As Humanidades digitais e os oficios da memória. Conferência ao Grupo de pesquisas Idade Média e Humanidades Digitais. Maria Clara Paixão de Sousa, 16 de setembro de 2019.
4. Maria Clara Paixão de Sousa
Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas
Universidade de São Paulo
Conferência ao Grupo de pesquisas Idade Média e Humanidades Digitais
16 de setembro, 2019
425/04/2019
As ‘Humanidades Digitais’
e os ofícios
da memória
12. 1225/04/2019
Michel Pêcheux,
1982
Arquivocomo
campo dos documentos pertinentes
e disponíveis sobre qualquer questão - um
‘espaço das maneiras de ler’,
construídas pelos aparelhos do poder ao
gerar e ordenara memória
coletiva das sociedades.
13. 1325/04/2019
Michel Pêcheux,
1982
As diferentes maneiras de ler
engendram uma ‘divisão do trabalho’;
desde o início da idade moderna, ‘os
intelectuais’ eram os responsáveis
pela leitura e pela escritura do arquivo,
detendo a primazia do ‘saber ler’e
do ‘saber escrever’ a memória.
14. ‘...nos encontramos diante de
uma nova divisão do trabalho de leitura,
uma verdadeira reorganização social
do trabalho intelectual,
cujas consequências repercutirão diretamente sobre
a relação de nossa sociedade
com sua própria memória histórica’
1425/04/2019
Michel Pêcheux,
1982[1994]
16. 16As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
https://humanidadesdigitais.org/breve-panorama/
cf. ‘Um breve panorama’, em
17. 17As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Frequência de uso (‘N-gram’)
do termo ‘Digital Humanities’
no acervo do Google Books, 1918-2018
https://books.google.com/ngrams
18. 18As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Roberto Busa
In: The Priest and the Punched-Card
Machines: Father Roberto Busa and the
Emergence of Humanities Computing
http://priestandpunchedcards.tumblr.com
19. 19As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Equipe de digitação do Corpus Thomisticum de Busa, 1949
http://www.corpusthomisticum.org
20. 20As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
‘During World War II, between 1941
and 1946, I began to look for machines
for the automation of the linguistic
analysis of written texts. I found them,
in 1949, at IBM in New York City.
Today, as an aged patriarch (born in
1913) I am full of amazement at the
developments since then; they are
enormously greater and better than I
could then imagine.
Digitus Dei est hic!
The finger of God is here!’
Roberto Busa, Perspectives on the Digital
Humanities , 2004.
21. 21As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
‘During World War II, between 1941
and 1946, I began to look for machines
for the automation of the linguistic
analysis of written texts. I found them,
in 1949, at IBM in New York City.
Today, as an aged patriarch (born in
1913) I am full of amazement at the
developments since then; they are
enormously greater and better than I
could then imagine.
Digitus Dei est hic!
The finger of God is here!’
Roberto Busa, Perspectives on the Digital
Humanities , 2004.
25. 2525/04/2019
‘Pois a difusão digital, pulverizandoo primado da autoridade sobre o objeto,
desintegrou o portal regulador da circulação dos corpos.
Nesse novo ambiente, o erudito pode construir novas esferas de circulação do saber;
mas outros construirão outras esferas, em que circularão outros saberes.
Assim, os estudiosos especializados da leitura e da construção do ‘arquivo’
(no sentido de Pecheux, 1994) podem passar a se ver acompanhados de novos leitores
e construtores do arquivo. Pois o ‘saber escrever’ (aqui no sentido expandido, não de
codificar a escrita, mas de escrever o arquivo, inscrevendo a memória) saiu das nossas
mãos, mais radicalmente do que saíra das mãos dos escribas diligentes a serviço dos
eruditos medievais para passar para as mãos (máquinas) dos fabricantes de livros.
Saiu de nossas mãos, de todas as mãos, e de todas as máquinas:
descorporificou-se’. (Paixão de Sousa, 2013)
O texto ‘descorporificado’
26. 2625/04/2019
‘desconstrução’
da noção de documento
(Gradmann e Meister, 2008)
‘fragmentação’
da unidade documental
(Chaudiron et al., 2008)
‘redocumentarização do mundo’
(Pédauque, 2007)
O texto ‘descorporificado’
28. 28As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
(...aqui estamos,
‘leitores’ e ‘escritores’
tradicionais do arquivo,
observando sua
transformação em
dígitos ... )
30. 3025/04/2019
De que modo(s) a forma digital do arquivo
interpela os ‘ofícios da memória’
1
O que têm feito os ‘leitores do arquivo’ ?2
3Onde fica a saída ?
?
31. 3125/04/2019
De que modo(s) a forma digital do arquivo
interpela os ‘ofícios da memória’
1
O que têm feito os tradicionais
‘leitores e escritores do arquivo’2
3Onde fica a saída ?
?
?
32. 3225/04/2019
De que modo(s) a forma digital do arquivo
interpela os ‘ofícios da memória’
1
2
3Onde fica a saída ?
O que têm feito os tradicionais
‘leitores e escritores do arquivo’ ?
?
33. 3325/04/2019
1
Mas e agora, como faz ?2
3Não dava pra voltar?
De que modo(s) a forma digital do arquivo
interpela os ‘ofícios da memória’ ?
40. está lendo e escrevendo
o Arquivo
4025/04/2019
Quem
?
...ou:
( )
41. ... em seu sentido mais técnico,
ou seja, como instância de conservaçãoda memória
está lendo e escrevendo
o Arquivo
4125/04/2019
Quem
?
...ou:
( )
42. está lendo e escrevendo
o Arquivo
4225/04/2019
Quem
?
...ou:
... e em seu sentido discursivo,
ou seja, como ordenação daquilo que merece a memória
( )
43. 4325/04/2019
De que modo as tecnologias digitais
interpelam os ‘ofícios da memória’?1
2
3Não dava pra voltar?
O que têm feito os tradicionais
‘leitores e escritores do arquivo’
?
48. M.A.P
4825/04/2019
(Mulheres na América Portuguesa)
Mapeamento de escritos de mulheres e sobre mulheres
no espaço atlântico português a partir de métodos das
Humanidades Digitais
CNPq (2019-2023)
50. 5025/04/2019
Arquivo Sigla
Número de
documentos
catalogados
Arquivo Público do Estado de São Paulo APESP 69 (*)
Arquivo Nacional da Torre do Tombo ANTT 37
Arquivo Público Mineiro APM 8
Arquivo Público de Mato Grosso APMT 1
Arquivo da Câmara Municipal de Jundiaí CMJ 12
Fundação Biblioteca Nacional BNRJ 2
Arquivo da Cúria Metropolitana ACM 1
130
(*) Documentos ainda não disponíveis no Catálogo online
Arquivos prospectados no Projeto
por meio de consulta remota a repositórios digitais
61. 6125/04/2019
“We need editors — lots of them. We have
before us a new model of intellectual life in general and especially within the
humanities. We have valued scholarship that is difficult to produce and almost
as difficult to understand. (…) We have vast amounts of work before us…
We need to edit the entire record of humanity.
Brute digitization provides physical access to digital representations that are
qualitatively more useful than anything possible in print — print publication
constitutes only a small dimensional reduction of the space in which we now
move. At least as important, we have at our disposal a growing set of analytical
tools that can make these sources intellectually
as well as physically accessible.”
Gregory Crane. Give us editors!
Re-inventing the edition and re-
thinking the humanities, 2010.
64. 64As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
“As tecnologias da informação põem hoje à disposição dos filólogos variadíssimos
recursos (aplicações, utilitários, redes, suportes para armazenamento de grandes
quantidades de texto) para editar, processar e analisartextos medievais. A
representação tipográfica de textos medievais é uma das áreas que sofreu grandes
avanços nas últimas décadas, com o desenvolvimento da tecnologia tipográfica
digital, com o estabelecimento de diversas normas internacionais para representação
de caracteres de escrita, e com o surgimento e desenvolvimento de aplicações de
linguagens de anotação (‘markup languages’). Estes desenvolvimentos e avanços
interpelam decisivamente os filólogos portugueses,
que são obrigados a repensar os procedimentos e estratégias editoriais praticados até o
advento e generalização do computador pessoal: não é possível continuar
a pensar as edições como objectos fechados e fixados
imutavelmente na página impressa em papel, ou como
simples transposições dos textos medievais para o suporte impresso através da utilização
do escasso número de caracteres contido na versão moderna do alfabeto romano”.
António Emiliano, Tipo Medieval para Computador:
uma ferramenta informática para linguistas,
historiadores da língua e paleógrafos, 2005.
65. 65As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Album interactif de paléographie médiévale | http://paleographie.huma-num.fr
72. 72As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Fluxo de dados na internet
Chris Harrison, Internet Map – City to city connections ||
http://chrisharrison.net/index.php/Visualizations/InternetMap
73. 73As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Marin Dacos,
La stratégie du Sauna finlandais,
2013.
74. 74As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Quantifying Digital
Humanities – Investment in
Digital Humanities
| Terras (2011)
| http://www.ucl.ac.uk/infostudie
s/melissa-
terras/DigitalHumanitiesInfogr
aphic.pdf
75. 75As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
National Endowment for the Humanities,
EUA, 2007-2011 (250 projetos):
U$ 15.268.130 (R$59.290.729)
Joint Information Systems Commitee,
RU, 2008-2011:
£966.691 (R$4.816.802)
Arts and Humanities Research Council,
RU, 2008-2011 (330 projetos):
£121.500 (R$605.637)
Andrew W. Mellon Foundation,
EUA, 2010:
U$30.870.667 (R$119.880.061)
Recursos aplicados nas ‘Digital Humanities’
(Terras, 2111)
76. 76As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Total das quatro agências,
2007-2011:
R$
184.593.229
Recursos aplicados nas ‘Digital Humanities’
(Terras, 2111)
77. 7725/04/2019
De que modo as tecnologias digitais
interpelam os ‘ofícios da memória’?1
Mas e agora, como faz ?2
3 ?Onde fica a saída
79. 79As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
“Combinado ao problema linguístico, o problema da exclusão digital
coloca o desafio das “Humanidades Digitais Globais” em uma
perspectiva ainda mais desafiadora. Se de um lado acreditarmos que, no
futuro próximo, toda institucionalidade, toda prática, toda
heurística das humanidades estará modificada pelo digital,
veremos a gravidade das consequências da exclusão digital neste debate.
Nesse cenário, a manutenção da situação de desigualdade nas formas de
acesso à rede não significaria apenas que alguns pesquisadores e algumas
partes do mundo, por ficarem fora “do digital”, correm o risco de não
poder participar da comunidade das “Humanidades Digitais”.
Efetivamente, se acreditarmos que no futuro próximo
todas as humanidades serão digitais,
os pesquisadores nesses pontos do globo correm o risco de não poder
participar da comunidade das Humanidades– ponto final.
Como humanistas, temos a obrigação ética de cuidar desse problema”.
As ‘Humanidades Digitais Globais’? | Ciclo de conferências, 2015
| https://humanidadesdigitais.org/hd2015
80. 80As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
“Digital technology is hardly new in classics: there are full professors today who
have always searched large bodies of Greek and Latin, composed their ideas in an
electronic form, found secondary sources online and opportunistically
exploitedwhatever digital tools served their purposes Nevertheless, the
inertiaof prior practice has preserved intact the forms that evolved to exploit the
strengths and minimize the weaknesses of print culture: we create documents that
slavishly mimictheir print predecessors; we send these documents to the same
kinds of journals and publishers; our reference Works and editions have already
begun to drift out of date before they are published and stagnatethereafter;
even when new, our publications are static and cannot adapt themselves to
the needs of their varying users; while a growing, global audience could now find
the results of our work, we embed our ideas in specialized language and behind
subscription barriers which perpetuate into the twenty-first century
the miniscule audiences of the twentieth”.
Gregory Crane (et al.),
ePhilology: When the Books Talk to Their Readers,
2008.
81. “...nos encontramos diante de
uma nova divisão do trabalho de leitura,
uma verdadeira reorganização social
do trabalho intelectual,
cujas consequências repercutirão diretamente sobre
a relação de nossa sociedade
com sua própria memória histórica”
8125/04/2019
Pêcheux (1982[1994])
(lembrando...)
82. 82As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
“Feita esta evocação, em consideração ao legítimo ponto de honra do ‘científico’
(repugnando a idéia de ser brutalmente comparado a um burocrata!), cabe constatar que a
formação na dominante ‘literária’ dos especialistas da leitura de arquivo forneceu muitas
vezes pretexto aos ‘cientistas’ para expandir um pouco mais o fosso de incompreensão que os
separa. E há fortes razões que nos levam a pensar que, no contexto da Europa da década de
1980, a tradição dos grandes praticantes do arquivo vai se encontrar numa posição cada vez
mais delicada, face à proliferação previsível dos ‘métodos de tratamentos de textos’ induzidos
pela desordem informática que se prepara em nossas sociedades. A arrogância e a
condescendência fóbicas dos ‘literatos’ ameaça isolá-los mais e mais (cultural e
politicamente) face à paciente e mordaz modéstia ‘utilitária’ dos cientistas de arquivo, que
têm o futuro diante deles.
Logo, nos encontramos diante de uma nova divisão do trabalho de leitura, uma verdadeira
reorganização social do trabalho intelectual, cujas consequências repercutirão diretamente
sobre a relação de nossa sociedade com sua própria memória histórica.
No cerne da questão: a ambigüidade fundamental da palavra de ordem mais que centenária
‘aprender a ler e a escrever’, que visa ao mesmo tempo a apreensão de um sentido unívoco
inscrito nas regras escolares de uma assepsia do pensamento (as famosas ‘leis’ semântico-
pragmáticas da comunicação) e o trabalho sobre a plurivocidade do sentido como condição
mesma de um desenvolvimento interpretativo do pensamento.
Atualmente, esta ambiguidade está diretamente associada àquela que diz respeito à
informática”.
Pêcheux (1982[1994])
83. 83As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
“Feita esta evocação, em consideração ao legítimo ponto de honra
do ‘científico’ (repugnando a idéia de ser brutalmente comparado
a um burocrata!), cabe constatar que a formação na
dominante ‘literária’ dos especialistas da leitura de
arquivo forneceu muitas vezes pretexto aos ‘cientistas’ para
expandir um pouco mais o fosso de incompreensão que os separa.
E há fortes razões que nos levam a pensar que, no contexto da
Europa da década de 1980, a tradição dos grandes praticantes do
arquivo vai se encontrar numa posição cada vez mais delicada,
face à proliferação previsível dos ‘métodos de tratamentos de
textos’ induzidos pela desordem informática que se
prepara em nossas sociedades....”.
Pêcheux (1982[1994])
84. 84As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
“A arrogânciae a condescendência
fóbicas dos ‘literatos’ ameaça isolá-los mais e
mais (cultural e politicamente) face à paciente e
mordaz modéstia ‘utilitária’ dos cientistas de
arquivo, que têm o futuro diante deles”.
Pêcheux (1982[1994])
85. 85As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Logo, nos encontramos diante de uma nova divisão do
trabalho de leitura, uma verdadeira reorganização social
do trabalho intelectual, cujas consequências repercutirão
diretamente sobre a relação de nossa sociedade com sua própria
memória histórica”.
“A arrogânciae a condescendência
fóbicas dos ‘literatos’ ameaça isolá-los mais e
mais (cultural e politicamente) face à paciente e
mordaz modéstia ‘utilitária’ dos cientistas de
arquivo, que têm o futuro diante deles.
Pêcheux (1982[1994])
86. 86As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
“…this vision of a common, interactive type of scholarship
and readership that democratically puts the reader in a box-seat
while also empowering the scholar to make and sign more
expert editions, doing much of the discovery work for us, is a
very attractive prospect. We should not fear the
barbarians entering the gates of the scholarly
city. They have usually got less arduous things to do anyway,
and even when they do decide to interfere (as in contentious
passages from books of the Bible whose wordings they object
to) or even if they are empowered to make their own editions,
my response is: Let them!”
Paul Eggert,
Text as Algorithm and as Process,
2010
89. 8925/04/2019
Sem os escribas, a escrita não estaria garantida por muito tempo;
seria destruída pela sorte e corrompida pela passagem dos anos.
O livro impresso é apenas uma coisa de papel, e em pouco tempo se
desintegrará inteiramente. Mas o escriba que desenha
cuidadosamente as letras no pergaminho alonga a sua própria vida,
e a das letras, por séculos. Irmãos! Nenhum de nós deve pensar, ou
dizer, ‘Por que devo me cansar em escrever a mão, se a arte da
imprensa trouxe já tantos livros à luz, de modo que podemos reunir
uma grande biblioteca a tão baixo custo?’ De fato, quem quer que
diga isso está tentando apenas ocultar sua própria preguiça. Quem
não sabe quão grande é a distância entre um livro manuscrito e um
livro impresso? A escrita no pergaminho pode durar mil anos –
mas no papel, quanto durará? Será já um grande feito se um
volume de papel durar duzentos anos.
A posteridade julgará esta questão.
“
”Johannes Trithemius, De laude scriptorum manualium, 1492
90. 9025/04/2019
Sem os escribas, a escrita não estaria garantida por muito tempo;
seria destruída pela sorte e corrompida pela passagem dos anos.
O livro impresso é apenas uma coisa de papel, e em pouco tempo se
desintegrará inteiramente. Mas o escriba que desenha
cuidadosamente as letras no pergaminho alonga a sua própria vida,
e a das letras, por séculos. Irmãos! Nenhum de nós deve pensar, ou
dizer, ‘Por que devo me cansar em escrever a mão, se a arte da
imprensa trouxe já tantos livros à luz, de modo que podemos reunir
uma grande biblioteca a tão baixo custo?’ De fato, quem quer que
diga isso está tentando apenas ocultar sua própria preguiça. Quem
não sabe quão grande é a distância entre um livro manuscrito e um
livro impresso? A escrita no pergaminho pode durar mil anos –
mas no papel, quanto durará? Será já um grande feito se um
volume de papel durar duzentos anos.
A posteridade julgará esta questão.
“
”Johannes Trithemius, De laude scriptorum manualium, 1492
91. 91As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Trithemius, Johannes.
De laude scriptorum...
Mainz : Peter Friedberg; 1494.
Fac-simile digital da Univ. de
Heidelberg, https://digi.ub.uni-
heidelberg.de/diglit/it00442000
92. 92As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
Trithemius, Johannes.
De laude scriptorum...
Mainz : Peter Friedberg; 1494.
Fac-simile digital da Univ. de
Heidelberg, https://digi.ub.uni-
heidelberg.de/diglit/it00442000
95. 9525/04/2019
Busa, Roberto. “Foreword: Perspectives on the Digital Humanities”. In Susan Schreibman, Ray Siemens, John Unsworth (eds.). A Companion to
Digital Humanities. Oxford: Blackwell, 2004. http://www.digitalhumanities.org/companion/
Chaudiron, S., Ihadjadene, M, Maredj, A. La fragmentation et l’unité documentaire em question. In: Actes de le Congés de la SFSIC, 16.
Compiègne, 2008.
Crane, Gregory (et al.). ePhilology: when the books talk to their readers. Blackwell Companion to Digital Literary Studies, R. Siemens; S.
Schreibman (eds). Oxford: Blackwell, 2008.
Crane, Gregory. Give us editors! Re-inventing the edition and re-thinking the humanities. In Online Humanities Scholarship: The Shape of Things
to Come, University of Virginia: Mellon Foundation, 2010-03. http://cnx.org/content/m34316/latest/
Derrida, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Trad. Claudia de Moraes Rego. Rio de Janeiro: Relume Dumará; 2001.
Emiliano, António. Tipo Medieval para Computador: uma ferramenta informática para linguistas, historiadores da língua e paleógrafos. In Signo.
Revista de Historia de la Cultura Escrita (Universidade de Alcalá de Henares), 15 (2005): 139 – 176 (anniversary issue of the journal), by invitation
of Professor Carlos Sáez. 2006.
Gradmann, Stefan; Meister, Jan Christoph. Digital document and interpretation: re-thinking‘‘text’’ and scholarship in electronic settings. Poiesis
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Khabsa M, Giles CL (2014) The Number of Scholarly Documents on the Public Web. PLoS ONE 9(5): e93949.
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Paixão de Sousa, Maria Clara. Texto digital: Uma perspectiva material. Revista ANPOLL (Associação Nacional de Pós–Graduação e Pesquisa em
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Pêcheux, Michel. Ler o arquivo hoje. In: E. Orlandi et al. (Org.). Gestos de leitura: da história no discurso. Tradução: Bethânia S. C. Mariani, et. al.
Campinas (SP): Editora da Unicamp, 1994, p.55-66 (Coleção Repertórios).
Peckel, Joris. The State of Digitisation. [Internet]. Open Knowledge Foundation / DM2E, 2012. https://openglam.org/2012/08/03/the-state-of-
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Pédauque, Roger T. La redocumentarisation du monde. Toulouse: Cépaduès, 2007.
Trithemius, Johannes. De laude scriptorium […] Mainz : Peter Friedberg; 1494. Fac-simile digital da Univ. de Heidelberg, https://digi.ub.uni-
heidelberg.de/diglit/it00442000
Referências bibliográficas
96. 96As ‘Humanidades Digitais’ e os ofícios da memória16/09/2019
cf. https://humanidadesdigitais.org/conferencia2019/