fundeados. (fonte: http://www.afma.gov.au/information/students/metho ds/demersal.htm) 31
  • 32. Embora, o atum capturado por este método seja, em geral mais pequeno que aquele que é capturado usando os palangres. Para além destes dois métodos mencionados, as redes de cerco também são usadas na pesca de patudo. Com o aumenta da captura de patudo à superfície (atraído pelos objectos flutuantes) verificou-se um declínio na pesca em profundidade; o que poderá também ter sido causado pela sobre-exploração do próprio método. Contudo, o problema torna-se mais grave ao pensarmos no seu efeito no mercado, com o atum de maiores dimensões (o de maior valor comercial) a aparecer cada vez menos o efeito na economia de um país ou região poderá ser devastador. Esta crescente preocupação levou a IATTC (Inter-American Tropical Tuna Commission) a adoptar medidas de conservação que restringam a captura de patudo usando objectos flutuantes, durante uma parte do ano. As capturas de atum patudo encontram-se bastante próximo do máximo sustentável, indicando que futuros aumentos no esforço pesca poderão conduzir à sobre-pesca dos “stocks”. No Pacífico distribuem-se em: 1. “Stock” Pacífico Oeste. 2. “Stock” Pacífico Este.  Oceano Índico Também neste oceano, se verificou o declínio do uso de navios que praticavam a captura por palangre fundeado, para dar lugar a capturas à superfície. Contudo, o estado da população de atum no Índico ainda não é claro. Dado as semelhanças na situação do Pacífico e Índico, tudo indica que neste último as capturas superficiais devarão ser controladas, para que não ocorra sobre-pesca. As relações entre as populações das diferentes regiões do Índico são ainda desconhecidas, desta forma, para efeitos de gestão e estudos científicos considera-se que neste oceano existe um único “stock”.  Oceano Atlântico O atum patudo está confinado num único “stock”, apesar da pouca informação disponível que o possa confirmar. Tradicionalmente, neste oceano o atum era capturado usando palangres, com a introdução das redes de cerco as capturas cresceram em 30% (apenas no ano em que começaram a ser utilizadas) continuando com esta tendência nos anos seguintes. Contudo, a partir de 1990, grande parte deste aumento ocorreu devido ao crescente esforço de pesca, e uso de objectos flutuantes que resultaram, mais tarde, no aumento de captura de peixes de pequenas dimensões. 32
  • 33. Estudos recentes mostram que o “stock” está perto da sobre-pesca, desta forma, as estratégias de gestão deste precioso recurso terão de ser repensadas. Apesar de o ICCAT ter imposto, à uns anos, um peso mínimo de capturade 3,2kg esta medida revelou-se ineficaz, uma vez que recentemente 55% do atum capturado tem um peso inferior. Esta preocupação, em preservar os “stocks” de atum diminuindo a pesca de pequenos exemplares, é expressa não só pelos cientistas, mas também por algumas frotas pesqueiras. Estas, recentemente, impõe a si mesmas limites nas capturas e evitam o uso objectos flutuantes para atrair pequenos atuns. Atum voador (Thunnus alalunga) Este peculiar atum apresenta uma carne muito clara, sendo também apelidado “frango-do-mar”. O Pacífico Norte tem as maiores cotas de captura, 40%, seguido do Atlântico e Mediterrâneo, cujas captura abrangem uma cota de 25%. Todo o Pacífico é responsável pela captura de 60% de todo o atum, enquanto que no Índico as produções se ficam pelos 15%. A carne clara e muito apreciada do atum voador levou a todo um desenvolvimento da indústria dos enlatados, sendo dos primeiros atuns a ser consumido e comercializado nesta forma. Com o aumento da demanda, e devido à quantidade limitada deste recurso, começou-se a usar o albacora e bonito como matérias-primas no fabrico de enlatados, para que esta nova indústria pudesse continuar a crescer. O atum voador é uma espécie de águas temperadas, que realiza extensas migrações em busca das condições óptimas para se alimentar e reproduzir. Devido ao seu carácter altamente migratório, as capturas anuais sofrem imprevisíveis flutuações. Desta forma, não é possível avaliar as tendências das capturas, nem determinar se os “stocks” estão em sobre-pesca. Os principais métodos de captura dos atuns desta espécie são os palangres flutuantes e “trolling”, ambos métodos de captura à superfície. Figura 32. Método de captura designado de”trolling” (fonte: http://www.kongregate.com/forums/2/topics/44070)  Oceano Pacífico Existem dois “stocks” distintos neste oceano: 33
  • 34. 1. “Stock” do Pacífico Norte (entre o equador e a latitude de 40ºN). 2. “Stock” do Pacífico Sul (entre as latitudes 15º e 40ºS, desde a costa do Chile à costa da Nova Zelândia). Apesar das grandes flutuações nos valores das capturas, verifica-se que a maior parte (60%) provém do Pacífico Norte. Embora, muitos estudos científicos afirmem que este “stock” se encontra perto da sobre- pesca, pensa-se que as alterações climáticas vão desempenhar o papel mais importante no valor da produção futura deste atum. Por outro lado, são pouco claras as conclusões quanto ao “stock” do Pacífico Sul. Alguns estudos afirmando que este não se encontra numa situação de sobre-pesca, contudo, os efeitos do aumento das capturas são ainda difíceis de prever.  Oceano Índico A introdução de “gillnets” pelágicas como método de captura do atum, aumentou bastante a produção do “stock”, até este ser banido, devido ao seu carácter não selectivo que lesava o ecossistema. Figura 33. Ilustração de “gillnets” pelágicas. (fonte: http://www.greenpeace.org/international/seafood/understanding- the-problem/fisheries- problems-today/midwater-gillnets-2) Como consequência, as capturas diminuiram novamente e, actualmente, considerando-se que existe um único “stock” neste oceano, não se conhecendo o seu estado actual, e sendo incerto o resultado de um aumento do esforço de pesca.  Oceano Atlântico Á semelhança do que ocorre nos restantes oceanos, as capturas de atum não evidenciam nenhuma tendência, positiva ou negativa. A população atlântica de atum voador divide -se em três “stocks”: 1. “Stock” Atlântico Norte. 2. “Stock” Atlântico Sul. 3. “Stock” do Mar Mediterrâneo. De forma geral, as capturas com palangres flutuantes têm vindo a decair, sendo compensadas por um maior esforço usando outras técnicas. Apesar dos estudos pouco esclarecedores, acerca do estado dos “stocks” acredita-se que, o Atlântico Norte está perto da total exploração, sem possibilidade de aumentar esforços de pesca para níveis sustentáveis. 34
  • 35. No caso do Atlântico Sul, as populações não aparentam estar a sofrer sobre-pesca, contudo, devido à incerteza inerente aos dados usados nestes estudos, foi decidido que o esforço de pesca não deverá ser aumentado. Quanto ao “stock” do Mediterrâneo, os estudos realizados não mostram qualquer resultado conclusivo. Atum rabilo (Thunnus thynnus thynnus) Espécie de crescimento lento e vida longa, alguns indivíduos podem viver mais de 25 anos. As capturas deste peixe, em termos de peso, são as menos importantes. Contudo, devido às suas caracteríticas únicas: tamanho, cor, textura e alto conteúdo em gordura tornam este peixe na principal matéria prima para o mercado do sashimi, atingindo os maiores preços no mercado. Figura 34. Venda de atum rabilo, no mercado do peixe de Tóquio, Japão. (fonte: http://coexploration.org/ngs/EarthDay/fishmarket_with_bluefin_lined-up300.jpg) Para diferenciar as populações de atum novas técnicas têm vindo a ser desenvolvidas, uma delas consiste na análise de otólitos. Os otólitos são uma interessante fonte de informação que, ao precipitar durante o crescimento do peixe vão integrar elementos do meio, numa matriz de aragonite e proteína. Desta forma, a análise dos elementos pode dar-nos uma ideia do espaço e do tempo que o indivíduo percorreu. Embora, a principal função destes componentes ósseos seja a audição e equilíbrio. Figura 35. Fotografia de um otólito de atum rabilo (fonte: http://www.science-in-salamanca.tas.csiro.au/themes/tuna.htm) 35
  • 36. A análise de otólitos tem tido uma crescente utilização na diferenciação de “stocks” (não apenas para o caso do atum rabilo), uma vez que estes constituintes são metabolicamente inertes, não sendo absorvidos pelo organismo. Desta forma, a sua estrutura mantém-se e não sofre alterações ao longo do tempo, apenas passa a integrar novos elementos sem afectar a constituição anterior.  Oceano Pacífico No Pacífico poucos são os estudos que elucidam acerca da composição e localização dos “stocks”, contudo, para efeitos de gestão consideram-se duas regiões distintas: 1. “Stock” Pacífico Noroeste. 2. “Stock” Pacífico Este. No primeiro “stock” as maiores capturas ocorrem perto do Japão. Este peixe de elevada importância e preço no mercado japonês é capturado utilizando diversas técnicas, desde cerco, palangres e mesmo armadilhas fixas. Somente o Japão é responsável pela captura de 60% do total de atum rabilo produzido pelo Pacífico. Com a progressiva diminuição da captura de atum no Pacífico Este, a taxa de migração deste peixe para esta região decaiu, uma vez que, a própria pesca parece estimular os “stocks” aumentando os recrutamentos após anos de grandes capturas; isto se, os níveis forem dentro dos limites sustentáveis.  Oceano Atlântico De acordo com observações recentes, dos movimentos dos atuns neste oceano, existe um certo grau de mistura entre os dois “stocks” de rabilo. Sendo que mesmo estudos genéticos têm tido dificuldade em contrariar a hipótese de um único “stock” no Atlântico. Contudo, e para efeitos de gestão, ainda se considera que a população do Atlântico se divi de em dois “stocks” pela longitude 45ºW: 1. “Stock” Atlântico Oeste. 2. “Stock” Atlântico Este (incluindo o Mediterrâneo). Com o declínio das capturas no Atlântico Oeste o ICCAT decidiu impor limites, definindo cotas, que variavam entre 2 e 3 mil toneladas. Embora estudos recentes demostrem que as cotas têm que ser inferiores para que o “stock” possa repor os seus níveis iniciais de biomassa. No Atlântico Este a situação é um pouco diferente, com o declínio das capturas a partir de 1996, verificou - se que a produção do Mediterrâneo começou a aumentar e, actualmente é o maior responsável pela produção actual desta região do Atlântico. 36
  • 37. No entanto, as capturas no Mediterrâneo têm atingido níveis preocupantes com os cientistas a prever uma situação de sobre-pesca e completo esgotamento do “stock”. Com as frotas pesqueiras a capturarem atum indiscriminadamente, ignorando quaisquer recomendações científicas. Figura 36. Pesca de atum rabilo no Mediterrâneo com redes de cerco. (fonte: http://www.wildlifeextra.com/go/news/bluefin-tuna829.html#cr) Em comparação, o “stock” Este cobre uma maior área que o Oeste, desta forma, mesmo que o grau de mistura entre ambos seja limitado prevê-se que, a sobre-pesca no Atlântico Oeste possa afectar negativamente os programas de conservação no outro lado do oceano. É por esta razão que muitos cientistas acreditam que nos programas de gestão e conservação o Atlântico devia ser considerado um único “stock”. 37
  • 38. Conclusão e Discussão Actualmente, a pesca encontra-se muito perto de uma crise global, com a maioria dos “stocks” importantes a enfrentarem o desafio da sobre-pesca e das frotas insaciáveis e, por vezes, ilegais, que não estão ainda cientes da fragilidades destes recursos. O combate contra a pesca ilegal, não reportada e não regulamentada deve tornar-se uma prioridade para os governos, uma vez que ainda carecemos de leis e normas que protejam os “stocks” no alto mar. Nestas zonas, não contempladas na “Convenção das Nações Unidas sobre os direitos do Mar” (Lei do Mar), são essencialmente capturadas espécies migratórias como o Atum. Para além disso, há também a carência de uma entidade reguladora que tenha direitos em alto mar para controlar as capturas desmesuradas e a pirataria. A quebra das capturas mundiais não irá só afectar a economia, as suas consequências serão muito mais profundas, afectando as regiões piscatórias que dependem inteiramente da pesca para sobreviver. Deixando estas comunidades sem sustento e os milhões de trabalhadores do sector da pesca sem emprego. As comunidades piscatórias vivem, muitas vezes, à margem de uma socie dade que não as compreende e tem dificuldades em as aceitar. As artes de pesca e conhecimento sobre o funcionamento da natureza são passados de geração em geração, acumulando observações de anos, mesmo séculos de trabalho. Se os recursos se esgotarem, nestas comunidades, para além de ficarem sem a sua fonte de sustento, o seu conhecimento acabará por cair no vazio, pois certamente terão que investir noutras áreas para poderem sobreviver. Embora, actualmente, se comece a investir na Aquacultura como forma de obtenção de pescado , os progressos feitos estão longe de ser desejáveis. Com uma indústria que provoca ainda grandes alterações no ecossistema e, com os preços elevados e a incorporação de farinhas de peixe nas rações, diria que , ainda faltam alguns anos até que as fórmulas ideais e uma alternativa viável à farinha sejam descobertas. Contudo, até lá, deve-se investir em campanhas de sensibilização da população e valorização da pesca artesanal, que, apesar de pouco produtiva, está em equilíbrio com o ecossistema, provocando nele poucas alterações. Os “stocks” de atum enfrentam também o problema da sobre -pesca, agravado pela falta de regulamentação em alto mar, onde são muitas vezes capturados. Estas espécies são parte importante da cultura de muitas sociedades, sendo a indústria de enlatados uma grande fonte de postos de trabalho. No caso do atum rabilo, usado no Japão como matéria prima do sushi e sashimi, é um dos pilares de uma 38
  • 39. cultura rica e inesgotável, contudo, a demanda incansável e exploração insustentável deste recurso cedo levarão à sua extinção se não forem controlados. Bibliografia  Correira, F. e Farinha, N., “Atuns, bonitos e cavalas dos Açores – nómadas atlânticos”, João Azevedo Editor, ISBN 972-9001-91-X, Mirandela, 2006  FAO Fisheries and Aquaculture Department, “The State of World Fisheries and Aquaculture – 2008”, ISBN 978-92-5-106029-2, Roma, 2009  Fonteneau, Alain; “An overview of yellowfin tuna stocks, fisheries and stock status worldwide”, França, Agosto de 2005  http://www.ejfoundation.org/page270.html  http://www.ejfoundation.org/page272.html  http://www.fao.org/docrep/005/y4499e/y4499e05.htm#bm05.2  http://www.flmnh.ufl.edu/fish/gallery/descript/bluefintuna/bluefintuna.html  http://www.flmnh.ufl.edu/fish/gallery/Descript/SkipjackTuna/SkipjackTuna.html  http://www.forbes.com/global/2006/0522/036.html  http://www.iattc.org/StockAssessmentReports/StockAssessmentReport9ENG.htm  http://www.msc.org/track-a-fishery/certified/pacific/aafa-pacific-albacore-tuna-north/american- albacore-fishing-association-pacific  Rooker, J. et al, “Identification of Atlantic bluefin tuna (Thunnus thynnus) stocks from putative nurseries using otolith chemistry”, Journal “Fisheries Oceanography”, número B001, manuscrito 0223, 2003 39