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Pequenos Negócios
Desafios e Perspectivas
Inovação
Coordenação
Carlos Alberto dos Santos
Vol.
Aleciane da Silva Moreira Ferreira | Ana Paula Nogueira | Anizio Dutra Vianna | Camilla
Rodrigues de Paula |Demian Lubé Rodrigues Condé | Élon R. S. Filho | Enio Duarte Pinto|
Enio Queijada de Souza | Eugenio Guilherme Tolstoy de Simone | Érika Amorim Araújo |
Fausto Ricardo Keske Cassemiro | Felipe Silveira Marques | Francilene Procópio Guerra
| Gabriel Rizza | Gil Giardelli | Helbert Danilo Freitas de Sá | Humberto S. Brandi |
Jairo Martins da Silva | João Jornada | João Carlos Ferraz | Leonardo Melo | Luciana
Carvalho | Marcia Cristina de Oliveira | Márcia Suede Leite Froes da Motta | Mauricio
Guedes | Naldo Medeiros Dantas | Osmar Rossato| Paulo César R. C. Alvim | Rafael
Lucchesi | Raquel Vilarino Reis | Susane Augusta Rodrigues | Taynah L. Souza
Inovação
Pequenos Negócios
Desafios e Perspectivas
Carlos Alberto dos Santos
Coordenação
Aleciane da Silva Moreira Ferreira | Ana Paula Nogueira | Anizio Dutra Vianna |
Camilla Rodrigues de Paula |Demian Lubé Rodrigues Condé | Élon R. S. Filho | Enio
Duarte Pinto| Enio Queijada de Souza | Eugenio Guilherme Tolstoy de Simone | Érika
Amorim Araújo | Fausto Ricardo Keske Cassemiro | Felipe Silveira Marques | Francilene
Procópio Guerra | Gabriel Rizza | Gil Giardelli | Helbert Danilo Freitas de Sá | Humberto
S. Brandi | Jairo Martins da Silva | João Jornada | João Carlos Ferraz | Leonardo Melo
| Luciana Carvalho | Marcia Cristina de Oliveira | Márcia Suede Leite Froes da Motta
| Mauricio Guedes | Naldo Medeiros Dantas | Osmar Rossato| Paulo César R. C. Alvim
| Rafael Lucchesi | Raquel Vilarino Reis | Susane Augusta Rodrigues | Taynah L. Souza
3Vol.
Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
Presidente do Conselho Deliberativo Nacional
Roberto Simões
Diretor-Presidente
Luiz Eduardo Pereira Barretto Filho
Diretor-Técnico
Carlos Alberto dos Santos
Diretor de Administração e Finanças
José Claudio dos Santos
Informações para contato
Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SGAS 605 – Conjunto A – Asa Sul
CEP 70200-904 – Brasília/DF
Telefone: 55 61 3348-7192
Portal Sebrae: www.sebrae.com.br
Esta coletânea tem o objetivo de provocar o debate sobre o desenvolvimento
brasileiro na perspectiva dos pequenos negócios, a partir de abordagens que privilegiam
a reflexão teórica da prática, conectando o debate acadêmico com o cotidiano da
assistência técnica e dos serviços empresariais.
Com duas edições temáticas anuais, abertas à colaboração de técnicos e gerentes
do Sistema Sebrae, bem como seus parceiros na iniciativa privada, universidades e
governos, esta coletânea reúne as seguintes publicações:
	 Vol. 1 – Programas Nacionais
	 Vol. 2 – Desenvolvimento Sustentável
Comentários, sugestões e críticas são bem-vindos: pndp@sebrae.com.br
Coordenação
Carlos Alberto dos Santos
Inovação
Vol. 3
Pequenos Negócios
Desafios e Perspectivas
2012. © Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae
Coordenação
Carlos Alberto dos Santos
Apoio técnico
Antônio Carlos Ferreira, Cláudia Patrícia da Silva, Denise Chaves, Elizabeth Soares de
Holanda, Fernando Bandeira Sacenco Kornijezuk, Gláucia Zoldan, Hugo Henrique Hotz Cardoso,
Lorena Ortale, Luísa Medeiros, Marcus Vinicius Bezerra, Maria Cândida Bittencourt
Revisão editorial
Magaly Tânia Dias de Albuquerque, Miriam Zitz, Silmar Pereira Rodrigues, José Marcelo Goulart de Miranda
Edição
Tecris de Souza
Projeto Gráfico
Giacometti Comunicação
Editoração Eletrônica
Grupo Informe Comunicação Integrada
Revisão Ortográfica
Grupo Informe Comunicação Integrada
As opiniões emitidas nesta publicação são de responsabilidade exclusiva dos autores, não
exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas.
É permitida a reprodução desde que citada a fonte. Reproduções com objetivo comercial
são proibidas (Lei n° 9.610).
S237 	 Santos, Carlos Alberto.
	 Pequenos Negócios : Desafios e Perspectivas:
Inovação / Carlos Alberto dos Santos, coordenação. --
	 Brasília: SEBRAE, 2012.
	 324 p. : il.
	 ISBN 978-85-7333-583-5
1. Atendimento ao cliente. 2. MPE. 3. Empreendedorismo. 4. Desenvolvimento econômico. II. Título
CDU 334.012.64
Sumário
Apresentação.....................................................................................11
Luiz Barretto
Capítulo 1
Inovar para sustentar o desenvolvimento
Inovar para sustentar o desenvolvimento:
desafio para o Brasil.........................................................................17
João Carlos Ferraz, Felipe Silveira Marques e Érika Amorim Araújo
Os pequenos negócios e o empreendedorismo
inovador no século 21....................................................................35
Francilene Procópio Garcia
Inovação para a sustentabilidade – o imperativo
de uma nova era................................................................................45
Jairo Martins da Silva
A competitividade e a inovação –
uma questão de capacidade?...........................................................57
Naldo Medeiros Dantas
Inovação: conceitos e abordagens..............................................71
Raquel Vilarino Reis
Capítulo 2
O imperativo da inovação
Inovar é urgente................................................................................97
Rafael Lucchesi
Normalização e inovação.........................................................105
Eugenio Guilherme Tolstoy de Simone e Marcia Cristina de Oliveira
O Inmetro como plataforma técnica da inovação................113
Humberto S. Brandi, João Jornada e Taynah L. Souza
Inovação tecnológica e território:
evolução e desafios na formação de uma agenda................123
Mauricio Guedes e Leonardo Melo
Webempreendedorismo................................................................135
Gil Giardelli
Capítulo 3
Sebrae: a inovação veio para ficar
O desafio de levar Schumpeter à lojinha de
conveniência ou às margens do Ipiranga,
hoje o grito é “Inovação ou Morte!”........................................155
Enio Duarte Pinto
Inovação na pequena empresa: uma necessidade!...................169
Paulo César R. C. Alvim
Encadeamento produtivo:
Inovação na cadeia de valor.....................................................195
Fausto Ricardo Keske Cassemiro
Habitats de inovação x incubadoras de empresas....................211
Anizio Dutra Vianna
Os quatro “P” da inovação no agronegócio.........................221
Enio Queijada de Souza
Inovação em sustentabilidade: da prática
à teoria na pecuária brasileira....................................................233
Demian Lubé Rodrigues Condé e Helbert Danilo Freitas de Sá
Sociedades de Garantia de Crédito no Brasil,
inovação nos pequenos negócios...........................................247
Gabriel Rizza e Osmar Rossato
Capítulo 4
Inovação nos pequenos negócios: experiências dos ALI
Inovação com foco em sustentabilidade pode
ser lucrativo? Estudo no segmento de alimentação..............265
Ana Paula Nogueira
Em meio aos desafios, é possível fomentar
a inovação em empresas de pequeno porte, para
melhorar a competitividade? Um estudo no setor
de confecções de Feira de Santana, Bahia................................275
Aleciane da Silva Moreira Ferreira e Márcia Suede Leite Froes da Motta
Colorindo novas ideias: estudo
de caso no Distrito Federal........................................................289
Élon R. S. Filho
Esforço inovativo e desenvolvimento de novos
produtos: evidências para empresas do segmento
de alimentação no oeste goiano..............................................297
Camilla Rodrigues de Paula e Luciana Carvalho
Inovação de produtos e estratégia
competitiva: estudo de caso em uma pequena
empresa do segmento de alimentos...........................................313
Susane Augusta Rodrigues e Luciana Carvalho
Inovar para sustentar o desenvolvimento
Inovar para sustentar o
desenvolvimento: desafio para o Brasil
Os pequenos negócios e o
empreendedorismo inovador no século 21
Inovação para a sustentabilidade – o
imperativo de uma nova era
A competitividade e a inovação – uma
questão de capacidade
Inovação: conceitos e abordagens
Capítulo 1
Apresentação
Apresentação
13
O Brasil vive um momento econômico favorável, com alta
na geração de emprego e aumento da renda total da população.
Temos um forte mercado interno, com cerca de 100 milhões de
consumidores, e vamos receber grandes eventos esportivos,
como a Copa do Mundo, nos próximos anos.
Existe uma enorme janela de oportunidades, especialmente
às micro e pequenas empresas brasileiras, que representam
99% das empresas do país, mas é preciso prepará-las para
se tornarem mais competitivas e sustentáveis em longo prazo.
Além da concorrência interna, os empreendedores têm que lidar
com o interesse de empresas estrangeiras no nosso mercado.
Por isso, capacitação e gestão empresarial são essenciais
e têm prioridade nas ações do Sebrae. Mas há temas da nova
agenda do século 21, como o da inovação, que precisam
fazer parte do dia a dia dos pequenos negócios para fidelizar o
consumidor, que está cada vez mais exigente. A inovação cria
um diferencial e é importante para elevar o valor agregado dos
produtos e serviços comercializados.
Essa coletânea de 21 artigos, divididos em quatro capítulos,
traz percepções plurais sobre o tema da inovação no universo
das micro e pequenas empresas. Mas o que prevalece é o
sentido de urgência: para crescer e sobreviver, é preciso inovar.
Para inovar, é preciso fazer algo diferente, melhorado. Não se
trata apenas de avanço de tecnologia, de produto. A inovação
pode estar presente no processo de produção de uma empresa.
Luiz Barretto
Presidente do Sebrae Nacional
14
Apresentação
O dono de uma sorveteira, por exemplo, pode modificar o
processo produtivo da empresa fazendo uma simples troca de
maquinário, o que pode significar economia nas contas no fim
do mês. A eficiência energética que será aplicada vai reverter
em mais produtividade e lucratividade para o empreendedor.
Vamos investir pesado em soluções inovadoras para os
pequenos negócios até 2016. Reservamos R$ 930 milhões
de nosso orçamento para cumprir nossa missão institucional
nessa temática. Hoje temos dois programas nacionais que
concentram nossas ações em inovação: o Agente Locais de
Inovação (ALI) e o Sebraetec.
O ALI é um programa muito exitoso, feito em parceria
com o CNPq, que leva inovação para dentro das micro e
pequenas empresas. Hoje temos cerca de mil agentes, que
são universitários recém-formados e bolsistas custeados pelas
duas entidades, cuja tarefa de cada ALI é fazer um diagnóstico
de 50 empresas e oferecer soluções adequadas para seus
gargalos no período de dois anos.
Outro produto importante que temos é o Sebraetec,
programa que aproxima oferta e demanda de serviços
tecnológicos à empresa de pequeno porte. É oferecido subsídio
de até 90% dos custos para que as empresas adotem novas
tecnologias ou processos.
O mundo corporativo já se deu conta da importância
da inovação para melhorar a gestão, o desempenho, as
oportunidades e o lucro das empresas. E as micro e pequenas
empresas não podem ficar de fora dessa realidade. Acreditamos
que o Brasil tem condições de alavancar sua posição no ranking
de países inovadores até pela natureza criativa de seu povo.
Estamos empenhados em promover uma mudança nos
procedimentos e processos internos dos pequenos negócios
Apresentação
15
e a publicação deste livro é mais uma prova disso. Não se trata
só de uma questão de crédito ou investimento. O problema,
muitas vezes, é cultural. Alguns empreendedores têm costume
de fazer os negócios sempre da mesma forma, mas é preciso
avançar nesse sentido.
Com inovação, as micro e pequenas empresas se tornam
mais competitivas e preparadas para enfrentar os desafios
futuros. Mais preparadas, contribuem para o desenvolvimento
econômico do nosso país. Completamos 40 anos em 2012 e
temos orgulho de poder construir junto essa nova agenda para
os próximos anos.
Desejo uma boa leitura!
Inovar para sustentar o desenvolvimento
Inovar para sustentar o
desenvolvimento: desafio para o Brasil
Os pequenos negócios e o
empreendedorismo inovador no século 21
Inovação para a sustentabilidade – o
imperativo de uma nova era
A competitividade e a inovação – uma
questão de capacidade?
Inovação: conceitos e abordagens
Capítulo 1
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
19
Inovar para sustentar
o desenvolvimento:
desafio para o Brasil
João Carlos Ferraz
Felipe Silveira Marques
Érika Amorim Araújo1
Introdução
O desenvolvimento resulta de processo de mudança
estrutural, por definição, desequilibrado, cheio de tensões. Os
economistas de filiação schumpeteriana têm uma expressão
muitopertinente:duranteperíodosdeintensamudança,ocorrem
desencontros entre “velhos” e “novos” ativos e competências.
Há hiatos que não se encaixam, e o mais relevante: num
momento de incertezas, terão vantagens aqueles que tiverem
a atitude de experimentar o novo. Alguns falharão, outros
vencerão, mas o que importa é menos a certeza de acertar ou
errar e muito mais a experiência de fazer algo diferente.
O processo de inovação é, portanto, essencial para
mitigar os desequilíbrios inerentes ao processo de crescimento
e desenvolvimento. A capacidade de inovar é chave para
todos aqueles que almejam estabelecer uma trajetória de
desenvolvimento sustentável de longo prazo.
1	 Economistas. O primeiro é vice-presidente. Os demais, assessores da presidência do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Este artigo resume a palestra
proferida pelo primeiro no III Encontro Nacional dos Agentes Locais de Inovação, promovido
pelo Sebrae.
20
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
Este artigo faz uma reflexão em torno do desafio de
inovar para sustentar o desenvolvimento e está dividido em
quatro partes. A primeira oferece uma leitura das principais
tendências observadas em um mundo que se defronta com
um ambiente de prolongada crise econômico-financeira
e transição de paradigmas; a segunda parte apresenta
alguns elementos que definem as características básicas do
processo de desenvolvimento brasileiro no momento atual;
a terceira, a partir do contraste entre mundo e Brasil, indica
perspectivas. Por fim, a quarta parte traz reflexões sobre a
inovação como sustentáculo do desenvolvimento e resposta
às incertezas do quadro atual.
O mundo em que vivemos e o futuro:
algumas certezas e muitas dúvidas
A atual crise financeira está contribuindo para queimar ativos
e recursos obsoletos – equipamentos, qualificações, e práticas
de negócios – que já não são mais produtivos. Vivemos em um
ambiente marcado pela transição de paradigmas. Os novos
ativos, as novas qualificações ainda são emergentes. Alguns deles
conseguimos perceber de maneira relativamente clara; outros,
que serão dominantes no futuro, ainda não se consolidaram. No
contexto vigente, prevalece a incerteza que alimenta e é alimentada
por uma crise de prolongada duração, o que significa que ainda
vamos conviver com incertezas por um longo período.
A economia mundial apresenta países que avançam em
velocidades muito diferentes. Alguns países da Ásia estão em
um ritmo de crescimento completamente distinto de outros
da mesma região. Na Europa, há países em uma crise séria e
outros, em menor grau, com situações menos precárias. Como
se trata de um processo amplo com velocidades diferenciadas,
a nossa capacidade de generalizar processos no atual momento
da economia mundial é muito limitada. Essa é a primeira
tendência a ser observada pelos países, onde se inclui o Brasil,
que buscam um caminho para o desenvolvimento sustentável.
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
21
Aos poucos, vão surgindo novos protagonistas entre as
velhas lideranças da geopolítica mundial. A China, a Índia e o
Brasil serão relevantes na mesa de negociação internacional. O
quenãosabemosaindaéseessamultipolaridadeseránegociada
ou conflituosa. Sabemos que a China será protagonista, mas
não sabemos como a China será protagonista. Sabemos que
a Índia e o Brasil serão protagonistas, mas não sabemos como
esses dois países exercerão o novo papel. Essas respostas
ainda são desconhecidas.
Uma segunda tendência provável, que independe do
que acontecer na economia central – e estamos assistindo
um exemplo no Brasil – refere-se à incorporação de muitos
trabalhadores aos mercados e à formação de uma nova classe
média cujas aspirações e padrões de consumo ainda não são
dominantes.
Muito se fala de países emergentes (emerging countries), mas
na verdade estamos falando é de classes médias emergentes.
E quais são as suas aspirações? O que querem e vão querer?
A referência que se tem é a do norte-americano: ele quer ter
pelo menos um grande carro, casar e poupar para mandar o
filho à universidade. Esse é um estereótipo conhecido. Teremos
o mesmo estereótipo para o mexicano, o indonésio, o brasileiro,
o chinês?! Não conhecemos as aspirações, não conhecemos
qual é a estética preferencial da classe média emergente. Não
conhecemos; possuímos apenas algumas referências genéricas.
Mesmo que as economias centrais se encontrem em
crise, a demanda nos países de renda média e alta ainda é
economicamente relevante. Por mais que a taxa de crescimento
da China seja muito elevada, 2/3 da demanda mundial ainda se
encontra nos países da OCDE2
. Neles está a riqueza estabelecida
e os definidores de padrão de consumo, por enquanto.
2	 Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
22
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
Do ponto de vista político, temos a eclosão de fatos como
a democracia árabe, os indignados na Porta do Sol, em Madrid,
na Espanha, os jovens estudantes em Santiago, no Chile. Existe
assim uma grande agitação, a exemplo do que ocorria nos anos
60. Entretanto, as aspirações atuais são muitas, estão dispersas
e as frustrações se multiplicam. Há um sentido de impotência
enquanto àquela época se sonhava com um mundo diferente.
Hoje, a sensação de incapacidade para realizar sonhos é maior
e não há muito espaço para utopias coletivas.
Os estudantes do Chile querem mais educação; os
jovens árabes querem mais liberdade; os ocupantes de Wall
Street querem menos Wall Street. É um mundo que está
sob contestação, mas sem nortes claros. O Brasil oferece
um exemplo de que é possível consolidar uma democracia,
mas o processo democrático, atualmente estável, é fruto do
amadurecimento das nossas instituições que vem desde 1988.
Para os países que estão apenas estreando democracia, haverá
ainda um longo caminho a ser percorrido.
A terceira tendência provavelmente é algo que o Brasil
conviverá durante muitos anos e na realidade concreta do
exercício daqueles que forem apoiar as empresas: o acirramento
da concorrência. Se de um lado, as economias centrais estão
com baixo crescimento e têm muitas empresas competentes, e
se de outro, surgem, cada vez mais, empresas competitivas nos
países ditos emergentes, o resultado é que há muitas empresas
para poucos mercados. Portanto, a competição pela geração,
distribuição e, principalmente, pela apropriação de riquezas vai
ser feroz em qualquer espaço.
Além do acirramento da concorrência, deverão ocorrer
mudanças muito fortes nas próprias práticas competitivas. Cada
vez mais TI, Cloud Computing... Mas não se sabe que normas
e práticas serão vencedoras e, provavelmente, superaremos “a
norma”, o just in time, o padrão japonês, o ciclo de controle de
qualidade. É provável que não haverá apenas um padrão e sim
vários, e ainda não sabemos organizar ou mesmo reconhecer
esses padrões.
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
23
Obviamente que, em um contexto dessa natureza, outra
tendência provável é que a pressão sobre recursos – entendidos
em sentido amplo – será muito forte. Recursos humanos,
insumos para produção, matérias-primas serão demandados
em crescente volume e com restrições em termos de eficiência.
Os desafios associados ao meio ambiente é apenas uma
das faces dessa tendência. O tema tem aumentado de
importância, mas não sabemos se efetivamente a trajetória do
desenvolvimento será verde, no sentido mais estrito, ou se será
protagonista nas agendas públicas e privadas.
Observamos um mundo em crise, baixo crescimento,
mas não se passa um dia que não se leia alguma coisa
surpreendente, do ponto de vista da inovação tecnológica,
por exemplo, o anúncio do último gadget que atrai a atenção
de todos e a impressão em 3D. A tendência é que o ritmo de
progresso técnico seja bastante acelerado nos próximos anos,
e associado a ele haverá investimentos crescentes por parte de
alguns países e de muitas empresas em inovação.
Por último, o mundo assiste um pêndulo entre o peso
relativo da economia de estado versus economia de mercado.
Contrapor esses dois agentes é sempre problemático, mas
sem maiores considerações e simplificando, podemos dizer
que hoje em dia, o pêndulo está tendendo para se ter um
maior ativismo do Estado relativamente ao que se tinha há
poucos anos.
O desenvolvimento recente
e a trajetória brasileira
Antes de passarmos para o caso brasileiro, precisamos
ter em conta a emergência de questões que refletem um
mundo que experimenta séria disjuntiva: seremos capazes
de sustentar os benefícios do progresso alcançado para
aqueles já incluídos e, ao mesmo tempo, provê-los para
aqueles ainda em processo de inclusão? No futuro próximo,
24
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
seremos cerca de 9 bilhões de pessoas no planeta. Qual será
o padrão de consumo dominante? E que sistema será esse
que vai gerar esses bens, se todos forem todos incluídos?
Qual será a capacidade do sistema inteiro de suportar essa
demanda? As respostas serão positivas à medida que se
logre o desenvolvimento sustentável, cujo o escopo devem
ser os quatro pontos destacados, a seguir:
(i) Desenvolvimento sustentável pressupõe uma
longa temporalidade. Podem ocorrer flutuações no
decorrer de uma trajetória ascendente, de crescimento,
mas o desenvolvimento para ser sustentável precisa
ser sustentável ao longo do tempo.
(ii) Desenvolvimento pressupõe o uso eficiente
dos recursos tanto no sentido de mitigar emissões
como de maximizar a recomposição daquilo que foi
queimado, o que será objeto de muita preocupação
dos agentes de inovação.
(iii) Desenvolvimento sustentável requer inclusão
econômica e social com igualdade de oportunidades.
Se não formos capazes de nos mover nesse sentido,
podemos ter uma porção de brasileiros incluídos, mas
sem possibilidades de mudança efetiva.
(iv) A âncora do desenvolvimento sustentável é a
capacidade de inovar das instituições. Inovar significa
não apenas estar presente no jogo, mas estar sempre
capacitado a participar do jogo ao longo do tempo.
Significa ser mais eficiente, ser capaz de introduzir
mudanças continuamente. Inovar significa abrir
oportunidades, oferecer mais e melhores empregos.
A trajetória recente do desenvolvimento brasileiro tem se
caracterizado pela democracia, inclusão econômica e social,
investimento crescendo à frente do produto e estabilidade
macroeconômica. Vejamos cada um desses pontos.
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
25
(i) Democracia. Não percebemos plenamente os
valores que estão sendo conquistados e consolidados
no dia a dia desde a última Constituição, em 1988.
Vivemos em um país democrático cuja Carta está
orientada para a inclusão, para o bem-estar, o que
por si só é um desafio extraordinário e requer tempo e
políticas bem orientadas para ser superado.
(ii) Inclusão econômica e social. A ascensão
da classe “C” impulsiona o consumo e todo um
processo de mudança na base da pirâmide social
brasileira. Estamos rompendo um paradigma de
suposta dicotomia entre crescer e distribuir, que até
pouco tempo atrás era quase um consenso. Diferente
de outros países onde essa dicotomia encontra
evidências empíricas, o Brasil está crescendo com
distribuição de renda, mas ainda há um longo caminho
para avançarmos, uma vez os nossos graus de
desigualdade são bastante elevados.
(iii) Investimento crescendo à frente do produto.
Enquanto a taxa de crescimento do investimento estiver
superioràtaxadecrescimentodoPIB,estaremoscriando
capacidade produtiva e empregos, além de evitarmos
gargalos inflacionários mais adiante. Crescimento,
desenvolvimento, estabilidade e investimento são
processos que se interligam de maneira virtuosa.
(iv) Estabilidade macroeconômica é fundamental.
A estabilidade tem uma lógica que é basicamente a
seguinte: as pessoas têm tranquilidade sobre onde
deixar seu dinheiro e com relação ao horizonte
econômico à frente. Elas podem fazer cálculo
econômico e tomar decisões com o horizonte cada
vez mais longo, quanto mais estabilidade houver.
26
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
Esses são ativos importantes para avançarmos em direção
ao desenvolvimento sustentável. São condições necessárias,
mas ainda insuficientes. Na próxima seção, veremos alguns
desafios com os quais o Brasil tem se deparado.
Desafios ao desenvolvimento
sustentável do Brasil
É importante destacar o caráter desequilibrado do
desenvolvimento, que, diferentemente do crescimento, é
um fenômeno multidimensional. Essa diferenciação fica
evidente quando ocorrem muitos processos convergentes
em diversas áreas da nossa vida, das artes à construção
civil. O Brasil viveu um período intenso de desenvolvimento,
de transformação ou de mudança estrutural nos anos 50
quando se podem citar vários aspectos marcantes, como a
construção de Brasília, a industrialização do Plano de Metas
e mesmo o advento da Bossa Nova.
Nada disso foi por acaso. Não se sabe exatamente como
as modificações ocorrem, mas a sociedade de repente dá
saltos. É preciso fazer uma análise para se reconhecer os sinais
de mudança, de ativismo na economia e em outras áreas. Esse
é o caráter multidimensional do desenvolvimento.
Desenvolvimentoéumprocesso.Eleédesequilibrado,tenso,
mas também cumulativo. O aumento da nossa capacidade de
consumir e a inclusão econômica demoraram muito tempo,
mas quando ocorreram se reforçaram, ocasionando por vezes
um hiato na capacidade de resposta do sistema produtivo
frente ao consumo.
Alguns processos são muito rápidos, como a produção
de televisores, na qual é possível ampliar a capacidade
produtiva em uma velocidade muito grande da mesma
forma que se pode desacelerá-la. Tal não ocorre na indústria
automobilística, que leva até três anos para aumentar sua
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
27
capacidade de produção. Há um hiato diferenciado entre
consumo e produção de bens e serviços.
Pensemos nos automóveis. As ruas estão cheias deles,
por isso, é preciso construir estacionamentos, infraestrutura,
portos, rodovias etc. O tempo de maturação dos investimentos
em infraestrutura, por seu turno, é ainda maior do que o
necessário para a expansão da capacidade produtiva da
indústria automobilística. Portanto, agora há um hiato também
entre a produção e a construção da infraestrutura. E esse hiato
é ainda maior na formação de recursos humanos qualificados.
Isso indica que a sociedade brasileira vai conviver com
tensões associadas ao desenvolvimento desequilibrado durante
muito tempo. E a capacidade de negociar essas tensões vai
definir o sucesso da sustentabilidade da nossa trajetória.
Para onde ir? Temos um peso enorme que é o nosso
passado. A experiência mostra que desde quando os
portugueses exploravam pau-brasil, vivíamos de termos de
troca favoráveis durante os vários ciclos da economia – do
ouro, do açúcar, do café. Enquanto o ciclo estava fluindo no
mercado global, o país seguia crescendo. Mas quando os
preços internacionais declinavam, o ciclo se esgotava – e a
economia nacional seguia na mesma direção. Esse passado
nos condena. Essa é a nossa história.
A questão agora é: será que vamos aproveitar o momento
atual? É possível que tenhamos termos de troca favoráveis
durante muitos anos. Provavelmente o minério de ferro continuará
em alta por mais alguns períodos, porque a demanda por
infraestrutura também estará ascendente. Mas essa commodity
deve ser substituída pelas proteínas à medida que os países
atingirem maior patamar de renda e, consequentemente, mais
consumo que deverá pressionar a demanda por soja e carne,
que tendem a manter preços firmes por um longo período.
Podemos seguir em frente enquanto o mercado
internacional for favorável, mas o problema se modifica quando
28
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
houver crise. Isso já ocorreu no passado. É um crescimento
dependente com baixa sustentabilidade. Outra possibilidade é
seguir rumo ao desenvolvimento sustentável e aproveitar esses
tempos de termos de troca favoráveis para fortalecermos nossa
capacidade de resistir a choques externos e ocupar espaços
em um mundo de baixo crescimento.
Vetores de um desenvolvimento sustentável
É possível que consigamos superar o passado porque o
que se configura é um perfil de oportunidades diferentes. Se
pensarmos nas estratégias já implementadas no Brasil, elas
sempre foram no sentido de empurrar a oferta ao mercado.
Exemplos:noPlanodeMetascriou-seaindústriaautomobilística;
nos primeiro e segundo Plano Nacional de Desenvolvimento
(PND) foi criada a indústria naval... Ou seja, criamos a oferta
à frente da demanda. Hoje, o Brasil se confronta com firme
demanda do mercado externo e, simultaneamente, também há
forte demanda no mercado interno, seja pelo consumo, seja
pelos investimentos em infraestrutura.
Do ponto de vista econômico, é mais lógico um desenvolvi-
mento impulsionado pela demanda e, principalmente, induzido
por políticas públicas. O BNDES faz análise sistemática da ten-
dência do investimento que ocorre por detrás dessa demanda.
Cerca de 50% da formação bruta de capital fixo são cobertas
por esse painel de empresas. Entre 2007 e 2010, o Brasil inves-
tiu R$ 1,4 trilhão e, entre 2012 e 2015, o crescimento projetado
é de 35,5% sobre o período anterior (veja quadro), quando o
país iniciou a trajetória de investimento crescendo à frente do
produto de forma sistemática. Serão quase R$ 2 trilhões de
investimentos na economia brasileira e as taxas mais expres-
sivas de crescimento estão na construção civil, na indústria de
petróleo & gás e na infraestrutura – portos, rodovias e ferrovias.
Essas áreas já começam a apresentar uma taxa de expansão
expressiva. Esse é o perfil possível de se delinear como vetores
da perspectiva brasileira.
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
29
Perspectivas para o Investimento
Setores 2007-2010
R$ bilhões
2012-2015
R$ bilhões
Variação
%
Indústria 450 596 32,5
Infraestrutura 322 397 23,3
Residencial 596 860 44,2
Total 1.368 1.852 35,5
Fonte: BNDES. Painel que representa algo em torno de 50% do investimento total
Falamos sobre o comportamento da demanda. Agora, vamos
verificar a oferta, os componentes centrais do desenvolvimento.
Primeiro, quanto à oferta de mão de obra, estamos atravessando
umperíododetransiçãodemográficaemqueataxadecrescimento
da população está diminuindo de um modo tão pronunciado que
para absorvermos a população que quer entrar no mercado de
trabalho bastará um crescimento de 2% em 2012. Há nove anos,
essa taxa teria que ser de 4% ao ano. Essa diferença mostra a
velocidade da atual transição demográfica no Brasil.
Ponto dois: o desemprego formal é baixo e decrescente;
os salários reais estão crescendo. Com a formalização do
emprego e a expansão do crédito, aumenta o potencial do
mercado interno. Mas o emprego em alta, em algum momento,
vai definir um teto para o crescimento quantitativo por falta de
oferta de mão de obra. Esse teto vai demandar novas fontes de
crescimento, se tivermos “pleno emprego” e uma população
economicamente ativa, crescendo a 1% ao ano.
Assim, coloca-se o imperativo da produtividade como
um terceiro ponto. O crescimento da produtividade no Brasil
foi de 1,3% a.a. no período de 1991 a 2010, inferior ao dos
Estados Unidos, China e Índia em termos de valor adicionado
por trabalhador. O comportamento da produtividade do
trabalhador, no entanto, varia bastante em períodos específicos
e em diferentes setores da economia, tendo crescido 6,1% no
período 1992-1998 e 18,1% de 1999 a 2008 (veja quadros).
30
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
Crescimento da Produtividade (taxa média anual)
País 1991-2010
Brasil 1,3%
Estados Unidos 1,8%
China 8,3%
Índia 4,7%
Fonte: Conference Board
Brasil, 1992-2008
Período Produtividade
do Trabalho
(variação)
Efeito
Progresso
Técnico
Composição
1992-1998 6,1% 8,1% -2,1%
1999-2008 18,1% 17,9% 0,2%
Fonte: Cepal
Se quisermos crescer 4,5% a.a., a produtividade terá
que aumentar 3,5% enquanto o emprego e a população
economicamente ativa crescerão 1,1%. Mas entre 1991 e
2010, a produtividade da economia brasileira cresceu apenas
1,3%. A taxa de crescimento da produtividade terá que ser três
vezes maior para o país registrar uma expansão de 4% ao ano.
Esse é o desafio que teremos pela frente!
A produtividade brasileira é muito baixa e há uma diferença
acentuada entre setores. Por exemplo, a agropecuária cresceu
6,7% entre 1995 e 2008, não só porque os preços das
commodities agrícolas estavam melhores como os produtores
rurais apresentaram alta eficiência no período. Já a indústria
extrativa apresentou expansão de 4,4%; eletricidade, água
e esgoto, 2,4%; comércio, 0,1%; enquanto na indústria de
transformação e na construção civil houve recuo de 0,2% e
1,2%; respectivamente (ver tabela).
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
31
Produtividade Setorial, 1995-2008
(Crescimento médio anual)
Valor Adicionado / Trabalhador Ganhos a.a: 1995-2008
Média 0,9%
Agropecuária 6,7%
Indústria Extrativa 4,4%
Indústria de Transformação -0,2%
Eletricidade, Água e Esgoto 2,4%
Construção -1,2%
Comércio 0,1%
Fonte: BNDES
A taxa de crescimento da produtividade brasileira, portanto,
apresenta grande variação entre setores. Além disso, cresce mais
por dentro de cada setor (efeito do progresso técnico) e pouco pela
transferência de trabalhadores de setores de baixa produtividade
para aqueles de maior produtividade (efeito composição). Esse
quadro define um desafio de modernização da economia brasileira.
Os agentes locais de inovação (ALI)3
, provavelmente,
serão os profissionais que mais vão observar esse fenômeno
e, ao mesmo tempo, serão os mais capazes de ajudar nessa
mudança. Porque “mudar uma grande empresa é muito difícil”,
mas uma pequena mudança também muda muita coisa, o
efeito base também importa e é um enorme desafio.
À guisa de conclusão: a inovação
como sustentáculo do desenvolvimento
A figura, a seguir, mostra como a inovação é um elemento
central de sustentabilidade e competitividade. O gráfico tem no eixo
3	 ALI – Agente Local de Inovação é um programa nacional do Sebrae que atua diretamente nas
empresas de pequeno porte com o objetivo de promover a inovação e, com isso, aumentar a
competitividade desse segmento.
32
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
vertical o PIB per capita e no horizontal, um índice composto de
inovação – não é só pesquisa e desenvolvimento, mas uma série
de indicadores. Há relação direta entre PIB per capita e capacidade
de inovar como mostram as posições ocupadas por países como
Singapura e Suíça. O Brasil tem feito grande esforço para promover
inovação, mas ainda registra cerca de 1% do PIB em P&D.
Índice INSEAD de Inovação e PIB/Capita, por país
$ 60.000
$ 50.000
$ 40.000
$ 30.000
$ 20.000
$ 10.000
0
2011 Ranking Global do Índice de Inovação
GDPPerCapita($)
Índia
Brasil
China
Japão
Alemanha
Canadá
Singapura
Suíça
Finlândia
Suécia
EUA
Entre 2006 e 2010, empresas líderes mundiais consideradas
“mais inovadoras” cresceram duas vezes mais rápido (receita e
valor de mercado) do que as maiores empresas mundiais (Forbes
Global 100). Portanto, as empresas devem inovar para estar à
frente dos concorrentes e se beneficiar de ambientes indutores:
infraestruturas, principalmente tecnologia da informação e
comunicação (TIC) e serviços técnicos de engenharia (STE),
instituições de apoio e políticas públicas ativas. Faltou o gráfico
do desempenho das empresas.
Talento é um recurso crítico que vai diferenciar a prosperi-
dade de países e empresas. O caminho a ser percorrido pelo
Brasil é ainda mais longo em relação às competências. O qua-
dro abaixo mostra a porcentagem de trabalhadores com pelo
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
33
menos ensino médio completo. O Brasil está destacado em
vermelho e, na comparação com outros países, ainda é grande
a distância que nos separa.
Brasil: % de trabalhadores com pelo menos ensino médio completo
Fonte: OIT
Rússia
Noruega
Alemanha
Suécia
Reino Unido
França
Chile
Itália
Espanha
Uruguai
México
Brasil
Turquia
Portugal
94,0
90,1
86,9
86,2
75,5
71,8
69,8
59,2
56,2
44,2
34,7
33,8
29,0
20,6
O gráfico a seguir mostra que hoje existe no mundo, apesar
da crise, pelo menos 10 milhões de postos de trabalho não
ocupados na indústria de transformação. Mesmo nos Estados
Unidos ou na Europa, há forte demanda por talentos para
ocupar determinadas posições. Há ainda os postos de trabalho
não preenchidos, que chegam a 5 milhões (bola grande), 3
milhões (bola média) e meio milhão, bola menor.
34
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
Postos de trabalho não preenchidos
12
11
10
9
8
7
6
5
4
China
Alemanha
Brasil
Japão
EUA
Índia
% de empregados com dificuldade de encontrar trabalho
5 milhões
Elaboração WEF-Deloitte Touche Tohmatsu
TaxadeDesemprego(%)(2011)
3 milhões 0,5 milhão
Tamanho da “bolha”: postos de trabalho não preenchidos
10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%
No Brasil, apesar do nível de desemprego baixo, ainda
se observa forte demanda por trabalho. Há demanda, há
perspectivas do investimento crescer à frente do produto,
temos oportunidades importantes, um modelo que está se
estabelecendo, há inclusão, há democracia, mas ainda te-
mos algumas carências: a nossa produtividade é baixa e, por
trás disso, está a nossa limitada capacidade de incrementar
a produtividade.
Devemos estar preocupados em transformar velhos ativos
em competências. Não se trata simplesmente de destruí-
los, por exemplo, eliminando postos de trabalho, máquinas e
equipamentos obsoletos por meio da introdução de automação
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
35
comercial ou industrial. O que precisamos é ser extremamente
obsessivos em experimentar e praticar o novo.
A competência para fazer os outros terem competência
é muito importante: essa é a competência central para o
desenvolvimento sustentável e o principal ativo dos agentes
locais de inovação (ALI). Os ALI receberam treinamento e serão
postos à prova agora à medida que passarem a contribuir para
que as empresas brasileiras de pequeno porte sejam melhores.
A inovação no Brasil finalmente está ganhando priorida-
de nacional. Atravessamos um momento na política industrial,
configurado no Plano Brasil Maior, em que o desafio é agregar
valor ao país por meio da inovação. Existe um movimento de
grandes empresas, com participação ativa do Sebrae, a Mobi-
lização Empresarial pela Inovação (MEI)4
, onde há dois anos os
grandes empresários brasileiros declararam incondicionalmen-
te que gostariam de dobrar o número de empresas inovadoras
em até quatro anos.
A gestão da inovação é o “calcanhar de Aquiles” nas micro e
pequenas empresas. A iniciativa do Sebrae com os ALI, portanto,
tem importância estratégica. A tarefa definida pela MEI está nas
mãos dos ALI. Não serão as grandes empresas as mais capazes
de dobrar o número daquelas efetivamente inovadoras. Esse é
um desafio colocado para os ALI. Esses agentes são os mais
habilitados e capacitados para duplicar o número de empresas
inovadoras no Brasil. Cada ALI está fazendo parte da construção
do desenvolvimento sustentável brasileiro.
4	MEI é um movimento liderado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) que visa incorporar
e aprimorar a gestão da inovação nas empresas brasileiras e ampliar a efetividade dos
instrumentos públicos de fomento à inovação no país.
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
37
Os pequenos negócios
e o empreendedorismo
inovador no século 21
Francilene Procópio Garcia1
Empreendimentos mais sustentáveis, em tempos de globali-
zação, consideram a inovação como a principal força motora para
melhorar o seu desempenho e a sua capacidade de se manter
competitivo no mercado. Os avanços tecnológicos, especialmen-
te em Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) têm me-
lhorado muito a competição movida pela globalização das eco-
nomias. Nesse cenário, mesmo as micro e pequenas empresas
(MPE) não são mais imunes aos desafios que a globalização traz.
Acrescente-se ainda o papel das MPE na maioria das economias,
uma vez que elas se apresentam como o maior bloco de negócio
e fornecem, cada vez mais, a maior parte da oferta de empregos,
inclusive em setores emergentes da economia.
No Brasil, o Anuário do Trabalho (SEBRAE, 2010-2011)
indica que as MPE respondem por 99% das empresas, mais da
metade dos empregos formais em estabelecimentos privados
não agrícolas, parte significativa da massa de salários paga
aos trabalhadores desses estabelecimentos e 25% do Produto
Interno Bruto (PIB).
Nos Estados Unidos, a participação das MPE na economia
é ainda maior, as 28 milhões de empresas que constituem o
1	 Presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores
(Anprotec).
38
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
segmento contribuem com quase 50% do PIB norte-americano
e respondem por 30% das exportações realizadas, segundo
dados da Small Business Development Centers (SBDC). De
acordo com um relatório da Comissão Europeia, em 2003,
os 25 países do bloco contavam com 23 milhões de MPE2
,
representando 99% de todas as empresas ativas na União
Europeia, que respondem por 75 milhões de empregos
(EC, 2003). Na Alemanha3
, as MPE representam 99,7% das
empresas, e respondem por 83% de todas as colocações para
treinamento, 1,36 milhão de vagas oferecidas.
A presença massiva das MPE nas economias, em
especial em economias emergentes como o Brasil, reforça a
importância de se tratar de forma estratégica a sua relação
com a inovação, contemplando a formulação, implantação e
avaliação de políticas públicas e de mecanismos que viabilizem
a promoção da inovação nesses empreendimentos. O Brasil
tem um importante papel a desempenhar nesse cenário, sendo
necessária a sistematização de políticas públicas que apoiem
as MPE como parte de uma estratégia nacional em prol da
inovação. Esse é um desafio legítimo para o Brasil.
A inovação posiciona
as mudanças nas MPE
Drucker (1988) define inovação como o instrumento
específico dos empreendedores, o processo pelo qual eles
exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio
diferente ou um serviço diferente. Inovação é uma combinação
de necessidades sociais e de demandas do mercado com os
meios científicos e tecnológicos para resolvê-las. Neste início
2	 A Comissão Europeia define as MPE como “empresas que empregam menos de 250 pessoas
e que apresentem volume de negócios anuais inferior a 50 milhões de euros, e/ou um balanço
anual não superior a 43 milhões de euros”.
3	 O Institut für Mittelstandsforschung (IFM), com sede em Bonn, Alemanha, define as MPE como
empresas que empregam menos de 500 pessoas e cujo volume de negócios anuais não exceda
50 milhões euros.
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
39
de século 21, percebe-se o surgimento de um novo desafio
em torno do conceito de inovação – a inovação vem sendo
disseminada por meio de múltiplos agentes e de forma mais
aberta. É nesse espaço que as MPE e as empresas nascentes se
posicionam como importantes atores – tais empreendimentos
são fundamentais para movimentar e animar o mercado ao
apresentar novas ideias.
É oportuno refletir acerca do que há de novo no século
21 e sobre o papel desempenhado pelas MPE em sinergia
com a movimentação do empreendedorismo inovador – uma
importante alavanca para o desenvolvimento das economias.
As mudanças nos processos de inovação no século 21
assinalam um deslocamento da “Economia da Gestão” para a
“Economia do Empreendedorismo” (Thurik, 2009; Audretsch e
Thurik, 2004). Inicialmente, a ciência e a P&D implementadas
nas grandes empresas tiveram uma importante contribuição
para as economias. Nos dias atuais, o empreendedorismo passa
a ser considerado um dos principais focos para a inovação.
Thurik (2009) distingue três fases históricas dessas mudanças
nos processos de inovação enfatizando, num contraponto, a
crescente valorização das MPE:
1.	 Schumpeter Fase I (1934). As ideias iniciais de Schumpeter
foram disseminadas no início do século 20. Suas ideias
atribuíam ao empreendedor um papel central na produção
do crescimento econômico ao desafiar e desequilibrar a
ordem econômica existente, viabilizando a introdução de
inovações nas empresas e reinventando processos de
negócios, o que foi chamado de “destruição criativa”.
2.	 Schumpeter Fase II com a “Economia da Gestão” (1942).
Schumpeter revisitou suas ideias ao perceber que o
poder das grandes empresas crescia com a exploração
da elasticidade de preços e com o crescimento da
demanda. A inovação a partir dos anos 40 até os anos
70 era dominada pelas grandes empresas, mais aptas
para explorar economias de escala na P&D, produção,
40
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
distribuição, e gestão. Neste período as MPE participavam
muito discretamente, com muitas limitações para inovar,
resultante de baixos gastos com P&D. Este período,
conhecido por “Economia da Gestão”, uma denominação
de Schumpeter, assinalou a superioridade das grandes
empresas para inovar em função de sua capacidade de
investir em P&D.
3.	 A “Economia do Empreendedorismo”. Novas mudanças
foram percebidas já no final dos anos 70 e continuam até os
dias atuais. Trata-se de mudanças na estrutura e na forma
como as operações são conduzidas nas economias mais
avançadas. Observa-se a redução gradativa da importância
de economias de escala e um reposicionamento do papel
das MPE na forma como novos processos de inovação
surgem e se desenvolvem.
Com a redução da importância das economias de escala,
surgem novas tendências que englobam o aparecimento da
economia aberta, das conexões globais, da inovação não
tecnológica, da inovação social e do empreendedorismo social.
Renova-se cada vez mais a importância da promoção da cultura
empreendedora, em especial no âmbito das MPE.
O papel das MPE no Século 21
As MPE constituem a base da sociedade e de nossas
economias em tempos de transformação e, portanto, devem
ser auxiliadas para que compreendam o seu papel junto aos
novos desafios que esta nova dinâmica de desenvolvimento
social e econômico nos recomenda.
As MPE devem ser preparadas para que possam
introduzir novos produtos e serviços e alcançar formas de
operação mais eficientes. É importante ressaltar que nem
todas as empresas já estabelecidas ou mesmo as recém-
criadas serão iguais em termos de capacidade para inovar.
Em função de facilidades oferecidas pelos ambientes onde
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
41
as empresas se desenvolvem, percebe-se o surgimento de
grupos de empresas altamente inovadoras e com um potencial
de crescimento elevado, atraindo investidores desde cedo. As
políticas públicas e os instrumentos de apoio à inovação para
serem mais efetivos devem reconhecer esta diferenciação
entre estes grupos de empresas.
Segundo dados da (OECD, 2010), um levantamento
realizado em 11 países sugere que para cada cem empresas,
com dez ou mais empregados, existe pelo menos duas ou no
máximo oito empresas com alto potencial de crescimento.
Anyadike-Danes (2009) assinala que apenas 6% das empresas
britânicas com as maiores taxas de crescimento são as
responsáveis pela geração da metade dos novos empregos
criados entre 2002 e 2008 – a inovação é a razão de tal
sucesso. A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM)
sugere que apenas 6,5% dos novos empreendedores são
“Empreendedores com alto potencial”, cuja expectativa é a de
criar 20 ou mais postos de trabalho num prazo de cinco anos.
Existe, portanto, uma grande maioria de MPE que inova
muito pouco. Tais empresas não devem ser negligenciadas, pois
mesmo as pequenas inovações ou as diferenças discretas no
potencial de crescimento podem vir a representar um potencial
quando se observa o número de empresas envolvidas. Esse é
um desafio a ser endereçado em países como o Brasil, cujos
empreendedores por oportunidade ocupam a 12ª posição,
com uma taxa de 10,23%, superior a média de todos os países
participantes (7,57%) (GEM, 2011).
Em todo o mundo, as MPE são percebidas como
fundamentais para os novos processos de inovação em razão
de sua capacidade para reconhecer e explorar as oportunidades
de mercado que emergem das mudanças tecnológicas e
competitivas. Por outro lado, apesar das limitações inerentes
ao perfil das MPE, a inovação nos moldes atuais tende a ser
realizada em colaboração com universidades, centros de P&D,
clientes, fornecedores, empresas concorrentes e consumidores,
tendo custos e atribuições compartilhados.
42
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
Observa-se ainda um deslocamento da manufatura para
os serviços e a promoção de novos tipos de inovação não
tecnológica4
, que geram economias de escala em P&D muito
menos significativas. As inovações não tecnológicas são muito
importantes para as MPE, por exemplo, uma pequena empresa
pode monitorar avanços de seus concorrentes por meio das
informações publicadas em mídias digitais.
As novas estratégias para inovar
AodestacaraimportânciadasMPEedoempreendedorismo
inovador no século 21 e o papel de políticas públicas em
resposta aos desafios que tais empreendimentos enfrentam,
a OECD lançou uma publicação com recomendações
importantes para a definição de estratégias, políticas públicas,
e instrumentos de forma a assessorar os governos para lidar
com os desafios da melhor inserção da inovação nas MPE. A
publicação (OECD, 2010) explora de forma mais contundente
três temas de interesse, ainda insuficientemente reconhecidos
pelos governos, inexistentes na maior parte das políticas
públicas em vigor no mundo.
Um dos temas explora os fluxos de conhecimento: como se
deve se promover a inserção de micro e pequenas empresas
em cadeias de conhecimento, de forma a facilitar a obtenção de
ideiasparaqueaempresainoveemsintoniacomastendênciasde
mercado. Uma constatação fundamental é de que as pequenas
empresas não inovam por si mesmas, mas em colaboração com
fornecedores, clientes, concorrentes, universidades, centros de
P&D, dentre outros. As redes de parcerias auxiliam a superar
alguns dos obstáculos que uma empresa de pequeno porte
pode enfrentar para se tornar inovadora.
4	 A inovação não é apenas alcançada com base em ciência e tecnologia. Existem outras formas
de inovação. A implementação de novos processos organizacionais nas práticas de negócios
das empresas, no ambiente de trabalho e nas relações com o mercado podem gerar impactos
significativos na competitividade das empresas, no crescimento de sua produtividade e na
criação de valor.
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
43
Nesse ponto, é também importante destacar o papel
desempenhado pelo ambiente e atores locais − a força dos
parceiros tecnológicos locais, dos mecanismos que favorecem
ao relacionamento entre universidade-empresa, governo-
empresa, empresa-empresa, e assim por diante − é crucial para
viabilizar a apropriação oportuna de ativos de conhecimento
que promovam o crescimento de tais empreendimentos. Por
outro lado, o foco não deve ser inteiramente no local.
Um segundo tema de interesse é o desenvolvimento de
habilidades e capacidades para o empreendedorismo inovador
em novas empresas e nas MPE existentes. É oportuno mapear,
em cada realidade, quais são as habilidades necessárias para que
MPE possam inovar. Como podemos melhorar a capacidade da
forçadetrabalho,emgeralenxuta,dasMPE?Quaiscompetências
são necessárias para que se promova, sistematicamente, o
surgimento de empresas inovadoras? Apesar da presença de
universidades na oferta de cursos com ênfase na promoção do
empreendedorismo, percebe-se a necessidade de se identificar
quais as prioridades e os princípios que devem fundamentar
esta formação. Os esforços de instituições de ensino e demais
centros de capacitação, a exemplo da atuação do Sebrae no
Brasil, são fundamentais para se medir o tamanho do desafio.
O ensino do empreendedorismo não deve se limitar à sala
de aula ou às estruturas formais de aprendizagem. Os funcio-
nários e colaboradores das MPE devem buscar aperfeiçoar
suas habilidades empreendedoras através de interações com
seus colegas de trabalho, fornecedores, clientes e consultores.
Essas interações ocorrem frequentemente por meio de relacio-
namentos estabelecidos entre as MPE e seus fornecedores, em
processos que são conhecidos como atividades intensivas em
conhecimento (AIC)5
.
5	 Segundo (OCDE, 2010), atividades intensivas em conhecimento (AIC) são aquelas produzidas ou
integradas por empresas ou por atores, nos diversos contextos organizacionais, de manufatura
ou de serviços, paralelamente à produção manufatureira ou enquanto serviços autônomos. O
papel das AIC depende de certo número de parâmetros, tais como natureza da organização,
características da cadeia de valor e ciclo de vida do processo de inovação
44
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
O terceiro tema é aquele que está provocando crescente
interesse de formuladores de políticas públicas: o empreende-
dorismo social e a inovação social. Esse tema insere-se bem no
conceito mais amplo de inovação que os governos começam
a adotar, quando identificam as novas demandas da sociedade
em torno da inovação – a qual não se limita ao que é entregue
pela ciência ou através de P&D, mas também por meio de atores
que colocam o social em primeiro lugar.
Oobjetivodeempreendedoreseempresassociaiséfornecer
soluções inovadoras para problemas sociais não resolvidos.
Por exemplo, existe uma Cooperativa Social de Saúde, criada
na Coréia, cuja inovação social refere-se às mudanças sociais
implementadas em resposta às necessidades e desafios de se
prover atendimento básico de saúde a uma população carente.
No Brasil, a Lei Complementar nº 128, de 19/12/2008, que
criou as condições especiais para que o trabalhador informal
possa se tornar um Empreendedor Individual (EI) formalizado
e legalmente estabelecido é outro exemplo. Nos Estados
Unidos foram criadas Contas Individuais de Desenvolvimento,
uma combinação de poupanças, que as pessoas mais
pobres podem acumular, com dinheiro público para fomentar
uma base de ativos que viabilize alternativas para a inclusão
produtiva e social.
Políticas públicas que promovem o
empreendedorismo inovador
É compreensível o quanto as MPE e o empreendedorismo
são fundamentais para a inovação no século 21. No entanto,
percebe-se ainda a ausência de políticas públicas que
contemplem plenamente as MPE nas estratégias nacionais
em prol da inovação. As políticas públicas dos governos ainda
não se ajustaram à nova realidade. Apoiar a pesquisa, com
subsídios para uma minoria de grandes empresas, laboratórios
de universidades ou centros de P&D, exclusivamente, não
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
45
parece ser a maneira mais eficaz de gerar inovação num
ambiente onde o conhecimento passou a fluir globalmente.
Será necessário refletir e atuar na superação de alguns
desafios:
•	 Promoção da cultura do empreendedorismo. São
necessárias políticas que promovam de forma perene
a atitude empreendedora no cidadão. Premiações para
ações empreendedoras devem ser criadas em todos os
recantos do país. Por exemplo, a premiação de ideias que
inovem com práticas que qualifiquem e dinamizem o ensino
do empreendedorismo.
•	 MPE e o empreendedorismo inovador. As MPE inova-
doras deveriam ter acesso facilitado a produtos e serviços
em instituições de apoio e agências de fomento, tais como:
isenções fiscais, programas de compras governamentais,
regulação da produção, regulação de mercado, proprie-
dade intelectual, dentre outros instrumentos. Um contra
exemplo, a Lei do Bem é inacessível às MPE.
•	 Acesso ao financiamento. É singular a baixa presença
de recursos para financiamento da pesquisa nas MPE, em
especial nos estágios iniciais da inovação. Trata-se de uma
barreira grave para a inovação fluir. Os instrumentos de
fomento tais como a subvenção econômica e as linhas de
crédito devem considerar os vários momentos do ciclo de
P&D nas MPE, considerando ainda a presença do capital
de risco. Os empreendedores precisam ser capacitados em
programas específicos, sendo oportuna ainda a exploração
de redes que promovam a parceria entre empresas.
•	 Transferência de conhecimento. Um dos principais
motores do empreendedorismo inovador é a troca de co-
nhecimento entre parceiros. Isto implica na necessidade
de se desenvolver uma política forte para apoiar a trans-
ferência entre os ambientes e as empresas que desejam
explorar tais oportunidades no mercado. Os Parques Tec-
46
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
nológicos e as Incubadoras de Empresas são modelos de
mecanismos que incentivam a mobilidade de pessoal e de
ativos de conhecimento entre universidades e empresas.
É necessário investir de forma mais sistemática nesses es-
paços inovadores.
Referências bibliográficas
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DRUCKER, P. F. The coming of the new organization.
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2009.
Empreendedorismo no Brasil. Pesquisa GEM. 2011.
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
47
Inovação para a
sustentabilidade – o
imperativo de uma
nova era
Jairo Martins da Silva1
Introdução
É no mínimo notório como a palavra “inovação” passou,
em âmbito mundial, a ser exaustivamente usada pelas
organizações de qualquer setor, tipo e porte. Mesmo sem
uma conceituação clara e precisa, a inovação começou, de
repente, a fazer parte das estratégias organizacionais, surgindo
como uma verdadeira cura para todos os males que afetam o
desempenho e a competitividade dos países e das empresas.
Nesse contexto, o objetivo deste artigo é demonstrar por-
que a inovação, se compreendida e praticada no seu sentido
mais amplo, é o único caminho para que os governos, em-
presas e cidadãos consigam gerar valor de modo a atingir o
desejável e necessário estado de uma sociedade sustentável:
economicamente saudável, ambientalmente responsável, so-
cialmente justa e eticamente transparente.
1	 Superintendente-geral da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ)
48
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
O que é inovação?
Devido à pluralidade de enfoques e profundidades de
conceituações, entendimentos e caracterizações, pode-se
facilmente constatar que o tema, na maioria das iniciativas das
organizações, ainda não saiu da esfera dos debates para uma
efetiva implantação da prática no seu dia a dia.
Enquanto teóricos ortodoxos se perdem em intermináveis
discussões sobre os diversos conceitos e definições, sejam dos
manuais de Oslo ou Frascatti, das argumentações de Schumpeter
ou Dosi ou mesmo se as inovações são radicais ou incrementais, o
fato é que pouco se evoluiu no mundo e, principalmente, no país.
Diariamente surgem premiações, grupos de estudos e comitês,
bem como solicitações de incentivos financeiros, sem que se
apresentem soluções qualitativas e quantitativas abrangentes, que
possam ser implantadas para colocar as organizações e os países
na trilha da inovação ampla e irrestrita. Têm-se a impressão de que
a gestão organizacional atingiu um estado de esgotamento com
relação à inovação, do qual está difícil de sair.
Devido ao viés predominantemente econômico da
sociedade atual, justificado por muitos pela crise financeira
mundial, quase todas as iniciativas se enveredam pela inovação
puramentetecnológica,numavisãomíopedasoportunidadesde
melhorias para a sociedade e da utilização das potencialidades
da mente e do conhecimento humano.
Afinal de contas, o que vem a ser a inovação no seu sentido
mais amplo?
De forma simples e descomplicada, a “inovação” pode ser
conceituada e entendida como “a criação e a implantação, com
sucesso, de uma ideia nova, que gere valor para a sociedade”.
Pormeiodessadefinição,percebe-sequeasoportunidades,
se observadas em contexto expandido, são infinitas, podendo
beneficiar a sociedade como um todo, nos mais diversos
setores de atividade e ramos do conhecimento.
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
49
A inovação na linha do tempo
Embora, nos últimos tempos, a inovação tenha se transfor-
mado em objetivo estratégico dos governos e organizações, o
tema não é novo.
Desde a pré-história, o homem das cavernas sempre
buscou atender às suas necessidades, transformando os
recursos encontrados na natureza em alimentos, vestuários e
objetos, que garantissem sua sobrevivência. Com o tempo,
a vida em comunidades levou o homem, que supria as suas
próprias demandas com produtos feitos artesanalmente, a
entender que o processo de troca das suas habilidades poderia
ampliar as suas possibilidades de conforto, gerando assim valor
para a sociedade da época.
Se analisadas de forma, mesmo superficial, sem muitas
teorias, as atividades transformativas, às quais se dedicou o
homo sapiens, constituem verdadeiras manifestações da ino-
vação que foram implantadas para solucionar os problemas
que ameaçavam o seu bem- estar e limitavam o seu desen-
volvimento.
Saindo da pré-história, passando pela antiguidade, pela
Idade Média, pela Idade Moderna até os dias de hoje, a
humanidadenãoteriaatingidooestadoatualdedesenvolvimento
se não fosse a capacidade criativa e de inovação do homem.
A invenção da escrita, o surgimento das diferentes civi-
lizações e a criação dos diversos sistemas políticos estabe-
leceram os alicerces da sociedade contemporânea. Nesse
processo evolutivo, a humanidade experimentou uma trans-
formação radical ao sair da economia agrária, baseada no
trabalho manual, para a economia industrial, caracterizada
pelo trabalho mecanizado e especializado. O uso de má-
quinas e de novas fontes de energia, o desenvolvimento do
transporte e da comunicação e a aplicação da ciência ao
processo produtivo caracterizaram, em meados dos anos
1.700, a primeira Revolução Industrial.
50
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
Mudando o caráter do trabalho, o homem se tornou
complemento da máquina e passou a receber um salário. Um
século depois, teve início a segunda Revolução Industrial, marcada
pelo uso de novas fontes de energia (eletricidade e petróleo), a
substituição do ferro pelo aço e a criação da linha de montagem.
Após a Grande Depressão, resultante da quebra da Bolsa
de Nova York, e a II Guerra Mundial, deu- se início à terceira
Revolução Industrial. A necessidade de se reconstruir o
mundo destruído, arruinado e politicamente dividido foi fator
motivador para um fantástico desenvolvimento científico e
tecnológicoemtodosossetoresdoconhecimento.Osavanços
decorrentes da microeletrônica, das telecomunicações, da
energia nuclear, das técnicas agropecuárias e das pesquisas
no campo da saúde foram responsáveis por grandes
mudanças no modo de vida da sociedade.
No período pós-guerra, no âmbito das empresas e dos
governos, surgiram novos conceitos econômicos e novas teorias
administrativas, que passaram a influenciar a gestão das nações
e das organizações. Os conceitos de planejamento estratégico
e marketing foram amplamente difundidos e aplicados para uma
atuação mais estruturada das empresas no mercado. O conceito
atual de Produto Interno Bruto (PIB), como principal medida
usada para avaliar o tamanho de uma economia, passou a ser o
parâmetro de comparação entre nações.
Finalmente, chega-se ao atual período da vida econômica
mundial: a globalização. Marcada simbolicamente pela queda
do Muro de Berlim, em 1989, e pela derrocada dos regimes
comunistas,aglobalizaçãocaracterizou-sepelainterdependência
entre os atores econômicos globais – governos, empresas e
movimentos sociais. A revolução tecnológica dos anos 90,
especialmente nas telecomunicações, por meio da inovadora
internet, potencializou as possibilidades de integração econômica
à distância. Chega-se, então, à Era da Informação.
Acirculaçãomaisvelozdecapitalpeloplaneta,caracterizada
pelopensamentoeconômiconeoliberal,facilitandoinvestimentos
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
51
e ações especulativas, fez com que as cadeias produtivas se
espalhassem pelo globo, transferindo empresas para países
de baixo custo de produção, aumentando assim as margens
e os lucros dos grandes grupos multinacionais. Mesmo tendo
sido responsável pelo crescimento da produção e do comércio
mundiais, a globalização não conseguiu evitar que a riqueza
se concentrasse num pequeno grupo de países, reforçando a
desigualdade entre nações. Atualmente, os países emergentes,
nomeados de Brics, liderados principalmente pela China, Índia
e Brasil, tentam mudar essa relação.
Ofatoéque,numasimplesanálisedahistóriadahumanidade,
asatisfaçãodasnecessidadesdasociedadesemprefoialcançada
por meio da inovação em processos, produtos, serviços, gestão,
tecnologia, governança e relações entre as partes interessadas.
Então, por que se fala tanto em inovação no cenário atual,
se ela sempre esteve presente no dia a dia da humanidade?
Será que se chegou a um estado de estagnação ou se está
tentando aplicar as mesmas ferramentas de desenvolvimento
do passado a uma realidade que não mais as comporta?
Excessos e limites
Os conceitos econômicos e organizacionais, surgidos no
período pós-depressão e pós-guerra, embora, de certa forma,
coerentes com a necessidade da época, de reconstruir uma
sociedade destruída, deixaram de considerar um importante
fator: os recursos naturais do planeta são finitos.
O composto de marketing, caracterizado pelos 4P (Pro-
duto, Preço, Praça e Promoção), é definido como a estratégia
empresarial de otimização do lucro por meio da adequação
da produção e oferta dos seus produtos às necessidades e
preferências dos consumidores. Assim, o marketing preconi-
za ter o produto certo, no lugar certo e no momento certo,
assegurando que o cliente tenha conhecimento do produto e
maximizado o lucro da empresa.
52
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
Por outro lado, o PIB, criado pelo economista britânico
Richard Stone, é definido como a soma do valor de todos os
bens e serviços produzidos em determinada área geográfica (em
geral, um país) num certo período de tempo (em geral, um ano).
Em ambos os conceitos, está explicitado que as palavras
de ordem são “produzir” e “consumir”, a qualquer custo,
para gerar riqueza pela transformação de recursos naturais,
humanos e intelectuais em produtos. Os investimentos em
processos, abrangendo toda a cadeia de valor dos diversos
segmentos, redundaram numa maior produtividade, o que
aumentou consideravelmente a competitividade dos países
desenvolvidos.
Todos esses conceitos, então praticados na gestão
organizacional privada ou pública, de estímulo desenfreado à
produção e ao consumo, sem uma preocupação com a finitude
dos recursos naturais, caracterizaram o que se pode denominar
como a Era dos Excessos. Sem ser percebido o poder destrutivo
e insustentável dos sistemas de produção e consumo, tudo teria
que ser grande e abundante para gerar atividade econômica e,
então, aumentar o PIB, que é a medida do sucesso.
Iniciados na década de 60, os tímidos movimentos de alerta
para o crescimento exponencial da população mundial diante
dos indícios de escassez de água e recursos naturais pouco
sensibilizaram a sociedade de forma homogênea.
A partir do início dos anos 90, especificamente desde a
ECO 92, o mundo tomou consciência dos dramáticos impactos
causados pelas atividades produtivas no meio ambiente,
evidenciados pelas adversidades climáticas que passaram a
ocorrer nas diversas regiões do planeta, ocasionando verdadeiras
catástrofes naturais e dizimando centenas de milhares de vidas.
O processo de exaustão dos recursos naturais, associado
ao vertiginoso crescimento da população mundial, dava início ao
surgimento de uma nova era: a “Era dos Limites”. Dessa forma,
a década de 90 passava a constituir um importante marco da
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
53
história da humanidade – o início da “Era da Sustentabilidade”,
quando se buscava conjugar o desenvolvimento econômico,
preservando o meio ambiente e promovendo o bem-estar social.
O atual desafio dos países e das organizações é como se
tornar e continuar competitivos em um cenário de limites, em
plena crise financeira, com escassez de recursos e grandes
desigualdades sociais.
A cadeia de valor cíclica –
a “IV Revolução Industrial”
Está mais do que claro que o atual modelo de desenvolvimento
consolidado nas três revoluções industriais – e ainda utilizado –, a
exemplo da insistência dos economistas em medir o desempenho
dos países pela anacrônica e insustentável fórmula de cálculo do
PIB, é inviável para a sociedade atual. A duras penas, pouco a
pouco, se desenvolve uma conscientização de que a atividade
econômica, para ter sucesso e para que seja duradoura,
depende da preservação dos ativos ambientais e da valorização
do bem-estar social. Definitivamente, queira ou não queira, não
prevalecerão as mesmas regras que deram certo na Era Industrial.
É preciso fazer diferente e não fazer mais do mesmo.
É evidente que as inúmeras tentativas de criar estímulos
pontuais para aumentar o consumo trouxeram pouco resultado
para os indicadores econômicos. Não há dúvidas de que uma
redução dos custos sistêmicos e dos tributos sobre a produção,
salários, investimentos e exportações ajudaria a aumentar a
competitividade do Brasil, mas não seria suficiente. Continua-se
a utilizar o mesmo modelo de crescimento econômico da “Era
dos Excessos”, quando a “Era dos Limites” já é uma realidade
do cenário de hoje.
Se os recursos são finitos, a produção de bens, produtos e
alimentos passa a ser limitada. Com a terceirização da produção
das nações desenvolvidas para os países emergentes, o
54
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
poder aquisitivo da população destes cresce, aumentando
automaticamente o consumo de produtos e alimentos. Assim,
era de se esperar que o nível de vida e de conforto, em algum
lugar do planeta, iria cair, como está acontecendo em alguns
países, principalmente na Europa Mediterrânea. Será que a
atual crise mundial não é a busca do equilíbrio econômico e
social para a redução das desigualdades entre as nações?
Para reverter esse quadro, é imprescindível que se coloque
na pauta das agendas dos países e das organizações o
desafio de se equilibrar as três dimensões do desenvolvimento
sustentável, com o objetivo de se alcançar o estado de uma
sociedade economicamente saudável, ambientalmente correta
e socialmente justa, garantindo as condições de vida no planeta
para o bem-estar das gerações futuras.
Diante de um cenário de escassez de recursos, população
global crescente e melhoria do poder aquisitivo de regiões antes
socialmente precárias, a única receita é promover um choque
de transformação global para um novo modelo econômico,
cuja medida de desenvolvimento será expressa pelo “PIB
Sustentável”, composto de parcelas referentes à geração de
bens, produtos e serviços, acrescidas do capital ambiental e
do capital social.
Para promover a mudança cultural e de atitudes dos
governantes, empresários e cidadãos, e assim se caminhar na
direção de uma economia sustentável, é necessária uma “quarta
Revolução Industrial”, permeada pela “oferta responsável”
realimentada continuamente pelo “consumo responsável”,
num processo de melhoria constante. Nesse contexto, já são
perceptíveis os sinais de que os consumidores começam a
compreender que detêm o poder para promover esta mudança
de paradigma. Há uma clara conscientização de grande parte da
população na busca por produtos que utilizem meios mais limpos
de produção, que gerem pouco desperdício, que consumam
menos insumos naturais – água e energia, que causem menos
danos à saúde e ao meio ambiente e que sejam produzidos por
empresas éticas, transparentes e responsáveis socialmente.
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
55
O poder está visivelmente passando das mãos do
produtor e do distribuidor para as mãos do consumidor, que,
silenciosamente, vai assumindo o controle da cadeia de valor,
que deixa de ser linear e passa a ser cíclica. Na hora da compra,
o consumidor vai questionar a origem e o destino do produto,
ou seja, de onde vem? Como é produzido? E para onde vai?
O empresário que não compreender essa nova ordem,
mudando a sua forma linear de pensar e agir, sem adaptar-
se a essa irreversível realidade econômica, encarando a
sustentabilidade como uma oportunidade e não como uma
ameaça, dificilmente sobreviverá.
O processo produtivo, estabelecido e consolidado nas
revoluções industriais, ocorridas nos três séculos passados, já
não se aplica à realidade de hoje, pois a premissa de recursos
inesgotáveis não é mais válida. É preciso repensar a indústria
de transformação, que, em vez de apenas utilizar insumos
extraídos da natureza, deve, num processo de “transformação
reversa”, reutilizar materiais descartados, após expirada a sua
vida útil. Nesse ponto, não se deve focar apenas na logística
reversa ou numa política de resíduos sólidos. O conceito claro,
direto e simples é o do “produto que volta a ser produto”. Esta
será a essência de quarta Revolução Industrial que se inicia.
Inovação – o imperativo da nova era
Para provocar a ruptura da qual a humanidade
tanto carece, a única saída é, como tem sido até hoje, a
prática da inovação, desde que enxergada sob o prisma
da necessidade humana e da convivência saudável das
dimensões econômica, ambiental e social.
O entendimento do senso de urgência que a Era dos Limites
impõe à sociedade é o fator decisivo para promover a devida
transição e a necessária transformação. É imperativo que se
compreenda que os métodos tradicionais de gestão e condução
dos negócios já não podem ser mais aplicados à realidade atual.
56
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
Governos e organizações precisam se mobilizar, alinhar e
usar as suas capacidades criativas para inovar. Serão necessários
novos modelos de negócios, cadeias produtivas, formas de
educar e gerir pessoas, desenho de processos, estruturas de
custos e ganhos, modelos financeiros e de geração de valor,
bem como novas formas de comunicação e marketing.
Da mesma forma como ocorrido, por exemplo, quando
da implantação da Administração Científica, de Taylor,
e da Gestão da Qualidade Total, de Juran e Demming,
resistências iniciais são sempre esperadas. Em quase todos
os processos de ruptura e descontinuidade, com o tempo,
as visões antagônicas são superadas pela percepção e pelo
reconhecimento dos benefícios e valores agregados para a
sociedade como um todo.
Não há dúvidas de que as transformações são signifi-
cativas, mas trazem grandes e novas oportunidades de ne-
gócios e atuação, para organizações de grande, médio e
pequeno portes, com e sem fins lucrativos e dos diversos
segmentos de atividades.
Especialmentenosegmentodasmicroepequenasempresas
(ME e PE), embora os desafios sejam muitos, a multiplicidade
de opções é gigantesca. Além de ter maior proximidade do
cliente, essas empresas são mais flexíveis para adequação dos
processos à nova realidade e, por consequência, dispõem de
uma capacidade e agilidade de inovar, que é o imperativo de
uma nova época: a Era da Sustentabilidade.
Referências bibliográficas
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solução para o problema do lixo eletrônico: benefícios
ambientais e financeiros. Rio de Janeiro: Qualimark, 2010.
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CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
57
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Gabler, 2004.
MARIOTTI, HUMBERTO. Pensando diferente: como
lidar com a complexidade, a incertez e a ilusão. São Paulo:
Atlas, 2010.
SANTOS, CARLOS ALBERTO (coordenação). Pequenos
negócios: desafios e perspectivas – Desenvolvimento
sustentável. Brasília: Sebrae, 2012.
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
59
A competitividade e a
inovação – uma questão
de capacidade?
Naldo Medeiros Dantas1
Introdução
A inovação nunca esteve tão em moda como neste século.
Mas qual é o motivo que levam países, bancos, conglomerados
econômicos, cientistas, grandes, micros e pequenos empresá-
rios a se preocuparem com esse tema?
A capacidade de gerar e compartilhar riquezas de uma
sociedade está diretamente vinculada à sua capacidade de
inovar de forma sistemática. A inovação tornou-se o elemento
central da competitividade das organizações e dos países.
Para entendermos a inovação é necessário aprofundarmos
os conceitos da competitividade e as possíveis estratégias e
capacidades organizacionais que a sustentam. Como parte
dessa imersão, proponho abordarmos: (1) a teoria do RBV
(Resource Based View), a caracterização e a estratégia de uso
dos fatores geradores da vantagem competitiva e (2) o uso da
capacidade dinâmica de absorção tecnológica como base à
diferenciação.
1	Engenheiro eletricista. Secretário-executivo da Associação Nacional de Pesquisa e
Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei).
60
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
Competitividade e inovação...
Unindo capacidades
Uma organização possui vantagem competitiva, conforme
conceituado por Peteraf & Barney (2003), se é capaz de criar mais
valor econômico que o competidor marginal (breakeven) de seu
mercado de atuação. Nesse contexto, o valor econômico criado
pelo empreendimento no fornecimento de seus produtos ou
serviços corresponde à diferença entre os benefícios adquiridos
percebidos por todos os clientes (wish to pay – WTP) e o custo
econômico do empreendimento (Figura 2.1).
Empresa
3
Empresa
2
ValorEconômico
ValorEconômico
ValorEconômico
ValorEconômico
Estratégia de
Eficiência em
Custo
Empreendimento
Composição Ponderada
de Todos os produtos
Custo de produto
ou serviço
Preço de produto
ou serviço
Share
Efeito: crescimento
Lucro / retorno
Efeito: ROA
Estratégia de
diferenciação
Valor percebido
pelo cliente (WTP)
Empresa
1
Figura 2.1 – Criação de valor econômico e vantagem competitiva
Fonte: Peteraf & Barney 2003; pag. 314-315
Dessa forma, a vantagem competitiva é obtida quando
a expansão do valor percebido pelos clientes ou a redução
dos custos de produção diferenciam-se sistematicamente
em relação aos demais concorrentes. No meio desse esforço
econômico, a inovação tecnológica coloca-se como elemento
chave para o sucesso da empresa na sua indústria de atuação,
seja para obter eficiência em custo (com manutenção do valor
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
61
percebido), seja pela diferenciação de seus produtos e serviços
(ampliação do valor percebido e do wish to pay).
Para a implantação de suas estratégias, a organiza-
ção precisa articular a aquisição, desenvolvimento e uso de
seus recursos, especialmente aqueles considerados VRIO.
Daft1983 in Barney 1991 define os recursos de uma organi-
zação como sendo todos os ativos, capacidades, processos
organizacionais, atributos da empresa, informações, conheci-
mentos etc. controlados pela organização que permitem que
a concepção e a implementação de estratégias que aperfeiço-
am sua eficiência e eficácia.
Barney JB & Hesterly WS (2007) complementam esse
conceito, citando que, na ótica da RBV, todo ativo tangível e
intangível que a empresa controla e que pode ser utilizado para
criar e implementar estratégias é um recurso. Os recursos nessa
conceituação são agrupados em quatro categorias: – recursos
financeiros, recursos físicos, recursos humanos e os recursos
organizacionais (atributos do grupo).
O modelo de análise VRIO busca analisar os diferentes
recursos da organização quanto à sua capacidade de gerar
vantagem competitiva. Assim, todo recurso é analisado quanto
ao seu Valor (V), Raridade (R), Imitabilidade (I) e capacidade
organizacional de explorar os seus recursos (O).
Dentre esses recursos críticos à obtenção da vantagem
competitiva, essa discussão foca naqueles direcionados
à implementação da inovação tecnológica. Burgelman,
Christensen & Wheelwright (2004) demonstram as relações
existentes entre os diferentes conceitos envolvidos no
processo de constituição de uma inovação tecnológica
(Figura 2.2). Nesse modelo, o output do processo de inovação
(mercado, empreendedorismo tecnológico e esfera técnica)
ocorre pela articulação das capacidades de P&D (invenções
e descobertas) com as de desenvolvimento de produtos,
processo e mercados (inovações tecnológicas) e com as
capacidades administrativas.
62
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
Capacidades
Administrativas
Inovações
Tecnológicas
Invenções/Descobertas
Tecnológicas
Atividades de
desenvolvimento
de produto /
processo
Atividades de
desenvolvimento
de mercado
Atividades de
desenvolvimento
Atividades
de pesquisa
Explorando /
experimentando
Resultados
Atividades
Esfera
Tecnológica
Empreendedorismo
Tecnológico
Esfera
do mercado
Figura 2.2 – Relacionamento entre os conceitos chave para a
inovação tecnológica.
Fonte: Burgelman, Christensen & Wheelwright 2004; pag. 3
Teece DJ (2007) conceitua a capacidade dinâmica
como sendo o meio pelo qual a organização capacita-
se para criar, desdobrar e proteger seus ativos intangíveis
que sustentam o desempenho superior de longo prazo
dos negócios. A capacidade dinâmica de uma organização
pode ser caracterizada pela forma singular como utiliza seu
conhecimento, articula seus processos, seus procedimentos,
sua estrutura organizacional, suas regras de decisão e
seu modelo de disciplina. Tais atributos, sendo de difícil
desenvolvimento ou replicação pelos concorrentes e geradoras
de uma capacidade diferenciada de perceber, redimensionar
e reconfigurar suas capacidades frente a diferentes níveis de
desafios; concede à organização uma intensidade em intra-
empreendedorismo, competência para adaptar-se a novos
ecossistemas de negócios, formatando-a para lidar com a
inovação e os desafios da colaboração.
TeeceDJ(2007)continua,abordandoquenodesenvolvimento
de novas tecnologias a capacidade de perceber (sensing) e
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
63
adaptar-se (shaping) às novas oportunidades de negócio são
função das atividades de scanning, criação, aprendizado e
interpretação dos mercados e das tecnologias disponíveis ou
necessárias. Neste contexto o framework das cinco forças
torna-se relativamente fraco no contexto do ambiente dinâmico,
uma vez que parte do princípio que a estrutura do mercado é
um elemento exógeno quando de fato a estrutura do mercado
é um elemento endógeno e resultado da inovação e do
aprendizado. Sobre a perspectiva do framework gerado pela
teoria da capacidade dinâmica o ambiente básico de estudo
passa da indústria (Porter) para o ecossistema de negócios
(comunidade de organizações, instituições e indivíduos que
impactam no empreendimento), seus clientes e fornecedores.
O framework da capacidade dinâmica é sustentado nas
teorias de Kirznerian, Schumpeteriana e na teoria evolucionária
das mudanças econômicas. O modelo das Cinco Forças
é sustentado no paradigma de Mason – Bain da economia
das indústrias. No modelo de equilíbrio de fatores (recursos)
proposto por Porter, a essência da formulação estratégica é
copiar com custos adequados para a aquisição dos recursos
(assegurar competitividade). Em contrapartida, no enfoque
adotado pela capacidade dinâmica, a formulação estratégica
passa pela seleção e o desenvolvimento de modelos de
negócio e a inserção de tecnologias que construam a
vantagem competitiva por meio da montagem e orquestração
de ativos (tangíveis e intangíveis) de difícil replicação, traçando
dessa forma os novos parâmetros de competição do setor.
Para a formulação de estratégias com base no ecossistema
de negócio, mesmo quando utilizando-se do framework das
cinco forças, torna-se necessário que a organização tenha
expertise em avaliação e em interpretação (inferência) de fatos e
dados. Isso envolve coletar e filtrar informações sobre tecnologia,
mercado e competição; agregar sentido às informações e traçar
ações. A figura 2.3 sumariza as características do indivíduo e da
organização para a capacidade de “perceber” as oportunidades.
64
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
Processo para P&D Interno
Direto e para seleção de
novas tecnologias
Processo para conectar
desenvolvimentos externos
(exógenos) em ciência e
tecnologia
Sistema analítico (e
capacidades individuais)
para aprender e
para perceber, filtrar,
modelar e mensurar as
oportunidades
Processo para identificar
segmentos de mercado
alvo, novas necessidasdes
dos clientes e inovações
geradas pelos clientes
Processo para
conectar fornecedores
e organizações
complementares em
inovação
Capacidade dinâmica
Figura 2.3 – Elementos do framework de ecossistemas para
o sensoriamento (perceber) do mercado e das oportunidades
tecnológicas.
Fonte: Teece DJ 2007; pag. 08
Uma segunda dimensão do uso da capacidade dinâmica
no processo de inovação tecnológica é o adaptar-se (shaping).
Essa faceta delineia os elementos que impactam na captura de
oportunidades sendo estruturada, conforme a Figura 2.4.
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
65
Delineando a solução para o
cliente e o modelo de negócio
1. Selecionando a tecnologia e a arquitetura do produto
2. Projetando a arquitetura da receita
3. Selecionando os clientes alvo
4. Projetando os mecanismos de captura de valor
Selecionando os contornos do empreendimento
para gerenciar e controlar as plataformas
1. Especificidades de calibração dos ativos
2. Controlando gargalos de ativos
3. Avaliando apropriabilidades
4. Reconhecendo e gerenciando sinergias
Estrutura, procedimentos,
design e incentivos do
empreendimento para
capturar as oportunidades
Construindo lealdade
e comprometimento
1. Demostração de liderança
2. Comunicação efetiva
3. Reconhecimento de fatores não econômicos,
valores e cultura
Selecionando os protocolos de decisão
1. Reconhecendo pontos de inflexão e
complementaridades
2. Evitando decisões erradas e tendências a
canibalização de produtos
Capacidade dinâmica
Fig. 2.4 Expertise para decisão estratégica e execução
Fonte: Teece DJ 2007; pag. 16
A capacidade de absorção, como parte do aprendizado
organizacional e da inovação nas organizações, é discutida por
Levinthal DA & Cohen WM (2004). Essa capacidade dinâmica,
composta pelas habilidades individuais e organizacionais
de reconhecer, assimilar e gerar aplicação comercial a um
conhecimento tecnológico é essencial na estruturação de
processos exógenos de P&D. Levinthal DA e Cohen WM (2004)
descrevem que essa capacidade manifesta-se em diferentes
níveis. No nível mais elementar, inclui o compartilhamento
da linguagem entre os parceiros, a existência interna de
conhecimento ou competências relacionadas aos conceitos
básicos, os desenvolvimentos tecnológicos e científicos de um
determinado campo.
No nível da empresa, a capacidade de absorção é gerada
de várias maneiras. Pesquisas demonstram que empresas que
conduzem suas próprias pesquisas são mais capazes de utilizar
informações disponíveis externamente. Isto implica dizer que
66
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
o desenvolvimento da capacidade de absorção pode ser um
subproduto dos investimentos em P&D. Paralelamente, outros
estudos associam o aperfeiçoamento da capacidade de absorção
como um subproduto das operações de manufatura da empresa.
A capacidade de absorção refere-se não somente à aquisição
ou absorção de informações, mas também sua capacidade de
explorá-las. Nesse sentido, é fundamental que as informações
tecnológicas assimiladas transitem desde os parceiros externos,
passandopelasáreasdedesenvolvimento,produçãoealcançando
os clientes. Para tanto os sistemas de comunicação envolvendo
padrões, indivíduos e estruturas são fundamentais para o
compartilhamento de linguagens, simbologias e conhecimento.
O fomento das capacidades dinâmicas da empresa e a
adoção de estratégias competitivas baseadas em recursos
VRIO têm uma especial conotação quando inserimos o
contexto de risco inerente ao desenvolvimento da inovação
tecnológica. Nesse ambiente, o compartilhamento do esforço
inovativo com agentes externos de ciência e tecnologia é
uma alternativa que pode promover a competitividade das
empresas com base na otimização dos custos de P&D e no
acesso a novos recursos de mercado.
O desenvolvimento tecnológico brasileiro está centrado nas
ICT públicas (Brito Cruz 2007). O país investe 1% de seu PIB
em P&D sendo 60% deste recurso destinado às instituições
públicas de ensino e pesquisa. No mesmo período de análise,
o investimento em P&D nos países membros da OCDE foi de
2%. As políticas públicas de fomento à inovação tecnológica
sustentaram-se no direcionamento de recursos à P&D por meio
da criação de fundos setoriais (15 fundos), subvenção fiscal
(Lei do Bem – Lei n.º 11.196, de 21 de novembro de 2005)
e na regulamentação das instituições públicas como agentes
de desenvolvimento, promoção e licenciamento de novas
tecnologias (Lei de Inovação Tecnológica – Lei nº. 10.973, de 2
de dezembro de 2004). Como conseqüência deste esforço de
P&D centrado em ICT, a Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) tornou-se o principal patenteador no Brasil, no
período 1999-2003, seguido da Petrobrás.
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
67
As instituições públicas de Ciência e Tecnologia (C&T)
brasileiras têm como missão básica o desenvolvimento de
conhecimento científico e a educação. Cabe às empresas a
missão primordial de aplicarem o conhecimento científico
sobre a perspectiva do mercado, promovendo um incessante
processo de Destruição Criativa (SCHUMPETER, 1984).
Sobre a perspectiva da empresa que inova seria desejável
que o mercado de recursos (fatores) disponíveis para a
implementação de uma estratégia tecnológica competitiva
fosse imperfeito, gerando um custo de aquisição do recurso
que superasse os ganhos aferidos pela implementação da
estratégia (PETERAF e BARNEY, 2003; BARNEY, 1986).
Portanto, para que uma tecnologia produzida pela ICT
e adquirida pelo empresário seja geradora de vantagem
competitiva, ela deve possuir baixa mobilidade no mercado de
fatores, ter um know how passível de transferência às empresas
e estar atrelada a um baixo custo de interação tecnológica entre
os parceiros (convênio de pesquisa exclusivo, licenciamento
ou associação em consórcios). Estes três tópicos podem ser
descritos, a seguir:
•	 Recursos com baixa mobilidade no mercado de fatores: –
O impacto intangível da tecnologia negociada na interação
ICT- empresa é função da sua capacidade de explorar uma
oportunidade ou neutralizar uma ameaça do ambiente
(Valor); do baixo número de detentores (raridade) e da
proteção à imitabilidade com base em ambigüidade causal,
condições históricas únicas, por complexidade causal
gerada na estruturação de redes de pesquisa e patentes
(BARNEY e HESTERLY, 2007). Essa última, o principal
recurso utilizado no período pós Lei de Inovação.
•	 Know how transferível: – O conteúdo tecnológico a transferir
da ICT para a empresa será influenciado pela complexidade
e ambigüidade do conhecimento; pela motivação e
credibilidade da ICT; pela capacidade de absorção da
empresa; pela rigidez dos processos internos e obrigações
68
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
das organizações (DYER e HATCH 2006). Esse contexto
reforçaanecessidadedaempresaorganizar-separaexplorar
ao máximo o potencial competitivo dos recursos (VRIO)
adquiridos (BARNEY e HESTERLY, 2007) intensificando a
troca de capacidades humanas, científicas e administrativas
entre os parceiros. Os modelos organizacionais desses
parceiros desenvolvidos para a transferência tecnológica
impactarão no custo da interação. Com esse fim, destacam-
se na ICT as estruturas do NIT e pró-reitoria de pesquisa e
na empresa as áreas de P&D&Engenharia e Negócios.
•	 Baixo custo de interação: – Com base na teoria de
custos de transação (WILLIANSON, 1991), os custos
para a aquisição de bens tecnológicos específicos e
sustentados por contratos tendem a ser mais custosos.
A complexidade dos contratos de interação tecnológica é
influenciada pelos órgãos públicos de financiamento, pelo
rigor do direito público (tribunais de conta) e privado (custo
de oportunismo), pela maturidade das políticas e tempo
de interação entre os parceiros.
A partir dessa reflexão sobre competitividade podemos
extrairalgumasdiretrizesparaqueamicroeapequenaempresa
brasileira possam, por meio da inovação tecnológica, gerar
vantagem competitiva e inserir-se nas cadeias produtivas
cujos desafios transcendem o conhecimento e a economia
vigente. Esses grandes desafios, respaldados no Plano Brasil
Maior, focam na modernização da infraestrutura brasileira,
no desenvolvimento de novas fontes de energias renováveis,
na exploração do pré-sal e o desenvolvimento de uma
indústria brasileira de equipamentos e insumos para a cadeia
do petróleo, na expansão da produtividade agroindustrial,
na consolidação da indústria aeroespacial e militar, na
ampliação da qualidade e do acesso à educação, à saúde
e à comunicação, na ampliação das indústrias de fármacos
e da biotecnologia, na expansão da participação brasileira
na industrial global de softwares e no desenvolvimento da
indústria de turismo e da criatividade. Destaco:
CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento
69
•	 Capacidadeorganizacionaldeaprender,interpretar,modelar,
testar e levar ao mercado novas propostas de negócio que
ampliem o desejo de pagar do cliente e diminuam os custos
de produção do serviço ou produto comercializado.
•	 Capacidade de extrair informações tecnológicas
relevantes dos bancos de patentes (www.inpi.gov.br;
www.uspto.gov; www.epo.org; www.kipo.go.kr) para o
novo modelo de negócio e convertê-las, com o auxílio
de parceiros estratégicos, em projetos de nacionalização
do conteúdo publicado (se não patenteado no Brasil)
e no desenvolvimento de competências disruptivas
(CHRISTENSEN, 2003).
•	 Capacidadedeidentificaremobilizarcompetênciaserecursos
juntoàsincubadoras,professoresemuniversidades,institutos
com capacidade de escalonamento e prototipagem (Senai,
Embrapa etc.), fundos de capital semente e financiadores
(FAP, Finep, BNDES etc.), fornecedores e clientes.
•	 Ter uma estratégia de construir recursos VRIO de baixa
mobilidade. Para tanto é essencial, no ambiente da
inovação tecnológica, o desenvolvimento de estratégias
para a proteção da sua propriedade intelectual.
Otemadainovaçãotemsidodifundidodeformafragmentada
e, muitas vezes, com um grau de complexidade que não espelha
a realidade. Como todo empreendedor já aprendeu, a essência
está em servir o cliente transcendendo suas expectativas (mas
com o valor percebido sendo remunerado), ter processos de
produção, comercialização, distribuição sinérgicos e eficientes e
adotar estratégias de deixar sempre os concorrentes para trás.
Nessa perspectiva, cada negócio terá desafios específicos
e diferenciados para inovar. Mas, em comum, a necessidade de
desenvolver capacidades adaptativas e de condução de redes
de conhecimento que viabilizem o conteúdo tecnológico (VRIO)
de seus modelos de negócios.
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Pequenos Negócios Desafios e Perspectivas - Inovação Vol 3

  • 1. Pequenos Negócios Desafios e Perspectivas Inovação Coordenação Carlos Alberto dos Santos Vol. Aleciane da Silva Moreira Ferreira | Ana Paula Nogueira | Anizio Dutra Vianna | Camilla Rodrigues de Paula |Demian Lubé Rodrigues Condé | Élon R. S. Filho | Enio Duarte Pinto| Enio Queijada de Souza | Eugenio Guilherme Tolstoy de Simone | Érika Amorim Araújo | Fausto Ricardo Keske Cassemiro | Felipe Silveira Marques | Francilene Procópio Guerra | Gabriel Rizza | Gil Giardelli | Helbert Danilo Freitas de Sá | Humberto S. Brandi | Jairo Martins da Silva | João Jornada | João Carlos Ferraz | Leonardo Melo | Luciana Carvalho | Marcia Cristina de Oliveira | Márcia Suede Leite Froes da Motta | Mauricio Guedes | Naldo Medeiros Dantas | Osmar Rossato| Paulo César R. C. Alvim | Rafael Lucchesi | Raquel Vilarino Reis | Susane Augusta Rodrigues | Taynah L. Souza
  • 2.
  • 3. Inovação Pequenos Negócios Desafios e Perspectivas Carlos Alberto dos Santos Coordenação Aleciane da Silva Moreira Ferreira | Ana Paula Nogueira | Anizio Dutra Vianna | Camilla Rodrigues de Paula |Demian Lubé Rodrigues Condé | Élon R. S. Filho | Enio Duarte Pinto| Enio Queijada de Souza | Eugenio Guilherme Tolstoy de Simone | Érika Amorim Araújo | Fausto Ricardo Keske Cassemiro | Felipe Silveira Marques | Francilene Procópio Guerra | Gabriel Rizza | Gil Giardelli | Helbert Danilo Freitas de Sá | Humberto S. Brandi | Jairo Martins da Silva | João Jornada | João Carlos Ferraz | Leonardo Melo | Luciana Carvalho | Marcia Cristina de Oliveira | Márcia Suede Leite Froes da Motta | Mauricio Guedes | Naldo Medeiros Dantas | Osmar Rossato| Paulo César R. C. Alvim | Rafael Lucchesi | Raquel Vilarino Reis | Susane Augusta Rodrigues | Taynah L. Souza 3Vol.
  • 4. Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Presidente do Conselho Deliberativo Nacional Roberto Simões Diretor-Presidente Luiz Eduardo Pereira Barretto Filho Diretor-Técnico Carlos Alberto dos Santos Diretor de Administração e Finanças José Claudio dos Santos Informações para contato Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SGAS 605 – Conjunto A – Asa Sul CEP 70200-904 – Brasília/DF Telefone: 55 61 3348-7192 Portal Sebrae: www.sebrae.com.br
  • 5. Esta coletânea tem o objetivo de provocar o debate sobre o desenvolvimento brasileiro na perspectiva dos pequenos negócios, a partir de abordagens que privilegiam a reflexão teórica da prática, conectando o debate acadêmico com o cotidiano da assistência técnica e dos serviços empresariais. Com duas edições temáticas anuais, abertas à colaboração de técnicos e gerentes do Sistema Sebrae, bem como seus parceiros na iniciativa privada, universidades e governos, esta coletânea reúne as seguintes publicações: Vol. 1 – Programas Nacionais Vol. 2 – Desenvolvimento Sustentável Comentários, sugestões e críticas são bem-vindos: pndp@sebrae.com.br Coordenação Carlos Alberto dos Santos Inovação Vol. 3 Pequenos Negócios Desafios e Perspectivas
  • 6. 2012. © Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae Coordenação Carlos Alberto dos Santos Apoio técnico Antônio Carlos Ferreira, Cláudia Patrícia da Silva, Denise Chaves, Elizabeth Soares de Holanda, Fernando Bandeira Sacenco Kornijezuk, Gláucia Zoldan, Hugo Henrique Hotz Cardoso, Lorena Ortale, Luísa Medeiros, Marcus Vinicius Bezerra, Maria Cândida Bittencourt Revisão editorial Magaly Tânia Dias de Albuquerque, Miriam Zitz, Silmar Pereira Rodrigues, José Marcelo Goulart de Miranda Edição Tecris de Souza Projeto Gráfico Giacometti Comunicação Editoração Eletrônica Grupo Informe Comunicação Integrada Revisão Ortográfica Grupo Informe Comunicação Integrada As opiniões emitidas nesta publicação são de responsabilidade exclusiva dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. É permitida a reprodução desde que citada a fonte. Reproduções com objetivo comercial são proibidas (Lei n° 9.610). S237 Santos, Carlos Alberto. Pequenos Negócios : Desafios e Perspectivas: Inovação / Carlos Alberto dos Santos, coordenação. -- Brasília: SEBRAE, 2012. 324 p. : il. ISBN 978-85-7333-583-5 1. Atendimento ao cliente. 2. MPE. 3. Empreendedorismo. 4. Desenvolvimento econômico. II. Título CDU 334.012.64
  • 7. Sumário Apresentação.....................................................................................11 Luiz Barretto Capítulo 1 Inovar para sustentar o desenvolvimento Inovar para sustentar o desenvolvimento: desafio para o Brasil.........................................................................17 João Carlos Ferraz, Felipe Silveira Marques e Érika Amorim Araújo Os pequenos negócios e o empreendedorismo inovador no século 21....................................................................35 Francilene Procópio Garcia Inovação para a sustentabilidade – o imperativo de uma nova era................................................................................45 Jairo Martins da Silva A competitividade e a inovação – uma questão de capacidade?...........................................................57 Naldo Medeiros Dantas Inovação: conceitos e abordagens..............................................71 Raquel Vilarino Reis
  • 8. Capítulo 2 O imperativo da inovação Inovar é urgente................................................................................97 Rafael Lucchesi Normalização e inovação.........................................................105 Eugenio Guilherme Tolstoy de Simone e Marcia Cristina de Oliveira O Inmetro como plataforma técnica da inovação................113 Humberto S. Brandi, João Jornada e Taynah L. Souza Inovação tecnológica e território: evolução e desafios na formação de uma agenda................123 Mauricio Guedes e Leonardo Melo Webempreendedorismo................................................................135 Gil Giardelli Capítulo 3 Sebrae: a inovação veio para ficar O desafio de levar Schumpeter à lojinha de conveniência ou às margens do Ipiranga, hoje o grito é “Inovação ou Morte!”........................................155 Enio Duarte Pinto Inovação na pequena empresa: uma necessidade!...................169 Paulo César R. C. Alvim Encadeamento produtivo: Inovação na cadeia de valor.....................................................195 Fausto Ricardo Keske Cassemiro Habitats de inovação x incubadoras de empresas....................211 Anizio Dutra Vianna
  • 9. Os quatro “P” da inovação no agronegócio.........................221 Enio Queijada de Souza Inovação em sustentabilidade: da prática à teoria na pecuária brasileira....................................................233 Demian Lubé Rodrigues Condé e Helbert Danilo Freitas de Sá Sociedades de Garantia de Crédito no Brasil, inovação nos pequenos negócios...........................................247 Gabriel Rizza e Osmar Rossato Capítulo 4 Inovação nos pequenos negócios: experiências dos ALI Inovação com foco em sustentabilidade pode ser lucrativo? Estudo no segmento de alimentação..............265 Ana Paula Nogueira Em meio aos desafios, é possível fomentar a inovação em empresas de pequeno porte, para melhorar a competitividade? Um estudo no setor de confecções de Feira de Santana, Bahia................................275 Aleciane da Silva Moreira Ferreira e Márcia Suede Leite Froes da Motta Colorindo novas ideias: estudo de caso no Distrito Federal........................................................289 Élon R. S. Filho Esforço inovativo e desenvolvimento de novos produtos: evidências para empresas do segmento de alimentação no oeste goiano..............................................297 Camilla Rodrigues de Paula e Luciana Carvalho Inovação de produtos e estratégia competitiva: estudo de caso em uma pequena empresa do segmento de alimentos...........................................313 Susane Augusta Rodrigues e Luciana Carvalho
  • 10.
  • 11. Inovar para sustentar o desenvolvimento Inovar para sustentar o desenvolvimento: desafio para o Brasil Os pequenos negócios e o empreendedorismo inovador no século 21 Inovação para a sustentabilidade – o imperativo de uma nova era A competitividade e a inovação – uma questão de capacidade Inovação: conceitos e abordagens Capítulo 1 Apresentação
  • 12.
  • 13. Apresentação 13 O Brasil vive um momento econômico favorável, com alta na geração de emprego e aumento da renda total da população. Temos um forte mercado interno, com cerca de 100 milhões de consumidores, e vamos receber grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo, nos próximos anos. Existe uma enorme janela de oportunidades, especialmente às micro e pequenas empresas brasileiras, que representam 99% das empresas do país, mas é preciso prepará-las para se tornarem mais competitivas e sustentáveis em longo prazo. Além da concorrência interna, os empreendedores têm que lidar com o interesse de empresas estrangeiras no nosso mercado. Por isso, capacitação e gestão empresarial são essenciais e têm prioridade nas ações do Sebrae. Mas há temas da nova agenda do século 21, como o da inovação, que precisam fazer parte do dia a dia dos pequenos negócios para fidelizar o consumidor, que está cada vez mais exigente. A inovação cria um diferencial e é importante para elevar o valor agregado dos produtos e serviços comercializados. Essa coletânea de 21 artigos, divididos em quatro capítulos, traz percepções plurais sobre o tema da inovação no universo das micro e pequenas empresas. Mas o que prevalece é o sentido de urgência: para crescer e sobreviver, é preciso inovar. Para inovar, é preciso fazer algo diferente, melhorado. Não se trata apenas de avanço de tecnologia, de produto. A inovação pode estar presente no processo de produção de uma empresa. Luiz Barretto Presidente do Sebrae Nacional
  • 14. 14 Apresentação O dono de uma sorveteira, por exemplo, pode modificar o processo produtivo da empresa fazendo uma simples troca de maquinário, o que pode significar economia nas contas no fim do mês. A eficiência energética que será aplicada vai reverter em mais produtividade e lucratividade para o empreendedor. Vamos investir pesado em soluções inovadoras para os pequenos negócios até 2016. Reservamos R$ 930 milhões de nosso orçamento para cumprir nossa missão institucional nessa temática. Hoje temos dois programas nacionais que concentram nossas ações em inovação: o Agente Locais de Inovação (ALI) e o Sebraetec. O ALI é um programa muito exitoso, feito em parceria com o CNPq, que leva inovação para dentro das micro e pequenas empresas. Hoje temos cerca de mil agentes, que são universitários recém-formados e bolsistas custeados pelas duas entidades, cuja tarefa de cada ALI é fazer um diagnóstico de 50 empresas e oferecer soluções adequadas para seus gargalos no período de dois anos. Outro produto importante que temos é o Sebraetec, programa que aproxima oferta e demanda de serviços tecnológicos à empresa de pequeno porte. É oferecido subsídio de até 90% dos custos para que as empresas adotem novas tecnologias ou processos. O mundo corporativo já se deu conta da importância da inovação para melhorar a gestão, o desempenho, as oportunidades e o lucro das empresas. E as micro e pequenas empresas não podem ficar de fora dessa realidade. Acreditamos que o Brasil tem condições de alavancar sua posição no ranking de países inovadores até pela natureza criativa de seu povo. Estamos empenhados em promover uma mudança nos procedimentos e processos internos dos pequenos negócios
  • 15. Apresentação 15 e a publicação deste livro é mais uma prova disso. Não se trata só de uma questão de crédito ou investimento. O problema, muitas vezes, é cultural. Alguns empreendedores têm costume de fazer os negócios sempre da mesma forma, mas é preciso avançar nesse sentido. Com inovação, as micro e pequenas empresas se tornam mais competitivas e preparadas para enfrentar os desafios futuros. Mais preparadas, contribuem para o desenvolvimento econômico do nosso país. Completamos 40 anos em 2012 e temos orgulho de poder construir junto essa nova agenda para os próximos anos. Desejo uma boa leitura!
  • 16.
  • 17. Inovar para sustentar o desenvolvimento Inovar para sustentar o desenvolvimento: desafio para o Brasil Os pequenos negócios e o empreendedorismo inovador no século 21 Inovação para a sustentabilidade – o imperativo de uma nova era A competitividade e a inovação – uma questão de capacidade? Inovação: conceitos e abordagens Capítulo 1
  • 18.
  • 19. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 19 Inovar para sustentar o desenvolvimento: desafio para o Brasil João Carlos Ferraz Felipe Silveira Marques Érika Amorim Araújo1 Introdução O desenvolvimento resulta de processo de mudança estrutural, por definição, desequilibrado, cheio de tensões. Os economistas de filiação schumpeteriana têm uma expressão muitopertinente:duranteperíodosdeintensamudança,ocorrem desencontros entre “velhos” e “novos” ativos e competências. Há hiatos que não se encaixam, e o mais relevante: num momento de incertezas, terão vantagens aqueles que tiverem a atitude de experimentar o novo. Alguns falharão, outros vencerão, mas o que importa é menos a certeza de acertar ou errar e muito mais a experiência de fazer algo diferente. O processo de inovação é, portanto, essencial para mitigar os desequilíbrios inerentes ao processo de crescimento e desenvolvimento. A capacidade de inovar é chave para todos aqueles que almejam estabelecer uma trajetória de desenvolvimento sustentável de longo prazo. 1 Economistas. O primeiro é vice-presidente. Os demais, assessores da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Este artigo resume a palestra proferida pelo primeiro no III Encontro Nacional dos Agentes Locais de Inovação, promovido pelo Sebrae.
  • 20. 20 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento Este artigo faz uma reflexão em torno do desafio de inovar para sustentar o desenvolvimento e está dividido em quatro partes. A primeira oferece uma leitura das principais tendências observadas em um mundo que se defronta com um ambiente de prolongada crise econômico-financeira e transição de paradigmas; a segunda parte apresenta alguns elementos que definem as características básicas do processo de desenvolvimento brasileiro no momento atual; a terceira, a partir do contraste entre mundo e Brasil, indica perspectivas. Por fim, a quarta parte traz reflexões sobre a inovação como sustentáculo do desenvolvimento e resposta às incertezas do quadro atual. O mundo em que vivemos e o futuro: algumas certezas e muitas dúvidas A atual crise financeira está contribuindo para queimar ativos e recursos obsoletos – equipamentos, qualificações, e práticas de negócios – que já não são mais produtivos. Vivemos em um ambiente marcado pela transição de paradigmas. Os novos ativos, as novas qualificações ainda são emergentes. Alguns deles conseguimos perceber de maneira relativamente clara; outros, que serão dominantes no futuro, ainda não se consolidaram. No contexto vigente, prevalece a incerteza que alimenta e é alimentada por uma crise de prolongada duração, o que significa que ainda vamos conviver com incertezas por um longo período. A economia mundial apresenta países que avançam em velocidades muito diferentes. Alguns países da Ásia estão em um ritmo de crescimento completamente distinto de outros da mesma região. Na Europa, há países em uma crise séria e outros, em menor grau, com situações menos precárias. Como se trata de um processo amplo com velocidades diferenciadas, a nossa capacidade de generalizar processos no atual momento da economia mundial é muito limitada. Essa é a primeira tendência a ser observada pelos países, onde se inclui o Brasil, que buscam um caminho para o desenvolvimento sustentável.
  • 21. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 21 Aos poucos, vão surgindo novos protagonistas entre as velhas lideranças da geopolítica mundial. A China, a Índia e o Brasil serão relevantes na mesa de negociação internacional. O quenãosabemosaindaéseessamultipolaridadeseránegociada ou conflituosa. Sabemos que a China será protagonista, mas não sabemos como a China será protagonista. Sabemos que a Índia e o Brasil serão protagonistas, mas não sabemos como esses dois países exercerão o novo papel. Essas respostas ainda são desconhecidas. Uma segunda tendência provável, que independe do que acontecer na economia central – e estamos assistindo um exemplo no Brasil – refere-se à incorporação de muitos trabalhadores aos mercados e à formação de uma nova classe média cujas aspirações e padrões de consumo ainda não são dominantes. Muito se fala de países emergentes (emerging countries), mas na verdade estamos falando é de classes médias emergentes. E quais são as suas aspirações? O que querem e vão querer? A referência que se tem é a do norte-americano: ele quer ter pelo menos um grande carro, casar e poupar para mandar o filho à universidade. Esse é um estereótipo conhecido. Teremos o mesmo estereótipo para o mexicano, o indonésio, o brasileiro, o chinês?! Não conhecemos as aspirações, não conhecemos qual é a estética preferencial da classe média emergente. Não conhecemos; possuímos apenas algumas referências genéricas. Mesmo que as economias centrais se encontrem em crise, a demanda nos países de renda média e alta ainda é economicamente relevante. Por mais que a taxa de crescimento da China seja muito elevada, 2/3 da demanda mundial ainda se encontra nos países da OCDE2 . Neles está a riqueza estabelecida e os definidores de padrão de consumo, por enquanto. 2 Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
  • 22. 22 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento Do ponto de vista político, temos a eclosão de fatos como a democracia árabe, os indignados na Porta do Sol, em Madrid, na Espanha, os jovens estudantes em Santiago, no Chile. Existe assim uma grande agitação, a exemplo do que ocorria nos anos 60. Entretanto, as aspirações atuais são muitas, estão dispersas e as frustrações se multiplicam. Há um sentido de impotência enquanto àquela época se sonhava com um mundo diferente. Hoje, a sensação de incapacidade para realizar sonhos é maior e não há muito espaço para utopias coletivas. Os estudantes do Chile querem mais educação; os jovens árabes querem mais liberdade; os ocupantes de Wall Street querem menos Wall Street. É um mundo que está sob contestação, mas sem nortes claros. O Brasil oferece um exemplo de que é possível consolidar uma democracia, mas o processo democrático, atualmente estável, é fruto do amadurecimento das nossas instituições que vem desde 1988. Para os países que estão apenas estreando democracia, haverá ainda um longo caminho a ser percorrido. A terceira tendência provavelmente é algo que o Brasil conviverá durante muitos anos e na realidade concreta do exercício daqueles que forem apoiar as empresas: o acirramento da concorrência. Se de um lado, as economias centrais estão com baixo crescimento e têm muitas empresas competentes, e se de outro, surgem, cada vez mais, empresas competitivas nos países ditos emergentes, o resultado é que há muitas empresas para poucos mercados. Portanto, a competição pela geração, distribuição e, principalmente, pela apropriação de riquezas vai ser feroz em qualquer espaço. Além do acirramento da concorrência, deverão ocorrer mudanças muito fortes nas próprias práticas competitivas. Cada vez mais TI, Cloud Computing... Mas não se sabe que normas e práticas serão vencedoras e, provavelmente, superaremos “a norma”, o just in time, o padrão japonês, o ciclo de controle de qualidade. É provável que não haverá apenas um padrão e sim vários, e ainda não sabemos organizar ou mesmo reconhecer esses padrões.
  • 23. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 23 Obviamente que, em um contexto dessa natureza, outra tendência provável é que a pressão sobre recursos – entendidos em sentido amplo – será muito forte. Recursos humanos, insumos para produção, matérias-primas serão demandados em crescente volume e com restrições em termos de eficiência. Os desafios associados ao meio ambiente é apenas uma das faces dessa tendência. O tema tem aumentado de importância, mas não sabemos se efetivamente a trajetória do desenvolvimento será verde, no sentido mais estrito, ou se será protagonista nas agendas públicas e privadas. Observamos um mundo em crise, baixo crescimento, mas não se passa um dia que não se leia alguma coisa surpreendente, do ponto de vista da inovação tecnológica, por exemplo, o anúncio do último gadget que atrai a atenção de todos e a impressão em 3D. A tendência é que o ritmo de progresso técnico seja bastante acelerado nos próximos anos, e associado a ele haverá investimentos crescentes por parte de alguns países e de muitas empresas em inovação. Por último, o mundo assiste um pêndulo entre o peso relativo da economia de estado versus economia de mercado. Contrapor esses dois agentes é sempre problemático, mas sem maiores considerações e simplificando, podemos dizer que hoje em dia, o pêndulo está tendendo para se ter um maior ativismo do Estado relativamente ao que se tinha há poucos anos. O desenvolvimento recente e a trajetória brasileira Antes de passarmos para o caso brasileiro, precisamos ter em conta a emergência de questões que refletem um mundo que experimenta séria disjuntiva: seremos capazes de sustentar os benefícios do progresso alcançado para aqueles já incluídos e, ao mesmo tempo, provê-los para aqueles ainda em processo de inclusão? No futuro próximo,
  • 24. 24 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento seremos cerca de 9 bilhões de pessoas no planeta. Qual será o padrão de consumo dominante? E que sistema será esse que vai gerar esses bens, se todos forem todos incluídos? Qual será a capacidade do sistema inteiro de suportar essa demanda? As respostas serão positivas à medida que se logre o desenvolvimento sustentável, cujo o escopo devem ser os quatro pontos destacados, a seguir: (i) Desenvolvimento sustentável pressupõe uma longa temporalidade. Podem ocorrer flutuações no decorrer de uma trajetória ascendente, de crescimento, mas o desenvolvimento para ser sustentável precisa ser sustentável ao longo do tempo. (ii) Desenvolvimento pressupõe o uso eficiente dos recursos tanto no sentido de mitigar emissões como de maximizar a recomposição daquilo que foi queimado, o que será objeto de muita preocupação dos agentes de inovação. (iii) Desenvolvimento sustentável requer inclusão econômica e social com igualdade de oportunidades. Se não formos capazes de nos mover nesse sentido, podemos ter uma porção de brasileiros incluídos, mas sem possibilidades de mudança efetiva. (iv) A âncora do desenvolvimento sustentável é a capacidade de inovar das instituições. Inovar significa não apenas estar presente no jogo, mas estar sempre capacitado a participar do jogo ao longo do tempo. Significa ser mais eficiente, ser capaz de introduzir mudanças continuamente. Inovar significa abrir oportunidades, oferecer mais e melhores empregos. A trajetória recente do desenvolvimento brasileiro tem se caracterizado pela democracia, inclusão econômica e social, investimento crescendo à frente do produto e estabilidade macroeconômica. Vejamos cada um desses pontos.
  • 25. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 25 (i) Democracia. Não percebemos plenamente os valores que estão sendo conquistados e consolidados no dia a dia desde a última Constituição, em 1988. Vivemos em um país democrático cuja Carta está orientada para a inclusão, para o bem-estar, o que por si só é um desafio extraordinário e requer tempo e políticas bem orientadas para ser superado. (ii) Inclusão econômica e social. A ascensão da classe “C” impulsiona o consumo e todo um processo de mudança na base da pirâmide social brasileira. Estamos rompendo um paradigma de suposta dicotomia entre crescer e distribuir, que até pouco tempo atrás era quase um consenso. Diferente de outros países onde essa dicotomia encontra evidências empíricas, o Brasil está crescendo com distribuição de renda, mas ainda há um longo caminho para avançarmos, uma vez os nossos graus de desigualdade são bastante elevados. (iii) Investimento crescendo à frente do produto. Enquanto a taxa de crescimento do investimento estiver superioràtaxadecrescimentodoPIB,estaremoscriando capacidade produtiva e empregos, além de evitarmos gargalos inflacionários mais adiante. Crescimento, desenvolvimento, estabilidade e investimento são processos que se interligam de maneira virtuosa. (iv) Estabilidade macroeconômica é fundamental. A estabilidade tem uma lógica que é basicamente a seguinte: as pessoas têm tranquilidade sobre onde deixar seu dinheiro e com relação ao horizonte econômico à frente. Elas podem fazer cálculo econômico e tomar decisões com o horizonte cada vez mais longo, quanto mais estabilidade houver.
  • 26. 26 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento Esses são ativos importantes para avançarmos em direção ao desenvolvimento sustentável. São condições necessárias, mas ainda insuficientes. Na próxima seção, veremos alguns desafios com os quais o Brasil tem se deparado. Desafios ao desenvolvimento sustentável do Brasil É importante destacar o caráter desequilibrado do desenvolvimento, que, diferentemente do crescimento, é um fenômeno multidimensional. Essa diferenciação fica evidente quando ocorrem muitos processos convergentes em diversas áreas da nossa vida, das artes à construção civil. O Brasil viveu um período intenso de desenvolvimento, de transformação ou de mudança estrutural nos anos 50 quando se podem citar vários aspectos marcantes, como a construção de Brasília, a industrialização do Plano de Metas e mesmo o advento da Bossa Nova. Nada disso foi por acaso. Não se sabe exatamente como as modificações ocorrem, mas a sociedade de repente dá saltos. É preciso fazer uma análise para se reconhecer os sinais de mudança, de ativismo na economia e em outras áreas. Esse é o caráter multidimensional do desenvolvimento. Desenvolvimentoéumprocesso.Eleédesequilibrado,tenso, mas também cumulativo. O aumento da nossa capacidade de consumir e a inclusão econômica demoraram muito tempo, mas quando ocorreram se reforçaram, ocasionando por vezes um hiato na capacidade de resposta do sistema produtivo frente ao consumo. Alguns processos são muito rápidos, como a produção de televisores, na qual é possível ampliar a capacidade produtiva em uma velocidade muito grande da mesma forma que se pode desacelerá-la. Tal não ocorre na indústria automobilística, que leva até três anos para aumentar sua
  • 27. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 27 capacidade de produção. Há um hiato diferenciado entre consumo e produção de bens e serviços. Pensemos nos automóveis. As ruas estão cheias deles, por isso, é preciso construir estacionamentos, infraestrutura, portos, rodovias etc. O tempo de maturação dos investimentos em infraestrutura, por seu turno, é ainda maior do que o necessário para a expansão da capacidade produtiva da indústria automobilística. Portanto, agora há um hiato também entre a produção e a construção da infraestrutura. E esse hiato é ainda maior na formação de recursos humanos qualificados. Isso indica que a sociedade brasileira vai conviver com tensões associadas ao desenvolvimento desequilibrado durante muito tempo. E a capacidade de negociar essas tensões vai definir o sucesso da sustentabilidade da nossa trajetória. Para onde ir? Temos um peso enorme que é o nosso passado. A experiência mostra que desde quando os portugueses exploravam pau-brasil, vivíamos de termos de troca favoráveis durante os vários ciclos da economia – do ouro, do açúcar, do café. Enquanto o ciclo estava fluindo no mercado global, o país seguia crescendo. Mas quando os preços internacionais declinavam, o ciclo se esgotava – e a economia nacional seguia na mesma direção. Esse passado nos condena. Essa é a nossa história. A questão agora é: será que vamos aproveitar o momento atual? É possível que tenhamos termos de troca favoráveis durante muitos anos. Provavelmente o minério de ferro continuará em alta por mais alguns períodos, porque a demanda por infraestrutura também estará ascendente. Mas essa commodity deve ser substituída pelas proteínas à medida que os países atingirem maior patamar de renda e, consequentemente, mais consumo que deverá pressionar a demanda por soja e carne, que tendem a manter preços firmes por um longo período. Podemos seguir em frente enquanto o mercado internacional for favorável, mas o problema se modifica quando
  • 28. 28 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento houver crise. Isso já ocorreu no passado. É um crescimento dependente com baixa sustentabilidade. Outra possibilidade é seguir rumo ao desenvolvimento sustentável e aproveitar esses tempos de termos de troca favoráveis para fortalecermos nossa capacidade de resistir a choques externos e ocupar espaços em um mundo de baixo crescimento. Vetores de um desenvolvimento sustentável É possível que consigamos superar o passado porque o que se configura é um perfil de oportunidades diferentes. Se pensarmos nas estratégias já implementadas no Brasil, elas sempre foram no sentido de empurrar a oferta ao mercado. Exemplos:noPlanodeMetascriou-seaindústriaautomobilística; nos primeiro e segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) foi criada a indústria naval... Ou seja, criamos a oferta à frente da demanda. Hoje, o Brasil se confronta com firme demanda do mercado externo e, simultaneamente, também há forte demanda no mercado interno, seja pelo consumo, seja pelos investimentos em infraestrutura. Do ponto de vista econômico, é mais lógico um desenvolvi- mento impulsionado pela demanda e, principalmente, induzido por políticas públicas. O BNDES faz análise sistemática da ten- dência do investimento que ocorre por detrás dessa demanda. Cerca de 50% da formação bruta de capital fixo são cobertas por esse painel de empresas. Entre 2007 e 2010, o Brasil inves- tiu R$ 1,4 trilhão e, entre 2012 e 2015, o crescimento projetado é de 35,5% sobre o período anterior (veja quadro), quando o país iniciou a trajetória de investimento crescendo à frente do produto de forma sistemática. Serão quase R$ 2 trilhões de investimentos na economia brasileira e as taxas mais expres- sivas de crescimento estão na construção civil, na indústria de petróleo & gás e na infraestrutura – portos, rodovias e ferrovias. Essas áreas já começam a apresentar uma taxa de expansão expressiva. Esse é o perfil possível de se delinear como vetores da perspectiva brasileira.
  • 29. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 29 Perspectivas para o Investimento Setores 2007-2010 R$ bilhões 2012-2015 R$ bilhões Variação % Indústria 450 596 32,5 Infraestrutura 322 397 23,3 Residencial 596 860 44,2 Total 1.368 1.852 35,5 Fonte: BNDES. Painel que representa algo em torno de 50% do investimento total Falamos sobre o comportamento da demanda. Agora, vamos verificar a oferta, os componentes centrais do desenvolvimento. Primeiro, quanto à oferta de mão de obra, estamos atravessando umperíododetransiçãodemográficaemqueataxadecrescimento da população está diminuindo de um modo tão pronunciado que para absorvermos a população que quer entrar no mercado de trabalho bastará um crescimento de 2% em 2012. Há nove anos, essa taxa teria que ser de 4% ao ano. Essa diferença mostra a velocidade da atual transição demográfica no Brasil. Ponto dois: o desemprego formal é baixo e decrescente; os salários reais estão crescendo. Com a formalização do emprego e a expansão do crédito, aumenta o potencial do mercado interno. Mas o emprego em alta, em algum momento, vai definir um teto para o crescimento quantitativo por falta de oferta de mão de obra. Esse teto vai demandar novas fontes de crescimento, se tivermos “pleno emprego” e uma população economicamente ativa, crescendo a 1% ao ano. Assim, coloca-se o imperativo da produtividade como um terceiro ponto. O crescimento da produtividade no Brasil foi de 1,3% a.a. no período de 1991 a 2010, inferior ao dos Estados Unidos, China e Índia em termos de valor adicionado por trabalhador. O comportamento da produtividade do trabalhador, no entanto, varia bastante em períodos específicos e em diferentes setores da economia, tendo crescido 6,1% no período 1992-1998 e 18,1% de 1999 a 2008 (veja quadros).
  • 30. 30 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento Crescimento da Produtividade (taxa média anual) País 1991-2010 Brasil 1,3% Estados Unidos 1,8% China 8,3% Índia 4,7% Fonte: Conference Board Brasil, 1992-2008 Período Produtividade do Trabalho (variação) Efeito Progresso Técnico Composição 1992-1998 6,1% 8,1% -2,1% 1999-2008 18,1% 17,9% 0,2% Fonte: Cepal Se quisermos crescer 4,5% a.a., a produtividade terá que aumentar 3,5% enquanto o emprego e a população economicamente ativa crescerão 1,1%. Mas entre 1991 e 2010, a produtividade da economia brasileira cresceu apenas 1,3%. A taxa de crescimento da produtividade terá que ser três vezes maior para o país registrar uma expansão de 4% ao ano. Esse é o desafio que teremos pela frente! A produtividade brasileira é muito baixa e há uma diferença acentuada entre setores. Por exemplo, a agropecuária cresceu 6,7% entre 1995 e 2008, não só porque os preços das commodities agrícolas estavam melhores como os produtores rurais apresentaram alta eficiência no período. Já a indústria extrativa apresentou expansão de 4,4%; eletricidade, água e esgoto, 2,4%; comércio, 0,1%; enquanto na indústria de transformação e na construção civil houve recuo de 0,2% e 1,2%; respectivamente (ver tabela).
  • 31. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 31 Produtividade Setorial, 1995-2008 (Crescimento médio anual) Valor Adicionado / Trabalhador Ganhos a.a: 1995-2008 Média 0,9% Agropecuária 6,7% Indústria Extrativa 4,4% Indústria de Transformação -0,2% Eletricidade, Água e Esgoto 2,4% Construção -1,2% Comércio 0,1% Fonte: BNDES A taxa de crescimento da produtividade brasileira, portanto, apresenta grande variação entre setores. Além disso, cresce mais por dentro de cada setor (efeito do progresso técnico) e pouco pela transferência de trabalhadores de setores de baixa produtividade para aqueles de maior produtividade (efeito composição). Esse quadro define um desafio de modernização da economia brasileira. Os agentes locais de inovação (ALI)3 , provavelmente, serão os profissionais que mais vão observar esse fenômeno e, ao mesmo tempo, serão os mais capazes de ajudar nessa mudança. Porque “mudar uma grande empresa é muito difícil”, mas uma pequena mudança também muda muita coisa, o efeito base também importa e é um enorme desafio. À guisa de conclusão: a inovação como sustentáculo do desenvolvimento A figura, a seguir, mostra como a inovação é um elemento central de sustentabilidade e competitividade. O gráfico tem no eixo 3 ALI – Agente Local de Inovação é um programa nacional do Sebrae que atua diretamente nas empresas de pequeno porte com o objetivo de promover a inovação e, com isso, aumentar a competitividade desse segmento.
  • 32. 32 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento vertical o PIB per capita e no horizontal, um índice composto de inovação – não é só pesquisa e desenvolvimento, mas uma série de indicadores. Há relação direta entre PIB per capita e capacidade de inovar como mostram as posições ocupadas por países como Singapura e Suíça. O Brasil tem feito grande esforço para promover inovação, mas ainda registra cerca de 1% do PIB em P&D. Índice INSEAD de Inovação e PIB/Capita, por país $ 60.000 $ 50.000 $ 40.000 $ 30.000 $ 20.000 $ 10.000 0 2011 Ranking Global do Índice de Inovação GDPPerCapita($) Índia Brasil China Japão Alemanha Canadá Singapura Suíça Finlândia Suécia EUA Entre 2006 e 2010, empresas líderes mundiais consideradas “mais inovadoras” cresceram duas vezes mais rápido (receita e valor de mercado) do que as maiores empresas mundiais (Forbes Global 100). Portanto, as empresas devem inovar para estar à frente dos concorrentes e se beneficiar de ambientes indutores: infraestruturas, principalmente tecnologia da informação e comunicação (TIC) e serviços técnicos de engenharia (STE), instituições de apoio e políticas públicas ativas. Faltou o gráfico do desempenho das empresas. Talento é um recurso crítico que vai diferenciar a prosperi- dade de países e empresas. O caminho a ser percorrido pelo Brasil é ainda mais longo em relação às competências. O qua- dro abaixo mostra a porcentagem de trabalhadores com pelo
  • 33. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 33 menos ensino médio completo. O Brasil está destacado em vermelho e, na comparação com outros países, ainda é grande a distância que nos separa. Brasil: % de trabalhadores com pelo menos ensino médio completo Fonte: OIT Rússia Noruega Alemanha Suécia Reino Unido França Chile Itália Espanha Uruguai México Brasil Turquia Portugal 94,0 90,1 86,9 86,2 75,5 71,8 69,8 59,2 56,2 44,2 34,7 33,8 29,0 20,6 O gráfico a seguir mostra que hoje existe no mundo, apesar da crise, pelo menos 10 milhões de postos de trabalho não ocupados na indústria de transformação. Mesmo nos Estados Unidos ou na Europa, há forte demanda por talentos para ocupar determinadas posições. Há ainda os postos de trabalho não preenchidos, que chegam a 5 milhões (bola grande), 3 milhões (bola média) e meio milhão, bola menor.
  • 34. 34 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento Postos de trabalho não preenchidos 12 11 10 9 8 7 6 5 4 China Alemanha Brasil Japão EUA Índia % de empregados com dificuldade de encontrar trabalho 5 milhões Elaboração WEF-Deloitte Touche Tohmatsu TaxadeDesemprego(%)(2011) 3 milhões 0,5 milhão Tamanho da “bolha”: postos de trabalho não preenchidos 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% No Brasil, apesar do nível de desemprego baixo, ainda se observa forte demanda por trabalho. Há demanda, há perspectivas do investimento crescer à frente do produto, temos oportunidades importantes, um modelo que está se estabelecendo, há inclusão, há democracia, mas ainda te- mos algumas carências: a nossa produtividade é baixa e, por trás disso, está a nossa limitada capacidade de incrementar a produtividade. Devemos estar preocupados em transformar velhos ativos em competências. Não se trata simplesmente de destruí- los, por exemplo, eliminando postos de trabalho, máquinas e equipamentos obsoletos por meio da introdução de automação
  • 35. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 35 comercial ou industrial. O que precisamos é ser extremamente obsessivos em experimentar e praticar o novo. A competência para fazer os outros terem competência é muito importante: essa é a competência central para o desenvolvimento sustentável e o principal ativo dos agentes locais de inovação (ALI). Os ALI receberam treinamento e serão postos à prova agora à medida que passarem a contribuir para que as empresas brasileiras de pequeno porte sejam melhores. A inovação no Brasil finalmente está ganhando priorida- de nacional. Atravessamos um momento na política industrial, configurado no Plano Brasil Maior, em que o desafio é agregar valor ao país por meio da inovação. Existe um movimento de grandes empresas, com participação ativa do Sebrae, a Mobi- lização Empresarial pela Inovação (MEI)4 , onde há dois anos os grandes empresários brasileiros declararam incondicionalmen- te que gostariam de dobrar o número de empresas inovadoras em até quatro anos. A gestão da inovação é o “calcanhar de Aquiles” nas micro e pequenas empresas. A iniciativa do Sebrae com os ALI, portanto, tem importância estratégica. A tarefa definida pela MEI está nas mãos dos ALI. Não serão as grandes empresas as mais capazes de dobrar o número daquelas efetivamente inovadoras. Esse é um desafio colocado para os ALI. Esses agentes são os mais habilitados e capacitados para duplicar o número de empresas inovadoras no Brasil. Cada ALI está fazendo parte da construção do desenvolvimento sustentável brasileiro. 4 MEI é um movimento liderado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) que visa incorporar e aprimorar a gestão da inovação nas empresas brasileiras e ampliar a efetividade dos instrumentos públicos de fomento à inovação no país.
  • 36.
  • 37. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 37 Os pequenos negócios e o empreendedorismo inovador no século 21 Francilene Procópio Garcia1 Empreendimentos mais sustentáveis, em tempos de globali- zação, consideram a inovação como a principal força motora para melhorar o seu desempenho e a sua capacidade de se manter competitivo no mercado. Os avanços tecnológicos, especialmen- te em Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) têm me- lhorado muito a competição movida pela globalização das eco- nomias. Nesse cenário, mesmo as micro e pequenas empresas (MPE) não são mais imunes aos desafios que a globalização traz. Acrescente-se ainda o papel das MPE na maioria das economias, uma vez que elas se apresentam como o maior bloco de negócio e fornecem, cada vez mais, a maior parte da oferta de empregos, inclusive em setores emergentes da economia. No Brasil, o Anuário do Trabalho (SEBRAE, 2010-2011) indica que as MPE respondem por 99% das empresas, mais da metade dos empregos formais em estabelecimentos privados não agrícolas, parte significativa da massa de salários paga aos trabalhadores desses estabelecimentos e 25% do Produto Interno Bruto (PIB). Nos Estados Unidos, a participação das MPE na economia é ainda maior, as 28 milhões de empresas que constituem o 1 Presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).
  • 38. 38 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento segmento contribuem com quase 50% do PIB norte-americano e respondem por 30% das exportações realizadas, segundo dados da Small Business Development Centers (SBDC). De acordo com um relatório da Comissão Europeia, em 2003, os 25 países do bloco contavam com 23 milhões de MPE2 , representando 99% de todas as empresas ativas na União Europeia, que respondem por 75 milhões de empregos (EC, 2003). Na Alemanha3 , as MPE representam 99,7% das empresas, e respondem por 83% de todas as colocações para treinamento, 1,36 milhão de vagas oferecidas. A presença massiva das MPE nas economias, em especial em economias emergentes como o Brasil, reforça a importância de se tratar de forma estratégica a sua relação com a inovação, contemplando a formulação, implantação e avaliação de políticas públicas e de mecanismos que viabilizem a promoção da inovação nesses empreendimentos. O Brasil tem um importante papel a desempenhar nesse cenário, sendo necessária a sistematização de políticas públicas que apoiem as MPE como parte de uma estratégia nacional em prol da inovação. Esse é um desafio legítimo para o Brasil. A inovação posiciona as mudanças nas MPE Drucker (1988) define inovação como o instrumento específico dos empreendedores, o processo pelo qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio diferente ou um serviço diferente. Inovação é uma combinação de necessidades sociais e de demandas do mercado com os meios científicos e tecnológicos para resolvê-las. Neste início 2 A Comissão Europeia define as MPE como “empresas que empregam menos de 250 pessoas e que apresentem volume de negócios anuais inferior a 50 milhões de euros, e/ou um balanço anual não superior a 43 milhões de euros”. 3 O Institut für Mittelstandsforschung (IFM), com sede em Bonn, Alemanha, define as MPE como empresas que empregam menos de 500 pessoas e cujo volume de negócios anuais não exceda 50 milhões euros.
  • 39. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 39 de século 21, percebe-se o surgimento de um novo desafio em torno do conceito de inovação – a inovação vem sendo disseminada por meio de múltiplos agentes e de forma mais aberta. É nesse espaço que as MPE e as empresas nascentes se posicionam como importantes atores – tais empreendimentos são fundamentais para movimentar e animar o mercado ao apresentar novas ideias. É oportuno refletir acerca do que há de novo no século 21 e sobre o papel desempenhado pelas MPE em sinergia com a movimentação do empreendedorismo inovador – uma importante alavanca para o desenvolvimento das economias. As mudanças nos processos de inovação no século 21 assinalam um deslocamento da “Economia da Gestão” para a “Economia do Empreendedorismo” (Thurik, 2009; Audretsch e Thurik, 2004). Inicialmente, a ciência e a P&D implementadas nas grandes empresas tiveram uma importante contribuição para as economias. Nos dias atuais, o empreendedorismo passa a ser considerado um dos principais focos para a inovação. Thurik (2009) distingue três fases históricas dessas mudanças nos processos de inovação enfatizando, num contraponto, a crescente valorização das MPE: 1. Schumpeter Fase I (1934). As ideias iniciais de Schumpeter foram disseminadas no início do século 20. Suas ideias atribuíam ao empreendedor um papel central na produção do crescimento econômico ao desafiar e desequilibrar a ordem econômica existente, viabilizando a introdução de inovações nas empresas e reinventando processos de negócios, o que foi chamado de “destruição criativa”. 2. Schumpeter Fase II com a “Economia da Gestão” (1942). Schumpeter revisitou suas ideias ao perceber que o poder das grandes empresas crescia com a exploração da elasticidade de preços e com o crescimento da demanda. A inovação a partir dos anos 40 até os anos 70 era dominada pelas grandes empresas, mais aptas para explorar economias de escala na P&D, produção,
  • 40. 40 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento distribuição, e gestão. Neste período as MPE participavam muito discretamente, com muitas limitações para inovar, resultante de baixos gastos com P&D. Este período, conhecido por “Economia da Gestão”, uma denominação de Schumpeter, assinalou a superioridade das grandes empresas para inovar em função de sua capacidade de investir em P&D. 3. A “Economia do Empreendedorismo”. Novas mudanças foram percebidas já no final dos anos 70 e continuam até os dias atuais. Trata-se de mudanças na estrutura e na forma como as operações são conduzidas nas economias mais avançadas. Observa-se a redução gradativa da importância de economias de escala e um reposicionamento do papel das MPE na forma como novos processos de inovação surgem e se desenvolvem. Com a redução da importância das economias de escala, surgem novas tendências que englobam o aparecimento da economia aberta, das conexões globais, da inovação não tecnológica, da inovação social e do empreendedorismo social. Renova-se cada vez mais a importância da promoção da cultura empreendedora, em especial no âmbito das MPE. O papel das MPE no Século 21 As MPE constituem a base da sociedade e de nossas economias em tempos de transformação e, portanto, devem ser auxiliadas para que compreendam o seu papel junto aos novos desafios que esta nova dinâmica de desenvolvimento social e econômico nos recomenda. As MPE devem ser preparadas para que possam introduzir novos produtos e serviços e alcançar formas de operação mais eficientes. É importante ressaltar que nem todas as empresas já estabelecidas ou mesmo as recém- criadas serão iguais em termos de capacidade para inovar. Em função de facilidades oferecidas pelos ambientes onde
  • 41. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 41 as empresas se desenvolvem, percebe-se o surgimento de grupos de empresas altamente inovadoras e com um potencial de crescimento elevado, atraindo investidores desde cedo. As políticas públicas e os instrumentos de apoio à inovação para serem mais efetivos devem reconhecer esta diferenciação entre estes grupos de empresas. Segundo dados da (OECD, 2010), um levantamento realizado em 11 países sugere que para cada cem empresas, com dez ou mais empregados, existe pelo menos duas ou no máximo oito empresas com alto potencial de crescimento. Anyadike-Danes (2009) assinala que apenas 6% das empresas britânicas com as maiores taxas de crescimento são as responsáveis pela geração da metade dos novos empregos criados entre 2002 e 2008 – a inovação é a razão de tal sucesso. A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) sugere que apenas 6,5% dos novos empreendedores são “Empreendedores com alto potencial”, cuja expectativa é a de criar 20 ou mais postos de trabalho num prazo de cinco anos. Existe, portanto, uma grande maioria de MPE que inova muito pouco. Tais empresas não devem ser negligenciadas, pois mesmo as pequenas inovações ou as diferenças discretas no potencial de crescimento podem vir a representar um potencial quando se observa o número de empresas envolvidas. Esse é um desafio a ser endereçado em países como o Brasil, cujos empreendedores por oportunidade ocupam a 12ª posição, com uma taxa de 10,23%, superior a média de todos os países participantes (7,57%) (GEM, 2011). Em todo o mundo, as MPE são percebidas como fundamentais para os novos processos de inovação em razão de sua capacidade para reconhecer e explorar as oportunidades de mercado que emergem das mudanças tecnológicas e competitivas. Por outro lado, apesar das limitações inerentes ao perfil das MPE, a inovação nos moldes atuais tende a ser realizada em colaboração com universidades, centros de P&D, clientes, fornecedores, empresas concorrentes e consumidores, tendo custos e atribuições compartilhados.
  • 42. 42 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento Observa-se ainda um deslocamento da manufatura para os serviços e a promoção de novos tipos de inovação não tecnológica4 , que geram economias de escala em P&D muito menos significativas. As inovações não tecnológicas são muito importantes para as MPE, por exemplo, uma pequena empresa pode monitorar avanços de seus concorrentes por meio das informações publicadas em mídias digitais. As novas estratégias para inovar AodestacaraimportânciadasMPEedoempreendedorismo inovador no século 21 e o papel de políticas públicas em resposta aos desafios que tais empreendimentos enfrentam, a OECD lançou uma publicação com recomendações importantes para a definição de estratégias, políticas públicas, e instrumentos de forma a assessorar os governos para lidar com os desafios da melhor inserção da inovação nas MPE. A publicação (OECD, 2010) explora de forma mais contundente três temas de interesse, ainda insuficientemente reconhecidos pelos governos, inexistentes na maior parte das políticas públicas em vigor no mundo. Um dos temas explora os fluxos de conhecimento: como se deve se promover a inserção de micro e pequenas empresas em cadeias de conhecimento, de forma a facilitar a obtenção de ideiasparaqueaempresainoveemsintoniacomastendênciasde mercado. Uma constatação fundamental é de que as pequenas empresas não inovam por si mesmas, mas em colaboração com fornecedores, clientes, concorrentes, universidades, centros de P&D, dentre outros. As redes de parcerias auxiliam a superar alguns dos obstáculos que uma empresa de pequeno porte pode enfrentar para se tornar inovadora. 4 A inovação não é apenas alcançada com base em ciência e tecnologia. Existem outras formas de inovação. A implementação de novos processos organizacionais nas práticas de negócios das empresas, no ambiente de trabalho e nas relações com o mercado podem gerar impactos significativos na competitividade das empresas, no crescimento de sua produtividade e na criação de valor.
  • 43. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 43 Nesse ponto, é também importante destacar o papel desempenhado pelo ambiente e atores locais − a força dos parceiros tecnológicos locais, dos mecanismos que favorecem ao relacionamento entre universidade-empresa, governo- empresa, empresa-empresa, e assim por diante − é crucial para viabilizar a apropriação oportuna de ativos de conhecimento que promovam o crescimento de tais empreendimentos. Por outro lado, o foco não deve ser inteiramente no local. Um segundo tema de interesse é o desenvolvimento de habilidades e capacidades para o empreendedorismo inovador em novas empresas e nas MPE existentes. É oportuno mapear, em cada realidade, quais são as habilidades necessárias para que MPE possam inovar. Como podemos melhorar a capacidade da forçadetrabalho,emgeralenxuta,dasMPE?Quaiscompetências são necessárias para que se promova, sistematicamente, o surgimento de empresas inovadoras? Apesar da presença de universidades na oferta de cursos com ênfase na promoção do empreendedorismo, percebe-se a necessidade de se identificar quais as prioridades e os princípios que devem fundamentar esta formação. Os esforços de instituições de ensino e demais centros de capacitação, a exemplo da atuação do Sebrae no Brasil, são fundamentais para se medir o tamanho do desafio. O ensino do empreendedorismo não deve se limitar à sala de aula ou às estruturas formais de aprendizagem. Os funcio- nários e colaboradores das MPE devem buscar aperfeiçoar suas habilidades empreendedoras através de interações com seus colegas de trabalho, fornecedores, clientes e consultores. Essas interações ocorrem frequentemente por meio de relacio- namentos estabelecidos entre as MPE e seus fornecedores, em processos que são conhecidos como atividades intensivas em conhecimento (AIC)5 . 5 Segundo (OCDE, 2010), atividades intensivas em conhecimento (AIC) são aquelas produzidas ou integradas por empresas ou por atores, nos diversos contextos organizacionais, de manufatura ou de serviços, paralelamente à produção manufatureira ou enquanto serviços autônomos. O papel das AIC depende de certo número de parâmetros, tais como natureza da organização, características da cadeia de valor e ciclo de vida do processo de inovação
  • 44. 44 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento O terceiro tema é aquele que está provocando crescente interesse de formuladores de políticas públicas: o empreende- dorismo social e a inovação social. Esse tema insere-se bem no conceito mais amplo de inovação que os governos começam a adotar, quando identificam as novas demandas da sociedade em torno da inovação – a qual não se limita ao que é entregue pela ciência ou através de P&D, mas também por meio de atores que colocam o social em primeiro lugar. Oobjetivodeempreendedoreseempresassociaiséfornecer soluções inovadoras para problemas sociais não resolvidos. Por exemplo, existe uma Cooperativa Social de Saúde, criada na Coréia, cuja inovação social refere-se às mudanças sociais implementadas em resposta às necessidades e desafios de se prover atendimento básico de saúde a uma população carente. No Brasil, a Lei Complementar nº 128, de 19/12/2008, que criou as condições especiais para que o trabalhador informal possa se tornar um Empreendedor Individual (EI) formalizado e legalmente estabelecido é outro exemplo. Nos Estados Unidos foram criadas Contas Individuais de Desenvolvimento, uma combinação de poupanças, que as pessoas mais pobres podem acumular, com dinheiro público para fomentar uma base de ativos que viabilize alternativas para a inclusão produtiva e social. Políticas públicas que promovem o empreendedorismo inovador É compreensível o quanto as MPE e o empreendedorismo são fundamentais para a inovação no século 21. No entanto, percebe-se ainda a ausência de políticas públicas que contemplem plenamente as MPE nas estratégias nacionais em prol da inovação. As políticas públicas dos governos ainda não se ajustaram à nova realidade. Apoiar a pesquisa, com subsídios para uma minoria de grandes empresas, laboratórios de universidades ou centros de P&D, exclusivamente, não
  • 45. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 45 parece ser a maneira mais eficaz de gerar inovação num ambiente onde o conhecimento passou a fluir globalmente. Será necessário refletir e atuar na superação de alguns desafios: • Promoção da cultura do empreendedorismo. São necessárias políticas que promovam de forma perene a atitude empreendedora no cidadão. Premiações para ações empreendedoras devem ser criadas em todos os recantos do país. Por exemplo, a premiação de ideias que inovem com práticas que qualifiquem e dinamizem o ensino do empreendedorismo. • MPE e o empreendedorismo inovador. As MPE inova- doras deveriam ter acesso facilitado a produtos e serviços em instituições de apoio e agências de fomento, tais como: isenções fiscais, programas de compras governamentais, regulação da produção, regulação de mercado, proprie- dade intelectual, dentre outros instrumentos. Um contra exemplo, a Lei do Bem é inacessível às MPE. • Acesso ao financiamento. É singular a baixa presença de recursos para financiamento da pesquisa nas MPE, em especial nos estágios iniciais da inovação. Trata-se de uma barreira grave para a inovação fluir. Os instrumentos de fomento tais como a subvenção econômica e as linhas de crédito devem considerar os vários momentos do ciclo de P&D nas MPE, considerando ainda a presença do capital de risco. Os empreendedores precisam ser capacitados em programas específicos, sendo oportuna ainda a exploração de redes que promovam a parceria entre empresas. • Transferência de conhecimento. Um dos principais motores do empreendedorismo inovador é a troca de co- nhecimento entre parceiros. Isto implica na necessidade de se desenvolver uma política forte para apoiar a trans- ferência entre os ambientes e as empresas que desejam explorar tais oportunidades no mercado. Os Parques Tec-
  • 46. 46 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento nológicos e as Incubadoras de Empresas são modelos de mecanismos que incentivam a mobilidade de pessoal e de ativos de conhecimento entre universidades e empresas. É necessário investir de forma mais sistemática nesses es- paços inovadores. Referências bibliográficas SEBRAE. Anuário do Trabalho na Micro e Pequena Empresa, 2010-2011. DRUCKER, P. F. The coming of the new organization. Harvard Business Review, v. 66, n. 1, p. 45-53, 1988. European Commission (EC). The new SME definition: User guide and Model declaration, Publications Office of the European Commission. 2003. Audretsch, D. e R. Thurik. The Model of the Entrepreneurial Economy, International Journal of Entrepreneurship Education, Vol. 2, No. 2, pp. 143-166, 2004. Thurik, R. Entreprenomics: Entrepreneurship, Economic Growth, and Policy”, in Z. Acs, D. Audretsch e R. Strom. Entrepreneurship, Growth, and Public Policy, Ch. 10, Cambridge University Press, Cambridge, pp. 219-249, 2009. OECD. Studies on SMEs and Entrepreneurship SMEs, 2010. Anyadike-Danes, M., K. Bonner, M. Hart e C. Mason. Measuring Business Growth: High-Growth Firms and their Contribution to Employment in the UK, London, 2009. Empreendedorismo no Brasil. Pesquisa GEM. 2011.
  • 47. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 47 Inovação para a sustentabilidade – o imperativo de uma nova era Jairo Martins da Silva1 Introdução É no mínimo notório como a palavra “inovação” passou, em âmbito mundial, a ser exaustivamente usada pelas organizações de qualquer setor, tipo e porte. Mesmo sem uma conceituação clara e precisa, a inovação começou, de repente, a fazer parte das estratégias organizacionais, surgindo como uma verdadeira cura para todos os males que afetam o desempenho e a competitividade dos países e das empresas. Nesse contexto, o objetivo deste artigo é demonstrar por- que a inovação, se compreendida e praticada no seu sentido mais amplo, é o único caminho para que os governos, em- presas e cidadãos consigam gerar valor de modo a atingir o desejável e necessário estado de uma sociedade sustentável: economicamente saudável, ambientalmente responsável, so- cialmente justa e eticamente transparente. 1 Superintendente-geral da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ)
  • 48. 48 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento O que é inovação? Devido à pluralidade de enfoques e profundidades de conceituações, entendimentos e caracterizações, pode-se facilmente constatar que o tema, na maioria das iniciativas das organizações, ainda não saiu da esfera dos debates para uma efetiva implantação da prática no seu dia a dia. Enquanto teóricos ortodoxos se perdem em intermináveis discussões sobre os diversos conceitos e definições, sejam dos manuais de Oslo ou Frascatti, das argumentações de Schumpeter ou Dosi ou mesmo se as inovações são radicais ou incrementais, o fato é que pouco se evoluiu no mundo e, principalmente, no país. Diariamente surgem premiações, grupos de estudos e comitês, bem como solicitações de incentivos financeiros, sem que se apresentem soluções qualitativas e quantitativas abrangentes, que possam ser implantadas para colocar as organizações e os países na trilha da inovação ampla e irrestrita. Têm-se a impressão de que a gestão organizacional atingiu um estado de esgotamento com relação à inovação, do qual está difícil de sair. Devido ao viés predominantemente econômico da sociedade atual, justificado por muitos pela crise financeira mundial, quase todas as iniciativas se enveredam pela inovação puramentetecnológica,numavisãomíopedasoportunidadesde melhorias para a sociedade e da utilização das potencialidades da mente e do conhecimento humano. Afinal de contas, o que vem a ser a inovação no seu sentido mais amplo? De forma simples e descomplicada, a “inovação” pode ser conceituada e entendida como “a criação e a implantação, com sucesso, de uma ideia nova, que gere valor para a sociedade”. Pormeiodessadefinição,percebe-sequeasoportunidades, se observadas em contexto expandido, são infinitas, podendo beneficiar a sociedade como um todo, nos mais diversos setores de atividade e ramos do conhecimento.
  • 49. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 49 A inovação na linha do tempo Embora, nos últimos tempos, a inovação tenha se transfor- mado em objetivo estratégico dos governos e organizações, o tema não é novo. Desde a pré-história, o homem das cavernas sempre buscou atender às suas necessidades, transformando os recursos encontrados na natureza em alimentos, vestuários e objetos, que garantissem sua sobrevivência. Com o tempo, a vida em comunidades levou o homem, que supria as suas próprias demandas com produtos feitos artesanalmente, a entender que o processo de troca das suas habilidades poderia ampliar as suas possibilidades de conforto, gerando assim valor para a sociedade da época. Se analisadas de forma, mesmo superficial, sem muitas teorias, as atividades transformativas, às quais se dedicou o homo sapiens, constituem verdadeiras manifestações da ino- vação que foram implantadas para solucionar os problemas que ameaçavam o seu bem- estar e limitavam o seu desen- volvimento. Saindo da pré-história, passando pela antiguidade, pela Idade Média, pela Idade Moderna até os dias de hoje, a humanidadenãoteriaatingidooestadoatualdedesenvolvimento se não fosse a capacidade criativa e de inovação do homem. A invenção da escrita, o surgimento das diferentes civi- lizações e a criação dos diversos sistemas políticos estabe- leceram os alicerces da sociedade contemporânea. Nesse processo evolutivo, a humanidade experimentou uma trans- formação radical ao sair da economia agrária, baseada no trabalho manual, para a economia industrial, caracterizada pelo trabalho mecanizado e especializado. O uso de má- quinas e de novas fontes de energia, o desenvolvimento do transporte e da comunicação e a aplicação da ciência ao processo produtivo caracterizaram, em meados dos anos 1.700, a primeira Revolução Industrial.
  • 50. 50 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento Mudando o caráter do trabalho, o homem se tornou complemento da máquina e passou a receber um salário. Um século depois, teve início a segunda Revolução Industrial, marcada pelo uso de novas fontes de energia (eletricidade e petróleo), a substituição do ferro pelo aço e a criação da linha de montagem. Após a Grande Depressão, resultante da quebra da Bolsa de Nova York, e a II Guerra Mundial, deu- se início à terceira Revolução Industrial. A necessidade de se reconstruir o mundo destruído, arruinado e politicamente dividido foi fator motivador para um fantástico desenvolvimento científico e tecnológicoemtodosossetoresdoconhecimento.Osavanços decorrentes da microeletrônica, das telecomunicações, da energia nuclear, das técnicas agropecuárias e das pesquisas no campo da saúde foram responsáveis por grandes mudanças no modo de vida da sociedade. No período pós-guerra, no âmbito das empresas e dos governos, surgiram novos conceitos econômicos e novas teorias administrativas, que passaram a influenciar a gestão das nações e das organizações. Os conceitos de planejamento estratégico e marketing foram amplamente difundidos e aplicados para uma atuação mais estruturada das empresas no mercado. O conceito atual de Produto Interno Bruto (PIB), como principal medida usada para avaliar o tamanho de uma economia, passou a ser o parâmetro de comparação entre nações. Finalmente, chega-se ao atual período da vida econômica mundial: a globalização. Marcada simbolicamente pela queda do Muro de Berlim, em 1989, e pela derrocada dos regimes comunistas,aglobalizaçãocaracterizou-sepelainterdependência entre os atores econômicos globais – governos, empresas e movimentos sociais. A revolução tecnológica dos anos 90, especialmente nas telecomunicações, por meio da inovadora internet, potencializou as possibilidades de integração econômica à distância. Chega-se, então, à Era da Informação. Acirculaçãomaisvelozdecapitalpeloplaneta,caracterizada pelopensamentoeconômiconeoliberal,facilitandoinvestimentos
  • 51. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 51 e ações especulativas, fez com que as cadeias produtivas se espalhassem pelo globo, transferindo empresas para países de baixo custo de produção, aumentando assim as margens e os lucros dos grandes grupos multinacionais. Mesmo tendo sido responsável pelo crescimento da produção e do comércio mundiais, a globalização não conseguiu evitar que a riqueza se concentrasse num pequeno grupo de países, reforçando a desigualdade entre nações. Atualmente, os países emergentes, nomeados de Brics, liderados principalmente pela China, Índia e Brasil, tentam mudar essa relação. Ofatoéque,numasimplesanálisedahistóriadahumanidade, asatisfaçãodasnecessidadesdasociedadesemprefoialcançada por meio da inovação em processos, produtos, serviços, gestão, tecnologia, governança e relações entre as partes interessadas. Então, por que se fala tanto em inovação no cenário atual, se ela sempre esteve presente no dia a dia da humanidade? Será que se chegou a um estado de estagnação ou se está tentando aplicar as mesmas ferramentas de desenvolvimento do passado a uma realidade que não mais as comporta? Excessos e limites Os conceitos econômicos e organizacionais, surgidos no período pós-depressão e pós-guerra, embora, de certa forma, coerentes com a necessidade da época, de reconstruir uma sociedade destruída, deixaram de considerar um importante fator: os recursos naturais do planeta são finitos. O composto de marketing, caracterizado pelos 4P (Pro- duto, Preço, Praça e Promoção), é definido como a estratégia empresarial de otimização do lucro por meio da adequação da produção e oferta dos seus produtos às necessidades e preferências dos consumidores. Assim, o marketing preconi- za ter o produto certo, no lugar certo e no momento certo, assegurando que o cliente tenha conhecimento do produto e maximizado o lucro da empresa.
  • 52. 52 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento Por outro lado, o PIB, criado pelo economista britânico Richard Stone, é definido como a soma do valor de todos os bens e serviços produzidos em determinada área geográfica (em geral, um país) num certo período de tempo (em geral, um ano). Em ambos os conceitos, está explicitado que as palavras de ordem são “produzir” e “consumir”, a qualquer custo, para gerar riqueza pela transformação de recursos naturais, humanos e intelectuais em produtos. Os investimentos em processos, abrangendo toda a cadeia de valor dos diversos segmentos, redundaram numa maior produtividade, o que aumentou consideravelmente a competitividade dos países desenvolvidos. Todos esses conceitos, então praticados na gestão organizacional privada ou pública, de estímulo desenfreado à produção e ao consumo, sem uma preocupação com a finitude dos recursos naturais, caracterizaram o que se pode denominar como a Era dos Excessos. Sem ser percebido o poder destrutivo e insustentável dos sistemas de produção e consumo, tudo teria que ser grande e abundante para gerar atividade econômica e, então, aumentar o PIB, que é a medida do sucesso. Iniciados na década de 60, os tímidos movimentos de alerta para o crescimento exponencial da população mundial diante dos indícios de escassez de água e recursos naturais pouco sensibilizaram a sociedade de forma homogênea. A partir do início dos anos 90, especificamente desde a ECO 92, o mundo tomou consciência dos dramáticos impactos causados pelas atividades produtivas no meio ambiente, evidenciados pelas adversidades climáticas que passaram a ocorrer nas diversas regiões do planeta, ocasionando verdadeiras catástrofes naturais e dizimando centenas de milhares de vidas. O processo de exaustão dos recursos naturais, associado ao vertiginoso crescimento da população mundial, dava início ao surgimento de uma nova era: a “Era dos Limites”. Dessa forma, a década de 90 passava a constituir um importante marco da
  • 53. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 53 história da humanidade – o início da “Era da Sustentabilidade”, quando se buscava conjugar o desenvolvimento econômico, preservando o meio ambiente e promovendo o bem-estar social. O atual desafio dos países e das organizações é como se tornar e continuar competitivos em um cenário de limites, em plena crise financeira, com escassez de recursos e grandes desigualdades sociais. A cadeia de valor cíclica – a “IV Revolução Industrial” Está mais do que claro que o atual modelo de desenvolvimento consolidado nas três revoluções industriais – e ainda utilizado –, a exemplo da insistência dos economistas em medir o desempenho dos países pela anacrônica e insustentável fórmula de cálculo do PIB, é inviável para a sociedade atual. A duras penas, pouco a pouco, se desenvolve uma conscientização de que a atividade econômica, para ter sucesso e para que seja duradoura, depende da preservação dos ativos ambientais e da valorização do bem-estar social. Definitivamente, queira ou não queira, não prevalecerão as mesmas regras que deram certo na Era Industrial. É preciso fazer diferente e não fazer mais do mesmo. É evidente que as inúmeras tentativas de criar estímulos pontuais para aumentar o consumo trouxeram pouco resultado para os indicadores econômicos. Não há dúvidas de que uma redução dos custos sistêmicos e dos tributos sobre a produção, salários, investimentos e exportações ajudaria a aumentar a competitividade do Brasil, mas não seria suficiente. Continua-se a utilizar o mesmo modelo de crescimento econômico da “Era dos Excessos”, quando a “Era dos Limites” já é uma realidade do cenário de hoje. Se os recursos são finitos, a produção de bens, produtos e alimentos passa a ser limitada. Com a terceirização da produção das nações desenvolvidas para os países emergentes, o
  • 54. 54 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento poder aquisitivo da população destes cresce, aumentando automaticamente o consumo de produtos e alimentos. Assim, era de se esperar que o nível de vida e de conforto, em algum lugar do planeta, iria cair, como está acontecendo em alguns países, principalmente na Europa Mediterrânea. Será que a atual crise mundial não é a busca do equilíbrio econômico e social para a redução das desigualdades entre as nações? Para reverter esse quadro, é imprescindível que se coloque na pauta das agendas dos países e das organizações o desafio de se equilibrar as três dimensões do desenvolvimento sustentável, com o objetivo de se alcançar o estado de uma sociedade economicamente saudável, ambientalmente correta e socialmente justa, garantindo as condições de vida no planeta para o bem-estar das gerações futuras. Diante de um cenário de escassez de recursos, população global crescente e melhoria do poder aquisitivo de regiões antes socialmente precárias, a única receita é promover um choque de transformação global para um novo modelo econômico, cuja medida de desenvolvimento será expressa pelo “PIB Sustentável”, composto de parcelas referentes à geração de bens, produtos e serviços, acrescidas do capital ambiental e do capital social. Para promover a mudança cultural e de atitudes dos governantes, empresários e cidadãos, e assim se caminhar na direção de uma economia sustentável, é necessária uma “quarta Revolução Industrial”, permeada pela “oferta responsável” realimentada continuamente pelo “consumo responsável”, num processo de melhoria constante. Nesse contexto, já são perceptíveis os sinais de que os consumidores começam a compreender que detêm o poder para promover esta mudança de paradigma. Há uma clara conscientização de grande parte da população na busca por produtos que utilizem meios mais limpos de produção, que gerem pouco desperdício, que consumam menos insumos naturais – água e energia, que causem menos danos à saúde e ao meio ambiente e que sejam produzidos por empresas éticas, transparentes e responsáveis socialmente.
  • 55. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 55 O poder está visivelmente passando das mãos do produtor e do distribuidor para as mãos do consumidor, que, silenciosamente, vai assumindo o controle da cadeia de valor, que deixa de ser linear e passa a ser cíclica. Na hora da compra, o consumidor vai questionar a origem e o destino do produto, ou seja, de onde vem? Como é produzido? E para onde vai? O empresário que não compreender essa nova ordem, mudando a sua forma linear de pensar e agir, sem adaptar- se a essa irreversível realidade econômica, encarando a sustentabilidade como uma oportunidade e não como uma ameaça, dificilmente sobreviverá. O processo produtivo, estabelecido e consolidado nas revoluções industriais, ocorridas nos três séculos passados, já não se aplica à realidade de hoje, pois a premissa de recursos inesgotáveis não é mais válida. É preciso repensar a indústria de transformação, que, em vez de apenas utilizar insumos extraídos da natureza, deve, num processo de “transformação reversa”, reutilizar materiais descartados, após expirada a sua vida útil. Nesse ponto, não se deve focar apenas na logística reversa ou numa política de resíduos sólidos. O conceito claro, direto e simples é o do “produto que volta a ser produto”. Esta será a essência de quarta Revolução Industrial que se inicia. Inovação – o imperativo da nova era Para provocar a ruptura da qual a humanidade tanto carece, a única saída é, como tem sido até hoje, a prática da inovação, desde que enxergada sob o prisma da necessidade humana e da convivência saudável das dimensões econômica, ambiental e social. O entendimento do senso de urgência que a Era dos Limites impõe à sociedade é o fator decisivo para promover a devida transição e a necessária transformação. É imperativo que se compreenda que os métodos tradicionais de gestão e condução dos negócios já não podem ser mais aplicados à realidade atual.
  • 56. 56 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento Governos e organizações precisam se mobilizar, alinhar e usar as suas capacidades criativas para inovar. Serão necessários novos modelos de negócios, cadeias produtivas, formas de educar e gerir pessoas, desenho de processos, estruturas de custos e ganhos, modelos financeiros e de geração de valor, bem como novas formas de comunicação e marketing. Da mesma forma como ocorrido, por exemplo, quando da implantação da Administração Científica, de Taylor, e da Gestão da Qualidade Total, de Juran e Demming, resistências iniciais são sempre esperadas. Em quase todos os processos de ruptura e descontinuidade, com o tempo, as visões antagônicas são superadas pela percepção e pelo reconhecimento dos benefícios e valores agregados para a sociedade como um todo. Não há dúvidas de que as transformações são signifi- cativas, mas trazem grandes e novas oportunidades de ne- gócios e atuação, para organizações de grande, médio e pequeno portes, com e sem fins lucrativos e dos diversos segmentos de atividades. Especialmentenosegmentodasmicroepequenasempresas (ME e PE), embora os desafios sejam muitos, a multiplicidade de opções é gigantesca. Além de ter maior proximidade do cliente, essas empresas são mais flexíveis para adequação dos processos à nova realidade e, por consequência, dispõem de uma capacidade e agilidade de inovar, que é o imperativo de uma nova época: a Era da Sustentabilidade. Referências bibliográficas MIGUEZ, EDUARDO CORREIA. Logística reversa como solução para o problema do lixo eletrônico: benefícios ambientais e financeiros. Rio de Janeiro: Qualimark, 2010. RUNIA, PETER; WAHL, FRANK; GEYER, OLAF; THEWISSEN, CRRISTIAN. Marketing: eine prozess- und
  • 57. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 57 praxisorientierte Einführung. München: Oldenbourg, 2007. GIANETTI, BIAGIO; ALMEIDA, CECÍLIA. Ecologia Industrial: conceitos, ferramentas e aplicações. São Paulo: Edgard Blücher, 2006. HUNGENBERG, HARALD. Strategisches Management in Unternehmen: Ziele, Prozesse und Verfahren. Wiesbaden: Gabler, 2004. MARIOTTI, HUMBERTO. Pensando diferente: como lidar com a complexidade, a incertez e a ilusão. São Paulo: Atlas, 2010. SANTOS, CARLOS ALBERTO (coordenação). Pequenos negócios: desafios e perspectivas – Desenvolvimento sustentável. Brasília: Sebrae, 2012.
  • 58.
  • 59. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 59 A competitividade e a inovação – uma questão de capacidade? Naldo Medeiros Dantas1 Introdução A inovação nunca esteve tão em moda como neste século. Mas qual é o motivo que levam países, bancos, conglomerados econômicos, cientistas, grandes, micros e pequenos empresá- rios a se preocuparem com esse tema? A capacidade de gerar e compartilhar riquezas de uma sociedade está diretamente vinculada à sua capacidade de inovar de forma sistemática. A inovação tornou-se o elemento central da competitividade das organizações e dos países. Para entendermos a inovação é necessário aprofundarmos os conceitos da competitividade e as possíveis estratégias e capacidades organizacionais que a sustentam. Como parte dessa imersão, proponho abordarmos: (1) a teoria do RBV (Resource Based View), a caracterização e a estratégia de uso dos fatores geradores da vantagem competitiva e (2) o uso da capacidade dinâmica de absorção tecnológica como base à diferenciação. 1 Engenheiro eletricista. Secretário-executivo da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei).
  • 60. 60 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento Competitividade e inovação... Unindo capacidades Uma organização possui vantagem competitiva, conforme conceituado por Peteraf & Barney (2003), se é capaz de criar mais valor econômico que o competidor marginal (breakeven) de seu mercado de atuação. Nesse contexto, o valor econômico criado pelo empreendimento no fornecimento de seus produtos ou serviços corresponde à diferença entre os benefícios adquiridos percebidos por todos os clientes (wish to pay – WTP) e o custo econômico do empreendimento (Figura 2.1). Empresa 3 Empresa 2 ValorEconômico ValorEconômico ValorEconômico ValorEconômico Estratégia de Eficiência em Custo Empreendimento Composição Ponderada de Todos os produtos Custo de produto ou serviço Preço de produto ou serviço Share Efeito: crescimento Lucro / retorno Efeito: ROA Estratégia de diferenciação Valor percebido pelo cliente (WTP) Empresa 1 Figura 2.1 – Criação de valor econômico e vantagem competitiva Fonte: Peteraf & Barney 2003; pag. 314-315 Dessa forma, a vantagem competitiva é obtida quando a expansão do valor percebido pelos clientes ou a redução dos custos de produção diferenciam-se sistematicamente em relação aos demais concorrentes. No meio desse esforço econômico, a inovação tecnológica coloca-se como elemento chave para o sucesso da empresa na sua indústria de atuação, seja para obter eficiência em custo (com manutenção do valor
  • 61. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 61 percebido), seja pela diferenciação de seus produtos e serviços (ampliação do valor percebido e do wish to pay). Para a implantação de suas estratégias, a organiza- ção precisa articular a aquisição, desenvolvimento e uso de seus recursos, especialmente aqueles considerados VRIO. Daft1983 in Barney 1991 define os recursos de uma organi- zação como sendo todos os ativos, capacidades, processos organizacionais, atributos da empresa, informações, conheci- mentos etc. controlados pela organização que permitem que a concepção e a implementação de estratégias que aperfeiço- am sua eficiência e eficácia. Barney JB & Hesterly WS (2007) complementam esse conceito, citando que, na ótica da RBV, todo ativo tangível e intangível que a empresa controla e que pode ser utilizado para criar e implementar estratégias é um recurso. Os recursos nessa conceituação são agrupados em quatro categorias: – recursos financeiros, recursos físicos, recursos humanos e os recursos organizacionais (atributos do grupo). O modelo de análise VRIO busca analisar os diferentes recursos da organização quanto à sua capacidade de gerar vantagem competitiva. Assim, todo recurso é analisado quanto ao seu Valor (V), Raridade (R), Imitabilidade (I) e capacidade organizacional de explorar os seus recursos (O). Dentre esses recursos críticos à obtenção da vantagem competitiva, essa discussão foca naqueles direcionados à implementação da inovação tecnológica. Burgelman, Christensen & Wheelwright (2004) demonstram as relações existentes entre os diferentes conceitos envolvidos no processo de constituição de uma inovação tecnológica (Figura 2.2). Nesse modelo, o output do processo de inovação (mercado, empreendedorismo tecnológico e esfera técnica) ocorre pela articulação das capacidades de P&D (invenções e descobertas) com as de desenvolvimento de produtos, processo e mercados (inovações tecnológicas) e com as capacidades administrativas.
  • 62. 62 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento Capacidades Administrativas Inovações Tecnológicas Invenções/Descobertas Tecnológicas Atividades de desenvolvimento de produto / processo Atividades de desenvolvimento de mercado Atividades de desenvolvimento Atividades de pesquisa Explorando / experimentando Resultados Atividades Esfera Tecnológica Empreendedorismo Tecnológico Esfera do mercado Figura 2.2 – Relacionamento entre os conceitos chave para a inovação tecnológica. Fonte: Burgelman, Christensen & Wheelwright 2004; pag. 3 Teece DJ (2007) conceitua a capacidade dinâmica como sendo o meio pelo qual a organização capacita- se para criar, desdobrar e proteger seus ativos intangíveis que sustentam o desempenho superior de longo prazo dos negócios. A capacidade dinâmica de uma organização pode ser caracterizada pela forma singular como utiliza seu conhecimento, articula seus processos, seus procedimentos, sua estrutura organizacional, suas regras de decisão e seu modelo de disciplina. Tais atributos, sendo de difícil desenvolvimento ou replicação pelos concorrentes e geradoras de uma capacidade diferenciada de perceber, redimensionar e reconfigurar suas capacidades frente a diferentes níveis de desafios; concede à organização uma intensidade em intra- empreendedorismo, competência para adaptar-se a novos ecossistemas de negócios, formatando-a para lidar com a inovação e os desafios da colaboração. TeeceDJ(2007)continua,abordandoquenodesenvolvimento de novas tecnologias a capacidade de perceber (sensing) e
  • 63. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 63 adaptar-se (shaping) às novas oportunidades de negócio são função das atividades de scanning, criação, aprendizado e interpretação dos mercados e das tecnologias disponíveis ou necessárias. Neste contexto o framework das cinco forças torna-se relativamente fraco no contexto do ambiente dinâmico, uma vez que parte do princípio que a estrutura do mercado é um elemento exógeno quando de fato a estrutura do mercado é um elemento endógeno e resultado da inovação e do aprendizado. Sobre a perspectiva do framework gerado pela teoria da capacidade dinâmica o ambiente básico de estudo passa da indústria (Porter) para o ecossistema de negócios (comunidade de organizações, instituições e indivíduos que impactam no empreendimento), seus clientes e fornecedores. O framework da capacidade dinâmica é sustentado nas teorias de Kirznerian, Schumpeteriana e na teoria evolucionária das mudanças econômicas. O modelo das Cinco Forças é sustentado no paradigma de Mason – Bain da economia das indústrias. No modelo de equilíbrio de fatores (recursos) proposto por Porter, a essência da formulação estratégica é copiar com custos adequados para a aquisição dos recursos (assegurar competitividade). Em contrapartida, no enfoque adotado pela capacidade dinâmica, a formulação estratégica passa pela seleção e o desenvolvimento de modelos de negócio e a inserção de tecnologias que construam a vantagem competitiva por meio da montagem e orquestração de ativos (tangíveis e intangíveis) de difícil replicação, traçando dessa forma os novos parâmetros de competição do setor. Para a formulação de estratégias com base no ecossistema de negócio, mesmo quando utilizando-se do framework das cinco forças, torna-se necessário que a organização tenha expertise em avaliação e em interpretação (inferência) de fatos e dados. Isso envolve coletar e filtrar informações sobre tecnologia, mercado e competição; agregar sentido às informações e traçar ações. A figura 2.3 sumariza as características do indivíduo e da organização para a capacidade de “perceber” as oportunidades.
  • 64. 64 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento Processo para P&D Interno Direto e para seleção de novas tecnologias Processo para conectar desenvolvimentos externos (exógenos) em ciência e tecnologia Sistema analítico (e capacidades individuais) para aprender e para perceber, filtrar, modelar e mensurar as oportunidades Processo para identificar segmentos de mercado alvo, novas necessidasdes dos clientes e inovações geradas pelos clientes Processo para conectar fornecedores e organizações complementares em inovação Capacidade dinâmica Figura 2.3 – Elementos do framework de ecossistemas para o sensoriamento (perceber) do mercado e das oportunidades tecnológicas. Fonte: Teece DJ 2007; pag. 08 Uma segunda dimensão do uso da capacidade dinâmica no processo de inovação tecnológica é o adaptar-se (shaping). Essa faceta delineia os elementos que impactam na captura de oportunidades sendo estruturada, conforme a Figura 2.4.
  • 65. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 65 Delineando a solução para o cliente e o modelo de negócio 1. Selecionando a tecnologia e a arquitetura do produto 2. Projetando a arquitetura da receita 3. Selecionando os clientes alvo 4. Projetando os mecanismos de captura de valor Selecionando os contornos do empreendimento para gerenciar e controlar as plataformas 1. Especificidades de calibração dos ativos 2. Controlando gargalos de ativos 3. Avaliando apropriabilidades 4. Reconhecendo e gerenciando sinergias Estrutura, procedimentos, design e incentivos do empreendimento para capturar as oportunidades Construindo lealdade e comprometimento 1. Demostração de liderança 2. Comunicação efetiva 3. Reconhecimento de fatores não econômicos, valores e cultura Selecionando os protocolos de decisão 1. Reconhecendo pontos de inflexão e complementaridades 2. Evitando decisões erradas e tendências a canibalização de produtos Capacidade dinâmica Fig. 2.4 Expertise para decisão estratégica e execução Fonte: Teece DJ 2007; pag. 16 A capacidade de absorção, como parte do aprendizado organizacional e da inovação nas organizações, é discutida por Levinthal DA & Cohen WM (2004). Essa capacidade dinâmica, composta pelas habilidades individuais e organizacionais de reconhecer, assimilar e gerar aplicação comercial a um conhecimento tecnológico é essencial na estruturação de processos exógenos de P&D. Levinthal DA e Cohen WM (2004) descrevem que essa capacidade manifesta-se em diferentes níveis. No nível mais elementar, inclui o compartilhamento da linguagem entre os parceiros, a existência interna de conhecimento ou competências relacionadas aos conceitos básicos, os desenvolvimentos tecnológicos e científicos de um determinado campo. No nível da empresa, a capacidade de absorção é gerada de várias maneiras. Pesquisas demonstram que empresas que conduzem suas próprias pesquisas são mais capazes de utilizar informações disponíveis externamente. Isto implica dizer que
  • 66. 66 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento o desenvolvimento da capacidade de absorção pode ser um subproduto dos investimentos em P&D. Paralelamente, outros estudos associam o aperfeiçoamento da capacidade de absorção como um subproduto das operações de manufatura da empresa. A capacidade de absorção refere-se não somente à aquisição ou absorção de informações, mas também sua capacidade de explorá-las. Nesse sentido, é fundamental que as informações tecnológicas assimiladas transitem desde os parceiros externos, passandopelasáreasdedesenvolvimento,produçãoealcançando os clientes. Para tanto os sistemas de comunicação envolvendo padrões, indivíduos e estruturas são fundamentais para o compartilhamento de linguagens, simbologias e conhecimento. O fomento das capacidades dinâmicas da empresa e a adoção de estratégias competitivas baseadas em recursos VRIO têm uma especial conotação quando inserimos o contexto de risco inerente ao desenvolvimento da inovação tecnológica. Nesse ambiente, o compartilhamento do esforço inovativo com agentes externos de ciência e tecnologia é uma alternativa que pode promover a competitividade das empresas com base na otimização dos custos de P&D e no acesso a novos recursos de mercado. O desenvolvimento tecnológico brasileiro está centrado nas ICT públicas (Brito Cruz 2007). O país investe 1% de seu PIB em P&D sendo 60% deste recurso destinado às instituições públicas de ensino e pesquisa. No mesmo período de análise, o investimento em P&D nos países membros da OCDE foi de 2%. As políticas públicas de fomento à inovação tecnológica sustentaram-se no direcionamento de recursos à P&D por meio da criação de fundos setoriais (15 fundos), subvenção fiscal (Lei do Bem – Lei n.º 11.196, de 21 de novembro de 2005) e na regulamentação das instituições públicas como agentes de desenvolvimento, promoção e licenciamento de novas tecnologias (Lei de Inovação Tecnológica – Lei nº. 10.973, de 2 de dezembro de 2004). Como conseqüência deste esforço de P&D centrado em ICT, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) tornou-se o principal patenteador no Brasil, no período 1999-2003, seguido da Petrobrás.
  • 67. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 67 As instituições públicas de Ciência e Tecnologia (C&T) brasileiras têm como missão básica o desenvolvimento de conhecimento científico e a educação. Cabe às empresas a missão primordial de aplicarem o conhecimento científico sobre a perspectiva do mercado, promovendo um incessante processo de Destruição Criativa (SCHUMPETER, 1984). Sobre a perspectiva da empresa que inova seria desejável que o mercado de recursos (fatores) disponíveis para a implementação de uma estratégia tecnológica competitiva fosse imperfeito, gerando um custo de aquisição do recurso que superasse os ganhos aferidos pela implementação da estratégia (PETERAF e BARNEY, 2003; BARNEY, 1986). Portanto, para que uma tecnologia produzida pela ICT e adquirida pelo empresário seja geradora de vantagem competitiva, ela deve possuir baixa mobilidade no mercado de fatores, ter um know how passível de transferência às empresas e estar atrelada a um baixo custo de interação tecnológica entre os parceiros (convênio de pesquisa exclusivo, licenciamento ou associação em consórcios). Estes três tópicos podem ser descritos, a seguir: • Recursos com baixa mobilidade no mercado de fatores: – O impacto intangível da tecnologia negociada na interação ICT- empresa é função da sua capacidade de explorar uma oportunidade ou neutralizar uma ameaça do ambiente (Valor); do baixo número de detentores (raridade) e da proteção à imitabilidade com base em ambigüidade causal, condições históricas únicas, por complexidade causal gerada na estruturação de redes de pesquisa e patentes (BARNEY e HESTERLY, 2007). Essa última, o principal recurso utilizado no período pós Lei de Inovação. • Know how transferível: – O conteúdo tecnológico a transferir da ICT para a empresa será influenciado pela complexidade e ambigüidade do conhecimento; pela motivação e credibilidade da ICT; pela capacidade de absorção da empresa; pela rigidez dos processos internos e obrigações
  • 68. 68 CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento das organizações (DYER e HATCH 2006). Esse contexto reforçaanecessidadedaempresaorganizar-separaexplorar ao máximo o potencial competitivo dos recursos (VRIO) adquiridos (BARNEY e HESTERLY, 2007) intensificando a troca de capacidades humanas, científicas e administrativas entre os parceiros. Os modelos organizacionais desses parceiros desenvolvidos para a transferência tecnológica impactarão no custo da interação. Com esse fim, destacam- se na ICT as estruturas do NIT e pró-reitoria de pesquisa e na empresa as áreas de P&D&Engenharia e Negócios. • Baixo custo de interação: – Com base na teoria de custos de transação (WILLIANSON, 1991), os custos para a aquisição de bens tecnológicos específicos e sustentados por contratos tendem a ser mais custosos. A complexidade dos contratos de interação tecnológica é influenciada pelos órgãos públicos de financiamento, pelo rigor do direito público (tribunais de conta) e privado (custo de oportunismo), pela maturidade das políticas e tempo de interação entre os parceiros. A partir dessa reflexão sobre competitividade podemos extrairalgumasdiretrizesparaqueamicroeapequenaempresa brasileira possam, por meio da inovação tecnológica, gerar vantagem competitiva e inserir-se nas cadeias produtivas cujos desafios transcendem o conhecimento e a economia vigente. Esses grandes desafios, respaldados no Plano Brasil Maior, focam na modernização da infraestrutura brasileira, no desenvolvimento de novas fontes de energias renováveis, na exploração do pré-sal e o desenvolvimento de uma indústria brasileira de equipamentos e insumos para a cadeia do petróleo, na expansão da produtividade agroindustrial, na consolidação da indústria aeroespacial e militar, na ampliação da qualidade e do acesso à educação, à saúde e à comunicação, na ampliação das indústrias de fármacos e da biotecnologia, na expansão da participação brasileira na industrial global de softwares e no desenvolvimento da indústria de turismo e da criatividade. Destaco:
  • 69. CapítuloI–Inovarparasustentarodesenvolvimento 69 • Capacidadeorganizacionaldeaprender,interpretar,modelar, testar e levar ao mercado novas propostas de negócio que ampliem o desejo de pagar do cliente e diminuam os custos de produção do serviço ou produto comercializado. • Capacidade de extrair informações tecnológicas relevantes dos bancos de patentes (www.inpi.gov.br; www.uspto.gov; www.epo.org; www.kipo.go.kr) para o novo modelo de negócio e convertê-las, com o auxílio de parceiros estratégicos, em projetos de nacionalização do conteúdo publicado (se não patenteado no Brasil) e no desenvolvimento de competências disruptivas (CHRISTENSEN, 2003). • Capacidadedeidentificaremobilizarcompetênciaserecursos juntoàsincubadoras,professoresemuniversidades,institutos com capacidade de escalonamento e prototipagem (Senai, Embrapa etc.), fundos de capital semente e financiadores (FAP, Finep, BNDES etc.), fornecedores e clientes. • Ter uma estratégia de construir recursos VRIO de baixa mobilidade. Para tanto é essencial, no ambiente da inovação tecnológica, o desenvolvimento de estratégias para a proteção da sua propriedade intelectual. Otemadainovaçãotemsidodifundidodeformafragmentada e, muitas vezes, com um grau de complexidade que não espelha a realidade. Como todo empreendedor já aprendeu, a essência está em servir o cliente transcendendo suas expectativas (mas com o valor percebido sendo remunerado), ter processos de produção, comercialização, distribuição sinérgicos e eficientes e adotar estratégias de deixar sempre os concorrentes para trás. Nessa perspectiva, cada negócio terá desafios específicos e diferenciados para inovar. Mas, em comum, a necessidade de desenvolver capacidades adaptativas e de condução de redes de conhecimento que viabilizem o conteúdo tecnológico (VRIO) de seus modelos de negócios.