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INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA
RESPIRATORY FAILURE
Adriana Inacio de Pádua1
; FláviaAlvares1
& JoséAntônio Baddini Martinez2
¹Médica Assistente.2
Docente. Divisão de Pneumologia. Departamento de Clínica Médica. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP.
CORRESPONDÊNCIA: José Antônio Baddini Martinez. Departamento de Clínica Médica. Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.
Avenida Bandeirantes 3900, CEP 14048-900, Ribeirão Preto - SP, Brasil.Telefone: 16-6022531; Fax: 16-6336695; email: jabmarti@fmrp.usp.br
PÁDUA AI; ALVARES F & MARTINEZ JAB. Insuficiência respiratória. Medicina, Ribeirão Preto,
36: 205-213, abr./dez. 2003.
RESUMO - O conceito de insuficiência respiratória (IR) compreende a dificuldade encontrada
pelo Sistema Respiratório em desempenhar adequadamente sua principal função, ou seja, a
promoção das trocas gasosas. Por ser decorrente de várias condições, pode apresentar-se,
clinicamente, de forma muito variada. Seu diagnóstico depende da análise dos níveis de oxigê-
nio e gás carbônico através da gasometria arterial. O presente artigo fornece uma visão geral da
fisiologia das trocas gasosas e suas alterações, conceitos fundamentais para a compreensão
da classificação e mecanismos envolvidos nos diferentes tipos de insuficiência respiratória. São
ainda enfatizados aspectos gerais, relacionados com a terapêutica, na forma de noções sobre
oxigenioterapia e indicações de suporte ventilatório.
UNITERMOS - Insuficiência Respiratória. Troca Gasosa Pulmonar. Respiração Artificial.
205
Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS RESPIRATÓRIAS
36: 205-213, abr./dez. 2003 Capítulo I
1- DEFINIÇÃO
A insuficiência respiratória (IR) pode ser defi-
nida como a condição clínica na qual o sistema respi-
ratório não consegue manter os valores da pressão
arterial de oxigênio (PaO2
) e/ou da pressão arterial de
gás carbônico (PaCO2
) dentro dos limites da normali-
dade, para determinada demanda metabólica. Como
a definição de IR está relacionada à incapacidade do
sistema respiratório em manter níveis adequados de
oxigenação e gás carbônico, foram estabelecidos, para
sua caracterização, pontos de corte na gasometria
arterial, como se segue:
• PaO2
< 60 mmHg
• PaCO2 > 50 mmHg
A IR pode ser classificada quanto à velocidade
de instalação, em aguda e crônica. Na IR aguda, a
rápida deterioração da função respiratória leva ao
surgimento de manifestações clínicas mais intensas, e
as alterações gasométricas do equilíbrio ácido-base,
alcalose ou acidose respiratória, são comuns. Quando
as alterações das trocas gasosas se instalam de ma-
neira progressiva ao longo de meses ou anos, estare-
mos diante de casos de IR crônica. Nessas situações,
as manifestações clínicas podem ser mais sutis e as
alterações gasométricas do equilíbrio ácido-base, au-
sentes. Exemplos de tal condição são a doença pul-
monar, obstrutiva, crônica (DPOC), avançada. Vale
salientar que quadros de IR aguda podem instalar-se
tanto em indivíduos previamente sadios como, tam-
bém, sobrepor-se à IR crônica, em pacientes com pro-
cessos de longa data. Nessa última situação, o uso do
termo IR crônica, agudizada é aceitável.
2- TROCAS GASOSAS
Uma vez que o conceito de IR baseia-se no
comportamento das trocas gasosas, é essencial o co-
206
Pádua AI; Alvares F & Martinez JAB
nhecimento de sua fisiologia. Embora as trocas gaso-
sas sejam um processo contínuo, podem ser divididas,
para fins didáticos, em quatro fases.
Ventilação
Processo cíclico, responsável pela renovação
do gás alveolar. Resulta da ação integrada entre o
centro respiratório, localizado no sistema nervoso, cen-
tral (SNC), vias nervosas, caixa torácica (estrutura
osteomuscular) e os pulmões. A ventilação alveolar é
dada pela seguinte fórmula:
VA = (VT – VD)f
Onde:
VA = ventilação alveolar.
VT= volume corrente.
VD= volume do espaço morto, anatômico.
f=freqüência respiratória.
Alterações da ventilação podem ocorrer de for-
ma localizada ou global, levando a prejuízo da lava-
gem do gás carbônico e ao aporte de oxigênio. Tais
distúrbios podem se instalar devido a:
• Alterações regionais ou difusas da elasticidade pul-
monar, como ocorre no enfisema.
• Obstruções regionais ou difusas, inclusive aquelas
que envolvem as pequenas vias aéreas, como ocor-
re na DPOC e na asma.
• Modificações do espaço morto anatômico e/ou do
espaço morto do compartimento alveolar, que pode
ser observado, por exemplo, na DPOC.
• Modificações da expansibilidade pulmonar, secun-
dárias à presença de exsudatos, tumores ou fibrose
nas paredes alveolares ou interstício pulmonar.
• Hipoventilação por comprometimento do sistema
nervoso, músculos efetores ou deformidades da
caixa torácica.
Perfusão
A circulação pulmonar é munida de um vasto
leito vascular, no qual os pequenos vasos e os capila-
res são os responsáveis pela principal atividade funci-
onal. Tem características de um sistema hidráulico de
baixa pressão, complacente e de baixa resistência, que
podem ser modificadas por fatores intrínsecos (pres-
são, volume, fluxo) e extrínsecos (inervação autonô-
mica, controle humoral) e pelos gases respiratórios.
A perfusão pulmonar pode ser alterada por di-
ferentes desarranjos, como os indicadores:
• Obstruçãointraluminal:doençastromboembólicas,vas-
culites,acometimento vascular por colagenoses, etc.
• Redução do leito vascular: enfisema, ressecção do
parênquima pulmonar, etc.
• Colabamento vascular por hipotenção e choque;
compressão vascular por lesões tumorais ou aumen-
to da pressão alveolar, como no caso do uso de ven-
tiladores com pressão positiva.
Relação ventilação/perfusão (V/Q)
Os valores finais da PaO2
e PaCO2
resultam de
interações entre a taxa de ventilação alveolar e o res-
pectivo fluxo sangüíneo. Mesmo em indivíduos nor-
mais, a relação V/Q não é uniforme em todo o pul-
mão, sendo maior nos ápices.As situações polares dos
distúrbios V/Q são representadas por alvéolos ventila-
dos, mas não perfundidos (espaço morto) e pela situ-
ação oposta, alvéolos não ventilados mas perfundidos
adequadamente (shunt). Entre esses pontos de alte-
rações extremas, encontramos situações em que ocor-
rem alvéolos bem ventilados, mas pouco perfundidos
(efeito espaço morto) ou então alvéolos com ventilação
reduzida e perfusão sangüínea mantida (efeito shunt).
De um ponto de vista, prático, alterações da
relação V/Q são as causas mais comuns de distúrbios
das trocas gasosas. Quadros graves de hipoxemia ar-
terial, como aqueles observados em pneumonias ex-
tensas ou na SARA, são conseqüência da presença
de áreas de shunts e efeito shunt no nível do parên-
quima pulmonar.
Difusão
A capacidade de difusão pulmonar pode ser
definida como a quantidade de gás transferida por
minuto, através da membrana alveolocapilar, para cada
milímetro de mercúrio de diferença entre as pressões
parciais deste gás no espaço alveolar e no sangue. O
fluxo de oxigênio é dirigido pela maior pressão no ní-
vel alveolar em relação ao sangue capilar. Diferentes
fatores podem influenciar a capacidade de difusão
pulmonar, alterando, assim, os valores dos gases san-
güíneos. Entre eles, vale a pena citar: espessura da
membrana alveolocapilar e distância de difusão; ex-
tensão da superfície da membrana de difusão; solubi-
lidadedosgases;propriedadesdedifusibilidadedomeio
e alterações dos gradientes de pressão dos gases. Um
exemplo de alteração da espessura e da composição
da membrana alveoloarterial é a doença intersticial,
pulmonar, que freqüentemente culmina com a institui-
ção de fibrose intersticial. Exemplo clássico de redu-
ção da superfície da membrana alveoloarterial é o
enfisema. De modo geral, alterações da difusão pul-
207
Insuficiência respiratória
monar só levam a distúrbios das trocas gasosas em
situações de sobrecarga respiratória, como durante a
realização de exercícios.
Gradiente alveoloarterial
O grau da eficácia global das trocas gasosas
pode ser avaliado à beira do leito por uma série de
cálculos matemáticos, simples, entre eles a determi-
nação da diferença entre a pressão de oxigênio do
alvéolo (PAO2) e a pressão de oxigênio arterial (PaO2).
Abreviado como P(A-a)O2
, o gradiente alveoloarterial
de oxigênio é, normalmente, pequeno, entre 5 e 10
mmHg, alargando-se na presença de IR. Além disso,
ele inclui, em seu cálculo, os valores da PaCO2
, não
sendo, assim, influenciado pela presença de hipoven-
tilação. Dessa forma, o cálculo da P(A-a)O2 é um
método mais preciso para a caracterização da pre-
sença de IR. Além disso, a diferenciação entre a pre-
sença de alterações da relação V/Q ou shunt pode
ser feita pela administração de oxigênio a 100% ao
paciente. Uma boa resposta ao oxigênio indica des-
proporção V/Q como causa da hipoxemia, enquanto
que, na presença de shunt verdadeiro, a hipoxemia se
mantém. Vale notar que são disponíveis equações para
o cálculo do shunt real. O gradiente alveoloarterial,
por sua vez, é calculado pela seguinte equação:
P(A-a)O2
= [FiO2
(PB
-47) – (PaCO2
/R) – PaO2
]
Onde:
FiO2 = fração inspirada de oxigênio.
PB = pressão barométrica local.
47 = pressão de vapor de água nas
vias aéreas.
R = quociente respiratório, habitual-
mente estimado em 0,8; quando
respirando FiO2
superiores a 0,6,
a correção pelo R pode ser eli-
minada.
PaCO2 e PaCO2 = gases arteriais.
3- CLASSIFICAÇÃO
A IR, classicamente, é classificada em tipo I
(hipoxêmica) e tipo II (hipercápnica). Uma lista de
causas selecionadas de IR está contida na Tabela I.
Na IR tipo I, também chamada de alveolocapilar,
os distúrbios fisiopatológicos levam à instalação de hi-
poxemia, mas a ventilação está mantida. Caracteriza-
se, portanto, pela presença de quedas da PaO2
com
valores normais ou reduzidos da PaCO2
. Nesses ca-
.airótaripseRaicnêicifusnIedsasuaC-IalebaT
IopiTodairótaripseRaicnêicifusnI
• ARAS
• sainomuenP
• saisatceletA
• ranomluPamedE
• ranomluPailobmE
• otnemagofaesauQ
• oãçabrecaxemeCOPD
• evargamsA
• xarótomuenP
IIopiTodairótaripseRaicnêicifusnI
CNSodseõçaretlA-1
• ,aigarromeh,otrafni,aisalpoen(siaruturtseseõseL
.)oãçcefni
• .sarosserpedsagorD
• .omsidioeritopiH
• .acilóbatemesolaclA
• .lartneconosodaiénpA
• ;aisalpoen;,raludemiuqaramuart:aludemadsaçneoD
-nialiuG;asrevsnartetileim;aigarromeh;otrafni;oãçcefni
.cte;acifórtoima,laretalesorelcse;érraB
saciréfirep,seralucsumoruenseõçaretlA-2
• ,onatét:sanixotoruenropsadasuacsaçneoD
.airetfid,omsilutob
• ainetsaiM .sivarg
• .trebmaLnotaE:sacisálpoenarapsemordníS
• -engamopih,aimetafsofopih:socitílortelesoibrútsiD
.aimeclacopih,aimelacopih,aimes
• seralucsumsaifortsiD
• .setisoimoiloP
• .omsidioeritopiH
• .asoiccefnietisoiM
aruelpeacicárotederapadoãçnufsiD-3
• .esoilocseofiC
• .etnasoliuqnAetilidnopsE
• .edadisebO
• .levátsnixaróT
• .xarótorbiF
• .aitsalpocaroT
seroirepus,saeréasaivsadoãçurtsbO-4
• .etitolgipE
• .egniraledamedE
• .ohnartseoprocedoãçaripsA
• .etnemlaretalib,siacovsadrocedaisilaraP
• .aicálamoeuqart,aiéuqartedesonetsE
• .seroirepus,saeréasaivsanseromuT
• .aviturtsbo,onosodaiénpA
208
Pádua AI; Alvares F & Martinez JAB
sos observa-se elevação do gradiente alveoloarterial
de oxigênio devido a distúrbios da relação V/Q. Com-
preende doenças que afetam, primariamente, vasos,
alvéolos e interstício pulmonar. Exemplo dessas con-
dições seriam casos de pneumonias extensas ou da
síndrome da insuficiência respiratória aguda (SARA).
Nos casos de IR tipo II, ocorre elevação dos
níveis de gás carbônico por falência ventilatória. Além
disso, também é comum hipoxemia em pacientes, res-
pirando ar ambiente. Esse tipo de IR também é cha-
mado de insuficiência ventilatória. Pode estar presen-
te em pacientes com pulmão normal como, por exem-
plo, na presença de depressão do SNC e nas doenças
neuro-musculares. Entretanto, freqüentemente, sobre-
põe-se a casos de IR tipo I, quando a sobrecarga do
trabalho respiratório precipita a fadiga dos músculos
respiratórios.
O cálculo do gradiente alveoloarterial de oxigê-
nio permite diferenciar os tipos de IR. Hipoxemia com
gradiente aumentado indica defeito nas trocas alveo-
locapilares e aponta para IR tipo I. Hipoxemia com
gradiente normal é compatível com hipoventilação al-
veolar (IR tipo II).
4- QUADRO CLÍNICO
Uma vez que as causas e os mecanismos en-
volvidos com a sua gênese são diversos, a apresenta-
ção clínica de casos com IR pode ser muito variada.
Entretanto, alguns sintomas e sinais são bastante co-
muns, independente da etiologia, e relacionam-se, prin-
cipalmente, com as alterações observadas dos gases
sangüíneos.
Pacientes com IR, habitualmente, queixam-se
de dispnéia e demonstram elevações das freqüências
respiratória e cardíaca. Cianose está igualmente pre-
sente, quando as concentrações sangüíneas da hemo-
globina reduzida excederem 5 g/dl. A medida que a
hipoxemia acentua-se, manifestações neurológicas, tais
como diminuição da função cognitiva, deterioração da
capacidade de julgamento, agressividade, incoordena-
ção motora e mesmo coma e morte, podem surgir.
Manifestações semelhantes podem ser causadas por
elevações agudas do gás carbônico. Nos casos em
que há hipoxemia crônica, os pacientes podem apre-
sentar sonolência, falta de concentração, apatia, fadi-
ga e tempo de reação retardado. A hipercapnia crôni-
ca pode desencadear sintomas semelhantes aos da
hipoxemia crônica, além de cefaléia, particularmente
matinal, distúrbios do sono, irritabilidade, insatisfação,
sonolência, coma e morte.
As manifestações cardiovasculares da hipoxe-
mia e elevação do gás carbônico incluem elevações
iniciais da freqüência cardíaca, do débito cardíaco e
vasodilatação arterial difusa, seguidos por depressão
miocárdica, bradicardia, choque circulatório, arritmias
e parada cardíaca.
5- DIAGNÓSTICO
O diagnóstico e a investigação da causa da IR
baseia-se numa história clínica informativa, exame fí-
sico, detalhado e exames complementares, adequados.
A história clínica, obtida do paciente ou acom-
panhantes, deverá obrigatoriamente pesquisar, além
da queixa ou queixas atuais do doente, a ocorrência
de sintomas semelhantes previamente, a presença
de doenças de base, antecedentes pessoais, e o uso,
atual ou anterior, de medicações com atuação no apa-
relho respiratório e SNC.
O exame físico do tórax deve ser detalhado,
envolvendo, além de percussão e ausculta, ocorrência
de cornagem, análise do padrão respiratório, presen-
ça de enfisema subcutâneo, tiragem, uso de músculos
acessórios da respiração e presença de movimento
paradoxal, do abdômen. A presença na inspiração de
assincronia toracoabdominal, com expansão do tórax
e retração simultânea das porções superiores da pa-
rede abdominal, significa fadiga diafragmática e risco
de apnéia eminente, sendo indicação para instalação
de ventilação mecânica.
A confirmação da presença de IR só é feita
pela análise dos gases sangüíneos. Uma indicação rápi-
da das condições das trocas gasosas é dada pela oxi-
metria de pulso. Uma SaO2
inferior a 90% é fortemente
indicativa do diagnóstico. Entretanto, inúmeros fato-
res podem influenciar a leitura desses equipamentos,
gerando leituras errôneas, entre elas, a presença de
choque circulatório, má perfusão tecidual, cor da pele,
etc. Além disso, a oximetria de pulso não fornece medi-
das relativas aos níveis de gás carbônico. Dessa forma,
a colheita de uma gasometria arterial é obrigatória.
De modo geral, considera-se uma troca gasosa
inadequada, quando a PaO2
é menor que 60mmHg,
ou, ainda, quando a PaCO2
ultrapassa 45mmHg. Po-
rém, cuidados devem ser tomados na interpretação
da gasometria arterial:
• Os valores que definem IR são válidos para indiví-
duos respirando ar ambiente no nível do mar. Mo-
radores onde há grandes altitudes apresentam ní-
veis menores de oxigenação sangüínea, porém sem
sintomas.
209
Insuficiência respiratória
• Valores confiáveis de gases arteriais só são obtidos
com gasometrias colhidas, pelo menos, vinte minu-
tos após a mudança da FiO2
, administração de me-
dicações inalatórias ou procedimentos fisioterápi-
cos. A amostra sangüínea deve ser prontamente
analisada após sua colheita e transportada ao labo-
ratório, em gelo. Os resultados de gasometria ana-
lisada uma hora após a colheita, ainda que mantida
a baixas temperaturas, não espelham as reais con-
dições do paciente.
• É fundamental saber com que fração inspirada de
oxigênio foi colhida a gasometria. Uma PaO2
nor-
mal, mantida às custas de suplementação com altos
fluxos de oxigênio é naturalmente insatisfatória.
Dessa forma, IR pode ser igualmente caracteriza-
da na presença de uma relação PaO2
/FiO2
inferior
a 300, onde FiO2
corresponde à fração inspirada de
oxigênio, em números absolutos (por exemplo, ar
ambiente = 0,21).
• Os níveis de oxigenação devem ser interpretados
em função da idade. Indivíduos idosos fisiologica-
mente são mais hipoxêmicos do que jovens. Uma
estimativa da PaO2 prevista para a idade, pode ser
obtida pela equação:
PaO2
= [ 96,2 - (0,4 X idade em anos) ]
Do mesmo modo, a P(A-a)O2 média, prevista
para a idade pode ser estimada pela fórmula:
P(A-a)O2
= [(idade em anos/4) + 4]
• O parâmetro gasométrico que melhor se correla-
ciona com a ventilação alveolar é a PaCO2
, a qual
é medida diretamente pela gasometria arterial ou
estimada pela capnografia.
• Pacientes portadores de pneumopatias crônicas, tais
como DPOC, podem apresentar, cronicamente, ní-
veis acentuados de hipoxemia e hipercapnia, em
condições basais. Nesses indivíduos, a caracteriza-
ção gasométrica de uma descompensação aguda
pode ser feita, comparando-se os valores dos gases
de momento com exames colhidos em momentos
de estabilidade clínica. Além disso, deve-se obser-
var atentamente o pH arterial. A presença de alca-
lose respiratória pode indicar hiperventilação por
acentuação da hipoxemia, enquanto a acidose res-
piratória indica retenção aguda de gás carbônico.
• Pacientes com quadros de crises asmáticas, graves
podem mostrar elevações transitórias dos níveis da
PaCO2
devido a broncoespasmo muito intenso e
alterações da relação V/Q. Tais pacientes devem
ser tratados agressivamente e monitorados de per-
to, tanto clínica como laboratorialmente, devido à
possibilidade de a retenção do gás carbônico agra-
var-se por instalação de fadiga muscular, respirató-
ria.
• Pacientes com quadros neuromusculares podem
apresentar hipoxemia e elevações acentuadas do
gás carbônico com pH arterial, normal. Isso ocorre,
quando o ritmo de instalação da IR for muito lento.
Nessas condições, a indicação de suporte respira-
tório deve basear-se, também, em outros critérios,
tais como presença de sintomas clínicos e altera-
ções espirométricas (capacidade vital, forçada, ge-
ralmente abaixo de 40%).
Em casos de IR, é obrigatória a realização de
radiografias de tórax em projeções postero-anterior e
perfil, visando detectar a presença de alterações pul-
monares. Exames adicionais, tais como fibrobroncos-
copias, eletrocardiograma, ecocardiograma, tomogra-
fia de tórax e culturas, poderão ser pedidos em fun-
ção das suspeitas e do rumo da investigação clínica.
6- TRATAMENTO
O tratamento da IR deve ser individualizado, em
função das causas desencadeantes e dos mecanismos
fisiopatológicos, envolvidos. Broncodilatadores,
corticosteróides, diuréticos, antibióticos e procedimen-
tos cirúrgicos poderão ser de maior ou menor valia,
em função das condições de base. Apesar disso, al-
guns princípios gerais se aplicam à maioria dos casos.
Manutenção das vias aéreas
A manutenção de vias aéreas pérvias e a profi-
laxia de complicações, em especial aspiração, são de
fundamental importância em pacientes com IR, parti-
cularmente naqueles com distúrbios da consciência.
Nesse caso, o paciente deve ser colocado em decúbito
lateral com a cabeça abaixada e a mandíbula puxada
para frente, visando evitar a obstrução pela língua.
Com essa manobra, não raro, faz-se o diagnóstico de
obstrução alta por vômito ou corpo estranho e pode
providenciar-se a desobstrução.
O uso de cânula orofaríngea (chupeta) é ade-
quado, quando se espera o rápido retorno da consci-
ência, como, por exemplo, na recuperação anestésica.
Caso se espere uma inconsciência mais prolongada
ou ventilação mecânica seja necessária, a entubação
endotraqueal está indicada. Em casos de obstrução
210
Pádua AI; Alvares F & Martinez JAB
alta acima das cordas vocais, a realização de cricoti-
reoidotomia ou traqueostomia poderá ser necessária.
Pacientes com entubação traqueal ou traque-
ostomia, particularmente quando sedados ou em coma,
devem ter suas vias aéreas periodicamente aspiradas,
para evitar obstruções. Frente a dificuldades de cicla-
gem de um respirador mecânico, caracterizadas por
freqüência respiratória, elevada, volume corrente bai-
xo e/ou picos de pressão inspiratória, excessivos, deve-
se pensar na possibilidade de obstrução da luz do tubo
por rolha de catarro.
Oxigenoterapia
A administração de oxigênio estará indicada nos
casos de IR aguda, quando a PaO2
for inferior a 60
mmHg ou a SaO2
inferior a 90%. Nos casos de IR
crônica, onde a tolerância à hipoxemia é maior, pode-
se utilizar uma PaO2
limiarde 55 mmHg. Nessas con-
dições, a oxigenoterapia sempre deverá ser introduzida,
particularmente, nos casos de IR tipo I.
Os objetivos clínicos, específicos da oxigenio-
terapia são:
1- corrigir a hipoxemia aguda, suspeita ou compro-
vada;
2- reduzir os sintomas associados à hipoxemia crô-
nica;
3- reduzir a carga de trabalho que a hipoxemia impõe
ao sistema cardiopulmonar.
Existe uma grande variedade de dispositivos
fornecedores de oxigênio, capazes de liberar uma ampla
gama de valores de FiO2. Alguns sistemas são dese-
nhados para fornecer uma FiO2 fixa, enquanto outros
fornecem valores variáveis, não apenas em função da
regulação do fluxo de gás, como, também, do padrão
respiratório apresentado pelos pacientes. A adminis-
tração de oxigênio pode dar-se por três grandes gru-
pos de sistemas: os de baixo fluxo, os sistemas com
reservatório e os de alto fluxo. Exemplos de dispositi-
vos de baixo fluxo são as cânulas e os cateteres na-
sais. Exemplos de sistemas com reservatório são as
máscaras simples e as máscaras com bolsas. Exem-
plos de sistemas de alto fluxo são as máscaras de
Venturi, os nebulizadores e os assim chamados “tubos
T”. Cada dispositivo fornecedor de oxigênio apresen-
ta particularidades próprias com as quais todo médico
deve estar familiarizado. Uma descrição de tais deta-
lhes está fora do escopo deste artigo, mas incentiva-
mos fortemente o leitor a efetuar leituras adicionais de
textos especializados na área.
A monitorização da oxigenação pode ser feita
pela análise da PaO2
e pela SaO2
. Como referido an-
teriormente, tais parâmetros são influenciados pela
FiO2
, em que o paciente está respirando, podendo-se
utilizar a relação PaO2
/FiO2
para avaliação da eficá-
cia das trocas gasosas em diferentes ofertas de oxi-
gênio (Tabela II).
airótaripseRaicnêicifusnIadoãçadarG-IIalebaT
.2OiF/2OaPoãçaleRadoãçnuFmE
.lamroN-gHmm004aroirepuS
.oãçanegixoedticiféD-gHmm004-003eD
.airótaripseRaicnêicifusnI-gHmm003aroirefnI
.evarG,airótaripseRaicnêicifusnI-gHmm002aroirefnI
Em relação à oxigenoterapia, alguns aspectos
devem ser salientados, como os que vêm a seguir:
• O objetivo é manter uma PaO2
acima de 60 mmHg,
com a menor FiO2
possível, devido ao risco de toxi-
cidade pulmonar por oxigênio, com o uso de FiO2
além de 60%, por períodos muito prolongados.
• Um número pequeno de pacientes com DPOC, ao
receber oxigênio, poderá cursar com elevações dos
níveis de gás carbônico. Explicações para tal fenô-
meno envolvem reduções do estímulo respiratório,
aumento do espaço morto por dilatação brônquica,
e o deslocamento do gás carbônico ligado à hemo-
globina pelo oxigênio administrado. Um número ain-
da menor de pacientes poderá evoluir com eleva-
ções muito acentuadas da PaCO2
e a instalação de
distúrbiosneurológicos,taiscomosonolênciaecoma,
caracterizando o quadro de narcose por CO2
. Por-
tanto, em tais pacientes, é necessária a repetição
da gasometria arterial trinta minutos após a instala-
ção do oxigênio e monitoração clínica, contínua, nas
primeiras horas.
• O tratamento da IR ventilatória, tipo II é a instala-
ção de ventilação mecânica. O uso de sistemas de
administração de oxigênio poderá melhorar signifi-
cantemente a PaO2 devido à ausência de shunt, mas
não promoverá a necessária lavagem do CO2
. Há,
inclusive, relatos de que, em pacientes com doen-
ças neuromusculares, particularmente distrofias mus-
culares, o uso do oxigênio possa agravar a retenção
de gás carbônico, desencadeando quadros de nar-
cose por gás carbônico e óbito. Como a complacên-
211
Insuficiência respiratória
cia pulmonar dos pacientes com insuficiência venti-
latória, na maioria das vezes, é normal, os sistemas
de ventilação não invasiva têm-se mostrado parti-
cularmente úteis.
Suporte ventilatório
Em pacientes com IR do tipo I, deve-se consi-
derar a instalação de ventilação mecânica, quando a
PaO2
mantiver-se abaixo de 60 mmHg, apesar do uso
de altas FiO2
. Um passo inicial, antes da entubação,
nessas situações, pode ser a terapia com dispositivos
do tipo CPAP (pressão positiva, contínua, nas vias
aéreas). Tal equipamento consiste em máscaras faciais
bem acopladas, que fornecem misturas gasosas em
alto fluxo, e pressão positiva, que se mantém ao longo
de toda respiração. O uso do CPAP pode levar a me-
lhoras dramáticas da oxigenação devido a efeitos
fisiológicos variados, tais como a expansão alveolar,
o combate às microatelectasias e o aumento da capa-
cidade residual, funcional. Está indicado apenas em
pacientes sem comprometimento importante do nível
da consciência, tendo seu uso já sido associado a com-
plicações, tais como di-
latação gasosa do estô-
mago, com vômitos e
aspiração, e mesmo a
necrose de bochecha
nos pontos de contato
facial.
Nos últimos anos,
as indicações de supor-
te ventilatório não inva-
sivo através de equipa-
mentos do tipo Bipap
(Bilevel positive
airway pressure) têm
crescido bastante. Tais
dispositivos permitem a
administração de altos
fluxos de gás através de
máscara facial ou nasal,
e a simultânea regulação
das pressões inspirató-
rias e expiratórias de
maneira independente.
Desse modo, o volume
corrente é gerado em
função do gradiente de
pressão, inspiratório e
expiratório e do padrão
respiratório dos indivíduos.Aparelhos desse tipo têm-
se mostrado bastante úteis no manuseio de pacientes
com IR do tipo II. Atualmente, são indicados, inclusi-
ve, para a manutenção de pacientes que necessitam
de suporte ventilatório domiciliar, crônico, tais como
os portadores de moléstias neuromusculares. Dentro
do contexto da IR aguda, do tipo I, tentativas de es-
tabilização respiratória com Bipap podem ser efetua-
das antes da entubação traqueal, em pacientes consci-
entes. Nessas situações, os melhores resultados são
obtidos nos casos em que se espera rápida reversão
das alterações fisiopatológicas, tais como o edema
pulmonar cardiogênico, ou quando a complacência
pulmonar estiver pouco alterada.
Com exceção dos casos de falência cardior-
respiratória, proteção das vias aéreas e apnéia, nos
quais a necessidade de suporte ventilatório é indiscu-
tível, as indicações de ventilação mecânica, invasiva
merecem uma avaliação médica, crítica. Elas com-
preendem importantes alterações gasométricas, res-
posta inadequada ao tratamento clínico, excessivo tra-
balho respiratório, com evidência de fadiga da mus-
sadoãçnuFmesadacifissalC,acinâceMoãçalitneVedseõçacidnI-IIIalebaT
.siasaB,sacigólotapoisiFseõç-aretlA
omsinaceM
serolaV
siamroN
oãçalitneV
acinâceM
adauqedanI,raloevlAoãçalitneV
OCaP- 2
)gHmm(
HP-
54-53
54,7-53,7
55>
02,7<
adauqedanI,ranomluPoãsnapxE
)gk/lm(etnerroCemuloV-
)gk/lm(latiVedadicapaC-
airótaripseRaicnêüqerF-
8-5
57-56
02-21
5<
01<
≥ 53
adauqedanI,ralucsuMaçroF
)O2Hmc(amixáM,airótaripsnIoãsserP-
)gk/lm(latiVedadicapaC-
- )nim/l;MVV(amixáM,airátnuloVoãçalitneV
001-a08-
57-56
081-021
≥ 02-
01<
otunimemulovoX2<
odatnemuA,oirótaripseRohlabarT
)l(otunimemuloV-
)TV/DV(otromoçapsE-
6-5
04,0-52,0
01>
6,0>
oãçanegixO
O)a-A(P- 2
)gHmm(%001aoinêgixomoc
OaP- 2
OiF/ 2
)gHmm(
56-52
003>
053>
002<
212
Pádua AI; Alvares F & Martinez JAB
culatura respiratória, e a depressão do estado de cons-
ciência. Uma série de parâmetros funcionais, respira-
tórios podem auxiliar nessa decisão, muito embora nem
sempre sejam disponíveis, em função das condições
do paciente, disponibilidade de equipamento ou urgên-
cia da situação. É importante lembrar que
tais parâmetros têm maior validade em ca-
sos de IR aguda (Tabela III).
Em pacientes portadores de IR crô-
nica, tais como DPOC e ou fibrose pulmo-
nar, terminal, que não estejam respondendo
bem à terapia conservadora e ao suporte
respiratório não invasivo, a decisão de en-
tubação deve ser feita largamente em ba-
ses clínicas, incluindo aí o conhecimento
acerca das condições basais do doente, o
estágio evolutivo da doença, prognóstico, e
os desejos expressos previamente pelo pa-
ciente e familiares.
Atualmente, existe ampla gama de
respiradores com diferentes concepções de
funcionamento, permitindo a administração
de diferentes tipos de modalidades respira-
tórias. Uma análise desses aspectos foge
da finalidade desta revisão e pode ser en-
contrada em outro texto desta revista.
Uma vez revertidas as condições pre-
cipitantes da IR, é tempo de se iniciar o des-
mame do aparelho. Tão importante quanto
saber o momento de introduzir a ventilação
mecânica é reconhecer a hora de retirá-la.
Uma lista de parâmetros que orientam nes-
se processo está relacionada na Tabela IV.
É obrigatória a avaliação diária das condi-
oãçpurretnIadossecuSedsovitacidnIsortemâraP-VIalebaT
acinâceMoãçalitneVad
sacinílCseõçidnoC-1
- edaçneserP evird oirótaripser
- oirótafsitasaicnêicsnocedlevíN
- acimânidomehedadilibatsE
- sesodsaminímmesovitadessetnegaesavitaosavsagorD
- socitilorteleordihsoibrútsidedaicnêsuA
oãçanegixOedsortemâraP-2
- OaP 2
OiFmocgHmm06> 2
≤≤≤≤≤ PEEPe4,0 ≤≤≤≤≤ Hmc5 2
O
- OaPoãçaleR 2
OiF/ 2
gHmm002>
- gHmm053aroirefni1=2OiFmoc2O)a-A(P
- %02<tnuhS
oãçalitneVedsortemâraP-3
- OCaP 2
≤≤≤≤≤ serotneteraraplasaboaomixórprolav;gHmm54
.socinôrc
- nim/l01-5<odireuqerotunimemuloV
- amumeosuoperedotunimemulovorarbodededadicapaC
amixám,airátnulovoãçalitnevedarbonam
- gk/lm5>etnerrocemuloV
- gk/lm51-01>lativedadicapaC
- Hmc03-a02-<amixámairótaripsnioãsserP 2
O
- airótaripseraicnêüqerF ≤ mpi52
- l/nim/i501<etnerrocemulov/airótaripseraicnêüqerfoãçaleR
PÁDUA AI; ALVARES F & MARTINEZ JAB. Respiratory failure. Medicina, Ribeirão Preto, 36: 205-213,
apr./dec. 2003.
ABSTRACT - The Respiratory Failure concept deals with the presence of difficulties for the
respiratory system to perform its most important function, to keep satisfactory gas exchanges.
There are several causes of respiratory failure, with different clinical features. The diagnosis of
respiratory failure depends on the analyses of oxygen and carbon dioxide levels in arterial blood
samples. This article contains a general view about gas exchange physiology and its disorders,
that are the basis for understanding the classification and mechanisms involved with the different
types of Respiratory Failure. It is also emphasized general aspects dealing with therapeutic
issues, such as oxygen-therapy and ventilatory support indications.
UNITERMS - Respiratory Insufficiency. Pulmonar Gas Exchange. Respiration, Artificial.
ções que permitam iniciar o desmame. Independente
dos métodos que vierem a ser usados, a rigorosa su-
pervisão do processo pelos elementos da equipe de
saúde que acompanham o paciente é o elemento mais
importante para o sucesso da empreitada.
213
Insuficiência respiratória
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
1 - BERNARD GR; ARTIGAS A & BRIGHAM KL. The American-
European Consensus Conference on ARDS. Definitions,
mechanisms, relevant outcomes and clinical coordination.
Am J Respir Crit Care Med 149: 818-824, 1994.
2 - BONEKAT HW. Non-invasive ventilation in neuromuscular
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3 - EVANS TW. International consensus conferences in inten-
sive care medicine: non-invasive positive pressure ventila-
tion in acute respiratory failure. Intensive Care Med 27:
166-178, 2001.
4 - FISHMAN AP. Acute respiratory failurere. In: FISHMAN AP.
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5 - UBRAN A & TOBIN MJ. Monitoring during mechanical ventila-
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6 - MARTINEZ JAB & PADUA AI. Modos de assistência ventila-
tória. Medicina, Ribeirão Preto 34:133-142, 2002.
7 - SCALAN CL & HEUER A. Gasoterapia medicinal. In: SCALAN
CL; WILKINS RL & STOLLER JK. Fundamentos da terapia
respiratória de Egan. Manole, São Paulo, p. 761-796,
2000.
8 - SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA.
II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. Sociedade
Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. J Pneumol. 26: 2000.
9 - TERRA FILHO J & SANTOS E FONSECA CMC. Insuficiência
respiratória. Medicina, Ribeirão Preto. 25: 416-437, 1992.
10 - WEST JB. Fisiologia respiratória moderna. 3
a
ed, Manole,
São Paulo, 1990.

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Insuficiência respiratória: classificação, causas e abordagem terapêutica

  • 1. INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA RESPIRATORY FAILURE Adriana Inacio de Pádua1 ; FláviaAlvares1 & JoséAntônio Baddini Martinez2 ¹Médica Assistente.2 Docente. Divisão de Pneumologia. Departamento de Clínica Médica. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP. CORRESPONDÊNCIA: José Antônio Baddini Martinez. Departamento de Clínica Médica. Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Avenida Bandeirantes 3900, CEP 14048-900, Ribeirão Preto - SP, Brasil.Telefone: 16-6022531; Fax: 16-6336695; email: jabmarti@fmrp.usp.br PÁDUA AI; ALVARES F & MARTINEZ JAB. Insuficiência respiratória. Medicina, Ribeirão Preto, 36: 205-213, abr./dez. 2003. RESUMO - O conceito de insuficiência respiratória (IR) compreende a dificuldade encontrada pelo Sistema Respiratório em desempenhar adequadamente sua principal função, ou seja, a promoção das trocas gasosas. Por ser decorrente de várias condições, pode apresentar-se, clinicamente, de forma muito variada. Seu diagnóstico depende da análise dos níveis de oxigê- nio e gás carbônico através da gasometria arterial. O presente artigo fornece uma visão geral da fisiologia das trocas gasosas e suas alterações, conceitos fundamentais para a compreensão da classificação e mecanismos envolvidos nos diferentes tipos de insuficiência respiratória. São ainda enfatizados aspectos gerais, relacionados com a terapêutica, na forma de noções sobre oxigenioterapia e indicações de suporte ventilatório. UNITERMOS - Insuficiência Respiratória. Troca Gasosa Pulmonar. Respiração Artificial. 205 Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS RESPIRATÓRIAS 36: 205-213, abr./dez. 2003 Capítulo I 1- DEFINIÇÃO A insuficiência respiratória (IR) pode ser defi- nida como a condição clínica na qual o sistema respi- ratório não consegue manter os valores da pressão arterial de oxigênio (PaO2 ) e/ou da pressão arterial de gás carbônico (PaCO2 ) dentro dos limites da normali- dade, para determinada demanda metabólica. Como a definição de IR está relacionada à incapacidade do sistema respiratório em manter níveis adequados de oxigenação e gás carbônico, foram estabelecidos, para sua caracterização, pontos de corte na gasometria arterial, como se segue: • PaO2 < 60 mmHg • PaCO2 > 50 mmHg A IR pode ser classificada quanto à velocidade de instalação, em aguda e crônica. Na IR aguda, a rápida deterioração da função respiratória leva ao surgimento de manifestações clínicas mais intensas, e as alterações gasométricas do equilíbrio ácido-base, alcalose ou acidose respiratória, são comuns. Quando as alterações das trocas gasosas se instalam de ma- neira progressiva ao longo de meses ou anos, estare- mos diante de casos de IR crônica. Nessas situações, as manifestações clínicas podem ser mais sutis e as alterações gasométricas do equilíbrio ácido-base, au- sentes. Exemplos de tal condição são a doença pul- monar, obstrutiva, crônica (DPOC), avançada. Vale salientar que quadros de IR aguda podem instalar-se tanto em indivíduos previamente sadios como, tam- bém, sobrepor-se à IR crônica, em pacientes com pro- cessos de longa data. Nessa última situação, o uso do termo IR crônica, agudizada é aceitável. 2- TROCAS GASOSAS Uma vez que o conceito de IR baseia-se no comportamento das trocas gasosas, é essencial o co-
  • 2. 206 Pádua AI; Alvares F & Martinez JAB nhecimento de sua fisiologia. Embora as trocas gaso- sas sejam um processo contínuo, podem ser divididas, para fins didáticos, em quatro fases. Ventilação Processo cíclico, responsável pela renovação do gás alveolar. Resulta da ação integrada entre o centro respiratório, localizado no sistema nervoso, cen- tral (SNC), vias nervosas, caixa torácica (estrutura osteomuscular) e os pulmões. A ventilação alveolar é dada pela seguinte fórmula: VA = (VT – VD)f Onde: VA = ventilação alveolar. VT= volume corrente. VD= volume do espaço morto, anatômico. f=freqüência respiratória. Alterações da ventilação podem ocorrer de for- ma localizada ou global, levando a prejuízo da lava- gem do gás carbônico e ao aporte de oxigênio. Tais distúrbios podem se instalar devido a: • Alterações regionais ou difusas da elasticidade pul- monar, como ocorre no enfisema. • Obstruções regionais ou difusas, inclusive aquelas que envolvem as pequenas vias aéreas, como ocor- re na DPOC e na asma. • Modificações do espaço morto anatômico e/ou do espaço morto do compartimento alveolar, que pode ser observado, por exemplo, na DPOC. • Modificações da expansibilidade pulmonar, secun- dárias à presença de exsudatos, tumores ou fibrose nas paredes alveolares ou interstício pulmonar. • Hipoventilação por comprometimento do sistema nervoso, músculos efetores ou deformidades da caixa torácica. Perfusão A circulação pulmonar é munida de um vasto leito vascular, no qual os pequenos vasos e os capila- res são os responsáveis pela principal atividade funci- onal. Tem características de um sistema hidráulico de baixa pressão, complacente e de baixa resistência, que podem ser modificadas por fatores intrínsecos (pres- são, volume, fluxo) e extrínsecos (inervação autonô- mica, controle humoral) e pelos gases respiratórios. A perfusão pulmonar pode ser alterada por di- ferentes desarranjos, como os indicadores: • Obstruçãointraluminal:doençastromboembólicas,vas- culites,acometimento vascular por colagenoses, etc. • Redução do leito vascular: enfisema, ressecção do parênquima pulmonar, etc. • Colabamento vascular por hipotenção e choque; compressão vascular por lesões tumorais ou aumen- to da pressão alveolar, como no caso do uso de ven- tiladores com pressão positiva. Relação ventilação/perfusão (V/Q) Os valores finais da PaO2 e PaCO2 resultam de interações entre a taxa de ventilação alveolar e o res- pectivo fluxo sangüíneo. Mesmo em indivíduos nor- mais, a relação V/Q não é uniforme em todo o pul- mão, sendo maior nos ápices.As situações polares dos distúrbios V/Q são representadas por alvéolos ventila- dos, mas não perfundidos (espaço morto) e pela situ- ação oposta, alvéolos não ventilados mas perfundidos adequadamente (shunt). Entre esses pontos de alte- rações extremas, encontramos situações em que ocor- rem alvéolos bem ventilados, mas pouco perfundidos (efeito espaço morto) ou então alvéolos com ventilação reduzida e perfusão sangüínea mantida (efeito shunt). De um ponto de vista, prático, alterações da relação V/Q são as causas mais comuns de distúrbios das trocas gasosas. Quadros graves de hipoxemia ar- terial, como aqueles observados em pneumonias ex- tensas ou na SARA, são conseqüência da presença de áreas de shunts e efeito shunt no nível do parên- quima pulmonar. Difusão A capacidade de difusão pulmonar pode ser definida como a quantidade de gás transferida por minuto, através da membrana alveolocapilar, para cada milímetro de mercúrio de diferença entre as pressões parciais deste gás no espaço alveolar e no sangue. O fluxo de oxigênio é dirigido pela maior pressão no ní- vel alveolar em relação ao sangue capilar. Diferentes fatores podem influenciar a capacidade de difusão pulmonar, alterando, assim, os valores dos gases san- güíneos. Entre eles, vale a pena citar: espessura da membrana alveolocapilar e distância de difusão; ex- tensão da superfície da membrana de difusão; solubi- lidadedosgases;propriedadesdedifusibilidadedomeio e alterações dos gradientes de pressão dos gases. Um exemplo de alteração da espessura e da composição da membrana alveoloarterial é a doença intersticial, pulmonar, que freqüentemente culmina com a institui- ção de fibrose intersticial. Exemplo clássico de redu- ção da superfície da membrana alveoloarterial é o enfisema. De modo geral, alterações da difusão pul-
  • 3. 207 Insuficiência respiratória monar só levam a distúrbios das trocas gasosas em situações de sobrecarga respiratória, como durante a realização de exercícios. Gradiente alveoloarterial O grau da eficácia global das trocas gasosas pode ser avaliado à beira do leito por uma série de cálculos matemáticos, simples, entre eles a determi- nação da diferença entre a pressão de oxigênio do alvéolo (PAO2) e a pressão de oxigênio arterial (PaO2). Abreviado como P(A-a)O2 , o gradiente alveoloarterial de oxigênio é, normalmente, pequeno, entre 5 e 10 mmHg, alargando-se na presença de IR. Além disso, ele inclui, em seu cálculo, os valores da PaCO2 , não sendo, assim, influenciado pela presença de hipoven- tilação. Dessa forma, o cálculo da P(A-a)O2 é um método mais preciso para a caracterização da pre- sença de IR. Além disso, a diferenciação entre a pre- sença de alterações da relação V/Q ou shunt pode ser feita pela administração de oxigênio a 100% ao paciente. Uma boa resposta ao oxigênio indica des- proporção V/Q como causa da hipoxemia, enquanto que, na presença de shunt verdadeiro, a hipoxemia se mantém. Vale notar que são disponíveis equações para o cálculo do shunt real. O gradiente alveoloarterial, por sua vez, é calculado pela seguinte equação: P(A-a)O2 = [FiO2 (PB -47) – (PaCO2 /R) – PaO2 ] Onde: FiO2 = fração inspirada de oxigênio. PB = pressão barométrica local. 47 = pressão de vapor de água nas vias aéreas. R = quociente respiratório, habitual- mente estimado em 0,8; quando respirando FiO2 superiores a 0,6, a correção pelo R pode ser eli- minada. PaCO2 e PaCO2 = gases arteriais. 3- CLASSIFICAÇÃO A IR, classicamente, é classificada em tipo I (hipoxêmica) e tipo II (hipercápnica). Uma lista de causas selecionadas de IR está contida na Tabela I. Na IR tipo I, também chamada de alveolocapilar, os distúrbios fisiopatológicos levam à instalação de hi- poxemia, mas a ventilação está mantida. Caracteriza- se, portanto, pela presença de quedas da PaO2 com valores normais ou reduzidos da PaCO2 . Nesses ca- .airótaripseRaicnêicifusnIedsasuaC-IalebaT IopiTodairótaripseRaicnêicifusnI • ARAS • sainomuenP • saisatceletA • ranomluPamedE • ranomluPailobmE • otnemagofaesauQ • oãçabrecaxemeCOPD • evargamsA • xarótomuenP IIopiTodairótaripseRaicnêicifusnI CNSodseõçaretlA-1 • ,aigarromeh,otrafni,aisalpoen(siaruturtseseõseL .)oãçcefni • .sarosserpedsagorD • .omsidioeritopiH • .acilóbatemesolaclA • .lartneconosodaiénpA • ;aisalpoen;,raludemiuqaramuart:aludemadsaçneoD -nialiuG;asrevsnartetileim;aigarromeh;otrafni;oãçcefni .cte;acifórtoima,laretalesorelcse;érraB saciréfirep,seralucsumoruenseõçaretlA-2 • ,onatét:sanixotoruenropsadasuacsaçneoD .airetfid,omsilutob • ainetsaiM .sivarg • .trebmaLnotaE:sacisálpoenarapsemordníS • -engamopih,aimetafsofopih:socitílortelesoibrútsiD .aimeclacopih,aimelacopih,aimes • seralucsumsaifortsiD • .setisoimoiloP • .omsidioeritopiH • .asoiccefnietisoiM aruelpeacicárotederapadoãçnufsiD-3 • .esoilocseofiC • .etnasoliuqnAetilidnopsE • .edadisebO • .levátsnixaróT • .xarótorbiF • .aitsalpocaroT seroirepus,saeréasaivsadoãçurtsbO-4 • .etitolgipE • .egniraledamedE • .ohnartseoprocedoãçaripsA • .etnemlaretalib,siacovsadrocedaisilaraP • .aicálamoeuqart,aiéuqartedesonetsE • .seroirepus,saeréasaivsanseromuT • .aviturtsbo,onosodaiénpA
  • 4. 208 Pádua AI; Alvares F & Martinez JAB sos observa-se elevação do gradiente alveoloarterial de oxigênio devido a distúrbios da relação V/Q. Com- preende doenças que afetam, primariamente, vasos, alvéolos e interstício pulmonar. Exemplo dessas con- dições seriam casos de pneumonias extensas ou da síndrome da insuficiência respiratória aguda (SARA). Nos casos de IR tipo II, ocorre elevação dos níveis de gás carbônico por falência ventilatória. Além disso, também é comum hipoxemia em pacientes, res- pirando ar ambiente. Esse tipo de IR também é cha- mado de insuficiência ventilatória. Pode estar presen- te em pacientes com pulmão normal como, por exem- plo, na presença de depressão do SNC e nas doenças neuro-musculares. Entretanto, freqüentemente, sobre- põe-se a casos de IR tipo I, quando a sobrecarga do trabalho respiratório precipita a fadiga dos músculos respiratórios. O cálculo do gradiente alveoloarterial de oxigê- nio permite diferenciar os tipos de IR. Hipoxemia com gradiente aumentado indica defeito nas trocas alveo- locapilares e aponta para IR tipo I. Hipoxemia com gradiente normal é compatível com hipoventilação al- veolar (IR tipo II). 4- QUADRO CLÍNICO Uma vez que as causas e os mecanismos en- volvidos com a sua gênese são diversos, a apresenta- ção clínica de casos com IR pode ser muito variada. Entretanto, alguns sintomas e sinais são bastante co- muns, independente da etiologia, e relacionam-se, prin- cipalmente, com as alterações observadas dos gases sangüíneos. Pacientes com IR, habitualmente, queixam-se de dispnéia e demonstram elevações das freqüências respiratória e cardíaca. Cianose está igualmente pre- sente, quando as concentrações sangüíneas da hemo- globina reduzida excederem 5 g/dl. A medida que a hipoxemia acentua-se, manifestações neurológicas, tais como diminuição da função cognitiva, deterioração da capacidade de julgamento, agressividade, incoordena- ção motora e mesmo coma e morte, podem surgir. Manifestações semelhantes podem ser causadas por elevações agudas do gás carbônico. Nos casos em que há hipoxemia crônica, os pacientes podem apre- sentar sonolência, falta de concentração, apatia, fadi- ga e tempo de reação retardado. A hipercapnia crôni- ca pode desencadear sintomas semelhantes aos da hipoxemia crônica, além de cefaléia, particularmente matinal, distúrbios do sono, irritabilidade, insatisfação, sonolência, coma e morte. As manifestações cardiovasculares da hipoxe- mia e elevação do gás carbônico incluem elevações iniciais da freqüência cardíaca, do débito cardíaco e vasodilatação arterial difusa, seguidos por depressão miocárdica, bradicardia, choque circulatório, arritmias e parada cardíaca. 5- DIAGNÓSTICO O diagnóstico e a investigação da causa da IR baseia-se numa história clínica informativa, exame fí- sico, detalhado e exames complementares, adequados. A história clínica, obtida do paciente ou acom- panhantes, deverá obrigatoriamente pesquisar, além da queixa ou queixas atuais do doente, a ocorrência de sintomas semelhantes previamente, a presença de doenças de base, antecedentes pessoais, e o uso, atual ou anterior, de medicações com atuação no apa- relho respiratório e SNC. O exame físico do tórax deve ser detalhado, envolvendo, além de percussão e ausculta, ocorrência de cornagem, análise do padrão respiratório, presen- ça de enfisema subcutâneo, tiragem, uso de músculos acessórios da respiração e presença de movimento paradoxal, do abdômen. A presença na inspiração de assincronia toracoabdominal, com expansão do tórax e retração simultânea das porções superiores da pa- rede abdominal, significa fadiga diafragmática e risco de apnéia eminente, sendo indicação para instalação de ventilação mecânica. A confirmação da presença de IR só é feita pela análise dos gases sangüíneos. Uma indicação rápi- da das condições das trocas gasosas é dada pela oxi- metria de pulso. Uma SaO2 inferior a 90% é fortemente indicativa do diagnóstico. Entretanto, inúmeros fato- res podem influenciar a leitura desses equipamentos, gerando leituras errôneas, entre elas, a presença de choque circulatório, má perfusão tecidual, cor da pele, etc. Além disso, a oximetria de pulso não fornece medi- das relativas aos níveis de gás carbônico. Dessa forma, a colheita de uma gasometria arterial é obrigatória. De modo geral, considera-se uma troca gasosa inadequada, quando a PaO2 é menor que 60mmHg, ou, ainda, quando a PaCO2 ultrapassa 45mmHg. Po- rém, cuidados devem ser tomados na interpretação da gasometria arterial: • Os valores que definem IR são válidos para indiví- duos respirando ar ambiente no nível do mar. Mo- radores onde há grandes altitudes apresentam ní- veis menores de oxigenação sangüínea, porém sem sintomas.
  • 5. 209 Insuficiência respiratória • Valores confiáveis de gases arteriais só são obtidos com gasometrias colhidas, pelo menos, vinte minu- tos após a mudança da FiO2 , administração de me- dicações inalatórias ou procedimentos fisioterápi- cos. A amostra sangüínea deve ser prontamente analisada após sua colheita e transportada ao labo- ratório, em gelo. Os resultados de gasometria ana- lisada uma hora após a colheita, ainda que mantida a baixas temperaturas, não espelham as reais con- dições do paciente. • É fundamental saber com que fração inspirada de oxigênio foi colhida a gasometria. Uma PaO2 nor- mal, mantida às custas de suplementação com altos fluxos de oxigênio é naturalmente insatisfatória. Dessa forma, IR pode ser igualmente caracteriza- da na presença de uma relação PaO2 /FiO2 inferior a 300, onde FiO2 corresponde à fração inspirada de oxigênio, em números absolutos (por exemplo, ar ambiente = 0,21). • Os níveis de oxigenação devem ser interpretados em função da idade. Indivíduos idosos fisiologica- mente são mais hipoxêmicos do que jovens. Uma estimativa da PaO2 prevista para a idade, pode ser obtida pela equação: PaO2 = [ 96,2 - (0,4 X idade em anos) ] Do mesmo modo, a P(A-a)O2 média, prevista para a idade pode ser estimada pela fórmula: P(A-a)O2 = [(idade em anos/4) + 4] • O parâmetro gasométrico que melhor se correla- ciona com a ventilação alveolar é a PaCO2 , a qual é medida diretamente pela gasometria arterial ou estimada pela capnografia. • Pacientes portadores de pneumopatias crônicas, tais como DPOC, podem apresentar, cronicamente, ní- veis acentuados de hipoxemia e hipercapnia, em condições basais. Nesses indivíduos, a caracteriza- ção gasométrica de uma descompensação aguda pode ser feita, comparando-se os valores dos gases de momento com exames colhidos em momentos de estabilidade clínica. Além disso, deve-se obser- var atentamente o pH arterial. A presença de alca- lose respiratória pode indicar hiperventilação por acentuação da hipoxemia, enquanto a acidose res- piratória indica retenção aguda de gás carbônico. • Pacientes com quadros de crises asmáticas, graves podem mostrar elevações transitórias dos níveis da PaCO2 devido a broncoespasmo muito intenso e alterações da relação V/Q. Tais pacientes devem ser tratados agressivamente e monitorados de per- to, tanto clínica como laboratorialmente, devido à possibilidade de a retenção do gás carbônico agra- var-se por instalação de fadiga muscular, respirató- ria. • Pacientes com quadros neuromusculares podem apresentar hipoxemia e elevações acentuadas do gás carbônico com pH arterial, normal. Isso ocorre, quando o ritmo de instalação da IR for muito lento. Nessas condições, a indicação de suporte respira- tório deve basear-se, também, em outros critérios, tais como presença de sintomas clínicos e altera- ções espirométricas (capacidade vital, forçada, ge- ralmente abaixo de 40%). Em casos de IR, é obrigatória a realização de radiografias de tórax em projeções postero-anterior e perfil, visando detectar a presença de alterações pul- monares. Exames adicionais, tais como fibrobroncos- copias, eletrocardiograma, ecocardiograma, tomogra- fia de tórax e culturas, poderão ser pedidos em fun- ção das suspeitas e do rumo da investigação clínica. 6- TRATAMENTO O tratamento da IR deve ser individualizado, em função das causas desencadeantes e dos mecanismos fisiopatológicos, envolvidos. Broncodilatadores, corticosteróides, diuréticos, antibióticos e procedimen- tos cirúrgicos poderão ser de maior ou menor valia, em função das condições de base. Apesar disso, al- guns princípios gerais se aplicam à maioria dos casos. Manutenção das vias aéreas A manutenção de vias aéreas pérvias e a profi- laxia de complicações, em especial aspiração, são de fundamental importância em pacientes com IR, parti- cularmente naqueles com distúrbios da consciência. Nesse caso, o paciente deve ser colocado em decúbito lateral com a cabeça abaixada e a mandíbula puxada para frente, visando evitar a obstrução pela língua. Com essa manobra, não raro, faz-se o diagnóstico de obstrução alta por vômito ou corpo estranho e pode providenciar-se a desobstrução. O uso de cânula orofaríngea (chupeta) é ade- quado, quando se espera o rápido retorno da consci- ência, como, por exemplo, na recuperação anestésica. Caso se espere uma inconsciência mais prolongada ou ventilação mecânica seja necessária, a entubação endotraqueal está indicada. Em casos de obstrução
  • 6. 210 Pádua AI; Alvares F & Martinez JAB alta acima das cordas vocais, a realização de cricoti- reoidotomia ou traqueostomia poderá ser necessária. Pacientes com entubação traqueal ou traque- ostomia, particularmente quando sedados ou em coma, devem ter suas vias aéreas periodicamente aspiradas, para evitar obstruções. Frente a dificuldades de cicla- gem de um respirador mecânico, caracterizadas por freqüência respiratória, elevada, volume corrente bai- xo e/ou picos de pressão inspiratória, excessivos, deve- se pensar na possibilidade de obstrução da luz do tubo por rolha de catarro. Oxigenoterapia A administração de oxigênio estará indicada nos casos de IR aguda, quando a PaO2 for inferior a 60 mmHg ou a SaO2 inferior a 90%. Nos casos de IR crônica, onde a tolerância à hipoxemia é maior, pode- se utilizar uma PaO2 limiarde 55 mmHg. Nessas con- dições, a oxigenoterapia sempre deverá ser introduzida, particularmente, nos casos de IR tipo I. Os objetivos clínicos, específicos da oxigenio- terapia são: 1- corrigir a hipoxemia aguda, suspeita ou compro- vada; 2- reduzir os sintomas associados à hipoxemia crô- nica; 3- reduzir a carga de trabalho que a hipoxemia impõe ao sistema cardiopulmonar. Existe uma grande variedade de dispositivos fornecedores de oxigênio, capazes de liberar uma ampla gama de valores de FiO2. Alguns sistemas são dese- nhados para fornecer uma FiO2 fixa, enquanto outros fornecem valores variáveis, não apenas em função da regulação do fluxo de gás, como, também, do padrão respiratório apresentado pelos pacientes. A adminis- tração de oxigênio pode dar-se por três grandes gru- pos de sistemas: os de baixo fluxo, os sistemas com reservatório e os de alto fluxo. Exemplos de dispositi- vos de baixo fluxo são as cânulas e os cateteres na- sais. Exemplos de sistemas com reservatório são as máscaras simples e as máscaras com bolsas. Exem- plos de sistemas de alto fluxo são as máscaras de Venturi, os nebulizadores e os assim chamados “tubos T”. Cada dispositivo fornecedor de oxigênio apresen- ta particularidades próprias com as quais todo médico deve estar familiarizado. Uma descrição de tais deta- lhes está fora do escopo deste artigo, mas incentiva- mos fortemente o leitor a efetuar leituras adicionais de textos especializados na área. A monitorização da oxigenação pode ser feita pela análise da PaO2 e pela SaO2 . Como referido an- teriormente, tais parâmetros são influenciados pela FiO2 , em que o paciente está respirando, podendo-se utilizar a relação PaO2 /FiO2 para avaliação da eficá- cia das trocas gasosas em diferentes ofertas de oxi- gênio (Tabela II). airótaripseRaicnêicifusnIadoãçadarG-IIalebaT .2OiF/2OaPoãçaleRadoãçnuFmE .lamroN-gHmm004aroirepuS .oãçanegixoedticiféD-gHmm004-003eD .airótaripseRaicnêicifusnI-gHmm003aroirefnI .evarG,airótaripseRaicnêicifusnI-gHmm002aroirefnI Em relação à oxigenoterapia, alguns aspectos devem ser salientados, como os que vêm a seguir: • O objetivo é manter uma PaO2 acima de 60 mmHg, com a menor FiO2 possível, devido ao risco de toxi- cidade pulmonar por oxigênio, com o uso de FiO2 além de 60%, por períodos muito prolongados. • Um número pequeno de pacientes com DPOC, ao receber oxigênio, poderá cursar com elevações dos níveis de gás carbônico. Explicações para tal fenô- meno envolvem reduções do estímulo respiratório, aumento do espaço morto por dilatação brônquica, e o deslocamento do gás carbônico ligado à hemo- globina pelo oxigênio administrado. Um número ain- da menor de pacientes poderá evoluir com eleva- ções muito acentuadas da PaCO2 e a instalação de distúrbiosneurológicos,taiscomosonolênciaecoma, caracterizando o quadro de narcose por CO2 . Por- tanto, em tais pacientes, é necessária a repetição da gasometria arterial trinta minutos após a instala- ção do oxigênio e monitoração clínica, contínua, nas primeiras horas. • O tratamento da IR ventilatória, tipo II é a instala- ção de ventilação mecânica. O uso de sistemas de administração de oxigênio poderá melhorar signifi- cantemente a PaO2 devido à ausência de shunt, mas não promoverá a necessária lavagem do CO2 . Há, inclusive, relatos de que, em pacientes com doen- ças neuromusculares, particularmente distrofias mus- culares, o uso do oxigênio possa agravar a retenção de gás carbônico, desencadeando quadros de nar- cose por gás carbônico e óbito. Como a complacên-
  • 7. 211 Insuficiência respiratória cia pulmonar dos pacientes com insuficiência venti- latória, na maioria das vezes, é normal, os sistemas de ventilação não invasiva têm-se mostrado parti- cularmente úteis. Suporte ventilatório Em pacientes com IR do tipo I, deve-se consi- derar a instalação de ventilação mecânica, quando a PaO2 mantiver-se abaixo de 60 mmHg, apesar do uso de altas FiO2 . Um passo inicial, antes da entubação, nessas situações, pode ser a terapia com dispositivos do tipo CPAP (pressão positiva, contínua, nas vias aéreas). Tal equipamento consiste em máscaras faciais bem acopladas, que fornecem misturas gasosas em alto fluxo, e pressão positiva, que se mantém ao longo de toda respiração. O uso do CPAP pode levar a me- lhoras dramáticas da oxigenação devido a efeitos fisiológicos variados, tais como a expansão alveolar, o combate às microatelectasias e o aumento da capa- cidade residual, funcional. Está indicado apenas em pacientes sem comprometimento importante do nível da consciência, tendo seu uso já sido associado a com- plicações, tais como di- latação gasosa do estô- mago, com vômitos e aspiração, e mesmo a necrose de bochecha nos pontos de contato facial. Nos últimos anos, as indicações de supor- te ventilatório não inva- sivo através de equipa- mentos do tipo Bipap (Bilevel positive airway pressure) têm crescido bastante. Tais dispositivos permitem a administração de altos fluxos de gás através de máscara facial ou nasal, e a simultânea regulação das pressões inspirató- rias e expiratórias de maneira independente. Desse modo, o volume corrente é gerado em função do gradiente de pressão, inspiratório e expiratório e do padrão respiratório dos indivíduos.Aparelhos desse tipo têm- se mostrado bastante úteis no manuseio de pacientes com IR do tipo II. Atualmente, são indicados, inclusi- ve, para a manutenção de pacientes que necessitam de suporte ventilatório domiciliar, crônico, tais como os portadores de moléstias neuromusculares. Dentro do contexto da IR aguda, do tipo I, tentativas de es- tabilização respiratória com Bipap podem ser efetua- das antes da entubação traqueal, em pacientes consci- entes. Nessas situações, os melhores resultados são obtidos nos casos em que se espera rápida reversão das alterações fisiopatológicas, tais como o edema pulmonar cardiogênico, ou quando a complacência pulmonar estiver pouco alterada. Com exceção dos casos de falência cardior- respiratória, proteção das vias aéreas e apnéia, nos quais a necessidade de suporte ventilatório é indiscu- tível, as indicações de ventilação mecânica, invasiva merecem uma avaliação médica, crítica. Elas com- preendem importantes alterações gasométricas, res- posta inadequada ao tratamento clínico, excessivo tra- balho respiratório, com evidência de fadiga da mus- sadoãçnuFmesadacifissalC,acinâceMoãçalitneVedseõçacidnI-IIIalebaT .siasaB,sacigólotapoisiFseõç-aretlA omsinaceM serolaV siamroN oãçalitneV acinâceM adauqedanI,raloevlAoãçalitneV OCaP- 2 )gHmm( HP- 54-53 54,7-53,7 55> 02,7< adauqedanI,ranomluPoãsnapxE )gk/lm(etnerroCemuloV- )gk/lm(latiVedadicapaC- airótaripseRaicnêüqerF- 8-5 57-56 02-21 5< 01< ≥ 53 adauqedanI,ralucsuMaçroF )O2Hmc(amixáM,airótaripsnIoãsserP- )gk/lm(latiVedadicapaC- - )nim/l;MVV(amixáM,airátnuloVoãçalitneV 001-a08- 57-56 081-021 ≥ 02- 01< otunimemulovoX2< odatnemuA,oirótaripseRohlabarT )l(otunimemuloV- )TV/DV(otromoçapsE- 6-5 04,0-52,0 01> 6,0> oãçanegixO O)a-A(P- 2 )gHmm(%001aoinêgixomoc OaP- 2 OiF/ 2 )gHmm( 56-52 003> 053> 002<
  • 8. 212 Pádua AI; Alvares F & Martinez JAB culatura respiratória, e a depressão do estado de cons- ciência. Uma série de parâmetros funcionais, respira- tórios podem auxiliar nessa decisão, muito embora nem sempre sejam disponíveis, em função das condições do paciente, disponibilidade de equipamento ou urgên- cia da situação. É importante lembrar que tais parâmetros têm maior validade em ca- sos de IR aguda (Tabela III). Em pacientes portadores de IR crô- nica, tais como DPOC e ou fibrose pulmo- nar, terminal, que não estejam respondendo bem à terapia conservadora e ao suporte respiratório não invasivo, a decisão de en- tubação deve ser feita largamente em ba- ses clínicas, incluindo aí o conhecimento acerca das condições basais do doente, o estágio evolutivo da doença, prognóstico, e os desejos expressos previamente pelo pa- ciente e familiares. Atualmente, existe ampla gama de respiradores com diferentes concepções de funcionamento, permitindo a administração de diferentes tipos de modalidades respira- tórias. Uma análise desses aspectos foge da finalidade desta revisão e pode ser en- contrada em outro texto desta revista. Uma vez revertidas as condições pre- cipitantes da IR, é tempo de se iniciar o des- mame do aparelho. Tão importante quanto saber o momento de introduzir a ventilação mecânica é reconhecer a hora de retirá-la. Uma lista de parâmetros que orientam nes- se processo está relacionada na Tabela IV. É obrigatória a avaliação diária das condi- oãçpurretnIadossecuSedsovitacidnIsortemâraP-VIalebaT acinâceMoãçalitneVad sacinílCseõçidnoC-1 - edaçneserP evird oirótaripser - oirótafsitasaicnêicsnocedlevíN - acimânidomehedadilibatsE - sesodsaminímmesovitadessetnegaesavitaosavsagorD - socitilorteleordihsoibrútsidedaicnêsuA oãçanegixOedsortemâraP-2 - OaP 2 OiFmocgHmm06> 2 ≤≤≤≤≤ PEEPe4,0 ≤≤≤≤≤ Hmc5 2 O - OaPoãçaleR 2 OiF/ 2 gHmm002> - gHmm053aroirefni1=2OiFmoc2O)a-A(P - %02<tnuhS oãçalitneVedsortemâraP-3 - OCaP 2 ≤≤≤≤≤ serotneteraraplasaboaomixórprolav;gHmm54 .socinôrc - nim/l01-5<odireuqerotunimemuloV - amumeosuoperedotunimemulovorarbodededadicapaC amixám,airátnulovoãçalitnevedarbonam - gk/lm5>etnerrocemuloV - gk/lm51-01>lativedadicapaC - Hmc03-a02-<amixámairótaripsnioãsserP 2 O - airótaripseraicnêüqerF ≤ mpi52 - l/nim/i501<etnerrocemulov/airótaripseraicnêüqerfoãçaleR PÁDUA AI; ALVARES F & MARTINEZ JAB. Respiratory failure. Medicina, Ribeirão Preto, 36: 205-213, apr./dec. 2003. ABSTRACT - The Respiratory Failure concept deals with the presence of difficulties for the respiratory system to perform its most important function, to keep satisfactory gas exchanges. There are several causes of respiratory failure, with different clinical features. The diagnosis of respiratory failure depends on the analyses of oxygen and carbon dioxide levels in arterial blood samples. This article contains a general view about gas exchange physiology and its disorders, that are the basis for understanding the classification and mechanisms involved with the different types of Respiratory Failure. It is also emphasized general aspects dealing with therapeutic issues, such as oxygen-therapy and ventilatory support indications. UNITERMS - Respiratory Insufficiency. Pulmonar Gas Exchange. Respiration, Artificial. ções que permitam iniciar o desmame. Independente dos métodos que vierem a ser usados, a rigorosa su- pervisão do processo pelos elementos da equipe de saúde que acompanham o paciente é o elemento mais importante para o sucesso da empreitada.
  • 9. 213 Insuficiência respiratória BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA 1 - BERNARD GR; ARTIGAS A & BRIGHAM KL. The American- European Consensus Conference on ARDS. Definitions, mechanisms, relevant outcomes and clinical coordination. Am J Respir Crit Care Med 149: 818-824, 1994. 2 - BONEKAT HW. Non-invasive ventilation in neuromuscular disease. Crit Care Med 14: 755-797, 1998. 3 - EVANS TW. International consensus conferences in inten- sive care medicine: non-invasive positive pressure ventila- tion in acute respiratory failure. Intensive Care Med 27: 166-178, 2001. 4 - FISHMAN AP. Acute respiratory failurere. In: FISHMAN AP. Pulmonary diseases and disorders. Mc Graw-Hill, New York, V.3, p. 2185-2201, 1988. 5 - UBRAN A & TOBIN MJ. Monitoring during mechanical ventila- tion. Clin Chest Med.17: 453-474, 1996. 6 - MARTINEZ JAB & PADUA AI. Modos de assistência ventila- tória. Medicina, Ribeirão Preto 34:133-142, 2002. 7 - SCALAN CL & HEUER A. Gasoterapia medicinal. In: SCALAN CL; WILKINS RL & STOLLER JK. Fundamentos da terapia respiratória de Egan. Manole, São Paulo, p. 761-796, 2000. 8 - SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA. II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. J Pneumol. 26: 2000. 9 - TERRA FILHO J & SANTOS E FONSECA CMC. Insuficiência respiratória. Medicina, Ribeirão Preto. 25: 416-437, 1992. 10 - WEST JB. Fisiologia respiratória moderna. 3 a ed, Manole, São Paulo, 1990.