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A Poesia de um Casal Apaixonado
                                                               TexTo Áureo:
                                     “As muitas águas não poderiam apagar este amor, nem os rios afogá-lo;
                                       ainda que alguém desse toda a fazenda de sua casa por este amor,
                                                         certamente a desprezariam”.
                                                                 Cantares 8.7

                                                                          Texto Básico: Cantares 1.1-17




         Ficamos fascinados com a linda poesia ou canção de amor que é
o Cântico dos Cânticos. Apesar de saber que o livro não se trata de um
cartão do Dia dos Namorados de antigamente, não temos muita certeza de
seu significado. No decorrer dos séculos, a maioria dos judeus, querendo
justificar a sua inclusão no cânon sagrado, interpreta-o como um retrato
de Deus como esposo do seu povo (Os 2.16-20). Os cristãos leram-no, a
princípio, como uma parábola que ilustraria a comunhão íntima entre Cristo,
o noivo, e a igreja, a noiva (Ap 21.2,9), sendo esse amor correspondido
sinceramente (Ef 5.25-32). Comentaristas mais modernos são da opinião
que nada disso se justifica, pois não há um único texto em Cantares ou
em qualquer outro lugar da Bíblia que indique, claramente, essa ideia.
Desse modo, tendem a ler esse livro, literalmente, como uma expressão
da santidade da vida conjugal, a mais plena expressão de amor entre o
casal e que celebra a expressão sexual desse amor.




      1. CONHECENDO O Casal apaixONaDO DE CaNTaREs

      Existem inúmeras interpretações sobre quem seria o “amado” e
a “amada” citados nesse livro. Uns entendem que os principais perso-
nagens são o rei Salomão e uma moça chamada Sulamita (Ct 6.13). Há
também a teoria de que a história da Sulamita e do amado seria apenas
um poema de amor e não uma narrativa verdadeira. Outros seguem o
  Segunda-feira      Terça-feira         Quarta-feira           Quinta-feira
                                                               Quinta-feira       Sexta-feira        Sábado
 Cantares 2.1-17   Cantares 3.1-11      Cantares 4.1-16       Cantares 5.1-16   Cantares 6.1-13   Cantares 8.1-14
                                                     - 01 -
raciocínio de que o amado não se-             Cantares: “Leva-me após ti...” (Ct
ria Salomão, mas um jovem pastor              1.4). É uma submissão livre, espon-
de ovelhas, da mesma condição                 tânea, auto-oferecida. O amor não
econômica, social e cultural da               obriga, mas atrai.
Sulamita. Assim, a história narra
a tentativa frustrada do rei em                4. a CRiaTiViDaDE DO aMOR
conquistar uma moça comprome-
tida com o noivo que era pastor,                  Os atos de amor podem ser
interpretação adotada na presente             programados para acontecer. A
lição.                                        amada estava tão cativada pelo
                                              jovem pastor que planejou tempo
2. a RiQUEZa QUE É O aMOR                     a sós com ele em passeios curtos
                                              (Ct 7.11-12). A rotina tem feito mui-
   O amor é um sentimento que                 tos casamentos perderem o prazer
não pode ser comprado. Com                    da vida a dois, embora pequenos
dinheiro, muitos compram prazer               atos possam ter grande valor para
sexual de formas diversas, mas                revitalizar o relacionamento conju-
não adquirem o amor de verdade:               gal. Aprendemos com esse casal,
“Ainda que alguém desse todos os              a importância de cuidar do corpo,
bens de sua casa pelo amor, seria             que é templo do Espírito Santo
de todo desprezado” (Ct 8.7-b).               (1Co 6.19). A amada fazia um lindo
   O amor é um sentimento inego-              penteado para ele (“... a tua cabe-
ciável, por isso é uma atitude vã             leira é como a púrpura” - Ct 7.5),
substituir o carinho por uma fina             tinha cuidado pelos seus lábios e
jóia. Numa relação em família é               hálito (Ct 4.3,11), usava perfumes
comum presentear a alguém com                 cheirosos (Ct 4.11-b) e bastava o
a expectativa de retribuição, mas             amado olhar para ela que o coração
o verdadeiro amor começa quando               dele “disparava” (Ct 4.9). O amado
nada se espera em troca.                      também tinha perfumes deliciosos
                                              (Ct 1.13).
  3. a liBERDaDE DO aMOR
                                                5. a FiDEliDaDE DO aMOR
   O amor não pode ser forçado a
acontecer: “Conjuro-vos, ó filhas                O rei Salomão fracassou em
de Jerusalém, que não acordeis                sua tentativa de conquistar a Su-
nem desperteis o amor, até que                lamita, porque pensou que, sendo
este o queira” (Ct 8.4). Há marido            homem e rico, poderia impor sua
que exige que a esposa seja-lhe               vontade sobre uma moça pobre. O
submissa. Muito diferente é o que             poema exalta o direito de a mulher
ocorre no ambiente do livro de                expressar sua vontade. Só o marido
                                     - 02 -
timidade: “Jardim fechado és tu,               a situação de morte da esperança,
irmã minha, esposa minha, ma-                  da alegria e paz no lar. O amor leva
nancial fechado, fonte selada” (Ct             cada um a dar a vida, se preciso for,
4.12). A esposa ama tanto o marido             para ver o outro vivo e feliz. É uma
que a ele se oferece (Ct 4.16).                maneira comparativa de dizer: “O
   O amor conjugal só sobrevive                amor é invencível; jamais acaba”.
quando respira o ar da fidelidade e               O amor é sobrevivente mesmo
da confiança mútua. Sem esse oxi-              nos dilúvios e enxurradas da vida:
gênio, a relação conjugal asfixia-             “As muitas águas não poderiam
se e morre, pois quem consegue                 apagar este amor nem os rios
amar alguém em quem não confia?                afogá-los” (Ct 8.7). O amor vence
Há exclusividade entre os que se               o obstáculo do tempo, do vigor e
amam: “O meu amado é meu, e                    da beleza que vão indo embora. O
eu sou dele; ele apascenta o seu               companheiro foi e sempre será a
rebanho entre os lírios” (Ct 2.16).            pessoa mais atraente (Ct 2.2-3).
Quem é amado vence qualquer
concorrência: “O meu amado é
alvo e rosado, o mais distinguido
entre dez mil” (Ct 5.9-10).                       Certamente, não deve ter sido
                                               fácil os noivos suportarem as pres-
6. O aMOR sUpERa BaRREiRas                     sões do poderoso rei Salomão,
                                               porém, com a força do verdadeiro
    É verdade que Cantares nos                 amor, eles, finalmente, conse-
apresenta não somente poesia,                  guiram concretizar a união. Em
mas dificuldades presentes no                  qualquer época, é possível surgir
relacionamento conjugal. Nesse                 obstáculos, tentando perturbar um
livro, lemos como é encantador                 relacionamento de amor. Podem
andar juntos e como a união pode               ser dificuldades financeiras, precon-
ser conflitante. Não há apenas                 ceitos sociais, distância geográfica
beijos, abraços, cores e amores;               e tantos outros. A vitória do amor
há também toda uma luta para                   é a recompensa dos que não de-
permanecerem unidos. A esposa                  sistem e lutam para atingir o alvo
preocupa-se com as raposinhas                  desejado, pois o amor “tudo sofre,
que podem danificar os vinhe-                  tudo crê, tudo espera, tudo suporta”
dos e a flor do amor (Ct 2.15). O              (1Co 13.7). Um casal que cultiva
amor não é apenas o prazer da                  um autêntico amor deve buscar
intimidade física, mas também                  sabedoria, paciência e confiança
compromisso com quem amamos:                   no Deus Eterno, para superar as
“O amor é forte como a morte” (Ct              adversidades que surgem contra
8.6), por isso não se conforma com             esse amor.
                                      - 03 -

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A Poesia Do Casal Apaixonado

  • 1. A Poesia de um Casal Apaixonado TexTo Áureo: “As muitas águas não poderiam apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse toda a fazenda de sua casa por este amor, certamente a desprezariam”. Cantares 8.7 Texto Básico: Cantares 1.1-17 Ficamos fascinados com a linda poesia ou canção de amor que é o Cântico dos Cânticos. Apesar de saber que o livro não se trata de um cartão do Dia dos Namorados de antigamente, não temos muita certeza de seu significado. No decorrer dos séculos, a maioria dos judeus, querendo justificar a sua inclusão no cânon sagrado, interpreta-o como um retrato de Deus como esposo do seu povo (Os 2.16-20). Os cristãos leram-no, a princípio, como uma parábola que ilustraria a comunhão íntima entre Cristo, o noivo, e a igreja, a noiva (Ap 21.2,9), sendo esse amor correspondido sinceramente (Ef 5.25-32). Comentaristas mais modernos são da opinião que nada disso se justifica, pois não há um único texto em Cantares ou em qualquer outro lugar da Bíblia que indique, claramente, essa ideia. Desse modo, tendem a ler esse livro, literalmente, como uma expressão da santidade da vida conjugal, a mais plena expressão de amor entre o casal e que celebra a expressão sexual desse amor. 1. CONHECENDO O Casal apaixONaDO DE CaNTaREs Existem inúmeras interpretações sobre quem seria o “amado” e a “amada” citados nesse livro. Uns entendem que os principais perso- nagens são o rei Salomão e uma moça chamada Sulamita (Ct 6.13). Há também a teoria de que a história da Sulamita e do amado seria apenas um poema de amor e não uma narrativa verdadeira. Outros seguem o Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Quinta-feira Sexta-feira Sábado Cantares 2.1-17 Cantares 3.1-11 Cantares 4.1-16 Cantares 5.1-16 Cantares 6.1-13 Cantares 8.1-14 - 01 -
  • 2. raciocínio de que o amado não se- Cantares: “Leva-me após ti...” (Ct ria Salomão, mas um jovem pastor 1.4). É uma submissão livre, espon- de ovelhas, da mesma condição tânea, auto-oferecida. O amor não econômica, social e cultural da obriga, mas atrai. Sulamita. Assim, a história narra a tentativa frustrada do rei em 4. a CRiaTiViDaDE DO aMOR conquistar uma moça comprome- tida com o noivo que era pastor, Os atos de amor podem ser interpretação adotada na presente programados para acontecer. A lição. amada estava tão cativada pelo jovem pastor que planejou tempo 2. a RiQUEZa QUE É O aMOR a sós com ele em passeios curtos (Ct 7.11-12). A rotina tem feito mui- O amor é um sentimento que tos casamentos perderem o prazer não pode ser comprado. Com da vida a dois, embora pequenos dinheiro, muitos compram prazer atos possam ter grande valor para sexual de formas diversas, mas revitalizar o relacionamento conju- não adquirem o amor de verdade: gal. Aprendemos com esse casal, “Ainda que alguém desse todos os a importância de cuidar do corpo, bens de sua casa pelo amor, seria que é templo do Espírito Santo de todo desprezado” (Ct 8.7-b). (1Co 6.19). A amada fazia um lindo O amor é um sentimento inego- penteado para ele (“... a tua cabe- ciável, por isso é uma atitude vã leira é como a púrpura” - Ct 7.5), substituir o carinho por uma fina tinha cuidado pelos seus lábios e jóia. Numa relação em família é hálito (Ct 4.3,11), usava perfumes comum presentear a alguém com cheirosos (Ct 4.11-b) e bastava o a expectativa de retribuição, mas amado olhar para ela que o coração o verdadeiro amor começa quando dele “disparava” (Ct 4.9). O amado nada se espera em troca. também tinha perfumes deliciosos (Ct 1.13). 3. a liBERDaDE DO aMOR 5. a FiDEliDaDE DO aMOR O amor não pode ser forçado a acontecer: “Conjuro-vos, ó filhas O rei Salomão fracassou em de Jerusalém, que não acordeis sua tentativa de conquistar a Su- nem desperteis o amor, até que lamita, porque pensou que, sendo este o queira” (Ct 8.4). Há marido homem e rico, poderia impor sua que exige que a esposa seja-lhe vontade sobre uma moça pobre. O submissa. Muito diferente é o que poema exalta o direito de a mulher ocorre no ambiente do livro de expressar sua vontade. Só o marido - 02 -
  • 3. timidade: “Jardim fechado és tu, a situação de morte da esperança, irmã minha, esposa minha, ma- da alegria e paz no lar. O amor leva nancial fechado, fonte selada” (Ct cada um a dar a vida, se preciso for, 4.12). A esposa ama tanto o marido para ver o outro vivo e feliz. É uma que a ele se oferece (Ct 4.16). maneira comparativa de dizer: “O O amor conjugal só sobrevive amor é invencível; jamais acaba”. quando respira o ar da fidelidade e O amor é sobrevivente mesmo da confiança mútua. Sem esse oxi- nos dilúvios e enxurradas da vida: gênio, a relação conjugal asfixia- “As muitas águas não poderiam se e morre, pois quem consegue apagar este amor nem os rios amar alguém em quem não confia? afogá-los” (Ct 8.7). O amor vence Há exclusividade entre os que se o obstáculo do tempo, do vigor e amam: “O meu amado é meu, e da beleza que vão indo embora. O eu sou dele; ele apascenta o seu companheiro foi e sempre será a rebanho entre os lírios” (Ct 2.16). pessoa mais atraente (Ct 2.2-3). Quem é amado vence qualquer concorrência: “O meu amado é alvo e rosado, o mais distinguido entre dez mil” (Ct 5.9-10). Certamente, não deve ter sido fácil os noivos suportarem as pres- 6. O aMOR sUpERa BaRREiRas sões do poderoso rei Salomão, porém, com a força do verdadeiro É verdade que Cantares nos amor, eles, finalmente, conse- apresenta não somente poesia, guiram concretizar a união. Em mas dificuldades presentes no qualquer época, é possível surgir relacionamento conjugal. Nesse obstáculos, tentando perturbar um livro, lemos como é encantador relacionamento de amor. Podem andar juntos e como a união pode ser dificuldades financeiras, precon- ser conflitante. Não há apenas ceitos sociais, distância geográfica beijos, abraços, cores e amores; e tantos outros. A vitória do amor há também toda uma luta para é a recompensa dos que não de- permanecerem unidos. A esposa sistem e lutam para atingir o alvo preocupa-se com as raposinhas desejado, pois o amor “tudo sofre, que podem danificar os vinhe- tudo crê, tudo espera, tudo suporta” dos e a flor do amor (Ct 2.15). O (1Co 13.7). Um casal que cultiva amor não é apenas o prazer da um autêntico amor deve buscar intimidade física, mas também sabedoria, paciência e confiança compromisso com quem amamos: no Deus Eterno, para superar as “O amor é forte como a morte” (Ct adversidades que surgem contra 8.6), por isso não se conforma com esse amor. - 03 -