SlideShare a Scribd company logo
1 of 233
Download to read offline
Jorge H. Barro
Prefácio de
Dr. Charles Van fíngen
...EM
CIDADE
Elementos para uma teologia bíblica
de missão urbana em Lucas Atos
Jorge Henrique Barro
Prefácio de
Dr. Charles Van Engen
Elementos para uma teologia bíblica de
missão urbana em Lucas ‫־‬ Atos
Ι ύΙι.ι ι,ιι,ιΐη■■!jin ,1 dalμirada por Solange Λρ. !·crrcira, C RB 9/1141,
w n o , Jorge I Icnricptc
1V v1*1.141,‫׳‬ cm cnladc / |<>rgc 1Icnrugic Barro; tradução rlc Cesar
Manpies I ope*.--. Londrina ; Dcscoberla, 2006.
‫זי‬p
IS B N 85 871 4354-9
I lentogia p.0 10 1 al ‫־‬ missão urbana 2. Missão urbana I. Título.
C D D 253-091732 (21 cd.)
/■‫׳‬ edição: 2002
2* edição revisada: abril / 2006
Coordenarão de produção: Eduardo Pelliilier e ILint Vdo Euelrs
Capa: ldmirda Pellistier
Diagramação: Descoberta Design
Tradução: Citar Marques l.opes
Revisão: r.nio Caldeira Pinto
Lotnlilos: ííxodo Fotolitos l.lda
impressão: í !'ráftea Hetáuia
‫ךי!יי‬‫ן‬7‫ן‬
todos osdireitos emlinguaportuguesa rrtervadoSpor
Descoberta Editora Ltda
Rua Libero Badaró. 142 - Nova Londres
Londrina/I’R 86015-570
Tel/fax; (43) 3343 0077
Endereço eletrônico: cditora^dcscolicria.coin.br
l’ágin.1 na internet: www.dcscoberta.com.br
Editora lilt.ula à
rÃ7‫*׳‬t -»'«' *OLf CA
i t t í -ΛnO
f» m
editores ■pcristão s
AfíEC - Associando fírasdeira dt !■elitoret Cristão!
"Andava Jesus de cidade em cidade e de aldeia
em aldeia, pregando e anunciando 0 evangelho
do Reino de Dens’.
Lucas 8:1
D edicatória
Da mesma forma ηtie Lucas escreveu
dois volumes para Teóftlo, para que pudesse
ter certezíts das verdades que fora instruído,
eu dedico este trabalho aos meus dois
filhos,Pedro Henrique e João Filipe, para que
também possam saber como seguir Jesus como
discípulos Jiéis.
Sumário
Prefácio - Or. Charles Van Fngen .......................................... 1 1
I n t r o d u ç ã o . ................................................................................17
1. O m étod o da teologia de m issão de lu cas.........19
Narrativa................................................................................ 2 2
A praxis de Jesus .................... .............................................24
A experiência da comunidade de Jesus ............................. 25
Querigma e fé ........................................................................26
2. M issio Dei: D eus continua a trazer salvação
para o seu povo (o nascimento da salvação)............................3 1
A salvação universal ............................................................. 33
Continuidade com Israel .....................................................36
3. M issio Christi: D eus traz a salvação através de
Jesus (o desenvolvim ento da salvação)..................... ......... 37
Estatísticas a respeito do termo “cidade”......................................37
Eventos em Jerusalém precedentes à missão de Jesus........... 41
A narrativa da infância ...................................................................42
A tentação de Jesus ...........................................................................43
A missão de Jesus nas cidades .......................................................46
A missão de Jesus nas cidades da Galiléia .................................. 46
A missão de Jesus na jornada para Jerusalém ............................. 67
A missão de Jesus em Jerusalém.....................................................75
A missão de Jesus através do arrependimento c do perdão .......87
Um amigo dos enfermos ................................................................ 87
Um amigo dos pecadores ..................................................................90
4. M issio S p irit11 Stun ti: o Espírito Souto
comissiono o povo dc Deus o proclom or o
solvoçõo (o olconce fio solvoção) ...................................95
Λ lórimtlu cristológna.................................. 96
0 .111.uh«' crhiolopcu ....................................................................100
Λ missão <1.1 igreja cm Jerusalém....................................................100
1 > n.1Minientn da »{;reja ................................................................104
O crescimento <1.1 igreja ............................................................ 107
Λ expando da igreja........................................................................112
Λ missão <1.1 igreja na judeia c em Samaria.................................. 120
A missão <1.1igreja ate1a<!s confins da terra......................................127
A missão <1.1igreja em Antioquia da Síria.............. .........................128
Icstrmunho contextuaiizado, centrado na
proclamarão do “Senhor Jesus".......................................................131
Icstcmunlio sacrificial abnegado.......................... 132
5. Os pobres em Lucos-Âtos...................................................15 I
Os pobres no evangelho............................ 155
Os pobres na narrativa da infância.................................................155
Os pobres no ministério de João Batista......................................... 157
Os pobres no episódio cm Nazaré..................................................157
Os pobres no Sermão da Montanha:
bem-aventuranças c ais....................................................................159
Os pobres na resposta de Jesus aos
mensageiros de João Batista..................................................... 160
Os pobres na parábola do grande banquete.................................. 161
Os pobres na parábola do rico e do mendigo................................. 161
Os pobres nas palavras ao jovem rico......................................... ....162
Os pobres na conversão de Zaqucu, o publicano...........................164
Os pobres no episódio do rico e da viúva.......................................164
Os pobres ern Atos...................................... 165
lixem[ilos bem-sucedidos da Igreja Primitiva................................166
[,xemplos mal*sucedidos na Igreja Primitiva................................ 171
Discipulado e pobreza voluntária.................................................175
O chamado de Siinãu...................................................................... 175
() chamado de l,cvi..........................................................................176
A missão dos doze............................................................................177
A missão dos setenta c dois.............................................................178
Conclusões.......... ............................................................................. 179
O lugar privilegiado dos pobres.....................................................180
Pobreza voluntária como um
método de discipulado.....................................................................181
6. Pcrsonagens-tipo cm Lucas-Atos.......................................185
Missão para os cativos.................................................. . 1 9 2 .,.‫״״‬
Missão para os machucados....................................... 193
Missão para os cegos........................................... 194
Missão para os surdo-mudos..........................................................196
Missão para os coxos...................................................................... 196
Missão para os leprosos...................................................................197
Missão para os aleijados .............................................................198
Missão para os mortos.................................................................... 199
Missão para os pobres.................................................................... 201
7. Reco) undaçõeí.........................................................................205
Relacionamento equilibrado entre missão.
Bíblia e contexto ..........................................................................206
Desenvolvendo uma missiologia trinitária..................................... 209
Missio Dei ......................................................................................210
Missio Christ!..................................................................................21 I
Missio Spiritu Sancti...................................................................... 21 1
Desenvolvendo componentes essenciais da
teologia da missão para a cidade................................................... 212
A autoridade: comissão c capacitação .................. 213
O poder: o Espírito Santo.................................. 213
O conteúdo: a proclamação do Reino de Deus.............................214
(‫ל‬ púbíico-alvo: a periferia e os outros..........................................21 5
A estratégia: equipes de trabalho............. ..................................... 216
0 caminho: contexiuulização.................................. 216
1 azer missão em centros urbanos estratégicos............... 220
Lembrar dos pobres urbanos.......................................................222
Uma nova visão............................................................ ...224
Uma nova forma tic fraternidade.................................... 224
Uma nova al1<!nla|‫׳‬,cm......................................... 225
Bibliografia ..........................................................................227
Prefácio
Nosso mundo c um crescente mundo urbano. Isso c
uma verdade na América Latina. Alguns pesquisadores
calculam que dentro dos próximos dez anos cerca tie três-
quartos dc todos os latinos americanos viverão nas ou perto
das cidades. Nesse livro. Barro cita fontes onde a estimativa
para os próximos dez anos é que 86% da população do Brasil
morarão em cidades. Essa realidade nos chama para o
desenvolvimento de uma nova reflexão c ação teológica,
missiológica c pastoral em nossas cidades.
Quando passamos na missão da igreja nas cidades da
América Latina, ficamos impressionados pela necessidade de
uma nova conceitua!idade c novas abordagens. Nestes últimos
vinte anos, uma quantidade significantc dc literatura foi escrita
por esses que refletem a questão da missão urbana. Ainda
assim, parece que especialmente em missiologia urbana pessoas
têm dificuldade em lidar com o sistema inteiro da cidade. Por
um lado, há alguns envolvidos em micro-ministcrio que tratam
dos indivíduos c as necessidades deles na cidade - mas eles
freqüentemcntc se desgastam com suas tarefas, em parte
porque não estão lidando com o sistema inteiro.
Por outro lado, I1.Í aqueles que gastam muita energia
fazendo macro-estudosein sociologia, antropologia, economia,
etnicidade, política, história e religião na cidade ‫־‬ mas
raramente parecem chegar ao nível das ruas e das pessoas das
cidades. Suas recomendações para ações concretas parecem
fracas, e o seu ativismo torna-se entorpecido pela extensão da
investigação.
Outros autores que escrevem sobre a missão da igreja
na cidade parecem se prender a uma ou outra agenda. E cada
agenda e insufle iente por si só. Por exemplo, a teoria e prática
de organização de comunidade parece precisar de reflexão c
interação mais profunda com a igreja na cidade. Por outro
lado, muitos esforços de evangelismo de massa na cidade
estiveram cegos às questões sistêmicas da cidade e raramente
buscaram uma transformação mais radical c holística das
cidades onde os em preendim entos evangelísticos
aconteceram. E, embora haja um crescente interesse para
plantar e cultivar igrejas na cidade, muito pouco desses têm
qualquer intenção missional para ser os agentes de Deus para
transformar a própria cidade.
Geralmente, parecem existir duas abordagens diferentes
para a cidade. Em um extremo, nós temos muitas agências de
serviço social que proveem ajuda a pessoas com pouca
consideração para os sistemas da cidade, ou com interesse cm
aglomerar pessoas para formar uma congregação (igreja). Do
outro lado, parecem estar muitos esforços evangelísticos,
esforços para plantar igrejas que não parecem lidar com a
extensão inteirado mal na cidade. Muito freqüentemente nós
vemos ativistas que raramente param para fazer e aprofundar
suas reflexões e pesquisadores que refletem, mas não se movem
para fazer algo concreto para mudar a realidade das cidades
que eles estudam. Enquanto isso, as igrejas na cidade
continuam lutando para achar como ser as comunidades de
fé missionárias viáveis na cidade. Para as igrejas, vida e
ministério na cidade significa viver em meio a tensões
profundas.
A igreja não é uma agência social, mas é significação
social na cidade. A igreja não é o governo da cidade, mas
Deus chamou-a para anunciar e viver o reino d‘Ele em toda
sua significação política. A igreja não é um banco, mas é uma
força econômica na cidade c precisa buscar o bem-estar
econômico da cidade. A igreja não é uma escola, mas Deus
chamou-a para educar as pessoas da cidade quanto ao
evangelho de amor, justiça e transformação social: pessoal e
estruturalmcnte. A igreja não é uma família, mas é a família
de Deus, chamada para ser vizinho aqueles que Deus ama. A
igreja não é um edifício, mas precisa c possui edifícios para
levar a cabo seu ministério. A igreja não é exclusiva, não é
melhor, não é especial, mas Deus a chamou especialmente
para ser diferente no modo que serve a cidade. A igreja não é
uma instituição, mas necessita de estruturas institucionais para
efetuar mudanças nas vidas das pessoas e da sociedade na
cidade. A igreja não é uma organização desenvolvimento de
comunidades, mas o desenvolvimento da comunidade é
essencial à natureza da igreja.
Assim é evidente que precisamos procurar uma teologia
de missão que possa nos dar modos novos para perceber nossa
cidade, embasar nosso ativismo, guiar nossas conexões, c
energizar esperança nova pela transformação de nossa cidade.
Este trabalho de Jorge Barro responde às inquietações
representadas pela situação descrita acima. Originalmente
uma dissertação de Ph.D., este trabalho é mais simples de um
exército acadêmico. Vindo de sua própria experiência pastoral
e missional, c motivado por seu amor apaixonado pelas pessoas
e pela cidade que influenciarem seu estudo, Barro nos
desenhou um retrato profundo, desafiador, claro e cheio
de esperança da missão na igreja da cidade. Tendo se
imergido na visão, metodológica e visão mundial de Lucas-
Atos, Barro nos mostra uma coleção de insight que o Lucas
bíblico podería nos oferecer se ele caminhasse pelas calçadas
de nossas cidades hoje.
Este livro desafia o leitor a buscar novas estratégias à
missão da igreja na cidade. Barro chama (‫י‬ leitor à rc-conceituar
quatro aspectos da missão da igreja na cidade:
‫־‬ Uma perspectiva nova da própria cidade como um
contexto novo e sem igual de missão;
‫־‬ Uma perspectiva nova da igreja c uma procura para
formas novas de ser igreja na cidade;
- Uma compreensão nova de missão como a atividade
do 1)eus triúno na cidade; e;
- Um envolvimento novo em ortopraxis como um
processo de reflexão-ação-retlexão-ação na cidade.
Barro conduz o leitor ao mundo de Lucas-Atos levando-
0 a descobrir a analise social e método missiológico de I.ucas,
descobrimos a perspectiva trinitária de Lucas da missão de
Deus, missão de Jesus, o Cristo, e a missão do Espírito Santo.
1ucas apresenta Deus interessado nos pobres tanto como
sendo recipiente como agentes da missão de Deus. Barro
entrelaçado estes temas em uma tapeçaria bonita na qual
podemos ver as faces das pessoas, as quais ele chamou tipos
característicos de missão cm Lucas-Atos. Emergindo desta
análise, Barro então aponta ao leitor o que considera ser o
componente fundamental de uma missão urbana hoje cm
relação a autoridade, poder, conteúdo, audiência, estratégia
c contextualização. A igreja de Jesus Cristo é chamada para
ser, saber, fazer e ajudar a experimentar amor, justiça e
misericórdia na cidade.
Este livro é um dos poucos trabalhos que eu conheço
que atravessa as distinções e contradições que esbocei no
começo desse Prefácio. O ponto de vista de Barro envolve
tanto o micro-nívcl de pessoas como o macro-ntvcl de
estruturas. Ele une a necessidade de té pessoal c renovação
com o desafio da mudança estrutural e sistêmica. Chama o
leitor à reflexão profunda na missão de D eus e
simultaneamente nos desafia à ação intencional, unida c
concreta. Entende que missão na cidade deve ser a ação
trinitária salvífica de Deus c ao mesmo tempo demonstra que
tal ação é concretizada pela vida c ação da igreja na cidade.
Clama por uma compaixão pelo pobre que também provoque
mudança sistêmica na cidade.
O autor deste livro resume bem a contribuição dele do
modo seguinte: - "A teologia de missão de l.ucas nos ajuda a
desenvolver uma relação equilibrada entre missão, Bíblia e
contexto. A Bíblia é o conteúdo, o contexto é a nossa arena e
a missão é o que nós fazemos em nosso contexto, ancorados e
estimulados pela Bíblia... O desafio da igreja para fazer missão
11a cidade... é o desafio de lazer missão como resposta à
realidade das cidades. Não há mais nenhum lugar para copiar,
imitar e importar métodos estrangeiros de missão... A Bíblia
deve ser lida e interpretada no contexto particular no qual a
igreja está situada. Deus chama a igreja a este contexto
particular como um instrum ento da graça e salvação,
desenvolvimento e fazendo missão como processo criativo e
de transformação” (Charles VAN NGEN e Jude IIERSMA
(eds.) God So Loves the City: Seeking a Theology for Urban
Mission. Monrovia: MARC, 1997, pp. 296-297; 312*313).
Barro conclui com três desafios que a igreja enfrenta em
missão arbana hoje no Brasil: um novo modo de ver, novos c
formas de fraternidade e um modo novo de interpretar a cidade.
Sei que os leitores desse livro serão estimulados,
desafiados, encorajados e motivados por aquilo que ele está
escrevendo. Compartilho a visão c preocupação do Jorge. O
trabalho dele me moveu a orar para que nosso gracioso Senhor
Jesus, em cuja missão nós participamos, possa conceder a cada
ti‫ווו‬ de nós a sabedoria, perspicácia e coragem que nós
precisamos para desenvolver uma nova reflexão teológica,
missiológica c pastoral e agir como igreja de Cristo em missão
em um mundo crescentemente urbano.
Charles Van Engen
Introdução
De cidade em cidade e parte da minha tese de douto-
rado do FullerTheological Seminary. Após muitas tentativas
(várias frustradas) de escolher um tema para minha pesquisa,
meu mentor, Dr. Charles Van Engen, veio com uma idéia:
estudar a teologia de missão urbana cm Lucas-Atos. Achei a
idéia fascinante e encorajadora, podendo contar com sua aju-
da no desenvolvimento do tema.
Quanto mais estudava tanto mais convicto ficava em
relação à importância do tema. Ficava também mais apaixo-
nado por este teólogo da missão, I.ucas, quede forma organi-
/ada nos mostra o desenvolvimento do ministério de Jesus c
da Igreja Primitiva.
A cidade ocupa um lugar privilegiado cm sua narrativa
c, logo no início, nos mostra uma afirmação de Jesus, que
revela uni dos propósitos pelos quais ele foi enviado pelo Pai:
Ί . necessário que eu anuncie o evangelho do Reino de Deus
também às outras cidades, pois para isto é que eu fui envia-
do” (Lc 4.43). Isso nos revela cinco verdades relacionadas ao
I.vangelho:
1. A importância·, c necessário
2. O agente c seu método·, que eu anuncie
3. O conteúdo: o evangelho do Reino de Deus
4. Ü contexto: também às outras cidades
5. A vocação: pois para isto é que eu fui enviado
Poderiamos dizer, encharcados pela importância do
Evangelho, nós (agentes) anunciamos o evangelho do Reino
de Deus para as pessoas das nossas cidades, cumprindo assim
nossa vocação missionária!
I >1 Cnw>r m ('tiniu
Assim, Jesus e aquele “que andava He cicLide cm cidade
1‫־‬dc aldcia cm aldeia, pregando c anunciando o evangelho
do Reino de I)eus" (Lc Η. I) c vinham "ter com ele gente de
todas .is t idades1) ‫״‬ t 8.4).
De <idade cm ('.idade e uma tentativa de refletir os
demento* para a construção de uma teologia bíblica de mis-
sao urbana na perspectiva de I ticas-Atos. Escolhi o evangelista
I tu as pot entender cpte foi o que mais enfatizou a presença
da t idade em sua narrativa.
I m vez de lazer uma breve introdução para o livro, pre-
hro remetí* Io direto ao texto, permitindo que ele tenha o mes-
nu >propósito c efeito em sua vida como aconteceu com Teófilo
e seus leitotes. I ucas escreve para que ele,Teófilo, tenha plena
certeza das verdades cm fora instruído (Lc 1.4). Se este proper-
sito pastoral lor atingido cm sua vida, eu ficarei muito feliz. Sc
este material trouxer mais paixão, mais convicção, mais ardor
missionário, mais solidez na fé, meu propósito com De Cidade
em Cidade foi alcançado.
Unrão, vá logo ao texto e deixe Deus apaixonar seu co-
ração ele mesmo e por missão urbana!
Jorge Henrique Barro
18 —
Capítulo ^
O método da teologia
de missão de Lucas
A palavra “método” significa procedimento, maneira,
fórmula, caminho, modo c processo. Ela vem da palavra gre-
ga bodos, que é caminho. Este capítulo pretende demonstrar
o caminho (método) de Lucas para a teologia de missão. Para
isso, devemos estudar suas passagens centrais, que são os pró-
logos em Lucas 1.1-4 c em Atos 1.1.
Visto que muitos empreenderam uma narração coorde-
nada dos fatos que entre nós se realizaram, conforme nos :rans-
mitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas ocu-
lares e ministros da palavra, igualmente a mim pareceu hem,
depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, dar-
te por escrito, excelentíssimo Tcòfilo, uma exposição em or-
dent, para que renhas plena certeza das verdades em que fostes
instruído (Lc 1.14‫.)־‬
Em Lucas 1.1-4 encontraremos alguns tópicos relacio-
nados à saa metodologia. Lucas nos dá alguns parâmetros
hermenêuticos para os seus escritos. Eles são uma “exposição”
19
---------- Di Cituor m C um u
dos “fatos que sc‫־‬realizaram” no seu tempo c contexto (“entre
nós"). Iaieas realizou uma “aturada investigação de tudo des-
de a sua origem” c, como resultado de sua investigação, es-
creveu urna “exposição em ordem,” que é endereçada a
Teólilo, tom o propósito de que ele tivesse "plena certeza das
verdades" em que tora instruído. O propósito da exposição
em organizada ordem de Lucas é dar à vida de Feófilo a
íisfilutlfiti (segurança) de que precisava para ter firmeza nas
"verdades" em que fora instruído. Alguns teólogos entendem
que esta asfth,tlcin tinha o propósito de gerar uma certeza
teológica, outros que esta certeza era apologetic.! ou ainda
uma historiografia apologctica. De acordo com Ralph P.
Martin, “os interesses de Lutas não são especulativos ou mes-
111o teológicos; na verdade, eles são motivados pastoral”
( 1975:57). Na minha opinião, este propósito é, cm esscncia
pastoral-missionário, o que pode incluir a teologia e a
apologética. Tradicional lemos Lucas como sendo um histori-
ador, evangelista e, mais recente, um teólogo (apesar das con-
trovérsias). Sc Lucas tinha em mente um propósito pastoral-
missionário, então estaria correto ler sua obra como sendo
também a de um pastor? Trainor faz alguns comentários im-
portantes sobre este assunto:
Uma investigação sobre como uma das comunidades cristãs
lidou com seus próprios assuntos pitstorais pode nas ajudar a
saber como agir hoje em dia [...] Lucas-Atos pode nos oferc-
cer hoje uma assistência no desenvolvimento de um método
mais apropriado » 10 prática pastoral porque os escritos de
l.ucas são normativos para a vida da comunidade cristã |...J
A com1 1ni»lade para a qual Lucas escreveu se apresenta !1 n»4s
como uma parceira viável para uma conversação elucidativa a
respeito de uma prática educacional ou teológica que seja
tanto responsável quanto pastoral!auxiliadora para a comu-
nidade cristã. (1992:10-11. grilo acrescentado)
Mais do que isso, Trainor afirma, sem nenhuma dúvi-
da, que “uma detalhada investigação do prólogo também re-
--- 20
vela os princípios subjacentes para uma ação ou ortopráxis pastoral
corretada qual 1ucas seutilizou ao abordarosassuntoscontcmporâ-
neosaestascomunidadescristãsprimitivas”(1992:19).
A exposição em ordem de Lucas é uma experiência da
praxis de Jesus e também de sua comunidade, que tinha a tarefa
querigmática de invocar uma resposta de lé naqueles que expe-
rimentaram o cumprimento das promessas de Deus através de
Jesus. No prólogo de Lucas, encontramos o método, o conteú-
do, as fontes, o propósito e o contexto de seas escritos. Na Figura
1, podemos ver como Lucas pretendia desenvolver sua exposi-
çâo organizada. .Sea exposição de Lucas é uma narrativa da prá-
tica de Jesus e também da comunidade de Jesus, tendo a tarefa
querigmática de invocar uma resposta de fé naqueles que expe-
rimentaram o cumprimento das promessas de Deus através de
Jesus, então é crucial deixar claro cada um destes pontos. Eles
são: narrativa, práxis de Jesus, praxis da sua comunidade,
querigma e fé.
Muitos Eu (Lucas)
Método Narrativa Exposição Método
Ordem em Ordem
>f Práxis de ‫י‬_______ t_______
Conteúdo
Dos Fatos
Jesus
De Tudo
_ Conteúdo
Comunicação
Contexto _______ 5' Praxis da ‫י‬_______ t_______ Contexto
P.issado j Que EntrcNÓS Comunidade
Teófilo
Atual
Integralidade Se Realizaram
ç ■
>f Kerígm a ‫צ‬_______ t_______
Prooósito
Missionário
fontes Testemunhas Oculares Fé Plena Certeza Pastoral
Lxatidáo Ministros da Palavra das Coisas
Figura 1
Lucas 1:1-4
Dl I 'l lH I U I I I ( ' l i m n
N.1 Figura I podemos observar dois esforços. O esforço
quo "muiios" empreenderam p.ir.1 uma narração coordena-
da dos !.nos que so realizaram entre eles e também o esforço
de I uc.is, quo realizou uma acurada investigação de tudo
desde .1 sua oi igem, no que diz respeito a Jesus. Fm ambas as
tentai ivas, podemos observar quatro etapas: 1. é uma narrati-
va (narração coordenada/cxposição em ordem); 2. é uma
narrativa da pr.íxis dc Jesus (dos fatos/dc tudo); 3. c uma nar-
tativa da pr.íxis da comunidade (que entre nós se realizaram/
loólilo); e 4. é uma narrativa com um propósito missionário
e pastoral (testemunhas oculares e ministros da palavra/ple-
na certeza das coisas). A Figura 2 nos ajuda a visualizar a nar-
rativa de l.ucas.
Narrativa—> cia práxís —> de Jesus —> da comunidade de Jesus — >
querigma que requer uma resposta de fé
Figura 2
A Narrativa de Lucas
É importante estudar essas quatro etapas do método da
teologia de missão de Lucas à luz de Jesus e d.1 missão da co-
munidade.
N arrativa
A narrativa dc Lucas é organizada em torno de seções
geográficas extensas, deslocando o seu palco de um lugar para
outro, mostrando-se como "a história da viagem’’ (Kiimmel
1982: 132). Nesse sentido, é uma narrativa que se dá no ca-
minho. l.ucas não é um historiador ou teólogo estático. K no
caminho que ele demonstra a atividade de Jesus, dos discípu-
los, de diferentes tipos dc pessoas, indivíduos, em diversos
lugares, costumes e culturas. "Além disso, a narrativa está pro-
fundamente enraizada na experiência humana, particular na
22
experiência do autor e da comunidade da fé à qual é destina-
do o evangelho” (Trainor 1992:30). A narrativa de Lucas não
é apenas uma questão de método, mas também em essência
uma questão de vida! A vida daqueles que estavam envolvi-
dos com Jesus e com sua comunidade.
Os dois volumes de Lucas podem scr descritos mais cor-
retamente como uma história ou narrativa qucrtgmática.
Eles narram as maravilhas que o Deus da criação e de
Israel realizou no passado, tinha efetuado em e através dc
Jesus (Lc) c continuou a fazer no meio da comunidade de
discípulos (At). O propósito dos dois volumes c provocar
um impacto ao leitor com a história e a proclamação do
cumprimento da Palavra de Deus através dc Jesus, des-
pertando na comunidade lucana uma resposta de lc e ‘as-
segurando-a' da fidelidade de Deus (Trainoi 1992:30).
A palavra que Lucas usou para “narração” (Lc 1.1) é
diegeún. Dicgesis significa levar ou conduzir uma narração
até o fim, além de enfatizar, contar, relatar completa e des-
crever. No entanto, é importante salientar que a palavra usa-
da para exposição em ordem (Lc 1.3) não é diegesin, mas
cathecses. A palavra cathecses denota sequência no tempo,
espaço ou lógica, uma sequência que esteja em ordem, um
após o outro, ponto a ponto. Há uma extensa discussão a
respeito do significado desta palavra (veja Fitzmycr 19 8 1: 298-
299), mas “Lucas diz mera que ele estará escrevendo aTcòfilo
numa apresentação sistemática; esta é uma referencia velada
ao período de Israel, ao período de Jesus e ao period(! da
igreja” (Fitzmycr 1981: 299). A narrativa de Lucas é cheia de
personalidades, nomes, heróis c heroínas. Sem dúvida, as per-
sonalidades centrais em Lucas são Jesus (no Evangelho) e sua
própria comunidade (cm Atos).
---------- /)/, Cunnr r*t 0 /0 /1/
A PRAXIS I>1Ji SUS
Somos informados por Lucas cic que clc estará cscre-
vendo unia exposição em ordem daquilo que pesquisou em
uma ".k urada investigarão de tudo desde a origem” (Lc 1.3).
1tuas diz: "escrevi o primeiro livro, óTeófilo, relatando todas
as ctmsas que Jesus começou a fazer e a ensinar, até ao dia cm
que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do
1spíi ito Santo aos apóstolos que escolhera, foi elevado às al-
tinas" (At 1. 1-2). Em outras palavras, Lucas investigou tudo
(futsin) o que Jesus fez e ensinou. A hermenêutica de 1.ucas é
Jesus. A asphaleia, da qual Teófilo e outros possíveis leitores
precisariam, não se constitui num mero compêndio sistema-
tico de doutrina, mas à pessoa de Jesus, através dos seus feitos
e de suas palavras. Em seu primeiro volume, a atenção de
I.ucas estava em “todas as coisas que Jesus começou a fazer e a
ensinar" (At 1.1). Podemos depreender, a partir desta frase,
que a ordem das palavras c importante para Lucas? Por que
Lucas menciona primeiro o “fazer” ao invés do “ensinar”?Não
está claro se este era o seu propósito ou não.
Na sua primeira seção, que vai de 4.1 a 9.51, o foco de
Lucas se dá sobre o ministério de Jesus na Galiléia. Esta seção
é vista tradicional como a que contém as ações de Jesus (o
fazer). No entanto, também encontramos seus ensinamentos
nesta seção. Somos informados por Lucas que a primeira ati-
tude de Jesus depois da tentação no deserto foi retornar à
Galiléia e ensinar nas sinagogas (Lc 4.15). “E desceu a
Calarnaum, cidade da Galiléia, e os ensinava no sábado” (l.c
4 .3 1). Lucas não fez nenhuma divisão intencional ou diciáti-
ca entre o que Jesus ensinava e o que fazia. Ele as mesclava
mostrando que o ministério de Jesus era integral —enquanto
ensinava (palavra) ele também fazia (atos), e enquanto fazia
também ensinava. Precisamos evitara tentação de dicotomizar
o ministério de Jesus e, conseqücntcmente, o nosso - os
24
práticos (pastores e missionários) contra os teóricos (pro-
fessores e teólogos) e vice-versa.
Os escritos de Lucas são narrativas da experiência de Je-
sus. Vamos enfatizar a expressão “experiência de Jesus”. Mais
do que uma biografia didática dc Jesus, ela c uma “apresenta-
ção sistemática” do que Jesus começou a “fazer e ensinar” - isto
é, a experiência com os discípulos, judeus c gentios, ricos e po-
bres, homens e mulheres, jovens, crianças, doentes, líderes reli-
giosos ou políticos, multidões, o diabo e até com os costumes.
Isso é vida - uma vida cheia de experiências com pessoas e
situações reais.
A EXPERIÊNCIA DA COMUNIDADE DE JESUS
É a partir da experiência de Jesus que Lucas inicia a
redação do seu segundo volume - os Atos dos Apóstolos. Ten-
doassen adoabasea partir da experiência de Jesus, Lucas esta-
bcleceu os fundamentos da comunidade nascente. A praxis de
Jesus será a práxis da sua comunidade. O conteúdo e o modelo
já tinham sido dados. O próximo passo c a demonstração de
como viver entre os contextos passado e presente. O contexto
passado er.i formado pelos “fatos que entre nós se realizaram”
(Lc 1.1). Estabelecendo uma continuidade com o passado (“es-
crevi o primeiro livro”), Lucas escreve seu segundo volume a
léóíilo. Agora, o foco é a nova comunidade dc Jesus. Ele não
está fisicamente nela (descontinuidadc), mas está espiritual-
mente presente através do Espírito Santo (continuidade).
De acordo com JoséComblin, Lucas:
escreve para uma comunidade ou um conjunto homoge-
nco dc comunidades cm que convivem... cristãos judeus c
não-judeus. Estes eram essencialmente prosélitos ou pe-
los menos “adoradores de Deus”, isto e, pagãos que já ti-
nham deixado a idolatria e praticavam parcialmente a rc-
ligião judaica, adorando o Deus dc Israel (1988:9)
25
---------- Df: Cnuitt: m Ctiuttr... —
Em seu segundo volume, Lucas teve de enfrentar três
problemas, respondendo a três questões:
1. ( 'onto os judeus vão aceitar que os convertidos (“pa-
gãos”) comam com eles à mesma mesa? Este ê o problema de
relacionamento social - a participação comunitária à mesa.
2. ( àmtoos judeus convertidos vão manter os seus cos-
mines e ti uliçócs religiosas e estabelecer sua identidade cris-
ra ao mesmo tempo? Este é o problema religioso —a nova e a
vcllu identidades.
3. ( )s gregos e os romanos, particularmente aqueles que
estavam envolvidos com a elite do Império Romano, vão con-
seguir manter a sua lé em Deus e ao mesmo tempo manter a
sua lealdade ao Império? Este é o problema político - a nova
atitude ética.
Enquanto lemos c analisamos a narrativa de Lucas em
Atos. estas três questões são cruciais para compreender suas
explicações. Lucas focal 1/.a-se no problema do relacionamen-
to, o qual evoca uma nova identidade. Esta nova identidade,
como povo de Deus, implica e demanda uma nova atitude
ética, como resultado do compromisso com o Reino de Deus.
Q u fw g m a e fé
Os escritos de Lucas são uma narrativa da experiência
de Jesus, que é o modelo para a vida e missão da nova comu-
nidade. No seu último estágio, a narrativa de Lucas “está pre-
ocupada com salvação, a atividade de Deus no passado e pre-
sente. E por isso que a narrativa pode ser descrita como
querigmática’e depende da ativação da memória sagrada -
a memória da ação de Deus na comunidade que crê (Israel e
a comunidade dos discípulos de Jesus)" (Trainor 1992:30).
As bases para o querigma (no primeiro volume) eram
,‘as testemunhas oculares c ministros da palavra" (Lc 1.2). A
partir destas fontes (e também de fontes pessoais), Lucas deli-
neia sua exposição em ordem, depois de uma “acurada invés-
26
tigação dc tudo desde a sua origem”. Isso o habilitou a escre-
ver para Teóftlo a fim de que ele tivesse “plena certeza das
verdades em que fora instruído”.
Até esse ponto tenho explicado a metodologia dc Lucas
para a sua narrativa. No entanto, a teologia missionária tio Evan-
gelho é resumida no segundo volume (Atos) c ele resumiu a
teologia missionária de Atos no primeiro (Evangelho). ATabe-
Ia 1 nos ajuda a visualizar melhor Lucas e Atos.
Para compreender a teologia de missão de Lucas preci-
santos encontrar os elementos cruciais (ou horizontes
hcrmenêutico-tcológicos) dos seus escritos. Existem cinco ele-
memos cruciais em Lucas-Atos que nos oferecem o quadro
Tabela 1
Atos 1:1-2 c Lucas 24:44-49
Encontramos 0
resumo da teolo-
gia missionária do
Evangelho cm
Atos 1.1-2.
Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando
todas as coisas que Jesus começou a lazer e
ensinar ate ao dia cm que, depois de haver
dado mandamentos por intermédio do Espí-
rito Santo aos apóstolos que escolhera, foi cie-
vado ás alturas.
Encontramos o
resumo da teolo-
gia missionária de
Atos cm Lucas
24.44-49
A seguir Jesus lhes disse: são estas as palavras
que eu vos falei, estando ainda convosco, que
importava se cumprisse tudo o que de mim
estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e
nos Salmos. Então lhes abriu o entendimento
para compreenderem as Escrituras; e lhes dis-
se: Assim está escrito que o Cristo havia dc
padecer, e ressuscitar dentre os mortos no ter-
ceiro dia. c que cm seu nome se pregasse o ar-
rependimento para a remissão de pecados, a
todas as nações, começando dc Jerusalém. Vós
sois testemunhas destas causas, que envio so-
bre vós a promessa de meu Pai: permanecei,
pois. na cidade, até que do alto sejais revesti-
dos de poder.
Dr ( 'u n t il· 1 μ Cm m u
geral da teologia de missão de Lucas. O primeiro dem ento é
a teologia da missão trinitãria desenvolvida por ele. O mode-
|o de missão paia I.ucas é a "Comunidade Trinitária”. Hoje
em dia a cliamamos ele missio Dei. O segundo elemento é o
fato ele que a l lomunidadc Trinitária, em amor, provê a pos-
sihilidade de “salvação” a todos os povos, raças, etnias c cultu-
ras. ltn I.ucas, a salvação é muito mais que o perdão dos pe-
e.ulos ou a salvação ela alma, enquanto resultado de uma pro-
damaçao verbal. I loje em dia a chamamos de “Missão lnte-
gral". () terceiro elemento desta teologia é “comunidade”. A
comunielaele é o povo de Deus em efazendo missão. O con-
ceio» lucano ele comunidade não c apenas o de ajuntamento
ele crentes, mas também a comunidade missionária, a qual se
engaja fielmcme (práxis), já que é composta de agentes do amor
divino para todos os sereshumanos. O quarto elemento éo “mun-
elo . hste elemento nos lembra que a missão tem um contexto. A
comunidade está inserida em seu contexto local e global. I loje, a
chamaríamos de presença “contextual”e “encamacionai da igre-
ja. l inalm ente, sendo uma com unidade contextual e
encarnacional, a experiência com o Senhor ressurreto c com o
poder concedido pelo Espírito Santo convocou a comunidade
para agir e ser relevante para o seu povo. Hoje, a chamamos de
“práxis". A práxis da igreja é uma consequência da experiência
com o Senhor ressurreto e também uma resposta ao seu chama-
do missionário.
r. necessário explicar a forma de metodologia que será
utilizada para abordar o texto de I.ucas-Atos. Aquela usada
pelos teólogos latino-americanos pode ser-nos útil. Como já
demonstramos anteriormente, a exposição em ordem de
I ucas c uma narrativa da práxis (fatos, tudo o que aconteceu)
relacionada a Jesus e à sua comunidade, com vistas à realiza-
ção da tarefa qucrigmática de invocar uma resposta de fé
naqueles que experimentarão o cumprimento da Palavra de
I)eus através de Jesus. “Práxis" é o elememo-chave para com-
28
---------- Η 7 η into
precnder a teologia de missão de Lucas e também para com‫־‬
preender a teologia latino-americana.
O “círculo espiral” de Green será utilizado para abor-
dar a narrativa lucana com duas alterações. A primeira, ao
invés de se iniciar esta espiral com a “experiência”, usarei a
palavra “praxis”. Praxis é mais que experiência; é a presença
ativa de agentes (cristãos e igrejas) na história, por meio da fé,
em seus contextos de vida. Usando a definição de Orlando
Costas, “praxis cristã é a ação criativa e transformadora do
povo de Deus na história, acompanhada de um processo pro-
fético e de reflexão crítica que objetiva tornar a obediência cristã
ainda mais efetiva” (1989:30). A segunda mudança é, na ver-
dade, uma inserção, ou seja, de “reflexão” por “reflexão bíbli-
ca”. Se nossa reflexão não tiver espaço para a Palavra de Deus,
corremos o risco de ter como resultado uma fé apenas ideoló-
gica que não esteja cm sincronia com a Bíblia. Nem toda reílc-
xão é uma reflexão bíblica. E uma praxis sem reflexão bíblica
torna-se “praxismo”. Não é isso que buscamos. Nosso objetivo
último é uma nova situação ou experiência que seja um resul-
tado de uma reflexão bíblica que nos conduza a uma praxis
teológica. A Figura 3, mais abaixo, nos demonstra isso.
--------- D r ClO tW KM ÇlItAOK... ----------
Costas disse que “precisamos de uma teologia de mis-
são caracterizada por uma fé que age. Fé é a aceitação Ac, a
confiança nu c o compromisso com Deus. Uma fé que age
está incondii ion.ilmeme comprometida na praxis com todas
as coisas som as quais Deus está comprometido” (1977:225).
1sta aftimação de ( !ostas nos auxilia na abordagem à narrati-
va de 1ucas a partir da praxis.
Esse “círtulo espiral” nos ajuda a construir unta nova
situação/experiência/práxis. E exatamente esse o desafio do
evangelho. I .,ma das passagens centrais que evidenciam a tc-
ologia rle missão de Lucas é o texto de Lucas 24.44-53. Jesus
ordena que “cm seu nome se pregasse arrependimento para
remissão de pecados a todas as nações, começando dejerusa-
lem" (Lc 24.47). Em outras palavras, o objetivo último do
evangelho é transformar a vida daqueles que tiveram uma
experiência com Jesus.
A partir de agora veremos a ccmralidadc da teologia
da missão lucana: a missão de Deus (missio Dei), a missão de
Jesus (missio Christi) e a missão do Espírito Santo (missio
Spirit!! Siincti).
Missio D e i :
D e u s c o n t i n u a a t r a z e r sa l v a ç ã o para
O SEU POVO ( o n a s c im e n t o d a sa l v a ç ã o )
Não é uma tarefa fácil identificar o tema mais central
(no singular) da teologia de missão de Lucas. Quando pensa-
mos quais poderíam scr os temas centrais (no plural), a tarefa se
torna bem mais fácil. Está claro que Lucas enfatiza muitos as-
pectos que são peculiares à sua própria narrativa. Por exemplo,
ele enfatiza a centralidade da oração, o papel c lugar da mu-
llier, o Espírito Santo, o reino de Deus c alguns indivíduos
comoTcófilo, Zacarias, Isabel, Maria, Simão, Ana, Marta, Nairn,
João Batista, Zaqueu, Cléopas, Simão de Circne, José de
Arimatéia, Pedro e Paulo. Também podemos observar temas
como: a universalidade do Evangelho, os pobres e os ricos, os
samaritanos, os excluídos, os gentios, os pecadores, as cidades,
0 Diabo, a Palavra de Deus, o plano de Deus, a ascensão, a paz,
a restauração de Israel e dc seu pos o e o Templo.
Outros temas ainda poderíam ser adicionados a esta
lista. No entanto, estes exemplos nos dão uma idéia de quantos
tópicos cruciais podem ser encontrados cxclusivamcntc em
1.ucas. O desafio que devemos encarar é estabelecer o âmago
31
1)1 Cu.i.wr ΓΑ1 Cintnu...
da teologia de missão de I.ucas. Lxistem muitas controvérsias
a respeito disso, !,or exemplo:
1.1 tike Iimothy Johnson entende que seria um enga-
no ler o trabalho de Lucas a partir de um único ponto de
vista. Para ele, os temas de Lucas “são desenvolvidos não de
forma independente, mas sem um padrão evidente” (1991:
2 1). Alguns deles poderíam ser: proclamação universal, gran-
de tubulação, salvação, Palavra de Deus, conversão e a res-
posta de lé.
2. I lans Cozelmann enfatiza a função escatológica da
narração de Iaicas no esquema da história da salvação (1960).
.1. C K . Barret diz que “Lucas-Atos foi escrito para cx-
pn ssar o propósito de servir como uma defesa contra o
gnosticism o” (1961:28).
4. Lina Boff diz que "dos diferentes significados que o
evangelista confere à palavra missão enquanto ação do
pneuma, optamos por destacar o sentido de missão como
anúncio" (1995.41).
Mesmo considerando que a narrativa de Lucas é muito
útil aos não-eristãos, devemos manter em mente que I ucas cs-
creveu seus dois volumes primariamente para a comunidade cris-
tã. “Ele escreveu para cristãos afim de assegurá-los da
confiabilidade dos fatos sobre os quais tinham sido informados
(Ix: 1.14‫”)־‬ (O’Toole 1984:11-12). Ao escrever para cristãos,
Lucas desenvolve o tema da continuidade (e posterior
descontinuidade) com Israel, evidenciando que Deus continua
a trazer salvação para o seu povo. Essa salvação deveria ser uni-
versai, em continuidade com a história de Israel.
O tema central da teologia de missão de Lucas é que
“I)eus continua a trazer salvação para o seu povo (missio Dei)
através de Jesus (missio Christi) e do Espírito Santo (missio
Spiritu Sanai), comissionando o povo de Deus (missio
/:cc/csiamm) a proclamar sua salvação”. Esta visão da tema
central da teologia de missão de Lucas é baseada na missiologia
---------- Jum.1 lh1trQ(jf li t*K<> ----------
trinitária. “Trinitária” porque se refere à missio Dei, tnissio
(.hristi e missio Spirit11 Sancti. “Missiologia” porque o povo
ile 1)eus é comissionado a proclamar a salvação providencia-
da por Deus até aos confins da terra (missio EccUsiarum). t
no poder do Espírito Santo que a Igreja serve como um ins-
trumento de proclamação da salvação de Deus. No entanto,
essa salvação, de acordo com Lucas, é universal.
Λ SALVAÇÃO UNIVERSAL
A narrativa da infância é cheia de referências à salvação
universal. O cântico de Zacarias (Bntedictus) fala a respeito
da salvação universal trazida por Deus: “Bendito seja o Sc-
nhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, e
nets suscitou plena e podciosa salvação na casa dc Davi, seu
servo, conto prometera, desde a antiguidade, por boca dc
seus santos profetas para nos libertar dos nossos inimigos c da
mão <.le todos os que nos odeiam; para usar de misericórdia
com os nossos pais e lembrar-se da sua santa aliança e do jura-
mento que fez a Abraão, nosso pai, de conceder-nos que, li-
vies ilas mãos de inimigos, o adorássemos sem temor, cm san-
tidade e justiça perante ele, todos os nossos dias.Tu, menino,
serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o
Senhor, preparando-lhe os caminhos, para dar ao seu povo
conhecimento da salvação, no redimi-lo dc seus pecados, gra-
ças à entranhável misericórdia de nosso Deus, pela qual nos
visitará o sol nascente das alturas, para alumiar os que jazem
nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo
caminho da paz" (Lc 1.68-79).
Zacarias entendeu que aquela era a salvação dos inimi-
gos (implicações sócio-políticas) e salvação através do perdão
dos pecados. Os receptores daquela salvação eram aqueles
que viviam nas trevas e à sombra da morte.
As boas novas trazidas aos pastores eram para “todo o
povo” (Lc 2.10).'As boas novas eram “que hoje vos nasceu, na
33
P! ('mini 1MCm tin
cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (I.c
2.10 ,11). ( )utro cânt ico que fala sobre salvação é o de Simeão
(Nunc l hunttis). Simeão articula o mesmo tema. Ele diz: “por-
que os meus olhos j.í viram a salvação, a qual preparaste diante
de todos os povos (Ix 2.30-31). Um novo dia raiara, trazendo
a “111/ para revelação aos gentios, e para a glória do teu povo de
Israel' (Ix 2.32). “A ,salvação’de Deus foi o que Simeão reco-
nha.eu quando o Messias infante foi levado ao templo” (Senior
e Stuhlmucller 1995:355). Não há dúvidas, como já dizia o
profeta 1saias, de que “toda carne verá a salvação de Deus”
(l.c 3.0).
( )utro aspecto da universalidade da salvação pode ser
visto na Sinagoga de Nazaré, na qual “Jesus estabeleceu suas
credenciais messiânicas, construiu a base da comunidade
messiânica e começou a experimentar os seus sofrimentos
messiânicos pelo mundo” (Costas 1989:55). Qual é o con-
ccito da missão de Jesus declarado na sinagoga de Nazaré?
Jesus começou o seu ministério proclamando que: “O Espíri-
to do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para
evangeli/ar os pobres; enviou-me para proclamar libertação
aos cativos c restauração de vista aos cegos, para pôr em liber-
dade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor”
(1x4.18-19).
Nesta passagem, encontramos o programa messiânico da
agenda missionária de Jesus: 1. o Espírito Santo; 2. as boas no-
vas aos pobres; 3. libertação aos cativos; 4. restauração da vista
aos cegos; 5. liberdade aos oprimidos, e; 6. o ano aceitável do
Senhor. Em outras palavras, as perspectivas da missão de Jesus
sao basicamente duas: no poder do Espírito Santo, a missão de
Jesus é proclamar e encarnar as boas novas integrais do Reino de
I)eus, compreendidas na proclamação da salvação, libertação,
perdão, cura e restauração.
Jesus usa dois exemplos na sinagoga de Nazaré a fim de
ilustrar a realidade da universalidade da missão. O primeiro
J<m;r. // m iy f í H kro
é o tia pobre viúva tie Sarepta, na região de Sidom. Jesus diz:
"na verdade vos digo que muitas viúvas haviam cm Israel no
tempo de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis
meses, reinando grande fome em toda a terra; e a nenhuma
delas Elias foi enviado, senão a uma viúva de Sarepta de
Sidom” (Lc 4.25-26). Isso significa que foi cm benefício dos
pagãos e estrangeiros que Deus, pelas mãos do profeta, reali-
/ou gestos de misericórdia, dando pão aos famintos. O moti-
vo central dessa ilustração é que Jesus está dizendo aos judeus
da sinagoga que Elias foi enviado à viúva gentia, ao invés de
ser enviado a uma viúva judia. Jesus está oferecendo a eles
uma clara afirmação dc que sua missão incluiría os gentios.
O segundo exemplo é Naamã, o siro. Jesus disse: "havia
também muitos leprosos em Israel nos dias do profeta Eliseu,
e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro” (Lc 4.27).
Esta é uma afirmação muito dura, já que Naamã, sendo um
siro, não apenas era considerado um estrangeiro como ainda
um inimigo de Israel. Ele foi curado dc sua lepra mergulhan-
do-se sete vezes no Jordão, de acordo com a palavra de Eliseu
(2Rs 5). “Nesse caso, um gentio vem à Israel buscando cura.
Novamente, Jesus está anunciando a inclusão dos gentios em
sua missão messiânica” (I lertig 1989:68).
Tanto a viúva quanto Naamã representam os pobres c
os excluídos da sociedade. Jesus deu aos judeus da sinagoga
uma nova dimensão hermenêutica. A hermenêutica deje-
sus é inclusiva e além dos limites de Israel. Os excluídos são
os primeiros beneficiários dos cuidados de Jesus de acordo
tom a visão de Lucas. De certa forma, o leproso é excluído
social e religiosamente, e a viúva é excluída economicamente.
Devemos nos lembrar de que esta é a salvação de Deus
(missio Dei) a todos os povos - e não somente a Israel. I)eus
traz a salvação para o seu próprio povo, Israel, c para todos os
povos da terra. Lucas faz uma clara conexão com Israel: “o
evangelista não descuida a continuidade com o passado. Na
Dr: Cm 11>f: m Ch u m . .
verdade, uma tias preocupações fundamentais de Lucas-Atos
é o relacionam ento de Israel com a Igreja” (Senior e
Stuhlmueller 1995:357).
CoNTINUIOADi■: COM ISRAEL
( à>mo Iaicas demonstra esta continuidade com a história
de Israel? Novamentc, a narrativa da infância nos revela que “ha-
via em Jerusalem um homem chamado Simcão; homem este
justo e pied(>so que esperava a consolação de Israel; e o Espírito
Santo estava sobre ele” (Lx 2.25). Não apenas Simcão estava es-
|K‫־‬rando, mas também estava “o povo na expectativa, e discor-
rendo todos no seu íntimo a respeito de João, se não seria ele,
poiveiitnra. o próprio ( 'risto” (Tc 3 .15). O povo estava esperan-
do pelo C.risto, o Messias, a esperança e o consolo de Israel. O
Messias “será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o
Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai” (Lx1.32 ‫־‬). Davi é um
tios grandes heróis de Israel. O Mcssia vai assumir o trono de
I)avi, como um rei sobre o seu povo. Além disso, o Messias nas-
ceu “na cidade tie Davi” e é “('risto, o Senhor” (1x2.11). Lucas
está demonstrando que Israel tent tint rei, um Messias e um Se-
nhor. Em outras palavras, Israel tem direção (rei), salvação (Mes-
sias) c relacionamento (Senhor). A ligação entre o passado e o
futuro de Israel é Jesus. E ele que conecta Israel à história da
salvação. “A moldura da história da salvação elaborada |x>r 1.ucas
(e outros escritores do NovoTestamento) permite continuidade
que se estende desde Israel a Jesus e à Igreja” (Senior c
Stuhmuellcr 1995: 359). O próximo capítulo descreverá esta
continuidade em Jesus {missio Christi), demonstrando que Dais
traz a salvação (continuidade) através de Jesus.
íulo Q
M is s io C h r is t i:
D e u s t r a z a sa l v a ç ã o a t r a v é s d e J e s u s
(O DESENVOLVIMENTO DA SALVAÇÃO)
O propósito deste capítulo é demonstrar que Deus con-
tinua a trazer salvação ao seu povo através de Jesus. Jesus é o
apogeu de Deus, o agente da salvação de Deus a todos os
povos da terra. À essa salvação implicam arrependimento e
perdão. A missão de Jesus é de cidade em cidade (Lc 4.43;
8.1). Ela é o coração de Lucas, cujo desejo é mostrar como as
boas novas foram espalhadas através de Jesus, dos discípulos e
tl.1 igreja. Lucas organiza sua narrativa usando como quadro
gera! a realidade das cidades. A cidade tem uma conotação
especial cm Lucas. Hoje, a cidade é um dos desafios que a
igreja é chamada a encarar. Lucas demonstra a missão deje-
sus nas cidades de seu tempo. Vamos observar alguns dados
estatísticos sobre a cidade em Lucas-Atos.
Estatísticas λ respeito d o ter m o “cidade”
em L ucas-Atos
“Lucas-Atos deve desempenhar um papel central no
(desenvolvimento■ de uma teologia bíblica de missão e, de
37
maneira mais específica, cíe uma teologia bíblica de missão
urbana” (('onn 1985:410). Essa afirmação pode ser obser-
vada pelas 39 utilizações de palavras relacionadas no evange-
Iho de lauas, i.ns 1 mim />é//j (1). poliu (17), pólios (9). pólf í]
(7) ·pòíeis (1).póleon (3j epólesin (1) . Isso significa que a
cidade tem um papel importante em l.ucas. Em seu trabalho
de dois volumes, podemos ver facilmente o desenvolvimento
da teologia de missão de Lucas desde Nazaré até Jerusalém
(Evangelho de Lucas) c de Jerusalém a Roma (Atos). Como
veremos adiante, existem diferentes abordagens c métodos
para cada um destes lugares. A missão não acontece no vácuo,
mas em lugares e situações concretas nos quais aspessoas vivem.
Lucas está interessado em dar os nomes apropriados ás
localidades quando menciona cada pólis. Por exemplo,
Calarnaum não é apenas Caíarnaum, mas também “uma ci-
dade da Galiléia” (Lc 4.31). Lucas enfatiza que os fariseus e
os doutores da lei vinham "de rodas as aldeias da Galiléia, da
Judeia e de Jerusalém” (Lc 5.17). A viúva não está simples-
mente em Naim, mas em “uma cidade chamada Nairn” (Lc
7.11). Ainda, Betsaida não é apenas Betsaida, mas “uma ci-
dade chamada Betsaida” (Ix 9.10).
Como veremos, Lucas nos mostra a importância da nar-
rativa geográfica da missão de Jesus. Para ele, Jesus deveria
anunciar “o evangelho do Reino de Deus também às outras
cidades” (Lc 4.43). Jesus é aquele “que andava de cidade cm
cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evan-
gelho do Reino de Deus” (Lc 8.1) c vinham “ter com ele gen-
te de todas as cidades" (Lc 8.4). Os 72 foram enviados dois a
dois “para que o procedessem em cada cidade e lugar aonde
ele estava por ir” (Lc 10.1,8,10-12). Sem dúvida, Jerusalém
era a cidade que desempenhava um papel importante na
narrativa lucana. Jesus “passava por cidades c aldeias, ensi-
nando e caminhando para Jerusalém" (Lc 13.22). Na jorna-
da de Jesus para Jerusalém, somos informados que “grandes
■ — — / .) / ClIl.ifH. EU ClIUtlE... --------------
38
JUKGF. 11f:RHH f: fílRHO --------
multidões o acompanhavam” (Lc 14.25). E Jesus “passava pelo
meio de Samaria e da Galiléia” (Lc 17.11). Finalmente, os
discípulos receberíam a promessa do Pai para pregar o arre-
pendimento e o perdão dos pecados “a todas as nações, co-
meçando de Jerusalém” (Lc 24.47).
No livro de Atos, as palavras relacionadas a “cidade”
aparecem 43 vezes: polis (5), pólin (14), póleos (10), póUi
(9), póleis (4) e póleou (1), Em Atos, Lucas evidencia que a
mensagem do evangelho se move a partir de Jerusalém até aos
confins da terra. Na verdade, Lucas nos oferece a moldura ge-
ognífica do seu segundo volume, afirmando que a missão da
igreja primitiva, capacitada pelo Espírito Santo, é a de ser tes-
icmunha “tanto cm Jerusalém como em toda aJudéia e Samaria
e até aos confins da terra" (At 1.8). Novamente, como em seu
primeiro volume, Lucas dá uma atenção especial à cidade. Para
ele, não era apenas uma multidão reunida como resultado de
muitos sinais milagrosos e maravilhas feitos pelas mãos dos
apóstolos, mas “gente das cidades vizinhas a Jerusalém” (At
5.16). Lucas ainda nos diz que a cidade é o lugar onde a
crueldade está presente. Por exemplo, Estevão toi “lançado
fora da cidade” e apedrejado (At 7.58). Simão, o mágico, “alt
praticava a mágica, iludindo o povo de Samaria” (At 8.9).
I)epois da conversão de Paulo, os judeus “dia e noite guarda-
vam também as portas [da cidade], para o matarem” (At 9.24).
Mais uma vez, Lucas não fala apenas de Jopa, mas da
"cidade de Jopa” (At 11.5). Não apenas de Listra e Derbe,
mas de “Listra c D erbe, cidades da L icaônia c
circunvizinhança” (At 14.6). No discurso dcTiago, no Con-
t.(lio de Jerusalém, Lucas nos informa de que “Moisés tem,
cm cada cidade, desde os tempos antigos, os que pregam nas
sinagogas” (At 15.21). Não se fala apenas deTiatira, mas “da
cidade de Tiatira” (At 16.14); não apenas de Lleso, mas da
‫״‬cidade de Éfeso” (At 19.35); por fim, fala-se da “cidade de
jlaséia” (At 27.8).
M etade das referendas i cidadc cm o Novo Testa-
m ento é encontrada nos escritos lucanos, Nesse sentido,
esse estudo tambem busca compreender algumas das im-
plicações c significâncias teológicas para a cidade. O em-
preendim ento missionário em Lucas-Atos é estruturado
nos termos de uma perspectiva geográfico-teológíca. Este
estudo vai ser desenvolvido em seis seções baseadas nessa
perspectiva. _ ______
!A primeira é a missão de Jesus para as cidades da
Galiléia. Vamos observar o contexto histórico da Galiléia,
com referência especial às cidades de Nazaré a Câfarnaum.
A missão de Jesus começa cm um lugar específico, que é a
Galiléia dos gentios.
A segunda é a missão de Jesus na jornada para Jcrusa
lémj E importante observar a prática do ensino de jesus aos
seus discípulos nesta seção. Estudaremos quatro perspectivas
de missão no relato desta viagem: a ccntralidadc do Reino de
Deus, os ensinamentos de Jesus, o discipulado c a missão a
partir dos c com os sofrimentos.
Á terceira é a missão deJesus em Jerusalém« Não há dúvi-
das de que Jerusalém é a cidade mais imporrante da atividade de
Jesus. No entanto, Jerusalém tornou-se a cidade da rejeição e,
como consequência, previsões de julgamento contra ela eram
inevitáveis. A cruz, sob essa perspectiva, náo é apenas um sinal
de esperança, mas também um sinal de rejeição, a rejeição do
Messias. Depois da ressurreição deJesus, os discípulos ea cornu-
nidade primitiva receberam a comissão de pregar o arrependí-
mento e o perdão dos pecados até aos confins da terra, come-
çando em Jerusalém.
A quarta perspectiva é a missão da igreja em Jerusalém,
Nessa fase, observaremos o nascimento, o crescimento c a ex-
pansão da igreja. Três personagens são centrais nesse momen-
to: Pedro, Estevão e Eilipc.
------------- Of. Cininr t,u Cmuu... -------------
40 —
A quinta perspectiva fala da missão da igreja na Judeia
ieSamaria, Três personagens vão se destacar neste momento:
pilipe, Pedro c Paulo. Esta seção é a preparação para a missão
aos confins da terra. A missão da igteja está se movendo das
fronteiras judaicas para o mundo gentio. Vamos estudar que
it missão também é para os “outros”.
A sexta perspectiva é a missão até aos confins da terra.
Estudaremos dois momentos. O primeiro é o da missão da
Igreja de Amioquia da Síria. Antioquia foi a cidade na qual os
fundamentos da missão mundial foram estabelecidos para
alcançar os confins da terra, o mundo gentio. Q uatro ele-
memos são indispensáveis para compreender as perspectivas
da missão nesta cidade: nascimento, testemunho, liderança e
expansão da igreja cm Antioquia da Síria. Finalmcntc, é a
missão de Paulo nas cidades. Sua missão era muito estrategi-
ca, escolhendo lugares influentes de onde o evangelho se cs-
p.dharia para outras cidades e regiões. Em suas viagens
fnissionárias observamos cidades como Antioquia da Síria,
Filipos, Tcssalònica, Atenas, Corinto, Éleso e Roma - cidades
cxtrcmamcntc influentes.
Even to s em Jerusalém precedentes
λ missAo de Jesus
Os eventos precedentes à missão de Jesus são narrados
em Lucas 1.1 a 4.13. A primeira área geográfica menciona-
da por Lucas é a cidade dc Jerusalém. A narrativa de Lucas se
inicia c termina em Jerusalém, mostrando a centralidade des-
sa cidade em seu relato. Além disso, o Templo tinba um pa-
pel importante no início e no fim de seu evangelho. Lucas
mencionou a cidade dc Jerusalém sete vc7.cs nesta seção. Seis
deias estão relacionadas à narrativa da infância e uma à tenta-
ção de Jesus.
------- J1m ;f BtKita --------
41
-------------- P s Cuwm ím Ciimif, .
A narrativa ria infância
As seis referências à cidade de Jerusalém resta seção
estão relacionadas ao nascimento e crescimento de Jesus.
“Completados oito dias para ser circuncidado o menino,
deram-lhe o nome de Jesus, como lhe chamara o anjo, antes
de ser concebido. Passados os dias da purificação deles se-
gundo a lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apre-
sentarem ao Senhor" (I.c 2.21 -22). José c Maria observa-
ram a l.ei. Jerusalém, com o seu Templo, era o centro da
sociedade judaica. Eles trouxeram o menino )esus ao Tem-
pio de Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor, observando
a l.ei: “conforme o que está escrito na lei do Senhor: todo
prim ogênito ao Senhor será consagrado” {I.c 2.23; Ex
13.2,12).
Um homem, chamado Simcão, justo e piedoso, vivia
cm Jerusalém. Ele “esperava a consolação de Israel" (Lc 2.25).
Também vivia ali uma profetisa chamada Ana, filha de Fanucl.
Ela “não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns
e orações. E, chegando naquela hora, dava graças a Deus e
falava a respeito do menino a todos os que esperavam a re-
denção de Jerusalém” (Lc 2.37-38).
Muito provavelmente, José e Maria retornaram a Jeru-
salém, educando Jesus no mesmo respeito à l ei do Senhor, já
que “anualmente iam seus pais [de Jesus] a Jerusalém, para a
Festa da Páscoa" (I.c 2.41). Jesus tinha doze anos, e durante
uma destas viagens, “permaneceu o menino Jesus cm Jerusa-
lém" (Lc 2.43). Depois de três dias ele foi encontrado no
templo e disse aos seus pais: “Por que me procuráveis? Não
sabícis que mc cumpria estar na casa de meu Pai?” (Lc
2.49). Esta declaração tem clara conexão com o que Jesus
falou na sua primeira ação em Jerusalém, anos depois: “a
minha casa será casa de oração” (Lc 19.46).
Jesus, um filho obediente, "desceu com cies para Nazaré.
E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus
42 —
JoKOf. llr.MtiQi 1 UtKKo
e dos homens" (Lc 2.51-52). A próxima cena que acontece-
ria em Jerusalém seria uma afirmação do seu compromisso
com Deus, confirmando sua fidelidade evidenciada antes
mesmo da rentação pelo Diabo.
A tentação de Jesus
Os eventos da narrativa da infância têm a ver com au-
toridade. Lucas nos mostra que Jesus é aquele que traria “sal-
vaçao" (Lc 2.30; 3.0) e “redenção” (Lc 2.38) para “todos os
povos" (Lc 2.31) c para “Israel” (lx 2.32). Esta era a sua mis-
são. O Espírito Santo ratificou a autoridade de Jesus quando
“desceu sobre ele cm forma corpórea como pomba” (Lc 3.22).
“Ora, Jesus tinha cerca de trinta anos ao começar o seu mi-
nisiéiio" (Lc 3.23). Este era o tempo para se iniciar o seu
ministério público. No entanto, era também o tempo para
um momento privado, mas decisivo: a tentação no deserto
pelo demônio.
Esta tentação se deu em três momentos: no próprio de-
serto, em um lugar mais alto (com vista para “os reinos deste
mundo”) e no ponto mais alto do Templo (o pináculo). O pro-
grama demoníaco tinha basicamente três propostas.
“Use 0 sen próprio poder"
A primeira proposta do programa do Diabo para Jesus
é que ele usasse o seu próprio poder. A cena se passa ali mes-
mo, no deserto, e o desafio era: “se cs o Filho de Deus, manda
que esta pedra se transforme em pão" (Lc 4.3). Jesus já tinha
todo o poder e autoridade, que não havia necessidade de se-
rem colocados cm teste. O Espírito Santo já tinha dado a ele
a autoridade necessária para o seu ministério. O diabo estava
tentando Jesus com o intuito de fazê-lo usar este poder e au-
toridade para demonstrar que ele era o Filho de Deus. Jesus
entendeu que sua identidade não tinha nada a ver com uma
demonstração de poder. A identidade de Jesus fora confir-
·o
Dt: Cidaiv. 1M Cin un:...
mada antes mesmo de qualquer atuação pública. A voz que
veio dos céus disse “tu és meu filho amado”. Jesus já era o
Filho de Deus. No entanto, o Diabo estava provocando-o a
fazer sinais maravilhosos para provar a ele mesmo que era o
Filho de 1)eus. Parece que ele é um expert em tirar vantagem
de idéias, conceitos e coisas que não pertencem a ele, já que
ele é incapaz, de criar.
F. muito comum provarmos a nossa identidade quando
requisitada. Queremos mostrar a todos que somos capazes e
poderosos. No entanto, o nosso fracasso pode vir exatamente
por este caminho. Jesus compreendeu a proposta do dele, res-
pondendo: “está escrito: não só de pão viverá o homem" (Lc
4.4). Jesus não precisava provar para o Diabo quem ele era. Ele
sabia quem era. Mas uma nova proposta estava vindo. Era para
que Jesus usasse o poder do Diabo.
“Use 0 men poder "
Como Jesus se recusou a usar o seu próprio poder para
mostrar que era o Filho de Deus, ele estava agora sendo con-
vidado a usar o poder do I)iabo. Esta segunda proposta acon-
teceu em um lugar alto. Ele levou Jesus até ali para mostrá-lo,
“num momento, todos os reinos do mundo” (Lc 4.5). Mais
uma vez, poder c autoridade eram o centro da proposta. O
Diabo disse: “dar-te-ei toda esta autoridade e glória destes
reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem quiser.
Portanto, se prostrado me adorares, toda será tua" (Lc 4.6-7).
“Jesus estava sendo desafiado a aceitar o domínio sobre os rei-
nos do mundo de outro além de Deus” (Firzmeyer 1981:511).
Ao adorá-lo, Jesus reconhecería que ele era senhor. A fonte do
poder e da autoridade de Jesus era Deus e o Espírito Santo,
exclusivamcnte. Satanás é o rei dos reinos deste mundo; Jesus
já era o Rei do reino de Deus. O poder e autoridade de Deus
já estavam investidos cm Jesus, mesmo sobre o reinado do Dia-
bo. “MasJesus lhe respondeu: Flstáescrito: Ao Senhor, teu Deus,
— 44
Jan if 111mí>ur li irko
adorarás e só a clc darás culto" (L.c 4.8). Então, veio a tentação
final, desafiando Jesus, mais uma vez, a fazer uso do seu poder,
só que de uma perspectiva diferente.
“Use o poder de Deus"
A terceira tentativa do Diabo é provavelmente o ata-
que mais incisivo. Agora ele “o levou a Jerusalem, co colocou
sobre o pináculo do templo" (l.c 4.9). A primeira tinha sido
no próprio deserto, a segunda num lugar alto, e agora a ter-
cara tentação acontecia no lugar mais alto do templo - o
pináculo. Novamente, ele tentava Jesus no que concernia à
sua identidade: “Se és o Filho de Deus” (Lc 4.9). De uma
maneira diferente da primeira tentação, Jesus agora era desa-
fiado a usar o poder de Deus, que “aos seus anjos oídenará a
sai respeito; eles te susterão nas suas mãos, para não tropeça-
rts nalguma pedra” (Lc 4 .10-11). É claro que Jesus fez uso
do poder de Deus durante todo o seu ministério. O desafio
contido nesta tentação era verificar que Deus era mesmo po-
deroso ou não, colocando ele mesmo em teste. E por isso que
Jesus respondeu: “Dito está: Não tentarás o Senhor, teu Deus”
(Lc 4.12).
Nessa tentação vemos o Diabo, por duas vezes, colocando
a identidade de Jesus em teste - “se és” (Lc 4.3,9). Ele estava
dmdo a Jesus uma oportunidade de endossar e validar a sua
identidade. Além disso, apresentou-se como alguém quedaria a
Jesus autoridade (cxousút) e glória.
E comumente aceito que a primeira tentação tinha a ver
com necessidades físicas (pedra - pão), que a segunda se mostra-
va mais política (reinos deste mundo) e que a terceira, por fim,
tinha um caráter espiritual (a proteção de Deus).
Não podemos entender a missão de Jesus, a missão dos
discípulos, a missão da igreja primitiva e, finalmentc, a nossa
missão sem reconhecer a ação ‫־׳‬ influência demoníaca no
mundo. Missão, quer gostemos disso ou não, tem a ver com
45
Dt; Cnuix: r..t Ctntnr..
poder c autoridade. Esta compreensão é crucial, especialmen-
te para aqueles que trabalham na cidade. Missão na cidade
envolve confrontação com poderes. Isto é exemplificado no
ministério de Jesus, dos discípulos, da igreja em Atos e hoje
cm dia.
A pista que nos diz para esperarmos por mais intcrven-
çõcs do 1)iabo no ministério de Jesus é que “apartou-se dele o
diabo, ate momento oportuno” (Lc 4.13). A intenção dele
era a de ser bem-sucedido em sua tentativa. Isso não aconte-
ceu. Ao invés de retornar dali no poder e autoridade do Di-
abo, “Jesus, no poder do Espírito, regressou para a Galiléia"
(Lc 4.14). Este é o poder que lhe daria força, coragem e au-
toridade para proclamar as boas novas do Reino de Deus, e
não um programa demoníaco, começando com as cidades
da Galiléia.
A MISSÃO DF. JFSUS NAS CIDADES
Lembrando novamente, “Lucas-Atos deve desempenhar
um papel central no desenvolvimento de uma teologia biblica
de missão urbana‫״‬ (Conn 1985:410, grifo acrescentado). Nes-
sa seção vamos estudar o ministério urbano de Jesus nas cida-
des da Galiléia, Samaria e Judeia (a caminho de Jerusalém) e
na própria Jerusalém. A missão de Jesus é da periferia (Galiléia)
para o centro (Jerusalém). A fim de compreender a missão de
Jesus na Galiléia, devemos entender o contexto histórico des-
ta região sofredora.
A missão de Jesus nas cidades da Galiléia
A primeira área geográfica do ministério de Jesus, de
acordo com o relato de Lucas, é a província da Galiléia. A
Galiléia dos gentios era conhecida como “círculo dos povos”,
numa provável referência a uma área que era circulada, polí-
fica e geograficamente, por cidades. Nesta província encon-
tramos m uitas cidades, tais como C orazin, Betsaida,
46
■ ‫־‬ - JoiH.f HfsnHjvf. fí<»n> -------
Cafarnaum, Magdala, Tiberias, Caná, Nazaré, Gerasa,
Gcnazaré c Gadara, além de duas importantes montanhas. A
primeira era o Monte Carmelo, próximo ao M ar Meditcrrá-
neo, o lugar onde Elias confrontou os profetas de Baal (1 Rs
IΗ. 18). A segunda era o Monte Tabor, quase vinte quilôme-
1ros a oeste Mar da Galiléia. Tradicionalmentc afirma-sc que
este foi o lugar da Transfiguração.
A vida da Galiléia girava em torno do seu lago, o Lago
da Galiléia (ou o Mar da Galiléia), chamado no AntigoTes-
tamento de Mar de Quinercte (Nm 34.11; js 12.3; 13.27).
O Mar da Galiléia tem:
aproximadamente 21 quilômetros de comprimento de
norte a sul e 13 de largura de leste a oeste, em suas maio-
res distâncias; ele fica 212 metros abaixo do nível do Mar
Mediterrâneo e chega a uma profundidade de aproxima*
jdamente 61 metros (Brucc 1997:18)
Antes de analisar o ministério de Jesus na província
da Galiléia, precisamos compreender o contexto histórico
que acabou gerando as cidades. A Galiléia era tradicional-
mente caracterizada como um lugar de conflitos e guerras.
Precisamos ter em mente os fatos mais importantes da histó-
ti.1 da Galiléia.
O antigo Israel controlava a província. Depois da con-
quista de Canaã, a terra distribuída para o estabelecimento
das Doze Tribos. Mais tarde, as tribos de Zcbulon c Naftali
ocuparam a província da Galiléia. “Designaram, pois, sole-
nemente, Quedes, na Galiléia, na região montanhosa de
Naftali” (Js 20.7). “Aos filhos de Gérson, das famílias dos levi-
tas, deram [...], da tribo de Naftali, na Galiléia, Quedes, cidade
ile refugio para o homicida, com seus arredores, Hamotc-Dor
com seus arredores c Carta com seus arredores, ao todo, três
cidades” (Js 21.27a,32; 1Cr 6.76).
O Reino de Israel perm: neceu unido por aproximada-
mente 120 anos - 40 anos sob o reinado de Saul (1030-
--- 47
-------------- Ür Ciaiitf / .w Cum>1...
1010), 40 anos sob Davi (1010970‫)־‬ e 40 anos sob Salomão
(970-930). As fronteiras tia Galilcia estavam sempre sendo al-
teradas durante os seusgovernos. Porexemplo, quando Salomão
estava governando, ele premiou Hirão por certos serviços rea-
lizados cm prol da construção do Templo. O seu prêmio foi
uma terra montanhosa entre as montanhas de Naftali. “Ora,
como I iirão, rei de llro, trouxera a Salomão madeira de cedro
e de cipreste e ouro, segundo todo o seu desejo, este lhe deu
vinte cidades na terra da Galilcia’’ (lRs 9.11). No entanto,
Hirão não ficou satisfeito com o presente, e pediu pela ferra
de Crbul (1Rs 9.12). “Calnil” significa “muito pequeno, qua-
se nada, bom para nada”. Mais tarde, Salomão “edificou as
cidades que 1Iirão lhe tinha dado; e fez habitar nelas os filhos
de Isr; d ” (2Cr K.2).
() reino ficou dividido por aproximadamente 400 anos.
“Nos dias de Peca, rei de Israel, veio Tiglate-Pileser, rei da
Assíria, e tomou a Ijom, a Abel-Betc-Maaca, aJanoa, a Quedes,
a I lazor, a Gileadc e à Galilcia. a toda a terra de Naftali, e
levou os seus habitantes para a Assíria” (2Rs 15.29). No tem-
po do exílio, alguns povos judeus foram assentados na Galilcia.
Por séculos, a província da Galiléia esteve sob o domí-
nio de diferentes mãos, regimes c sistemas. A Galiléia era uma
terra de conflitos, privada de sua própria independência c
autonomia. No período asmoneu, o povo da região norte não
foi considerado como sendo uma parte do povo judeu. Por
esta razão, ela começou a ser chamada de “Galiléia dos genti-
os” (Is 9.1; Mt 4.15).
Os judeus remanescentes foram evacuados dali duran-
te a Revolta dos Macabeus (1 Mac 5.23). Em 104/103 a.C.,
o rei asmoneu Aristóbolo conquistou a Galiléia. Ele forçou a
população gentia a se converter ao judaísmo, trazendo-a no-
vamente para o domínio judaico.
Provavelmente, o último evento importante da história
da Galiléia, antes do ministério de Jesus, seja a conquista por
48
— ------- J 0 R (,t lll.SR I{H ’t t i λRR()
Pompcu. Neste momento, “a Galiléia foi reorganizada como
uma unidade administrativa autônoma sob Garbínio (57
a.(’‫״‬ )” (Pritchard 1991:114).
Lealdade a Jerusalém, ao seu Templo e à Torah eram
requisitos para os galileus na época de Jesus. O grande desejo
do povo da Galiléia era o de ser religiosa, política e cultural-
menre independente do domínio romano. Os galileus eram
considerados pessoas úteis nas mãos dos poderosos, vivendo à
periferia da vida, servindo como propriedade de outros, como
Iqntc renovável de impostos c como mão-de-obra barata. Esse
i ontcxro histórico nos oferece o cenário da área na qual Jesus
desenvolveu seu ministério na Galiléia, a província do “círcu-
Io dos povos”.
No tempo do ministério de Jesus, a Palestina estava divi-
dida cm três províncias: Judéia, Samaria c Galiléia. A Galiléia
era a maior das três. Ela foi o cenário de alguns dos eventos
mais memoráveis da história dos judeus, ! !erodes, o grande,
morreu cm 4 a.C. Ele deixou um testamento dizendo que o
seu domínio deveria ser dividido em três partes. Cada uma
deveria ser dada a um dos seus filhos: Arquelau, Hcrodes Antípas
c Filipe. Arquelau (25 a.C. - 18 d.C.) recebeu as províncias de
ludéia c Samaria. Hcrodes Antipas (23 a.C. - 29 d.C.) rece-
heu as províncias de Galiléia c Peréia. Filipe (24 a.C. —34 d.C.)
recebeu partes do norte daTransjordánia (Bataneia, Auranitis,
Irachonitis e Pareas e Gaulanitis). O governo da palestina
manteve-se nas mãos da família de Herodes sob o consenti-
mento de Augusto.
A província da Galiléia estava subdividida cm “Alta
Galiléia” (ao norte, com seu solo montanhoso e seco, de diflf-
cil acesso) e “Baixa Galiléia” (ao sul, com seus vales c um solo
apropriado para plantações). Os primeiros três evangelhos
tratam primariamente do ministério de Jesus nessa província.
Por exemplo, 19 das 32 parábolas ocorreram na Galiléia. Não
é menos notável que, dos 33 grandes milagres de Jesus, 25
49 ---
------------ Dr Cm1nr 1μCmmr...
foram realizados ali. Na Galileia, Jesus pregou o Sermão da
M ontanha e algumas das suas mensagens, sobre temas tais
como o Pão da Vida, a pureza, o perdão e a humildade. Na
Galiléia, ele chamou os seus primeiros discípulos e finalmen-
te, ali ocorreu a cena sublime da transfiguração.
Um habitante ou nativo da Galileia era chamado
“galileu”. ( )s significados desta palavra são diversos, tais como:
o extremista, o anarquista, o inflexível. A palavra era usada
como um nome pejorativo quando aplicado aos discípulos
de Jesus. Pedro denunciou a si mesmo pelo seu sotaque galileu
(“também este, verdadeiramente, estava com ele, porque ram-
bem é Galileu —Lc 22.59 c At 2.7). Iodos os apóstolos, com
a exceção de Judas Iscariotcs, eram galileus. Judas Iscariotes,
filho de Sím.io, recebera a alcunha de Iscariote por ser, pro-
vavelmente, cia região de Queriote, uma cidade ao sul de Judá
(Js 15.25).
O ministério de Jesus na Galileia no Evangelho de Lucas é
narrado de 4 .14 a 9.50. Este ministério foi marcado por miIa-
gres, curas, controvérsias com os fariseus, pregações, discursos e
manifestações de poder. Um dos objetivos do relato de Lucas c
demonstrar que o lugar final e culminante do ministério deje-
sus é a cidade escolhida dc Jerusalém. Para Lucas, Jerusalém é o
alvo e a cena final da atividade de Jesus. Mesmo tendo isso em
mente, ele não “via* a Galiléia apenas como parte de sua rota.
Jesus ministrou ali demonstrando vida verdadeira enquanto
interagia com as pessoas, oferecendo-se a si mesmo em amor que
cuida e age.
Orlando Costas, enfatizando essa parte do ministério
de Jesus, disse que “Jesus é apresentado não apenas como aque-
le que veio da Galiléia mas também como aquele que veio
para a Galiléia" (Costas 1989:53).
— 50
-------- Join.I Bumo
Jesus nasceu em Belém, apesar dc rer se tornado co-
nliccido como “Jesus de Nazaré” (Lc 4.34; 18.37; 24.19; At
2.22; 3.6; 4.10; 6.14; 10.38; 22.8; 26.9). O próprio Jesus
deu a si mesmo este título quando Paulo perguntou a ele:
,,Quem cs tu, Senhor?”, ao que Jesus respondeu: “Eu sou Je-
sus, o Nazareno, a quem tu persegues" (At 22.8).
Nazaré provavelmente significa "torre de vigia”. Não
h.i menção desta cidade no Antigo Testamento. E aceito que,
no tempo de Jesus, Nazaré tinha de 15 a 20 mil habitantes. A
maioria deles era considerada como sendo pertencente a uma
i lasse rude e mal-educada. Nazaré loi povoada basicamente
por gentios, assim como o restante da província da Galiléia.
l w h o consequência, Nazaré tornou-se uma cidade despre-
zad.1. No entanto, é na cidade de Nazaré, e mais precisamen-
le na sinagoga de Nazaré, que o programa da missão dc Jesus
é definido. Mortimer Arias e Alan Johnson afirmam que:
Lucas 4 .1 6 3 0 ‫־‬ tem sido chamado dc “microcosmo dc
Lucas-Atos, o cvangclbo-no-cvangelho". F. eu creio que
temos aqui uma pista decisiva para a missão libertadora,
curadora e capacitadora dc Jesus, a qual somos chamados
a continuar (1992:60).
Conforme já dito anteriormente, é na sinagoga de
Na/aré que “Jesus estabeleceu suas credenciais messiânicas”
(<iostas !989:55). Qual c o conceito da missão de Jesus de-
‫י‬ I.ir.ido na Sinagoga de Nazaré? Escolhendo uma passagem
dc !saias 61.1 -2 e 58.6, Jesus começou o seu ministério pro-
. l.imando: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que
me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-mc para pro-
t lamar libertação aos cativos c restauração de vista aos cegos,
para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceita-
vcl tio Senhor” (Lc 4.18-19).
--- 51
P f Chum, t w Ch u m .
Mais uma vez, confirma o que já dissemos anterior-
mente: este é o programa messiânico da agenda missionária
de Jesus.
O poder do Espirito Souto
O Espírito Santo é mencionado 33 vezes no Evangelho
de 1-ucas e 42 vezes em Atos. O programa da missão de Jesus
não pôde ser completado sem a unção do Espírito. Os even-
tos que precederam o que aconteceu na sinagoga de Nazaré
são muito importantes para se compreendera centralidade
do Espírito Santo. Lucas quer nos informar que João Batista
seria “cheio do Espírito Santo já do ventre materno” (I.c 1.15).
Além disso, Maria ouve cio anjo que o Espírito Santo descería
sobre ela, c o poder do Altíssimo a envolvería (Ir 1.33). Quan-
do Maria compartilhou com Isabel que estava grávida, “a cri-
ança lhe estremeceu no ventre; então, Isabel ficou possuída
do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: Bendita cs tu en-
tre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre” (I.c 1.41-
42). Isabel deu à luz, tendo o seu filho, e o pai Zacarias ficou
“cheio do Espírito Santo e profetizou” (Lc 1.67). () Espírito
Santo estava trabalhando, preparando vidas ecircunstâncias
para a redenção vindoura. “Havia em Jerusalém um homem
chamado Simeão; homem este justo c piedosoque esperava a
consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. Re-
velara-lhe o Espírito Santo que não passaria pela morte antes
de ver o Cristo do Senhor. Movido pelo Espírito Santo, foi ao
templo” (Lc 2.25-27). O povo de Israel estava na expectativa
(I.c 3.1 5) da redenção prometida e João dizia a todos: “Eu,
tia verdade, vos batizo com água, mas vem o que é mais pode-
roso do que eu, do qual não sou digno de desatar-lhe as cor-
reias das sandálias; ele vos batizará com o Esoírito Santo e
com fogo” (Lc 3.16). ‘Έ aconteceu que, ao ser todo o povo
batizado, também o foi Jesus; c, estando ele a orar, o céu se
abriu, e o Espírito Santo desceu sobre ele cm forma corpórea
52
Juki,!- Ut sKUK/. Hikko
(‫סחוס‬ pomba; c ouviu-se uma voz do céu: Tu és o meu Filho
amado, em ti me comprazo” (Lc 3.21-22). Depois disso, “Jc-
sus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado
pi lo mesmo Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sen-
do tentado pelo Diabo” (Lc 4.1 -2). Jesus não apenas entrou
no deserto cheio do Espírito Santo, mas também, ‫״‬no poder
tio Espírito, regressou para a Galiléia” (Lc 4.14).
Ao ler todos estes eventos precedentes ao ministério dc
Jesus, sob a ótica da ação do Espírito Santo, pode-se concluir
que 1ucas estava construindo a base que deu identidade e
autoridade a Jesus. Precisamos nos lembrar de que o Diabo já
linha proposto a Jesus a autoridade e glória dos reinos deste
mundo (1x4.6). O Diabo estava tentando Jesus a aceitar este
anti-programa, a missão do Diabo. O programa missionário
tie Jesus era completamente oposto - nada a ver com a glória
tios reinos da terra, mas com um serviço humilde àqueles que
nao tinham acesso à fama, à celebridade, à grandeza c à gló-
tia. O programa de Jesus era um autêntico programa de sal-
vação, no poder do Espírito Santo, trazendo libertação, per-
dão, cura e restauração para os excluídos pela sociedade.
Os líderes da sinagoga também questionaram a autori-
ilade de Jesus. Mesmo apesar do fato de que eles “se maravi-
lhavam das palavras de graça que lhe saíam dos lábios, e per-
guinavam: Não é este o filho de Josc?” (Lc 4.22). Em outras
palavras, esse carpinteiro é um profeta qualificado para dizer
o que ele está dizendo? Jesus respondeu a eles dizendo não!
Para voccs, isso é impossível: “nenhum profeta é bem recebi-
tio na sua própria terra” (Lc 4.24). Em sua surpresa, ficaram
luriosos. Como resultado, “expulsaram-no da cidade e o leva-
ram até ao cume do monte sobre o qual estava edilicada, para,
tie lá, o precipitarem abaixo” (Lc 4.29).
Como é possível para uma pessoa, depois de tantas con-
frontações a respeito de sua identidade e autoridade espiritu-
.11, ser rejeitado pelo seu próprio povo, ainda encontrar força
-------------- Οι. Cidade eu Cidade...
‫ר‬ c vontade para simplesmente passar “por entre eles”, rctiran-
do-se (1x4.30)? A única resposta é que Jesus “continuou cm
seu caminho no poder do Espírito Santo, que deu a ele for-
ça, motivação e compaixão para cumprir a missão recebida
na sinagoga de Nazaré. Em todos esses episódios Jesus nos
ensina que a missão deve continuar, mesmo >ob oposição e
rejeição. Através do poder e da unção tio Espirito Santo, so-
mos chamados para proclamar salvação, libertação, perdão,
cura e restauração - as marcas visíveis do Reino de Deus.
A proclamação integral e a presença elo Reino ele Deus
No |*>dcr do Espírito Santo, a agenda programática da
missão de Jesus era: 1. pregar as boas novas aos pobres; 2. procla-
mar lilx rtação aos cativos; 3. restaurar a vista aos cegos; 4. liber-
tar aos oprimidos, e; 5. proclamar o ano aceitável do Senhor. É
conm mente aceito que os cativos, os cegos e os oprimidos estão
11a categoria dos pobres. Existem “boas novas” para eles - as boas
novas de que o Reino de Deus é aqui e agora, trazendo esperan-
ça para o seu futuro, a esperança do ano aceitável do Senhor.
Finalmente, os pobres tinham alguém que não estava contia eles,
mas a seu favor; alguém que tinha a coragem de incluir os que
foram excluídos da sociedade, tornando-os receptores da graça
tio Senhor.
As boas tiovas aos pobres
O primeiro item da agenda missionária de Jesus é pre-
gar as boas novas aos pobres. “Os pobres, matcrialmcnte pri-
vados ou cspiritualmeme famintos, são considerados mais
abertos à ação salvadora de Jesus” (Glasser 1989:197). Quem
são os pobres? Bosch afirma que "os prisioneiros, os cegos e os
oprimidos (ou os injuriados) são todos colocados sob a cate-
goria 'os pobres’; todas essas são manifestações da pobreza,
em necessidade de ‘boas novas " (1996:100). Michael Prior
nos oferece duas suposições a respeito deste assunto. Primei-
54
------- JOKiC HrSMQVf. ΗιΜΚι )
r.i. os pobres são identificados com os destituídos e indigen-
tes da sociedade. Segunda, os pobres são aqueles que são tão
deficientes cm posses materiais que colocam toda a sua confi-
ança em Deus ( 1995:164). Como demonstrado anteriormen-
tc, os exemplos usados por Jesus na sinagoga de Nazaré
tipificam os pobres: a viúva pobre de Sarepta e Naamã.
0 ano aceitável do Senhor
O segundo item da agenda de Jesus é a proclamação do
ano da bênção do Senhor. O “ano aceitável do Senhor” ou o
"ano da bênção do Senhor” tem muitas interpretações. Existe a
interpretação espiritualista, segundo a qual a libertação dos po-
bres, dos cativos, dos cegos edos oprimidos é vista em termos de
uma bênção espiritual. Há também a interpretação do jubileu
como apenas um evento cscatológico, no qual as dívidas serão
finalmente canceladas e perdoadas. Há a interpretação do jubi-
leu em termos de reforma econômica e política, como um novo
sistema no qual Jesus seria um líder político. A interpretação de
Johnson é que
Lucas retrata o seu trabalho libertador [dc Jesus] cm ter-
mos dc exorcismos pessoais, curas c ensino aos pobres. O
caráter radical da sua missão é especificado acima dc tudo
por estar sendo oferecida e aceita por aqueles que são ex-
cluídos (1991:81).
Outro ponto dc vista sobre o jubileu é dado por John
1 toward Yoder. Ele entende que não é fácil interpretá-lo, e
sua conclusão é que:
Podemos enfrentar grande dificuldade em saber cm que
sentido este evento aconteceu ou podería ter acontecido;
mas o que o evento deveria ser está claro: uma
reestruturação sócio-política visível das relações entre o
povo de Deus realizada pela sua intervenção na pessoa de
Jesus como Ungido c selado com o Espírito (1972:39).
55
D r 01Η Ι1Γ IM O/M/Ji...
Apesar de todos os problem as herm enêuticos
concernentes ao significado do jubileu, não devemos evitar suas
perspectivas missiológicas para a nossa missão hoje.
Arias propõe que o jubileu seja um paradigma para a
missão cm quatro perspectivas (1984:44-48). A primeira
perspectiva é a missão como libertação. A missão é a procla-
inação tia libertação: histórica e eterna, material e espiritu-
al, econômica (devolução da terra, cancelamento das dívi-
das), social (emancipação tios escravos) e espiritual (o laço
mais interior do pecado). A missão que tenha o jubileu como
paradigma deve enfrentar todas as formas e tipos de opressão.
A segunda perspectiva é a missão como retificação. O
acúmulo tie poder c riquezas produz desigualdades sociais,
como resultado tio pecado humano e das ambições materi-
ais. O jubileu, nesse sentido, significa que a sociedade neces-
sita ser continuamente reestruturada, trazendo não apenas a
justiça, mas também equilíbrio à ordem humana. A missão
conto retificação tem como implicação a convocação à justiça
e ao arrependimento.
A terceira perspectiva é a missão como restauração. O
jubileu, como ano aceitável do Senhor, é recriação e renovação
em três momentos: restauração do povo, dos relacionamentos
sociais e da própria natureza. Jesus "enviou os seus discípulos
para anunciar a vida, para defender a vida, para restaurar a
vida, para celebrar a vida” (Arias 1984:47).
A quarta perspectiva é a missão como inauguração. Esta
é uma perspectiva escatológica da missão em referência ao
jubileu. F a tensão entre o “já” c o “ainda não” do Reino de
Deus. Como o Reino já está aqui, podemos buscar a libcrut-
ção, a retificação e a restauração da dignidade humana. No
entanto, como o Reino ainda não está aqui em sua plenitude,
devemos buscara sua proclamação, inaugurando a vinda do
ano aceitável do Senhor.
56
------- JoittiK lllSKIQll:U iKKO -------------
Lucas está nos oferecendo a moldura completa dos seus
!leis volumes. Toda a narrativa lucanada missão de Jesus eda
Igreja Primitiva se encontra dentro desta moldura. Esta com-
preensão é crucial no desenvolvimento das perspectivas da
missão na cidade. O quadro geral de Lucas-Atos pode ser
compreendido desta forma: o Espírito Santo capacita Jesus e
m u igreja a proclamar as boas ‫וו‬ovas do Reino de Deus atra-
ves da salvação, libertação, perdão, cura e restauração. Este é
0 cvangclho-no-evangelho. Isto c;o que vemos em Cafarnaum.
( 'afamaum
Logo após o episódio de Nazaré, quando sua missão
iornou-se pública, Jesus “desceu a Cafarnaum, cidade da
1í.ililéia” (Lc-4.31). “Cafarnaum (ou Kefar Nabum) significa
a aldeia de Naum’” (Bruce 1997:25). Esta cidade era consi-
licrada como uma das mais importantes da província da
( i.ililéia. Estava localizada próxima ao Mar da Galiléia, com
indústrias pesqueiras, conserto de redes e barcos de pesca.
( .‘.ifarnaum tinha também um solo fértil, um clima quente,
água abundante do mar c das chuvas. Esta combinação tornou
possível o cultivo de frutas, oliveiras e vários tipos de colheitas.
Cafarnaum estava localizada em um lugar extremamen-
teestratég co, às margens de uma rota internacional de co-
mércio que ligava Egito, Palestina, Síria e Mesopotamia. É
possível que Cafarnaum tivesse uma presença expressiva de
militares romanos (Ix 7 .1 2 ‫.)־‬ Junto com Corazim e Bctsaida,
Cafarnaum foi condenada por Jesus quando disse: “Tu,
Cafarnaum, elevar-tc-ás, porventura, até ao céu? Descerás
ate ao inferno” (Lc 10.15).
Em Cafarnaum, Jesus curou e libertou pessoas. "Os
quatro episódios seguintes ilustram concretamente o que ti-
nha sido relatado sobre ele em Nazaré a respeito da sua ativi-
dadeem Cafarnaum" (Fitzmycr 1981:541).
57
Dr. Cidade eu Cim dt... --------------
O primeiro encontro de Jesus em Cafarnaum foi com
uni homem possesso por um demônio (um espírito mau) na
sinagoga, num sábado. Podemos percebera atmosfera desta
cena. A sinagoga estava provavelmente cheia de pessoas piedo-
sas c religiosas, que não podiam discernir que ali estava um
homem possuído ‫וסין‬ um demônio. Lucas quer nos mostrar
que "no meio deles todos" (4.35) o Espírito do Senhor estava
em Jesus para “|x‘>rem liberdade os oprimidos” (Ir 4 .18). Aquele
que põe em liberdade os oprimidos é chamado por este ho-
mem, “em alta vo/” (Lc 4.33), porque todos vão saber que seu
nome não é apenas Jesus, mas é “Jesus de Nazaré” (Ix 4.34).
bica claro que Lucas está demonstrando neste momento um
confronto entre a autoridade de Jesus (“o Espírito do Senhor
está sobre mim”) e a autoridade dos líderes da sinagoga, que
perguntam: “Q ue palavra é esta, pois, com autoridade e po-
der, ordena aos espíritos imundos, e eles saem?” (Ix 4.36).
F.su é a primeira das 21 histórias dc milagres no Evangc-
Iho de Lucas. Como Bultmann rcssalra (HIST, 210), ela
tem todas as características de uma típica história de exor-
cismo: (a) o demônio reconhece o exorcista e resiste: (h) o
exorcista emite um desafio ou comando; (c) o demônio
sai. provocando uma cena: (d) a reação dos espectadores c
registrada (Fit/.mycr 1981:541).
“ E a sua fama corria por todos os lugares da
circunvizinhança” (Lc 4.37), ou seja era Cafarnatim.
O segundo encontro nesta cidade foi com a casa de
Simão, durante a cura de sua sogra, que estava sofrendo com
uma febre muito alta. Podemos perceber este padrão no mi-
nistério dc Jesus: curando os doentes e animando os fracos. A
pessoa fraca, neste caso, era uma mulher, um tema altamente
enfatizado na narrativa de Lucas.
O terceiro encontro em Cafàrnaum foi com muitas pes-
soas num pôr-do-sol, no qual muitos foram curados: “ao pôr-do-
sol, todos os que tinham enfermos dc diferentes moléstias Ihos
5«
Jtm.e llr'iitnH f Η<»κα
traziam; c ele os curava, impondo as mãos sobre cada um” (l,c
t •10). Este encontro não é marcado apenas pelas atras, mas ram-
bem pelas pessoas sendo libertas da influencia demoníaca - “de
muitos saíam demônios” (Lc 4.41).
Lucas já havia afirmado anteriormente que a próxima
l.ise da jornada de Jesus era "pregar nas sinagogas da Judeia”
L f. Lc 4.44). Devemos, contudo, tomar 4.44 para o signifi-
i ado dc que, na visão de Lucas, Jesus finalmente abandonou
,1 ( íaliléia? A resposta para essa questão depende do significa-
do ilado à “Judeia” cm 4.44 - a região ao sul como oposta ao
norte ou todo o território judeu (Frevnc 1988:90-91). A
opinião mais aceita a respeito da Judeia é que Lucas usa este
termo para designar uma seção geral. Frcyne entende que
I ucas também usaJudeia no sentido mais amplo para abran-
ger todas as regiões do país” ( 1988:91). A mesma opinião é
encontrada em Fitzmycr, quando este afirma que Judeia deve
ser compreendida “no sentido mais amplo de todo o país dos
judeus, um sentido que pode ser encontrado cm outros Io-
i.iis (1,5; 6.17; 7.17; 23.5; At 1 0 .3 7 )1 9 8 1 :5 5 8 ) ‫.)״‬ Além
disso, existem algumas indicações de que a palavra Judeia
(hnuLiias) deveria ser Galiléia (Gnlilaias), como a utilização
encontrada nos manuscritos A, D, Q e na tradição dos textos
em coinê. Apesar desta confusão geográfica, parece claro
“para Lucas que o seu ministério na Galiléia deve ser enten-
ilido de maneira mais ampla” (Fitzmycr 1981:558). A mi-
uha opinião pessoal é que Lucas faz uso da palavra “Judéia”
num sentido mais amplo para designar a geografia da região
da ( íaliléia. Por quê? Porque a próxima narrativa do ministé-
rio dc Jesus, que se desenrola somente na Galiléia e não che-
g.t a entrar na região da Judéia. De 4.44 a 9.50, Lucas men-
ciona lugares como o Lago de Gcnazaré, Cafarnaum, Nairn,
a região dos gerasenos (que fica do outro lado do lago de
t íenazaré) e Betsaida. Em outras palavras, Jesus nunca dei-
xou o circuito da Galiléia.
59
------------- lit Çumix m Cmutf.‫.״‬ -------------
Finalmente, “sendo dia, [Jesus] saiu e foi para um lugar
deserto (Lc 4.42). Deste lugar deserto Jesus partiu de
Cafarnaum em direção à Judeia1. É interessante perceber que,
sle acordo com a narrativa de Lucas, Jesus começou sua perc-
grinação de um lugar solitário (o deserto, conforme 4.1) e
também encerra a sua jornada em Cafarnaum cm um lugar
solitário. Se Jesus definiu intencionalmentc sua agenda
missionária diante da liderança da sinagoga de Cafarnaum,
agora ele está tornando-a clara para “as multidões“ (I.c 4.42),
que lhe haviam pedido para que não partisse, e proclamando:
é necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus
também as outras cidades, pois para isso éque fui enviado” (Lc
4.43). Jesus não está redefinindo a sua missão; ele está tornan-
do-a conhecida para o povo em geral. Ficou claro, a partir da
declaração de Jesus na sinagoga de Cafarnaum e neste lugar
solitário, que sua missão tinha o reino de Deus como motiva-
ç.ío central, sendo realizada através de palavias e atos no poder
do Ivspírito Santo. O reino de Deus não e para uma classe pri-
vilegiada da sociedade (ou seja, não é cxcludcnte esegregado);
o reino de Deus é, de acordo com Lucas 4.43, “ptra as outras
cidades também (ou seja, é imludente e universal).
Uma pessoa sozinha não pode realizar a missão às ou-
iras cidades - é o momento de estabelecer parcerias. Se a
missão pretende ser inclusiva e universal, então já é o tempo
de Jesus chamar os seus parceiros, os discípulos, para a pro-
clamação das boas novas do reino de Deus.
A missão dos doze
A partir deste momento, 1.ucas passa à narreção do cha-
mado dos discípulos de Jesus. Como temos visto desde o iní-
cio, a missão tem a ver com autoridade. Os discípulos serão
cham ados para participar da missão de Jesus, sendo
comissionados e com autoridade divina outorgada.
60
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro
De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro

More Related Content

What's hot

Ellen White e fechamento da porta da graça
Ellen White e fechamento da porta da graçaEllen White e fechamento da porta da graça
Ellen White e fechamento da porta da graçaEzequiel Gomes
 
IASD irmã de Babilônia nas Profecias.
IASD irmã de Babilônia nas Profecias.IASD irmã de Babilônia nas Profecias.
IASD irmã de Babilônia nas Profecias.ASD Remanescentes
 
Qual seria a condição da IASD nos ultimos dias segundo Ellen White
Qual seria a condição da IASD nos ultimos dias segundo Ellen WhiteQual seria a condição da IASD nos ultimos dias segundo Ellen White
Qual seria a condição da IASD nos ultimos dias segundo Ellen WhiteASD Remanescentes
 
Agentes Infiltrados na IASD
Agentes Infiltrados na IASDAgentes Infiltrados na IASD
Agentes Infiltrados na IASDJosé Silva
 
Aula 1 A Igreja Apostólica
Aula 1 A Igreja ApostólicaAula 1 A Igreja Apostólica
Aula 1 A Igreja ApostólicaMarcia oliveira
 
Por que o Cristianismo e a única religião verdadeira
Por que o Cristianismo e a única religião verdadeiraPor que o Cristianismo e a única religião verdadeira
Por que o Cristianismo e a única religião verdadeiraLuan Almeida
 
Lição 05 - Apostasia, fidelidade e diligência no ministério
Lição 05 - Apostasia, fidelidade e diligência no ministérioLição 05 - Apostasia, fidelidade e diligência no ministério
Lição 05 - Apostasia, fidelidade e diligência no ministérioRegio Davis
 
Logo da IASD e Ellen White
Logo da IASD e Ellen WhiteLogo da IASD e Ellen White
Logo da IASD e Ellen WhiteJosé Silva
 
Revista CPAD Lições Bíblicas Adultos - 1º Trimestre de 2020
Revista CPAD Lições Bíblicas Adultos - 1º Trimestre de 2020Revista CPAD Lições Bíblicas Adultos - 1º Trimestre de 2020
Revista CPAD Lições Bíblicas Adultos - 1º Trimestre de 2020Hamilton Souza
 
A IASD não é Babilônia, nem Filha dela. é Irmã!
A IASD não é Babilônia, nem Filha dela. é Irmã!A IASD não é Babilônia, nem Filha dela. é Irmã!
A IASD não é Babilônia, nem Filha dela. é Irmã!ASD Remanescentes
 
Arrependimento e fe para salvacao
Arrependimento e fe para salvacaoArrependimento e fe para salvacao
Arrependimento e fe para salvacaoJessé Lopes
 
Citações de ellen g. white que o seu pastor não faz a menor questão que você ...
Citações de ellen g. white que o seu pastor não faz a menor questão que você ...Citações de ellen g. white que o seu pastor não faz a menor questão que você ...
Citações de ellen g. white que o seu pastor não faz a menor questão que você ...José Silva
 
Homilética arte de pregar
Homilética   arte de pregar Homilética   arte de pregar
Homilética arte de pregar Paulo Ferreira
 

What's hot (20)

Ellen White e fechamento da porta da graça
Ellen White e fechamento da porta da graçaEllen White e fechamento da porta da graça
Ellen White e fechamento da porta da graça
 
IASD irmã de Babilônia nas Profecias.
IASD irmã de Babilônia nas Profecias.IASD irmã de Babilônia nas Profecias.
IASD irmã de Babilônia nas Profecias.
 
Qual seria a condição da IASD nos ultimos dias segundo Ellen White
Qual seria a condição da IASD nos ultimos dias segundo Ellen WhiteQual seria a condição da IASD nos ultimos dias segundo Ellen White
Qual seria a condição da IASD nos ultimos dias segundo Ellen White
 
Tipos de sermões
Tipos de sermõesTipos de sermões
Tipos de sermões
 
O Quadrilátero Wesleyano
O Quadrilátero WesleyanoO Quadrilátero Wesleyano
O Quadrilátero Wesleyano
 
A VERDADE SOBRE O NATAL
A VERDADE SOBRE O NATALA VERDADE SOBRE O NATAL
A VERDADE SOBRE O NATAL
 
Agentes Infiltrados na IASD
Agentes Infiltrados na IASDAgentes Infiltrados na IASD
Agentes Infiltrados na IASD
 
Aula 1 A Igreja Apostólica
Aula 1 A Igreja ApostólicaAula 1 A Igreja Apostólica
Aula 1 A Igreja Apostólica
 
Por que o Cristianismo e a única religião verdadeira
Por que o Cristianismo e a única religião verdadeiraPor que o Cristianismo e a única religião verdadeira
Por que o Cristianismo e a única religião verdadeira
 
Lição 05 - Apostasia, fidelidade e diligência no ministério
Lição 05 - Apostasia, fidelidade e diligência no ministérioLição 05 - Apostasia, fidelidade e diligência no ministério
Lição 05 - Apostasia, fidelidade e diligência no ministério
 
Logo da IASD e Ellen White
Logo da IASD e Ellen WhiteLogo da IASD e Ellen White
Logo da IASD e Ellen White
 
Libertação na adoração
Libertação na adoraçãoLibertação na adoração
Libertação na adoração
 
Revista CPAD Lições Bíblicas Adultos - 1º Trimestre de 2020
Revista CPAD Lições Bíblicas Adultos - 1º Trimestre de 2020Revista CPAD Lições Bíblicas Adultos - 1º Trimestre de 2020
Revista CPAD Lições Bíblicas Adultos - 1º Trimestre de 2020
 
Hermenêutica ensinai
Hermenêutica  ensinaiHermenêutica  ensinai
Hermenêutica ensinai
 
A IASD não é Babilônia, nem Filha dela. é Irmã!
A IASD não é Babilônia, nem Filha dela. é Irmã!A IASD não é Babilônia, nem Filha dela. é Irmã!
A IASD não é Babilônia, nem Filha dela. é Irmã!
 
Arrependimento e fe para salvacao
Arrependimento e fe para salvacaoArrependimento e fe para salvacao
Arrependimento e fe para salvacao
 
Citações de ellen g. white que o seu pastor não faz a menor questão que você ...
Citações de ellen g. white que o seu pastor não faz a menor questão que você ...Citações de ellen g. white que o seu pastor não faz a menor questão que você ...
Citações de ellen g. white que o seu pastor não faz a menor questão que você ...
 
Homilética arte de pregar
Homilética   arte de pregar Homilética   arte de pregar
Homilética arte de pregar
 
O movimento da nova era
O movimento da nova eraO movimento da nova era
O movimento da nova era
 
Hermenêutica na igreja primitiva 7
Hermenêutica na igreja primitiva 7Hermenêutica na igreja primitiva 7
Hermenêutica na igreja primitiva 7
 

Viewers also liked

O evangelho e a diversidade das culturas
O evangelho e a diversidade das culturasO evangelho e a diversidade das culturas
O evangelho e a diversidade das culturasFabricio Pangoni
 
3Com 3C37027
3Com 3C370273Com 3C37027
3Com 3C37027savomir
 
From high school to university and work
From high school to university and workFrom high school to university and work
From high school to university and workDavid Rodenas
 
Plan estrategico parque eolico evaluación entre pares 3
Plan estrategico parque eolico evaluación entre pares   3Plan estrategico parque eolico evaluación entre pares   3
Plan estrategico parque eolico evaluación entre pares 3Benjamín Fernández Cruz
 
Presentation on bias and confouinding
Presentation on bias and confouindingPresentation on bias and confouinding
Presentation on bias and confouindingAashish Deoju
 
시알리스『 http://w9.ana.kr 』 톡 B2015 ♡ 라인 nx2015 〃시알리스판매,시알리스효능,시알리스성분,시알리스종류, ...
시알리스『 http://w9.ana.kr  』 톡 B2015 ♡  라인 nx2015 〃시알리스판매,시알리스효능,시알리스성분,시알리스종류, ...시알리스『 http://w9.ana.kr  』 톡 B2015 ♡  라인 nx2015 〃시알리스판매,시알리스효능,시알리스성분,시알리스종류, ...
시알리스『 http://w9.ana.kr 』 톡 B2015 ♡ 라인 nx2015 〃시알리스판매,시알리스효능,시알리스성분,시알리스종류, ...민주 전
 

Viewers also liked (10)

O evangelho e a diversidade das culturas
O evangelho e a diversidade das culturasO evangelho e a diversidade das culturas
O evangelho e a diversidade das culturas
 
Aula 2a parte patristica
Aula  2a parte patristicaAula  2a parte patristica
Aula 2a parte patristica
 
3Com 3C37027
3Com 3C370273Com 3C37027
3Com 3C37027
 
From high school to university and work
From high school to university and workFrom high school to university and work
From high school to university and work
 
Oracle Logminer
Oracle LogminerOracle Logminer
Oracle Logminer
 
KERL
KERLKERL
KERL
 
Alcohol
AlcoholAlcohol
Alcohol
 
Plan estrategico parque eolico evaluación entre pares 3
Plan estrategico parque eolico evaluación entre pares   3Plan estrategico parque eolico evaluación entre pares   3
Plan estrategico parque eolico evaluación entre pares 3
 
Presentation on bias and confouinding
Presentation on bias and confouindingPresentation on bias and confouinding
Presentation on bias and confouinding
 
시알리스『 http://w9.ana.kr 』 톡 B2015 ♡ 라인 nx2015 〃시알리스판매,시알리스효능,시알리스성분,시알리스종류, ...
시알리스『 http://w9.ana.kr  』 톡 B2015 ♡  라인 nx2015 〃시알리스판매,시알리스효능,시알리스성분,시알리스종류, ...시알리스『 http://w9.ana.kr  』 톡 B2015 ♡  라인 nx2015 〃시알리스판매,시알리스효능,시알리스성분,시알리스종류, ...
시알리스『 http://w9.ana.kr 』 톡 B2015 ♡ 라인 nx2015 〃시알리스판매,시알리스효능,시알리스성분,시알리스종류, ...
 

Similar to De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro

Apostila da Andrews University - Escatologia Bíblica
Apostila da Andrews University - Escatologia BíblicaApostila da Andrews University - Escatologia Bíblica
Apostila da Andrews University - Escatologia BíblicaApocalipse Facil
 
Allan Kardec - Obras Póstumas.pdf
Allan Kardec - Obras Póstumas.pdfAllan Kardec - Obras Póstumas.pdf
Allan Kardec - Obras Póstumas.pdfVIEIRA RESENDE
 
Manual de especialidades com resposta
Manual de especialidades com respostaManual de especialidades com resposta
Manual de especialidades com respostaIsmael Rosa
 
Albert einstein como vejo o mundo
Albert einstein   como vejo o mundoAlbert einstein   como vejo o mundo
Albert einstein como vejo o mundoAndré Manuel
 
EINSTEIN, Albert. -Como vejo o Mundo.pdf
EINSTEIN, Albert. -Como vejo o Mundo.pdfEINSTEIN, Albert. -Como vejo o Mundo.pdf
EINSTEIN, Albert. -Como vejo o Mundo.pdfDouglas Almeida
 
As Profecias do Tempo do Fim - LaRondelle
As Profecias do Tempo do Fim - LaRondelleAs Profecias do Tempo do Fim - LaRondelle
As Profecias do Tempo do Fim - LaRondelleApocalipse Facil
 
Bible - Portuguese Translation.pdf
Bible - Portuguese Translation.pdfBible - Portuguese Translation.pdf
Bible - Portuguese Translation.pdfPoolShark3
 
Estudo dos evangelhos pelos mormons
Estudo dos evangelhos pelos mormonsEstudo dos evangelhos pelos mormons
Estudo dos evangelhos pelos mormonsSérgio Pelais
 
HEGEL, G. W. F. Cursos de Estética. Vol. I.pdf
HEGEL, G. W. F. Cursos de Estética. Vol. I.pdfHEGEL, G. W. F. Cursos de Estética. Vol. I.pdf
HEGEL, G. W. F. Cursos de Estética. Vol. I.pdfVIEIRA RESENDE
 
Luis Ladaria - O Deus vivo e verdadeiro. O mistério da Trindade.pdf
Luis Ladaria - O Deus vivo e verdadeiro. O mistério da Trindade.pdfLuis Ladaria - O Deus vivo e verdadeiro. O mistério da Trindade.pdf
Luis Ladaria - O Deus vivo e verdadeiro. O mistério da Trindade.pdfRoger621106
 
Manual de especialidades_completo
Manual de especialidades_completoManual de especialidades_completo
Manual de especialidades_completoNaiara Torres
 

Similar to De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro (20)

Apostila da Andrews University - Escatologia Bíblica
Apostila da Andrews University - Escatologia BíblicaApostila da Andrews University - Escatologia Bíblica
Apostila da Andrews University - Escatologia Bíblica
 
Allan Kardec - Obras Póstumas.pdf
Allan Kardec - Obras Póstumas.pdfAllan Kardec - Obras Póstumas.pdf
Allan Kardec - Obras Póstumas.pdf
 
Manual de especialidades com resposta
Manual de especialidades com respostaManual de especialidades com resposta
Manual de especialidades com resposta
 
Formação bíblica para catequistas
Formação bíblica para catequistasFormação bíblica para catequistas
Formação bíblica para catequistas
 
Obreiros Evangélicos (OE)
Obreiros Evangélicos (OE)Obreiros Evangélicos (OE)
Obreiros Evangélicos (OE)
 
Lucas
LucasLucas
Lucas
 
Cf 2011 texto_base_final_fechado_
Cf 2011 texto_base_final_fechado_Cf 2011 texto_base_final_fechado_
Cf 2011 texto_base_final_fechado_
 
As Marcas do Cristo I
As Marcas do Cristo IAs Marcas do Cristo I
As Marcas do Cristo I
 
Bíblia em sânscrito
Bíblia em sânscrito Bíblia em sânscrito
Bíblia em sânscrito
 
Albert einstein como vejo o mundo
Albert einstein   como vejo o mundoAlbert einstein   como vejo o mundo
Albert einstein como vejo o mundo
 
EINSTEIN, Albert. -Como vejo o Mundo.pdf
EINSTEIN, Albert. -Como vejo o Mundo.pdfEINSTEIN, Albert. -Como vejo o Mundo.pdf
EINSTEIN, Albert. -Como vejo o Mundo.pdf
 
As Profecias do Tempo do Fim - LaRondelle
As Profecias do Tempo do Fim - LaRondelleAs Profecias do Tempo do Fim - LaRondelle
As Profecias do Tempo do Fim - LaRondelle
 
Arqueologia vt leiatrecho
Arqueologia vt leiatrechoArqueologia vt leiatrecho
Arqueologia vt leiatrecho
 
Bible - Portuguese Translation.pdf
Bible - Portuguese Translation.pdfBible - Portuguese Translation.pdf
Bible - Portuguese Translation.pdf
 
Allan Kardec - O Evangélio Segundo o Espiritismo
Allan Kardec - O Evangélio Segundo o EspiritismoAllan Kardec - O Evangélio Segundo o Espiritismo
Allan Kardec - O Evangélio Segundo o Espiritismo
 
Allan Kardec - O Livro dos Espíritos
Allan Kardec - O Livro dos EspíritosAllan Kardec - O Livro dos Espíritos
Allan Kardec - O Livro dos Espíritos
 
Estudo dos evangelhos pelos mormons
Estudo dos evangelhos pelos mormonsEstudo dos evangelhos pelos mormons
Estudo dos evangelhos pelos mormons
 
HEGEL, G. W. F. Cursos de Estética. Vol. I.pdf
HEGEL, G. W. F. Cursos de Estética. Vol. I.pdfHEGEL, G. W. F. Cursos de Estética. Vol. I.pdf
HEGEL, G. W. F. Cursos de Estética. Vol. I.pdf
 
Luis Ladaria - O Deus vivo e verdadeiro. O mistério da Trindade.pdf
Luis Ladaria - O Deus vivo e verdadeiro. O mistério da Trindade.pdfLuis Ladaria - O Deus vivo e verdadeiro. O mistério da Trindade.pdf
Luis Ladaria - O Deus vivo e verdadeiro. O mistério da Trindade.pdf
 
Manual de especialidades_completo
Manual de especialidades_completoManual de especialidades_completo
Manual de especialidades_completo
 

Recently uploaded

METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...PIB Penha
 
As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)natzarimdonorte
 
As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................natzarimdonorte
 
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptx
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptxLição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptx
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptxCelso Napoleon
 
Dar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealização
Dar valor ao Nada! No Caminho da AutorrealizaçãoDar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealização
Dar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealizaçãocorpusclinic
 
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxLição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxCelso Napoleon
 
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingoPaulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingoPIB Penha
 
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdf
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdfO Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdf
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdfmhribas
 
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdfTabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdfAgnaldo Fernandes
 
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos PobresOração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos PobresNilson Almeida
 
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAEUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAMarco Aurélio Rodrigues Dias
 
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudoSérie Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudoRicardo Azevedo
 

Recently uploaded (15)

METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
 
As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)
 
As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................
 
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptx
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptxLição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptx
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptx
 
Dar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealização
Dar valor ao Nada! No Caminho da AutorrealizaçãoDar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealização
Dar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealização
 
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxLição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
 
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingoPaulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
 
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdf
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdfO Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdf
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdf
 
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdfTabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
 
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos PobresOração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
 
VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS NA VISÃO ESPÍRITA
VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS  NA VISÃO ESPÍRITAVICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS  NA VISÃO ESPÍRITA
VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS NA VISÃO ESPÍRITA
 
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAEUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
 
Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)
Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)
Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)
 
Aprendendo a se amar e a perdoar a si mesmo
Aprendendo a se amar e a perdoar a si mesmoAprendendo a se amar e a perdoar a si mesmo
Aprendendo a se amar e a perdoar a si mesmo
 
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudoSérie Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
 

De cidade em cidade - evangelismo urbano - Jorge H. Barro

  • 1. Jorge H. Barro Prefácio de Dr. Charles Van fíngen ...EM CIDADE Elementos para uma teologia bíblica de missão urbana em Lucas Atos
  • 2. Jorge Henrique Barro Prefácio de Dr. Charles Van Engen Elementos para uma teologia bíblica de missão urbana em Lucas ‫־‬ Atos
  • 3.
  • 4. Ι ύΙι.ι ι,ιι,ιΐη■■!jin ,1 dalμirada por Solange Λρ. !·crrcira, C RB 9/1141, w n o , Jorge I Icnricptc 1V v1*1.141,‫׳‬ cm cnladc / |<>rgc 1Icnrugic Barro; tradução rlc Cesar Manpies I ope*.--. Londrina ; Dcscoberla, 2006. ‫זי‬p IS B N 85 871 4354-9 I lentogia p.0 10 1 al ‫־‬ missão urbana 2. Missão urbana I. Título. C D D 253-091732 (21 cd.) /■‫׳‬ edição: 2002 2* edição revisada: abril / 2006 Coordenarão de produção: Eduardo Pelliilier e ILint Vdo Euelrs Capa: ldmirda Pellistier Diagramação: Descoberta Design Tradução: Citar Marques l.opes Revisão: r.nio Caldeira Pinto Lotnlilos: ííxodo Fotolitos l.lda impressão: í !'ráftea Hetáuia ‫ךי!יי‬‫ן‬7‫ן‬ todos osdireitos emlinguaportuguesa rrtervadoSpor Descoberta Editora Ltda Rua Libero Badaró. 142 - Nova Londres Londrina/I’R 86015-570 Tel/fax; (43) 3343 0077 Endereço eletrônico: cditora^dcscolicria.coin.br l’ágin.1 na internet: www.dcscoberta.com.br Editora lilt.ula à rÃ7‫*׳‬t -»'«' *OLf CA i t t í -ΛnO f» m editores ■pcristão s AfíEC - Associando fírasdeira dt !■elitoret Cristão!
  • 5. "Andava Jesus de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando 0 evangelho do Reino de Dens’. Lucas 8:1 D edicatória Da mesma forma ηtie Lucas escreveu dois volumes para Teóftlo, para que pudesse ter certezíts das verdades que fora instruído, eu dedico este trabalho aos meus dois filhos,Pedro Henrique e João Filipe, para que também possam saber como seguir Jesus como discípulos Jiéis.
  • 6.
  • 7. Sumário Prefácio - Or. Charles Van Fngen .......................................... 1 1 I n t r o d u ç ã o . ................................................................................17 1. O m étod o da teologia de m issão de lu cas.........19 Narrativa................................................................................ 2 2 A praxis de Jesus .................... .............................................24 A experiência da comunidade de Jesus ............................. 25 Querigma e fé ........................................................................26 2. M issio Dei: D eus continua a trazer salvação para o seu povo (o nascimento da salvação)............................3 1 A salvação universal ............................................................. 33 Continuidade com Israel .....................................................36 3. M issio Christi: D eus traz a salvação através de Jesus (o desenvolvim ento da salvação)..................... ......... 37 Estatísticas a respeito do termo “cidade”......................................37 Eventos em Jerusalém precedentes à missão de Jesus........... 41 A narrativa da infância ...................................................................42 A tentação de Jesus ...........................................................................43 A missão de Jesus nas cidades .......................................................46 A missão de Jesus nas cidades da Galiléia .................................. 46 A missão de Jesus na jornada para Jerusalém ............................. 67 A missão de Jesus em Jerusalém.....................................................75 A missão de Jesus através do arrependimento c do perdão .......87 Um amigo dos enfermos ................................................................ 87 Um amigo dos pecadores ..................................................................90
  • 8. 4. M issio S p irit11 Stun ti: o Espírito Souto comissiono o povo dc Deus o proclom or o solvoçõo (o olconce fio solvoção) ...................................95 Λ lórimtlu cristológna.................................. 96 0 .111.uh«' crhiolopcu ....................................................................100 Λ missão <1.1 igreja cm Jerusalém....................................................100 1 > n.1Minientn da »{;reja ................................................................104 O crescimento <1.1 igreja ............................................................ 107 Λ expando da igreja........................................................................112 Λ missão <1.1 igreja na judeia c em Samaria.................................. 120 A missão <1.1igreja ate1a<!s confins da terra......................................127 A missão <1.1igreja em Antioquia da Síria.............. .........................128 Icstrmunho contextuaiizado, centrado na proclamarão do “Senhor Jesus".......................................................131 Icstcmunlio sacrificial abnegado.......................... 132 5. Os pobres em Lucos-Âtos...................................................15 I Os pobres no evangelho............................ 155 Os pobres na narrativa da infância.................................................155 Os pobres no ministério de João Batista......................................... 157 Os pobres no episódio cm Nazaré..................................................157 Os pobres no Sermão da Montanha: bem-aventuranças c ais....................................................................159 Os pobres na resposta de Jesus aos mensageiros de João Batista..................................................... 160 Os pobres na parábola do grande banquete.................................. 161 Os pobres na parábola do rico e do mendigo................................. 161 Os pobres nas palavras ao jovem rico......................................... ....162 Os pobres na conversão de Zaqucu, o publicano...........................164 Os pobres no episódio do rico e da viúva.......................................164 Os pobres ern Atos...................................... 165 lixem[ilos bem-sucedidos da Igreja Primitiva................................166 [,xemplos mal*sucedidos na Igreja Primitiva................................ 171 Discipulado e pobreza voluntária.................................................175 O chamado de Siinãu...................................................................... 175 () chamado de l,cvi..........................................................................176
  • 9. A missão dos doze............................................................................177 A missão dos setenta c dois.............................................................178 Conclusões.......... ............................................................................. 179 O lugar privilegiado dos pobres.....................................................180 Pobreza voluntária como um método de discipulado.....................................................................181 6. Pcrsonagens-tipo cm Lucas-Atos.......................................185 Missão para os cativos.................................................. . 1 9 2 .,.‫״״‬ Missão para os machucados....................................... 193 Missão para os cegos........................................... 194 Missão para os surdo-mudos..........................................................196 Missão para os coxos...................................................................... 196 Missão para os leprosos...................................................................197 Missão para os aleijados .............................................................198 Missão para os mortos.................................................................... 199 Missão para os pobres.................................................................... 201 7. Reco) undaçõeí.........................................................................205 Relacionamento equilibrado entre missão. Bíblia e contexto ..........................................................................206 Desenvolvendo uma missiologia trinitária..................................... 209 Missio Dei ......................................................................................210 Missio Christ!..................................................................................21 I Missio Spiritu Sancti...................................................................... 21 1 Desenvolvendo componentes essenciais da teologia da missão para a cidade................................................... 212 A autoridade: comissão c capacitação .................. 213 O poder: o Espírito Santo.................................. 213 O conteúdo: a proclamação do Reino de Deus.............................214 (‫ל‬ púbíico-alvo: a periferia e os outros..........................................21 5 A estratégia: equipes de trabalho............. ..................................... 216 0 caminho: contexiuulização.................................. 216 1 azer missão em centros urbanos estratégicos............... 220 Lembrar dos pobres urbanos.......................................................222 Uma nova visão............................................................ ...224
  • 10. Uma nova forma tic fraternidade.................................... 224 Uma nova al1<!nla|‫׳‬,cm......................................... 225 Bibliografia ..........................................................................227
  • 11.
  • 12. Prefácio Nosso mundo c um crescente mundo urbano. Isso c uma verdade na América Latina. Alguns pesquisadores calculam que dentro dos próximos dez anos cerca tie três- quartos dc todos os latinos americanos viverão nas ou perto das cidades. Nesse livro. Barro cita fontes onde a estimativa para os próximos dez anos é que 86% da população do Brasil morarão em cidades. Essa realidade nos chama para o desenvolvimento de uma nova reflexão c ação teológica, missiológica c pastoral em nossas cidades. Quando passamos na missão da igreja nas cidades da América Latina, ficamos impressionados pela necessidade de uma nova conceitua!idade c novas abordagens. Nestes últimos vinte anos, uma quantidade significantc dc literatura foi escrita por esses que refletem a questão da missão urbana. Ainda assim, parece que especialmente em missiologia urbana pessoas têm dificuldade em lidar com o sistema inteiro da cidade. Por um lado, há alguns envolvidos em micro-ministcrio que tratam dos indivíduos c as necessidades deles na cidade - mas eles freqüentemcntc se desgastam com suas tarefas, em parte porque não estão lidando com o sistema inteiro. Por outro lado, I1.Í aqueles que gastam muita energia fazendo macro-estudosein sociologia, antropologia, economia, etnicidade, política, história e religião na cidade ‫־‬ mas raramente parecem chegar ao nível das ruas e das pessoas das cidades. Suas recomendações para ações concretas parecem fracas, e o seu ativismo torna-se entorpecido pela extensão da investigação.
  • 13. Outros autores que escrevem sobre a missão da igreja na cidade parecem se prender a uma ou outra agenda. E cada agenda e insufle iente por si só. Por exemplo, a teoria e prática de organização de comunidade parece precisar de reflexão c interação mais profunda com a igreja na cidade. Por outro lado, muitos esforços de evangelismo de massa na cidade estiveram cegos às questões sistêmicas da cidade e raramente buscaram uma transformação mais radical c holística das cidades onde os em preendim entos evangelísticos aconteceram. E, embora haja um crescente interesse para plantar e cultivar igrejas na cidade, muito pouco desses têm qualquer intenção missional para ser os agentes de Deus para transformar a própria cidade. Geralmente, parecem existir duas abordagens diferentes para a cidade. Em um extremo, nós temos muitas agências de serviço social que proveem ajuda a pessoas com pouca consideração para os sistemas da cidade, ou com interesse cm aglomerar pessoas para formar uma congregação (igreja). Do outro lado, parecem estar muitos esforços evangelísticos, esforços para plantar igrejas que não parecem lidar com a extensão inteirado mal na cidade. Muito freqüentemente nós vemos ativistas que raramente param para fazer e aprofundar suas reflexões e pesquisadores que refletem, mas não se movem para fazer algo concreto para mudar a realidade das cidades que eles estudam. Enquanto isso, as igrejas na cidade continuam lutando para achar como ser as comunidades de fé missionárias viáveis na cidade. Para as igrejas, vida e ministério na cidade significa viver em meio a tensões profundas. A igreja não é uma agência social, mas é significação social na cidade. A igreja não é o governo da cidade, mas Deus chamou-a para anunciar e viver o reino d‘Ele em toda sua significação política. A igreja não é um banco, mas é uma força econômica na cidade c precisa buscar o bem-estar
  • 14. econômico da cidade. A igreja não é uma escola, mas Deus chamou-a para educar as pessoas da cidade quanto ao evangelho de amor, justiça e transformação social: pessoal e estruturalmcnte. A igreja não é uma família, mas é a família de Deus, chamada para ser vizinho aqueles que Deus ama. A igreja não é um edifício, mas precisa c possui edifícios para levar a cabo seu ministério. A igreja não é exclusiva, não é melhor, não é especial, mas Deus a chamou especialmente para ser diferente no modo que serve a cidade. A igreja não é uma instituição, mas necessita de estruturas institucionais para efetuar mudanças nas vidas das pessoas e da sociedade na cidade. A igreja não é uma organização desenvolvimento de comunidades, mas o desenvolvimento da comunidade é essencial à natureza da igreja. Assim é evidente que precisamos procurar uma teologia de missão que possa nos dar modos novos para perceber nossa cidade, embasar nosso ativismo, guiar nossas conexões, c energizar esperança nova pela transformação de nossa cidade. Este trabalho de Jorge Barro responde às inquietações representadas pela situação descrita acima. Originalmente uma dissertação de Ph.D., este trabalho é mais simples de um exército acadêmico. Vindo de sua própria experiência pastoral e missional, c motivado por seu amor apaixonado pelas pessoas e pela cidade que influenciarem seu estudo, Barro nos desenhou um retrato profundo, desafiador, claro e cheio de esperança da missão na igreja da cidade. Tendo se imergido na visão, metodológica e visão mundial de Lucas- Atos, Barro nos mostra uma coleção de insight que o Lucas bíblico podería nos oferecer se ele caminhasse pelas calçadas de nossas cidades hoje. Este livro desafia o leitor a buscar novas estratégias à missão da igreja na cidade. Barro chama (‫י‬ leitor à rc-conceituar quatro aspectos da missão da igreja na cidade:
  • 15. ‫־‬ Uma perspectiva nova da própria cidade como um contexto novo e sem igual de missão; ‫־‬ Uma perspectiva nova da igreja c uma procura para formas novas de ser igreja na cidade; - Uma compreensão nova de missão como a atividade do 1)eus triúno na cidade; e; - Um envolvimento novo em ortopraxis como um processo de reflexão-ação-retlexão-ação na cidade. Barro conduz o leitor ao mundo de Lucas-Atos levando- 0 a descobrir a analise social e método missiológico de I.ucas, descobrimos a perspectiva trinitária de Lucas da missão de Deus, missão de Jesus, o Cristo, e a missão do Espírito Santo. 1ucas apresenta Deus interessado nos pobres tanto como sendo recipiente como agentes da missão de Deus. Barro entrelaçado estes temas em uma tapeçaria bonita na qual podemos ver as faces das pessoas, as quais ele chamou tipos característicos de missão cm Lucas-Atos. Emergindo desta análise, Barro então aponta ao leitor o que considera ser o componente fundamental de uma missão urbana hoje cm relação a autoridade, poder, conteúdo, audiência, estratégia c contextualização. A igreja de Jesus Cristo é chamada para ser, saber, fazer e ajudar a experimentar amor, justiça e misericórdia na cidade. Este livro é um dos poucos trabalhos que eu conheço que atravessa as distinções e contradições que esbocei no começo desse Prefácio. O ponto de vista de Barro envolve tanto o micro-nívcl de pessoas como o macro-ntvcl de estruturas. Ele une a necessidade de té pessoal c renovação com o desafio da mudança estrutural e sistêmica. Chama o leitor à reflexão profunda na missão de D eus e simultaneamente nos desafia à ação intencional, unida c concreta. Entende que missão na cidade deve ser a ação trinitária salvífica de Deus c ao mesmo tempo demonstra que tal ação é concretizada pela vida c ação da igreja na cidade.
  • 16. Clama por uma compaixão pelo pobre que também provoque mudança sistêmica na cidade. O autor deste livro resume bem a contribuição dele do modo seguinte: - "A teologia de missão de l.ucas nos ajuda a desenvolver uma relação equilibrada entre missão, Bíblia e contexto. A Bíblia é o conteúdo, o contexto é a nossa arena e a missão é o que nós fazemos em nosso contexto, ancorados e estimulados pela Bíblia... O desafio da igreja para fazer missão 11a cidade... é o desafio de lazer missão como resposta à realidade das cidades. Não há mais nenhum lugar para copiar, imitar e importar métodos estrangeiros de missão... A Bíblia deve ser lida e interpretada no contexto particular no qual a igreja está situada. Deus chama a igreja a este contexto particular como um instrum ento da graça e salvação, desenvolvimento e fazendo missão como processo criativo e de transformação” (Charles VAN NGEN e Jude IIERSMA (eds.) God So Loves the City: Seeking a Theology for Urban Mission. Monrovia: MARC, 1997, pp. 296-297; 312*313). Barro conclui com três desafios que a igreja enfrenta em missão arbana hoje no Brasil: um novo modo de ver, novos c formas de fraternidade e um modo novo de interpretar a cidade. Sei que os leitores desse livro serão estimulados, desafiados, encorajados e motivados por aquilo que ele está escrevendo. Compartilho a visão c preocupação do Jorge. O trabalho dele me moveu a orar para que nosso gracioso Senhor Jesus, em cuja missão nós participamos, possa conceder a cada ti‫ווו‬ de nós a sabedoria, perspicácia e coragem que nós precisamos para desenvolver uma nova reflexão teológica, missiológica c pastoral e agir como igreja de Cristo em missão em um mundo crescentemente urbano. Charles Van Engen
  • 17. Introdução De cidade em cidade e parte da minha tese de douto- rado do FullerTheological Seminary. Após muitas tentativas (várias frustradas) de escolher um tema para minha pesquisa, meu mentor, Dr. Charles Van Engen, veio com uma idéia: estudar a teologia de missão urbana cm Lucas-Atos. Achei a idéia fascinante e encorajadora, podendo contar com sua aju- da no desenvolvimento do tema. Quanto mais estudava tanto mais convicto ficava em relação à importância do tema. Ficava também mais apaixo- nado por este teólogo da missão, I.ucas, quede forma organi- /ada nos mostra o desenvolvimento do ministério de Jesus c da Igreja Primitiva. A cidade ocupa um lugar privilegiado cm sua narrativa c, logo no início, nos mostra uma afirmação de Jesus, que revela uni dos propósitos pelos quais ele foi enviado pelo Pai: Ί . necessário que eu anuncie o evangelho do Reino de Deus também às outras cidades, pois para isto é que eu fui envia- do” (Lc 4.43). Isso nos revela cinco verdades relacionadas ao I.vangelho: 1. A importância·, c necessário 2. O agente c seu método·, que eu anuncie 3. O conteúdo: o evangelho do Reino de Deus 4. Ü contexto: também às outras cidades 5. A vocação: pois para isto é que eu fui enviado Poderiamos dizer, encharcados pela importância do Evangelho, nós (agentes) anunciamos o evangelho do Reino de Deus para as pessoas das nossas cidades, cumprindo assim nossa vocação missionária!
  • 18. I >1 Cnw>r m ('tiniu Assim, Jesus e aquele “que andava He cicLide cm cidade 1‫־‬dc aldcia cm aldeia, pregando c anunciando o evangelho do Reino de I)eus" (Lc Η. I) c vinham "ter com ele gente de todas .is t idades1) ‫״‬ t 8.4). De <idade cm ('.idade e uma tentativa de refletir os demento* para a construção de uma teologia bíblica de mis- sao urbana na perspectiva de I ticas-Atos. Escolhi o evangelista I tu as pot entender cpte foi o que mais enfatizou a presença da t idade em sua narrativa. I m vez de lazer uma breve introdução para o livro, pre- hro remetí* Io direto ao texto, permitindo que ele tenha o mes- nu >propósito c efeito em sua vida como aconteceu com Teófilo e seus leitotes. I ucas escreve para que ele,Teófilo, tenha plena certeza das verdades cm fora instruído (Lc 1.4). Se este proper- sito pastoral lor atingido cm sua vida, eu ficarei muito feliz. Sc este material trouxer mais paixão, mais convicção, mais ardor missionário, mais solidez na fé, meu propósito com De Cidade em Cidade foi alcançado. Unrão, vá logo ao texto e deixe Deus apaixonar seu co- ração ele mesmo e por missão urbana! Jorge Henrique Barro 18 —
  • 19. Capítulo ^ O método da teologia de missão de Lucas A palavra “método” significa procedimento, maneira, fórmula, caminho, modo c processo. Ela vem da palavra gre- ga bodos, que é caminho. Este capítulo pretende demonstrar o caminho (método) de Lucas para a teologia de missão. Para isso, devemos estudar suas passagens centrais, que são os pró- logos em Lucas 1.1-4 c em Atos 1.1. Visto que muitos empreenderam uma narração coorde- nada dos fatos que entre nós se realizaram, conforme nos :rans- mitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas ocu- lares e ministros da palavra, igualmente a mim pareceu hem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, dar- te por escrito, excelentíssimo Tcòfilo, uma exposição em or- dent, para que renhas plena certeza das verdades em que fostes instruído (Lc 1.14‫.)־‬ Em Lucas 1.1-4 encontraremos alguns tópicos relacio- nados à saa metodologia. Lucas nos dá alguns parâmetros hermenêuticos para os seus escritos. Eles são uma “exposição” 19
  • 20. ---------- Di Cituor m C um u dos “fatos que sc‫־‬realizaram” no seu tempo c contexto (“entre nós"). Iaieas realizou uma “aturada investigação de tudo des- de a sua origem” c, como resultado de sua investigação, es- creveu urna “exposição em ordem,” que é endereçada a Teólilo, tom o propósito de que ele tivesse "plena certeza das verdades" em que tora instruído. O propósito da exposição em organizada ordem de Lucas é dar à vida de Feófilo a íisfilutlfiti (segurança) de que precisava para ter firmeza nas "verdades" em que fora instruído. Alguns teólogos entendem que esta asfth,tlcin tinha o propósito de gerar uma certeza teológica, outros que esta certeza era apologetic.! ou ainda uma historiografia apologctica. De acordo com Ralph P. Martin, “os interesses de Lutas não são especulativos ou mes- 111o teológicos; na verdade, eles são motivados pastoral” ( 1975:57). Na minha opinião, este propósito é, cm esscncia pastoral-missionário, o que pode incluir a teologia e a apologética. Tradicional lemos Lucas como sendo um histori- ador, evangelista e, mais recente, um teólogo (apesar das con- trovérsias). Sc Lucas tinha em mente um propósito pastoral- missionário, então estaria correto ler sua obra como sendo também a de um pastor? Trainor faz alguns comentários im- portantes sobre este assunto: Uma investigação sobre como uma das comunidades cristãs lidou com seus próprios assuntos pitstorais pode nas ajudar a saber como agir hoje em dia [...] Lucas-Atos pode nos oferc- cer hoje uma assistência no desenvolvimento de um método mais apropriado » 10 prática pastoral porque os escritos de l.ucas são normativos para a vida da comunidade cristã |...J A com1 1ni»lade para a qual Lucas escreveu se apresenta !1 n»4s como uma parceira viável para uma conversação elucidativa a respeito de uma prática educacional ou teológica que seja tanto responsável quanto pastoral!auxiliadora para a comu- nidade cristã. (1992:10-11. grilo acrescentado) Mais do que isso, Trainor afirma, sem nenhuma dúvi- da, que “uma detalhada investigação do prólogo também re- --- 20
  • 21. vela os princípios subjacentes para uma ação ou ortopráxis pastoral corretada qual 1ucas seutilizou ao abordarosassuntoscontcmporâ- neosaestascomunidadescristãsprimitivas”(1992:19). A exposição em ordem de Lucas é uma experiência da praxis de Jesus e também de sua comunidade, que tinha a tarefa querigmática de invocar uma resposta de lé naqueles que expe- rimentaram o cumprimento das promessas de Deus através de Jesus. No prólogo de Lucas, encontramos o método, o conteú- do, as fontes, o propósito e o contexto de seas escritos. Na Figura 1, podemos ver como Lucas pretendia desenvolver sua exposi- çâo organizada. .Sea exposição de Lucas é uma narrativa da prá- tica de Jesus e também da comunidade de Jesus, tendo a tarefa querigmática de invocar uma resposta de fé naqueles que expe- rimentaram o cumprimento das promessas de Deus através de Jesus, então é crucial deixar claro cada um destes pontos. Eles são: narrativa, práxis de Jesus, praxis da sua comunidade, querigma e fé. Muitos Eu (Lucas) Método Narrativa Exposição Método Ordem em Ordem >f Práxis de ‫י‬_______ t_______ Conteúdo Dos Fatos Jesus De Tudo _ Conteúdo Comunicação Contexto _______ 5' Praxis da ‫י‬_______ t_______ Contexto P.issado j Que EntrcNÓS Comunidade Teófilo Atual Integralidade Se Realizaram ç ■ >f Kerígm a ‫צ‬_______ t_______ Prooósito Missionário fontes Testemunhas Oculares Fé Plena Certeza Pastoral Lxatidáo Ministros da Palavra das Coisas Figura 1 Lucas 1:1-4
  • 22. Dl I 'l lH I U I I I ( ' l i m n N.1 Figura I podemos observar dois esforços. O esforço quo "muiios" empreenderam p.ir.1 uma narração coordena- da dos !.nos que so realizaram entre eles e também o esforço de I uc.is, quo realizou uma acurada investigação de tudo desde .1 sua oi igem, no que diz respeito a Jesus. Fm ambas as tentai ivas, podemos observar quatro etapas: 1. é uma narrati- va (narração coordenada/cxposição em ordem); 2. é uma narrativa da pr.íxis dc Jesus (dos fatos/dc tudo); 3. c uma nar- tativa da pr.íxis da comunidade (que entre nós se realizaram/ loólilo); e 4. é uma narrativa com um propósito missionário e pastoral (testemunhas oculares e ministros da palavra/ple- na certeza das coisas). A Figura 2 nos ajuda a visualizar a nar- rativa de l.ucas. Narrativa—> cia práxís —> de Jesus —> da comunidade de Jesus — > querigma que requer uma resposta de fé Figura 2 A Narrativa de Lucas É importante estudar essas quatro etapas do método da teologia de missão de Lucas à luz de Jesus e d.1 missão da co- munidade. N arrativa A narrativa dc Lucas é organizada em torno de seções geográficas extensas, deslocando o seu palco de um lugar para outro, mostrando-se como "a história da viagem’’ (Kiimmel 1982: 132). Nesse sentido, é uma narrativa que se dá no ca- minho. l.ucas não é um historiador ou teólogo estático. K no caminho que ele demonstra a atividade de Jesus, dos discípu- los, de diferentes tipos dc pessoas, indivíduos, em diversos lugares, costumes e culturas. "Além disso, a narrativa está pro- fundamente enraizada na experiência humana, particular na 22
  • 23. experiência do autor e da comunidade da fé à qual é destina- do o evangelho” (Trainor 1992:30). A narrativa de Lucas não é apenas uma questão de método, mas também em essência uma questão de vida! A vida daqueles que estavam envolvi- dos com Jesus e com sua comunidade. Os dois volumes de Lucas podem scr descritos mais cor- retamente como uma história ou narrativa qucrtgmática. Eles narram as maravilhas que o Deus da criação e de Israel realizou no passado, tinha efetuado em e através dc Jesus (Lc) c continuou a fazer no meio da comunidade de discípulos (At). O propósito dos dois volumes c provocar um impacto ao leitor com a história e a proclamação do cumprimento da Palavra de Deus através dc Jesus, des- pertando na comunidade lucana uma resposta de lc e ‘as- segurando-a' da fidelidade de Deus (Trainoi 1992:30). A palavra que Lucas usou para “narração” (Lc 1.1) é diegeún. Dicgesis significa levar ou conduzir uma narração até o fim, além de enfatizar, contar, relatar completa e des- crever. No entanto, é importante salientar que a palavra usa- da para exposição em ordem (Lc 1.3) não é diegesin, mas cathecses. A palavra cathecses denota sequência no tempo, espaço ou lógica, uma sequência que esteja em ordem, um após o outro, ponto a ponto. Há uma extensa discussão a respeito do significado desta palavra (veja Fitzmycr 19 8 1: 298- 299), mas “Lucas diz mera que ele estará escrevendo aTcòfilo numa apresentação sistemática; esta é uma referencia velada ao período de Israel, ao período de Jesus e ao period(! da igreja” (Fitzmycr 1981: 299). A narrativa de Lucas é cheia de personalidades, nomes, heróis c heroínas. Sem dúvida, as per- sonalidades centrais em Lucas são Jesus (no Evangelho) e sua própria comunidade (cm Atos).
  • 24. ---------- /)/, Cunnr r*t 0 /0 /1/ A PRAXIS I>1Ji SUS Somos informados por Lucas cic que clc estará cscre- vendo unia exposição em ordem daquilo que pesquisou em uma ".k urada investigarão de tudo desde a origem” (Lc 1.3). 1tuas diz: "escrevi o primeiro livro, óTeófilo, relatando todas as ctmsas que Jesus começou a fazer e a ensinar, até ao dia cm que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do 1spíi ito Santo aos apóstolos que escolhera, foi elevado às al- tinas" (At 1. 1-2). Em outras palavras, Lucas investigou tudo (futsin) o que Jesus fez e ensinou. A hermenêutica de 1.ucas é Jesus. A asphaleia, da qual Teófilo e outros possíveis leitores precisariam, não se constitui num mero compêndio sistema- tico de doutrina, mas à pessoa de Jesus, através dos seus feitos e de suas palavras. Em seu primeiro volume, a atenção de I.ucas estava em “todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar" (At 1.1). Podemos depreender, a partir desta frase, que a ordem das palavras c importante para Lucas? Por que Lucas menciona primeiro o “fazer” ao invés do “ensinar”?Não está claro se este era o seu propósito ou não. Na sua primeira seção, que vai de 4.1 a 9.51, o foco de Lucas se dá sobre o ministério de Jesus na Galiléia. Esta seção é vista tradicional como a que contém as ações de Jesus (o fazer). No entanto, também encontramos seus ensinamentos nesta seção. Somos informados por Lucas que a primeira ati- tude de Jesus depois da tentação no deserto foi retornar à Galiléia e ensinar nas sinagogas (Lc 4.15). “E desceu a Calarnaum, cidade da Galiléia, e os ensinava no sábado” (l.c 4 .3 1). Lucas não fez nenhuma divisão intencional ou diciáti- ca entre o que Jesus ensinava e o que fazia. Ele as mesclava mostrando que o ministério de Jesus era integral —enquanto ensinava (palavra) ele também fazia (atos), e enquanto fazia também ensinava. Precisamos evitara tentação de dicotomizar o ministério de Jesus e, conseqücntcmente, o nosso - os 24
  • 25. práticos (pastores e missionários) contra os teóricos (pro- fessores e teólogos) e vice-versa. Os escritos de Lucas são narrativas da experiência de Je- sus. Vamos enfatizar a expressão “experiência de Jesus”. Mais do que uma biografia didática dc Jesus, ela c uma “apresenta- ção sistemática” do que Jesus começou a “fazer e ensinar” - isto é, a experiência com os discípulos, judeus c gentios, ricos e po- bres, homens e mulheres, jovens, crianças, doentes, líderes reli- giosos ou políticos, multidões, o diabo e até com os costumes. Isso é vida - uma vida cheia de experiências com pessoas e situações reais. A EXPERIÊNCIA DA COMUNIDADE DE JESUS É a partir da experiência de Jesus que Lucas inicia a redação do seu segundo volume - os Atos dos Apóstolos. Ten- doassen adoabasea partir da experiência de Jesus, Lucas esta- bcleceu os fundamentos da comunidade nascente. A praxis de Jesus será a práxis da sua comunidade. O conteúdo e o modelo já tinham sido dados. O próximo passo c a demonstração de como viver entre os contextos passado e presente. O contexto passado er.i formado pelos “fatos que entre nós se realizaram” (Lc 1.1). Estabelecendo uma continuidade com o passado (“es- crevi o primeiro livro”), Lucas escreve seu segundo volume a léóíilo. Agora, o foco é a nova comunidade dc Jesus. Ele não está fisicamente nela (descontinuidadc), mas está espiritual- mente presente através do Espírito Santo (continuidade). De acordo com JoséComblin, Lucas: escreve para uma comunidade ou um conjunto homoge- nco dc comunidades cm que convivem... cristãos judeus c não-judeus. Estes eram essencialmente prosélitos ou pe- los menos “adoradores de Deus”, isto e, pagãos que já ti- nham deixado a idolatria e praticavam parcialmente a rc- ligião judaica, adorando o Deus dc Israel (1988:9) 25
  • 26. ---------- Df: Cnuitt: m Ctiuttr... — Em seu segundo volume, Lucas teve de enfrentar três problemas, respondendo a três questões: 1. ( 'onto os judeus vão aceitar que os convertidos (“pa- gãos”) comam com eles à mesma mesa? Este ê o problema de relacionamento social - a participação comunitária à mesa. 2. ( àmtoos judeus convertidos vão manter os seus cos- mines e ti uliçócs religiosas e estabelecer sua identidade cris- ra ao mesmo tempo? Este é o problema religioso —a nova e a vcllu identidades. 3. ( )s gregos e os romanos, particularmente aqueles que estavam envolvidos com a elite do Império Romano, vão con- seguir manter a sua lé em Deus e ao mesmo tempo manter a sua lealdade ao Império? Este é o problema político - a nova atitude ética. Enquanto lemos c analisamos a narrativa de Lucas em Atos. estas três questões são cruciais para compreender suas explicações. Lucas focal 1/.a-se no problema do relacionamen- to, o qual evoca uma nova identidade. Esta nova identidade, como povo de Deus, implica e demanda uma nova atitude ética, como resultado do compromisso com o Reino de Deus. Q u fw g m a e fé Os escritos de Lucas são uma narrativa da experiência de Jesus, que é o modelo para a vida e missão da nova comu- nidade. No seu último estágio, a narrativa de Lucas “está pre- ocupada com salvação, a atividade de Deus no passado e pre- sente. E por isso que a narrativa pode ser descrita como querigmática’e depende da ativação da memória sagrada - a memória da ação de Deus na comunidade que crê (Israel e a comunidade dos discípulos de Jesus)" (Trainor 1992:30). As bases para o querigma (no primeiro volume) eram ,‘as testemunhas oculares c ministros da palavra" (Lc 1.2). A partir destas fontes (e também de fontes pessoais), Lucas deli- neia sua exposição em ordem, depois de uma “acurada invés- 26
  • 27. tigação dc tudo desde a sua origem”. Isso o habilitou a escre- ver para Teóftlo a fim de que ele tivesse “plena certeza das verdades em que fora instruído”. Até esse ponto tenho explicado a metodologia dc Lucas para a sua narrativa. No entanto, a teologia missionária tio Evan- gelho é resumida no segundo volume (Atos) c ele resumiu a teologia missionária de Atos no primeiro (Evangelho). ATabe- Ia 1 nos ajuda a visualizar melhor Lucas e Atos. Para compreender a teologia de missão de Lucas preci- santos encontrar os elementos cruciais (ou horizontes hcrmenêutico-tcológicos) dos seus escritos. Existem cinco ele- memos cruciais em Lucas-Atos que nos oferecem o quadro Tabela 1 Atos 1:1-2 c Lucas 24:44-49 Encontramos 0 resumo da teolo- gia missionária do Evangelho cm Atos 1.1-2. Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a lazer e ensinar ate ao dia cm que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do Espí- rito Santo aos apóstolos que escolhera, foi cie- vado ás alturas. Encontramos o resumo da teolo- gia missionária de Atos cm Lucas 24.44-49 A seguir Jesus lhes disse: são estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco, que importava se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; e lhes dis- se: Assim está escrito que o Cristo havia dc padecer, e ressuscitar dentre os mortos no ter- ceiro dia. c que cm seu nome se pregasse o ar- rependimento para a remissão de pecados, a todas as nações, começando dc Jerusalém. Vós sois testemunhas destas causas, que envio so- bre vós a promessa de meu Pai: permanecei, pois. na cidade, até que do alto sejais revesti- dos de poder.
  • 28. Dr ( 'u n t il· 1 μ Cm m u geral da teologia de missão de Lucas. O primeiro dem ento é a teologia da missão trinitãria desenvolvida por ele. O mode- |o de missão paia I.ucas é a "Comunidade Trinitária”. Hoje em dia a cliamamos ele missio Dei. O segundo elemento é o fato ele que a l lomunidadc Trinitária, em amor, provê a pos- sihilidade de “salvação” a todos os povos, raças, etnias c cultu- ras. ltn I.ucas, a salvação é muito mais que o perdão dos pe- e.ulos ou a salvação ela alma, enquanto resultado de uma pro- damaçao verbal. I loje em dia a chamamos de “Missão lnte- gral". () terceiro elemento desta teologia é “comunidade”. A comunielaele é o povo de Deus em efazendo missão. O con- ceio» lucano ele comunidade não c apenas o de ajuntamento ele crentes, mas também a comunidade missionária, a qual se engaja fielmcme (práxis), já que é composta de agentes do amor divino para todos os sereshumanos. O quarto elemento éo “mun- elo . hste elemento nos lembra que a missão tem um contexto. A comunidade está inserida em seu contexto local e global. I loje, a chamaríamos de presença “contextual”e “encamacionai da igre- ja. l inalm ente, sendo uma com unidade contextual e encarnacional, a experiência com o Senhor ressurreto c com o poder concedido pelo Espírito Santo convocou a comunidade para agir e ser relevante para o seu povo. Hoje, a chamamos de “práxis". A práxis da igreja é uma consequência da experiência com o Senhor ressurreto e também uma resposta ao seu chama- do missionário. r. necessário explicar a forma de metodologia que será utilizada para abordar o texto de I.ucas-Atos. Aquela usada pelos teólogos latino-americanos pode ser-nos útil. Como já demonstramos anteriormente, a exposição em ordem de I ucas c uma narrativa da práxis (fatos, tudo o que aconteceu) relacionada a Jesus e à sua comunidade, com vistas à realiza- ção da tarefa qucrigmática de invocar uma resposta de fé naqueles que experimentarão o cumprimento da Palavra de I)eus através de Jesus. “Práxis" é o elememo-chave para com- 28
  • 29. ---------- Η 7 η into precnder a teologia de missão de Lucas e também para com‫־‬ preender a teologia latino-americana. O “círculo espiral” de Green será utilizado para abor- dar a narrativa lucana com duas alterações. A primeira, ao invés de se iniciar esta espiral com a “experiência”, usarei a palavra “praxis”. Praxis é mais que experiência; é a presença ativa de agentes (cristãos e igrejas) na história, por meio da fé, em seus contextos de vida. Usando a definição de Orlando Costas, “praxis cristã é a ação criativa e transformadora do povo de Deus na história, acompanhada de um processo pro- fético e de reflexão crítica que objetiva tornar a obediência cristã ainda mais efetiva” (1989:30). A segunda mudança é, na ver- dade, uma inserção, ou seja, de “reflexão” por “reflexão bíbli- ca”. Se nossa reflexão não tiver espaço para a Palavra de Deus, corremos o risco de ter como resultado uma fé apenas ideoló- gica que não esteja cm sincronia com a Bíblia. Nem toda reílc- xão é uma reflexão bíblica. E uma praxis sem reflexão bíblica torna-se “praxismo”. Não é isso que buscamos. Nosso objetivo último é uma nova situação ou experiência que seja um resul- tado de uma reflexão bíblica que nos conduza a uma praxis teológica. A Figura 3, mais abaixo, nos demonstra isso.
  • 30. --------- D r ClO tW KM ÇlItAOK... ---------- Costas disse que “precisamos de uma teologia de mis- são caracterizada por uma fé que age. Fé é a aceitação Ac, a confiança nu c o compromisso com Deus. Uma fé que age está incondii ion.ilmeme comprometida na praxis com todas as coisas som as quais Deus está comprometido” (1977:225). 1sta aftimação de ( !ostas nos auxilia na abordagem à narrati- va de 1ucas a partir da praxis. Esse “círtulo espiral” nos ajuda a construir unta nova situação/experiência/práxis. E exatamente esse o desafio do evangelho. I .,ma das passagens centrais que evidenciam a tc- ologia rle missão de Lucas é o texto de Lucas 24.44-53. Jesus ordena que “cm seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando dejerusa- lem" (Lc 24.47). Em outras palavras, o objetivo último do evangelho é transformar a vida daqueles que tiveram uma experiência com Jesus. A partir de agora veremos a ccmralidadc da teologia da missão lucana: a missão de Deus (missio Dei), a missão de Jesus (missio Christi) e a missão do Espírito Santo (missio Spirit!! Siincti).
  • 31. Missio D e i : D e u s c o n t i n u a a t r a z e r sa l v a ç ã o para O SEU POVO ( o n a s c im e n t o d a sa l v a ç ã o ) Não é uma tarefa fácil identificar o tema mais central (no singular) da teologia de missão de Lucas. Quando pensa- mos quais poderíam scr os temas centrais (no plural), a tarefa se torna bem mais fácil. Está claro que Lucas enfatiza muitos as- pectos que são peculiares à sua própria narrativa. Por exemplo, ele enfatiza a centralidade da oração, o papel c lugar da mu- llier, o Espírito Santo, o reino de Deus c alguns indivíduos comoTcófilo, Zacarias, Isabel, Maria, Simão, Ana, Marta, Nairn, João Batista, Zaqueu, Cléopas, Simão de Circne, José de Arimatéia, Pedro e Paulo. Também podemos observar temas como: a universalidade do Evangelho, os pobres e os ricos, os samaritanos, os excluídos, os gentios, os pecadores, as cidades, 0 Diabo, a Palavra de Deus, o plano de Deus, a ascensão, a paz, a restauração de Israel e dc seu pos o e o Templo. Outros temas ainda poderíam ser adicionados a esta lista. No entanto, estes exemplos nos dão uma idéia de quantos tópicos cruciais podem ser encontrados cxclusivamcntc em 1.ucas. O desafio que devemos encarar é estabelecer o âmago 31
  • 32. 1)1 Cu.i.wr ΓΑ1 Cintnu... da teologia de missão de I.ucas. Lxistem muitas controvérsias a respeito disso, !,or exemplo: 1.1 tike Iimothy Johnson entende que seria um enga- no ler o trabalho de Lucas a partir de um único ponto de vista. Para ele, os temas de Lucas “são desenvolvidos não de forma independente, mas sem um padrão evidente” (1991: 2 1). Alguns deles poderíam ser: proclamação universal, gran- de tubulação, salvação, Palavra de Deus, conversão e a res- posta de lé. 2. I lans Cozelmann enfatiza a função escatológica da narração de Iaicas no esquema da história da salvação (1960). .1. C K . Barret diz que “Lucas-Atos foi escrito para cx- pn ssar o propósito de servir como uma defesa contra o gnosticism o” (1961:28). 4. Lina Boff diz que "dos diferentes significados que o evangelista confere à palavra missão enquanto ação do pneuma, optamos por destacar o sentido de missão como anúncio" (1995.41). Mesmo considerando que a narrativa de Lucas é muito útil aos não-eristãos, devemos manter em mente que I ucas cs- creveu seus dois volumes primariamente para a comunidade cris- tã. “Ele escreveu para cristãos afim de assegurá-los da confiabilidade dos fatos sobre os quais tinham sido informados (Ix: 1.14‫”)־‬ (O’Toole 1984:11-12). Ao escrever para cristãos, Lucas desenvolve o tema da continuidade (e posterior descontinuidade) com Israel, evidenciando que Deus continua a trazer salvação para o seu povo. Essa salvação deveria ser uni- versai, em continuidade com a história de Israel. O tema central da teologia de missão de Lucas é que “I)eus continua a trazer salvação para o seu povo (missio Dei) através de Jesus (missio Christi) e do Espírito Santo (missio Spiritu Sanai), comissionando o povo de Deus (missio /:cc/csiamm) a proclamar sua salvação”. Esta visão da tema central da teologia de missão de Lucas é baseada na missiologia
  • 33. ---------- Jum.1 lh1trQ(jf li t*K<> ---------- trinitária. “Trinitária” porque se refere à missio Dei, tnissio (.hristi e missio Spirit11 Sancti. “Missiologia” porque o povo ile 1)eus é comissionado a proclamar a salvação providencia- da por Deus até aos confins da terra (missio EccUsiarum). t no poder do Espírito Santo que a Igreja serve como um ins- trumento de proclamação da salvação de Deus. No entanto, essa salvação, de acordo com Lucas, é universal. Λ SALVAÇÃO UNIVERSAL A narrativa da infância é cheia de referências à salvação universal. O cântico de Zacarias (Bntedictus) fala a respeito da salvação universal trazida por Deus: “Bendito seja o Sc- nhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, e nets suscitou plena e podciosa salvação na casa dc Davi, seu servo, conto prometera, desde a antiguidade, por boca dc seus santos profetas para nos libertar dos nossos inimigos c da mão <.le todos os que nos odeiam; para usar de misericórdia com os nossos pais e lembrar-se da sua santa aliança e do jura- mento que fez a Abraão, nosso pai, de conceder-nos que, li- vies ilas mãos de inimigos, o adorássemos sem temor, cm san- tidade e justiça perante ele, todos os nossos dias.Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor, preparando-lhe os caminhos, para dar ao seu povo conhecimento da salvação, no redimi-lo dc seus pecados, gra- ças à entranhável misericórdia de nosso Deus, pela qual nos visitará o sol nascente das alturas, para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz" (Lc 1.68-79). Zacarias entendeu que aquela era a salvação dos inimi- gos (implicações sócio-políticas) e salvação através do perdão dos pecados. Os receptores daquela salvação eram aqueles que viviam nas trevas e à sombra da morte. As boas novas trazidas aos pastores eram para “todo o povo” (Lc 2.10).'As boas novas eram “que hoje vos nasceu, na 33
  • 34. P! ('mini 1MCm tin cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (I.c 2.10 ,11). ( )utro cânt ico que fala sobre salvação é o de Simeão (Nunc l hunttis). Simeão articula o mesmo tema. Ele diz: “por- que os meus olhos j.í viram a salvação, a qual preparaste diante de todos os povos (Ix 2.30-31). Um novo dia raiara, trazendo a “111/ para revelação aos gentios, e para a glória do teu povo de Israel' (Ix 2.32). “A ,salvação’de Deus foi o que Simeão reco- nha.eu quando o Messias infante foi levado ao templo” (Senior e Stuhlmucller 1995:355). Não há dúvidas, como já dizia o profeta 1saias, de que “toda carne verá a salvação de Deus” (l.c 3.0). ( )utro aspecto da universalidade da salvação pode ser visto na Sinagoga de Nazaré, na qual “Jesus estabeleceu suas credenciais messiânicas, construiu a base da comunidade messiânica e começou a experimentar os seus sofrimentos messiânicos pelo mundo” (Costas 1989:55). Qual é o con- ccito da missão de Jesus declarado na sinagoga de Nazaré? Jesus começou o seu ministério proclamando que: “O Espíri- to do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangeli/ar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos c restauração de vista aos cegos, para pôr em liber- dade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor” (1x4.18-19). Nesta passagem, encontramos o programa messiânico da agenda missionária de Jesus: 1. o Espírito Santo; 2. as boas no- vas aos pobres; 3. libertação aos cativos; 4. restauração da vista aos cegos; 5. liberdade aos oprimidos, e; 6. o ano aceitável do Senhor. Em outras palavras, as perspectivas da missão de Jesus sao basicamente duas: no poder do Espírito Santo, a missão de Jesus é proclamar e encarnar as boas novas integrais do Reino de I)eus, compreendidas na proclamação da salvação, libertação, perdão, cura e restauração. Jesus usa dois exemplos na sinagoga de Nazaré a fim de ilustrar a realidade da universalidade da missão. O primeiro
  • 35. J<m;r. // m iy f í H kro é o tia pobre viúva tie Sarepta, na região de Sidom. Jesus diz: "na verdade vos digo que muitas viúvas haviam cm Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses, reinando grande fome em toda a terra; e a nenhuma delas Elias foi enviado, senão a uma viúva de Sarepta de Sidom” (Lc 4.25-26). Isso significa que foi cm benefício dos pagãos e estrangeiros que Deus, pelas mãos do profeta, reali- /ou gestos de misericórdia, dando pão aos famintos. O moti- vo central dessa ilustração é que Jesus está dizendo aos judeus da sinagoga que Elias foi enviado à viúva gentia, ao invés de ser enviado a uma viúva judia. Jesus está oferecendo a eles uma clara afirmação dc que sua missão incluiría os gentios. O segundo exemplo é Naamã, o siro. Jesus disse: "havia também muitos leprosos em Israel nos dias do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro” (Lc 4.27). Esta é uma afirmação muito dura, já que Naamã, sendo um siro, não apenas era considerado um estrangeiro como ainda um inimigo de Israel. Ele foi curado dc sua lepra mergulhan- do-se sete vezes no Jordão, de acordo com a palavra de Eliseu (2Rs 5). “Nesse caso, um gentio vem à Israel buscando cura. Novamente, Jesus está anunciando a inclusão dos gentios em sua missão messiânica” (I lertig 1989:68). Tanto a viúva quanto Naamã representam os pobres c os excluídos da sociedade. Jesus deu aos judeus da sinagoga uma nova dimensão hermenêutica. A hermenêutica deje- sus é inclusiva e além dos limites de Israel. Os excluídos são os primeiros beneficiários dos cuidados de Jesus de acordo tom a visão de Lucas. De certa forma, o leproso é excluído social e religiosamente, e a viúva é excluída economicamente. Devemos nos lembrar de que esta é a salvação de Deus (missio Dei) a todos os povos - e não somente a Israel. I)eus traz a salvação para o seu próprio povo, Israel, c para todos os povos da terra. Lucas faz uma clara conexão com Israel: “o evangelista não descuida a continuidade com o passado. Na
  • 36. Dr: Cm 11>f: m Ch u m . . verdade, uma tias preocupações fundamentais de Lucas-Atos é o relacionam ento de Israel com a Igreja” (Senior e Stuhlmueller 1995:357). CoNTINUIOADi■: COM ISRAEL ( à>mo Iaicas demonstra esta continuidade com a história de Israel? Novamentc, a narrativa da infância nos revela que “ha- via em Jerusalem um homem chamado Simcão; homem este justo e pied(>so que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele” (Lx 2.25). Não apenas Simcão estava es- |K‫־‬rando, mas também estava “o povo na expectativa, e discor- rendo todos no seu íntimo a respeito de João, se não seria ele, poiveiitnra. o próprio ( 'risto” (Tc 3 .15). O povo estava esperan- do pelo C.risto, o Messias, a esperança e o consolo de Israel. O Messias “será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai” (Lx1.32 ‫־‬). Davi é um tios grandes heróis de Israel. O Mcssia vai assumir o trono de I)avi, como um rei sobre o seu povo. Além disso, o Messias nas- ceu “na cidade tie Davi” e é “('risto, o Senhor” (1x2.11). Lucas está demonstrando que Israel tent tint rei, um Messias e um Se- nhor. Em outras palavras, Israel tem direção (rei), salvação (Mes- sias) c relacionamento (Senhor). A ligação entre o passado e o futuro de Israel é Jesus. E ele que conecta Israel à história da salvação. “A moldura da história da salvação elaborada |x>r 1.ucas (e outros escritores do NovoTestamento) permite continuidade que se estende desde Israel a Jesus e à Igreja” (Senior c Stuhmuellcr 1995: 359). O próximo capítulo descreverá esta continuidade em Jesus {missio Christi), demonstrando que Dais traz a salvação (continuidade) através de Jesus.
  • 37. íulo Q M is s io C h r is t i: D e u s t r a z a sa l v a ç ã o a t r a v é s d e J e s u s (O DESENVOLVIMENTO DA SALVAÇÃO) O propósito deste capítulo é demonstrar que Deus con- tinua a trazer salvação ao seu povo através de Jesus. Jesus é o apogeu de Deus, o agente da salvação de Deus a todos os povos da terra. À essa salvação implicam arrependimento e perdão. A missão de Jesus é de cidade em cidade (Lc 4.43; 8.1). Ela é o coração de Lucas, cujo desejo é mostrar como as boas novas foram espalhadas através de Jesus, dos discípulos e tl.1 igreja. Lucas organiza sua narrativa usando como quadro gera! a realidade das cidades. A cidade tem uma conotação especial cm Lucas. Hoje, a cidade é um dos desafios que a igreja é chamada a encarar. Lucas demonstra a missão deje- sus nas cidades de seu tempo. Vamos observar alguns dados estatísticos sobre a cidade em Lucas-Atos. Estatísticas λ respeito d o ter m o “cidade” em L ucas-Atos “Lucas-Atos deve desempenhar um papel central no (desenvolvimento■ de uma teologia bíblica de missão e, de 37
  • 38. maneira mais específica, cíe uma teologia bíblica de missão urbana” (('onn 1985:410). Essa afirmação pode ser obser- vada pelas 39 utilizações de palavras relacionadas no evange- Iho de lauas, i.ns 1 mim />é//j (1). poliu (17), pólios (9). pólf í] (7) ·pòíeis (1).póleon (3j epólesin (1) . Isso significa que a cidade tem um papel importante em l.ucas. Em seu trabalho de dois volumes, podemos ver facilmente o desenvolvimento da teologia de missão de Lucas desde Nazaré até Jerusalém (Evangelho de Lucas) c de Jerusalém a Roma (Atos). Como veremos adiante, existem diferentes abordagens c métodos para cada um destes lugares. A missão não acontece no vácuo, mas em lugares e situações concretas nos quais aspessoas vivem. Lucas está interessado em dar os nomes apropriados ás localidades quando menciona cada pólis. Por exemplo, Calarnaum não é apenas Caíarnaum, mas também “uma ci- dade da Galiléia” (Lc 4.31). Lucas enfatiza que os fariseus e os doutores da lei vinham "de rodas as aldeias da Galiléia, da Judeia e de Jerusalém” (Lc 5.17). A viúva não está simples- mente em Naim, mas em “uma cidade chamada Nairn” (Lc 7.11). Ainda, Betsaida não é apenas Betsaida, mas “uma ci- dade chamada Betsaida” (Ix 9.10). Como veremos, Lucas nos mostra a importância da nar- rativa geográfica da missão de Jesus. Para ele, Jesus deveria anunciar “o evangelho do Reino de Deus também às outras cidades” (Lc 4.43). Jesus é aquele “que andava de cidade cm cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evan- gelho do Reino de Deus” (Lc 8.1) c vinham “ter com ele gen- te de todas as cidades" (Lc 8.4). Os 72 foram enviados dois a dois “para que o procedessem em cada cidade e lugar aonde ele estava por ir” (Lc 10.1,8,10-12). Sem dúvida, Jerusalém era a cidade que desempenhava um papel importante na narrativa lucana. Jesus “passava por cidades c aldeias, ensi- nando e caminhando para Jerusalém" (Lc 13.22). Na jorna- da de Jesus para Jerusalém, somos informados que “grandes ■ — — / .) / ClIl.ifH. EU ClIUtlE... -------------- 38
  • 39. JUKGF. 11f:RHH f: fílRHO -------- multidões o acompanhavam” (Lc 14.25). E Jesus “passava pelo meio de Samaria e da Galiléia” (Lc 17.11). Finalmente, os discípulos receberíam a promessa do Pai para pregar o arre- pendimento e o perdão dos pecados “a todas as nações, co- meçando de Jerusalém” (Lc 24.47). No livro de Atos, as palavras relacionadas a “cidade” aparecem 43 vezes: polis (5), pólin (14), póleos (10), póUi (9), póleis (4) e póleou (1), Em Atos, Lucas evidencia que a mensagem do evangelho se move a partir de Jerusalém até aos confins da terra. Na verdade, Lucas nos oferece a moldura ge- ognífica do seu segundo volume, afirmando que a missão da igreja primitiva, capacitada pelo Espírito Santo, é a de ser tes- icmunha “tanto cm Jerusalém como em toda aJudéia e Samaria e até aos confins da terra" (At 1.8). Novamente, como em seu primeiro volume, Lucas dá uma atenção especial à cidade. Para ele, não era apenas uma multidão reunida como resultado de muitos sinais milagrosos e maravilhas feitos pelas mãos dos apóstolos, mas “gente das cidades vizinhas a Jerusalém” (At 5.16). Lucas ainda nos diz que a cidade é o lugar onde a crueldade está presente. Por exemplo, Estevão toi “lançado fora da cidade” e apedrejado (At 7.58). Simão, o mágico, “alt praticava a mágica, iludindo o povo de Samaria” (At 8.9). I)epois da conversão de Paulo, os judeus “dia e noite guarda- vam também as portas [da cidade], para o matarem” (At 9.24). Mais uma vez, Lucas não fala apenas de Jopa, mas da "cidade de Jopa” (At 11.5). Não apenas de Listra e Derbe, mas de “Listra c D erbe, cidades da L icaônia c circunvizinhança” (At 14.6). No discurso dcTiago, no Con- t.(lio de Jerusalém, Lucas nos informa de que “Moisés tem, cm cada cidade, desde os tempos antigos, os que pregam nas sinagogas” (At 15.21). Não se fala apenas deTiatira, mas “da cidade de Tiatira” (At 16.14); não apenas de Lleso, mas da ‫״‬cidade de Éfeso” (At 19.35); por fim, fala-se da “cidade de jlaséia” (At 27.8).
  • 40. M etade das referendas i cidadc cm o Novo Testa- m ento é encontrada nos escritos lucanos, Nesse sentido, esse estudo tambem busca compreender algumas das im- plicações c significâncias teológicas para a cidade. O em- preendim ento missionário em Lucas-Atos é estruturado nos termos de uma perspectiva geográfico-teológíca. Este estudo vai ser desenvolvido em seis seções baseadas nessa perspectiva. _ ______ !A primeira é a missão de Jesus para as cidades da Galiléia. Vamos observar o contexto histórico da Galiléia, com referência especial às cidades de Nazaré a Câfarnaum. A missão de Jesus começa cm um lugar específico, que é a Galiléia dos gentios. A segunda é a missão de Jesus na jornada para Jcrusa lémj E importante observar a prática do ensino de jesus aos seus discípulos nesta seção. Estudaremos quatro perspectivas de missão no relato desta viagem: a ccntralidadc do Reino de Deus, os ensinamentos de Jesus, o discipulado c a missão a partir dos c com os sofrimentos. Á terceira é a missão deJesus em Jerusalém« Não há dúvi- das de que Jerusalém é a cidade mais imporrante da atividade de Jesus. No entanto, Jerusalém tornou-se a cidade da rejeição e, como consequência, previsões de julgamento contra ela eram inevitáveis. A cruz, sob essa perspectiva, náo é apenas um sinal de esperança, mas também um sinal de rejeição, a rejeição do Messias. Depois da ressurreição deJesus, os discípulos ea cornu- nidade primitiva receberam a comissão de pregar o arrependí- mento e o perdão dos pecados até aos confins da terra, come- çando em Jerusalém. A quarta perspectiva é a missão da igreja em Jerusalém, Nessa fase, observaremos o nascimento, o crescimento c a ex- pansão da igreja. Três personagens são centrais nesse momen- to: Pedro, Estevão e Eilipc. ------------- Of. Cininr t,u Cmuu... ------------- 40 —
  • 41. A quinta perspectiva fala da missão da igreja na Judeia ieSamaria, Três personagens vão se destacar neste momento: pilipe, Pedro c Paulo. Esta seção é a preparação para a missão aos confins da terra. A missão da igteja está se movendo das fronteiras judaicas para o mundo gentio. Vamos estudar que it missão também é para os “outros”. A sexta perspectiva é a missão até aos confins da terra. Estudaremos dois momentos. O primeiro é o da missão da Igreja de Amioquia da Síria. Antioquia foi a cidade na qual os fundamentos da missão mundial foram estabelecidos para alcançar os confins da terra, o mundo gentio. Q uatro ele- memos são indispensáveis para compreender as perspectivas da missão nesta cidade: nascimento, testemunho, liderança e expansão da igreja cm Antioquia da Síria. Finalmcntc, é a missão de Paulo nas cidades. Sua missão era muito estrategi- ca, escolhendo lugares influentes de onde o evangelho se cs- p.dharia para outras cidades e regiões. Em suas viagens fnissionárias observamos cidades como Antioquia da Síria, Filipos, Tcssalònica, Atenas, Corinto, Éleso e Roma - cidades cxtrcmamcntc influentes. Even to s em Jerusalém precedentes λ missAo de Jesus Os eventos precedentes à missão de Jesus são narrados em Lucas 1.1 a 4.13. A primeira área geográfica menciona- da por Lucas é a cidade dc Jerusalém. A narrativa de Lucas se inicia c termina em Jerusalém, mostrando a centralidade des- sa cidade em seu relato. Além disso, o Templo tinba um pa- pel importante no início e no fim de seu evangelho. Lucas mencionou a cidade dc Jerusalém sete vc7.cs nesta seção. Seis deias estão relacionadas à narrativa da infância e uma à tenta- ção de Jesus. ------- J1m ;f BtKita -------- 41
  • 42. -------------- P s Cuwm ím Ciimif, . A narrativa ria infância As seis referências à cidade de Jerusalém resta seção estão relacionadas ao nascimento e crescimento de Jesus. “Completados oito dias para ser circuncidado o menino, deram-lhe o nome de Jesus, como lhe chamara o anjo, antes de ser concebido. Passados os dias da purificação deles se- gundo a lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apre- sentarem ao Senhor" (I.c 2.21 -22). José c Maria observa- ram a l.ei. Jerusalém, com o seu Templo, era o centro da sociedade judaica. Eles trouxeram o menino )esus ao Tem- pio de Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor, observando a l.ei: “conforme o que está escrito na lei do Senhor: todo prim ogênito ao Senhor será consagrado” {I.c 2.23; Ex 13.2,12). Um homem, chamado Simcão, justo e piedoso, vivia cm Jerusalém. Ele “esperava a consolação de Israel" (Lc 2.25). Também vivia ali uma profetisa chamada Ana, filha de Fanucl. Ela “não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e orações. E, chegando naquela hora, dava graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a re- denção de Jerusalém” (Lc 2.37-38). Muito provavelmente, José e Maria retornaram a Jeru- salém, educando Jesus no mesmo respeito à l ei do Senhor, já que “anualmente iam seus pais [de Jesus] a Jerusalém, para a Festa da Páscoa" (I.c 2.41). Jesus tinha doze anos, e durante uma destas viagens, “permaneceu o menino Jesus cm Jerusa- lém" (Lc 2.43). Depois de três dias ele foi encontrado no templo e disse aos seus pais: “Por que me procuráveis? Não sabícis que mc cumpria estar na casa de meu Pai?” (Lc 2.49). Esta declaração tem clara conexão com o que Jesus falou na sua primeira ação em Jerusalém, anos depois: “a minha casa será casa de oração” (Lc 19.46). Jesus, um filho obediente, "desceu com cies para Nazaré. E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus 42 —
  • 43. JoKOf. llr.MtiQi 1 UtKKo e dos homens" (Lc 2.51-52). A próxima cena que acontece- ria em Jerusalém seria uma afirmação do seu compromisso com Deus, confirmando sua fidelidade evidenciada antes mesmo da rentação pelo Diabo. A tentação de Jesus Os eventos da narrativa da infância têm a ver com au- toridade. Lucas nos mostra que Jesus é aquele que traria “sal- vaçao" (Lc 2.30; 3.0) e “redenção” (Lc 2.38) para “todos os povos" (Lc 2.31) c para “Israel” (lx 2.32). Esta era a sua mis- são. O Espírito Santo ratificou a autoridade de Jesus quando “desceu sobre ele cm forma corpórea como pomba” (Lc 3.22). “Ora, Jesus tinha cerca de trinta anos ao começar o seu mi- nisiéiio" (Lc 3.23). Este era o tempo para se iniciar o seu ministério público. No entanto, era também o tempo para um momento privado, mas decisivo: a tentação no deserto pelo demônio. Esta tentação se deu em três momentos: no próprio de- serto, em um lugar mais alto (com vista para “os reinos deste mundo”) e no ponto mais alto do Templo (o pináculo). O pro- grama demoníaco tinha basicamente três propostas. “Use 0 sen próprio poder" A primeira proposta do programa do Diabo para Jesus é que ele usasse o seu próprio poder. A cena se passa ali mes- mo, no deserto, e o desafio era: “se cs o Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão" (Lc 4.3). Jesus já tinha todo o poder e autoridade, que não havia necessidade de se- rem colocados cm teste. O Espírito Santo já tinha dado a ele a autoridade necessária para o seu ministério. O diabo estava tentando Jesus com o intuito de fazê-lo usar este poder e au- toridade para demonstrar que ele era o Filho de Deus. Jesus entendeu que sua identidade não tinha nada a ver com uma demonstração de poder. A identidade de Jesus fora confir- ·o
  • 44. Dt: Cidaiv. 1M Cin un:... mada antes mesmo de qualquer atuação pública. A voz que veio dos céus disse “tu és meu filho amado”. Jesus já era o Filho de Deus. No entanto, o Diabo estava provocando-o a fazer sinais maravilhosos para provar a ele mesmo que era o Filho de 1)eus. Parece que ele é um expert em tirar vantagem de idéias, conceitos e coisas que não pertencem a ele, já que ele é incapaz, de criar. F. muito comum provarmos a nossa identidade quando requisitada. Queremos mostrar a todos que somos capazes e poderosos. No entanto, o nosso fracasso pode vir exatamente por este caminho. Jesus compreendeu a proposta do dele, res- pondendo: “está escrito: não só de pão viverá o homem" (Lc 4.4). Jesus não precisava provar para o Diabo quem ele era. Ele sabia quem era. Mas uma nova proposta estava vindo. Era para que Jesus usasse o poder do Diabo. “Use 0 men poder " Como Jesus se recusou a usar o seu próprio poder para mostrar que era o Filho de Deus, ele estava agora sendo con- vidado a usar o poder do I)iabo. Esta segunda proposta acon- teceu em um lugar alto. Ele levou Jesus até ali para mostrá-lo, “num momento, todos os reinos do mundo” (Lc 4.5). Mais uma vez, poder c autoridade eram o centro da proposta. O Diabo disse: “dar-te-ei toda esta autoridade e glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem quiser. Portanto, se prostrado me adorares, toda será tua" (Lc 4.6-7). “Jesus estava sendo desafiado a aceitar o domínio sobre os rei- nos do mundo de outro além de Deus” (Firzmeyer 1981:511). Ao adorá-lo, Jesus reconhecería que ele era senhor. A fonte do poder e da autoridade de Jesus era Deus e o Espírito Santo, exclusivamcnte. Satanás é o rei dos reinos deste mundo; Jesus já era o Rei do reino de Deus. O poder e autoridade de Deus já estavam investidos cm Jesus, mesmo sobre o reinado do Dia- bo. “MasJesus lhe respondeu: Flstáescrito: Ao Senhor, teu Deus, — 44
  • 45. Jan if 111mí>ur li irko adorarás e só a clc darás culto" (L.c 4.8). Então, veio a tentação final, desafiando Jesus, mais uma vez, a fazer uso do seu poder, só que de uma perspectiva diferente. “Use o poder de Deus" A terceira tentativa do Diabo é provavelmente o ata- que mais incisivo. Agora ele “o levou a Jerusalem, co colocou sobre o pináculo do templo" (l.c 4.9). A primeira tinha sido no próprio deserto, a segunda num lugar alto, e agora a ter- cara tentação acontecia no lugar mais alto do templo - o pináculo. Novamente, ele tentava Jesus no que concernia à sua identidade: “Se és o Filho de Deus” (Lc 4.9). De uma maneira diferente da primeira tentação, Jesus agora era desa- fiado a usar o poder de Deus, que “aos seus anjos oídenará a sai respeito; eles te susterão nas suas mãos, para não tropeça- rts nalguma pedra” (Lc 4 .10-11). É claro que Jesus fez uso do poder de Deus durante todo o seu ministério. O desafio contido nesta tentação era verificar que Deus era mesmo po- deroso ou não, colocando ele mesmo em teste. E por isso que Jesus respondeu: “Dito está: Não tentarás o Senhor, teu Deus” (Lc 4.12). Nessa tentação vemos o Diabo, por duas vezes, colocando a identidade de Jesus em teste - “se és” (Lc 4.3,9). Ele estava dmdo a Jesus uma oportunidade de endossar e validar a sua identidade. Além disso, apresentou-se como alguém quedaria a Jesus autoridade (cxousút) e glória. E comumente aceito que a primeira tentação tinha a ver com necessidades físicas (pedra - pão), que a segunda se mostra- va mais política (reinos deste mundo) e que a terceira, por fim, tinha um caráter espiritual (a proteção de Deus). Não podemos entender a missão de Jesus, a missão dos discípulos, a missão da igreja primitiva e, finalmentc, a nossa missão sem reconhecer a ação ‫־׳‬ influência demoníaca no mundo. Missão, quer gostemos disso ou não, tem a ver com 45
  • 46. Dt; Cnuix: r..t Ctntnr.. poder c autoridade. Esta compreensão é crucial, especialmen- te para aqueles que trabalham na cidade. Missão na cidade envolve confrontação com poderes. Isto é exemplificado no ministério de Jesus, dos discípulos, da igreja em Atos e hoje cm dia. A pista que nos diz para esperarmos por mais intcrven- çõcs do 1)iabo no ministério de Jesus é que “apartou-se dele o diabo, ate momento oportuno” (Lc 4.13). A intenção dele era a de ser bem-sucedido em sua tentativa. Isso não aconte- ceu. Ao invés de retornar dali no poder e autoridade do Di- abo, “Jesus, no poder do Espírito, regressou para a Galiléia" (Lc 4.14). Este é o poder que lhe daria força, coragem e au- toridade para proclamar as boas novas do Reino de Deus, e não um programa demoníaco, começando com as cidades da Galiléia. A MISSÃO DF. JFSUS NAS CIDADES Lembrando novamente, “Lucas-Atos deve desempenhar um papel central no desenvolvimento de uma teologia biblica de missão urbana‫״‬ (Conn 1985:410, grifo acrescentado). Nes- sa seção vamos estudar o ministério urbano de Jesus nas cida- des da Galiléia, Samaria e Judeia (a caminho de Jerusalém) e na própria Jerusalém. A missão de Jesus é da periferia (Galiléia) para o centro (Jerusalém). A fim de compreender a missão de Jesus na Galiléia, devemos entender o contexto histórico des- ta região sofredora. A missão de Jesus nas cidades da Galiléia A primeira área geográfica do ministério de Jesus, de acordo com o relato de Lucas, é a província da Galiléia. A Galiléia dos gentios era conhecida como “círculo dos povos”, numa provável referência a uma área que era circulada, polí- fica e geograficamente, por cidades. Nesta província encon- tramos m uitas cidades, tais como C orazin, Betsaida, 46
  • 47. ■ ‫־‬ - JoiH.f HfsnHjvf. fí<»n> ------- Cafarnaum, Magdala, Tiberias, Caná, Nazaré, Gerasa, Gcnazaré c Gadara, além de duas importantes montanhas. A primeira era o Monte Carmelo, próximo ao M ar Meditcrrá- neo, o lugar onde Elias confrontou os profetas de Baal (1 Rs IΗ. 18). A segunda era o Monte Tabor, quase vinte quilôme- 1ros a oeste Mar da Galiléia. Tradicionalmentc afirma-sc que este foi o lugar da Transfiguração. A vida da Galiléia girava em torno do seu lago, o Lago da Galiléia (ou o Mar da Galiléia), chamado no AntigoTes- tamento de Mar de Quinercte (Nm 34.11; js 12.3; 13.27). O Mar da Galiléia tem: aproximadamente 21 quilômetros de comprimento de norte a sul e 13 de largura de leste a oeste, em suas maio- res distâncias; ele fica 212 metros abaixo do nível do Mar Mediterrâneo e chega a uma profundidade de aproxima* jdamente 61 metros (Brucc 1997:18) Antes de analisar o ministério de Jesus na província da Galiléia, precisamos compreender o contexto histórico que acabou gerando as cidades. A Galiléia era tradicional- mente caracterizada como um lugar de conflitos e guerras. Precisamos ter em mente os fatos mais importantes da histó- ti.1 da Galiléia. O antigo Israel controlava a província. Depois da con- quista de Canaã, a terra distribuída para o estabelecimento das Doze Tribos. Mais tarde, as tribos de Zcbulon c Naftali ocuparam a província da Galiléia. “Designaram, pois, sole- nemente, Quedes, na Galiléia, na região montanhosa de Naftali” (Js 20.7). “Aos filhos de Gérson, das famílias dos levi- tas, deram [...], da tribo de Naftali, na Galiléia, Quedes, cidade ile refugio para o homicida, com seus arredores, Hamotc-Dor com seus arredores c Carta com seus arredores, ao todo, três cidades” (Js 21.27a,32; 1Cr 6.76). O Reino de Israel perm: neceu unido por aproximada- mente 120 anos - 40 anos sob o reinado de Saul (1030- --- 47
  • 48. -------------- Ür Ciaiitf / .w Cum>1... 1010), 40 anos sob Davi (1010970‫)־‬ e 40 anos sob Salomão (970-930). As fronteiras tia Galilcia estavam sempre sendo al- teradas durante os seusgovernos. Porexemplo, quando Salomão estava governando, ele premiou Hirão por certos serviços rea- lizados cm prol da construção do Templo. O seu prêmio foi uma terra montanhosa entre as montanhas de Naftali. “Ora, como I iirão, rei de llro, trouxera a Salomão madeira de cedro e de cipreste e ouro, segundo todo o seu desejo, este lhe deu vinte cidades na terra da Galilcia’’ (lRs 9.11). No entanto, Hirão não ficou satisfeito com o presente, e pediu pela ferra de Crbul (1Rs 9.12). “Calnil” significa “muito pequeno, qua- se nada, bom para nada”. Mais tarde, Salomão “edificou as cidades que 1Iirão lhe tinha dado; e fez habitar nelas os filhos de Isr; d ” (2Cr K.2). () reino ficou dividido por aproximadamente 400 anos. “Nos dias de Peca, rei de Israel, veio Tiglate-Pileser, rei da Assíria, e tomou a Ijom, a Abel-Betc-Maaca, aJanoa, a Quedes, a I lazor, a Gileadc e à Galilcia. a toda a terra de Naftali, e levou os seus habitantes para a Assíria” (2Rs 15.29). No tem- po do exílio, alguns povos judeus foram assentados na Galilcia. Por séculos, a província da Galiléia esteve sob o domí- nio de diferentes mãos, regimes c sistemas. A Galiléia era uma terra de conflitos, privada de sua própria independência c autonomia. No período asmoneu, o povo da região norte não foi considerado como sendo uma parte do povo judeu. Por esta razão, ela começou a ser chamada de “Galiléia dos genti- os” (Is 9.1; Mt 4.15). Os judeus remanescentes foram evacuados dali duran- te a Revolta dos Macabeus (1 Mac 5.23). Em 104/103 a.C., o rei asmoneu Aristóbolo conquistou a Galiléia. Ele forçou a população gentia a se converter ao judaísmo, trazendo-a no- vamente para o domínio judaico. Provavelmente, o último evento importante da história da Galiléia, antes do ministério de Jesus, seja a conquista por 48
  • 49. — ------- J 0 R (,t lll.SR I{H ’t t i λRR() Pompcu. Neste momento, “a Galiléia foi reorganizada como uma unidade administrativa autônoma sob Garbínio (57 a.(’‫״‬ )” (Pritchard 1991:114). Lealdade a Jerusalém, ao seu Templo e à Torah eram requisitos para os galileus na época de Jesus. O grande desejo do povo da Galiléia era o de ser religiosa, política e cultural- menre independente do domínio romano. Os galileus eram considerados pessoas úteis nas mãos dos poderosos, vivendo à periferia da vida, servindo como propriedade de outros, como Iqntc renovável de impostos c como mão-de-obra barata. Esse i ontcxro histórico nos oferece o cenário da área na qual Jesus desenvolveu seu ministério na Galiléia, a província do “círcu- Io dos povos”. No tempo do ministério de Jesus, a Palestina estava divi- dida cm três províncias: Judéia, Samaria c Galiléia. A Galiléia era a maior das três. Ela foi o cenário de alguns dos eventos mais memoráveis da história dos judeus, ! !erodes, o grande, morreu cm 4 a.C. Ele deixou um testamento dizendo que o seu domínio deveria ser dividido em três partes. Cada uma deveria ser dada a um dos seus filhos: Arquelau, Hcrodes Antípas c Filipe. Arquelau (25 a.C. - 18 d.C.) recebeu as províncias de ludéia c Samaria. Hcrodes Antipas (23 a.C. - 29 d.C.) rece- heu as províncias de Galiléia c Peréia. Filipe (24 a.C. —34 d.C.) recebeu partes do norte daTransjordánia (Bataneia, Auranitis, Irachonitis e Pareas e Gaulanitis). O governo da palestina manteve-se nas mãos da família de Herodes sob o consenti- mento de Augusto. A província da Galiléia estava subdividida cm “Alta Galiléia” (ao norte, com seu solo montanhoso e seco, de diflf- cil acesso) e “Baixa Galiléia” (ao sul, com seus vales c um solo apropriado para plantações). Os primeiros três evangelhos tratam primariamente do ministério de Jesus nessa província. Por exemplo, 19 das 32 parábolas ocorreram na Galiléia. Não é menos notável que, dos 33 grandes milagres de Jesus, 25 49 ---
  • 50. ------------ Dr Cm1nr 1μCmmr... foram realizados ali. Na Galileia, Jesus pregou o Sermão da M ontanha e algumas das suas mensagens, sobre temas tais como o Pão da Vida, a pureza, o perdão e a humildade. Na Galiléia, ele chamou os seus primeiros discípulos e finalmen- te, ali ocorreu a cena sublime da transfiguração. Um habitante ou nativo da Galileia era chamado “galileu”. ( )s significados desta palavra são diversos, tais como: o extremista, o anarquista, o inflexível. A palavra era usada como um nome pejorativo quando aplicado aos discípulos de Jesus. Pedro denunciou a si mesmo pelo seu sotaque galileu (“também este, verdadeiramente, estava com ele, porque ram- bem é Galileu —Lc 22.59 c At 2.7). Iodos os apóstolos, com a exceção de Judas Iscariotcs, eram galileus. Judas Iscariotes, filho de Sím.io, recebera a alcunha de Iscariote por ser, pro- vavelmente, cia região de Queriote, uma cidade ao sul de Judá (Js 15.25). O ministério de Jesus na Galileia no Evangelho de Lucas é narrado de 4 .14 a 9.50. Este ministério foi marcado por miIa- gres, curas, controvérsias com os fariseus, pregações, discursos e manifestações de poder. Um dos objetivos do relato de Lucas c demonstrar que o lugar final e culminante do ministério deje- sus é a cidade escolhida dc Jerusalém. Para Lucas, Jerusalém é o alvo e a cena final da atividade de Jesus. Mesmo tendo isso em mente, ele não “via* a Galiléia apenas como parte de sua rota. Jesus ministrou ali demonstrando vida verdadeira enquanto interagia com as pessoas, oferecendo-se a si mesmo em amor que cuida e age. Orlando Costas, enfatizando essa parte do ministério de Jesus, disse que “Jesus é apresentado não apenas como aque- le que veio da Galiléia mas também como aquele que veio para a Galiléia" (Costas 1989:53). — 50
  • 51. -------- Join.I Bumo Jesus nasceu em Belém, apesar dc rer se tornado co- nliccido como “Jesus de Nazaré” (Lc 4.34; 18.37; 24.19; At 2.22; 3.6; 4.10; 6.14; 10.38; 22.8; 26.9). O próprio Jesus deu a si mesmo este título quando Paulo perguntou a ele: ,,Quem cs tu, Senhor?”, ao que Jesus respondeu: “Eu sou Je- sus, o Nazareno, a quem tu persegues" (At 22.8). Nazaré provavelmente significa "torre de vigia”. Não h.i menção desta cidade no Antigo Testamento. E aceito que, no tempo de Jesus, Nazaré tinha de 15 a 20 mil habitantes. A maioria deles era considerada como sendo pertencente a uma i lasse rude e mal-educada. Nazaré loi povoada basicamente por gentios, assim como o restante da província da Galiléia. l w h o consequência, Nazaré tornou-se uma cidade despre- zad.1. No entanto, é na cidade de Nazaré, e mais precisamen- le na sinagoga de Nazaré, que o programa da missão dc Jesus é definido. Mortimer Arias e Alan Johnson afirmam que: Lucas 4 .1 6 3 0 ‫־‬ tem sido chamado dc “microcosmo dc Lucas-Atos, o cvangclbo-no-cvangelho". F. eu creio que temos aqui uma pista decisiva para a missão libertadora, curadora e capacitadora dc Jesus, a qual somos chamados a continuar (1992:60). Conforme já dito anteriormente, é na sinagoga de Na/aré que “Jesus estabeleceu suas credenciais messiânicas” (<iostas !989:55). Qual c o conceito da missão de Jesus de- ‫י‬ I.ir.ido na Sinagoga de Nazaré? Escolhendo uma passagem dc !saias 61.1 -2 e 58.6, Jesus começou o seu ministério pro- . l.imando: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-mc para pro- t lamar libertação aos cativos c restauração de vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceita- vcl tio Senhor” (Lc 4.18-19). --- 51
  • 52. P f Chum, t w Ch u m . Mais uma vez, confirma o que já dissemos anterior- mente: este é o programa messiânico da agenda missionária de Jesus. O poder do Espirito Souto O Espírito Santo é mencionado 33 vezes no Evangelho de 1-ucas e 42 vezes em Atos. O programa da missão de Jesus não pôde ser completado sem a unção do Espírito. Os even- tos que precederam o que aconteceu na sinagoga de Nazaré são muito importantes para se compreendera centralidade do Espírito Santo. Lucas quer nos informar que João Batista seria “cheio do Espírito Santo já do ventre materno” (I.c 1.15). Além disso, Maria ouve cio anjo que o Espírito Santo descería sobre ela, c o poder do Altíssimo a envolvería (Ir 1.33). Quan- do Maria compartilhou com Isabel que estava grávida, “a cri- ança lhe estremeceu no ventre; então, Isabel ficou possuída do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: Bendita cs tu en- tre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre” (I.c 1.41- 42). Isabel deu à luz, tendo o seu filho, e o pai Zacarias ficou “cheio do Espírito Santo e profetizou” (Lc 1.67). () Espírito Santo estava trabalhando, preparando vidas ecircunstâncias para a redenção vindoura. “Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão; homem este justo c piedosoque esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. Re- velara-lhe o Espírito Santo que não passaria pela morte antes de ver o Cristo do Senhor. Movido pelo Espírito Santo, foi ao templo” (Lc 2.25-27). O povo de Israel estava na expectativa (I.c 3.1 5) da redenção prometida e João dizia a todos: “Eu, tia verdade, vos batizo com água, mas vem o que é mais pode- roso do que eu, do qual não sou digno de desatar-lhe as cor- reias das sandálias; ele vos batizará com o Esoírito Santo e com fogo” (Lc 3.16). ‘Έ aconteceu que, ao ser todo o povo batizado, também o foi Jesus; c, estando ele a orar, o céu se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre ele cm forma corpórea 52
  • 53. Juki,!- Ut sKUK/. Hikko (‫סחוס‬ pomba; c ouviu-se uma voz do céu: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo” (Lc 3.21-22). Depois disso, “Jc- sus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pi lo mesmo Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sen- do tentado pelo Diabo” (Lc 4.1 -2). Jesus não apenas entrou no deserto cheio do Espírito Santo, mas também, ‫״‬no poder tio Espírito, regressou para a Galiléia” (Lc 4.14). Ao ler todos estes eventos precedentes ao ministério dc Jesus, sob a ótica da ação do Espírito Santo, pode-se concluir que 1ucas estava construindo a base que deu identidade e autoridade a Jesus. Precisamos nos lembrar de que o Diabo já linha proposto a Jesus a autoridade e glória dos reinos deste mundo (1x4.6). O Diabo estava tentando Jesus a aceitar este anti-programa, a missão do Diabo. O programa missionário tie Jesus era completamente oposto - nada a ver com a glória tios reinos da terra, mas com um serviço humilde àqueles que nao tinham acesso à fama, à celebridade, à grandeza c à gló- tia. O programa de Jesus era um autêntico programa de sal- vação, no poder do Espírito Santo, trazendo libertação, per- dão, cura e restauração para os excluídos pela sociedade. Os líderes da sinagoga também questionaram a autori- ilade de Jesus. Mesmo apesar do fato de que eles “se maravi- lhavam das palavras de graça que lhe saíam dos lábios, e per- guinavam: Não é este o filho de Josc?” (Lc 4.22). Em outras palavras, esse carpinteiro é um profeta qualificado para dizer o que ele está dizendo? Jesus respondeu a eles dizendo não! Para voccs, isso é impossível: “nenhum profeta é bem recebi- tio na sua própria terra” (Lc 4.24). Em sua surpresa, ficaram luriosos. Como resultado, “expulsaram-no da cidade e o leva- ram até ao cume do monte sobre o qual estava edilicada, para, tie lá, o precipitarem abaixo” (Lc 4.29). Como é possível para uma pessoa, depois de tantas con- frontações a respeito de sua identidade e autoridade espiritu- .11, ser rejeitado pelo seu próprio povo, ainda encontrar força
  • 54. -------------- Οι. Cidade eu Cidade... ‫ר‬ c vontade para simplesmente passar “por entre eles”, rctiran- do-se (1x4.30)? A única resposta é que Jesus “continuou cm seu caminho no poder do Espírito Santo, que deu a ele for- ça, motivação e compaixão para cumprir a missão recebida na sinagoga de Nazaré. Em todos esses episódios Jesus nos ensina que a missão deve continuar, mesmo >ob oposição e rejeição. Através do poder e da unção tio Espirito Santo, so- mos chamados para proclamar salvação, libertação, perdão, cura e restauração - as marcas visíveis do Reino de Deus. A proclamação integral e a presença elo Reino ele Deus No |*>dcr do Espírito Santo, a agenda programática da missão de Jesus era: 1. pregar as boas novas aos pobres; 2. procla- mar lilx rtação aos cativos; 3. restaurar a vista aos cegos; 4. liber- tar aos oprimidos, e; 5. proclamar o ano aceitável do Senhor. É conm mente aceito que os cativos, os cegos e os oprimidos estão 11a categoria dos pobres. Existem “boas novas” para eles - as boas novas de que o Reino de Deus é aqui e agora, trazendo esperan- ça para o seu futuro, a esperança do ano aceitável do Senhor. Finalmente, os pobres tinham alguém que não estava contia eles, mas a seu favor; alguém que tinha a coragem de incluir os que foram excluídos da sociedade, tornando-os receptores da graça tio Senhor. As boas tiovas aos pobres O primeiro item da agenda missionária de Jesus é pre- gar as boas novas aos pobres. “Os pobres, matcrialmcnte pri- vados ou cspiritualmeme famintos, são considerados mais abertos à ação salvadora de Jesus” (Glasser 1989:197). Quem são os pobres? Bosch afirma que "os prisioneiros, os cegos e os oprimidos (ou os injuriados) são todos colocados sob a cate- goria 'os pobres’; todas essas são manifestações da pobreza, em necessidade de ‘boas novas " (1996:100). Michael Prior nos oferece duas suposições a respeito deste assunto. Primei- 54
  • 55. ------- JOKiC HrSMQVf. ΗιΜΚι ) r.i. os pobres são identificados com os destituídos e indigen- tes da sociedade. Segunda, os pobres são aqueles que são tão deficientes cm posses materiais que colocam toda a sua confi- ança em Deus ( 1995:164). Como demonstrado anteriormen- tc, os exemplos usados por Jesus na sinagoga de Nazaré tipificam os pobres: a viúva pobre de Sarepta e Naamã. 0 ano aceitável do Senhor O segundo item da agenda de Jesus é a proclamação do ano da bênção do Senhor. O “ano aceitável do Senhor” ou o "ano da bênção do Senhor” tem muitas interpretações. Existe a interpretação espiritualista, segundo a qual a libertação dos po- bres, dos cativos, dos cegos edos oprimidos é vista em termos de uma bênção espiritual. Há também a interpretação do jubileu como apenas um evento cscatológico, no qual as dívidas serão finalmente canceladas e perdoadas. Há a interpretação do jubi- leu em termos de reforma econômica e política, como um novo sistema no qual Jesus seria um líder político. A interpretação de Johnson é que Lucas retrata o seu trabalho libertador [dc Jesus] cm ter- mos dc exorcismos pessoais, curas c ensino aos pobres. O caráter radical da sua missão é especificado acima dc tudo por estar sendo oferecida e aceita por aqueles que são ex- cluídos (1991:81). Outro ponto dc vista sobre o jubileu é dado por John 1 toward Yoder. Ele entende que não é fácil interpretá-lo, e sua conclusão é que: Podemos enfrentar grande dificuldade em saber cm que sentido este evento aconteceu ou podería ter acontecido; mas o que o evento deveria ser está claro: uma reestruturação sócio-política visível das relações entre o povo de Deus realizada pela sua intervenção na pessoa de Jesus como Ungido c selado com o Espírito (1972:39). 55
  • 56. D r 01Η Ι1Γ IM O/M/Ji... Apesar de todos os problem as herm enêuticos concernentes ao significado do jubileu, não devemos evitar suas perspectivas missiológicas para a nossa missão hoje. Arias propõe que o jubileu seja um paradigma para a missão cm quatro perspectivas (1984:44-48). A primeira perspectiva é a missão como libertação. A missão é a procla- inação tia libertação: histórica e eterna, material e espiritu- al, econômica (devolução da terra, cancelamento das dívi- das), social (emancipação tios escravos) e espiritual (o laço mais interior do pecado). A missão que tenha o jubileu como paradigma deve enfrentar todas as formas e tipos de opressão. A segunda perspectiva é a missão como retificação. O acúmulo tie poder c riquezas produz desigualdades sociais, como resultado tio pecado humano e das ambições materi- ais. O jubileu, nesse sentido, significa que a sociedade neces- sita ser continuamente reestruturada, trazendo não apenas a justiça, mas também equilíbrio à ordem humana. A missão conto retificação tem como implicação a convocação à justiça e ao arrependimento. A terceira perspectiva é a missão como restauração. O jubileu, como ano aceitável do Senhor, é recriação e renovação em três momentos: restauração do povo, dos relacionamentos sociais e da própria natureza. Jesus "enviou os seus discípulos para anunciar a vida, para defender a vida, para restaurar a vida, para celebrar a vida” (Arias 1984:47). A quarta perspectiva é a missão como inauguração. Esta é uma perspectiva escatológica da missão em referência ao jubileu. F a tensão entre o “já” c o “ainda não” do Reino de Deus. Como o Reino já está aqui, podemos buscar a libcrut- ção, a retificação e a restauração da dignidade humana. No entanto, como o Reino ainda não está aqui em sua plenitude, devemos buscara sua proclamação, inaugurando a vinda do ano aceitável do Senhor. 56
  • 57. ------- JoittiK lllSKIQll:U iKKO ------------- Lucas está nos oferecendo a moldura completa dos seus !leis volumes. Toda a narrativa lucanada missão de Jesus eda Igreja Primitiva se encontra dentro desta moldura. Esta com- preensão é crucial no desenvolvimento das perspectivas da missão na cidade. O quadro geral de Lucas-Atos pode ser compreendido desta forma: o Espírito Santo capacita Jesus e m u igreja a proclamar as boas ‫וו‬ovas do Reino de Deus atra- ves da salvação, libertação, perdão, cura e restauração. Este é 0 cvangclho-no-evangelho. Isto c;o que vemos em Cafarnaum. ( 'afamaum Logo após o episódio de Nazaré, quando sua missão iornou-se pública, Jesus “desceu a Cafarnaum, cidade da 1í.ililéia” (Lc-4.31). “Cafarnaum (ou Kefar Nabum) significa a aldeia de Naum’” (Bruce 1997:25). Esta cidade era consi- licrada como uma das mais importantes da província da ( i.ililéia. Estava localizada próxima ao Mar da Galiléia, com indústrias pesqueiras, conserto de redes e barcos de pesca. ( .‘.ifarnaum tinha também um solo fértil, um clima quente, água abundante do mar c das chuvas. Esta combinação tornou possível o cultivo de frutas, oliveiras e vários tipos de colheitas. Cafarnaum estava localizada em um lugar extremamen- teestratég co, às margens de uma rota internacional de co- mércio que ligava Egito, Palestina, Síria e Mesopotamia. É possível que Cafarnaum tivesse uma presença expressiva de militares romanos (Ix 7 .1 2 ‫.)־‬ Junto com Corazim e Bctsaida, Cafarnaum foi condenada por Jesus quando disse: “Tu, Cafarnaum, elevar-tc-ás, porventura, até ao céu? Descerás ate ao inferno” (Lc 10.15). Em Cafarnaum, Jesus curou e libertou pessoas. "Os quatro episódios seguintes ilustram concretamente o que ti- nha sido relatado sobre ele em Nazaré a respeito da sua ativi- dadeem Cafarnaum" (Fitzmycr 1981:541). 57
  • 58. Dr. Cidade eu Cim dt... -------------- O primeiro encontro de Jesus em Cafarnaum foi com uni homem possesso por um demônio (um espírito mau) na sinagoga, num sábado. Podemos percebera atmosfera desta cena. A sinagoga estava provavelmente cheia de pessoas piedo- sas c religiosas, que não podiam discernir que ali estava um homem possuído ‫וסין‬ um demônio. Lucas quer nos mostrar que "no meio deles todos" (4.35) o Espírito do Senhor estava em Jesus para “|x‘>rem liberdade os oprimidos” (Ir 4 .18). Aquele que põe em liberdade os oprimidos é chamado por este ho- mem, “em alta vo/” (Lc 4.33), porque todos vão saber que seu nome não é apenas Jesus, mas é “Jesus de Nazaré” (Ix 4.34). bica claro que Lucas está demonstrando neste momento um confronto entre a autoridade de Jesus (“o Espírito do Senhor está sobre mim”) e a autoridade dos líderes da sinagoga, que perguntam: “Q ue palavra é esta, pois, com autoridade e po- der, ordena aos espíritos imundos, e eles saem?” (Ix 4.36). F.su é a primeira das 21 histórias dc milagres no Evangc- Iho de Lucas. Como Bultmann rcssalra (HIST, 210), ela tem todas as características de uma típica história de exor- cismo: (a) o demônio reconhece o exorcista e resiste: (h) o exorcista emite um desafio ou comando; (c) o demônio sai. provocando uma cena: (d) a reação dos espectadores c registrada (Fit/.mycr 1981:541). “ E a sua fama corria por todos os lugares da circunvizinhança” (Lc 4.37), ou seja era Cafarnatim. O segundo encontro nesta cidade foi com a casa de Simão, durante a cura de sua sogra, que estava sofrendo com uma febre muito alta. Podemos perceber este padrão no mi- nistério dc Jesus: curando os doentes e animando os fracos. A pessoa fraca, neste caso, era uma mulher, um tema altamente enfatizado na narrativa de Lucas. O terceiro encontro em Cafàrnaum foi com muitas pes- soas num pôr-do-sol, no qual muitos foram curados: “ao pôr-do- sol, todos os que tinham enfermos dc diferentes moléstias Ihos 5«
  • 59. Jtm.e llr'iitnH f Η<»κα traziam; c ele os curava, impondo as mãos sobre cada um” (l,c t •10). Este encontro não é marcado apenas pelas atras, mas ram- bem pelas pessoas sendo libertas da influencia demoníaca - “de muitos saíam demônios” (Lc 4.41). Lucas já havia afirmado anteriormente que a próxima l.ise da jornada de Jesus era "pregar nas sinagogas da Judeia” L f. Lc 4.44). Devemos, contudo, tomar 4.44 para o signifi- i ado dc que, na visão de Lucas, Jesus finalmente abandonou ,1 ( íaliléia? A resposta para essa questão depende do significa- do ilado à “Judeia” cm 4.44 - a região ao sul como oposta ao norte ou todo o território judeu (Frevnc 1988:90-91). A opinião mais aceita a respeito da Judeia é que Lucas usa este termo para designar uma seção geral. Frcyne entende que I ucas também usaJudeia no sentido mais amplo para abran- ger todas as regiões do país” ( 1988:91). A mesma opinião é encontrada em Fitzmycr, quando este afirma que Judeia deve ser compreendida “no sentido mais amplo de todo o país dos judeus, um sentido que pode ser encontrado cm outros Io- i.iis (1,5; 6.17; 7.17; 23.5; At 1 0 .3 7 )1 9 8 1 :5 5 8 ) ‫.)״‬ Além disso, existem algumas indicações de que a palavra Judeia (hnuLiias) deveria ser Galiléia (Gnlilaias), como a utilização encontrada nos manuscritos A, D, Q e na tradição dos textos em coinê. Apesar desta confusão geográfica, parece claro “para Lucas que o seu ministério na Galiléia deve ser enten- ilido de maneira mais ampla” (Fitzmycr 1981:558). A mi- uha opinião pessoal é que Lucas faz uso da palavra “Judéia” num sentido mais amplo para designar a geografia da região da ( íaliléia. Por quê? Porque a próxima narrativa do ministé- rio dc Jesus, que se desenrola somente na Galiléia e não che- g.t a entrar na região da Judéia. De 4.44 a 9.50, Lucas men- ciona lugares como o Lago de Gcnazaré, Cafarnaum, Nairn, a região dos gerasenos (que fica do outro lado do lago de t íenazaré) e Betsaida. Em outras palavras, Jesus nunca dei- xou o circuito da Galiléia. 59
  • 60. ------------- lit Çumix m Cmutf.‫.״‬ ------------- Finalmente, “sendo dia, [Jesus] saiu e foi para um lugar deserto (Lc 4.42). Deste lugar deserto Jesus partiu de Cafarnaum em direção à Judeia1. É interessante perceber que, sle acordo com a narrativa de Lucas, Jesus começou sua perc- grinação de um lugar solitário (o deserto, conforme 4.1) e também encerra a sua jornada em Cafarnaum cm um lugar solitário. Se Jesus definiu intencionalmentc sua agenda missionária diante da liderança da sinagoga de Cafarnaum, agora ele está tornando-a clara para “as multidões“ (I.c 4.42), que lhe haviam pedido para que não partisse, e proclamando: é necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus também as outras cidades, pois para isso éque fui enviado” (Lc 4.43). Jesus não está redefinindo a sua missão; ele está tornan- do-a conhecida para o povo em geral. Ficou claro, a partir da declaração de Jesus na sinagoga de Cafarnaum e neste lugar solitário, que sua missão tinha o reino de Deus como motiva- ç.ío central, sendo realizada através de palavias e atos no poder do Ivspírito Santo. O reino de Deus não e para uma classe pri- vilegiada da sociedade (ou seja, não é cxcludcnte esegregado); o reino de Deus é, de acordo com Lucas 4.43, “ptra as outras cidades também (ou seja, é imludente e universal). Uma pessoa sozinha não pode realizar a missão às ou- iras cidades - é o momento de estabelecer parcerias. Se a missão pretende ser inclusiva e universal, então já é o tempo de Jesus chamar os seus parceiros, os discípulos, para a pro- clamação das boas novas do reino de Deus. A missão dos doze A partir deste momento, 1.ucas passa à narreção do cha- mado dos discípulos de Jesus. Como temos visto desde o iní- cio, a missão tem a ver com autoridade. Os discípulos serão cham ados para participar da missão de Jesus, sendo comissionados e com autoridade divina outorgada. 60