Conceitos básicos.
Sháshtra - Sabedoria antiguíssima hindu.
Sámkhya - sistema filosófico teórico, essencialmente a descrição da Cosmogénese – para além e para aquém do hidrogénio – e da inerente Antropogénese.
Katha Upanishada.
Poesiamodernismo fase dois. 1930 prosa e poesiapptx
Aula teórica sobre Sháshtra, Introdução aos Upanishada, Katha Upanishada
1. Sháshtra, Introdução aos Upanishada, Katha Upanishada
Áshrama Seixal – Centro do Yoga, Professora de Yoga Marina Issakova / Náráyana 18-02-2014 Página 1
Sháshtra – Sabedoria antiga hindu
…Há dois caminhos que levam à Perfeição. O primeiro é o caminho do
conhecimento e o segundo, o da acção. Uns preferem o primeiro, e outros, o
segundo desses dois caminhos. Sabe, porém, que considerados do alto, ambos
são um só caminho.” - Bhagavada Gíta
1. Os Sháshtra do Hinduísmo
Sháshtra - a sabedoria antiguíssima hindu. Divide-se em 2 grandes grupos:
Shruti,
Smrti.
1.1 Shruti
Shruti é a mais antiga, de cerca de 3.000 A.C., o seu nome significa “Aquilo que é intuitivo” e refere-se ao
conhecimento que é recebido do Cosmos (intuito, “por inspiração divina”).
O Shruti contém Os Veda – Sabedoria, os livros mais antigos do Hinduísmo e provavelmente da
Humanidade. São atribuídos a Shiva:
Karma Kanda – Rituais
Upásana Kanda – Meditação
Jñána Kanda – Auto conhecimento.
Os mais antigos são Rg Veda; Yajur Veda e Sáma Veda – Trayi, ante ariano. Atharva Veda - mais recente
(época ariana).
1. No começo, nem o não-ser nem o ser eram.
Também não havia o espaço obscuro nem a abóbada
luminosa.
O que se ocultava? Onde? Sobre que protecção?
O que era água? Abismo profundo?
2. No começo não havia nem morte nem imortalidade.
Não havia nenhum signo distintivo da noite ou do dia.
O Uno respirava, sem agitação e sustinha-se a si próprio.
Nenhum outro estava para além.
3. No começo as trevas estavam escondidas pelas trevas.
Sem nenhum traço distintivo tudo era um fluir indistinto.
Aquele princípio vital, aquele fluir envolto na obscuridade.
Surgiu finalmente através do poder do calor.
4. No começo o desejo intenso surgiu
Tornando-se a primeira semente do pensamento.
Poetas sábios que procuravam mentalmente no seu
coração
Descobriram a unidade do ser e do não-ser.
5. O raio de luz que estava estendido nas trevas.
Mas o que é que estava em cima e o que estava em baixo?
Poderes seminais tornavam férteis forças poderosas.
Por baixo estava a força e em cima a infinita extensão.
6. Mas afinal quem sabe? Quem o pode assegurar donde
é que tudo veio?
Como a criação se deu?
Os próprios deuses surgiram depois da criação.
Quem sabe realmente de onde tudo surgiu?
7. Desde que a criação surgiu –
Aquele que a formou ou talvez não
Aquele que a contempla na abóbada do céu,
Só ele sabe ou talvez não.
(Rg Veda X, 129, Hino da Criação)
2. Sháshtra, Introdução aos Upanishada, Katha Upanishada
Áshrama Seixal – Centro do Yoga, Professora de Yoga Marina Issakova / Náráyana 18-02-2014 Página 2
Dos Veda fazem parte: Mantra, Áranyaka, Bráhmana e Upanishada (Os Upanishada são extensões ou
explicações de cada um dos quatro Vedas).
Sob a forma escrita o Yoga aparece pela 1ª vez já no período ariano, citado informalmente nos
Upanishada (à letra – sentar-se junto).
1.2 Smrti
Smrti, século III A.C., significa Memória, “Aquilo que se ouviu”. O Smrti divide-se em
5 partes:
Smrti – Códigos de Lei;
Itihása – Épicos: Mahábhárata que contem o Bhagavada Gíta, Rámáyana, entre
outros;
Purána – Lendas e Crónicas;
Ágamá – manuais do culto Védico;
Darshana – Pontos de Vista ou Sistemas Filosóficos.
2. Darshana
Os Darshana são Pontos de Vista ou Sistemas Filosóficos hindu. Tratam de vários caminhos para chegar à
Verdade. “Ekam Sadviprá Bahudhá Vadanti – A Verdade é única, os Sábios a vêem em diversas
formas”. (Rg Veda, I, Hino 164, verso 46).
Existem 6 Darshana, em 3 grupos:
1º Sámkhya (Kapila)
Yoga (Patañjali)
2º Mímánsá (Púrna) (Jaimini)
Vedánta (Uttara Mímánsá) (Bádaráyana)
3º Nyáya (Gotama)
Veisheshika (Kanáda)
O Yoga e o Sámkhya Darshana estão indissociavelmente ligados e mantêm um diálogo constante. O Yoga
encontra no Sámkhya os seus fundamentos teóricos.
3. Definição do Sámkhya
A palavra Sámkhya significa número, razão, enumeração.
É o sistema filosófico teórico mais antigo. A tradição Sámkhya é:
Naturalista, ou seja, atribui a causas naturais todos os efeitos;
“Não especulativa”;
Advaita - não dual.
É essencialmente a descrição da Cosmogénese – para além e para aquém do
hidrogénio – e da inerente Antropogénese.
O antes do início do Universo e para além da sua existência.
Sámkhya é o acesso ao Conhecimento e ao Poder (Bala) através da observação e
desvendar da Natureza. Contém todas as Chaves - os Segredos do Universo são os
Segredos do Ser Humano e vice-versa, desvendando os Mistérios do Ser Humano,
desvelam-se os Segredos Cósmicos.
3. Sháshtra, Introdução aos Upanishada, Katha Upanishada
Áshrama Seixal – Centro do Yoga, Professora de Yoga Marina Issakova / Náráyana 18-02-2014 Página 3
3.1 Princípios do Sámkhya
Sámkhya cataloga e enumera todos os níveis da Manifestação.
Sistema filosófico completo e auto-suficiente. Permite ao homem atingir a
finalidade última da existência, através do conhecimento exaustivo dos princípios
constituintes do Universo e do Ser individual – EU.
Todo o processo da manifestação do Universo, a Criação, começa a partir da
interacção de Purusha com Prakrti.
3.2 Estrutura
A estrutura do Sámkhya compreende 25 Tattva que participam nos processos
de manifestação.
Purusha (1) Múla (raíz) Prakrti (Natureza, substância) (2)
Pradhána, (o Fundamento, “o que está posto
antes de todas as coisas”)
Não Produzido e Não Produtor
Princípio Criador, a causa incausada – todo o
efeito está contido na sua causa. Não se envolve
na Criação, inspirador e contagiador.
Não Produzida e Produtora
Natureza Primordial dinâmica e criadora, não
manifesta, a grande e fecunda Mãe Cósmica.
Prakrti toca a música e cria melodia – VIDA!
“Purusha é aquilo que vê, testemunha, ele está
isolado, livre, indiferente, simples espectador
inactivo” (Sámkhya Káriká, 19).
Não se imiscui na criação.
Om – Mahá OM, Big Bang,
Expansão Universal.
Inicia-se
Kála – espaço e
Kali – tempo.
Vikrti – Manifestação, Mãe Natureza virgem, a
Prakrti já manifesta
3 Guna (qualidade)
Trimurti, inicialmente encontravam-se diluídos
num perfeito equilíbrio, Pralaya
Sattva
Equilíbrio,
perfeição
Rajas
Energia, força
vital, movimento
Tamas
Inércia,
matéria
Gere mundo
orgânico
Gere mundo
inorgânico
Mahát (3) - primeira grande produção
Grande Princípio, substância primordial, de que é feito todo o Universo. Hiranya Garbha – o Ovo
Dourado, reflexo de Purusha em Vikrti. É o dispensador do Prána para toda a criação
Buddhí (4) - segunda grande produção
Intelecto, a inteligência pura, a base da inteligência de todos os seres. Está para além da
individualidade. Purusha é reflectido em Buddhí, mas mantém-se puro, como consciência absoluta
Os 3 guna formam Antahkarana – ser interior e Ahamkára ou Asmita – individualidade, factor de
individualização do EU
4. Sháshtra, Introdução aos Upanishada, Katha Upanishada
Áshrama Seixal – Centro do Yoga, Professora de Yoga Marina Issakova / Náráyana 18-02-2014 Página 4
11 Indriya – faculdades individuais
Manas (5) - Mente, faculdade mental
individualizada
Jñanendriya Karmendriya Tanmátra Bhúta
Faculdades de
compreensão, que
proporcionam
sensações, produzidos e
não produtores
Faculdades de acção,
produzidos e não
produtores
Qualidades sensíveis,
produzidos e
produtores
Elementos densos,
produzidos e não
produtores
Shrotra - Audição
(ouvido) (6)
Vaka - Palavra (voz)
(11)
Shabda - Som (16) Ákásha – éter (21)
Tvaka - Tacto (pele) (7) Pani - Preensão
(mãos) (12)
Sparsha - Tacto (17) Váyu – gás ou ar (22)
Chakshuh - Visão (olhos)
(8)
Páda - Locomoção
(pés) (13)
Rúpa - Forma (18) Tejas – luz ou fogo (23)
Rasana - Gustação /
Paladar (língua) (9)
Payu - Excreção
(ânus) (14)
Rasa - Gosto (19) Ápas ou Jala – líquido
ou água (24)
Ghrana - Olfacto (nariz)
(10)
Upastahani - Prazer
(sexo) (15)
Gandha - Cheiro (20) Prithivi ou Bhur, Bhu –
sólido ou terra (25)
“Nenhuma forma nova supera as possibilidades de existência que já se encontram no Universo. Nada
se cria, no sentido ocidental da palavra. A criação existe desde toda a eternidade e não poderá jamais
ser destruída, mas retornará ao seu aspecto inicial de equilíbrio absoluto, – na grande reabsorção ou
dissolução final, Mahá Pralaya.” (O Yoga, Mircea Eliade)
Desenvolvimento em Shesha:
KALPA (forma) – é um dia cósmico, expansão e
contracção (decaimento) do Universo.
Em cada Kalpa existem quatro (4) YUGA, ou seja
idades ou eras. Cada ciclo de quatro YUGA é
completado em quatro milhões trezentos e vinte
mil (4.320.000) anos, sendo que cada Kalpa é
constituído de mil (1.000) ciclos. Os nomes dos
YUGA são: KRITA OU SATYA, TETRÁ, DVÁPARA e KÁLI.
No SATYA-YUGA, onde todas as virtudes humanas possuem força total e os males são desconhecidos, a
duração é de um milhão setecentos e vinte e oito mil (1.728.000) anos.
A duração de TETRÁ-YUGA é de um milhão duzentos e noventa e seis mil (1.296.000) anos e as virtudes
humanas já perdem um quarto de sua potencialidade.
A DVÁPARA-YUGA é de oitocentos e sessenta e quatro mil (864.000) anos e nela as virtudes são
quebradas pela metade.
KÁLI-YUGA dura apenas quatrocentos e trinta e dois mil (432.000) anos e sobra apenas um quarto da
força das virtudes e esta é encontrada no coração (AMOR Universal) e na força de vontade. (Começou
em 20 de Fevereiro de 3102 A.C.).
Assim, um Kalpa é constituído de quatro mil YUGA:
5. Sháshtra, Introdução aos Upanishada, Katha Upanishada
Áshrama Seixal – Centro do Yoga, Professora de Yoga Marina Issakova / Náráyana 18-02-2014 Página 5
1.000 x (1.728.000 + 1.296.000 + 864.000 + 432.000) = 4.320.000.000 anos.
Mahá Pralaya (a grande dissolução) – á a noite cósmica, encerra um ciclo completo. Tem a mesma
duração do Kalpa.
O Sámkhya define-se como um sistema completo, auto-suficiente, que permite ao homem atingir a
finalidade última da existência, através do conhecimento exaustivo dos princípios constituintes do
Universo e do Ser individual – EU. No entanto, as últimas Verdades do Sámkhya somente são atingidas
nos estados de elevação de consciência, Suprema Consciência - Samádhi.
Sámkhya tem a sua aplicação natural nos métodos do Yoga. Por outro lado, todo o esforço do yogi é
incompreensível se não tivemos em conta o Sámkhya.
Sámkhya / Yoga = Sabedoria / Poder (da Sabedoria).
4. Principais relatos do Yoga nos Sháshtra Upanishada
Em Shruti, período pré-clássico
Os textos samskrta mais antigos nos quais o Yoga é explicitamente
mencionado são alguns Upanishada, de aproximadamente 1500-300 a.C.
Upanishada, a letra “sentar-se junto”, relatam diálogos nos quais um
mestre transmite aos seus discípulos o conhecimento da realidade
imutável do ser (do EU).
Existem 108 Upanishada clássicos, dos quais 12 são mais importantes.
Nos Upanishada se estabelece um conceito do Absoluto muito além dos
deuses e do cosmos manipulados pelo rito daquela época, e muito além
da linguagem e da mente. Nestes textos, pela primeira vez, as disciplinas
do Yoga, tal como posteriormente no Yoga Sútra do Patañjali, adquirem
o seu sentido e propósito.
Os conceitos apresentados nos Upanishada resumem-se:
O homem comum é dotado de avidya (uma espécie de “ignorância original”), ligado a mayá
(ilusão que o mundo produz através dos sentidos), desconhece a sua verdadeira essência. Esta
ignorância prende o homem à ronda eterna de renascimentos, samsára. A vontade de saber,
inerente a todo ser humano, leva-o procurar o conhecimento junto a um mestre, guru.
Para alcançar o conhecimento, libertando-se das categorias dualistas e relativizadas, o homem
precisa de passar por uma evolução cognitiva e vivencial. Para isso utiliza os métodos de Yoga.
No Maitri, Svetasvatara e Katha-Upanishada é mencionada a importância dos métodos do Yoga, mas
sem explicações pormenorizadas: o conhecimento exacto era transmitido oralmente, directamente do
mestre ao discípulo.
Katha Upanishada
É considerada como o mais antigo Upanishada a tratar explicitamente do Yoga.
Este Upanishada é um diálogo entre Yama, o deus da morte e o jovem Nachiketas, entregue ao reino dos
mortos, controlado por Yama, como parte do sacrifício do seu pai. Ao chegar lá, Yama está ausente,
retornando após três dias e três noites. Com isso Yama deixa de cumprir suas obrigações de anfitrião -
servir aos hóspedes. Para se penitenciar, Yama oferece a Nachiketas a realização de três desejos. O
primeiro é o de poder voltar vivo ao seu pai e que este o perdoe. O segundo é o de aprender a realizar
sacrifícios rituais que não desapareçam. Yama lhe concede a realização desses desejos. O terceiro pedido
do jovem é conhecer os segredos da morte e superar a roda dos nascimentos e das mortes. Yama pede
6. Sháshtra, Introdução aos Upanishada, Katha Upanishada
Áshrama Seixal – Centro do Yoga, Professora de Yoga Marina Issakova / Náráyana 18-02-2014 Página 6
para formular outro pedido. Oferece-lhe riquezas e prazeres, mas Nachiketas não desiste do seu terceiro
pedido. Convencido de que o jovem estava firme na sua decisão, Yama lhe dá uma longa explicação, que
é a parte central da Katha Upanishada, onde se encontram os ensinamentos do Yoga, no sentido dado
por Patañjali.
É usada a palavra Yoga como “técnica de Libertação”. Diz o texto que a conquista da Liberdade espiritual
(moksha, kaivalya) ocorre pela contemplação do “Ser Interno”, usando a expressão “Adhyatma Yoga”.
Em outro trecho, é dito que a Libertação consiste em conhecer o Atman (o EU), na famosa metáfora onde
o homem é comparado a uma carruagem: “Conhecer o Atman é como aquele que dirige a carruagem; o
corpo, é a carruagem, o buddhí, o cocheiro, a mente, as rédeas”. Diz a Katha que os sentidos são os cavalos
que podem arrastar a carruagem, dependendo do controlo que a mente possa ou não exercer sobre esta.
Símbolos
atman EU individual Dono da carruagem
sharira Corpo Carruagem
buddhí Intelecto / razão Cocheiro
manas Mente Rédeas
indriya Sentidos Cavalos
vishaya Objectos Estrada
Os sentidos são comparados aos cavalos; os objectos do
mundo, são a estrada. O sábio chama o Atman (o Eu), unido
ao corpo, aos sentidos e à mente. (III.4)
Se Buddhí estiver associado à mente que é sempre
distraída, perde-se em discriminações, então, os sentidos
ficam incontrolados, como os cavalos viciosos da
carruagem. (III.5)
Mas, quando Buddhí está associado a uma mente sempre controlada, sem discriminações, então os
sentidos permanecem sob controlo, semelhante aos cavalos dóceis da carruagem. (III.6)
Se Buddhí está relacionado à mente distraída e perde a sua capacidade de controlar as discriminações,
permanecendo sempre impura, então o Atman encarnado nunca atingirá o seu objectivo, permanecendo
preso à roda dos nascimentos. (III.7)
Se Buddhí está ligado à mente disciplinada e possuidora de discriminação, embora permaneça sempre
pura, então, o Atman alcança o seu objectivo final, não renascendo novamente. (III.8)
A palavra Yoga (implícita ou explicitamente) aparece na Katha Upanishada nos seguintes trechos:
K.U.VI.8 “Para além dos sentidos está a mente e para lá da mente está a razão, sua essência. Para além
da razão está o espírito que habita no homem e para além deste está o espírito do Universo, o que tudo
faz expandir. E mais além está Purusha universal, impossível de definir. Quando um mortal o reconhece,
atinge a libertação e alcança e imortalidade”.
K.U.VI.9-11 “Quando os cinco órgãos cognitivos, assim como o pensamento, estão em repouso, e o
Intelecto está imóvel, temos aquilo que se chama a Via Suprema. É isso que consideramos como o Yoga:
o domínio firme dos sentidos. Nesse momento o homem fica livre de todas as distracções”.
K.U.VI,18 ”Após receber estes ensinamentos do Rei da Morte, os quais estão associados a técnicas do
Yoga, Nachiketas tornou-se imortal e puro, alcançando Brahman. E assim igualmente acontecerá a todo
aquele que conhece o seu Eu superior”.