Este documento compara as éticas de Kant e Stuart Mill, discutindo dois casos concretos e os pressupostos teóricos de cada filósofo. A ética de Kant defende que uma ação só tem valor moral intrínseco, enquanto a ética de Mill defende que devemos agir de modo a maximizar a felicidade geral.
1. A QUESTÃO DA FUNDAMENTAÇÃO DA
MORAL:COMO DISTINGUIR O CERTO DO ERRADO.
COMPARAÇÃO ENTRE A ÉTICA DE
KANT E A ÉTICA DE STUART - MILL
2. COMPARAÇÃO ENTRE A ÉTICA DE KANT E A
ÉTICA DE STUART - MILL
ESTRATÉGIA
• 1.ESTUDO DE DOIS CASOS CONCRETOS.
• 2.CLARIFICAÇÃO DOS PRESSSUPOSTOS
TEÓRICOS INDISPENSÁVEIS À COMPREENSÃO
DA POSIÇÃO DOS DOIS FILÓSOFOS SOBRE OS
CASOS REFERIDOS.
3. COMPARAÇÃO ENTRE A ÉTICA DE KANT E A
ÉTICA DE STUART - MILL
OS CASOS
1.TRUMAN E A BOMBA ATÓMICA.
Harry Truman decidiu lançar a primeira bomba atómica
sobre a cidade japonesa de Hiroxima, matando de uma vez
só mais de cem mil pessoas (civis inocentes). Cometeu ou
não um atentado contra a moral? Truman queria pôr fim à
guerra o mais depressa possível e obrigar o governo
japonês a render-se. Quis evitar a perda de muitos milhares
de soldados e civis que teria lugar se a guerra se
prolongasse.
4. COMPARAÇÃO ENTRE A ÉTICA DE KANT E A
ÉTICA DE STUART - MILL
OS CASOS
2.OS PESCADORES HOLANDESES E OS NAZIS
Durante a Segunda Guerra Mundial, os pescadores holandeses
transportavam, secretamente nos seus barcos, refugiados judeus
para Inglaterra, e os barcos de pesca com refugiados a bordo eram
por vezes interceptados por barcos patrulha nazis. O capitão nazi
perguntava então ao capitão holandês qual o seu destino, quem
estava a bordo, e assim por diante. Os pescadores mentiam e
obtinham permissão de passagem. Ora, é claro que os pescadores
tinham apenas duas alternativas, mentir ou permitir que os seus
passageiros (e eles mesmos) fossem apanhados e executados. Não
havia terceira alternativa. Os pescadores holandeses encontravam-se
então na seguinte situação: ou “mentimos” ou “permitimos o
homicídio de pessoas inocentes”. Os pescadores teriam de escolher
uma dessas opções.
5. COMPARAÇÃO ENTRE A ÉTICA DE KANT E A
ÉTICA DE STUART - MILL
O que se entende por necessidade de
fundamentação da moral?
• Entende – se estabelecer um critério, uma base
que distinga uma acção boa ou moralmente
correcta de uma acção má ou moralmente
incorrecta. A necessidade de fundamentar a
moral é a necessidade de encontrar esse
critério, essa forma de distinguir o que é certo
do que é moralmente errado.
6. COMPARAÇÃO ENTRE A ÉTICA DE KANT E A
ÉTICA DE STUART - MILL
O problema da fundamentação da moral
costuma colocar – se mediante as seguintes
questões:
1.Como distinguir o bem do mal?
2. Como distinguir o moralmente correcto do
moralmente incorrecto?
3.Em que consiste o valor moral de uma acção?
7. COMPARAÇÃO ENTRE A ÉTICA DE KANT E A
ÉTICA DE STUART - MILL
Os dois critérios mais frequentemente
apresentados para distinguir o correcto do
incorrecto:
1.A intenção.
2.As consequências ou resultados da acção.
As duas teorias que vamos estudar (a teoria
deontológica de Kant e a teoria utilitarista de
Mill) distinguem – se pelo valor que atribuem a
cada um dos critérios.
8. A TEORIA ÉTICA DE KANT
MOMENTO 1 - UMA DISTINÇÃO IMPORTANTE
ACÇÕES CONFORMES AO DEVER VERSUS ACÇÕES FEITAS POR
DEVER.
Objectivo desta distinção
Defender que o valor moral das acções depende unicamente da intenção
com que são praticadas.
Mostrar que duas acções podem ter consequências igualmente boas e uma
delas não ter valor moral.
9. A TEORIA ÉTICA DE KANT
ACÇÕES CONFORMES AO DEVER VERSUS ACÇÕES FEITAS POR DEVER.
EX: dois comerciantes praticam preços justos e não enganam os clientes. Estão a agir
bem? Estão a cumprir o seu dever? Aparentemente sim.
Suponhamos que um deles - João - não aumenta os preços apenas porque tem receio de
perder clientes. O seu motivo é egoísta: é o receio de perder clientes que o impede de
praticar preços injustos. A sua acção é conforme ao dever mas não é feita por dever .
Suponhamos agora que o outro comerciante – Vicente - não aumenta os preços por julgar
que a sua obrigação moral consiste em agir de forma justa. A sua acção é feita por
dever.
As duas acções – exteriormente semelhantes – têm a mesma consequência – nenhum
deles perde clientes – mas não têm o mesmo valor moral.
10. A TEORIA ÉTICA DE KANT
ACÇÕES CONFORMES AO DEVER VERSUS ACÇÕES FEITAS POR
DEVER.
ACÇÕES CONFORMES AO DEVER
Acções que cumprem o dever não porque em si mesmo é
correcto fazê – lo mas porque se evita uma má consequência
– perder dinheiro, reputação – ou porque daí resulta uma
boa consequência - a satisfação de um interesse. João não
age por dever.
Ex: Não roubar por receio de ser castigado ou praticar preços
justos para manter ou aumentar a clientela.
11. A TEORIA ÉTICA DE KANT
ACÇÕES CONFORMES AO DEVER VERSUS ACÇÕES FEITAS POR
DEVER.
ACÇÕES FEITAS POR DEVER
Acções que cumprem o dever porque é correcto fazê – lo. O
cumprimento do dever é o único motivo em que a acção se
baseia. Vicente age por dever.
Ex: Não roubar porque esse acto é errado em si mesmo ou
praticar preços justos simplesmente porque assim é que
deve ser.
12. A TEORIA ÉTICA DE KANT
Quando é que a intenção tem valor moral ou é
boa?
Quando o propósito do agente é cumprir o dever
pelo dever.
O cumprimento do dever é o único motivo em que
a acção se baseia. Não há “segundas intenções”.
Ex: Não roubar porque esse acto é errado e não
porque posso ser castigado.
13. A TEORIA ÉTICA DE KANT
CONCLUSÃO MAIS IMPORTANTE DO MOMENTO 1
UMA ACÇÃO SÓ TEM VALOR MORAL SE FOR BOA EM SI
MESMA.
Considera – se que a ética kantiana é deontológica porque
defende que o valor moral de uma acção reside em si
mesma e não nas suas consequências.
É à intenção de cumprir o dever de forma imparcial e
desinteressada que a acção deve o seu valor moral.
14. A TEORIA ÉTICA DE KANT
MOMENTO 2 – A DISTINÇÃO ENTRE IMPERATIVOS
CATEGÓRICOS E IMPERATIVOS HIPOTÉTICOS.
Objectivos da distinção
1. MOSTRAR QUE AS OBRIGAÇÕES MORAIS SÃO DEVERES
ABSOLUTOS
2. MOSTRAR POR QUE RAZÃO O CUMPRIMENTO DO DEVER –
AS NOSSAS OBRIGAÇÕES MORAIS – É UMA OBRIGAÇÃO
ABSOLUTA OU CATEGÓRICA.
15. A TEORIA ÉTICA DE KANT
O CUMPRIMENTO DO DEVER COMO
IMPERATIVO CATEGÓRICO.
O CUMPRIMENTO DO DEVER COMO
IMPERATIVO HIPOTÉTICO.
1. O cumprimento do dever é
uma ordem não
condicionada pelo que de
satisfatório ou proveitoso
pode resultar do seu
cumprimento.
2. A palavra “imperativo” quer
dizer obrigação. Com a
palavra “categórico”, Kant
está a referir-se a
obrigações absolutas - que
temos sempre.
1. O cumprimento do dever é
uma ordem condicionada pelo
que de satisfatório ou
proveitoso pode resultar do
seu cumprimento.
2. A palavra “imperativo” quer
dizer obrigação. Com a palavra
“hipotético”, Kant está a
referir-se às obrigações que
adquirimos apenas na
condição – ou hipótese – de
termos um certo desejo ou
projecto, mas não sempre.
16. A TEORIA ÉTICA DE KANT
O CUMPRIMENTO DO DEVER COMO
IMPERATIVO CATEGÓRICO
O CUMPRIMENTO DO DEVER COMO
IMPERATIVO HIPOTÉTICO
3. A obrigação de salvar uma pessoa do
afogamento, se estiver ao nosso alcance
fazê-lo, não é hipotética. Não depende
de termos certos desejos, projectos ou
sentimentos particulares. O mesmo
acontece com a obrigação de não tratar
os outros apenas como meios e sim
como pessoas.
4.Praticar preços justos é uma obrigação
absoluta.
3.Só tenho a obrigação de estudar
medicina na condição de querer ser
médico. Caso mude de ideias e abandone
o projecto de vir a ser médico, também a
obrigação de estudar medicina
desaparece. Apenas adquiro a obrigação
de saber o código da estrada se quiser
tirar a carta de condução. Se não for esse
o meu projecto (ou não for esse o meu
desejo), esta obrigação deixa de existir.
4. Praticar preços justos é um dever se for
do meu interesse.
17. A TEORIA ÉTICA DE KANT
Se cumprir o dever dependesse dos nossos interesses
ou sentimentos, teríamos a obrigação, por exemplo,
de cumprir a palavra dada apenas em certas
condições, mas não sempre. Esta obrigação
dependeria, digamos, do desejo de ficarmos bem
vistos aos olhos de Deus ou aos olhos dos outros, do
desejo de agradar a alguém, etc. Se agradar a Deus ou
aos outros deixasse de nos preocupar, a obrigação de
cumprir a palavra dada simplesmente desapareceria.
Ora, não é isso que acontece. Continuamos a ter o
dever de cumprir a palavra dada quer isso nos agrade
quer não.
18. A TEORIA ÉTICA DE KANT
CONCLUSÕES IMPORTANTES DO MOMENTO 2
1.HÁ OBRIGAÇÕES MORAIS ABSOLUTAS.
Deveres como não matar inocentes indefesos, não roubar
ou não mentir devem ser cumpridos porque não os respeitar
é absolutamente errado.
19. A TEORIA ÉTICA DE KANT
CONCLUSÕES IMPORTANTES DO MOMENTO 2
2.O CUMPRIMENTO DO DEVER NÃO PODE DEPENDER DOS
NOSSOS INTERESSES, SENTIMENTOS, NEM DOS
PREVISÍVEIS RESULTADOS DA ACÇÃO.
Se cumprir o dever dependesse dos nossos interesses ou
sentimentos, teríamos a obrigação, por exemplo, de cumprir a
palavra dada apenas em certas condições, mas não sempre. Esta
obrigação dependeria, digamos, do desejo de ficarmos bem vistos
aos olhos de Deus ou aos olhos dos outros, do desejo de agradar a
alguém, etc. Se agradar a Deus ou aos outros deixasse de nos
preocupar, a obrigação de cumprir a palavra dada simplesmente
desapareceria. Ora, não é isso que acontece. Continuamos a ter o
dever de cumprir a palavra dada quer isso nos agrade quer não.
20. A TEORIA ÉTICA DE KANT
MOMENTO 3 – ANÁLISE DA SEGUNDA FÓRMULA DO
IMPERATIVO CATEGÓRICO.
OBJECTIVO DESTA FORMULAÇÃO DO IMPERATIVO
CATEGÓRICO
Mostrar que a ética kantiana é a ética do respeito absoluto
pelos direitos da pessoa humana e não simplesmente uma
ética do dever.
21. A TEORIA ÉTICA DE KANT
ANÁLISE DA SEGUNDA FÓRMULA
Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua
pessoa como na pessoa de outrem, sempre e
simultaneamente como fim e nunca apenas como meio.
Segundo esta fórmula, cada ser humano é um fim em si e não
um simples meio. Por isso, será moralmente errado
instrumentalizar um ser humano, usá-lo como simples meio
para alcançar um objectivo. Os seres humanos têm valor
intrínseco, absoluto, isto é, dignidade.
22. A TEORIA ÉTICA DE KANT
ANÁLISE DA SEGUNDA FÓRMULA
Pense no modo como quem pede dinheiro emprestado
sem intenção de o devolver está a tratar a pessoa que
lhe empresta dinheiro. É evidente que está a tratá-la
como um meio para resolver um problema e não como
alguém que merece respeito, consideração. Pensa
unicamente em utilizá-la para resolver uma situação
financeira grave sem ter qualquer consideração pelos
interesses próprios de quem se dispõe a ajudá-lo. Viola
– se assim a primeira e também a segunda fórmula.
23. A TEORIA ÉTICA DE KANT
ANÁLISE DA SEGUNDA FÓRMULA
Para Kant, a pessoa tem de ser tratada sempre como um fim
em si mesma e nunca somente como um meio, porque é o
único ser de entre as várias espécies de seres vivos que pode
agir moralmente. Se não existissem os seres humanos, não
poderia haver bondade moral no mundo e, nesse sentido, o
valor da pessoa é absoluto.
Assim, a fórmula da humanidade, também conhecida por
fórmula do respeito pelas pessoas, exprime a obrigação
moral básica da ética kantiana.
24. A TEORIA ÉTICA DE KANT
CONLUSÃO IMPORTANTE DO MOMENTO 3
Como pessoa o ser humano tem direitos que,
em circunstância alguma podem ser violados
ou infringidos. A ética kantiana parece a
ética de um fanático do dever mas mais do
que isso é a ética dos direitos da pessoa
humana.
25. A TEORIA ÉTICA UTILITARISTA DE MILL
A ideia central do utilitarismo
Devemos agir de modo a que da nossa acção
resulte a maior felicidade ou bem - estar
possível para as pessoas por ela afectadas.
Uma acção boa é a que é mais útil, ou seja, a
que produz mais felicidade global ou, dadas
as circunstâncias, menos infelicidade.
Quando não é possível produzir felicidade ou
prazer devemos tentar reduzir a infelicidade.
26. A TEORIA ÉTICA UTILITARISTA DE MILL
O PRINCÍPIO DE UTILIDADE
O critério da moralidade de um acto é o princípio de utilidade.
Uma acção deve ser realizada somente se dela resultar a
máxima felicidade possível para as pessoas ou as partes que
por ela são afectadas. O princípio de utilidade é por isso
conhecido também como princípio da maior felicidade.
27. A TEORIA ÉTICA UTILITARISTA DE MILL
FELICIDADE GERAL E FELICIDADE INDIVIDUAL
A felicidade de que fala o utilitarismo não é
simplesmente a felicidade individual. Mas também
não é a felicidade geral à custa da felicidade do
agente. A minha felicidade é tão importante como a
dos outros envolvidos, nem mais nem menos.
A minha felicidade não conta mais do que a felicidade
dos outros.
28. A TEORIA ÉTICA UTILITARISTA DE MILL – O PRINCÍPIO
DE UTILIDADE E AS NORMAS MORAIS COMUNS
Normas morais comuns
Que valor têm normas morais
como as que proíbem o
roubo, o assassinato ou a
mentira para um utilitarista
como Mill? Umas vezes
valem outras vezes não?
Princípio de utilidade
Nas nossas decisões morais
devemos ser guiados pelo
princípio de utilidade e não
simplesmente pelas
normas morais da nossa
sociedade. Diz – nos como
devemos agir para que das
nossas acções resultem as
melhores consequências
possíveis em termos
globais.
29. A TEORIA ÉTICA UTILITARISTA DE MILL – O PRINCÍPIO
DE UTILIDADE E AS NORMAS MORAIS COMUNS
Normas morais comuns
Não devem ser seguidas
cegamente. Há situações em
que não seguir uma
determinada norma moral
terá melhores consequências
globais do que respeitá-la.
O PRINCÍPIO DE UTILIDADE É A
BASE EM QUE NOS DEVEMOS
APOIAR PARA RESOLVER
PROBLEMAS MORAIS.
Princípio de utilidade
1 - Reduz a diversidade das
normas morais concretas a
um princípio geral,
denominado fundamento,
que nos diz como devemos
agir .
2 – Procura orientar – nos em
casos de conflito moral
retirando às normas
socialmente aprovadas o seu
carácter inviolável.
3 – A melhor acção é a mais útil.
30. A TEORIA ÉTICA UTILITARISTA DE MILL – O PRINCÍPIO
DE UTILIDADE E AS NORMAS MORAIS COMUNS
As normas morais comuns estão em vigor em muitas sociedades por
alguma razão. Resistiram à prova do tempo e em muitas situações
fazemos bem em segui-las nas nossas decisões.
Nas nossas decisões morais devemos ser guiados pelo princípio de
utilidade e não pelas normas ou convenções socialmente
estabelecidas. Dizer a verdade é um acto normalmente mais útil
do que prejudicial e por isso a norma «Não deves mentir»
sobreviveu ao teste do tempo. Segui - la é respeitar a experiência
de séculos da humanidade.
Mas há situações como em que não respeitar absolutamente uma
determinada norma moral e seguir o princípio de utilidade terá
melhores consequências globais do que respeitá – la.
31. A TEORIA ÉTICA UTILITARISTA DE MILL – OS FINS E OS
MEIOS
Para Mill, o fim – a felicidade geral – justifica
frequentemente os meios. Na teoria utilitarista, há um
primado dos fins da acção em relação aos meios.
Para Mill, é suficiente que a felicidade produzida com a
acção seja superior ao sofrimento eventualmente
provocado com a sua realização para que a acção tenha
valor moral.
É neste sentido que há um primado dos fins da acção (da
maximização da felicidade para o maior número) sobre
os meios (mesmo que a acção produza sofrimento a
algumas pessoas).
32. A TEORIA ÉTICA UTILITARISTA DE MILL
UMA ÉTICA CONSEQUENCIALISTA
Considera – se que a ética de Mill é
consequencialista porque defende que o valor
moral de uma acção depende das suas
consequências.
É boa a acção que tem boas consequências ou
dadas as circunstâncias melhores consequências
do que acções alternativas.
33. A TEORIA ÉTICA UTILITARISTA DE MILL
CONSEQUÊNCIAS E INTENÇÕES
A acção é avaliada pelas suas consequências e
o motivo ou a intenção não são decisivos
porque se referem ao carácter do agente e
não à acção em si mesma.
34. A TEORIA ÉTICA UTILITARISTA DE MILL
ACÇÃO COM BOAS
CONSEQUÊNCIAS
• Acção cujos resultados
contribuem para um
aumento da felicidade
(bem – estar) ou
diminuição da infelicidade
do maior número possível
de pessoas por ela
afectadas.
• Acção subordinada ao
princípio de utilidade.
ACÇÃO COM MÁS
CONSEQUÊNCIAS
• Acção cujos resultados não
contribuem para um aumento
da felicidade (bem – estar) ou
diminuição da infelicidade do
maior número possível de
pessoas por ela afectadas.
• Acção egoísta em que a
felicidade do maior número
não é tida em conta ou em
que só o meu bem – estar ou
satisfação é procurado.
• Acção que não se subordina
ao princípio de utilidade.
35. A TEORIA ÉTICA UTILITARISTA DE MILL
Não há acções intrinsecamente boas.
Para o utilitarista, as acções são moralmente correctas
ou incorrectas conforme as consequências: se
promovem imparcialmente o bem-estar, são boas.
Só as consequências as tornam boas ou más. Assim
sendo, não há, para o utilitarista, deveres que
devam ser respeitados em todas as circunstâncias.
Não há deveres morais absolutos.
36. ANÁLISE DO CASO TRUMAN DE ACORDO COM
AS DUAS PERSPECTIVAS
• Quando o presidente americano Harry Truman decidiu
lançar a primeira bomba atómica sobre a cidade
japonesa de Hiroxima, matando de uma vez só mais de
cem mil pessoas (civis inocentes), cometeu ou não um
atentado contra a moral? Truman queria pôr fim à
guerra o mais depressa possível e obrigar o governo
japonês a render-se. Quis evitar a perda de muitos
milhares de soldados e civis que teria lugar se a guerra
se prolongasse. Lançar a bomba sobre Hiroxima tinha
previsivelmente melhores consequências do que não o
fazer. Se o valor moral das acções depender apenas
das consequências, Truman não cometeu qualquer
crime. A sua acção foi a correcta.
37. ANÁLISE DO CASO TRUMAN DE ACORDO COM
AS DUAS PERSPECTIVAS - KANT
• Para salvar a vida de muitos milhares de pessoas, Truman sacrificou a vida
de outras pessoas inocentes. Será que é moralmente aceitável usar as
pessoas como se fossem apenas coisas de que podemos dispor à vontade
para os nossos fins – como se fossem instrumentos ou objectos? Se
pensarmos que não são apenas as consequências que contam, se
pensarmos que tratar as pessoas como pessoas – e não como simples
meios – é a nossa obrigação moral básica, Truman agiu mal.
• Immanuel Kant, um filósofo alemão do século XVIII, é um defensor
famoso de uma moral deontológica. Kant defendia que o valor moral das
acções depende unicamente da intenção com que são praticadas. Além
disso, pensava que a única intenção capaz de dar valor moral a uma acção
é a de cumprir o dever pelo dever. O nosso dever é nunca tratar as
pessoas como simples instrumentos. E é este dever que é necessário ter
em mente quando escolhemos as nossas acções.
• Kant teria pensado que Truman não reconheceu à população de
Hiroxima a dignidade de pessoas; em vez disso, usou-as como um simples
meio para obter o fim da guerra, e, portanto, agiu erradamente.
38. ANÁLISE DO CASO TRUMAN DE ACORDO COM
AS DUAS PERSPECTIVAS - MILL
John Stuart - Mill, um filósofo inglês do século XIX, foi
um crítico severo de Kant e um dos mais famosos
defensores de uma moral consequencialista. Mill
pensava que o que conta são as consequências das
acções e que temos a obrigação moral de optar
sempre pela acção que melhores consequências tenha
para todos os envolvidos, ou que evite a maior
quantidade de sofrimento possível. Ora, foi
precisamente esta exigência que a decisão de Truman
parece ter tido em conta.
Se forem as consequências de uma acção que
contam, poderemos condenar Truman por ter feito o
que fez?
39. ANÁLISE DO CASO “OS PESCADORES
HOLANDESES E OS NAZIS”(1)
Os pescadores holandeses encontravam-se então na seguinte situação: ou
“mentimos” ou “permitimos o homicídio de pessoas inocentes”. Os
pescadores teriam de escolher uma dessas opções. De acordo com Kant,
qualquer uma delas seria errada, na medida em que as regras morais
“Não devemos mentir” e “Não devemos matar” (ou permitir o assassínio
de inocentes) são absolutas. O que fazer então?A teoria ética de Kant não
saberia responder a esta situação de caso-conflito, porque proíbe ambas
as possibilidades de acção por estas se revelarem moralmente
incorrectas. Mas a verdade é que, perante uma situação destas teríamos
de optar por uma dessas duas possibilidades. Se a teoria de Kant nos
proíbe de optar por uma delas, mas na realidade somos forçados a optar
por uma, ela revela-se incoerente porque aquilo que concluímos (existem
casos em que temos de mentir) contradiz aquilo que Kant defende (não
devemos mentir nunca - para Kant as regras morais são absolutas).
40. ANÁLISE DO CASO “OS PESCADORES
HOLANDESES E OS NAZIS”(2)
A grande diferença na resolução desta situação entre a
teoria ética de Kant e a de Mill é que em Kant as regras
morais são absolutas (são para serem cumpridas em
todas as circunstâncias da nossa existência), enquanto
em Mill não existem regras morais absolutas.Em
relação ao problema dos casos-conflito, dos casos em
que estamos perante uma situação em que temos
duas possibilidades de acção e qualquer uma dessas
duas alternativas é moralmente incorrecta, o
utilitarista escolheria aquela que promovesse a
máxima felicidade para o maior número de pessoas.
41. ANÁLISE DO CASO “OS PESCADORES
HOLANDESES E OS NAZIS”(3)
• Os pescadores holandeses apenas tinham duas opções: ou mentiam ao
chefe do barco patrulha nazi e salvavam a vida dos tripulantes judeus e a
deles mesmos ou diziam a verdade e originavam a morte dos tripulantes
judeus e até a sua própria morte. Perante esta situação, o defensor da
teoria ética de Kant não sabia por qual das duas possibilidades de acção se
decidir, porque qualquer uma das duas opções “mentir” ou “matar”
(“deixar morrer” mais precisamente) são moralmente incorrectas;
concretamente, da perspectiva ética de Kant, são acções que
desrespeitam as ordens da nossa razão.O utilitarista resolvia este
imbróglio ou enredo em que tinha caído o defensor da ética kantiana,
optando por mentir ao chefe do barco patrulha nazi. Entre mentir e salvar
a vida dos tripulantes judeus e dizer a verdade e causar a mais do que
certa morte de todos os tripulantes do barco, aquela opção que causa
uma menor dor ou sofrimento ao maior número de pessoas é certamente
a primeira, a de mentir e salvar a vida dos tripulantes.