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Aula 9: A interação entre as políticas monetária,
                 fiscal e cambial

                  Este tópico, certamente, é o mais analítico e técnico
            e, talvez o mais complicado de nosso curso. Mas não é
            nenhum bicho de sete cabeças. Basta ter um pouco mais
            de concentração e paciência que você vai entendê-lo
            perfeitamente. Afinal, nada é tão complicado assim. Esta
            nossa Aula 9, na verdade, é apenas uma continuação
            natural do modelo IS-LM, com a introdução da taxa de
            câmbio em nosso modelo. Importante ressaltar que nas
            provas de macroeconomia dos concursos públicos mais
            recentes sempre tem havido questões envolvendo a
            atuação conjunta das três políticas macroeconômicas
            mencionadas no título. Vamos em frente!



9.1. Introdução


     O mundo de hoje não comporta mais aquele tipo de
economia fechada, idealizada principalmente por alguns
movimentos socialistas da primeira metade do século passado. As
economias modernas são, todas elas, abertas, isto é, exportam
parte dos bens e serviços que produzem e importam parte dos
bens e serviços que consomem. As economias abertas também
emprestam e tomam empréstimos nos mercados financeiros
mundiais, investem em outras economias e recebem investimentos
de empresas de outros países.


      Nesta Aula 9, estaremos preocupados em analisar o impacto
das políticas monetária e fiscal sobre a renda agregada de
equilíbrio e sua interação com a política cambial, numa economia
aberta. Como já foi visto no capítulo anterior, na macroeconomia
este tema é tratado, geralmente, através do sistema IS-LM –
valendo ressaltar, no entanto, que este sistema é mais apropriado
para uma economia fechada. Para o caso de uma economia
aberta, costuma-se adotar uma versão ampliada do sistema IS-LM



                                                                     1
- o chamado modelo Mundell-Fleming, desenvolvido por estes
dois economistas nos anos 601.
       Ao ampliar o sistema IS-LM para uma economia aberta, o
modelo Mundell-Fleming procura mostrar até que ponto são
eficazes as políticas monetária e fiscal em relação às flutuações da
atividade econômica, quando se consideram seus efeitos sobre a
taxa de câmbio e, conseqüentemente, sobre o balanço de
pagamentos. Como se verá mais adiante, a eficácia daquelas
políticas macroeconômicas depende essencialmente do sistema
cambial adotado pelo país - isto é, se o país adota uma taxa de
câmbio flutuante ou uma taxa de câmbio fixa.
     A análise, aqui, será conduzida em duas partes: na primeira,
iremos supor que o regime cambial é o de taxas flutuantes; na
segunda, o de taxas fixas. Para facilitar a compreensão, o modelo
considera o nível de preços constante.


9.2. O Modelo Mundell-Fleming


     O modelo Mundell-Fleming é derivado de três equações
básicas, similares às que definem o sistema IS-LM, a saber:

                Curva IS: Y = C(Yd) + I(r) + G + NX(e)                                     (1)

                Curva LM:                Ms/P = Md(Y,r)                                    (2)

                  r = r*                                                                    (3)

onde,
Yd = renda disponível;
NX = exportações líquidas, isto é, X-M (do inglês: net exports);
e = taxa de câmbio vigente;
r = taxa de juros doméstica;
r* = taxa de juros externa ou taxa de juros mundial.

1
  O desenvolvimento teórico desse modelo pode ser encontrado em Fleming, J.M. – Domestic Financial
Policies under Fixed and under Floating Exchange Rates – IMF Staff Papers 9, nov./1962 e em Mundel, R.A.
– International Economics – Macmillan, N. York, 1968.


                                                                                                      2
Para uma melhor compreensão desse novo modelo, vamos
dar uma palavrinha sobre o que aquelas três equações estão
dizendo:

      Tal como no caso da IS-LM tradicional, a equação (1)
descreve o equilíbrio no mercado de bens. A novidade aqui é a
inclusão do termo NX - que representa as exportações líquidas,
isto é, X-M. No caso, as NX são função inversa da taxa de câmbio,
e. Atente-se que, no modelo Mundell-Fleming, a taxa de câmbio é
definida como a "quantidade de moeda estrangeira por unidade de
moeda nacional" (a chamada cotação do "certo"). Assim, por
exemplo, e pode ser 2 dólares por Real. Um outro aspecto
importante é que, no modelo Mundell-Fleming, supõe-se que os
preços são mantidos constantes e, assim, qualquer variação da
taxa nominal de câmbio corresponderá a uma variação real da
taxa de câmbio.
      Pela forma como a taxa de câmbio foi definida, deve-se ter
cuidado ao interpretá-la num gráfico. Assim, por exemplo, se
houver um valorização cambial – isto é, uma unidade da moeda
nacional passa a comprar mais e mais unidades da moeda externa
-, o valor da taxa de câmbio cresce ao longo do eixo vertical.
Neste caso, os bens importados pelo Brasil se tornam mais
baratos, estimulando as importações e desestimulando as
exportações - reduzindo, em conseqüência, as exportações
líquidas (NX). Se, por hipótese, ocorrer uma desvalorização
cambial, o valor da taxa de câmbio decresce ao longo daquele eixo
e, conseqüentemente, as exportações líquidas crescerão.
      A equação (2) descreve o equilíbrio no mercado de moeda.
Também como no modelo IS-LM tradicional, a oferta monetária
real (Ms/P) - exogenamente determinada pelo Banco Central - é
igual à demanda por saldos monetários reais (Md) - que é uma
função direta do nível de renda (Y) e uma função inversa da taxa
de juros (r).
     A equação (3) diz que a taxa de juros doméstica (r)          é
determinada pela taxa de juros mundial (r*). Isto significa que   o
país pode tomar empréstimo ou emprestar no mercado mundial        o
quanto quiser, sem afetar r*. O porquê desta igualdade entre r    e
r* será explicado mais adiante.



                                                                  3
O modelo Mundell-Fleming é melhor entendido através do
uso de gráficos. No entanto, como o modelo tem três variáveis - Y,
r, e - não é possível apresentá-lo em um único gráfico
bidimensional. Assim, podemos apresentá-lo em dois gráficos
separados: no primeiro, usamos as variáveis Y-r, mantendo a taxa
de câmbio constante; no segundo, que é o mais apropriado para o
modelo Mundell-Fleming, usamos as variáveis Y-e, mantendo a
taxa de juros constante. Note-se que ambos os gráficos
apresentam o mesmo modelo, porém de duas formas diferentes.


9.3. O modelo no gráfico Y-r


     Num gráfico Y-r, o modelo Mundell-Fleming apresenta as
curvas IS e LM de forma semelhante ao modelo tradicional, como
mostra a Figura 9.1. A novidade no gráfico é a reta horizontal,
correspondente à taxa de juros mundial. Há dois aspectos a
destacar na Figura 9.1: primeiro, o fato de que a curva IS é
traçada a partir de uma dada taxa de câmbio (digamos, dois
dólares por Real). Caso a taxa de câmbio se valorize (passando,
digamos, a três dólares por Real), os bens estrangeiros se tornam
mais baratos que os nacionais, reduzindo as exportações líquidas.
     Observe-se que, como a taxa de câmbio não está nos eixos
do gráfico, uma alteração de seu valor provoca um deslocamento
da curva IS ( para a esquerda, se houver uma valorização – pois o
país irá exportar menos e importar mais - e, para a direita, se
houver uma desvalorização cambial – pela razão oposta). Um
segundo aspecto a observar é o fato de que as três curvas se
cruzam num mesmo ponto. O que faz com que isto ocorra? A
resposta é: o ajustamento da taxa de câmbio. Isso ocorre pela
seguinte razão:




                                                                 4
r
                                                     LM



                                                   r = r*




                                                   IS(e
               0                                       Y
                             Figura 9.1


      Suponhamos que a taxa de juros interna (r) - dada pelo
cruzamento da IS-LM - se situe acima da taxa de juros mundial
(r*), tal como mostrado na Figura 9.2. Nesta situação, o Brasil
estaria atraindo capitais externos em busca de um maior retorno.
Para aplicar no Brasil, os investidores teriam, antes, de trocar seus
dólares por Reais. Este aumento na oferta de dólares provoca uma
valorização da taxa de câmbio, reduzindo as exportações líquidas -
o que se traduz por um deslocamento da curva IS para a
esquerda, até que r se iguale a r*.
      Caso a taxa de juros interna se situe abaixo da taxa de juros
externa, como mostrado na Figura 9.3, os investidores brasileiros
tentarão aplicar seus Reais no exterior, aumentando a demanda
por dólares. Em conseqüência, haverá uma desvalorização
cambial, o que aumenta as exportações líquidas - implicando num
deslocamento da curva IS para a direita, até que as duas taxas de
juros se igualem.




                                                                    5
Taxa de juros muito baixa                         Taxa de juros muito alta

  r                                              r

                                  LM

                                                           Taxa de juros          LM
         Taxa de                                           mundial
         juros interna
  r                                                                                   r =r*

                                   r = r*        r
        Taxa de juros                                      Taxa de juros
                                                           iinterna
        mundial                          IS(e)
                                                                                  IS(e
   0                                 Y               0                                 Y
                Figura 9.2                                         Figura 9.3



9.2.2. O modelo no gráfico Y-e


     Nesta segunda forma de apresentar o modelo Mundell-
Fleming, a taxa de câmbio - e - substitui a taxa de juros que,
então, é suposta constante ao nível da taxa de juros mundial - r*.
Com isso, as duas equações representadas no gráfico passam a
ser expressas por:
       Curva IS*:            Y = C(Yd) + I(r*) + G + NX(e)                      (4)

       Curva LM*:            Ms/P = Md(Y,r*)                                    (5)


     Colocamos um asterisco (*) na IS-LM para registrar que a
taxa de juros está mantida no nível mundial, r*. Observe-se que a
curva LM é desenhada vertical porque a taxa de câmbio não entra
na equação da LM*, ou seja, a curva LM* é totalmente inelástica à
taxa de câmbio. Assim, dada a taxa de juros mundial, a curva LM*
determina o nível de renda agregada, ajustando-se a taxa de
câmbio de tal forma que a curva IS cruze a curva LM no ponto
dado por r*. Esta situação é retratada na Figura 9.4.




                                                                                           6
e
                                         LM*




                  eo
                       Taxa de câmbio
                       de equlíbrio

                                                     IS*

                  0                        Yo              Y

                                        Figura 9.4


     Já a curva IS* tem inclinação negativa porque uma taxa de
câmbio mais valorizada reduz as exportações líquidas e,
conseqüentemente, diminui a renda agregada. Se houver uma
desvalorização cambial, haverá um deslocamento ao longo da
curva IS*, no sentido descendente, já que a taxa de câmbio
aparece no eixo vertical da Figura 9.4.
       Assim entendido, usaremos, no restante deste texto, o
gráfico Y-e, uma vez que este nos parece mais representativo do
modelo Mundell-Fleming, já que esse gráfico msotra de maneira
mais direta como a taxa de câmbio responde às mudanças na
política econômica. De toda forma, para se analisar o efeito das
políticas macroeconômicas - particularmente das políticas fiscal e
monetária - em uma economia aberta, é necessário, antes de mais
nada, que se defina o sistema cambial vigente no país, ou seja, se
o sistema cambial adotado é o de taxas flutuantes ou de taxas
fixas. Começaremos pelo primeiro.




                                                                 7
9.3. As Políticas Fiscal, Monetária e Comercial num
    regime de Taxas de Câmbio Flutuantes


      Como já foi visto, sob este regime a taxa de câmbio flutua
livremente, de acordo com as circunstâncias econômicas, que
definem o comportamento das forças de mercado, isto é, da oferta
e da demanda.


a) Política Fiscal


     Suponha que a economia encontra-se em equilíbrio ao nível
de Yo e, portanto, abaixo do nível da renda de pleno emprego (Yf)
e que o governo resolva estimular a demanda agregada interna
aumentando seus gastos (∆G). Por conseguinte, a curva IS* se
desloca para a direita, como mostra a Figura 9.5. Este
deslocamento da curva IS provoca um aumento na taxa interna de
juros, atraindo capitais externos. A entrada extra de capitais
externos aumenta a demanda por Reais, valorizando a taxa de
câmbio e, conseqüentemente, reduzindo as exportações líquidas -

                            e
                                               LM




                            e1


                            eo


                                                                       IS* 2
                                                            IS*1

                                               Yo     Yf           Y

                                              Figura 9.5



                                                                   8
o que implica um movimento para trás, ao longo da nova IS*2. No
final do processo, esta queda das exportações líquidas anula o
efeito da expansão da demanda agregada interna provocada pelo
aumento inicial de G, de tal forma que a renda de equilíbrio
permanece no mesmo nível anterior Yo), porém, agora, com uma
taxa de câmbio mais alta.


     Esta conclusão sobre o efeito da política fiscal contrasta
bastante com a derivada do modelo IS-LM tradicional, aplicado a
uma economia fechada. Nesta, a expansão fiscal aumenta a taxa
de juros e a renda de equilíbrio. Já na economia aberta, aquela
expansão deixa o nível da economia inalterado.


b) Política Monetária


       Imaginemos, agora
                                       LM*1        LM*2
a mesma situação inicial    e
anterior e que, ao invés
do governo acionar a
política fiscal o banco
central aumente a oferta
de moeda na economia,
deslocando a curva LM*      eo
para a direita, como
mostra a Figura 9.6. Em
                            e1
conseqüência,     haverá
uma redução na taxa
interna de juros, o que                                  IS*
estimula a saída de
capitais nacionais para                 Yo         Yf      Y
outros     países   mais                Figura 9.6
rentáveis. Esta saída de
capitais significa uma
maior oferta de Reais no
mercado cambial, reduzindo a taxa de câmbio e aumentando, em
conseqüência, as exportações líquidas.



                                                              9
Conclusão: numa economia aberta, a política monetária, ao
contrário da política fiscal, é bastante eficaz no sentido de que
influencia o nível da renda de equilíbrio pela alteração que provoca
na taxa de câmbio e não através da taxa de juros, como no
modelo IS-LM de uma economia fechada.


c) Política comercial


      As medidas de política fiscal são, basicamente, o
estabelecimento de tarifas sobre as importações, a fixação de
cotas para a importação de determinado produto ou, ainda, a
concessão de subsídios à indústria doméstica que concorre com o
produto importado. Vamos supor, por exemplo, que o governo
decida reduzir as importações do país instituindo, para tanto, uma
tarifa ou fixando uma cota de importações. Que efeitos teriam tais
medidas sobre a renda agregada de equilíbrio e sobre a taxa de
câmbio?
      A     conseqüente         e
redução das importações
implica um aumento das                            LM
exportações     líquidas
(NX) para qualquer nível
de taxa de câmbio.             e1
Como NX é um compo-
nente da equação da IS,
o aumento das expor-
tações líquidas provoca        eo
um deslocamento da                                                  IS*2
curva S* para a direita,
como mostra a Figura                                         IS*1
9.7.    Como se pode
observar, a restrição           0                  Yo                Y
comercial, num sistema
de câmbio flutuante,                        Figura 9.7
causa uma elevação da
taxa de câmbio de eo
para e1, mas não tem



                                                                     10
qualquer efeito sobre a renda de equilíbrio. Também não tem
qualquer efeito sobre o consumo, o investimento e os gastos do
governo. E mais, embora inicialmente as restrições às importações
tendam a aumentar as exportações líquidas, este aumento é
totalmente anulado pelo aumento que provoca na taxa de câmbio.
Em conseqüência, a restrição comercial não alterou o saldo em
conta corrente do balanço de pagamentos – que, geralmente seria
o objetivo de qualquer restrição às importações.


9.4. As Políticas Fiscal e Monetária num regime de
Taxas de Câmbio Fixas


     Neste sistema, como sabemos, o banco central fixa ou
administra a taxa de câmbio e, para tanto, se obriga a comprar ou
a vender a moeda nacional ao preço predeterminado. Assim, por
exemplo, vamos supor que o Banco Central tenha fixado a taxa de
câmbio em 0,5 dólar por um real. Isso significa que ele terá de dar
2 reais em troca de um dólar, se alguém assim o desejar, ou um
dólar em troca de dois reais. Para tanto, ele terá de dispor de uma
reserva razoável de ambas as moedas. Quanto ao real, não há
problema porque o Banco Central poderá emitir sempre que
necessário; já a reserva de dólares terá de ser formada com
transações passadas.
     Um dado importante a observar é que, num sistema de taxas
de câmbio fixas, o único objetivo da política monetária é o de
manter a taxa de câmbio no nível fixado pelo Banco Central. Nesse
sentido, pode-se dizer que, sob o sistema de câmbio fixo, o Banco
Central não tem controle da oferta monetária, de vez que o
volume de reais em circulação será aquele que garanta que a taxa
de câmbio de equilíbrio seja igual à taxa de câmbio fixada pelo
Banco Central.
      Para entender melhor este ponto, suponha, então, que o
Banco Central fixe a taxa de câmbio em 0,5 dólar por real.
Suponha, mais, que, dado o volume de oferta monetária atual, a
taxa de câmbio deveria ser 0,75 dólar por 1 real, ou seja, 50%
acima da taxa fixada, conforme retratado na Figura 9.8. Nesta
situação, um indivíduo poderia fazer uma operação de arbitragem,


                                                                 11
comprando no mercado 1,5 dólar por 2 reais e revendendo-o por 3
reais ao Banco Central, lucrando, portanto, um real na operação.
Ao comprar o dólar deste arbitrador, o Banco Central estará
aumentando automaticamente a oferta monetária – o que desloca
a curva LM* para a direita, provocando uma redução na taxa de
câmbio de equilíbrio. Observe-se que a oferta monetária
continuará se expandindo até que a taxa de câmbio de equilíbrio
iguale a taxa de câmbio fixada pelo Banco Central.
                           LM             e                    LM
   e


        Taxa de câmbio                         Taxa de
        de equilíbrio                          câmbio fixa




                                              Taxa de câmbio
                                              de equilíbrio
         Taxa de                                                     IS*
         câmbio fixa                IS*
                           Yo       Y                           Yo     Y

                       Figura 9.8                      Figura 9.9
      Vamos supor, agora, que o Banco Central tenha fixado o
câmbio em 0,5 dólar por real, mas a taxa de câmbio de equilíbrio
seja 0,25 dólar por real. Nessa hipótese, nosso arbitrador trocará
um real por 0,5 dólar com o Banco Central e, em seguida, trocará
este 0,5 dólar por 2 reais no mercado, repetindo a operação tantas
vezes quantas forem convenientes. Com isso, a oferta monetária
(de reais) se reduz internamente – o que desloca a curva LM para
a esquerda, provocando um aumento na taxa de câmbio de
equilíbrio, como mostra a Figura 9.9. A oferta monetária
continuará se reduzindo até que a taxa de câmbio de equilíbrio
iguale a taxa de câmbio fixa.
      Por tudo o que se disse, pode-se tirar a seguinte conclusão:
num sistema de taxa de câmbio fixa, a oferta monetária sai do
controle do Banco Central e passa a ser endogenamente
determinada. Ou seja, a essência de um sistema de taxas de
câmbio fixas é o compromisso do Banco Central em deixar que a
oferta de moeda se ajuste de tal forma a garantir que a taxa de
câmbio se mantenha no nível fixado por ele.


                                                                           12
Assim entendido, vejamos, agora, a atuação das políticas
fiscal, monetária e comercial sob este regime cambial.


a) Política Fiscal

      Suponha que a economia esteja na situação retratada na
Figura 9.10 (em Yo) e que o governo estimule a despesa agregada
interna através de um aumento de seus gastos – o que desloca a
curva IS* para a direita. Como já foi visto, esta política
pressionará, ao final, a taxa de câmbio para cima. No entanto, na
tentativa de manter a taxa de câmbio estável, o banco central se
verá obrigado a aumentar a oferta monetária - o que implica um
deslocamento da curva LM para a direita - reduzindo a taxa de
juros e, conseqüentemente, mantendo a taxa de câmbio no nível
inicial.
                     e
                                         LM*1    LM*2

                                IS*2

                         IS*1




                         Taxa de
                         câmbio fixa




                                         Yo          Y1   Y
                                       Figura 9.10
     Assim, ao contrário do que ocorre no caso das taxas de
câmbio flutuantes, uma expansão fiscal, num sistema de taxa de
câmbio fixa, é bastante eficaz no sentido de elevar o nível da
renda de equilíbrio. Isto ocorre porque, por definição, se verifica
uma expansão monetária automática e simultânea.




                                                                 13
b) Política Monetária


      Vejamos, agora, o que ocorrerá caso o banco central resgate
títulos públicos no mercado, aumentando a oferta monetária? O
impacto inicial desta medida será traduzido num deslocamento da
curva LM* para a direita, com conseqüente redução da taxa de
juros. Esta queda na taxa de juros provocará, como já visto, uma
saída de reais em busca de aplicações mais rentáveis no exterior -
o que leva a uma desvalorização cambial - como mostra a Figura
9.11. Mas, como o banco central tem o compromisso de vender a
moeda estrangeira a uma taxa de câmbio fixa, os especuladores
ou arbitradores procurarão vender seus Reais       para    aquele
banco, reduzindo, assim, a oferta monetária e, em conseqüência,
a curva LM* retorna à sua posição inicial.
               e

                                     LM


                     IS*


                     Taxa de
                     câmbio fixa




                                     Y0          Y

                                   Figura 9.11



      Por conseguinte, a política monetária se torna inteiramente
ineficaz num regime de taxa de câmbio fixa. Na verdade, ao
decidir pela fixação da taxa de câmbio, o banco central não mais
controla a oferta monetária e esta perde eficácia como
instrumento de política econômica.


                                                                14
c) Política comercial

      Caso o governo, no intuito de melhorar o saldo da balança
comercial, imponha uma cota ou uma tarifa sobre as importações,
as exportações líquidas (NX) aumentarão, deslocando, portanto, a
curva IS* para a direita, como mostra a Figura 9.12. Este
deslocamento da IS* causa um aumento na taxa de câmbio. Para
evitar que isso aconteça o Banco Central terá de aumentar a
oferta monetária, deslocando, assim, a curva LM* para a direita.



          e
                     IS*2 LM*1         LM*2


              IS*1




               Taxa de
               câmbio fixa




                             Yo        Y1     Y

                         Figura 9.12


     Como se observa pela Figura 12.12, e ao contrário do que
ocorre com a taxa de câmbio flutuante, a restrição comercial, com
taxa de câmbio fixa, aumenta não só o saldo em conta corrente
(NX), como também o nível da renda agregada.


9.5. Conclusões do Modelo Mundell-Fleming


     A principal conclusão que se pode tirar do modelo Mundell-
Fleming é que o efeito das políticas fiscal, monetária e comercial
sobre o nível de atividade econômica, numa economia aberta,


                                                                15
depende do regime cambial adotado - se o de taxas flutuantes ou
o de taxas fixas.
      Com taxas de câmbio flutuantes ou flexíveis, o modelo
mostra que apenas a política monetária é eficaz para afetar a
renda agregada. Neste regime cambial, o impacto da política fiscal
é anulado pela valorização cambial que ela provoca. Já com taxas
de câmbio fixas, apenas a política fiscal é eficaz para influir sobre o
nível da renda. A força da política monetária é anulada pelo fato de
que a oferta monetária se ajusta para manter inalterada a taxa de
câmbio. Também como foi demonstrado, políticas comerciais de
restrição às importações, como meio de melhorar o saldo de
transações correntes do balanço de pagamentos, só são eficazes
no sistema de taxas de câmbio fixas.
                                    *   *   *
        Com essas colocações, encerramos esta nossa 9ª Aula. A seguir, são
apresentados alguns exercícios de revisão e fixação sobre os efeitos das políticas
fiscal e monetária, no contexto do sistema IS-LM. Até nossa próxima aula.
_________________


EXERCÍCIOS DE REVISÃO E DE FIXAÇÃO


   Tomando sempre por base o Modelo Mundell-Fleming para uma economia
   aberta, responda as questões a seguir:

   1. Caso o país adote um regime de taxas de câmbio flutuantes, se o
   governo adotar uma política fiscal expansionista, seus efeitos serão:
         a) Tanto a taxa de câmbio como a renda agregada e as exportações
            líquidas se elevarão;
         b) A taxa de câmbio se elevará, com conseqüente queda nas
            exportações líquidas, mas os efeitos sobre a renda ou produto
            nacional serão nulos;
         c) A taxa de câmbio se reduzirá, as exportações líquidas se elevarão
            e a renda agregada não se altera;
         d) Tanto a taxa de câmbio como a renda agregada e as exportações
            líquidas se reduzirão.




                                                                               16
2. Caso o país adote um regime de taxas de câmbio flutuantes, se o
   governo adotar uma política monetária expansionista, seus efeitos
   serão:
      a) Elevação da renda agregada e da taxa de câmbio e redução das
          exportações líquidas;
      b) Queda da renda nacional, aumento da taxa de câmbio e queda
          das exportações líquidas;
      c) Aumento do produto nacional, queda da taxa de câmbio e
          aumento das exportações líquidas;
      d) Redução do produto nacional, da taxa      de câmbio e das
          exportações líquidas.

3. Caso o país adote um regime de taxas de câmbio flutuantes, se o
   governo impuser restrições às importações, seus efeitos serão:
      a) Nulos sobre o nível do produto e sobre as exportações líquidas,
         mas deve provocar um aumento da taxa de câmbio;
      b) Nulos sobre o produto, mas deve provocar uma queda na taxa de
         câmbio e nas exportações líquidas;
      c) Aumento do nível do produto, queda na taxa de câmbio e nulos
         sobre as exportações líquidas;
      d) Queda no nível do produto, aumento na taxa de câmbio e das
         exportações líquidas.

4. Caso o país adote um regime de taxas de câmbio fixas, se o governo
   adotar uma política fiscal expansionista, seus efeitos serão:
      a) Um aumento do nível da renda agregada, da taxa de câmbio e
         das exportações líquidas;
      b) Um aumento do produto nacional, queda na taxa de câmbio e nas
         exportações líquidas;
      c) Uma queda da renda nacional, da taxa de câmbio e um aumento
         nas exportações líquidas;
      d) Um aumento da renda agregada, sem efeitos sobre a taxa de
         câmbio e sobre as exportações líquidas.

5. Caso o país adote um regime de taxas de câmbio flexíveis, se governo
   adotar uma política monetária expansionista, seus efeitos serão:
      a) Totalmente nulos sobre o produto nacional, a taxa de câmbio e
         sobre as exportações líquidas.
      b) Um aumento do nível da renda agregada, da taxa de câmbio e
         das exportações líquidas;
      c) Um aumento da renda agregada, sem efeitos sobre a taxa de
         câmbio e sobre as exportações líquidas;




                                                                     17
d) Um aumento do produto nacional, queda na taxa de câmbio e nas
             exportações líquidas.

  6. Caso o país adote um regime de taxas de câmbio flexíveis, se governo
     adotar uma política de restrição às importações, expansionista, seus
     efeitos serão:
        a) Um aumento da renda agregada, sem efeitos sobre a taxa de
            câmbio e sobre as exportações líquidas;
        b) Um aumento do nível da renda agregada e da taxa de câmbio e
            uma redução das exportações líquidas;
        c) Um aumento da renda agregada e das exportações líquidas,
            mantendo-se a taxa de câmbio inalterada;
        d) Uma queda da renda nacional, da taxa de câmbio e um aumento
            nas exportações líquidas.

_____________________

G A B A R I T O:

  1. b;            2. c;      3. a;      4. d;       5. a;       6. c.




                                                                         18

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  • 1. Aula 9: A interação entre as políticas monetária, fiscal e cambial Este tópico, certamente, é o mais analítico e técnico e, talvez o mais complicado de nosso curso. Mas não é nenhum bicho de sete cabeças. Basta ter um pouco mais de concentração e paciência que você vai entendê-lo perfeitamente. Afinal, nada é tão complicado assim. Esta nossa Aula 9, na verdade, é apenas uma continuação natural do modelo IS-LM, com a introdução da taxa de câmbio em nosso modelo. Importante ressaltar que nas provas de macroeconomia dos concursos públicos mais recentes sempre tem havido questões envolvendo a atuação conjunta das três políticas macroeconômicas mencionadas no título. Vamos em frente! 9.1. Introdução O mundo de hoje não comporta mais aquele tipo de economia fechada, idealizada principalmente por alguns movimentos socialistas da primeira metade do século passado. As economias modernas são, todas elas, abertas, isto é, exportam parte dos bens e serviços que produzem e importam parte dos bens e serviços que consomem. As economias abertas também emprestam e tomam empréstimos nos mercados financeiros mundiais, investem em outras economias e recebem investimentos de empresas de outros países. Nesta Aula 9, estaremos preocupados em analisar o impacto das políticas monetária e fiscal sobre a renda agregada de equilíbrio e sua interação com a política cambial, numa economia aberta. Como já foi visto no capítulo anterior, na macroeconomia este tema é tratado, geralmente, através do sistema IS-LM – valendo ressaltar, no entanto, que este sistema é mais apropriado para uma economia fechada. Para o caso de uma economia aberta, costuma-se adotar uma versão ampliada do sistema IS-LM 1
  • 2. - o chamado modelo Mundell-Fleming, desenvolvido por estes dois economistas nos anos 601. Ao ampliar o sistema IS-LM para uma economia aberta, o modelo Mundell-Fleming procura mostrar até que ponto são eficazes as políticas monetária e fiscal em relação às flutuações da atividade econômica, quando se consideram seus efeitos sobre a taxa de câmbio e, conseqüentemente, sobre o balanço de pagamentos. Como se verá mais adiante, a eficácia daquelas políticas macroeconômicas depende essencialmente do sistema cambial adotado pelo país - isto é, se o país adota uma taxa de câmbio flutuante ou uma taxa de câmbio fixa. A análise, aqui, será conduzida em duas partes: na primeira, iremos supor que o regime cambial é o de taxas flutuantes; na segunda, o de taxas fixas. Para facilitar a compreensão, o modelo considera o nível de preços constante. 9.2. O Modelo Mundell-Fleming O modelo Mundell-Fleming é derivado de três equações básicas, similares às que definem o sistema IS-LM, a saber: Curva IS: Y = C(Yd) + I(r) + G + NX(e) (1) Curva LM: Ms/P = Md(Y,r) (2) r = r* (3) onde, Yd = renda disponível; NX = exportações líquidas, isto é, X-M (do inglês: net exports); e = taxa de câmbio vigente; r = taxa de juros doméstica; r* = taxa de juros externa ou taxa de juros mundial. 1 O desenvolvimento teórico desse modelo pode ser encontrado em Fleming, J.M. – Domestic Financial Policies under Fixed and under Floating Exchange Rates – IMF Staff Papers 9, nov./1962 e em Mundel, R.A. – International Economics – Macmillan, N. York, 1968. 2
  • 3. Para uma melhor compreensão desse novo modelo, vamos dar uma palavrinha sobre o que aquelas três equações estão dizendo: Tal como no caso da IS-LM tradicional, a equação (1) descreve o equilíbrio no mercado de bens. A novidade aqui é a inclusão do termo NX - que representa as exportações líquidas, isto é, X-M. No caso, as NX são função inversa da taxa de câmbio, e. Atente-se que, no modelo Mundell-Fleming, a taxa de câmbio é definida como a "quantidade de moeda estrangeira por unidade de moeda nacional" (a chamada cotação do "certo"). Assim, por exemplo, e pode ser 2 dólares por Real. Um outro aspecto importante é que, no modelo Mundell-Fleming, supõe-se que os preços são mantidos constantes e, assim, qualquer variação da taxa nominal de câmbio corresponderá a uma variação real da taxa de câmbio. Pela forma como a taxa de câmbio foi definida, deve-se ter cuidado ao interpretá-la num gráfico. Assim, por exemplo, se houver um valorização cambial – isto é, uma unidade da moeda nacional passa a comprar mais e mais unidades da moeda externa -, o valor da taxa de câmbio cresce ao longo do eixo vertical. Neste caso, os bens importados pelo Brasil se tornam mais baratos, estimulando as importações e desestimulando as exportações - reduzindo, em conseqüência, as exportações líquidas (NX). Se, por hipótese, ocorrer uma desvalorização cambial, o valor da taxa de câmbio decresce ao longo daquele eixo e, conseqüentemente, as exportações líquidas crescerão. A equação (2) descreve o equilíbrio no mercado de moeda. Também como no modelo IS-LM tradicional, a oferta monetária real (Ms/P) - exogenamente determinada pelo Banco Central - é igual à demanda por saldos monetários reais (Md) - que é uma função direta do nível de renda (Y) e uma função inversa da taxa de juros (r). A equação (3) diz que a taxa de juros doméstica (r) é determinada pela taxa de juros mundial (r*). Isto significa que o país pode tomar empréstimo ou emprestar no mercado mundial o quanto quiser, sem afetar r*. O porquê desta igualdade entre r e r* será explicado mais adiante. 3
  • 4. O modelo Mundell-Fleming é melhor entendido através do uso de gráficos. No entanto, como o modelo tem três variáveis - Y, r, e - não é possível apresentá-lo em um único gráfico bidimensional. Assim, podemos apresentá-lo em dois gráficos separados: no primeiro, usamos as variáveis Y-r, mantendo a taxa de câmbio constante; no segundo, que é o mais apropriado para o modelo Mundell-Fleming, usamos as variáveis Y-e, mantendo a taxa de juros constante. Note-se que ambos os gráficos apresentam o mesmo modelo, porém de duas formas diferentes. 9.3. O modelo no gráfico Y-r Num gráfico Y-r, o modelo Mundell-Fleming apresenta as curvas IS e LM de forma semelhante ao modelo tradicional, como mostra a Figura 9.1. A novidade no gráfico é a reta horizontal, correspondente à taxa de juros mundial. Há dois aspectos a destacar na Figura 9.1: primeiro, o fato de que a curva IS é traçada a partir de uma dada taxa de câmbio (digamos, dois dólares por Real). Caso a taxa de câmbio se valorize (passando, digamos, a três dólares por Real), os bens estrangeiros se tornam mais baratos que os nacionais, reduzindo as exportações líquidas. Observe-se que, como a taxa de câmbio não está nos eixos do gráfico, uma alteração de seu valor provoca um deslocamento da curva IS ( para a esquerda, se houver uma valorização – pois o país irá exportar menos e importar mais - e, para a direita, se houver uma desvalorização cambial – pela razão oposta). Um segundo aspecto a observar é o fato de que as três curvas se cruzam num mesmo ponto. O que faz com que isto ocorra? A resposta é: o ajustamento da taxa de câmbio. Isso ocorre pela seguinte razão: 4
  • 5. r LM r = r* IS(e 0 Y Figura 9.1 Suponhamos que a taxa de juros interna (r) - dada pelo cruzamento da IS-LM - se situe acima da taxa de juros mundial (r*), tal como mostrado na Figura 9.2. Nesta situação, o Brasil estaria atraindo capitais externos em busca de um maior retorno. Para aplicar no Brasil, os investidores teriam, antes, de trocar seus dólares por Reais. Este aumento na oferta de dólares provoca uma valorização da taxa de câmbio, reduzindo as exportações líquidas - o que se traduz por um deslocamento da curva IS para a esquerda, até que r se iguale a r*. Caso a taxa de juros interna se situe abaixo da taxa de juros externa, como mostrado na Figura 9.3, os investidores brasileiros tentarão aplicar seus Reais no exterior, aumentando a demanda por dólares. Em conseqüência, haverá uma desvalorização cambial, o que aumenta as exportações líquidas - implicando num deslocamento da curva IS para a direita, até que as duas taxas de juros se igualem. 5
  • 6. Taxa de juros muito baixa Taxa de juros muito alta r r LM Taxa de juros LM Taxa de mundial juros interna r r =r* r = r* r Taxa de juros Taxa de juros iinterna mundial IS(e) IS(e 0 Y 0 Y Figura 9.2 Figura 9.3 9.2.2. O modelo no gráfico Y-e Nesta segunda forma de apresentar o modelo Mundell- Fleming, a taxa de câmbio - e - substitui a taxa de juros que, então, é suposta constante ao nível da taxa de juros mundial - r*. Com isso, as duas equações representadas no gráfico passam a ser expressas por: Curva IS*: Y = C(Yd) + I(r*) + G + NX(e) (4) Curva LM*: Ms/P = Md(Y,r*) (5) Colocamos um asterisco (*) na IS-LM para registrar que a taxa de juros está mantida no nível mundial, r*. Observe-se que a curva LM é desenhada vertical porque a taxa de câmbio não entra na equação da LM*, ou seja, a curva LM* é totalmente inelástica à taxa de câmbio. Assim, dada a taxa de juros mundial, a curva LM* determina o nível de renda agregada, ajustando-se a taxa de câmbio de tal forma que a curva IS cruze a curva LM no ponto dado por r*. Esta situação é retratada na Figura 9.4. 6
  • 7. e LM* eo Taxa de câmbio de equlíbrio IS* 0 Yo Y Figura 9.4 Já a curva IS* tem inclinação negativa porque uma taxa de câmbio mais valorizada reduz as exportações líquidas e, conseqüentemente, diminui a renda agregada. Se houver uma desvalorização cambial, haverá um deslocamento ao longo da curva IS*, no sentido descendente, já que a taxa de câmbio aparece no eixo vertical da Figura 9.4. Assim entendido, usaremos, no restante deste texto, o gráfico Y-e, uma vez que este nos parece mais representativo do modelo Mundell-Fleming, já que esse gráfico msotra de maneira mais direta como a taxa de câmbio responde às mudanças na política econômica. De toda forma, para se analisar o efeito das políticas macroeconômicas - particularmente das políticas fiscal e monetária - em uma economia aberta, é necessário, antes de mais nada, que se defina o sistema cambial vigente no país, ou seja, se o sistema cambial adotado é o de taxas flutuantes ou de taxas fixas. Começaremos pelo primeiro. 7
  • 8. 9.3. As Políticas Fiscal, Monetária e Comercial num regime de Taxas de Câmbio Flutuantes Como já foi visto, sob este regime a taxa de câmbio flutua livremente, de acordo com as circunstâncias econômicas, que definem o comportamento das forças de mercado, isto é, da oferta e da demanda. a) Política Fiscal Suponha que a economia encontra-se em equilíbrio ao nível de Yo e, portanto, abaixo do nível da renda de pleno emprego (Yf) e que o governo resolva estimular a demanda agregada interna aumentando seus gastos (∆G). Por conseguinte, a curva IS* se desloca para a direita, como mostra a Figura 9.5. Este deslocamento da curva IS provoca um aumento na taxa interna de juros, atraindo capitais externos. A entrada extra de capitais externos aumenta a demanda por Reais, valorizando a taxa de câmbio e, conseqüentemente, reduzindo as exportações líquidas - e LM e1 eo IS* 2 IS*1 Yo Yf Y Figura 9.5 8
  • 9. o que implica um movimento para trás, ao longo da nova IS*2. No final do processo, esta queda das exportações líquidas anula o efeito da expansão da demanda agregada interna provocada pelo aumento inicial de G, de tal forma que a renda de equilíbrio permanece no mesmo nível anterior Yo), porém, agora, com uma taxa de câmbio mais alta. Esta conclusão sobre o efeito da política fiscal contrasta bastante com a derivada do modelo IS-LM tradicional, aplicado a uma economia fechada. Nesta, a expansão fiscal aumenta a taxa de juros e a renda de equilíbrio. Já na economia aberta, aquela expansão deixa o nível da economia inalterado. b) Política Monetária Imaginemos, agora LM*1 LM*2 a mesma situação inicial e anterior e que, ao invés do governo acionar a política fiscal o banco central aumente a oferta de moeda na economia, deslocando a curva LM* eo para a direita, como mostra a Figura 9.6. Em e1 conseqüência, haverá uma redução na taxa interna de juros, o que IS* estimula a saída de capitais nacionais para Yo Yf Y outros países mais Figura 9.6 rentáveis. Esta saída de capitais significa uma maior oferta de Reais no mercado cambial, reduzindo a taxa de câmbio e aumentando, em conseqüência, as exportações líquidas. 9
  • 10. Conclusão: numa economia aberta, a política monetária, ao contrário da política fiscal, é bastante eficaz no sentido de que influencia o nível da renda de equilíbrio pela alteração que provoca na taxa de câmbio e não através da taxa de juros, como no modelo IS-LM de uma economia fechada. c) Política comercial As medidas de política fiscal são, basicamente, o estabelecimento de tarifas sobre as importações, a fixação de cotas para a importação de determinado produto ou, ainda, a concessão de subsídios à indústria doméstica que concorre com o produto importado. Vamos supor, por exemplo, que o governo decida reduzir as importações do país instituindo, para tanto, uma tarifa ou fixando uma cota de importações. Que efeitos teriam tais medidas sobre a renda agregada de equilíbrio e sobre a taxa de câmbio? A conseqüente e redução das importações implica um aumento das LM exportações líquidas (NX) para qualquer nível de taxa de câmbio. e1 Como NX é um compo- nente da equação da IS, o aumento das expor- tações líquidas provoca eo um deslocamento da IS*2 curva S* para a direita, como mostra a Figura IS*1 9.7. Como se pode observar, a restrição 0 Yo Y comercial, num sistema de câmbio flutuante, Figura 9.7 causa uma elevação da taxa de câmbio de eo para e1, mas não tem 10
  • 11. qualquer efeito sobre a renda de equilíbrio. Também não tem qualquer efeito sobre o consumo, o investimento e os gastos do governo. E mais, embora inicialmente as restrições às importações tendam a aumentar as exportações líquidas, este aumento é totalmente anulado pelo aumento que provoca na taxa de câmbio. Em conseqüência, a restrição comercial não alterou o saldo em conta corrente do balanço de pagamentos – que, geralmente seria o objetivo de qualquer restrição às importações. 9.4. As Políticas Fiscal e Monetária num regime de Taxas de Câmbio Fixas Neste sistema, como sabemos, o banco central fixa ou administra a taxa de câmbio e, para tanto, se obriga a comprar ou a vender a moeda nacional ao preço predeterminado. Assim, por exemplo, vamos supor que o Banco Central tenha fixado a taxa de câmbio em 0,5 dólar por um real. Isso significa que ele terá de dar 2 reais em troca de um dólar, se alguém assim o desejar, ou um dólar em troca de dois reais. Para tanto, ele terá de dispor de uma reserva razoável de ambas as moedas. Quanto ao real, não há problema porque o Banco Central poderá emitir sempre que necessário; já a reserva de dólares terá de ser formada com transações passadas. Um dado importante a observar é que, num sistema de taxas de câmbio fixas, o único objetivo da política monetária é o de manter a taxa de câmbio no nível fixado pelo Banco Central. Nesse sentido, pode-se dizer que, sob o sistema de câmbio fixo, o Banco Central não tem controle da oferta monetária, de vez que o volume de reais em circulação será aquele que garanta que a taxa de câmbio de equilíbrio seja igual à taxa de câmbio fixada pelo Banco Central. Para entender melhor este ponto, suponha, então, que o Banco Central fixe a taxa de câmbio em 0,5 dólar por real. Suponha, mais, que, dado o volume de oferta monetária atual, a taxa de câmbio deveria ser 0,75 dólar por 1 real, ou seja, 50% acima da taxa fixada, conforme retratado na Figura 9.8. Nesta situação, um indivíduo poderia fazer uma operação de arbitragem, 11
  • 12. comprando no mercado 1,5 dólar por 2 reais e revendendo-o por 3 reais ao Banco Central, lucrando, portanto, um real na operação. Ao comprar o dólar deste arbitrador, o Banco Central estará aumentando automaticamente a oferta monetária – o que desloca a curva LM* para a direita, provocando uma redução na taxa de câmbio de equilíbrio. Observe-se que a oferta monetária continuará se expandindo até que a taxa de câmbio de equilíbrio iguale a taxa de câmbio fixada pelo Banco Central. LM e LM e Taxa de câmbio Taxa de de equilíbrio câmbio fixa Taxa de câmbio de equilíbrio Taxa de IS* câmbio fixa IS* Yo Y Yo Y Figura 9.8 Figura 9.9 Vamos supor, agora, que o Banco Central tenha fixado o câmbio em 0,5 dólar por real, mas a taxa de câmbio de equilíbrio seja 0,25 dólar por real. Nessa hipótese, nosso arbitrador trocará um real por 0,5 dólar com o Banco Central e, em seguida, trocará este 0,5 dólar por 2 reais no mercado, repetindo a operação tantas vezes quantas forem convenientes. Com isso, a oferta monetária (de reais) se reduz internamente – o que desloca a curva LM para a esquerda, provocando um aumento na taxa de câmbio de equilíbrio, como mostra a Figura 9.9. A oferta monetária continuará se reduzindo até que a taxa de câmbio de equilíbrio iguale a taxa de câmbio fixa. Por tudo o que se disse, pode-se tirar a seguinte conclusão: num sistema de taxa de câmbio fixa, a oferta monetária sai do controle do Banco Central e passa a ser endogenamente determinada. Ou seja, a essência de um sistema de taxas de câmbio fixas é o compromisso do Banco Central em deixar que a oferta de moeda se ajuste de tal forma a garantir que a taxa de câmbio se mantenha no nível fixado por ele. 12
  • 13. Assim entendido, vejamos, agora, a atuação das políticas fiscal, monetária e comercial sob este regime cambial. a) Política Fiscal Suponha que a economia esteja na situação retratada na Figura 9.10 (em Yo) e que o governo estimule a despesa agregada interna através de um aumento de seus gastos – o que desloca a curva IS* para a direita. Como já foi visto, esta política pressionará, ao final, a taxa de câmbio para cima. No entanto, na tentativa de manter a taxa de câmbio estável, o banco central se verá obrigado a aumentar a oferta monetária - o que implica um deslocamento da curva LM para a direita - reduzindo a taxa de juros e, conseqüentemente, mantendo a taxa de câmbio no nível inicial. e LM*1 LM*2 IS*2 IS*1 Taxa de câmbio fixa Yo Y1 Y Figura 9.10 Assim, ao contrário do que ocorre no caso das taxas de câmbio flutuantes, uma expansão fiscal, num sistema de taxa de câmbio fixa, é bastante eficaz no sentido de elevar o nível da renda de equilíbrio. Isto ocorre porque, por definição, se verifica uma expansão monetária automática e simultânea. 13
  • 14. b) Política Monetária Vejamos, agora, o que ocorrerá caso o banco central resgate títulos públicos no mercado, aumentando a oferta monetária? O impacto inicial desta medida será traduzido num deslocamento da curva LM* para a direita, com conseqüente redução da taxa de juros. Esta queda na taxa de juros provocará, como já visto, uma saída de reais em busca de aplicações mais rentáveis no exterior - o que leva a uma desvalorização cambial - como mostra a Figura 9.11. Mas, como o banco central tem o compromisso de vender a moeda estrangeira a uma taxa de câmbio fixa, os especuladores ou arbitradores procurarão vender seus Reais para aquele banco, reduzindo, assim, a oferta monetária e, em conseqüência, a curva LM* retorna à sua posição inicial. e LM IS* Taxa de câmbio fixa Y0 Y Figura 9.11 Por conseguinte, a política monetária se torna inteiramente ineficaz num regime de taxa de câmbio fixa. Na verdade, ao decidir pela fixação da taxa de câmbio, o banco central não mais controla a oferta monetária e esta perde eficácia como instrumento de política econômica. 14
  • 15. c) Política comercial Caso o governo, no intuito de melhorar o saldo da balança comercial, imponha uma cota ou uma tarifa sobre as importações, as exportações líquidas (NX) aumentarão, deslocando, portanto, a curva IS* para a direita, como mostra a Figura 9.12. Este deslocamento da IS* causa um aumento na taxa de câmbio. Para evitar que isso aconteça o Banco Central terá de aumentar a oferta monetária, deslocando, assim, a curva LM* para a direita. e IS*2 LM*1 LM*2 IS*1 Taxa de câmbio fixa Yo Y1 Y Figura 9.12 Como se observa pela Figura 12.12, e ao contrário do que ocorre com a taxa de câmbio flutuante, a restrição comercial, com taxa de câmbio fixa, aumenta não só o saldo em conta corrente (NX), como também o nível da renda agregada. 9.5. Conclusões do Modelo Mundell-Fleming A principal conclusão que se pode tirar do modelo Mundell- Fleming é que o efeito das políticas fiscal, monetária e comercial sobre o nível de atividade econômica, numa economia aberta, 15
  • 16. depende do regime cambial adotado - se o de taxas flutuantes ou o de taxas fixas. Com taxas de câmbio flutuantes ou flexíveis, o modelo mostra que apenas a política monetária é eficaz para afetar a renda agregada. Neste regime cambial, o impacto da política fiscal é anulado pela valorização cambial que ela provoca. Já com taxas de câmbio fixas, apenas a política fiscal é eficaz para influir sobre o nível da renda. A força da política monetária é anulada pelo fato de que a oferta monetária se ajusta para manter inalterada a taxa de câmbio. Também como foi demonstrado, políticas comerciais de restrição às importações, como meio de melhorar o saldo de transações correntes do balanço de pagamentos, só são eficazes no sistema de taxas de câmbio fixas. * * * Com essas colocações, encerramos esta nossa 9ª Aula. A seguir, são apresentados alguns exercícios de revisão e fixação sobre os efeitos das políticas fiscal e monetária, no contexto do sistema IS-LM. Até nossa próxima aula. _________________ EXERCÍCIOS DE REVISÃO E DE FIXAÇÃO Tomando sempre por base o Modelo Mundell-Fleming para uma economia aberta, responda as questões a seguir: 1. Caso o país adote um regime de taxas de câmbio flutuantes, se o governo adotar uma política fiscal expansionista, seus efeitos serão: a) Tanto a taxa de câmbio como a renda agregada e as exportações líquidas se elevarão; b) A taxa de câmbio se elevará, com conseqüente queda nas exportações líquidas, mas os efeitos sobre a renda ou produto nacional serão nulos; c) A taxa de câmbio se reduzirá, as exportações líquidas se elevarão e a renda agregada não se altera; d) Tanto a taxa de câmbio como a renda agregada e as exportações líquidas se reduzirão. 16
  • 17. 2. Caso o país adote um regime de taxas de câmbio flutuantes, se o governo adotar uma política monetária expansionista, seus efeitos serão: a) Elevação da renda agregada e da taxa de câmbio e redução das exportações líquidas; b) Queda da renda nacional, aumento da taxa de câmbio e queda das exportações líquidas; c) Aumento do produto nacional, queda da taxa de câmbio e aumento das exportações líquidas; d) Redução do produto nacional, da taxa de câmbio e das exportações líquidas. 3. Caso o país adote um regime de taxas de câmbio flutuantes, se o governo impuser restrições às importações, seus efeitos serão: a) Nulos sobre o nível do produto e sobre as exportações líquidas, mas deve provocar um aumento da taxa de câmbio; b) Nulos sobre o produto, mas deve provocar uma queda na taxa de câmbio e nas exportações líquidas; c) Aumento do nível do produto, queda na taxa de câmbio e nulos sobre as exportações líquidas; d) Queda no nível do produto, aumento na taxa de câmbio e das exportações líquidas. 4. Caso o país adote um regime de taxas de câmbio fixas, se o governo adotar uma política fiscal expansionista, seus efeitos serão: a) Um aumento do nível da renda agregada, da taxa de câmbio e das exportações líquidas; b) Um aumento do produto nacional, queda na taxa de câmbio e nas exportações líquidas; c) Uma queda da renda nacional, da taxa de câmbio e um aumento nas exportações líquidas; d) Um aumento da renda agregada, sem efeitos sobre a taxa de câmbio e sobre as exportações líquidas. 5. Caso o país adote um regime de taxas de câmbio flexíveis, se governo adotar uma política monetária expansionista, seus efeitos serão: a) Totalmente nulos sobre o produto nacional, a taxa de câmbio e sobre as exportações líquidas. b) Um aumento do nível da renda agregada, da taxa de câmbio e das exportações líquidas; c) Um aumento da renda agregada, sem efeitos sobre a taxa de câmbio e sobre as exportações líquidas; 17
  • 18. d) Um aumento do produto nacional, queda na taxa de câmbio e nas exportações líquidas. 6. Caso o país adote um regime de taxas de câmbio flexíveis, se governo adotar uma política de restrição às importações, expansionista, seus efeitos serão: a) Um aumento da renda agregada, sem efeitos sobre a taxa de câmbio e sobre as exportações líquidas; b) Um aumento do nível da renda agregada e da taxa de câmbio e uma redução das exportações líquidas; c) Um aumento da renda agregada e das exportações líquidas, mantendo-se a taxa de câmbio inalterada; d) Uma queda da renda nacional, da taxa de câmbio e um aumento nas exportações líquidas. _____________________ G A B A R I T O: 1. b; 2. c; 3. a; 4. d; 5. a; 6. c. 18