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Tipos de Estudos Científicos e
Níveis de Evidência
Francisco Batel Marques, PhD
Professor, School of Pharmacy, University of Coimbra
Director,
CHAD – Centro de Avaliação de Tecnologias em Saúde
e Investigação do Medicamento
AIBILI – Associação para Investigação Biomédica e
Inovação em Luz e Imagem
• Em saúde somos chamados a fazer
julgamentos sobre:
– Se uma exposição causa uma doença
– Se uma intervenção é eficaz/segura numa determinada indicação
terapêutica
Tipos de estudos e níveis de evidência
• Sir Austin Bradford Hill* publica, em 1965, um
conjunto de critérios que poderiam ser usados
para avaliar se uma associação poderia ser
considerada como causal.
Hill AB, The environment and disease: association or causation ?
Proc Royal Soc Med 1965 May; 58: 295-300
Tipos de estudos e níveis de evidência
Os nove critérios de Bradford-Hill
• Força (RR, OR)
• Consistência (observação em diferentes ocasiões)
• Especificidade
• Temporalidade (causa precede a consequência)
• Gradiente biológico (relação dose-resposta)
• Plausabilidade (consistente com evidência biológica)
• Coerência
• Evidência experimental
• Analogia (considerar explicação alternativa)
Tipos de estudos e níveis de evidência
• Na realidade, o que normalmente queremos
significar por “causalidade” é um “aumento de
probabilidade”.
• O problema mais importante deste aumento
de probabilidade reside na sua inferência:
– Da população para o individuo, e
– Do indivíduo para a população
Tipos de estudos e níveis de evidência
Modelos de estudo, validade interna
e hierarquização da prova
• O modo de questionar associações e
relações causais pode ser colocado de várias
maneiras. Por exemplo:
– Conhecer as determinantes da doença
– Antecipar o prognóstico da doença
– Questionar a mais-valia terapêutica de um procedimento
– Avaliar a eficácia de um medicamento
– Associar prognóstico à acção terapêutica
Modelos de estudo, validade interna e
hierarquização da prova
• A avaliação da existência ou não de associação
e de relação causal, deve compreender dois
aspectos fundamentais:
– Identificação do efeito
– Quantificação do efeito
Modelos de estudo, validade interna e
hierarquização da prova
• Estudos sem grupo controlo
– Estudos de casos individuais ou de conjuntos de
casos individuais
• Estudos com grupo controlo
Modelos de estudo
Modelos de estudo
Tipos de
estudos
SEM grupo
controlo
COM grupo
controlo
Caso
Séries de casos
S/Aleatorização
Aleatorização
Caso-controlo
Coorte
Ensaio clínico
Ensaio comunitário
• Estudo de casos individuais ou de conjuntos de casos individuais
– Forma mais simples de responsabilizar uma exposição como
factor de risco
– Podem ser passíveis de validação com recurso aos critérios de
Bradford-Hill, mas:
• Podem não representar a maioria dos indivíduos
em circunstâncias análogas
• Podem modificar comportamentos devido à
atenção do investigador (efeito de Hawthorne)
Estudo de casos individuais ou de
conjuntos de casos individuais
• Estudos com grupo controlo
– Permitem uma comparação directa e objectiva entre o grupo em
estudo e um outro grupo que não possuirá as mesmas características
em apreciação (ex: exposto/não exposto ao medicamento em estudo).
– Esta distinção é fundamental para a detecção e quantificação das
variáveis em estudo.
– A validade é tanto maior quanto mais “potente” for o controlo dos
viéses.
Estudos com grupo controlo
• Dois tipos fundamentais
– A variável em estudo é introduzida (idealmente de forma
aleatorizada) pelo investigador: São estudos experimentais:
ensaio clínico.
– O investigador limita-se a observar a evolução da variável em
estudo. São estudos observacionais: coorte e casos e controlos.
Estudos com grupo controlo
• Estudos experimentais (ensaios clínicos)
– Características fundamentais
• Selecção da amostra a partir de uma população
• Critérios de inclusão e de exclusão rígidos
• Definição estrita das diferenças que se pretendem detectar
• Definição da aceitação do erro
– tipo I – probabilidade de rejeitar a hipótese nula quando ela é verdadeira
– tipo II – probabilidade de confirmar a hipótese nula quando ela é falsa)
• Cálculo da dimensão amostral
• Distribuição aleatória dos participantes por grupos
• Possibilidade de ocultação da exposição
Estudos com grupo controlo
• Alocação causal e probabilística com vista à homogeneização dos
grupos
– Cada participante tem a mesma probabilidade de integrar cada um dos
grupos formados
– Comparabilidade entre grupos
– Vantagem dos estudos experimentais sobre os estudos observacionais:
igualando os grupos, as diferenças observadas ficar-se-ão a dever à
intervenção (fármaco em estudo)
– Permite um adequado tratamento estatístico
Aleatorização: peça nuclear dos RCTs
• Estudos observacionais
– Estudos de metodologia de coorte
– Prospectivos e retrospectivos
– A causa precede o efeito
– Partem da identificação da presença ou da ausência de exposição ao
factor de risco em causa
• Estudos de metodologia de casos e
controlos
– Retrospectivos
– O efeito precede a causa
Estudos com grupo controlo
• Coorte
– Permitem avaliar incidência
– Acompanhamento com supervisão
– Muito caros
– Necessidade de grandes efectivos populacionais
– Obrigam a grandes horizontes temporais, particularmente para
investigar causalidade com grandes tempos de latência
• Casos e controlos
– Permitem estudar acontecimentos raros
– Mais baratos
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– Efectivos populacionais mais reduzidos
Estudos observacionais
• Metodologia de coorte
– Selecção
• Erro sistemático que resulta em coortes não comparáveis
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• Variável que não está incluída na cascata de causalidade, mas que se encontra
relacionada com a associação entre a exposição e o efeito
• Metodologia de casos e controlos
– Selecção
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• Informação a pesquisar, normalmente mais presente e correcta nos casos do
que nos controlos
– Factores de confusão
Estudos observacionais – vieses
• O facto de os estudos pesquisarem uma
associação entre duas variáveis dicotómicas –
exposição e efeito – permite que possam ser
colocadas numa tabela binária 2 x 2.
Indicadores gerais de resultado
• Num ensaio clínico ou num estudo de coorte, a incidência entre os
indivíduos expostos é de a/(a+b); a incidência entre os indivíduos não
expostos é de c/(c+d). O risco relativo (RR) é a/(a+b) / c/(c+d).
• Num estudo de casos e controlos, uma vez que não temos taxas de
incidência (partimos da doença e não da exposição) recorre-se a uma
estimativa do RR: a razão de Odds (odds ratio) OR que se calcula
a*c/b*d.
Indicadores gerais de resultado
Efeito + Efeito - Total
Exposição + a b a +b
Exposição - c d c + d
Total a + c b + d
Tabela binária para cálculo da associação entre exposição e efeito
• Da menor para a maior robustez:
– Sem controlo
– Com controlo não experimental
– Com controlo experimental
Hierarquização da robustez do nível de
evidência científica
• Caso
• Séries de casos
• Estudo caso-controlo
• Estudo de coorte
• Estudo de intervenção comunitária
• Ensaio clínico
• Meta-análise de ensaios clínicos
Hierarquização da robustez do nível de
evidência científica
Classificação de Oxford Centre for Evidence-Based Medicine
Níveis de evidência científica
Nível de evidência Tipo e qualidade do estudo
1A
1B
RS/Meta-análise de RCTs
RCT individual com IC-95% estreito
2A
2B
2C
3A
3B
RS de estudos de Coorte
Estudo de coorte
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Outcomes research
Estudos ecológicos
RS de estudos de caso-controlo
Estudo individual de caso-controlo
4 Série de casos
Estudos de Coorte e de caso-controlo de baixa qualidade
5 Opinião de peritos
“a randomised controlled trial (RCT) is one of the simplest, most
powerful and revolutionary tools of research”
Alejandro Jadad
Director, McMaster Evidence Based Practice
Co-Director, Canadian Cochrane Network
McMaster University, Hamilton, Canada
Tipos de estudos cientificos e niveis de evidencia

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  • 1. Tipos de Estudos Científicos e Níveis de Evidência Francisco Batel Marques, PhD Professor, School of Pharmacy, University of Coimbra Director, CHAD – Centro de Avaliação de Tecnologias em Saúde e Investigação do Medicamento AIBILI – Associação para Investigação Biomédica e Inovação em Luz e Imagem
  • 2. • Em saúde somos chamados a fazer julgamentos sobre: – Se uma exposição causa uma doença – Se uma intervenção é eficaz/segura numa determinada indicação terapêutica Tipos de estudos e níveis de evidência
  • 3. • Sir Austin Bradford Hill* publica, em 1965, um conjunto de critérios que poderiam ser usados para avaliar se uma associação poderia ser considerada como causal. Hill AB, The environment and disease: association or causation ? Proc Royal Soc Med 1965 May; 58: 295-300 Tipos de estudos e níveis de evidência
  • 4. Os nove critérios de Bradford-Hill • Força (RR, OR) • Consistência (observação em diferentes ocasiões) • Especificidade • Temporalidade (causa precede a consequência) • Gradiente biológico (relação dose-resposta) • Plausabilidade (consistente com evidência biológica) • Coerência • Evidência experimental • Analogia (considerar explicação alternativa) Tipos de estudos e níveis de evidência
  • 5. • Na realidade, o que normalmente queremos significar por “causalidade” é um “aumento de probabilidade”. • O problema mais importante deste aumento de probabilidade reside na sua inferência: – Da população para o individuo, e – Do indivíduo para a população Tipos de estudos e níveis de evidência
  • 6. Modelos de estudo, validade interna e hierarquização da prova
  • 7. • O modo de questionar associações e relações causais pode ser colocado de várias maneiras. Por exemplo: – Conhecer as determinantes da doença – Antecipar o prognóstico da doença – Questionar a mais-valia terapêutica de um procedimento – Avaliar a eficácia de um medicamento – Associar prognóstico à acção terapêutica Modelos de estudo, validade interna e hierarquização da prova
  • 8. • A avaliação da existência ou não de associação e de relação causal, deve compreender dois aspectos fundamentais: – Identificação do efeito – Quantificação do efeito Modelos de estudo, validade interna e hierarquização da prova
  • 9. • Estudos sem grupo controlo – Estudos de casos individuais ou de conjuntos de casos individuais • Estudos com grupo controlo Modelos de estudo
  • 10. Modelos de estudo Tipos de estudos SEM grupo controlo COM grupo controlo Caso Séries de casos S/Aleatorização Aleatorização Caso-controlo Coorte Ensaio clínico Ensaio comunitário
  • 11. • Estudo de casos individuais ou de conjuntos de casos individuais – Forma mais simples de responsabilizar uma exposição como factor de risco – Podem ser passíveis de validação com recurso aos critérios de Bradford-Hill, mas: • Podem não representar a maioria dos indivíduos em circunstâncias análogas • Podem modificar comportamentos devido à atenção do investigador (efeito de Hawthorne) Estudo de casos individuais ou de conjuntos de casos individuais
  • 12. • Estudos com grupo controlo – Permitem uma comparação directa e objectiva entre o grupo em estudo e um outro grupo que não possuirá as mesmas características em apreciação (ex: exposto/não exposto ao medicamento em estudo). – Esta distinção é fundamental para a detecção e quantificação das variáveis em estudo. – A validade é tanto maior quanto mais “potente” for o controlo dos viéses. Estudos com grupo controlo
  • 13. • Dois tipos fundamentais – A variável em estudo é introduzida (idealmente de forma aleatorizada) pelo investigador: São estudos experimentais: ensaio clínico. – O investigador limita-se a observar a evolução da variável em estudo. São estudos observacionais: coorte e casos e controlos. Estudos com grupo controlo
  • 14. • Estudos experimentais (ensaios clínicos) – Características fundamentais • Selecção da amostra a partir de uma população • Critérios de inclusão e de exclusão rígidos • Definição estrita das diferenças que se pretendem detectar • Definição da aceitação do erro – tipo I – probabilidade de rejeitar a hipótese nula quando ela é verdadeira – tipo II – probabilidade de confirmar a hipótese nula quando ela é falsa) • Cálculo da dimensão amostral • Distribuição aleatória dos participantes por grupos • Possibilidade de ocultação da exposição Estudos com grupo controlo
  • 15. • Alocação causal e probabilística com vista à homogeneização dos grupos – Cada participante tem a mesma probabilidade de integrar cada um dos grupos formados – Comparabilidade entre grupos – Vantagem dos estudos experimentais sobre os estudos observacionais: igualando os grupos, as diferenças observadas ficar-se-ão a dever à intervenção (fármaco em estudo) – Permite um adequado tratamento estatístico Aleatorização: peça nuclear dos RCTs
  • 16. • Estudos observacionais – Estudos de metodologia de coorte – Prospectivos e retrospectivos – A causa precede o efeito – Partem da identificação da presença ou da ausência de exposição ao factor de risco em causa • Estudos de metodologia de casos e controlos – Retrospectivos – O efeito precede a causa Estudos com grupo controlo
  • 17. • Coorte – Permitem avaliar incidência – Acompanhamento com supervisão – Muito caros – Necessidade de grandes efectivos populacionais – Obrigam a grandes horizontes temporais, particularmente para investigar causalidade com grandes tempos de latência • Casos e controlos – Permitem estudar acontecimentos raros – Mais baratos – Mais rápidos – Efectivos populacionais mais reduzidos Estudos observacionais
  • 18. • Metodologia de coorte – Selecção • Erro sistemático que resulta em coortes não comparáveis – Migração • Taxa de erosão – Observação • Inclusão de aspectos de valorização pessoal – Factores de confusão • Variável que não está incluída na cascata de causalidade, mas que se encontra relacionada com a associação entre a exposição e o efeito • Metodologia de casos e controlos – Selecção – Informação (memória) • Informação a pesquisar, normalmente mais presente e correcta nos casos do que nos controlos – Factores de confusão Estudos observacionais – vieses
  • 19. • O facto de os estudos pesquisarem uma associação entre duas variáveis dicotómicas – exposição e efeito – permite que possam ser colocadas numa tabela binária 2 x 2. Indicadores gerais de resultado
  • 20. • Num ensaio clínico ou num estudo de coorte, a incidência entre os indivíduos expostos é de a/(a+b); a incidência entre os indivíduos não expostos é de c/(c+d). O risco relativo (RR) é a/(a+b) / c/(c+d). • Num estudo de casos e controlos, uma vez que não temos taxas de incidência (partimos da doença e não da exposição) recorre-se a uma estimativa do RR: a razão de Odds (odds ratio) OR que se calcula a*c/b*d. Indicadores gerais de resultado Efeito + Efeito - Total Exposição + a b a +b Exposição - c d c + d Total a + c b + d Tabela binária para cálculo da associação entre exposição e efeito
  • 21. • Da menor para a maior robustez: – Sem controlo – Com controlo não experimental – Com controlo experimental Hierarquização da robustez do nível de evidência científica
  • 22. • Caso • Séries de casos • Estudo caso-controlo • Estudo de coorte • Estudo de intervenção comunitária • Ensaio clínico • Meta-análise de ensaios clínicos Hierarquização da robustez do nível de evidência científica
  • 23. Classificação de Oxford Centre for Evidence-Based Medicine Níveis de evidência científica Nível de evidência Tipo e qualidade do estudo 1A 1B RS/Meta-análise de RCTs RCT individual com IC-95% estreito 2A 2B 2C 3A 3B RS de estudos de Coorte Estudo de coorte RCT de baixa qualidade Outcomes research Estudos ecológicos RS de estudos de caso-controlo Estudo individual de caso-controlo 4 Série de casos Estudos de Coorte e de caso-controlo de baixa qualidade 5 Opinião de peritos
  • 24.
  • 25.
  • 26.
  • 27.
  • 28.
  • 29.
  • 30. “a randomised controlled trial (RCT) is one of the simplest, most powerful and revolutionary tools of research” Alejandro Jadad Director, McMaster Evidence Based Practice Co-Director, Canadian Cochrane Network McMaster University, Hamilton, Canada