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1As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
225/04/2019
Impressura em res papirea est: et breui tempore tota consumitur...
As ‘Humanidades Digitais’
e os ofícios
da memória
325/04/2019
Maria Clara Paixão de Sousa
Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas
Universidade de São Paulo
Conferência ao Grupo de pesquisas Idade Média e Humanidades Digitais
16 de setembro, 2019
425/04/2019
As ‘Humanidades Digitais’
e os ofícios
da memória
prólogo...
5As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
As ‘Humanidades Digitais’
e os ofícios
da memória
625/04/2019
725/04/2019
ofícios
da memória
‘
’
‘Mal de
arquivo’
825/04/2019
Jacques Derrida,
1994.
925/04/2019
Jacques Derrida,
‘Mal de Arquivo’,
1994[2001].
1025/04/2019
Arquivocomo
operação de ordenação da
memória, e que envolve
o desejo de conservaçãoe
o desejo de apagamento.
Jacques Derrida,
‘Mal de Arquivo’,
1994.
‘Ler o
arquivo
hoje’
1125/04/2019
Michel Pêcheux,
1982.
1225/04/2019
Michel Pêcheux,
1982
Arquivocomo
campo dos documentos pertinentes
e disponíveis sobre qualquer questão - um
‘espaço das maneiras de ler’,
construídas pelos aparelhos do poder ao
gerar e ordenara memória
coletiva das sociedades.
1325/04/2019
Michel Pêcheux,
1982
As diferentes maneiras de ler
engendram uma ‘divisão do trabalho’;
desde o início da idade moderna, ‘os
intelectuais’ eram os responsáveis
pela leitura e pela escritura do arquivo,
detendo a primazia do ‘saber ler’e
do ‘saber escrever’ a memória.
‘...nos encontramos diante de
uma nova divisão do trabalho de leitura,
uma verdadeira reorganização social
do trabalho intelectual,
cujas consequências repercutirão diretamente sobre
a relação de nossa sociedade
com sua própria memória histórica’
1425/04/2019
Michel Pêcheux,
1982[1994]
1525/04/2019
Humanidades
Digitais
16As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
https://humanidadesdigitais.org/breve-panorama/
cf. ‘Um breve panorama’, em
17As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Frequência de uso (‘N-gram’)
do termo ‘Digital Humanities’
no acervo do Google Books, 1918-2018
https://books.google.com/ngrams
18As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Roberto Busa
In: The Priest and the Punched-Card
Machines: Father Roberto Busa and the
Emergence of Humanities Computing
http://priestandpunchedcards.tumblr.com
19As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Equipe de digitação do Corpus Thomisticum de Busa, 1949
http://www.corpusthomisticum.org
20As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
‘During World War II, between 1941
and 1946, I began to look for machines
for the automation of the linguistic
analysis of written texts. I found them,
in 1949, at IBM in New York City.
Today, as an aged patriarch (born in
1913) I am full of amazement at the
developments since then; they are
enormously greater and better than I
could then imagine.
Digitus Dei est hic!
The finger of God is here!’
Roberto Busa, Perspectives on the Digital
Humanities , 2004.
21As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
‘During World War II, between 1941
and 1946, I began to look for machines
for the automation of the linguistic
analysis of written texts. I found them,
in 1949, at IBM in New York City.
Today, as an aged patriarch (born in
1913) I am full of amazement at the
developments since then; they are
enormously greater and better than I
could then imagine.
Digitus Dei est hic!
The finger of God is here!’
Roberto Busa, Perspectives on the Digital
Humanities , 2004.
2225/04/2019
Isso é uma sequência de números
2325/04/2019
Isso é uma sequência de números
2425/04/2019
O texto ‘descorporificado’
‘Texto digital:
Uma perspectiva
material’,
2013.
2525/04/2019
‘Pois a difusão digital, pulverizandoo primado da autoridade sobre o objeto,
desintegrou o portal regulador da circulação dos corpos.
Nesse novo ambiente, o erudito pode construir novas esferas de circulação do saber;
mas outros construirão outras esferas, em que circularão outros saberes.
Assim, os estudiosos especializados da leitura e da construção do ‘arquivo’
(no sentido de Pecheux, 1994) podem passar a se ver acompanhados de novos leitores
e construtores do arquivo. Pois o ‘saber escrever’ (aqui no sentido expandido, não de
codificar a escrita, mas de escrever o arquivo, inscrevendo a memória) saiu das nossas
mãos, mais radicalmente do que saíra das mãos dos escribas diligentes a serviço dos
eruditos medievais para passar para as mãos (máquinas) dos fabricantes de livros.
Saiu de nossas mãos, de todas as mãos, e de todas as máquinas:
descorporificou-se’. (Paixão de Sousa, 2013)
O texto ‘descorporificado’
2625/04/2019
‘desconstrução’
da noção de documento
(Gradmann e Meister, 2008)
‘fragmentação’
da unidade documental
(Chaudiron et al., 2008)
‘redocumentarização do mundo’
(Pédauque, 2007)
O texto ‘descorporificado’
(em resumo...)
27As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
28As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
(...aqui estamos,
‘leitores’ e ‘escritores’
tradicionais do arquivo,
observando sua
transformação em
dígitos ... )
per
gun
tas
29As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
:
3025/04/2019
De que modo(s) a forma digital do arquivo
interpela os ‘ofícios da memória’
1
O que têm feito os ‘leitores do arquivo’ ?2
3Onde fica a saída ?
?
3125/04/2019
De que modo(s) a forma digital do arquivo
interpela os ‘ofícios da memória’
1
O que têm feito os tradicionais
‘leitores e escritores do arquivo’2
3Onde fica a saída ?
?
?
3225/04/2019
De que modo(s) a forma digital do arquivo
interpela os ‘ofícios da memória’
1
2
3Onde fica a saída ?
O que têm feito os tradicionais
‘leitores e escritores do arquivo’ ?
?
3325/04/2019
1
Mas e agora, como faz ?2
3Não dava pra voltar?
De que modo(s) a forma digital do arquivo
interpela os ‘ofícios da memória’ ?
&
3425/04/2019
o arquivo digital:
Volume
Dispersão
3525/04/2019
4.240.000.000
quatro bilhões e duzentos e quarenta milhões
de páginas-web
(Kunder, 2018)
3625/04/2019
114.000.000cento e quatorze milhões
de artigos acadêmicos (em inglês)
(Khabsa, 2014)
3725/04/2019
23.000.000
(Peckel, 2012)
vinte e três milhões
de documentos digitalizados em arquivos históricos institucionais, na Europa, até 2012...
218.368
3825/04/2019
duzentos e dezoito mil, trezentos e sessenta e oito
documentos digitalizados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo
3925/04/2019
218.368
está lendo e escrevendo
o Arquivo
4025/04/2019
Quem
?
...ou:
( )
... em seu sentido mais técnico,
ou seja, como instância de conservaçãoda memória
está lendo e escrevendo
o Arquivo
4125/04/2019
Quem
?
...ou:
( )
está lendo e escrevendo
o Arquivo
4225/04/2019
Quem
?
...ou:
... e em seu sentido discursivo,
ou seja, como ordenação daquilo que merece a memória
( )
4325/04/2019
De que modo as tecnologias digitais
interpelam os ‘ofícios da memória’?1
2
3Não dava pra voltar?
O que têm feito os tradicionais
‘leitores e escritores do arquivo’
?
visões e sonhos no
arquivo digital:
Reunir
4425/04/2019
&
visões e sonhos no
arquivo digital:
Reunir
4525/04/2019
&
uma experiência
em andamento
no nosso grupo
de pesquisas
4625/04/2019
M.A.P
4725/04/2019
(Mulheres na América Portuguesa)
M.A.P
4825/04/2019
(Mulheres na América Portuguesa)
Mapeamento de escritos de mulheres e sobre mulheres
no espaço atlântico português a partir de métodos das
Humanidades Digitais
CNPq (2019-2023)
4925/04/2019
M.A.P.http://www.nehilp.org/~nehilp/HD/MAP
5025/04/2019
Arquivo Sigla
Número de
documentos
catalogados
Arquivo Público do Estado de São Paulo APESP 69 (*)
Arquivo Nacional da Torre do Tombo ANTT 37
Arquivo Público Mineiro APM 8
Arquivo Público de Mato Grosso APMT 1
Arquivo da Câmara Municipal de Jundiaí CMJ 12
Fundação Biblioteca Nacional BNRJ 2
Arquivo da Cúria Metropolitana ACM 1
130
(*) Documentos ainda não disponíveis no Catálogo online
Arquivos prospectados no Projeto
por meio de consulta remota a repositórios digitais
5125/04/2019
Arquivos em prospecção
no projeto M.A.P
Cf. Google Maps
52As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Formas de
acesso ao
M.A.P.
53As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Formas de
acesso ao
M.A.P.
54As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Formas de
acesso ao
M.A.P.
55As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Formas de
acesso ao
M.A.P.
56As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória
16/09/2019
Formas de
acesso ao
M.A.P.
57As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Código XML
básico do
M.A.P.
58As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
59As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
(visões e sonhos...)
6025/04/2019
visões e sonhos no
arquivo digital:
Ler
dar a ler
&
6125/04/2019
“We need editors — lots of them. We have
before us a new model of intellectual life in general and especially within the
humanities. We have valued scholarship that is difficult to produce and almost
as difficult to understand. (…) We have vast amounts of work before us…
We need to edit the entire record of humanity.
Brute digitization provides physical access to digital representations that are
qualitatively more useful than anything possible in print — print publication
constitutes only a small dimensional reduction of the space in which we now
move. At least as important, we have at our disposal a growing set of analytical
tools that can make these sources intellectually
as well as physically accessible.”
Gregory Crane. Give us editors!
Re-inventing the edition and re-
thinking the humanities, 2010.
tornar as fontes
intelectualmente
acessíveis
6225/04/2019
“
”
O que seria
?
algumas experiências
no campo dos
estudos medievais
6325/04/2019
64As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
“As tecnologias da informação põem hoje à disposição dos filólogos variadíssimos
recursos (aplicações, utilitários, redes, suportes para armazenamento de grandes
quantidades de texto) para editar, processar e analisartextos medievais. A
representação tipográfica de textos medievais é uma das áreas que sofreu grandes
avanços nas últimas décadas, com o desenvolvimento da tecnologia tipográfica
digital, com o estabelecimento de diversas normas internacionais para representação
de caracteres de escrita, e com o surgimento e desenvolvimento de aplicações de
linguagens de anotação (‘markup languages’). Estes desenvolvimentos e avanços
interpelam decisivamente os filólogos portugueses,
que são obrigados a repensar os procedimentos e estratégias editoriais praticados até o
advento e generalização do computador pessoal: não é possível continuar
a pensar as edições como objectos fechados e fixados
imutavelmente na página impressa em papel, ou como
simples transposições dos textos medievais para o suporte impresso através da utilização
do escasso número de caracteres contido na versão moderna do alfabeto romano”.
António Emiliano, Tipo Medieval para Computador:
uma ferramenta informática para linguistas,
historiadores da língua e paleógrafos, 2005.
65As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Album interactif de paléographie médiévale | http://paleographie.huma-num.fr
66As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
DigiPal |http://www.digipal.eu
67As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Medieval Handwritting App | https://itunes.apple.com/us/app/medieval-handwriting
68As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Eletronic Beowulf |https://ebeowulf.uky.edu
69As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Eletronic Beowulf |https://ebeowulf.uky.edu
visões e sonhos no
arquivo digital...:
Reunir
7025/04/2019
&
7125/04/2019
tem
só um
...
probleminha...
72As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Fluxo de dados na internet
Chris Harrison, Internet Map – City to city connections ||
http://chrisharrison.net/index.php/Visualizations/InternetMap
73As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Marin Dacos,
La stratégie du Sauna finlandais,
2013.
74As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Quantifying Digital
Humanities – Investment in
Digital Humanities
| Terras (2011)
| http://www.ucl.ac.uk/infostudie
s/melissa-
terras/DigitalHumanitiesInfogr
aphic.pdf
75As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
National Endowment for the Humanities,
EUA, 2007-2011 (250 projetos):
U$ 15.268.130 (R$59.290.729)
Joint Information Systems Commitee,
RU, 2008-2011:
£966.691 (R$4.816.802)
Arts and Humanities Research Council,
RU, 2008-2011 (330 projetos):
£121.500 (R$605.637)
Andrew W. Mellon Foundation,
EUA, 2010:
U$30.870.667 (R$119.880.061)
Recursos aplicados nas ‘Digital Humanities’
(Terras, 2111)
76As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Total das quatro agências,
2007-2011:
R$
184.593.229
Recursos aplicados nas ‘Digital Humanities’
(Terras, 2111)
7725/04/2019
De que modo as tecnologias digitais
interpelam os ‘ofícios da memória’?1
Mas e agora, como faz ?2
3 ?Onde fica a saída
7825/04/2019
... ainda bem que
a gente
não tem nada
a ver com isso !
ou...
79As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
“Combinado ao problema linguístico, o problema da exclusão digital
coloca o desafio das “Humanidades Digitais Globais” em uma
perspectiva ainda mais desafiadora. Se de um lado acreditarmos que, no
futuro próximo, toda institucionalidade, toda prática, toda
heurística das humanidades estará modificada pelo digital,
veremos a gravidade das consequências da exclusão digital neste debate.
Nesse cenário, a manutenção da situação de desigualdade nas formas de
acesso à rede não significaria apenas que alguns pesquisadores e algumas
partes do mundo, por ficarem fora “do digital”, correm o risco de não
poder participar da comunidade das “Humanidades Digitais”.
Efetivamente, se acreditarmos que no futuro próximo
todas as humanidades serão digitais,
os pesquisadores nesses pontos do globo correm o risco de não poder
participar da comunidade das Humanidades– ponto final.
Como humanistas, temos a obrigação ética de cuidar desse problema”.
As ‘Humanidades Digitais Globais’? | Ciclo de conferências, 2015
| https://humanidadesdigitais.org/hd2015
80As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
“Digital technology is hardly new in classics: there are full professors today who
have always searched large bodies of Greek and Latin, composed their ideas in an
electronic form, found secondary sources online and opportunistically
exploitedwhatever digital tools served their purposes Nevertheless, the
inertiaof prior practice has preserved intact the forms that evolved to exploit the
strengths and minimize the weaknesses of print culture: we create documents that
slavishly mimictheir print predecessors; we send these documents to the same
kinds of journals and publishers; our reference Works and editions have already
begun to drift out of date before they are published and stagnatethereafter;
even when new, our publications are static and cannot adapt themselves to
the needs of their varying users; while a growing, global audience could now find
the results of our work, we embed our ideas in specialized language and behind
subscription barriers which perpetuate into the twenty-first century
the miniscule audiences of the twentieth”.
Gregory Crane (et al.),
ePhilology: When the Books Talk to Their Readers,
2008.
“...nos encontramos diante de
uma nova divisão do trabalho de leitura,
uma verdadeira reorganização social
do trabalho intelectual,
cujas consequências repercutirão diretamente sobre
a relação de nossa sociedade
com sua própria memória histórica”
8125/04/2019
Pêcheux (1982[1994])
(lembrando...)
82As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
“Feita esta evocação, em consideração ao legítimo ponto de honra do ‘científico’
(repugnando a idéia de ser brutalmente comparado a um burocrata!), cabe constatar que a
formação na dominante ‘literária’ dos especialistas da leitura de arquivo forneceu muitas
vezes pretexto aos ‘cientistas’ para expandir um pouco mais o fosso de incompreensão que os
separa. E há fortes razões que nos levam a pensar que, no contexto da Europa da década de
1980, a tradição dos grandes praticantes do arquivo vai se encontrar numa posição cada vez
mais delicada, face à proliferação previsível dos ‘métodos de tratamentos de textos’ induzidos
pela desordem informática que se prepara em nossas sociedades. A arrogância e a
condescendência fóbicas dos ‘literatos’ ameaça isolá-los mais e mais (cultural e
politicamente) face à paciente e mordaz modéstia ‘utilitária’ dos cientistas de arquivo, que
têm o futuro diante deles.
Logo, nos encontramos diante de uma nova divisão do trabalho de leitura, uma verdadeira
reorganização social do trabalho intelectual, cujas consequências repercutirão diretamente
sobre a relação de nossa sociedade com sua própria memória histórica.
No cerne da questão: a ambigüidade fundamental da palavra de ordem mais que centenária
‘aprender a ler e a escrever’, que visa ao mesmo tempo a apreensão de um sentido unívoco
inscrito nas regras escolares de uma assepsia do pensamento (as famosas ‘leis’ semântico-
pragmáticas da comunicação) e o trabalho sobre a plurivocidade do sentido como condição
mesma de um desenvolvimento interpretativo do pensamento.
Atualmente, esta ambiguidade está diretamente associada àquela que diz respeito à
informática”.
Pêcheux (1982[1994])
83As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
“Feita esta evocação, em consideração ao legítimo ponto de honra
do ‘científico’ (repugnando a idéia de ser brutalmente comparado
a um burocrata!), cabe constatar que a formação na
dominante ‘literária’ dos especialistas da leitura de
arquivo forneceu muitas vezes pretexto aos ‘cientistas’ para
expandir um pouco mais o fosso de incompreensão que os separa.
E há fortes razões que nos levam a pensar que, no contexto da
Europa da década de 1980, a tradição dos grandes praticantes do
arquivo vai se encontrar numa posição cada vez mais delicada,
face à proliferação previsível dos ‘métodos de tratamentos de
textos’ induzidos pela desordem informática que se
prepara em nossas sociedades....”.
Pêcheux (1982[1994])
84As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
“A arrogânciae a condescendência
fóbicas dos ‘literatos’ ameaça isolá-los mais e
mais (cultural e politicamente) face à paciente e
mordaz modéstia ‘utilitária’ dos cientistas de
arquivo, que têm o futuro diante deles”.
Pêcheux (1982[1994])
85As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Logo, nos encontramos diante de uma nova divisão do
trabalho de leitura, uma verdadeira reorganização social
do trabalho intelectual, cujas consequências repercutirão
diretamente sobre a relação de nossa sociedade com sua própria
memória histórica”.
“A arrogânciae a condescendência
fóbicas dos ‘literatos’ ameaça isolá-los mais e
mais (cultural e politicamente) face à paciente e
mordaz modéstia ‘utilitária’ dos cientistas de
arquivo, que têm o futuro diante deles.
Pêcheux (1982[1994])
86As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
“…this vision of a common, interactive type of scholarship
and readership that democratically puts the reader in a box-seat
while also empowering the scholar to make and sign more
expert editions, doing much of the discovery work for us, is a
very attractive prospect. We should not fear the
barbarians entering the gates of the scholarly
city. They have usually got less arduous things to do anyway,
and even when they do decide to interfere (as in contentious
passages from books of the Bible whose wordings they object
to) or even if they are empowered to make their own editions,
my response is: Let them!”
Paul Eggert,
Text as Algorithm and as Process,
2010
epílogo...
87As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
8825/04/2019
Detalhe de relevo na tumba
de Johannes Trithemius.
Neumünster, Alemanha.
Artista desconhecido, 1516
8925/04/2019
Sem os escribas, a escrita não estaria garantida por muito tempo;
seria destruída pela sorte e corrompida pela passagem dos anos.
O livro impresso é apenas uma coisa de papel, e em pouco tempo se
desintegrará inteiramente. Mas o escriba que desenha
cuidadosamente as letras no pergaminho alonga a sua própria vida,
e a das letras, por séculos. Irmãos! Nenhum de nós deve pensar, ou
dizer, ‘Por que devo me cansar em escrever a mão, se a arte da
imprensa trouxe já tantos livros à luz, de modo que podemos reunir
uma grande biblioteca a tão baixo custo?’ De fato, quem quer que
diga isso está tentando apenas ocultar sua própria preguiça. Quem
não sabe quão grande é a distância entre um livro manuscrito e um
livro impresso? A escrita no pergaminho pode durar mil anos –
mas no papel, quanto durará? Será já um grande feito se um
volume de papel durar duzentos anos.
A posteridade julgará esta questão.
“
”Johannes Trithemius, De laude scriptorum manualium, 1492
9025/04/2019
Sem os escribas, a escrita não estaria garantida por muito tempo;
seria destruída pela sorte e corrompida pela passagem dos anos.
O livro impresso é apenas uma coisa de papel, e em pouco tempo se
desintegrará inteiramente. Mas o escriba que desenha
cuidadosamente as letras no pergaminho alonga a sua própria vida,
e a das letras, por séculos. Irmãos! Nenhum de nós deve pensar, ou
dizer, ‘Por que devo me cansar em escrever a mão, se a arte da
imprensa trouxe já tantos livros à luz, de modo que podemos reunir
uma grande biblioteca a tão baixo custo?’ De fato, quem quer que
diga isso está tentando apenas ocultar sua própria preguiça. Quem
não sabe quão grande é a distância entre um livro manuscrito e um
livro impresso? A escrita no pergaminho pode durar mil anos –
mas no papel, quanto durará? Será já um grande feito se um
volume de papel durar duzentos anos.
A posteridade julgará esta questão.
“
”Johannes Trithemius, De laude scriptorum manualium, 1492
91As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Trithemius, Johannes.
De laude scriptorum...
Mainz : Peter Friedberg; 1494.
Fac-simile digital da Univ. de
Heidelberg, https://digi.ub.uni-
heidelberg.de/diglit/it00442000
92As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Trithemius, Johannes.
De laude scriptorum...
Mainz : Peter Friedberg; 1494.
Fac-simile digital da Univ. de
Heidelberg, https://digi.ub.uni-
heidelberg.de/diglit/it00442000
9325/04/2019
Impressura em res papirea est: et breui tempore tota consumitur...
9425/04/2019
Obrigada!
9525/04/2019
Busa, Roberto. “Foreword: Perspectives on the Digital Humanities”. In Susan Schreibman, Ray Siemens, John Unsworth (eds.). A Companion to
Digital Humanities. Oxford: Blackwell, 2004. http://www.digitalhumanities.org/companion/
Chaudiron, S., Ihadjadene, M, Maredj, A. La fragmentation et l’unité documentaire em question. In: Actes de le Congés de la SFSIC, 16.
Compiègne, 2008.
Crane, Gregory (et al.). ePhilology: when the books talk to their readers. Blackwell Companion to Digital Literary Studies, R. Siemens; S.
Schreibman (eds). Oxford: Blackwell, 2008.
Crane, Gregory. Give us editors! Re-inventing the edition and re-thinking the humanities. In Online Humanities Scholarship: The Shape of Things
to Come, University of Virginia: Mellon Foundation, 2010-03. http://cnx.org/content/m34316/latest/
Derrida, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Trad. Claudia de Moraes Rego. Rio de Janeiro: Relume Dumará; 2001.
Emiliano, António. Tipo Medieval para Computador: uma ferramenta informática para linguistas, historiadores da língua e paleógrafos. In Signo.
Revista de Historia de la Cultura Escrita (Universidade de Alcalá de Henares), 15 (2005): 139 – 176 (anniversary issue of the journal), by invitation
of Professor Carlos Sáez. 2006.
Gradmann, Stefan; Meister, Jan Christoph. Digital document and interpretation: re-thinking‘‘text’’ and scholarship in electronic settings. Poiesis
Prax (2008) 5:139–153.
Khabsa M, Giles CL (2014) The Number of Scholarly Documents on the Public Web. PLoS ONE 9(5): e93949.
Kunder, Maurice. The size of the World Wide Web. [Internet]. http://www.worldwidewebsize.com. Acesso em: 01 mar. 2018.
Paixão de Sousa, Maria Clara. Texto digital: Uma perspectiva material. Revista ANPOLL (Associação Nacional de Pós–Graduação e Pesquisa em
Letras e Lingüística). Volume 1, Número 35, 2013.
Pêcheux, Michel. Ler o arquivo hoje. In: E. Orlandi et al. (Org.). Gestos de leitura: da história no discurso. Tradução: Bethânia S. C. Mariani, et. al.
Campinas (SP): Editora da Unicamp, 1994, p.55-66 (Coleção Repertórios).
Peckel, Joris. The State of Digitisation. [Internet]. Open Knowledge Foundation / DM2E, 2012. https://openglam.org/2012/08/03/the-state-of-
digitisation ; acesso em 12/12/2012.
Pédauque, Roger T. La redocumentarisation du monde. Toulouse: Cépaduès, 2007.
Trithemius, Johannes. De laude scriptorium […] Mainz : Peter Friedberg; 1494. Fac-simile digital da Univ. de Heidelberg, https://digi.ub.uni-
heidelberg.de/diglit/it00442000
Referências bibliográficas
96As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
cf. https://humanidadesdigitais.org/conferencia2019/
97As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019

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As Humanidades digitais e os oficios da memória

  • 1. 1As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
  • 2. 225/04/2019 Impressura em res papirea est: et breui tempore tota consumitur...
  • 3. As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória 325/04/2019
  • 4. Maria Clara Paixão de Sousa Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas Universidade de São Paulo Conferência ao Grupo de pesquisas Idade Média e Humanidades Digitais 16 de setembro, 2019 425/04/2019 As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória
  • 5. prólogo... 5As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
  • 6. As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória 625/04/2019
  • 9. 925/04/2019 Jacques Derrida, ‘Mal de Arquivo’, 1994[2001].
  • 10. 1025/04/2019 Arquivocomo operação de ordenação da memória, e que envolve o desejo de conservaçãoe o desejo de apagamento. Jacques Derrida, ‘Mal de Arquivo’, 1994.
  • 12. 1225/04/2019 Michel Pêcheux, 1982 Arquivocomo campo dos documentos pertinentes e disponíveis sobre qualquer questão - um ‘espaço das maneiras de ler’, construídas pelos aparelhos do poder ao gerar e ordenara memória coletiva das sociedades.
  • 13. 1325/04/2019 Michel Pêcheux, 1982 As diferentes maneiras de ler engendram uma ‘divisão do trabalho’; desde o início da idade moderna, ‘os intelectuais’ eram os responsáveis pela leitura e pela escritura do arquivo, detendo a primazia do ‘saber ler’e do ‘saber escrever’ a memória.
  • 14. ‘...nos encontramos diante de uma nova divisão do trabalho de leitura, uma verdadeira reorganização social do trabalho intelectual, cujas consequências repercutirão diretamente sobre a relação de nossa sociedade com sua própria memória histórica’ 1425/04/2019 Michel Pêcheux, 1982[1994]
  • 16. 16As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 https://humanidadesdigitais.org/breve-panorama/ cf. ‘Um breve panorama’, em
  • 17. 17As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Frequência de uso (‘N-gram’) do termo ‘Digital Humanities’ no acervo do Google Books, 1918-2018 https://books.google.com/ngrams
  • 18. 18As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Roberto Busa In: The Priest and the Punched-Card Machines: Father Roberto Busa and the Emergence of Humanities Computing http://priestandpunchedcards.tumblr.com
  • 19. 19As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Equipe de digitação do Corpus Thomisticum de Busa, 1949 http://www.corpusthomisticum.org
  • 20. 20As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 ‘During World War II, between 1941 and 1946, I began to look for machines for the automation of the linguistic analysis of written texts. I found them, in 1949, at IBM in New York City. Today, as an aged patriarch (born in 1913) I am full of amazement at the developments since then; they are enormously greater and better than I could then imagine. Digitus Dei est hic! The finger of God is here!’ Roberto Busa, Perspectives on the Digital Humanities , 2004.
  • 21. 21As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 ‘During World War II, between 1941 and 1946, I began to look for machines for the automation of the linguistic analysis of written texts. I found them, in 1949, at IBM in New York City. Today, as an aged patriarch (born in 1913) I am full of amazement at the developments since then; they are enormously greater and better than I could then imagine. Digitus Dei est hic! The finger of God is here!’ Roberto Busa, Perspectives on the Digital Humanities , 2004.
  • 22. 2225/04/2019 Isso é uma sequência de números
  • 23. 2325/04/2019 Isso é uma sequência de números
  • 24. 2425/04/2019 O texto ‘descorporificado’ ‘Texto digital: Uma perspectiva material’, 2013.
  • 25. 2525/04/2019 ‘Pois a difusão digital, pulverizandoo primado da autoridade sobre o objeto, desintegrou o portal regulador da circulação dos corpos. Nesse novo ambiente, o erudito pode construir novas esferas de circulação do saber; mas outros construirão outras esferas, em que circularão outros saberes. Assim, os estudiosos especializados da leitura e da construção do ‘arquivo’ (no sentido de Pecheux, 1994) podem passar a se ver acompanhados de novos leitores e construtores do arquivo. Pois o ‘saber escrever’ (aqui no sentido expandido, não de codificar a escrita, mas de escrever o arquivo, inscrevendo a memória) saiu das nossas mãos, mais radicalmente do que saíra das mãos dos escribas diligentes a serviço dos eruditos medievais para passar para as mãos (máquinas) dos fabricantes de livros. Saiu de nossas mãos, de todas as mãos, e de todas as máquinas: descorporificou-se’. (Paixão de Sousa, 2013) O texto ‘descorporificado’
  • 26. 2625/04/2019 ‘desconstrução’ da noção de documento (Gradmann e Meister, 2008) ‘fragmentação’ da unidade documental (Chaudiron et al., 2008) ‘redocumentarização do mundo’ (Pédauque, 2007) O texto ‘descorporificado’
  • 27. (em resumo...) 27As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
  • 28. 28As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 (...aqui estamos, ‘leitores’ e ‘escritores’ tradicionais do arquivo, observando sua transformação em dígitos ... )
  • 29. per gun tas 29As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 :
  • 30. 3025/04/2019 De que modo(s) a forma digital do arquivo interpela os ‘ofícios da memória’ 1 O que têm feito os ‘leitores do arquivo’ ?2 3Onde fica a saída ? ?
  • 31. 3125/04/2019 De que modo(s) a forma digital do arquivo interpela os ‘ofícios da memória’ 1 O que têm feito os tradicionais ‘leitores e escritores do arquivo’2 3Onde fica a saída ? ? ?
  • 32. 3225/04/2019 De que modo(s) a forma digital do arquivo interpela os ‘ofícios da memória’ 1 2 3Onde fica a saída ? O que têm feito os tradicionais ‘leitores e escritores do arquivo’ ? ?
  • 33. 3325/04/2019 1 Mas e agora, como faz ?2 3Não dava pra voltar? De que modo(s) a forma digital do arquivo interpela os ‘ofícios da memória’ ?
  • 35. 3525/04/2019 4.240.000.000 quatro bilhões e duzentos e quarenta milhões de páginas-web (Kunder, 2018)
  • 36. 3625/04/2019 114.000.000cento e quatorze milhões de artigos acadêmicos (em inglês) (Khabsa, 2014)
  • 37. 3725/04/2019 23.000.000 (Peckel, 2012) vinte e três milhões de documentos digitalizados em arquivos históricos institucionais, na Europa, até 2012...
  • 38. 218.368 3825/04/2019 duzentos e dezoito mil, trezentos e sessenta e oito documentos digitalizados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo
  • 40. está lendo e escrevendo o Arquivo 4025/04/2019 Quem ? ...ou: ( )
  • 41. ... em seu sentido mais técnico, ou seja, como instância de conservaçãoda memória está lendo e escrevendo o Arquivo 4125/04/2019 Quem ? ...ou: ( )
  • 42. está lendo e escrevendo o Arquivo 4225/04/2019 Quem ? ...ou: ... e em seu sentido discursivo, ou seja, como ordenação daquilo que merece a memória ( )
  • 43. 4325/04/2019 De que modo as tecnologias digitais interpelam os ‘ofícios da memória’?1 2 3Não dava pra voltar? O que têm feito os tradicionais ‘leitores e escritores do arquivo’ ?
  • 44. visões e sonhos no arquivo digital: Reunir 4425/04/2019 &
  • 45. visões e sonhos no arquivo digital: Reunir 4525/04/2019 &
  • 46. uma experiência em andamento no nosso grupo de pesquisas 4625/04/2019
  • 48. M.A.P 4825/04/2019 (Mulheres na América Portuguesa) Mapeamento de escritos de mulheres e sobre mulheres no espaço atlântico português a partir de métodos das Humanidades Digitais CNPq (2019-2023)
  • 50. 5025/04/2019 Arquivo Sigla Número de documentos catalogados Arquivo Público do Estado de São Paulo APESP 69 (*) Arquivo Nacional da Torre do Tombo ANTT 37 Arquivo Público Mineiro APM 8 Arquivo Público de Mato Grosso APMT 1 Arquivo da Câmara Municipal de Jundiaí CMJ 12 Fundação Biblioteca Nacional BNRJ 2 Arquivo da Cúria Metropolitana ACM 1 130 (*) Documentos ainda não disponíveis no Catálogo online Arquivos prospectados no Projeto por meio de consulta remota a repositórios digitais
  • 51. 5125/04/2019 Arquivos em prospecção no projeto M.A.P Cf. Google Maps
  • 52. 52As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Formas de acesso ao M.A.P.
  • 53. 53As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Formas de acesso ao M.A.P.
  • 54. 54As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Formas de acesso ao M.A.P.
  • 55. 55As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Formas de acesso ao M.A.P.
  • 56. 56As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória 16/09/2019 Formas de acesso ao M.A.P.
  • 57. 57As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Código XML básico do M.A.P.
  • 58. 58As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
  • 59. 59As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 (visões e sonhos...)
  • 60. 6025/04/2019 visões e sonhos no arquivo digital: Ler dar a ler &
  • 61. 6125/04/2019 “We need editors — lots of them. We have before us a new model of intellectual life in general and especially within the humanities. We have valued scholarship that is difficult to produce and almost as difficult to understand. (…) We have vast amounts of work before us… We need to edit the entire record of humanity. Brute digitization provides physical access to digital representations that are qualitatively more useful than anything possible in print — print publication constitutes only a small dimensional reduction of the space in which we now move. At least as important, we have at our disposal a growing set of analytical tools that can make these sources intellectually as well as physically accessible.” Gregory Crane. Give us editors! Re-inventing the edition and re- thinking the humanities, 2010.
  • 63. algumas experiências no campo dos estudos medievais 6325/04/2019
  • 64. 64As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 “As tecnologias da informação põem hoje à disposição dos filólogos variadíssimos recursos (aplicações, utilitários, redes, suportes para armazenamento de grandes quantidades de texto) para editar, processar e analisartextos medievais. A representação tipográfica de textos medievais é uma das áreas que sofreu grandes avanços nas últimas décadas, com o desenvolvimento da tecnologia tipográfica digital, com o estabelecimento de diversas normas internacionais para representação de caracteres de escrita, e com o surgimento e desenvolvimento de aplicações de linguagens de anotação (‘markup languages’). Estes desenvolvimentos e avanços interpelam decisivamente os filólogos portugueses, que são obrigados a repensar os procedimentos e estratégias editoriais praticados até o advento e generalização do computador pessoal: não é possível continuar a pensar as edições como objectos fechados e fixados imutavelmente na página impressa em papel, ou como simples transposições dos textos medievais para o suporte impresso através da utilização do escasso número de caracteres contido na versão moderna do alfabeto romano”. António Emiliano, Tipo Medieval para Computador: uma ferramenta informática para linguistas, historiadores da língua e paleógrafos, 2005.
  • 65. 65As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Album interactif de paléographie médiévale | http://paleographie.huma-num.fr
  • 66. 66As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 DigiPal |http://www.digipal.eu
  • 67. 67As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Medieval Handwritting App | https://itunes.apple.com/us/app/medieval-handwriting
  • 68. 68As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Eletronic Beowulf |https://ebeowulf.uky.edu
  • 69. 69As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Eletronic Beowulf |https://ebeowulf.uky.edu
  • 70. visões e sonhos no arquivo digital...: Reunir 7025/04/2019 &
  • 72. 72As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Fluxo de dados na internet Chris Harrison, Internet Map – City to city connections || http://chrisharrison.net/index.php/Visualizations/InternetMap
  • 73. 73As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Marin Dacos, La stratégie du Sauna finlandais, 2013.
  • 74. 74As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Quantifying Digital Humanities – Investment in Digital Humanities | Terras (2011) | http://www.ucl.ac.uk/infostudie s/melissa- terras/DigitalHumanitiesInfogr aphic.pdf
  • 75. 75As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 National Endowment for the Humanities, EUA, 2007-2011 (250 projetos): U$ 15.268.130 (R$59.290.729) Joint Information Systems Commitee, RU, 2008-2011: £966.691 (R$4.816.802) Arts and Humanities Research Council, RU, 2008-2011 (330 projetos): £121.500 (R$605.637) Andrew W. Mellon Foundation, EUA, 2010: U$30.870.667 (R$119.880.061) Recursos aplicados nas ‘Digital Humanities’ (Terras, 2111)
  • 76. 76As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Total das quatro agências, 2007-2011: R$ 184.593.229 Recursos aplicados nas ‘Digital Humanities’ (Terras, 2111)
  • 77. 7725/04/2019 De que modo as tecnologias digitais interpelam os ‘ofícios da memória’?1 Mas e agora, como faz ?2 3 ?Onde fica a saída
  • 78. 7825/04/2019 ... ainda bem que a gente não tem nada a ver com isso ! ou...
  • 79. 79As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 “Combinado ao problema linguístico, o problema da exclusão digital coloca o desafio das “Humanidades Digitais Globais” em uma perspectiva ainda mais desafiadora. Se de um lado acreditarmos que, no futuro próximo, toda institucionalidade, toda prática, toda heurística das humanidades estará modificada pelo digital, veremos a gravidade das consequências da exclusão digital neste debate. Nesse cenário, a manutenção da situação de desigualdade nas formas de acesso à rede não significaria apenas que alguns pesquisadores e algumas partes do mundo, por ficarem fora “do digital”, correm o risco de não poder participar da comunidade das “Humanidades Digitais”. Efetivamente, se acreditarmos que no futuro próximo todas as humanidades serão digitais, os pesquisadores nesses pontos do globo correm o risco de não poder participar da comunidade das Humanidades– ponto final. Como humanistas, temos a obrigação ética de cuidar desse problema”. As ‘Humanidades Digitais Globais’? | Ciclo de conferências, 2015 | https://humanidadesdigitais.org/hd2015
  • 80. 80As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 “Digital technology is hardly new in classics: there are full professors today who have always searched large bodies of Greek and Latin, composed their ideas in an electronic form, found secondary sources online and opportunistically exploitedwhatever digital tools served their purposes Nevertheless, the inertiaof prior practice has preserved intact the forms that evolved to exploit the strengths and minimize the weaknesses of print culture: we create documents that slavishly mimictheir print predecessors; we send these documents to the same kinds of journals and publishers; our reference Works and editions have already begun to drift out of date before they are published and stagnatethereafter; even when new, our publications are static and cannot adapt themselves to the needs of their varying users; while a growing, global audience could now find the results of our work, we embed our ideas in specialized language and behind subscription barriers which perpetuate into the twenty-first century the miniscule audiences of the twentieth”. Gregory Crane (et al.), ePhilology: When the Books Talk to Their Readers, 2008.
  • 81. “...nos encontramos diante de uma nova divisão do trabalho de leitura, uma verdadeira reorganização social do trabalho intelectual, cujas consequências repercutirão diretamente sobre a relação de nossa sociedade com sua própria memória histórica” 8125/04/2019 Pêcheux (1982[1994]) (lembrando...)
  • 82. 82As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 “Feita esta evocação, em consideração ao legítimo ponto de honra do ‘científico’ (repugnando a idéia de ser brutalmente comparado a um burocrata!), cabe constatar que a formação na dominante ‘literária’ dos especialistas da leitura de arquivo forneceu muitas vezes pretexto aos ‘cientistas’ para expandir um pouco mais o fosso de incompreensão que os separa. E há fortes razões que nos levam a pensar que, no contexto da Europa da década de 1980, a tradição dos grandes praticantes do arquivo vai se encontrar numa posição cada vez mais delicada, face à proliferação previsível dos ‘métodos de tratamentos de textos’ induzidos pela desordem informática que se prepara em nossas sociedades. A arrogância e a condescendência fóbicas dos ‘literatos’ ameaça isolá-los mais e mais (cultural e politicamente) face à paciente e mordaz modéstia ‘utilitária’ dos cientistas de arquivo, que têm o futuro diante deles. Logo, nos encontramos diante de uma nova divisão do trabalho de leitura, uma verdadeira reorganização social do trabalho intelectual, cujas consequências repercutirão diretamente sobre a relação de nossa sociedade com sua própria memória histórica. No cerne da questão: a ambigüidade fundamental da palavra de ordem mais que centenária ‘aprender a ler e a escrever’, que visa ao mesmo tempo a apreensão de um sentido unívoco inscrito nas regras escolares de uma assepsia do pensamento (as famosas ‘leis’ semântico- pragmáticas da comunicação) e o trabalho sobre a plurivocidade do sentido como condição mesma de um desenvolvimento interpretativo do pensamento. Atualmente, esta ambiguidade está diretamente associada àquela que diz respeito à informática”. Pêcheux (1982[1994])
  • 83. 83As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 “Feita esta evocação, em consideração ao legítimo ponto de honra do ‘científico’ (repugnando a idéia de ser brutalmente comparado a um burocrata!), cabe constatar que a formação na dominante ‘literária’ dos especialistas da leitura de arquivo forneceu muitas vezes pretexto aos ‘cientistas’ para expandir um pouco mais o fosso de incompreensão que os separa. E há fortes razões que nos levam a pensar que, no contexto da Europa da década de 1980, a tradição dos grandes praticantes do arquivo vai se encontrar numa posição cada vez mais delicada, face à proliferação previsível dos ‘métodos de tratamentos de textos’ induzidos pela desordem informática que se prepara em nossas sociedades....”. Pêcheux (1982[1994])
  • 84. 84As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 “A arrogânciae a condescendência fóbicas dos ‘literatos’ ameaça isolá-los mais e mais (cultural e politicamente) face à paciente e mordaz modéstia ‘utilitária’ dos cientistas de arquivo, que têm o futuro diante deles”. Pêcheux (1982[1994])
  • 85. 85As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Logo, nos encontramos diante de uma nova divisão do trabalho de leitura, uma verdadeira reorganização social do trabalho intelectual, cujas consequências repercutirão diretamente sobre a relação de nossa sociedade com sua própria memória histórica”. “A arrogânciae a condescendência fóbicas dos ‘literatos’ ameaça isolá-los mais e mais (cultural e politicamente) face à paciente e mordaz modéstia ‘utilitária’ dos cientistas de arquivo, que têm o futuro diante deles. Pêcheux (1982[1994])
  • 86. 86As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 “…this vision of a common, interactive type of scholarship and readership that democratically puts the reader in a box-seat while also empowering the scholar to make and sign more expert editions, doing much of the discovery work for us, is a very attractive prospect. We should not fear the barbarians entering the gates of the scholarly city. They have usually got less arduous things to do anyway, and even when they do decide to interfere (as in contentious passages from books of the Bible whose wordings they object to) or even if they are empowered to make their own editions, my response is: Let them!” Paul Eggert, Text as Algorithm and as Process, 2010
  • 87. epílogo... 87As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
  • 88. 8825/04/2019 Detalhe de relevo na tumba de Johannes Trithemius. Neumünster, Alemanha. Artista desconhecido, 1516
  • 89. 8925/04/2019 Sem os escribas, a escrita não estaria garantida por muito tempo; seria destruída pela sorte e corrompida pela passagem dos anos. O livro impresso é apenas uma coisa de papel, e em pouco tempo se desintegrará inteiramente. Mas o escriba que desenha cuidadosamente as letras no pergaminho alonga a sua própria vida, e a das letras, por séculos. Irmãos! Nenhum de nós deve pensar, ou dizer, ‘Por que devo me cansar em escrever a mão, se a arte da imprensa trouxe já tantos livros à luz, de modo que podemos reunir uma grande biblioteca a tão baixo custo?’ De fato, quem quer que diga isso está tentando apenas ocultar sua própria preguiça. Quem não sabe quão grande é a distância entre um livro manuscrito e um livro impresso? A escrita no pergaminho pode durar mil anos – mas no papel, quanto durará? Será já um grande feito se um volume de papel durar duzentos anos. A posteridade julgará esta questão. “ ”Johannes Trithemius, De laude scriptorum manualium, 1492
  • 90. 9025/04/2019 Sem os escribas, a escrita não estaria garantida por muito tempo; seria destruída pela sorte e corrompida pela passagem dos anos. O livro impresso é apenas uma coisa de papel, e em pouco tempo se desintegrará inteiramente. Mas o escriba que desenha cuidadosamente as letras no pergaminho alonga a sua própria vida, e a das letras, por séculos. Irmãos! Nenhum de nós deve pensar, ou dizer, ‘Por que devo me cansar em escrever a mão, se a arte da imprensa trouxe já tantos livros à luz, de modo que podemos reunir uma grande biblioteca a tão baixo custo?’ De fato, quem quer que diga isso está tentando apenas ocultar sua própria preguiça. Quem não sabe quão grande é a distância entre um livro manuscrito e um livro impresso? A escrita no pergaminho pode durar mil anos – mas no papel, quanto durará? Será já um grande feito se um volume de papel durar duzentos anos. A posteridade julgará esta questão. “ ”Johannes Trithemius, De laude scriptorum manualium, 1492
  • 91. 91As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Trithemius, Johannes. De laude scriptorum... Mainz : Peter Friedberg; 1494. Fac-simile digital da Univ. de Heidelberg, https://digi.ub.uni- heidelberg.de/diglit/it00442000
  • 92. 92As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 Trithemius, Johannes. De laude scriptorum... Mainz : Peter Friedberg; 1494. Fac-simile digital da Univ. de Heidelberg, https://digi.ub.uni- heidelberg.de/diglit/it00442000
  • 93. 9325/04/2019 Impressura em res papirea est: et breui tempore tota consumitur...
  • 95. 9525/04/2019 Busa, Roberto. “Foreword: Perspectives on the Digital Humanities”. In Susan Schreibman, Ray Siemens, John Unsworth (eds.). A Companion to Digital Humanities. Oxford: Blackwell, 2004. http://www.digitalhumanities.org/companion/ Chaudiron, S., Ihadjadene, M, Maredj, A. La fragmentation et l’unité documentaire em question. In: Actes de le Congés de la SFSIC, 16. Compiègne, 2008. Crane, Gregory (et al.). ePhilology: when the books talk to their readers. Blackwell Companion to Digital Literary Studies, R. Siemens; S. Schreibman (eds). Oxford: Blackwell, 2008. Crane, Gregory. Give us editors! Re-inventing the edition and re-thinking the humanities. In Online Humanities Scholarship: The Shape of Things to Come, University of Virginia: Mellon Foundation, 2010-03. http://cnx.org/content/m34316/latest/ Derrida, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Trad. Claudia de Moraes Rego. Rio de Janeiro: Relume Dumará; 2001. Emiliano, António. Tipo Medieval para Computador: uma ferramenta informática para linguistas, historiadores da língua e paleógrafos. In Signo. Revista de Historia de la Cultura Escrita (Universidade de Alcalá de Henares), 15 (2005): 139 – 176 (anniversary issue of the journal), by invitation of Professor Carlos Sáez. 2006. Gradmann, Stefan; Meister, Jan Christoph. Digital document and interpretation: re-thinking‘‘text’’ and scholarship in electronic settings. Poiesis Prax (2008) 5:139–153. Khabsa M, Giles CL (2014) The Number of Scholarly Documents on the Public Web. PLoS ONE 9(5): e93949. Kunder, Maurice. The size of the World Wide Web. [Internet]. http://www.worldwidewebsize.com. Acesso em: 01 mar. 2018. Paixão de Sousa, Maria Clara. Texto digital: Uma perspectiva material. Revista ANPOLL (Associação Nacional de Pós–Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística). Volume 1, Número 35, 2013. Pêcheux, Michel. Ler o arquivo hoje. In: E. Orlandi et al. (Org.). Gestos de leitura: da história no discurso. Tradução: Bethânia S. C. Mariani, et. al. Campinas (SP): Editora da Unicamp, 1994, p.55-66 (Coleção Repertórios). Peckel, Joris. The State of Digitisation. [Internet]. Open Knowledge Foundation / DM2E, 2012. https://openglam.org/2012/08/03/the-state-of- digitisation ; acesso em 12/12/2012. Pédauque, Roger T. La redocumentarisation du monde. Toulouse: Cépaduès, 2007. Trithemius, Johannes. De laude scriptorium […] Mainz : Peter Friedberg; 1494. Fac-simile digital da Univ. de Heidelberg, https://digi.ub.uni- heidelberg.de/diglit/it00442000 Referências bibliográficas
  • 96. 96As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019 cf. https://humanidadesdigitais.org/conferencia2019/
  • 97. 97As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019