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Comentário ao texto de Bruno Lussato:

                                                            “Caldero grande… caldero pequeno”



                                                                                    Carlos Leão




O autor do texto intitulado “Caldero grande…caldero pequeno”, Bruno Lussato,
apresenta-nos uma parábola que retrata e discute alegoricamente um problema que
vem sendo debatido nos meios académicos à alguns anos. Após uma leitura cuidada
do mesmo, conseguimos identificar a questão da centralização da informação e do
conhecimento como a opção que vem sendo desenvolvida para a repartição e a
distribuição dos dados.

No entanto, uma crítica inicial que podemos fazer ao texto e à sua forma metafórica é
a sua extraordinária possibilidade em se transformar em ruído, no âmbito de uma
pesquisa documental numa base de dados, o que levantaria problemáticas de seleção
de documentação nessa mesma pesquisa. A capacidade de um artigo de relevância e
cariz científico se tornar “invisível” aos olhos do investigador fica aqui bem patente.
Talvez numa pesquisa acerca de culinária o investigador tivesse mais sorte, pelo que
se conclui que o título não contém os referentes conceptuais que o corpo do texto
pretende transmitir. Chamo também a atenção para o facto deste texto mostrar
claramente, que o uso de metáforas definitivamente não é a melhor forma de transmitir
informação científica. Esta forma de escrita torna as ideias dúbias e de interpretação
pessoal variada, isto quando se pretende isenção e rigor.

Mas voltando à metáfora usada por Bruno Lussato.

O autor apresenta-nos o quotidiano de vida do povo de uma aldeia imaginária. Os
seus hábitos rotineiros e a sua organização, pequenos lugares, lares, que comungam
da mesma ideia, neste caso a confeção da sopa, mas que apesar de tudo têm as suas
características individuais, o sabor de cada uma.

Estas rotinas e esta organização simples e repartida será modificada pela chegada de
um misterioso personagem que não é mais que a representação simbólica e
metafórica da chegada de uma revolução industrial, com consequências sociais, ao



Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
processo simples e rotineiro de elaboração da sopa, alimento típico e fundamental da
povoação, que como foi dito anteriormente, apresenta características individuais.

Ao analisarmos profundamente estas transformações vemos que as consequências
criadas servirão de base para o autor apresentar uma segunda grande revolução, a
informática.

Assim, vemos a sopa como a representação metafórica do conhecimento, e que na
nossa história se apresenta distribuído pelos vários lares. Com o surgir da
personagem, revolucionando e centralizando a sopa num grande caldeirão, fazemos
uma ponte com a realidade e observamos o que na vida real o computador, por
motivos económicos, trouxe de centralização de informação ao mundo. O caldeirão
grande poderá então ser visto como a metáfora dos primeiros grande computadores
que ocupavam salas enormes e pesavam toneladas.

Mas foi precisamente a argumentação com fatores económicos que o visitante
misterioso usou para levar a bom termo a sua ideia para ajudar a aldeia. O facto de
cozinhar todas aquelas sopas individuais num só grande caldeirão pouparia milhares
de fósforos, pois só necessitariam de um, poupariam viagens às fontes para ir buscar
água pois só precisariam de uma e o facto de contratarem o melhor cozinheiro de
sopas de todo o mundo pouparia às suas mulheres a difícil tarefa de aprender a fazer
a melhor sopa. No entanto, as dificuldades rapidamente surgiram. A construção de tal
caldeirão trouxe a necessidade de contratar os melhores engenheiros de materiais
para desenvolver o caldeirão adequado à “obra”, isto se o queriam resistente e
duradouro. O que levou a nova problemática, desta vez presa à dimensão da colher
para mexer a sopa. Tiveram pois de encontrar especialistas capazes de desenvolver
um sistema mecânico eficaz e formar o cozinheiro para poder usar tal máquina de
manivelas complexas e sistemáticas.

Mas os problemas estavam só no início. Como fazer com que toneladas de alimentos
mantivessem a frescura e a qualidade igual à das sopas individuais? Como poderiam
limpar o gigante caldeirão? Rapidamente soluções exigentes foram surgindo para dar
resposta a problemas complicados de manutenção e funcionamento da referida
máquina.

O nosso caldeirão, que não é mais que o nosso grande primeiro computador, que
ocupava o tempo dos engenheiros e técnicos especializados, era também uma gigante
central de processamento de informação. Os dados eram pois introduzidos lentamente
e lentamente a máquina lá ia processando e trazendo novas problemáticas a resolver
pelo Homem. Podemos pois imaginar as dificuldades que enfrentavam as empresas



Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
em que as operações realizadas por vários operadores eram agora substituídas por
uma única máquina, o computador. No entanto, os indivíduos tiveram de se adaptar e
se no início a velocidade de processamento era lenta onde cada um levava os seus
dados e só no final do dia obtinha resultados, agora temos o reverso da medalha,
onde as velocidades são tais na divulgação da informação que a nossa dificuldade
agora é gerir o fluxo da mesma.

Assim como na realidade destes primeiros computadores, na metáfora de Lussato, os
indivíduos eram de tal forma especializados que perante a impossibilidade de
desempenharem a sua função era condição suficiente para que todo o sistema de
abastecimento de sopa falhasse.

Outra questão surge entre os aldeões, pois já não conseguiam comer a sopa que
continha os sabores que mais gostavam. A diversidade dos gostos e a impossibilidade
de o grande caldeirão os satisfazer também se tornou uma problemática. Aqui vemos
refletida a noção de que a centralização elimina por vezes características individuais
em prol da unificação de ideias comuns, e para que isso não acontecesse de forma
tão perentória tiveram de ser desenvolvidos novos algoritmos, novos softwares, novas
soluções cada vez mais exigentes, fazendo com que a relação custos/benefícios fosse
analisada continuamente.

Parece que um dos pontos fulcrais da metáfora prende-se com a dificuldade dos
aldeãos em se deslocarem ao mesmo tempo para ir buscar a sopa, trazendo uma
longa demora e fazendo com que a sopa chegue a casa fria. Aqui vejo novamente um
grande paralelismo às problemáticas da centralização, na nossa realidade. O facto de
a informação no início estar condicionada a poucos sítios, devido ao preço e dimensão
dos computadores, trouxe a dificuldade de acesso aos mesmos. A solução
encontrada, nesta aldeia, para o problema da partilha da sopa e sua distribuição foi a
instalação de uma rede de tubagens que transportariam a sopa a todas as habitações.
A solução pareceu inteligente mas pouco eficaz, uma vez que o povo não deixou por
isso de querer comer à mesma hora. O tráfego também afetava a rede. O facto de
todos abrirem a torneira ao mesmo tempo levava muitas vezes à não obtenção do
precioso bem ou a que este aparecesse frio novamente e ainda em casos de avaria
ficavam sem sopa durante dias.

Também na realidade passou pela criação de uma rede (as origens da world wide web
ou rede de alcance mundial, mais conhecida como internet), a solução da nossa
distribuição e divulgação de informação. As problemáticas que observamos na história
também se repetem na nossa vida. Ainda hoje nos debatemos com dificuldades de



Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
tráfego na internet quando o fluxo de utilizadores numa página se torna elevado. As
centrais de processamento têm pois de ser cada vez mais poderosas, para
conseguirem fazer todos estes processamentos, dando resultados fidedignos e sem
problemas de distribuição para as origens certas em tempos recorde. Esta
problemática tem sido um dos grandes cavalos de batalhas dos nossos investigadores
e técnicos da atualidade, na tentativa de fazer chegar a informação a cada um dos
utilizadores a qualquer hora e em qualquer lugar sem haver variações de velocidades
de transmissão de dados. Não só a nível de hardware mas também ao nível de
software vão sendo pois melhoradas as bases de dados sempre que as problemáticas
surgem. As capacidades destes sistemas operativos e softwares de gestão de dados
têm também desenvolvido capacidades de autogestão, num claro objetivo de mater a
relação custo/benefício equilibrada.

Na história que o autor nos conta podemos ver pois o grande caldeirão e as torneiras
em cada casa como um sistema centralizado de informação, que veio reunir toda a
informação num só lugar, podendo ser acedido de um terminal, uma clara analogia ao
modelo de distribuição, largamente utilizado na sociedade atual pela maioria das redes
informáticas. Quanto aos caldeirões pequenos podemos facilmente encontrar a sua
analogia com o modelo de repartição, em que a informação se encontra repartida por
variadas fontes, vários lugares distintos de uma mesma empresa, cidade, país.

No entanto, esta mesma história vem alertar-nos para vários fenómenos problemáticos
da utilização massiva do primeiro modelo, o de centralização: a uniformização da
informação, onde dificilmente obteremos variadas escolhas, tendendo invariavelmente
para uma igualdade algo exagerada, e onde pode sobressair alguma perda de
identidade e informação. A escolha das maiorias faz lentamente desaparecer as
escolhas ou identidades individuais. Outra das problemáticas que aqui observamos
metaforizadas na história é a dificuldade nas comunicações quando os fluxos atingem
níveis elevados de utilização pelos internautas. Estas dificuldades podem mesmo
originar percas de tempo infindáveis e mesmo percas de informação. E finalmente as
avarias ou falhas dos sistemas centrais que além de fazerem todo o processo parar e
até ficar irremediavelmente perdido, podem também fazer aumentar drasticamente os
custos de manutenção e desenvolvimento desses mesmos sistemas. Aqui ressalta o
facto de que, se o computador central avariar todo o sistema é penalizado.

Com o uso normalizado da Internet encontramo-nos hoje numa sociedade de
informação que nos leva a um novo conceito, o de globalização da informação. É hoje
fácil aceder a infindáveis fontes com esforços mínimos, não fazendo sentido
sobrecarregar os nossos computadores pessoais com tanta informação. A ligação em


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rede pela internet permite que a informação exista distribuída e que com relativa
facilidade todos tenham acesso a ela.

Creio que este sistema de centralização é realmente eficaz para muitas situações,
sendo por isso usado com frequência pela sociedade atual. No entanto, acarreta as
suas limitações como qualquer sistema. Tentarmos fugir dele ou nem sequer tirar
partido das suas vantagens seria um erro crasso de evolução individual, colocando-
nos numa situação de completa inadequação às exigências e características do
mundo atual.

Seremos confrontados muitas vezes com situações em que outros modelos mais
individuais, apesar de mais limitados, nos serão vantajosos devido às nossas
diferenças particulares, mas esta escolha e adequação será sinal de que não nos
deixámos absorver pelos desígnios da informatização mas pelo contrário esta se
tornou uma poderosa aliada e sabemos usá-la em nosso partido.

A tecnologia começou a entrar nas nossas vidas já vão muitos anos e jamais voltará
atrás. O facto de ainda persistentemente lhe chamarmos novas tecnologias começa a
ser problemático, até porque a grande franja da população que preparamos para fazer
a continuidade da evolução, não nasceu a conhecer outra, como as anteriores
gerações.

Todos os dias carregamos e descarregamos da Web novas informações, que geram
conhecimentos mas também criam novas dificuldades e desafios para superar. Alguns
autores já começam a falar da criação de uma inteligência coletiva, feita por cada um
de nós no seu computador, como os wiki por exemplo, uma ferramenta que permite a
edição coletiva de páginas Web de um modo simples. Mas mais do que criar as
ferramentas, teremos de organizar e estruturar este novo “paradigma”, pois será
impossível tentar parar este “comboio informativo”.

Outra questão a refletir passa pelo facto dos estudantes nos dias de hoje mais
facilmente conviverem com a Web e as tecnologias, relegando para um patamar
secundário outros suportes como livros, revistas, jornais... Alguns dados apresentados
por Michael Wesch (2007) num vídeo publicado na web revelam que um estudante
que esteja online em média 3,5 horas por dia lê 8 livros por ano e em contrapartida
2300 páginas da Web. De onde podemos será que este estudante “retira” mais
informação? Claro que podemos sempre argumentar que a pertinência da informação
disponível da Web é relativa, o que vem de encontro ao que foi abordado de alguma
forma por Bruno Lussato. Mas não nos cabe a nós, seres humanos e ainda




Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
educadores , uma vez que somos nós que ensinamos a máquina como afirma Wesch,
a transformar a informação “ruído” em informação “útil”?

O grande desafio do professor, passa irremediavelmente por refletir sobre todas estas
problemáticas emergentes que estão longe de ser estáticas. É nosso dever descobrir
até onde podemos ir com os nossos alunos, uma vez que brevemente terão de usar
estas ferramentas com a facilidade e destreza com que usam o lápis para escrever e
fazer apontamentos, ou abrem um livro para ler. Rapidamente todas estas
competências se tornarão em processos naturais e intrínsecos ao ser humano, e tal
como no “passado”, serão os educadores a auxiliar nos primeiros passos do início
desta “tecno-educação”.

As capacidades de pesquisa, seleção e organização da informação que se encontra
na Web, com o objetivo claro de produzir novos conhecimentos é próxima etapa a
alcançar num mundo inimaginável de informação que “viaja” a velocidades
extraordinárias. Estas ideias obrigam-nos a repensar as conceções do cidadão, pois
ainda mais terá de ser racional, crítico, flexível, recetivo a toda esta mudança e dotado
de uma forte consciência ética nas abordagens que enceta a toda a informação que
absorve, o que por si nos leva a caminhos nunca antes caminhados…




Lussanto, B. (1982). Le défi informatique. Editorial Planeta, S.A.: Barcelona, Espanha

Wesch, M. (2007), A Vision of Students Today: [online] [consult 2008-04-11]

Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=dGCJ46vyR9o&eurl

Wesch, M. (2007), Web 2.0 ... The Machine is Us/ing Us: [online] [consult 2008-04-11]

Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=6gmP4nk0EOE




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  • 1. Comentário ao texto de Bruno Lussato: “Caldero grande… caldero pequeno” Carlos Leão O autor do texto intitulado “Caldero grande…caldero pequeno”, Bruno Lussato, apresenta-nos uma parábola que retrata e discute alegoricamente um problema que vem sendo debatido nos meios académicos à alguns anos. Após uma leitura cuidada do mesmo, conseguimos identificar a questão da centralização da informação e do conhecimento como a opção que vem sendo desenvolvida para a repartição e a distribuição dos dados. No entanto, uma crítica inicial que podemos fazer ao texto e à sua forma metafórica é a sua extraordinária possibilidade em se transformar em ruído, no âmbito de uma pesquisa documental numa base de dados, o que levantaria problemáticas de seleção de documentação nessa mesma pesquisa. A capacidade de um artigo de relevância e cariz científico se tornar “invisível” aos olhos do investigador fica aqui bem patente. Talvez numa pesquisa acerca de culinária o investigador tivesse mais sorte, pelo que se conclui que o título não contém os referentes conceptuais que o corpo do texto pretende transmitir. Chamo também a atenção para o facto deste texto mostrar claramente, que o uso de metáforas definitivamente não é a melhor forma de transmitir informação científica. Esta forma de escrita torna as ideias dúbias e de interpretação pessoal variada, isto quando se pretende isenção e rigor. Mas voltando à metáfora usada por Bruno Lussato. O autor apresenta-nos o quotidiano de vida do povo de uma aldeia imaginária. Os seus hábitos rotineiros e a sua organização, pequenos lugares, lares, que comungam da mesma ideia, neste caso a confeção da sopa, mas que apesar de tudo têm as suas características individuais, o sabor de cada uma. Estas rotinas e esta organização simples e repartida será modificada pela chegada de um misterioso personagem que não é mais que a representação simbólica e metafórica da chegada de uma revolução industrial, com consequências sociais, ao Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
  • 2. processo simples e rotineiro de elaboração da sopa, alimento típico e fundamental da povoação, que como foi dito anteriormente, apresenta características individuais. Ao analisarmos profundamente estas transformações vemos que as consequências criadas servirão de base para o autor apresentar uma segunda grande revolução, a informática. Assim, vemos a sopa como a representação metafórica do conhecimento, e que na nossa história se apresenta distribuído pelos vários lares. Com o surgir da personagem, revolucionando e centralizando a sopa num grande caldeirão, fazemos uma ponte com a realidade e observamos o que na vida real o computador, por motivos económicos, trouxe de centralização de informação ao mundo. O caldeirão grande poderá então ser visto como a metáfora dos primeiros grande computadores que ocupavam salas enormes e pesavam toneladas. Mas foi precisamente a argumentação com fatores económicos que o visitante misterioso usou para levar a bom termo a sua ideia para ajudar a aldeia. O facto de cozinhar todas aquelas sopas individuais num só grande caldeirão pouparia milhares de fósforos, pois só necessitariam de um, poupariam viagens às fontes para ir buscar água pois só precisariam de uma e o facto de contratarem o melhor cozinheiro de sopas de todo o mundo pouparia às suas mulheres a difícil tarefa de aprender a fazer a melhor sopa. No entanto, as dificuldades rapidamente surgiram. A construção de tal caldeirão trouxe a necessidade de contratar os melhores engenheiros de materiais para desenvolver o caldeirão adequado à “obra”, isto se o queriam resistente e duradouro. O que levou a nova problemática, desta vez presa à dimensão da colher para mexer a sopa. Tiveram pois de encontrar especialistas capazes de desenvolver um sistema mecânico eficaz e formar o cozinheiro para poder usar tal máquina de manivelas complexas e sistemáticas. Mas os problemas estavam só no início. Como fazer com que toneladas de alimentos mantivessem a frescura e a qualidade igual à das sopas individuais? Como poderiam limpar o gigante caldeirão? Rapidamente soluções exigentes foram surgindo para dar resposta a problemas complicados de manutenção e funcionamento da referida máquina. O nosso caldeirão, que não é mais que o nosso grande primeiro computador, que ocupava o tempo dos engenheiros e técnicos especializados, era também uma gigante central de processamento de informação. Os dados eram pois introduzidos lentamente e lentamente a máquina lá ia processando e trazendo novas problemáticas a resolver pelo Homem. Podemos pois imaginar as dificuldades que enfrentavam as empresas Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
  • 3. em que as operações realizadas por vários operadores eram agora substituídas por uma única máquina, o computador. No entanto, os indivíduos tiveram de se adaptar e se no início a velocidade de processamento era lenta onde cada um levava os seus dados e só no final do dia obtinha resultados, agora temos o reverso da medalha, onde as velocidades são tais na divulgação da informação que a nossa dificuldade agora é gerir o fluxo da mesma. Assim como na realidade destes primeiros computadores, na metáfora de Lussato, os indivíduos eram de tal forma especializados que perante a impossibilidade de desempenharem a sua função era condição suficiente para que todo o sistema de abastecimento de sopa falhasse. Outra questão surge entre os aldeões, pois já não conseguiam comer a sopa que continha os sabores que mais gostavam. A diversidade dos gostos e a impossibilidade de o grande caldeirão os satisfazer também se tornou uma problemática. Aqui vemos refletida a noção de que a centralização elimina por vezes características individuais em prol da unificação de ideias comuns, e para que isso não acontecesse de forma tão perentória tiveram de ser desenvolvidos novos algoritmos, novos softwares, novas soluções cada vez mais exigentes, fazendo com que a relação custos/benefícios fosse analisada continuamente. Parece que um dos pontos fulcrais da metáfora prende-se com a dificuldade dos aldeãos em se deslocarem ao mesmo tempo para ir buscar a sopa, trazendo uma longa demora e fazendo com que a sopa chegue a casa fria. Aqui vejo novamente um grande paralelismo às problemáticas da centralização, na nossa realidade. O facto de a informação no início estar condicionada a poucos sítios, devido ao preço e dimensão dos computadores, trouxe a dificuldade de acesso aos mesmos. A solução encontrada, nesta aldeia, para o problema da partilha da sopa e sua distribuição foi a instalação de uma rede de tubagens que transportariam a sopa a todas as habitações. A solução pareceu inteligente mas pouco eficaz, uma vez que o povo não deixou por isso de querer comer à mesma hora. O tráfego também afetava a rede. O facto de todos abrirem a torneira ao mesmo tempo levava muitas vezes à não obtenção do precioso bem ou a que este aparecesse frio novamente e ainda em casos de avaria ficavam sem sopa durante dias. Também na realidade passou pela criação de uma rede (as origens da world wide web ou rede de alcance mundial, mais conhecida como internet), a solução da nossa distribuição e divulgação de informação. As problemáticas que observamos na história também se repetem na nossa vida. Ainda hoje nos debatemos com dificuldades de Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
  • 4. tráfego na internet quando o fluxo de utilizadores numa página se torna elevado. As centrais de processamento têm pois de ser cada vez mais poderosas, para conseguirem fazer todos estes processamentos, dando resultados fidedignos e sem problemas de distribuição para as origens certas em tempos recorde. Esta problemática tem sido um dos grandes cavalos de batalhas dos nossos investigadores e técnicos da atualidade, na tentativa de fazer chegar a informação a cada um dos utilizadores a qualquer hora e em qualquer lugar sem haver variações de velocidades de transmissão de dados. Não só a nível de hardware mas também ao nível de software vão sendo pois melhoradas as bases de dados sempre que as problemáticas surgem. As capacidades destes sistemas operativos e softwares de gestão de dados têm também desenvolvido capacidades de autogestão, num claro objetivo de mater a relação custo/benefício equilibrada. Na história que o autor nos conta podemos ver pois o grande caldeirão e as torneiras em cada casa como um sistema centralizado de informação, que veio reunir toda a informação num só lugar, podendo ser acedido de um terminal, uma clara analogia ao modelo de distribuição, largamente utilizado na sociedade atual pela maioria das redes informáticas. Quanto aos caldeirões pequenos podemos facilmente encontrar a sua analogia com o modelo de repartição, em que a informação se encontra repartida por variadas fontes, vários lugares distintos de uma mesma empresa, cidade, país. No entanto, esta mesma história vem alertar-nos para vários fenómenos problemáticos da utilização massiva do primeiro modelo, o de centralização: a uniformização da informação, onde dificilmente obteremos variadas escolhas, tendendo invariavelmente para uma igualdade algo exagerada, e onde pode sobressair alguma perda de identidade e informação. A escolha das maiorias faz lentamente desaparecer as escolhas ou identidades individuais. Outra das problemáticas que aqui observamos metaforizadas na história é a dificuldade nas comunicações quando os fluxos atingem níveis elevados de utilização pelos internautas. Estas dificuldades podem mesmo originar percas de tempo infindáveis e mesmo percas de informação. E finalmente as avarias ou falhas dos sistemas centrais que além de fazerem todo o processo parar e até ficar irremediavelmente perdido, podem também fazer aumentar drasticamente os custos de manutenção e desenvolvimento desses mesmos sistemas. Aqui ressalta o facto de que, se o computador central avariar todo o sistema é penalizado. Com o uso normalizado da Internet encontramo-nos hoje numa sociedade de informação que nos leva a um novo conceito, o de globalização da informação. É hoje fácil aceder a infindáveis fontes com esforços mínimos, não fazendo sentido sobrecarregar os nossos computadores pessoais com tanta informação. A ligação em Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
  • 5. rede pela internet permite que a informação exista distribuída e que com relativa facilidade todos tenham acesso a ela. Creio que este sistema de centralização é realmente eficaz para muitas situações, sendo por isso usado com frequência pela sociedade atual. No entanto, acarreta as suas limitações como qualquer sistema. Tentarmos fugir dele ou nem sequer tirar partido das suas vantagens seria um erro crasso de evolução individual, colocando- nos numa situação de completa inadequação às exigências e características do mundo atual. Seremos confrontados muitas vezes com situações em que outros modelos mais individuais, apesar de mais limitados, nos serão vantajosos devido às nossas diferenças particulares, mas esta escolha e adequação será sinal de que não nos deixámos absorver pelos desígnios da informatização mas pelo contrário esta se tornou uma poderosa aliada e sabemos usá-la em nosso partido. A tecnologia começou a entrar nas nossas vidas já vão muitos anos e jamais voltará atrás. O facto de ainda persistentemente lhe chamarmos novas tecnologias começa a ser problemático, até porque a grande franja da população que preparamos para fazer a continuidade da evolução, não nasceu a conhecer outra, como as anteriores gerações. Todos os dias carregamos e descarregamos da Web novas informações, que geram conhecimentos mas também criam novas dificuldades e desafios para superar. Alguns autores já começam a falar da criação de uma inteligência coletiva, feita por cada um de nós no seu computador, como os wiki por exemplo, uma ferramenta que permite a edição coletiva de páginas Web de um modo simples. Mas mais do que criar as ferramentas, teremos de organizar e estruturar este novo “paradigma”, pois será impossível tentar parar este “comboio informativo”. Outra questão a refletir passa pelo facto dos estudantes nos dias de hoje mais facilmente conviverem com a Web e as tecnologias, relegando para um patamar secundário outros suportes como livros, revistas, jornais... Alguns dados apresentados por Michael Wesch (2007) num vídeo publicado na web revelam que um estudante que esteja online em média 3,5 horas por dia lê 8 livros por ano e em contrapartida 2300 páginas da Web. De onde podemos será que este estudante “retira” mais informação? Claro que podemos sempre argumentar que a pertinência da informação disponível da Web é relativa, o que vem de encontro ao que foi abordado de alguma forma por Bruno Lussato. Mas não nos cabe a nós, seres humanos e ainda Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
  • 6. educadores , uma vez que somos nós que ensinamos a máquina como afirma Wesch, a transformar a informação “ruído” em informação “útil”? O grande desafio do professor, passa irremediavelmente por refletir sobre todas estas problemáticas emergentes que estão longe de ser estáticas. É nosso dever descobrir até onde podemos ir com os nossos alunos, uma vez que brevemente terão de usar estas ferramentas com a facilidade e destreza com que usam o lápis para escrever e fazer apontamentos, ou abrem um livro para ler. Rapidamente todas estas competências se tornarão em processos naturais e intrínsecos ao ser humano, e tal como no “passado”, serão os educadores a auxiliar nos primeiros passos do início desta “tecno-educação”. As capacidades de pesquisa, seleção e organização da informação que se encontra na Web, com o objetivo claro de produzir novos conhecimentos é próxima etapa a alcançar num mundo inimaginável de informação que “viaja” a velocidades extraordinárias. Estas ideias obrigam-nos a repensar as conceções do cidadão, pois ainda mais terá de ser racional, crítico, flexível, recetivo a toda esta mudança e dotado de uma forte consciência ética nas abordagens que enceta a toda a informação que absorve, o que por si nos leva a caminhos nunca antes caminhados… Lussanto, B. (1982). Le défi informatique. Editorial Planeta, S.A.: Barcelona, Espanha Wesch, M. (2007), A Vision of Students Today: [online] [consult 2008-04-11] Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=dGCJ46vyR9o&eurl Wesch, M. (2007), Web 2.0 ... The Machine is Us/ing Us: [online] [consult 2008-04-11] Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=6gmP4nk0EOE Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.