O documento resume a cena musical brasileira sob a ditadura militar entre as décadas de 1960 e 1970, marcada por movimentos como a Tropicália, a Jovem Guarda e canções de protesto. Artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque usaram metáforas para driblar a censura e criticar a repressão política por meio de suas músicas.
3. Tropicalismo: movimento musical que propunha a fusão da música “de raiz” com estilos
estrangeiros.
• Temas não se restringiam a política.
• Cantores: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes (Rita Lee) e o maestro
Rogério Druprat.
Viva a mata
Ta, ta
Viva a mulata
Ta, ta, ta, ta...(2x)
No pátio interno há uma piscina
Com água azul de Amaralina
Coqueiro, brisa
E fala nordestina
E faróis
Na mão direita tem uma roseira
Autenticando eterna primavera
E no jardim os urubus passeiam
A tarde inteira
Entre os girassóis...
Viva Maria
Ia, ia
Viva a Bahia
Ia, ia, ia, ia...(2x)
No pulso esquerdo o bang-bang
Em suas veias corre
Muito pouco sangue
Mas seu coração
Balança um samba de tamborim
Emite acordes dissonantes
Pelos cinco mil alto-falantes
Senhoras e senhores
Ele põe os olhos grandes
Sobre mim...
Viva Iracema
Ma, ma
Viva Ipanema
Ma, ma, ma, ma...(2x)
Domingo é o fino-da-bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai à roça
Porém!
O monumento é bem moderno
Não disse nada do modelo
Do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno
Meu bem!
Que tudo mais vá pro inferno
Meu bem!...
Viva a banda
Da, da
Carmem Miranda
Da, da, da, da...(3x)
(Caetano Veloso)
Tropicália:
Sobre a cabeça os aviões
Sob os meus pés os caminhões
Aponta contra os chapadões
Meu nariz
Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento
No planalto central do país...
Viva a bossa
Sa, sa
Viva a palhoça
Ca, ça, ça, ça...(2x)
O monumento
É de papel crepom e prata
Os olhos verdes da mulata
A cabeleira esconde
Atrás da verde mata
O luar do sertão
O monumento não tem porta
A entrada é uma rua antiga
Estreita e torta
E no joelho uma criança
Sorridente, feia e morta
Estende a mão...
4. Músicas de protesto:
- cantadas principalmente nos Festivais.
- grande engajamento político.
Pra não dizer que não falei de Flores
Geraldo Vandré
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não...
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(4x)
5. Metáforas para driblar a Ditadura Militar:
- muitos artistas utilizaram pseudônimos e metáforas em suas letras para enganar a censura.
Exemplo: Chico Buarque vira Julinho de Adelaide
Cálice
Chico Buarque
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...(2x)
Como beber
Dessa bebida amarga
Tragar a dor
Engolir a labuta
Mesmo calada a boca
Resta o peito
Silêncio na cidade
Não se escuta
De que me vale
Ser filho da santa
Melhor seria
Ser filho da outra
Outra realidade
Menos morta
Tanta mentira
Tanta força bruta...
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...
Como é difícil
Acordar calado
Se na calada da noite
Eu me dano
Quero lançar
Um grito desumano
Que é uma maneira
De ser escutado
Esse silêncio todo
Me atordoa
Atordoado
Eu permaneço atento
Na arquibancada
Prá a qualquer momento
Ver emergir
O monstro da lagoa...
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...
De muito gorda
A porca já não anda
(Cálice!)
De muito usada
A faca já não corta
Como é difícil
Pai, abrir a porta
(Cálice!)
Essa palavra
Presa na garganta
Esse pileque
Homérico no mundo
De que adianta
Ter boa vontade
Mesmo calado o peito
Resta a cuca
Dos bêbados
Do centro da cidade...
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...
Talvez o mundo
Não seja pequeno
(Cálice!)
Nem seja a vida
Um fato consumado
(Cálice!)
Quero inventar
O meu próprio pecado
(Cálice!)
Quero morrer
Do meu próprio veneno
(Pai! Cálice!)
Quero perder de vez
Tua cabeça
(Cálice!)
Minha cabeça
Perder teu juízo
(Cálice!)
Quero cheirar fumaça
De óleo diesel
(Cálice!)
Me embriagar
Até que alguém me esqueça
(Cálice!)
7. TIRO AO ÁLVARO - 1973 [Primeira Gravação em 1980]
(Adoniran Barbosa e Oswaldo Moles)
De tanto levar
Frechada do teu olhar
Meu peito até
Parece, sabe o que?
Táuba de tiro ao álvaro
Não tem mais onde furar
Não tem mais
Teu olhar mata mais do que
Bala de carabina
Que veneno istriquinina
Que peixeira de baiano
Teu olhar mata mais
Que atropelamento de artomórve
Mata mais que bala de revórve
8. ARUEIRA - 1967 [1971 na Coleção Abril HMPB]
(Geraldo Vandré)
Vim de longe vou mais longe
Quem tem fé vai me esperar
Escrevendo numa conta
Pra junto a gente cobrar
No dia que já vem vindo
Que esse mundo vai virar
Noite e dia vem de longe
Branco e preto a trabalhar
E o dono senhor de tudo
Sentado mandando dar
E a gente fazendo conta
Pro dia que vai chegar
Marinheiro, marinheiro quero ver você no mar
Eu também sou marinheiro eu também sei governar
Madeira de dar em doido vai descer até quebrar
É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar
9. BOI VOADOR NÃO PODE - 1973
(Chico Buarque e Ruy Guerra)
Quem foi, quem foi
Que falou no boi voador
Manda prender esse boi
Seja esse boi o que for
O boi ainda dá bode
Qual é a do boi que revoa
Boi realmente não pode
Voar à toa
É fora, é fora, é fora
É fora da lei, é fora do ar
É fora, é fora, é fora
Segura esse boi
É proibido voar
10. ACORDA AMOR - 1974
(Leonel Paiva e Julinho da Adelaide)
Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura viatura
Minha nossa santa criatura
Chame, chame, chame lá
Chame, chame o ladrão, chame o ladrão
Acorda amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão de escada
Fazendo confusão, que aflição
São os homens e eu aqui parado de pijama
Eu não gosto de passar vexame
Chame, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão
Se eu demorar uns meses
Convém, às vezes, você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha a roupa de domingo e pode me esquecer
Acorda amor
Que o bicho é brabo e não sossega
Se você corre o bicho pega
Se fica não sei não
Atenção
Não demora
Dia desses chega a sua hora
Não discuta à toa não reclame
Clame, chame lá, clame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão
Chame o ladrão
Não esqueça a escova, o sabonete e o violão
11.
12. ANGÉLICA - 1977
(Miltinho e Chico Buarque)
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse lamento
Só queria lembrar o tormento
Que fez o meu filho suspirar
Quem é essa mulher
Que canta sempre o mesmo arranjo
Só queria agasalhar meu anjo
E deixar seu corpo descansar
Quem é essa mulher
Que canta como dobra um sino
Queria cantar por meu menino
Que ele já não pode mais cantar
13. SOLANGE [SO LONELY] - 1985
(Sting - versão: Leo Jaime e Leoni)
Eu tinha tanto pra dizer
Metade eu tive que esquecer
E quando eu tento escrever
Seu nome vem me interromper
Eu tento me esparramar
E você quer me esconder
Eu já não posso nem cantar
Meus dentes rangem por você
Solange, Solange
É o fim Solange
Eu penso que vai tudo bem
E você vem me reprovar
E eu já não posso nem pensar
Que um dia ainda eu vou me vingar
Você é bem capaz de achar
Que o que eu mais gosto de fazer
Talvez só dê pra liberar
Com cortes pra depois do altar
Solange, Solange, Solange
É o fim, Solange
Para de me censolange
Ye ye ye I feel so lonely Ye ye ye
So so so, lan lan lan
Solange, Solange, Solange, é o fim Solange
14. CÁLICE – 1973 [Gravação em 1978]
(Gilberto Gil e Chico Buarque)
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
15. CÁLICE - 1973 (cont.)
(Gilberto Gil e Chico Buarque)
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça
19. Jovem Guarda:
- movimento profundamente influenciado pelo
rock e pelo pop internacional.
- principal cantor: Roberto Carlos.
- canções apolitizadas e alienadas, como:
Entrei na Rua Augusta
A 120 por hora
Toquei a turma toda
Do passeio prá fora
Com 3 pneus carecas
Sem usar a buzina
Parei a quatro dedos
Da esquina
Falou!
Vai! Vai! Johnny
Vai! Vai! Alfredo
Quem é da nossa gangue
Não tem medo...(2x)
Meu carro não tem breque
Não tem luz
Não tem buzina
Tem 3 carburadores
Todos os 3 envenenados
Só pára na subida
Quando falta a gasolina
Só passa se tiver
Sinal fechado
Tremendão!
Vai! Vai! Johnny
Vai! Vai! Alfredo
Quem é da nossa gangue
Não tem medo...(2x)
Toquei a 130
Com destino a cidade
No Anhangabaú
Botei mais velocidade
Com três pneus carecas
Derrapando na raia
Subi a Galeria Prestes Maia
Tremendão!
Vai! Vai! Johnny
Vai! Vai! Alfredo
Quem é da nossa gangue
Não tem medo...(2x)
20. Uma ideia na cabeça
uma câmera na mão
Glauber Rocha
Cacá Diegues
Cinema Novo
Arte Engajada
21. Formas de Contracultura no
Brasil:
• Cinema Novo:
Objetivo: tentar revolucionar o cinema brasileiro (estética e conteúdo).
Cineastas mais famosos: Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Ruy Guerra.
Características: antiimperialista; anticapitalista; denuncia do
subdesenvolvimento e da miséria de país; e defesa da justiça social e do
nacionalismo.
Filmes: Terra em Transe (1967) e Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber
Rocha, Vidas Secas (1963), de Pereira dos Santos.
24. A aldeia global:
Anos 60: popularização da TV no Brasil.
Consequências: - mudanças de hábitos entre os brasileiros.
- difusão do estilo de vida paulista e carioca (sede das transmissoras de TV).
- impressionante crescimento da Rede Globo, uma das aliadas da Ditadura.
25. “Conta a teu filho, meu filho, daquilo que nós passamos
Que havia fitas gravadas, retratos de corpo inteiro
Conta que nos encolhemos como animais espancados
Que ninguém teve coragem, que respirávamos baixo
Olhos fugindo dos olhos, as mãos frias e suadas
E conta que faz dez anos que temos pouca esperança
Que pedimos testemunho e não aguentamos mais
Talvez teu filho, meu filho, viva em mundo mais aberto
Mas é grave que lhe contes calmamente e nos mínimos detalhes
A história desses punhais cravados em nossas tardes
Porém, se por tudo isso renuncias a ter filhos como (alguns) renunciamos
Deixa inscritos, como eu deixo, sinais em troncos de árvores
Letras em papéis esquivos
Pra que não escureça essa lâmpada mesquinha
Relâmpago, fogo fátuo
Pura lembrança dos dias em que livres,
Fomos filhos de pais muito mais felizes
Conta a quem possas, meu filho
O que em ti forem palavras
Nos outros serão raízes”.
Renata Pallottini / 1974
26. Em 1978,
Geisel acaba com o AI-5,
restaura o habeas-corpus e
abre caminho para a volta
da democracia no Brasil
34. Campanha pelas Diretas Já
Em 1984, políticos de oposição,
artistas, jogadores de futebol e
milhões de brasileiros
participam do movimento das
Diretas Já.
35.
36.
37.
38. Para a decepção do povo, a
emenda Dante de Oliveira
não foi aprovada pela
Câmara dos Deputados
39.
40. 15 de janeiro de 1985
Colégio Eleitoral escolheria o
deputado Tancredo Neves, que
concorreu com Paulo Maluf, como
novo presidente da República.
41. Tancredo Neves
fazia parte da Aliança Democrática – o
grupo de oposição formado pelo
PMDB e pela Frente Liberal.
Era o fim do regime militar.
Porém Tancredo Neves fica doente
antes de assumir e acaba falecendo.