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DOGVILLE de   LARS VON TRIER Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197   F.A.U.T.L.
DOGVILLE é um filme de Lars Von Trier de 2003. O primeiro da trilogia "E.U.A. Terra de Oportunidades”, este filme conta a história de Grace, interpretada por Nicole Kidman, que chega por acaso a uma vila enquanto fugia. O filme retrata a sua estadia na vila de Dogville e a sua relação com a pequena comunidade. Passa-se durante a Grande Recessão Americana e Lars Von Trier explora a condição humana, os comportamentos humanos e as suas consequências. Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197    F.A.U.T.L.
Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197    F.A.U.T.L. O filme é composto por um prólogo e nove capítulos. Ao longo deste a existência de um relato de um narrador dá-nos um contexto das cenas. A ausência de pluralidade de diferentes espaços, interiores e exteriores, de deslocações temporais e geográficas, a partilha por todos os actores do mesmo “quase palco” e a simplicidade de caracterização traz-nos a influência teatral contudo, nunca confundido. A percepção que é uma peça cinematográfica é total.
Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197    F.A.U.T.L. A escolha de ausência de cenários e a existência de poucos elementos remete-nos a algumas dos pontos do DOGMA 95 que Lars Von Trier  iniciou. Os elementos presentes são apenas os essenciais para identificar cada espaço. Tudo o resto, nomeadamente os limites , são apenas marcados no chão.  Um exemplo é a Igreja que apenas tem os bancos, piano e o torre sineira.
[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197    F.A.U.T.L.
ESPAÇO ARQUITECTÓNICO LUZ LIMITE CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197    F.A.U.T.L.
LUZ Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197    F.A.U.T.L.
A luz é a única noção de tempo do espaço cinematográfico criado por Lars Von Trier. O tempo tem apenas duas opções;  dia e noite . Esta distinção é feita através do plano que vai mudando de cor. Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197    F.A.U.T.L.
“ Grace was just casting one more look at the figurines that she herself would’ve dismissed as tasteless a few days earlier. When she suddenly sensed what would best as been described as a tiny change of light over Dogville.” Após a chegada de Grace a Dogville, e depois de ser comunicado em assembleia paroquial da sua estadia ainda indefinida, os habitantes de Dogville estranham e desconfiam da sua presença na vila. A súbita mudança de luz sobre os habitantes de Dogville comunica a atenção que se deve dar ao comportamento destes. A sua desconfiança é focada e que depois será  importante na compreensão  do desenvolvimento do comportamento desta comunidade perante esta estranha, Grace.  Lars Van Trier “alerta” para o começo de uma transformação de comportamentos por parte do ser humano. Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197    F.A.U.T.L.
Esta luz alaranjada aparece unicamente neste momento do filme. Num diálogo entre Grace e mr. Mckay. Grace decide abrir a janela e confrontá-lo com a verdade que ele tenta esconder. Ele é cego. Ele acaba por permitir que se descubra e revela a sua situação. Este momento é significativo para o filme e para tal foi adoptada uma iluminação para a cena distinta dos outros momentos do dia em Dogville. Simboliza, no enredo, a aceitação de Grace pela comunidade, um momento humanamente íntimo, frágil. Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197    F.A.U.T.L.
O plano está vermelho. A comunidade de Dogville foi assassinada. A ausência dos elementos característicos do espaço (casas arderam), a luz fria vinda de cima e o plano a laranja (fogo) e depois a vermelho revela a primitividade desta cena. É revelado um extremo da condição humana. Tudo o que é preciso para a perceber está lá. O plano a vermelho é um acréscimo ao significado e emotividade do que o que o espectador já percebeu. Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197    F.A.U.T.L.
LIMITE Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197    F.A.U.T.L.
Ao longo do filme a falta de limites é sobreposta pelo contrário. O espectador vai compreendendo-os, deixa de ser apenas a marcação no chão para começar mentalmente a construir as paredes, os telhados, as janelas… Os sons das portas a bater, o contornar dos cantos, os diálogos pelas janelas, o abrir e fechar portas… Aos poucos a credibilidade do actor ao fazer com estas pequenas acções vai aumentando até que para o espectador já são imprescindíveis esses limites. Tom a sair de casa (abrir e fechar da porta) Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197    F.A.U.T.L. Grace a fechar da porta.
A existência de apenas elementos  essenciais para a identificação de espaços ou neste caso estação do ano é contínua. No Outuno a presença de folhas secas no chão nos limites e no Inverno a presença de neve em todo o espaço não coberto. Limites bem marcados como se os elementos construídos lá estivessem. Apesar de não aparecerem, a este ponto para o espectador existem e esta delimitação faz todo o sentido. Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197    F.A.U.T.L. Inverno Outono
A falta de paredes também nos permite perceber a interligação de todos os factos que se passam em Dogville. Nesta cena enquanto assistimos á cena principal percebemos que algo se passa na vila. Os vizinhos olham pela janela. Este tipo de relação de factos não era possível se as paredes estivessem erguidas, teria que haver uma escolha entre as duas acções. Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197    F.A.U.T.L.
CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197    F.A.U.T.L.
O personagem constrói  o espaço. O filme começa com uma grande simplicidade de espaço que até parece exagerada. Só estão marcados os limites do espaço privado/público e os elementos essenciais para se perceber onde estamos. A capela e os bancos da igreja, o balcão da loja da senhora Ginger, etc. A ideia do realizador não é tornar essencial essa falta de limites, tanto que os actores funcionam e fazem a cena com se os tivessem, fecham portas, contornam cantos entre outros.  Juntando uma veia teatral mas não se confundindo com o teatro, aqui, cabe á imaginação de cada um criar o espaço arquitectónico. Assim, a casa da Olivia, do Tom, da Vera e do Chuck são criado á medida que vamos conhecendo as personagens, as suas histórias e vamos construindo pouco a pouco uma imagem arquitectónica do espaço que é o seu espaço. Essa criação é condicionada pelas acções das personagens, pelas aparências, atitudes, feições, comportamentos. Por exemplo, apesar de se saber que a pobreza é geral na vila, a casa de Olivia, por mim, é imaginada como a mais pobre, ou a casa do senhor Mckay imaginada como sombria. Apesar da pequena introdução descritiva, a ausência de traços muito vincados  dá-nos a liberdade total. Todas as referências das personagens  a elementos invisíveis deixam-nos sonhar e inventar a descrição que está a ser feita. Aqui a arquitectura tem um papel muito libertador, como uma aceitação de uma realidade que como não vivida por nós (1930) é nos mais fácil imaginar sendo menos objectivo. Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197    F.A.U.T.L. Loja de Ginger e Gloria Casa de Olivia e June Casa de Jack Mckay
Cenas usadas: 2º grupo ESPAÇO ARQUITECTÓNICO: LUZ Dia – assembleia paroquial onde se vai decidir se Grace fica em Dogville ou não (00:52:58) Noite – Depois do jantar de dia 4 de julho (01:12:32) Plano alaranjado – Conversa de Grace com Mckay (00:48:40) Plano vermelho – assassinato de Tom (02:50:00) LIMITE Elementos invisíveis – Tom a abrir e fechar a porta (00:02:21) Elementos invisíveis – Grace a fechar a porta (00:37:32) Outono  - Tom visita Grace (02:06:17) Inverno – vista da vila (02:10:01) Sobreposição de duas acções – chegada da polícia á vila (01:32:00) CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO Casa da Olivia e da June – (00:02:24) Loja de Ginger e Gloria – (00:25:44) Casa de Jack Mckay – (00:25:19) Cinema e Vídeo   2009/2010 Carolina Costa #6197    F.A.U.T.L.
PERSONAGEM CONSTRÓI O ESPAÇO ESPAÇO CONSTRÓI A PERSONAGEM

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Dogville village exploration

  • 1. DOGVILLE de LARS VON TRIER Cinema e Vídeo 2009/2010 Carolina Costa #6197 F.A.U.T.L.
  • 2. DOGVILLE é um filme de Lars Von Trier de 2003. O primeiro da trilogia "E.U.A. Terra de Oportunidades”, este filme conta a história de Grace, interpretada por Nicole Kidman, que chega por acaso a uma vila enquanto fugia. O filme retrata a sua estadia na vila de Dogville e a sua relação com a pequena comunidade. Passa-se durante a Grande Recessão Americana e Lars Von Trier explora a condição humana, os comportamentos humanos e as suas consequências. Cinema e Vídeo 2009/2010 Carolina Costa #6197 F.A.U.T.L.
  • 3. Cinema e Vídeo 2009/2010 Carolina Costa #6197 F.A.U.T.L. O filme é composto por um prólogo e nove capítulos. Ao longo deste a existência de um relato de um narrador dá-nos um contexto das cenas. A ausência de pluralidade de diferentes espaços, interiores e exteriores, de deslocações temporais e geográficas, a partilha por todos os actores do mesmo “quase palco” e a simplicidade de caracterização traz-nos a influência teatral contudo, nunca confundido. A percepção que é uma peça cinematográfica é total.
  • 4. Cinema e Vídeo 2009/2010 Carolina Costa #6197 F.A.U.T.L. A escolha de ausência de cenários e a existência de poucos elementos remete-nos a algumas dos pontos do DOGMA 95 que Lars Von Trier iniciou. Os elementos presentes são apenas os essenciais para identificar cada espaço. Tudo o resto, nomeadamente os limites , são apenas marcados no chão. Um exemplo é a Igreja que apenas tem os bancos, piano e o torre sineira.
  • 5.
  • 6. ESPAÇO ARQUITECTÓNICO LUZ LIMITE CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO Cinema e Vídeo 2009/2010 Carolina Costa #6197 F.A.U.T.L.
  • 7. LUZ Cinema e Vídeo 2009/2010 Carolina Costa #6197 F.A.U.T.L.
  • 8. A luz é a única noção de tempo do espaço cinematográfico criado por Lars Von Trier. O tempo tem apenas duas opções; dia e noite . Esta distinção é feita através do plano que vai mudando de cor. Cinema e Vídeo 2009/2010 Carolina Costa #6197 F.A.U.T.L.
  • 9. “ Grace was just casting one more look at the figurines that she herself would’ve dismissed as tasteless a few days earlier. When she suddenly sensed what would best as been described as a tiny change of light over Dogville.” Após a chegada de Grace a Dogville, e depois de ser comunicado em assembleia paroquial da sua estadia ainda indefinida, os habitantes de Dogville estranham e desconfiam da sua presença na vila. A súbita mudança de luz sobre os habitantes de Dogville comunica a atenção que se deve dar ao comportamento destes. A sua desconfiança é focada e que depois será importante na compreensão do desenvolvimento do comportamento desta comunidade perante esta estranha, Grace. Lars Van Trier “alerta” para o começo de uma transformação de comportamentos por parte do ser humano. Cinema e Vídeo 2009/2010 Carolina Costa #6197 F.A.U.T.L.
  • 10. Esta luz alaranjada aparece unicamente neste momento do filme. Num diálogo entre Grace e mr. Mckay. Grace decide abrir a janela e confrontá-lo com a verdade que ele tenta esconder. Ele é cego. Ele acaba por permitir que se descubra e revela a sua situação. Este momento é significativo para o filme e para tal foi adoptada uma iluminação para a cena distinta dos outros momentos do dia em Dogville. Simboliza, no enredo, a aceitação de Grace pela comunidade, um momento humanamente íntimo, frágil. Cinema e Vídeo 2009/2010 Carolina Costa #6197 F.A.U.T.L.
  • 11. O plano está vermelho. A comunidade de Dogville foi assassinada. A ausência dos elementos característicos do espaço (casas arderam), a luz fria vinda de cima e o plano a laranja (fogo) e depois a vermelho revela a primitividade desta cena. É revelado um extremo da condição humana. Tudo o que é preciso para a perceber está lá. O plano a vermelho é um acréscimo ao significado e emotividade do que o que o espectador já percebeu. Cinema e Vídeo 2009/2010 Carolina Costa #6197 F.A.U.T.L.
  • 12. LIMITE Cinema e Vídeo 2009/2010 Carolina Costa #6197 F.A.U.T.L.
  • 13. Ao longo do filme a falta de limites é sobreposta pelo contrário. O espectador vai compreendendo-os, deixa de ser apenas a marcação no chão para começar mentalmente a construir as paredes, os telhados, as janelas… Os sons das portas a bater, o contornar dos cantos, os diálogos pelas janelas, o abrir e fechar portas… Aos poucos a credibilidade do actor ao fazer com estas pequenas acções vai aumentando até que para o espectador já são imprescindíveis esses limites. Tom a sair de casa (abrir e fechar da porta) Cinema e Vídeo 2009/2010 Carolina Costa #6197 F.A.U.T.L. Grace a fechar da porta.
  • 14. A existência de apenas elementos essenciais para a identificação de espaços ou neste caso estação do ano é contínua. No Outuno a presença de folhas secas no chão nos limites e no Inverno a presença de neve em todo o espaço não coberto. Limites bem marcados como se os elementos construídos lá estivessem. Apesar de não aparecerem, a este ponto para o espectador existem e esta delimitação faz todo o sentido. Cinema e Vídeo 2009/2010 Carolina Costa #6197 F.A.U.T.L. Inverno Outono
  • 15. A falta de paredes também nos permite perceber a interligação de todos os factos que se passam em Dogville. Nesta cena enquanto assistimos á cena principal percebemos que algo se passa na vila. Os vizinhos olham pela janela. Este tipo de relação de factos não era possível se as paredes estivessem erguidas, teria que haver uma escolha entre as duas acções. Cinema e Vídeo 2009/2010 Carolina Costa #6197 F.A.U.T.L.
  • 16. CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO Cinema e Vídeo 2009/2010 Carolina Costa #6197 F.A.U.T.L.
  • 17. O personagem constrói o espaço. O filme começa com uma grande simplicidade de espaço que até parece exagerada. Só estão marcados os limites do espaço privado/público e os elementos essenciais para se perceber onde estamos. A capela e os bancos da igreja, o balcão da loja da senhora Ginger, etc. A ideia do realizador não é tornar essencial essa falta de limites, tanto que os actores funcionam e fazem a cena com se os tivessem, fecham portas, contornam cantos entre outros. Juntando uma veia teatral mas não se confundindo com o teatro, aqui, cabe á imaginação de cada um criar o espaço arquitectónico. Assim, a casa da Olivia, do Tom, da Vera e do Chuck são criado á medida que vamos conhecendo as personagens, as suas histórias e vamos construindo pouco a pouco uma imagem arquitectónica do espaço que é o seu espaço. Essa criação é condicionada pelas acções das personagens, pelas aparências, atitudes, feições, comportamentos. Por exemplo, apesar de se saber que a pobreza é geral na vila, a casa de Olivia, por mim, é imaginada como a mais pobre, ou a casa do senhor Mckay imaginada como sombria. Apesar da pequena introdução descritiva, a ausência de traços muito vincados dá-nos a liberdade total. Todas as referências das personagens a elementos invisíveis deixam-nos sonhar e inventar a descrição que está a ser feita. Aqui a arquitectura tem um papel muito libertador, como uma aceitação de uma realidade que como não vivida por nós (1930) é nos mais fácil imaginar sendo menos objectivo. Cinema e Vídeo 2009/2010 Carolina Costa #6197 F.A.U.T.L. Loja de Ginger e Gloria Casa de Olivia e June Casa de Jack Mckay
  • 18. Cenas usadas: 2º grupo ESPAÇO ARQUITECTÓNICO: LUZ Dia – assembleia paroquial onde se vai decidir se Grace fica em Dogville ou não (00:52:58) Noite – Depois do jantar de dia 4 de julho (01:12:32) Plano alaranjado – Conversa de Grace com Mckay (00:48:40) Plano vermelho – assassinato de Tom (02:50:00) LIMITE Elementos invisíveis – Tom a abrir e fechar a porta (00:02:21) Elementos invisíveis – Grace a fechar a porta (00:37:32) Outono - Tom visita Grace (02:06:17) Inverno – vista da vila (02:10:01) Sobreposição de duas acções – chegada da polícia á vila (01:32:00) CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO Casa da Olivia e da June – (00:02:24) Loja de Ginger e Gloria – (00:25:44) Casa de Jack Mckay – (00:25:19) Cinema e Vídeo 2009/2010 Carolina Costa #6197 F.A.U.T.L.
  • 19. PERSONAGEM CONSTRÓI O ESPAÇO ESPAÇO CONSTRÓI A PERSONAGEM