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A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA E O MESTRE DE HARMONIA NAS
SESSÕES RITUALÍSTICAS
Grau de Aprendiz
Ir Samuel Detoni
Confederação Maçônica do Brasil – COMAB
Grande Oriente de Santa Catarina – GOSC
ARLS Talhadores da Pedra nº 135
Oriente de Itá, Outubro de 2017.
“A música é capaz de reproduzir, em sua forma real,
a dor que dilacera a alma e o sorriso que inebria”.
Ludwig van Beethoven
Introdução
O assunto que será abordado nesta peça arquitetônica é indubitavelmente de suma
importância para nossa Sublime Ordem, consiste em um breve estudo sobre as nuances da
música e sua influência nas sessões ritualísticas, bem como a função a ser desempenhada
pelo Ir. Mestre de Harmonia na condução dos trabalhos referentes à Coluna da Harmonia. A
música está presente da vida humana desde os primórdios da sua existência, o homem, antes
mesmo de se comunicar com palavras, emitia determinadas combinações sonoras, que
serviam, ora a demonstrar afeição por sua amada e ora a inspirar os guerreiros das tribos ao
confronto.
Desenvolvimento
A música sempre teve grande influência sobre a mente humana, atua sobre o homem e a
grande massa, está presente não apenas na história das revoluções como também nas
psicoses de guerra. Ela é nas mãos dos homens um feitiço, seu efeito se difunde e vai desde o
despertar dos mais nobres e solenes sentimentos, podendo doutro norte, acordar os mais
baixos instintos, desde a concentração devotada até a perda da consciência que se confunde
com a embriaguez, dá veneração religiosa até a mais brutal sensualidade.
Nos tempos da Bíblia, o Rei Davi tocava harpa. Os egípcios possuíam liras, alaúdes e
chocalhos de metal; seus soldados utilizavam trombetas e tamborins. Na África ainda são
utilizados os tambores para enviar mensagens entre as tribos mais antigas. Na França,
Inglaterra e Alemanha, os viajantes contavam suas histórias em forma de trovas. O instrumento
musical mais antigo que se tem noticia surgiu na Ilha do Ceilão, há cerca de 7.000 anos,
chamado de Ravanastron, sendo o precursor dos instrumentos de corda.
Os chineses, três mil anos antes de Cristo, já desenvolviam teorias musicais complexas como,
por exemplo, o ciclo das quintas. Para os gregos e romanos, a musa EUTERPE tinha a
atribuição especial de proteger a música. Para os católicos, a padroeira dos músicos é Santa
Cecília, uma musicista cristã sacrificada no ano de 232 d.C. que é festejada no dia 22 de
novembro em todos os países do mundo ocidental.
Um das mais relevantes características do som é a altura. Até o século XI a altura era a única
característica grafada. No século XII inicia-se a definição da duração. O timbre começa a ser
indicado a partir do século XVI e a intensidade a partir do século XVII. A música foi cultivada
durante muito tempo por transmissão oral, de geração em geração. As origens da notação
musical ocidental encontram-se nos símbolos taquigráficos gregos.
Do século V ao século VII foi aperfeiçoado um sistema de neumas, uma espécie de
mnemônica, que não definia a altura exata, apenas dava uma ideia aproximada da melodia.
Por volta do século IX surge a pauta, que a princípio consistia em uma única linha horizontal de
cor vermelha e representava a nota Fá, à qual foi posteriormente acrescentada outra linha, a
saber, amarela representando a nota Dó. A história revela que fora Guido d’Arezzo quem
sugeriu o emprego de três e quatro linhas (o canto gregoriano utiliza até hoje o tetragrama). O
pentagrama, sistema de cinco linhas paralelas, conhecido desde o século XI, foi adotado
apenas no século XVII.
E ainda, teria igualmente o referido músico nominado os sons musicais e para tanto, se utilizou
da primeira sílaba de cada verso do hino a São João Bastistai
: Utqueant laxis; Resonare fibris;
Mira gestorum; Famuli tuorum; Solve polluti; Labii reatum; Sancte Ioannes. Como a sílaba Ut
era difícil de ser cantada, foi substituída por Dó. O Si foi formado da primeira letra de Sancte e
da primeira letra de Ioannes. Um coral de meninos daquela época costumava, antes de suas
exibições em público, cantar este hino, pedindo com fé a São João Batista que protegesse
suas cordas vocais.
A música como uma mensagem sonora, deve penetrar nos sentidos do ouvinte, causando-lhe
sensações as mais variadas – alegria, tristeza, exaltação, depressão, agrado, euforia,
desagrado etc. Podemos dizer que a apreciação de uma página musical, qualquer que seja,
importa em dois aspectos distintos: o emocional e o técnico e só há um meio de apreciá-la:
ouvi-la.
Historicamente o Classicismo foi o período de auge cultural e civilizatório da humanidade, onde
a música como as demais artes, chegara a evoluir ricamente, com o fim da polifonia vocal e a
introdução de um estilo harmônico e instrumental, onde se desenvolveu a sinfonia e também,
marcando época, destacaram-se num largo sentido Bach, Haendel, Gluck, Rameau, Haydn,
Mozart e Beethoven.
Apenas como exemplo, a constituição de uma orquestra sinfônica moderna se dá da seguinte
forma: 16 primeiros-violinos; 16 segundos-violinos; 12 violas; 12 violoncelos; 10 contrabaixos; 2
harpas; 4 flautas; 4 oboés; 4 clarinetas; 4 fagotes; 3 pistons; 3 trombones; 2 tubas; 2 pares de
tímpanos; 3 músicos para os demais instrumentos de percussão; 1 piano; 01 regente. Um total
de 103 músicos.
Segundo Nicola Aslan, a música: “é uma das sete ciências das artes liberais, vem do grego
musa, que significa inspiração, poesia, harmonia dos sons. Dentro do último conceito, é a arte
ou ciência de combinar os sons de maneira agradável aos sentidos, que sejam provenientes da
voz humana ou de instrumentos musicais”. Ela faz parte dos trabalhos maçônicos e o bom
rendimento das cerimonias e sessões ritualísticas é função, em razão direta, do bom
funcionamento da Coluna da Harmonia.
Acerca da Coluna da Harmonia, a mesma pode assim ser conceituada: “A Coluna da Harmonia
é o conjunto de cantores, músicos, instrumentos musicais, equipamentos eletrônicos,
acessórios, e o conjunto de partituras, discos e fitas, destinados, no todo ou em parte, sob a
direção do Mestre de Harmonia, à musicalização das Sessões Ritualísticas e outras
Cerimônias realizadas por uma Loja Maçônica”. (BARROS, p. 43).
A música, e através dela a liturgia, foram os instrumentos mais eficazes que dispôs a cultura do
século XI, sendo as demais ciências do Quadriviumii
a elas subordinadas, não do ponto de
vista de estrutura didático-curricular, mas como uma decorrência natural do ambiente da época.
O estudo da música na Maçonaria parece tão importante quanto o foi ao longo da História. Na
Maçonaria está voltada para a liturgia e o Ritual. Reprisando que essa função já era exercitada
no século XII, quando o Ritual e a liturgia tinham foro de prioridade na atividade intelectual da
época.
Neste sentido, imperioso colacionar o entendimento do Ir. Albert Mackey, citado pelo Ir. Zaly
Barros de Araújo acerca da música na Maçonaria, vejamos:
“A música, diz Mackey, é recomendada aos Maçons, porque assim como a concórdia de
sons suaves eleva os generosos sentimentos da alma, assim a concórdia de bons
sentimentos reinará entre os Irmãos e, pela união de amizade e de amor fraternal, as
violentas paixões serão acalmadas e a harmonia existirá através da Ordem”.
Dando continuidade e a título de curiosidade, os mais antigos cânticos maçônicos de que se
possui conhecimento são: O Canto do Mestre, O Canto do Vigilante, a Canção dos
Companheiros e Canção dos Aprendizes Registrados, os dois primeiros de autoria do Ir. James
Anderson e as duas últimas de autoria, respectivamente do Ir. Carlos Delafaye e Ir. Mateus
Birkhead, que compõem o elenco das músicas maçônicas incluídas na Constituição de
Anderson, publicada em 1723, para serem entoadas em determinadas ocasiões.
No tocante ao Mestre de Harmonia, este, integra o elenco de Oficiais da Loja, sendo a Joia do
Cargo, a Lira, devendo lembrar-lhe que o principal objetivo da música, quer no preparo do
ambiente, tornando-o solene, inspirador e belo, quer como complemento dos trabalhos, é o de
contribuir para a elevação dos nossos sentimentos de amor e bondade.
No exercício de seu cargo, compete ao Mestre de Harmonia: a) Dirigir a execução da Coluna
de Harmonia; b) Assessorar o Venerável Mestre nos assuntos pertinentes à Coluna de
Harmonia; c) Manter em perfeito estado de conservação, organização e funcionamento os
instrumentos e material da Coluna de Harmonia; d) Propor ao Venerável Mestre a aquisição de
discos, fitas, partituras e material necessários à Coluna; e) Selecionar a sonoplastia de efeitos
especiais e os trechos musicais para os Trabalhos Ritualísticos, incluindo as pausas e os
eventos previstos. Sendo oportuno que haja, em todos os momentos, compatibilidade e
adequação entre o sentido ou natureza do evento e o trecho que o acompanha; f) Organizar e
gravar a sequência musical adequada a cada tipo de Sessão, ouvido, antes o Venerável
Mestre, devendo existir perfeita correção entre os tempos dos conteúdos da cerimônia e as
músicas neles utilizadas; g) Sugerir ao Venerável Mestre um treinamento prévio,
particularmente antes das Sessões mais complexas.
Conclusão
Posto isto, podemos concluir que independentemente do Rito e do Grau da Sessão Ritualística,
mais do que o estudo, o emprego da música na Maçonaria é de relevância impar, visto que sua
função está intimamente relacionada à liturgia e ao Ritual. Tendo como premissa, propiciar aos
Irmãos a harmonia necessária à elevação da alma e espírito, otimizando o sentimento de
concórdia e fraternidade no decorrer dos trabalhos da Loja.
É inegável que estamos rodeados de sons e música desde o nosso surgimento como seres
humanos, ela (a música) sem sombra de dúvidas exerce um notório poder sobre os
sentimentos e pensamentos que nos afloram durante sua apreciação. Portanto, não poderia
estar a par da nossa Ordem, sendo utilizada desde a concepção desta, como elemento
regulamentador de energias, almejando trazer o equilíbrio tanto nas sessões quanto na vida
profana.
Bibliografia e fontes
ARAÚJO, Zaly Barro de. “Coluna de Harmonia”. 3ª ed. Londrina: Ed. Maçônica “A TROLHA”,
2010.
BENNETT, Roy. “Um breve história da música”. Tradução Maria Teresa Resende Costa. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1986.
CAMINO, Rizzardo da. “Breviário Maçônico para o dia a dia do maçom”. São Paulo:
Madras, 2017.
CARDOSO, Belmira; MASCARENHAS, Mario. “Curso completo de teoria musical e solfejo”
2ª Vol. São Paulo: Irmãos Vitale Editores, 1974.
PAHLEN, Kurt. “Nova História Universal da Música”. 5ª ed. São Paulo: Editora
Melhoramentos, 1991.
REDMAN, Graham. “Trabalho de emulação atualizado”. São Paulo: Madras, 2011.
i
“Purifica, bem-aventurado João, os nossos lábios polutos, para podermos cantar dignamente as maravilhas que o
Senhor realizou em Ti. Dos altos céus vem um mensageiro a anunciar a teu Pai que serias um varão insigne e a
glória que terias”.
ii
Da antiguidade grega à idade média, as artes liberais, isto é, as artes dignas do homem livre, estavam dividias
em dois grupos: o Trivium e o Quadrivium, sendo que a este último, inserem-se a aritmética, a geometria, a
astronomia e a música.

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  • 1. A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA E O MESTRE DE HARMONIA NAS SESSÕES RITUALÍSTICAS Grau de Aprendiz Ir Samuel Detoni Confederação Maçônica do Brasil – COMAB Grande Oriente de Santa Catarina – GOSC ARLS Talhadores da Pedra nº 135 Oriente de Itá, Outubro de 2017. “A música é capaz de reproduzir, em sua forma real, a dor que dilacera a alma e o sorriso que inebria”. Ludwig van Beethoven Introdução O assunto que será abordado nesta peça arquitetônica é indubitavelmente de suma importância para nossa Sublime Ordem, consiste em um breve estudo sobre as nuances da música e sua influência nas sessões ritualísticas, bem como a função a ser desempenhada pelo Ir. Mestre de Harmonia na condução dos trabalhos referentes à Coluna da Harmonia. A música está presente da vida humana desde os primórdios da sua existência, o homem, antes mesmo de se comunicar com palavras, emitia determinadas combinações sonoras, que serviam, ora a demonstrar afeição por sua amada e ora a inspirar os guerreiros das tribos ao confronto. Desenvolvimento A música sempre teve grande influência sobre a mente humana, atua sobre o homem e a grande massa, está presente não apenas na história das revoluções como também nas psicoses de guerra. Ela é nas mãos dos homens um feitiço, seu efeito se difunde e vai desde o despertar dos mais nobres e solenes sentimentos, podendo doutro norte, acordar os mais baixos instintos, desde a concentração devotada até a perda da consciência que se confunde com a embriaguez, dá veneração religiosa até a mais brutal sensualidade. Nos tempos da Bíblia, o Rei Davi tocava harpa. Os egípcios possuíam liras, alaúdes e chocalhos de metal; seus soldados utilizavam trombetas e tamborins. Na África ainda são utilizados os tambores para enviar mensagens entre as tribos mais antigas. Na França, Inglaterra e Alemanha, os viajantes contavam suas histórias em forma de trovas. O instrumento musical mais antigo que se tem noticia surgiu na Ilha do Ceilão, há cerca de 7.000 anos, chamado de Ravanastron, sendo o precursor dos instrumentos de corda. Os chineses, três mil anos antes de Cristo, já desenvolviam teorias musicais complexas como, por exemplo, o ciclo das quintas. Para os gregos e romanos, a musa EUTERPE tinha a atribuição especial de proteger a música. Para os católicos, a padroeira dos músicos é Santa Cecília, uma musicista cristã sacrificada no ano de 232 d.C. que é festejada no dia 22 de novembro em todos os países do mundo ocidental. Um das mais relevantes características do som é a altura. Até o século XI a altura era a única característica grafada. No século XII inicia-se a definição da duração. O timbre começa a ser indicado a partir do século XVI e a intensidade a partir do século XVII. A música foi cultivada durante muito tempo por transmissão oral, de geração em geração. As origens da notação musical ocidental encontram-se nos símbolos taquigráficos gregos. Do século V ao século VII foi aperfeiçoado um sistema de neumas, uma espécie de mnemônica, que não definia a altura exata, apenas dava uma ideia aproximada da melodia.
  • 2. Por volta do século IX surge a pauta, que a princípio consistia em uma única linha horizontal de cor vermelha e representava a nota Fá, à qual foi posteriormente acrescentada outra linha, a saber, amarela representando a nota Dó. A história revela que fora Guido d’Arezzo quem sugeriu o emprego de três e quatro linhas (o canto gregoriano utiliza até hoje o tetragrama). O pentagrama, sistema de cinco linhas paralelas, conhecido desde o século XI, foi adotado apenas no século XVII. E ainda, teria igualmente o referido músico nominado os sons musicais e para tanto, se utilizou da primeira sílaba de cada verso do hino a São João Bastistai : Utqueant laxis; Resonare fibris; Mira gestorum; Famuli tuorum; Solve polluti; Labii reatum; Sancte Ioannes. Como a sílaba Ut era difícil de ser cantada, foi substituída por Dó. O Si foi formado da primeira letra de Sancte e da primeira letra de Ioannes. Um coral de meninos daquela época costumava, antes de suas exibições em público, cantar este hino, pedindo com fé a São João Batista que protegesse suas cordas vocais. A música como uma mensagem sonora, deve penetrar nos sentidos do ouvinte, causando-lhe sensações as mais variadas – alegria, tristeza, exaltação, depressão, agrado, euforia, desagrado etc. Podemos dizer que a apreciação de uma página musical, qualquer que seja, importa em dois aspectos distintos: o emocional e o técnico e só há um meio de apreciá-la: ouvi-la. Historicamente o Classicismo foi o período de auge cultural e civilizatório da humanidade, onde a música como as demais artes, chegara a evoluir ricamente, com o fim da polifonia vocal e a introdução de um estilo harmônico e instrumental, onde se desenvolveu a sinfonia e também, marcando época, destacaram-se num largo sentido Bach, Haendel, Gluck, Rameau, Haydn, Mozart e Beethoven. Apenas como exemplo, a constituição de uma orquestra sinfônica moderna se dá da seguinte forma: 16 primeiros-violinos; 16 segundos-violinos; 12 violas; 12 violoncelos; 10 contrabaixos; 2 harpas; 4 flautas; 4 oboés; 4 clarinetas; 4 fagotes; 3 pistons; 3 trombones; 2 tubas; 2 pares de tímpanos; 3 músicos para os demais instrumentos de percussão; 1 piano; 01 regente. Um total de 103 músicos. Segundo Nicola Aslan, a música: “é uma das sete ciências das artes liberais, vem do grego musa, que significa inspiração, poesia, harmonia dos sons. Dentro do último conceito, é a arte ou ciência de combinar os sons de maneira agradável aos sentidos, que sejam provenientes da voz humana ou de instrumentos musicais”. Ela faz parte dos trabalhos maçônicos e o bom rendimento das cerimonias e sessões ritualísticas é função, em razão direta, do bom funcionamento da Coluna da Harmonia. Acerca da Coluna da Harmonia, a mesma pode assim ser conceituada: “A Coluna da Harmonia é o conjunto de cantores, músicos, instrumentos musicais, equipamentos eletrônicos, acessórios, e o conjunto de partituras, discos e fitas, destinados, no todo ou em parte, sob a direção do Mestre de Harmonia, à musicalização das Sessões Ritualísticas e outras Cerimônias realizadas por uma Loja Maçônica”. (BARROS, p. 43). A música, e através dela a liturgia, foram os instrumentos mais eficazes que dispôs a cultura do século XI, sendo as demais ciências do Quadriviumii a elas subordinadas, não do ponto de vista de estrutura didático-curricular, mas como uma decorrência natural do ambiente da época. O estudo da música na Maçonaria parece tão importante quanto o foi ao longo da História. Na Maçonaria está voltada para a liturgia e o Ritual. Reprisando que essa função já era exercitada no século XII, quando o Ritual e a liturgia tinham foro de prioridade na atividade intelectual da época.
  • 3. Neste sentido, imperioso colacionar o entendimento do Ir. Albert Mackey, citado pelo Ir. Zaly Barros de Araújo acerca da música na Maçonaria, vejamos: “A música, diz Mackey, é recomendada aos Maçons, porque assim como a concórdia de sons suaves eleva os generosos sentimentos da alma, assim a concórdia de bons sentimentos reinará entre os Irmãos e, pela união de amizade e de amor fraternal, as violentas paixões serão acalmadas e a harmonia existirá através da Ordem”. Dando continuidade e a título de curiosidade, os mais antigos cânticos maçônicos de que se possui conhecimento são: O Canto do Mestre, O Canto do Vigilante, a Canção dos Companheiros e Canção dos Aprendizes Registrados, os dois primeiros de autoria do Ir. James Anderson e as duas últimas de autoria, respectivamente do Ir. Carlos Delafaye e Ir. Mateus Birkhead, que compõem o elenco das músicas maçônicas incluídas na Constituição de Anderson, publicada em 1723, para serem entoadas em determinadas ocasiões. No tocante ao Mestre de Harmonia, este, integra o elenco de Oficiais da Loja, sendo a Joia do Cargo, a Lira, devendo lembrar-lhe que o principal objetivo da música, quer no preparo do ambiente, tornando-o solene, inspirador e belo, quer como complemento dos trabalhos, é o de contribuir para a elevação dos nossos sentimentos de amor e bondade. No exercício de seu cargo, compete ao Mestre de Harmonia: a) Dirigir a execução da Coluna de Harmonia; b) Assessorar o Venerável Mestre nos assuntos pertinentes à Coluna de Harmonia; c) Manter em perfeito estado de conservação, organização e funcionamento os instrumentos e material da Coluna de Harmonia; d) Propor ao Venerável Mestre a aquisição de discos, fitas, partituras e material necessários à Coluna; e) Selecionar a sonoplastia de efeitos especiais e os trechos musicais para os Trabalhos Ritualísticos, incluindo as pausas e os eventos previstos. Sendo oportuno que haja, em todos os momentos, compatibilidade e adequação entre o sentido ou natureza do evento e o trecho que o acompanha; f) Organizar e gravar a sequência musical adequada a cada tipo de Sessão, ouvido, antes o Venerável Mestre, devendo existir perfeita correção entre os tempos dos conteúdos da cerimônia e as músicas neles utilizadas; g) Sugerir ao Venerável Mestre um treinamento prévio, particularmente antes das Sessões mais complexas. Conclusão Posto isto, podemos concluir que independentemente do Rito e do Grau da Sessão Ritualística, mais do que o estudo, o emprego da música na Maçonaria é de relevância impar, visto que sua função está intimamente relacionada à liturgia e ao Ritual. Tendo como premissa, propiciar aos Irmãos a harmonia necessária à elevação da alma e espírito, otimizando o sentimento de concórdia e fraternidade no decorrer dos trabalhos da Loja. É inegável que estamos rodeados de sons e música desde o nosso surgimento como seres humanos, ela (a música) sem sombra de dúvidas exerce um notório poder sobre os sentimentos e pensamentos que nos afloram durante sua apreciação. Portanto, não poderia estar a par da nossa Ordem, sendo utilizada desde a concepção desta, como elemento regulamentador de energias, almejando trazer o equilíbrio tanto nas sessões quanto na vida profana. Bibliografia e fontes ARAÚJO, Zaly Barro de. “Coluna de Harmonia”. 3ª ed. Londrina: Ed. Maçônica “A TROLHA”, 2010. BENNETT, Roy. “Um breve história da música”. Tradução Maria Teresa Resende Costa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1986.
  • 4. CAMINO, Rizzardo da. “Breviário Maçônico para o dia a dia do maçom”. São Paulo: Madras, 2017. CARDOSO, Belmira; MASCARENHAS, Mario. “Curso completo de teoria musical e solfejo” 2ª Vol. São Paulo: Irmãos Vitale Editores, 1974. PAHLEN, Kurt. “Nova História Universal da Música”. 5ª ed. São Paulo: Editora Melhoramentos, 1991. REDMAN, Graham. “Trabalho de emulação atualizado”. São Paulo: Madras, 2011. i “Purifica, bem-aventurado João, os nossos lábios polutos, para podermos cantar dignamente as maravilhas que o Senhor realizou em Ti. Dos altos céus vem um mensageiro a anunciar a teu Pai que serias um varão insigne e a glória que terias”. ii Da antiguidade grega à idade média, as artes liberais, isto é, as artes dignas do homem livre, estavam dividias em dois grupos: o Trivium e o Quadrivium, sendo que a este último, inserem-se a aritmética, a geometria, a astronomia e a música.