1) O documento discute alelos letais, que são genes que podem levar à morte do portador antes do nascimento ou da maturidade sexual.
2) É dado o exemplo de uma planta onde o alelo recessivo c leva à morte da planta na fase jovem, pois ela precisa do pigmento verde da fotossíntese.
3) Em humanos, alguns alelos letais causam a morte do feto, enquanto outros se manifestam em doenças na infância ou idade adulta, como a fibrose cística ou
1. Alelos letais: Os genes que matam
As mutações que ocorrem nos seres vivos são totalmente aleatórias e, às vezes, surgem variedades genéticas que
podem levar a morte do portador antes do nascimento ou, caso ele sobreviva, antes de atingir a maturidade sexual.
Esses genes que conduzem à morte do portador, são conhecidos como alelos letais. Por exemplo, em uma espécie de
planta existe o gene C, dominante, responsável pela coloração verde das folhas. O alelo recessivo c, condiciona a
ausência de coloração nas folhas, portanto o homozigoto recessivo cc morre ainda na fase jovem da planta, pois esta
precisa do pigmento verde para produzir energia através da fotossíntese. O heterozigoto é uma planta saudável, mas
não tão eficiente na captação de energia solar, pela coloração verde clara em suas folhas. Assim, se cruzarmos duas
plantas heterozigotas, de folhas verdes claras, resultará na proporção 2:1 fenótipos entre os descendentes, ao invés
da proporção de 3:1 que seria esperada se fosse um caso clássico de monoibridismo (cruzamento entre dois
indivíduos heterozigotos para um único gene). No caso das plantas o homozigoto recessivo morre logo após
germinar, o que conduz a proporção 2:1.
Planta com folhas verde claras
P C c
C CC Cc
Planta com folhas verde Verde escuro Verde clara
claras
c Cc cc
Verde clara Inviável
F1 = Fenótipo: 2/3 Verde clara
1/3 Verde escura
Genótipo: 2/3 Cc
1/3 CC
Esse curioso caso de genes letais foi descoberto em 1904 pelo geneticista francês Cuénot, que estranhava o fato de a
proporção de 3:1 não ser obedecida. Logo, concluiu se tratar de uma caso de gene recessivo que atuava como letal
quando em dose dupla.
No homem, alguns genes letais provocam a morte do feto. É o caso dos genes para acondroplasia, por exemplo.
Trata-se de uma anomalia provocada por gene dominante que, em dose dupla, acarreta a morte do feto, mas em
dose simples ocasiona um tipo de nanismo, entre outras alterações.
Há genes letais no homem, que se manifestam depois do nascimento, alguns na infância e outros na
idade adulta. Na infância, por exemplo, temos os causadores da fibrose cística e dadistrofia muscular de
Duchenne (anomalia que acarreta a degeneração da bainha de mielina nos nervos). Dentre os que se expressam
tardiamente na vida do portador, estão os causadores da doença de Huntington, em que há a deterioração do
tecido nervoso, com perde de células principalmente em uma parte do cérebro, acarretando perda de memória,
movimentos involuntários e desequilíbrio emocional.
Como os genes se manifestam
Vimos que, em alguns casos, os genes se manifestam com fenótipos bem distintos. Por exemplo, os genes
para a cor das sementes em ervilhas manifestam-se com fenótipos bem definidos, sendo encontradas
sementes amarelas ou verdes. A essa manifestação gênica bem determinada chamamos de variação gênica
descontínua, pois não há fenótipos intermediários.
Há herança de características, no entanto, cuja manifestação do gene (também chamada de expressividade)
não determina fenótipos tão definidos, mas sim uma gradação de fenótipos. A essa gradação da
expressividade do gene, variando desde um fenótipo que mostra leve expressão da característica até sua
expressão total, chamamos de norma de reação ou expressividade variável. Por exemplo, os portadores
dos genes para braquidactilia (dedos curto) podem apresentar fenótipos variando de dedos levemente mais
curtos até a total falta deles.
Alguns genes sempre que estão presentes se manifestam, dizemos que são altamente penetrantes. Outros
possuem uma penetrância incompleta, ou seja, apenas uma parcela dos portadores do genótipo apresenta
2. o fenótipo correspondente.
Observe que o conceito de penetrância está relacionado à expressividade do gene em um conjunto de
indivíduos, sendo apresentado em termos percentuais. Assim, por exemplo, podemos falar que a penetrância
para o gene para a doença de Huntington é de 100%, o que quer dizer que 100% dos portadores desse gene
apresentam (expressam) o fenótipo correspondente.
Alelos múltiplos na determinação de um caráter
Como sabemos, genes alelos são os que atuam na determinação de um mesmo caráter e estão presentes nos
mesmo loci (plural de lócus, do latim, local) em cromossomos homólogos. Até agora, só estudamos casos em que só
existiam dois tipos de alelos para uma dada característica (alelos simples), mas há caso em que mais de dois tipos de
alelos estão presentes na determinação de um determinado caráter na população. Esse tipo de herança é conhecido
como alelos múltiplos (ou polialelia).
Apesar de poderem existir mais de dois alelos para a determinação de um determinado caráter, um indivíduo diplóide
apresenta apenas um par de alelos para a determinação dessa característica, isto é, um alelo em cada lócus do
cromossomo que constitui o par homólogo.
São bastante frequentes os casos de alelos múltiplos tanto em animais como em vegetais, mas são clássicos os
exemplos de polialelia na determinação da cor da pelagem em coelhos e na determinação dos grupos sanguíneos do
sistema ABO em humanos.
Um exemplo bem interessante e de fácil compreensão, é a
determinação da pelagem em coelhos, onde podemos observar
a manifestação genética de uma série com quatro genes alelos:
o primeiro C, expressando a cor Aguti ou Selvagem; o
segundo Cch, transmitindo a cor Chinchila; o terceiro Ch,
representando a cor Himalaia; e o quarto alelo Ca, responsável
pela cor Albina.
Sendo a relação de dominância → C > Cch > Ch > Ca
O gene C é dominante sobre todos os outros três,
o Cchdominante em relação ao himalaia e ao albino, porém
recessivo perante o aguti, e assim sucessivamente.
O quadro abaixo representa as combinações entre os alelos e os fenótipos resultantes.
Genótipo Fenótipo
ch h
CC, C C , C C e Selvagem ou
a
CC aguti
ch ch ch h
C C ,C C e
ch a Chinchila
C C
h h a
C C e Ch C Himalaia
a a
CC Albino
A diferença na cor da pelagem do coelho em relação à cor da semente das ervilhas é que agora temos mais genes
diferentes atuando (4), em relação aos dois genes clássicos. No entanto, é fundamental saber a 1ª lei de Mendel
continua sendo obedecida, isto é, para a determinação da cor da pelagem, o coelho terá dois dos quatro genes. A
novidade é que o número de genótipos e fenótipos é maior quando comparado, por exemplo, com a cor da semente
de ervilha.
O surgimento dos alelos múltiplos (polialelia) deve-se a uma das propriedades do material genético, que é a de sofrer
mutações. Assim, acredita-se que a partir do gene C (aguti), por um erro acidental na duplicação do DNA, originou-
se o gene Cch (chinchila). A existência de alelos múltiplos é interessante para a espécie, pois haverá maior
variabilidade genética, possibilitando mais oportunidade para adaptação ao ambiente (seleção natural).
3. Sistema ABO de grupos sanguíneos
A herança dos tipos sanguíneos do sistema ABO constitui um exemplo de alelos múltiplos na espécie humana.
A descoberta dos grupos sanguíneos
Por volta de 1900, o médico austríaco Karl Landsteiner
(1868 – 1943) verificou que, quando amostras de sangue
de determinadas pessoas eram misturadas, as hemácias se
juntavam, formando aglomerados semelhantes a coágulos.
Landsteiner concluiu que determinadas pessoas têm
sangues incompatíveis, e, de fato, as pesquisas posteriores
revelaram a existência de diversos tipos sanguíneos, nos
diferentes indivíduos da população.
Quando, em uma transfusão, uma pessoa recebe um tipo de
sangue incompatível com o seu, as hemácias transferidas
vão se aglutinando assim que penetram na circulação,
formando aglomerados compactos que podem obstruir os
capilares, prejudicando a circulação do sangue.
Aglutinogênios e aglutininas
No sistema ABO existem quatro tipos de
sangues: A, B, ABe O. Esses tipos são caracterizados pela
presença ou não de certas substâncias na membrana das
hemácias, os aglutinogênios, e pela presença ou ausência
de outras substâncias, as aglutininas, no plasma sanguíneo.
Existem dois tipos de aglutinogênio, A e B, e dois tipos de
aglutinina, anti-A e anti-B. Pessoas do grupo A possuem
aglutinogênio A, nas hemácias e aglutinina anti-B no
Determinação dos grupos
plasma; as do grupo B têm aglutinogênio B nas hemácias e
sanguíneos utilizando soros anti-A e
aglutinina anti-A no plasma; pessoas do grupo AB têm
anti-B. Amostra 1- sangue tipo A.
aglutinogênios A e B nas hemácias e nenhuma aglutinina no
Amostra 2 - sangue tipo B. Amostra
plasma; e pessoas do gripo O não tem aglutinogênios na
3 - sangue tipo AB. Amostra 4 -
hemácias, mas possuem as duas aglutininas, anti-A e anti-
sangue tipo O.
B, no plasma.
Veja na tabela abaixo a compatibilidade entre os diversos tipos de sangue:
ABO Substâncias % Pode receber de
Tipos Aglutinogênio Aglutinina Frequência A+ B+ A+ 0+ A- B- AB- O-
AB+ AeB Não Contém 3% X X X X X X X X
A+ A Anti-B 34% X X X X
B+ B Anti-A 9% X X X X
O+ Não Contém Anti-A e Anti-B 38% X X
AB- Ae B Não Contém 1% X X X X
A- A Anti-B 6% X X
B- B Anti-A 2% X X
O- Não Contém Anti-A e Anti-B 7% X
Tipos possíveis de transfusão
As aglutinações que caracterizam as incompatibilidades sanguíneas do sistema acontecem quando uma pessoa
possuidora de determinada aglutinina recebe sangue com o aglutinogênio correspondente.
4. Indivíduos do grupo A não podem doar sangue para
indivíduos do grupo B, porque as hemácias A, ao entrarem na
corrente sanguínea do receptor B, são imediatamente
aglutinadas pelo anti-A nele presente. A recíproca é
verdadeira: indivíduos do grupo B não podem doar sangue
para indivíduos do grupo A. Tampouco indivíduos A, B ou AB
podem doar sangue para indivíduos O, uma vez que estes
têm aglutininas anti-A e anti-B, que aglutinam as hemácias
portadoras de aglutinogênios A e B ou de ambos.
Assim, o aspecto realmente importante da transfusão é o tipo
de aglutinogênio da hemácia do doador e o tipo de aglutinina
do plasma do receptor. Indivíduos do tipo O podem doar
sangue para qualquer pessoa, porque não possuem
aglutinogênios A e B em suas hemácias. Indivíduos, AB, por
outro lado, podem receber qualquer tipo de sangue, porque
não possuem aglutininas no plasma. Por isso, indivíduos do
grupo O são chamadas de doadores universais, enquanto os
do tipo AB são receptores universais.
Como ocorre a Herança dos Grupos Sanguíneos no Sistema ABO?
A produção de aglutinogênios A e B são determinadas, respectivamente, pelos genes I A e I B. Um terceiro gene,
chamado i, condiciona a não produção de aglutinogênios. Trata-se, portanto de um caso de alelos múltiplos. Entre os
genes I A e I B há co-dominância (I A = I B), mas cada um deles domina o gene i (I A > i e I B> i).
Fenótipos Genótipos
A I AI A
ou I Ai
B I BI B
ou I Bi
A B
AB I I
O ii
A partir desses conhecimentos fica claro que se uma pessoa do tipo sanguíneo A recebe sangue tipo B as hemácias
contidas no sangue doado seriam aglutinadas pelas aglutininas anti-B do receptor e vice-versa.
O sistema MN de grupos sanguíneos
Dois outros antígenos forma encontrados na superfície das hemácias humanas, sendo denominados M eN. Analisando
o sangue de diversas pessoas, verificou-se que em algumas existia apenas o antígeno M,em outras, somente o N e
várias pessoas possuíam os dois antígenos. Foi possível concluir então, que existiam três grupos nesse
sistema: M, N e MN.
Os genes que condicionam a produção desses antígenos são
Genótipos Fenótipos apenas dois: L M e L N (a letra L é a inicial do descobridor,
M L ML M Landsteiner). Trata-se de uma caso de herança medeliana
simples. O genótipo L ML M, condiciona a produção do antígeno M,
N L NL N
e L NL N, a do antígeno N. Entre L M e L N há co-dominância, de
MN L ML N modo que pessoas com genótipo L ML N produzem os dois tipos de
antígenos.
Transfusões no Sistema MN
A produção de anticorpos anti-M ou anti-N ocorre somente após sensibilização (você verá isso no sistema RH).
Assim, não haverá reação de incompatibilidade se uma pessoa que pertence ao grupo M, por exemplo, receber o
sangue tipo N, a não ser que ela esteja sensibilizada por transfusões anteriores.
O sistema RH de grupos sanguíneos
5. Um terceiro sistema de grupos sanguíneos foi descoberto a partir dos experimentos desenvolvidos por Landsteiner e
Wiener, em 1940, com sangue de macaco do gênero Rhesus. Esses pesquisadores verificaram que ao se injetar o
sangue desse macaco em cobaias, havia produção de anticorpos para combater as hemácias introduzidas. Ao
centrifugar o sangue das cobaias obteve-se o soro que continha anticorpos anti-Rh e que poderia aglutinar as
hemácias do macaco Rhesus. As conclusões daí obtidas levariam a descoberta de um antígeno de membrana que foi
denominado Rh (Rhesus), que existia nesta espécie e não em outras como as de cobaia e, portanto, estimulavam a
produção anticorpos, denominados anti-Rh.
Há neste momento uma inferência evolutiva: se as proteínas que existem nas hemácias de vários animais podem se
assemelhar isto pode ser um indício de evolução. Na espécie humana, por exemplo, temos vários tipos de sistemas
sanguíneos e que podem ser observados em outras espécies principalmente de macacos superiores.
Analisando o sangue de muitos indivíduos da espécie humana, Landsteiner verificou que, ao misturar gotas de
sangue dos indivíduos com o soro contendo anti-Rh, cerca de 85% dos indivíduos apresentavam aglutinação (e
pertenciam a raça branca) e 15% não apresentavam. Definiu-se, assim, "o grupo sanguíneo Rh +” ( apresentavam
o antígeno Rh), e "o grupo Rh -“ ( não apresentavam o antígeno Rh).
No plasma não ocorre naturalmente o anticorpo anti-Rh, de modo semelhante ao que acontece no sistema Mn. O
anticorpo, no entanto, pode ser formado se uma pessoa do grupo Rh -, recebe sangue de uma pessoa do grupo Rh +.
Esse problema nas transfusões de sangue não são tão graves, a não ser que as transfusões ocorram repetidas vezes,
como também é o caso do sistema MN.
A Herança do Sistema Rh
Três pares de genes estão envolvidos na herança do fator Rh, tratando-se portanto, de casos de alelos múltiplos.
Para simplificar, no entanto, considera-se o envolvimento de
Genótipos Fenótipos
apenas um desses pares na produção do fator Rh, motivo pelo qual
passa a ser considerado um caso de herança mendeliana simples. Rh + RR ou Rr
O gene R, dominante, determina a presença do fator Rh, enquanto -
Rh rr
o gene r, recessivo, condiciona a ausência do referido fator.
Doença hemolítica do recém-nascido ou eritroblastose fetal
Uma doença provocada pelo fator Rh é a eritroblastose fetal ou doença hemolítica do recém-nascido, caracterizada
pela destruição das hemácias do feto ou do recém-nascido. As conseqüências desta doença são graves, podendo
levar a criança à morte.
Durante a gestação ocorre passagem, através da placenta, apenas de plasma da mãe para o filho e vice-versa
devido à chamada barreira hemato-placentária. Pode ocorrer, entretanto, acidentes vasculares na placenta, o que
permite a passagem de hemácias do feto para a circulação materna. Nos casos em que o feto possui sangue fator rh
positivo os antígenos existentes em suas hemácias estimularão o sistema imune materno a produzir anticorpos anti-
Rh que ficarão no plasma materno e podem, por serem da classe IgG, passar pela BHP provocando lise nas hemácias
fetais. A produção de anticorpos obedece a uma cascata de eventos (ver imunidade humoral) e por isto a produção
de anticorpos é lenta e a quantidade pequena num primeiro. A partir da segunda gestação, ou após a sensibilização
por transfusão sanguínea, se o filho é Rh + novamente, o organismo materno já conterá anticorpos para aquele
antígeno e o feto poderá desenvolver a DHPN ou eritroblastose fetal.
O diagnóstico pode ser feito pela tipagem sanguínea da mãe e do pai precocemente e durante a gestação o teste de
Coombs que utiliza anti-anticorpo humano pode detectar se esta havendo a produção de anticorpos pela mãe e
providências podem ser tomadas. Uma transfusão , recebendo sangue Rh -, pode ser feita até mesmo intra-útero já
que Goiânia está se tornando referência em fertilização in vitro. O sangue Rh - não possui hemácias com fator Rh e
não podem ser reconhecidas como estranhas e destruídas pelos anticorpos recebidos da mãe. Após cerca de 120
dias, as hemácias serão substituídas por outras produzidas pelo próprio indivíduo. O sangue novamente será do tipo
Rh +, mas o feto já não correrá mais perigo
6. Após o nascimento da criança toma-se medida profilática injetando, na mãe Rh- , soro contendo anti Rh. A aplicação
logo após o parto, destrói as hemácias fetais que possam ter passado pela placenta no nascimento ou antes. Evita-se
, assim, a produção de anticorpos “zerando o placar de contagem”. Cada vez que um concepto nascer e for Rh+
deve-se fazer nova aplicação pois novos anticorpos serão formados.
Os sintomas no RN que podem ser observados são anemia (devida à destruição de hemácias pelos
anticorpos), icterícia (a destruição de hemácias aumentada levará a produção maior de bilirrubina indireta que não
pode ser convertida no fígado), e após sua persistência o aparecimento de uma doença chamada Kernicterus que
corresponde ao depósito de bilirrubina nos núcleos da base cerebrais o que gerará retardo no RN.