1. A escola na pandemia...
Em primeiro lugar, há de se reconhecer a gravidade do cenário, os riscos trazidos pela
doença e a necessidade de cuidados como o distanciamento social para contenção do contágio. A
preocupação primeira agora é a manutenção da vida, da saúde, a sobrevivência, o que já exige
grandes esforços de toda a sociedade.
Nesse sentido, escolas, centros de educação infantil, universidades e outras instituições de
ensino precisaram suspender as atividades presenciais como medida de responsabilidade pela
preservação da saúde coletiva.
Nesse sentido, escolas, centros de educação infantil, universidades e outras instituições de
ensino precisaram suspender as atividades presenciais como medida de responsabilidade pela
preservação da saúde coletiva.
Sendo assim, instalou-se em todo país um panorama de promoção de aulas remotas,
atividades a distância, online, o que traz uma série de preocupações. A utilização das tecnologias
digitais de informação e comunicação não é, por si só, algo ruim ao processo educativo. Se bem
integradas ao planejamento pedagógico, podem ser interessantes recursos de trabalho. Contudo, há
de haver método, intencionalidade, complementaridade e estrutura para que sejam utilizadas. Do
contrário, o uso das tecnologias não servirá para uma expansão das possibilidades de aprendizagem,
mas como precarização do ensino.
São as principais preocupações que o uso desmedido dos recursos de ensino a distância tem
causado:
– A falta de estrutura e condições de acesso às atividades remotas por parte de estudantes
em diferentes contextos sociais. Desse modo, a educação remota provoca um aprofundamento das
desigualdades de condições e, em última análise, da exclusão.
– A dificuldade das famílias na promoção e acompanhamento das atividades escolares de
crianças e adolescentes, sobrecarregadas que estão com as tarefas domésticas, tentativa de
manutenção do sustento, a preocupação com a doença e mesmo situações de luto. Nesse sentido,
constatam-se diversos problemas práticos na rotina familiar e emocionais que as propostas de
educação a distância têm causado.
– A falta de capacidade das escolas de acompanhamento das diferentes necessidades
educacionais das(os) estudantes; falta de condições de interação com o público da educação
especial na perspectiva da educação inclusiva.
– Grande preocupação com processos de alfabetização a distância, para os quais não há
metodologia suficientemente aprofundada e difundida.
– Percebe-se que na maioria das vezes não há participação de educadoras(es) na definição da
metodologia a ser utilizada para o ensino. As equipes docentes frequentemente não são envolvidas
na proposição de estratégias, formas, tempos e conteúdos que podem ou não ser trabalhados de
maneira remota.
– A enorme exigência que se impõe às(aos) profissionais da educação, tanto no que diz
respeito às expertises para promoção de aulas online, preparação de conteúdos para uso remoto,
quanto de estrutura física, material, tecnológica, rede de internet, tempo extra para execução de
processos que são mais demorados do que sua carga horária remunerada contempla. Vale lembrar
que estas(es) profissionais também estão sobrecarregadas(os) com o excesso de demandas e
preocupações que o cenário de pandemia promove.
2. – Os danos emocionais que esse cenário promove a todos os sujeitos envolvidos,
potencializando sentimentos como a angústia, a ansiedade, a sensação de pressão, de cobrança
constante, de estafa.
Cabe destacar que os dilemas apresentados não se encerram com a pandemia. Os modos
com que passa a se admitir a promoção da educação formal deixam um grande lastro para
extinção de serviços e condições de trabalho em função dos custos, mesmo quando os efeitos
mais severos da pandemia passarem. Por exemplo, a promoção da educação presencial para jovens
e adultos, que já vem sendo ameaçada em várias partes do país (e em especial no Paraná), caso
extinta, ensejará grandes dificuldades para o público que dela necessita. Deste modo, o que se
percebe é a acentuação da responsabilização do indivíduo por seu processo formativo, enquanto
a responsabilidade da promoção de condições de ensino deveria ser do Estado e da sociedade
como um todo. Ou seja, cria-se lastro para o mercado da educação a distância em favor do lucro e
não da educação para a transformação social.
Por isso, o que se defende é a suspensão do calendário escolar como medida que causará
menores prejuízos a todas as pessoas envolvidas, admitindo que não há condições para a
manutenção dos conteúdos e objetivos curriculares neste momento singular pelo qual estamos
passando.
Após o período dos efeitos mais severos da pandemia, poderá se verificar a viabilidade de
reposição das aulas, ou mesmo a redução da carga horária do ano letivo. Há de se repensar a
forma de educar, com a participação indispensável das(os) professoras(es) neste processo. Assim,
poderão se desenvolver outras propostas pedagógicas, projetos integradores, transversalidade de
conteúdos, atividades conjuntas entre diferentes séries, turmas, disciplinas.
Nesse sentido, a escola (e as instituições de educação, em geral) poderá manter vínculos
com a comunidade educativa, promovendo momentos de troca, de integração e de apoio
conforme suas possibilidades e considerando a disponibilidade de cada família, mas não sob uma
perspectiva conteudista, voltada a resultados, à produtividade.
A educação não é descolada da vida. Não se pode reduzir a educação a uma perspectiva
conteudista, como se as disciplinas escolares fossem a parte mais relevante do processo.
Tão importante quanto a aquisição de conhecimentos historicamente sistematizados é
função da educação a promoção da socialização, da inclusão, da solidariedade, da diversidade, de
uma perspectiva crítica de mundo. A criação de novas perspectivas, novos papéis sociais.
Sendo assim, há muita aprendizagem no contexto que vivemos. Estamos aprendendo sobre
nós mesmos, sobre as relações sociais, familiares, as dinâmicas da vida em sociedade, a necessidade
do cuidado coletivo com a saúde. São aprendizagens significativas que deverão contribuir para
ressignificar o papel da escola.
Professora Tamar Oliveira