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dozeatrevimentos
© 2017, Vítor Santos
Candonga Editores
Título: dozeatrevimentos
Autor: Vítor Santos
(www.facebook.com/vitorsantos1967)
Revisão: Alda Batista
Desenhos: Paulo Medeiros
Fotos: Vítor Santos & P.
As rugas e os cabelos brancos são, com toda a certeza, a
página de rosto do meu livro e por isso estou feliz que o
desfolhem.
Mas, em consciência absoluta, não tenho a certeza de
nada. Nem de nada de nada, nem de nada de nada de nada.
Assim, repetido, até me sinto ridículo.
ÍNDICE
Caminhos da vida......................................................................... 6
Escolhas na vida........................................................................... 8
Fruto proibido............................................................................ 10
Nova viagem.............................................................................. 12
A Mulher.................................................................................... 13
Troquei os pés pelas mãos......................................................... 15
O toque...................................................................................... 17
Segredo...................................................................................... 18
Eivado........................................................................................ 22
Castigo....................................................................................... 23
50.º aniversário.......................................................................... 26
6
Caminhos da vida
Maria é uma mulher como tantas outras, esposa, mãe e
trabalhadora. Vive entre o presente, em que toma consciência
da sua própria existência como mulher, e o passado arrastado na
sombra de uma sociedade que apenas a conforta.
A inquietação interior atormenta-a. A exigência está
presente.
Desassossegada e sincera, vive
assustada com a possibilidade de
várias pessoas habitarem no seu
corpo. O vazio dentro de uma relação
não é seu modo de vida. Contradição?!
Não tanto quanto possa parecer.
O mundo que pulula dentro de si
impele-a para o desconhecido e choca
com a terra de ninguém que é a sua realidade atual. Como é
possível ter chegado a tal solidão? Como pode amar… ainda… e
não se sentir em casa na sua relação? Olha em redor, tantos
compartimentos, tantas salas, tantos quartos, mas tudo tão
diminuto. Tanto espaço de sobrevivência e tão pouco de
vivência. Quando é que se deixaram controlar pelos tabus, pelo
formalismo, pelas aparências? Quando é que se esqueceram de
se apaixonar todas as manhãs, com o brilho do primeiro olhar?
Quando é que deixaram de se seduzir? Quando é que o tremor
da pele deixou de revelar anseios irreprimíveis? Quando é que
vestir passou a ser um ritual mais importante do que despir?
7
Apaixonada e cúmplice, sente que o choque entre ambos é
inevitável. O amor vive e prospera graças à cumplicidade e não
segura ninguém sem ela.
O cansaço que se apodera de Maria leva-a a deixar de
procurar o que lhe faz bem e acaba por ceder ao compromisso e
conformismo. Mergulha nas redes sociais onde pode ser quem
quiser. Onde o elogio é um ato banal e interesseiro. Engana-se a
si mesma conscientemente.
A exigência deixa de estar presente.
As atitudes refletem quem é. As palavras são de ocasião.
A vida não a ensina. Devia.
8
Escolhas na vida
Maria acorda de bem com a vida, sorri e irradia
felicidade. Os cabelos embranquecem, mas a sua
jovialidade mantém-se e, bem vistas as coisas, nada que
uma ida ao cabeleireiro não ajude.
Que se passa na vida de Maria que lhe desperta estas
sensações ao acordar?! O segredo que a percorre não é
transmissível. Nem nunca o deve ser.
É bom demais para ser julgado por
quem nunca vive a sua própria vida.
Ela sabe disso e faz dele seu modo
de vida, em que nenhuma história é
escrita sem a cumplicidade de outras
mãos, sedutoras, que estão sempre
presentes.
O segredo que a acompanha
enriquece-a. Rejuvenesce-a porque a sua felicidade
também está nesses momentos. A conversa que partilha,
recheada de sensações e subtis provocações, deixam-na
nesse estado emocional. Esses são sempre momentos de
excitação – que perduram até ao outro dia. Afinal, a
sensação de «cheio» depois de uma excelente refeição só
dura até voltarmos a ter vontade de comer!
Viver a vida significa para Maria seguir em frente. Não
deixar nada para trás. Ela é o resultado de todos esses
momentos felizes, ou não, que viveu. A ingratidão é o
sentimento que Maria não suporta. Sabe que na vida até o
amor eterno tem fim e que se usa o termo felicidade para
9
descrever muitos estados diferentes e situações efémeras.
Mas não aceita a ingratidão de quem a nega, avilta o
passado e refuta os êxtases vividos. Isso não.
Quando se age para satisfação imediata dos próprios
desejos, ou do que lhes é imposto, sem tomar em atenção
o bem de quem partilhou a felicidade que até era
duradoura… fica sempre um rasto e não deixa a vida seguir.
Maria sai de casa, e a forma como se veste e caminha
são os seus modos de comunicar. O que vestimos e como
percorremos o caminho enviam sempre uma mensagem.
Modesta, séria e sedutora não fazem dela uma mulher
vulgar. Mas a vida tem sido generosa para Maria. O
respeito e o saber-se respeitar fazem toda a diferença. Não
é mais ou menos Santa que as outras. É discreta quando
quer e sempre leal – mesmo quando a emoção trai a razão.
Maria cultiva a responsabilidade familiar e social.
Maria é mulher amante!
10
Fruto proibido
Maria sempre foi uma mulher especial e interessante. O
seu sorriso verdadeiro e o seu corpo altivo davam-lhe um
semblante de Mulher encantadora. Vivia, no entanto, a vida com
muito formalismo e nem lhe ocorria que existia dentro dela mais
vida…
Tinha potencial e este revelou-se quando nada o fazia crer.
Maria provou e gostou. Quis mais. Ser mais. Sair da sua zona de
conforto.
Maria surpreende-se a si mesma. A vida ganha outro sabor.
A adrenalina seduze-a. A aventura excita-a. Os seus princípios
sofrem uma mutação. Os limites são outros. A vida para Maria já
não se compadece com a rotina.
O cuidado consigo cresce. O seu ego e autoestima sobem.
O seu secreto parceiro é agora o
alvo de todas as atenções. Agradar-lhe,
mesmo em momentos curtos, é um
investimento. O prazer dele também é o
seu. É sempre recompensada.
Os tabus caiem. As aventuras
aumentam em contraciclo a essas
quedas. E valem bem a pena.
Maria percebe que vale mais a
paixão de um homem que os piropos de
uma dezena. Alimenta-se de paixão e não de palavras
circunstanciais. Não está disponível para qualquer um.
11
Maria faz por valer a pena e a sua vida ganha novos
prazeres e um sorriso maroto que lhe fica maravilhosamente.
Mas… Maria tem de optar. E nessa contradição da vida,
entre o compromisso e o secretismo da relação censurada, acaba
por ceder.
Fez tudo para ficar até ao limite.
Tem de renunciar ao fruto proibido.
Maria volta à sua zona de conforto… de novo.
12
Nova viagem
Maria pensa em muita coisa, com exceção da possibilidade de
mudar seu modo de ser por alguém.
Isso está fora de questão.
O problema está neles.
Ambos são culpados e vítimas.
Não espera ninguém perfeito.
Dispensa perfeições.
Já não acredita neste amor.
Quem ama não trata assim. Não maltrata.
A conclusão é que está sozinha.
Só ela pensa tanto nele.
Decididamente não é merecedor do tanto que lhe dedica, do
bem que gosta de lhe fazer.
Está a insistir demais em algo que não existe.
Ao seu lado a vida fazia mais sentido, mas…
Maria parte em nova viagem sem destino.
13
A Mulher
Aquela
a interessante
a que olha fugazmente
de sorriso inocente
uma beleza rara
a de um perfume inebriante.
A Mulher com cheiro a mar
conchas em corpo desenhado
escamas de sentir
A Mulher
de ventre
a que germina
a valiosa amiga
a mãe esposada,
amante condenada a amar.
Caminheira do longe
onde a maré apaga as pegadas
porém…
14
A Mulher
manter-se-á mistério,
areal a percorrer
preia-mar ou ondulação.
Mão na mão
ternura e cumplicidade
enamorada
a que convida
Vamos amar escondidos?!
15
Troquei os pés pelas mãos
…e naquele banco onde, quase, ninguém se sentava ou falava
por mim, ali estavas tu.
Tu – menina no banco sentada, nesse jardim, banhado pelo rio,
onde a única flor eras tu, ali sem companhia sem nada, até
parece que desafiavas o Inverno com os teus olhos de cor que
não sei dizer, e eu fui ao teu encontro.
Reparei… sou atento – sabes disso!
Estavas descalça, como que impelisses os meus olhos a olharem
os teus pés nus, ali sem nada.
Formosos, descalços e nus!
Parecias perdida, tu – menina no
banco sentada, sozinha ali só com
os meus olhos aos teus pés, e eu
perguntava em voz simétrica ao
nosso silêncio: «Encontrei-te ou
foste tu que estavas
desencontrada?»
Vou dar-te o momento, o sorriso
espontâneo e cativante ao encontro
dos teus olhos brilhantes – nunca saberei
se de chorares, a concluir de teu semblante
fechado, se de minha sombra encadeada pelo sol.
16
E nesse momento meu, um impulso castrante se deu, baixei-me
ao teu chão, desenhei um rabisco tentando desarmar um sorriso
teu, e foi ali que o sol pousou na tua boca.
Troquei os teus pés pelas tuas mãos…
Beijei-as.
Sorriste.
Pensei…
Afinal é um encontro meu ou apenas um desencontro teu?!
17
O toque
O toque é mais que encostar:
é sentir a pele arrepiar
é um diálogo a iniciar.
Mãos que se entrelaçam
anunciam tua chegada
e só mesmo a lua
testemunha nossa cumplicidade.
O toque é mais que um gesto
é o refúgio – a excitação.
Teu toque é prazer!
18
Segredo
Sensação de janela aberta
ouvidos e boca
prontos a saltar…
na verdade.
Ar renovado e retemperador
Libertador
Desembrulhador das asas entorpecidas
das palavras acorrentadas
que poluem a mente;
Enche-nos
Habita-nos
Esvai-nos
Deliciosa sensação de
… um segredo nosso!
Só nosso – «O nosso!»
Ao segredo
à nossa cumplicidade
ao reservado
se tanto que partilhamos;
Guardamos
não trocando por nada
19
o nosso segredo
quase maior que o mundo
na hora certa
no nosso tempo
no nosso longo caminho.
20
Ser livre
Gelo no fogo
provoca anseio
chora de rir
Ganha ou perde
é louco
Ama, desafia, apaixona
é encontro, chegada e partida!
Vive em livre Ser.
Aprisionada, desperdiças teu Viver!
E se comprasses bilhete
Daquele que gera Liberdade?!
Cumplicidade na viagem
na oportunidade
Respeita-te a ti
Se nasceste livre!
21
Verdade…
em ti,
Sorri e …
vive,
Resistes e …
persistes.
Sempre livre…
só ou não!
22
Eivado
Triste saber-me assim,
Saber que vivo do ar.
No gelo da tua rotina
Eivado de amar.
23
Castigo
O Vítor era o miúdo mais traquina da Zona da Sé, não havia
dia nenhum que não se metesse em sarilhos! A tia Lili, uma
senhora já com uma certa idade, era quem tomava conta dele
enquanto os pais estavam a trabalhar.
Para variar, o Vítor tinha pregado uma partida feia à tia Lili e
ela pô-lo de castigo... Sentado numa cadeira, no meio da
cozinha, lá estava o Vítor sem autorização para se mexer ou
falar! Mas ninguém o podia impedir de pensar, usar a sua
imaginação e inventar uma história para contar, logo mais à
noitinha, ao pai ou à mãe, quando estes lhe perguntassem o que
tinha feito durante o dia!
Hoje está um lindo dia para dar um passeio, vou ver se
encontro algum amigo lá fora para brincar. Então, à medida que
se embrenhava nas ruas, não via nenhum amigo para brincar,
mas olhava admirado para as árvores plantadas nos passeios.
Como eram grandes e sombrias, pensava...
Foi então que algo lhe chamou deveras a atenção. Ficava
longe, parecia uma bola vermelha suspensa no ar e brilhava
como uma Bola de Natal.
24
Mas que coisa seria aquela, pensava o Vítor, enquanto se
aproximava um pouco mais... Uma maçã! Sim, parecia uma bela
maçã redonda e grande como ele nunca vira antes.
Estava decidido, ele queria aquela maçã. Não importava
como ia consegui-la, estava disposto a tudo para alcançar os seus
intentos. Se fosse mesmo necessário, o Vítor estava decidido a
subir a árvore. Sim, era isso mesmo, ia subir a árvore. Quando ia
já a meio do caminho, uma pernada onde se sustentava quebrou
e ele caiu. Magoou-se um pouco, mas não queria desistir e então
pensou para si:
- Não prestei atenção onde pus os pés... Desta vez vou subir
com mais cuidado!
Decidido, resolveu subir outra vez. E nesse momento,
quando nada o faria prever, começou a cair uma chuva muito
forte seguida de trovões. Mas o Vítor não tinha medo da
trovoada e muito menos da chuva. Estava quase a conseguir
quando, de repente, viu um enorme relâmpago e um raio muito
brilhante se abateu sobre a árvore, mesmo junto a ele. O Vítor
apanhou o maior susto da sua vida e, de novo, caiu da árvore.
Estava quase a desistir, mas eis que a chuva parou de cair e
o Vítor imaginou o quão deliciosa e suculenta deve ser aquela
bela maçã vermelha. Mais uma vez, decidiu-se a subir. Quando já
tinha subido um bom pedaço, alguns ramos caíram. Ele deu um
pulo para sair da frente deles e não se magoar novamente.
Depois de analisar a situação com cuidado, decidiu que o
melhor seria subir com uma corda e assim fez. Mas o Vítor não
estava com sorte e, no meio da subida, a corda partiu-se e ele
caiu uma vez mais...
25
O Vítor começou a achar que já eram obstáculos a mais e se
calhar não conseguia subir ao cimo porque a maçã devia ser
mágica e não queria ser colhida.
Pensou e repensou e decidiu que só lhe restava mais uma
hipótese: construir uma escada para subir. E se bem pensou,
melhor o fez...
Depois de terminar a escada, ele subiu e sorrindo
comentou:
- Com a escada parece tudo mais fácil, acho que desta vez
consigo!
E finalmente chegou ao cimo da árvore. Muito contente,
olhou a maçã e exclamou:
- Valeu a pena o trabalho que tive. Depois de tantas
dificuldades, pareces ainda mais bonita!
E colheu a fruta.
Vitorioso, desceu e foi para casa. Enquanto isso, pensava
no que a tia Lili lhe dissera:
- Vitinho os obstáculos existirão sempre na vida das
pessoas. Lutar e tentar vencê-los é o verdadeiro desafio.
Talvez se ele lhe oferecer a maçã que custou tanto a colher,
ela o deixe ir para a rua jogar à bola.
26
50.º aniversário
Um número – mais um!
É irrelevante.
Que venham outros…
diferentes paladares de vivências
mas nesta mesma estrada
Faço o meu caminho
a meu lado quem quer
comprometido comigo.
Chão cheio de histórias
com gente que faz vida
todos fazem parte
é a história da vida.
Hoje – mais um dia
Não quero saber de números!
Estou aqui…
quem partiu deixou o vazio
guardo espaço a quem ficar
a quem entra.
Quero continuar
nem melhor ou pior
apenas estando de pé
27
As (im)perfeições estão cá
o observatório de aniversários
cabelos brancos e rugas nas expressões
Existo
Nasci de novo
Mais um dia e…
(liber)idade minha.

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A participação dos pais na atividade desportiva dos filho por Vitor Santos
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dozeatrevimentos

  • 2. © 2017, Vítor Santos Candonga Editores Título: dozeatrevimentos Autor: Vítor Santos (www.facebook.com/vitorsantos1967) Revisão: Alda Batista Desenhos: Paulo Medeiros Fotos: Vítor Santos & P.
  • 3. As rugas e os cabelos brancos são, com toda a certeza, a página de rosto do meu livro e por isso estou feliz que o desfolhem. Mas, em consciência absoluta, não tenho a certeza de nada. Nem de nada de nada, nem de nada de nada de nada. Assim, repetido, até me sinto ridículo.
  • 4.
  • 5. ÍNDICE Caminhos da vida......................................................................... 6 Escolhas na vida........................................................................... 8 Fruto proibido............................................................................ 10 Nova viagem.............................................................................. 12 A Mulher.................................................................................... 13 Troquei os pés pelas mãos......................................................... 15 O toque...................................................................................... 17 Segredo...................................................................................... 18 Eivado........................................................................................ 22 Castigo....................................................................................... 23 50.º aniversário.......................................................................... 26
  • 6.
  • 7. 6 Caminhos da vida Maria é uma mulher como tantas outras, esposa, mãe e trabalhadora. Vive entre o presente, em que toma consciência da sua própria existência como mulher, e o passado arrastado na sombra de uma sociedade que apenas a conforta. A inquietação interior atormenta-a. A exigência está presente. Desassossegada e sincera, vive assustada com a possibilidade de várias pessoas habitarem no seu corpo. O vazio dentro de uma relação não é seu modo de vida. Contradição?! Não tanto quanto possa parecer. O mundo que pulula dentro de si impele-a para o desconhecido e choca com a terra de ninguém que é a sua realidade atual. Como é possível ter chegado a tal solidão? Como pode amar… ainda… e não se sentir em casa na sua relação? Olha em redor, tantos compartimentos, tantas salas, tantos quartos, mas tudo tão diminuto. Tanto espaço de sobrevivência e tão pouco de vivência. Quando é que se deixaram controlar pelos tabus, pelo formalismo, pelas aparências? Quando é que se esqueceram de se apaixonar todas as manhãs, com o brilho do primeiro olhar? Quando é que deixaram de se seduzir? Quando é que o tremor da pele deixou de revelar anseios irreprimíveis? Quando é que vestir passou a ser um ritual mais importante do que despir?
  • 8. 7 Apaixonada e cúmplice, sente que o choque entre ambos é inevitável. O amor vive e prospera graças à cumplicidade e não segura ninguém sem ela. O cansaço que se apodera de Maria leva-a a deixar de procurar o que lhe faz bem e acaba por ceder ao compromisso e conformismo. Mergulha nas redes sociais onde pode ser quem quiser. Onde o elogio é um ato banal e interesseiro. Engana-se a si mesma conscientemente. A exigência deixa de estar presente. As atitudes refletem quem é. As palavras são de ocasião. A vida não a ensina. Devia.
  • 9. 8 Escolhas na vida Maria acorda de bem com a vida, sorri e irradia felicidade. Os cabelos embranquecem, mas a sua jovialidade mantém-se e, bem vistas as coisas, nada que uma ida ao cabeleireiro não ajude. Que se passa na vida de Maria que lhe desperta estas sensações ao acordar?! O segredo que a percorre não é transmissível. Nem nunca o deve ser. É bom demais para ser julgado por quem nunca vive a sua própria vida. Ela sabe disso e faz dele seu modo de vida, em que nenhuma história é escrita sem a cumplicidade de outras mãos, sedutoras, que estão sempre presentes. O segredo que a acompanha enriquece-a. Rejuvenesce-a porque a sua felicidade também está nesses momentos. A conversa que partilha, recheada de sensações e subtis provocações, deixam-na nesse estado emocional. Esses são sempre momentos de excitação – que perduram até ao outro dia. Afinal, a sensação de «cheio» depois de uma excelente refeição só dura até voltarmos a ter vontade de comer! Viver a vida significa para Maria seguir em frente. Não deixar nada para trás. Ela é o resultado de todos esses momentos felizes, ou não, que viveu. A ingratidão é o sentimento que Maria não suporta. Sabe que na vida até o amor eterno tem fim e que se usa o termo felicidade para
  • 10. 9 descrever muitos estados diferentes e situações efémeras. Mas não aceita a ingratidão de quem a nega, avilta o passado e refuta os êxtases vividos. Isso não. Quando se age para satisfação imediata dos próprios desejos, ou do que lhes é imposto, sem tomar em atenção o bem de quem partilhou a felicidade que até era duradoura… fica sempre um rasto e não deixa a vida seguir. Maria sai de casa, e a forma como se veste e caminha são os seus modos de comunicar. O que vestimos e como percorremos o caminho enviam sempre uma mensagem. Modesta, séria e sedutora não fazem dela uma mulher vulgar. Mas a vida tem sido generosa para Maria. O respeito e o saber-se respeitar fazem toda a diferença. Não é mais ou menos Santa que as outras. É discreta quando quer e sempre leal – mesmo quando a emoção trai a razão. Maria cultiva a responsabilidade familiar e social. Maria é mulher amante!
  • 11. 10 Fruto proibido Maria sempre foi uma mulher especial e interessante. O seu sorriso verdadeiro e o seu corpo altivo davam-lhe um semblante de Mulher encantadora. Vivia, no entanto, a vida com muito formalismo e nem lhe ocorria que existia dentro dela mais vida… Tinha potencial e este revelou-se quando nada o fazia crer. Maria provou e gostou. Quis mais. Ser mais. Sair da sua zona de conforto. Maria surpreende-se a si mesma. A vida ganha outro sabor. A adrenalina seduze-a. A aventura excita-a. Os seus princípios sofrem uma mutação. Os limites são outros. A vida para Maria já não se compadece com a rotina. O cuidado consigo cresce. O seu ego e autoestima sobem. O seu secreto parceiro é agora o alvo de todas as atenções. Agradar-lhe, mesmo em momentos curtos, é um investimento. O prazer dele também é o seu. É sempre recompensada. Os tabus caiem. As aventuras aumentam em contraciclo a essas quedas. E valem bem a pena. Maria percebe que vale mais a paixão de um homem que os piropos de uma dezena. Alimenta-se de paixão e não de palavras circunstanciais. Não está disponível para qualquer um.
  • 12. 11 Maria faz por valer a pena e a sua vida ganha novos prazeres e um sorriso maroto que lhe fica maravilhosamente. Mas… Maria tem de optar. E nessa contradição da vida, entre o compromisso e o secretismo da relação censurada, acaba por ceder. Fez tudo para ficar até ao limite. Tem de renunciar ao fruto proibido. Maria volta à sua zona de conforto… de novo.
  • 13. 12 Nova viagem Maria pensa em muita coisa, com exceção da possibilidade de mudar seu modo de ser por alguém. Isso está fora de questão. O problema está neles. Ambos são culpados e vítimas. Não espera ninguém perfeito. Dispensa perfeições. Já não acredita neste amor. Quem ama não trata assim. Não maltrata. A conclusão é que está sozinha. Só ela pensa tanto nele. Decididamente não é merecedor do tanto que lhe dedica, do bem que gosta de lhe fazer. Está a insistir demais em algo que não existe. Ao seu lado a vida fazia mais sentido, mas… Maria parte em nova viagem sem destino.
  • 14. 13 A Mulher Aquela a interessante a que olha fugazmente de sorriso inocente uma beleza rara a de um perfume inebriante. A Mulher com cheiro a mar conchas em corpo desenhado escamas de sentir A Mulher de ventre a que germina a valiosa amiga a mãe esposada, amante condenada a amar. Caminheira do longe onde a maré apaga as pegadas porém…
  • 15. 14 A Mulher manter-se-á mistério, areal a percorrer preia-mar ou ondulação. Mão na mão ternura e cumplicidade enamorada a que convida Vamos amar escondidos?!
  • 16. 15 Troquei os pés pelas mãos …e naquele banco onde, quase, ninguém se sentava ou falava por mim, ali estavas tu. Tu – menina no banco sentada, nesse jardim, banhado pelo rio, onde a única flor eras tu, ali sem companhia sem nada, até parece que desafiavas o Inverno com os teus olhos de cor que não sei dizer, e eu fui ao teu encontro. Reparei… sou atento – sabes disso! Estavas descalça, como que impelisses os meus olhos a olharem os teus pés nus, ali sem nada. Formosos, descalços e nus! Parecias perdida, tu – menina no banco sentada, sozinha ali só com os meus olhos aos teus pés, e eu perguntava em voz simétrica ao nosso silêncio: «Encontrei-te ou foste tu que estavas desencontrada?» Vou dar-te o momento, o sorriso espontâneo e cativante ao encontro dos teus olhos brilhantes – nunca saberei se de chorares, a concluir de teu semblante fechado, se de minha sombra encadeada pelo sol.
  • 17. 16 E nesse momento meu, um impulso castrante se deu, baixei-me ao teu chão, desenhei um rabisco tentando desarmar um sorriso teu, e foi ali que o sol pousou na tua boca. Troquei os teus pés pelas tuas mãos… Beijei-as. Sorriste. Pensei… Afinal é um encontro meu ou apenas um desencontro teu?!
  • 18. 17 O toque O toque é mais que encostar: é sentir a pele arrepiar é um diálogo a iniciar. Mãos que se entrelaçam anunciam tua chegada e só mesmo a lua testemunha nossa cumplicidade. O toque é mais que um gesto é o refúgio – a excitação. Teu toque é prazer!
  • 19. 18 Segredo Sensação de janela aberta ouvidos e boca prontos a saltar… na verdade. Ar renovado e retemperador Libertador Desembrulhador das asas entorpecidas das palavras acorrentadas que poluem a mente; Enche-nos Habita-nos Esvai-nos Deliciosa sensação de … um segredo nosso! Só nosso – «O nosso!» Ao segredo à nossa cumplicidade ao reservado se tanto que partilhamos; Guardamos não trocando por nada
  • 20. 19 o nosso segredo quase maior que o mundo na hora certa no nosso tempo no nosso longo caminho.
  • 21. 20 Ser livre Gelo no fogo provoca anseio chora de rir Ganha ou perde é louco Ama, desafia, apaixona é encontro, chegada e partida! Vive em livre Ser. Aprisionada, desperdiças teu Viver! E se comprasses bilhete Daquele que gera Liberdade?! Cumplicidade na viagem na oportunidade Respeita-te a ti Se nasceste livre!
  • 22. 21 Verdade… em ti, Sorri e … vive, Resistes e … persistes. Sempre livre… só ou não!
  • 23. 22 Eivado Triste saber-me assim, Saber que vivo do ar. No gelo da tua rotina Eivado de amar.
  • 24. 23 Castigo O Vítor era o miúdo mais traquina da Zona da Sé, não havia dia nenhum que não se metesse em sarilhos! A tia Lili, uma senhora já com uma certa idade, era quem tomava conta dele enquanto os pais estavam a trabalhar. Para variar, o Vítor tinha pregado uma partida feia à tia Lili e ela pô-lo de castigo... Sentado numa cadeira, no meio da cozinha, lá estava o Vítor sem autorização para se mexer ou falar! Mas ninguém o podia impedir de pensar, usar a sua imaginação e inventar uma história para contar, logo mais à noitinha, ao pai ou à mãe, quando estes lhe perguntassem o que tinha feito durante o dia! Hoje está um lindo dia para dar um passeio, vou ver se encontro algum amigo lá fora para brincar. Então, à medida que se embrenhava nas ruas, não via nenhum amigo para brincar, mas olhava admirado para as árvores plantadas nos passeios. Como eram grandes e sombrias, pensava... Foi então que algo lhe chamou deveras a atenção. Ficava longe, parecia uma bola vermelha suspensa no ar e brilhava como uma Bola de Natal.
  • 25. 24 Mas que coisa seria aquela, pensava o Vítor, enquanto se aproximava um pouco mais... Uma maçã! Sim, parecia uma bela maçã redonda e grande como ele nunca vira antes. Estava decidido, ele queria aquela maçã. Não importava como ia consegui-la, estava disposto a tudo para alcançar os seus intentos. Se fosse mesmo necessário, o Vítor estava decidido a subir a árvore. Sim, era isso mesmo, ia subir a árvore. Quando ia já a meio do caminho, uma pernada onde se sustentava quebrou e ele caiu. Magoou-se um pouco, mas não queria desistir e então pensou para si: - Não prestei atenção onde pus os pés... Desta vez vou subir com mais cuidado! Decidido, resolveu subir outra vez. E nesse momento, quando nada o faria prever, começou a cair uma chuva muito forte seguida de trovões. Mas o Vítor não tinha medo da trovoada e muito menos da chuva. Estava quase a conseguir quando, de repente, viu um enorme relâmpago e um raio muito brilhante se abateu sobre a árvore, mesmo junto a ele. O Vítor apanhou o maior susto da sua vida e, de novo, caiu da árvore. Estava quase a desistir, mas eis que a chuva parou de cair e o Vítor imaginou o quão deliciosa e suculenta deve ser aquela bela maçã vermelha. Mais uma vez, decidiu-se a subir. Quando já tinha subido um bom pedaço, alguns ramos caíram. Ele deu um pulo para sair da frente deles e não se magoar novamente. Depois de analisar a situação com cuidado, decidiu que o melhor seria subir com uma corda e assim fez. Mas o Vítor não estava com sorte e, no meio da subida, a corda partiu-se e ele caiu uma vez mais...
  • 26. 25 O Vítor começou a achar que já eram obstáculos a mais e se calhar não conseguia subir ao cimo porque a maçã devia ser mágica e não queria ser colhida. Pensou e repensou e decidiu que só lhe restava mais uma hipótese: construir uma escada para subir. E se bem pensou, melhor o fez... Depois de terminar a escada, ele subiu e sorrindo comentou: - Com a escada parece tudo mais fácil, acho que desta vez consigo! E finalmente chegou ao cimo da árvore. Muito contente, olhou a maçã e exclamou: - Valeu a pena o trabalho que tive. Depois de tantas dificuldades, pareces ainda mais bonita! E colheu a fruta. Vitorioso, desceu e foi para casa. Enquanto isso, pensava no que a tia Lili lhe dissera: - Vitinho os obstáculos existirão sempre na vida das pessoas. Lutar e tentar vencê-los é o verdadeiro desafio. Talvez se ele lhe oferecer a maçã que custou tanto a colher, ela o deixe ir para a rua jogar à bola.
  • 27. 26 50.º aniversário Um número – mais um! É irrelevante. Que venham outros… diferentes paladares de vivências mas nesta mesma estrada Faço o meu caminho a meu lado quem quer comprometido comigo. Chão cheio de histórias com gente que faz vida todos fazem parte é a história da vida. Hoje – mais um dia Não quero saber de números! Estou aqui… quem partiu deixou o vazio guardo espaço a quem ficar a quem entra. Quero continuar nem melhor ou pior apenas estando de pé
  • 28. 27 As (im)perfeições estão cá o observatório de aniversários cabelos brancos e rugas nas expressões Existo Nasci de novo Mais um dia e… (liber)idade minha.