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nossos corpos se cruzaram, descruzaram, 
se enroscaram, boca, braços, 
sobre a cama e sobre o sofá. 
pronunciamos nomes justos, nomes duros, 
fogo e punhos, claros, acres, escuros. 
teus olhos, tuas fontes, matas e montes, 
são um corredor presente de voos possíveis. 
com meu aceso archote cego, 
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penetro tua noite, busco teu ego e mais. 
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até onde a língua segue seu trilho, 
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quando gozas meu coração perde o ritmo 
longe dos dicionários, enciclopédias, 
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nas curvas de um ideograma, 
onde está acesa nossa chama. 
* * *
decifrando teus abismos 
e teus açores 
emaranhei minha vida 
entre moinhos, 
atirei-me à sorte 
destes descaminhos. 
* * *
nota a nota 
toco teu corpo 
onde te faço música. 
face a face 
me concentro 
onde em ti me adentro. 
passo a passo 
te acompanho 
onde quer que estejas. 
boca a boca 
te sugo 
onde mato a minha sede. 
pouco a pouco 
te acendo 
onde te trago os desejos. 
* * *
de tuas entradas 
às tuas entranhas, 
da eterna morada 
dos teus segredos 
molhados, 
de mim, 
desde dentro, 
o momento 
é eterno. 
entre os teus lábios 
de rósea mucosa 
que abro 
e me abraçam, 
a cabeça, 
o tronco, 
o membro 
engolem 
o tempo. 
* * *
como se não te avistasse, 
diluída e mínima 
no dissoluto da despedida. 
como se não te perdesse, 
nas ruas, nas estações, 
de anseios inundada. 
como se não estivesses 
paralisada, imóvel, 
sem esperanças, perspectivas. 
como se tudo permitisses, 
vencida pela passagem 
implacável do tempo. 
como se tudo ocultasses, 
entre a boca e o sorriso, 
entre o copo e a bebida. 
* * *
pegou a minha vida 
como se eu fosse um trapo 
e nela limpou suas mãos. 
libertou-se da desesperança 
que lhe obstruía as artérias 
e da dor que lhe corroía os ossos. 
olhou nos meus olhos 
narcotizados ainda pela surpresa 
e derramou sobre mim sua piedade. 
e se sentiu casta, imaculada. 
* * *
selvagem o corpo que me alimenta, 
me sacia, vermelhos os íntimos lábios 
que a minha boca suga, explora, 
em pressa, inquieta, em ânsia, em fome. 
selvagem o corpo que me excita, quente, 
insone, que adentro e me habita, em sede, 
em desejo, em agonia, em sonho, em sismo. 
* * *
escrevi teu nome no vento. 
extraordinária angústia: 
os jornais e a falta de encanto 
do dia negaram a tua presença. 
* * *
sugar e ser sugado. 
teu corpo não me pertence 
nem dele tu és dona. 
lamber, chupar, 
ser chupado, 
a língua lambe 
tuas pétalas vermelhas, 
tua rosa, 
teu oculto botão 
até chegares ao céu 
entre gemidos, 
entre gritos, rugidos. 
diante da castidade 
com que abres as pernas 
conheces todos 
os humanos desejos. 
o instinto errante 
encontra o ponto 
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colher o fruto 
que os lábios permitem. 
boca impaciente que me suga, 
com voracidade chupa 
inteiro o membro rígido 
até receber 
meu jato apaixonado.
mais que ser comido, 
ser fruído 
até esgotar meu cálido sumo, 
até me deixares flácido. 
sem que te pedisse, 
sem que esperasse, 
te ajoelhas em posição devota 
e me concedes a tua piedade. 
* * *
teu amor fala com as palavras 
de um idioma que desconheço, 
permanece preso em minha garganta, 
fala ao meu coração que bate, 
fala aos meus olhos que observam, 
que descobrem mas não alcançam, 
canta o silêncio dos apaixonados. 
não desejes minha alma nua 
sob esta atmosfera serena 
neste fim de tarde. 
o mundo é tão solitário, 
um lugar de batalhas 
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ainda que hajam jardins. 
esqueça-me. 
sou ácido demais para os seus sorrisos, 
cético demais para os seus objetivos, 
incoerente ao extremo para os seus ânimos , 
extremamente áspero para os seus lábios. 
não olhes para trás. 
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  • 1.
  • 2. nossos corpos se cruzaram, descruzaram, se enroscaram, boca, braços, sobre a cama e sobre o sofá. pronunciamos nomes justos, nomes duros, fogo e punhos, claros, acres, escuros. teus olhos, tuas fontes, matas e montes, são um corredor presente de voos possíveis. com meu aceso archote cego, cruzo as ondas caladas de um longínquo cais, penetro tua noite, busco teu ego e mais. colho com a repentina mão do delírio a flor do teu sorriso dentro das árvores, dentro da terra, dentro de mim, até onde a língua segue seu trilho, até onde vai do beijo o seu brilho. quando gozas meu coração perde o ritmo longe dos dicionários, enciclopédias, antologias, coletâneas, compêndios, amarras, nas curvas de um ideograma, onde está acesa nossa chama. * * *
  • 3. decifrando teus abismos e teus açores emaranhei minha vida entre moinhos, atirei-me à sorte destes descaminhos. * * *
  • 4. nota a nota toco teu corpo onde te faço música. face a face me concentro onde em ti me adentro. passo a passo te acompanho onde quer que estejas. boca a boca te sugo onde mato a minha sede. pouco a pouco te acendo onde te trago os desejos. * * *
  • 5. de tuas entradas às tuas entranhas, da eterna morada dos teus segredos molhados, de mim, desde dentro, o momento é eterno. entre os teus lábios de rósea mucosa que abro e me abraçam, a cabeça, o tronco, o membro engolem o tempo. * * *
  • 6. como se não te avistasse, diluída e mínima no dissoluto da despedida. como se não te perdesse, nas ruas, nas estações, de anseios inundada. como se não estivesses paralisada, imóvel, sem esperanças, perspectivas. como se tudo permitisses, vencida pela passagem implacável do tempo. como se tudo ocultasses, entre a boca e o sorriso, entre o copo e a bebida. * * *
  • 7. pegou a minha vida como se eu fosse um trapo e nela limpou suas mãos. libertou-se da desesperança que lhe obstruía as artérias e da dor que lhe corroía os ossos. olhou nos meus olhos narcotizados ainda pela surpresa e derramou sobre mim sua piedade. e se sentiu casta, imaculada. * * *
  • 8. selvagem o corpo que me alimenta, me sacia, vermelhos os íntimos lábios que a minha boca suga, explora, em pressa, inquieta, em ânsia, em fome. selvagem o corpo que me excita, quente, insone, que adentro e me habita, em sede, em desejo, em agonia, em sonho, em sismo. * * *
  • 9. escrevi teu nome no vento. extraordinária angústia: os jornais e a falta de encanto do dia negaram a tua presença. * * *
  • 10. sugar e ser sugado. teu corpo não me pertence nem dele tu és dona. lamber, chupar, ser chupado, a língua lambe tuas pétalas vermelhas, tua rosa, teu oculto botão até chegares ao céu entre gemidos, entre gritos, rugidos. diante da castidade com que abres as pernas conheces todos os humanos desejos. o instinto errante encontra o ponto onde é possível colher o fruto que os lábios permitem. boca impaciente que me suga, com voracidade chupa inteiro o membro rígido até receber meu jato apaixonado.
  • 11. mais que ser comido, ser fruído até esgotar meu cálido sumo, até me deixares flácido. sem que te pedisse, sem que esperasse, te ajoelhas em posição devota e me concedes a tua piedade. * * *
  • 12. teu amor fala com as palavras de um idioma que desconheço, permanece preso em minha garganta, fala ao meu coração que bate, fala aos meus olhos que observam, que descobrem mas não alcançam, canta o silêncio dos apaixonados. não desejes minha alma nua sob esta atmosfera serena neste fim de tarde. o mundo é tão solitário, um lugar de batalhas e olhares frios, ainda que hajam jardins. esqueça-me. sou ácido demais para os seus sorrisos, cético demais para os seus objetivos, incoerente ao extremo para os seus ânimos , extremamente áspero para os seus lábios. não olhes para trás. * * *
  • 13. Este livro está a venda em: http://sergioprof.wordpress.com * * * Contato: blog: http://sergioprof.wordpress.com/ facebook: http://www.facebook.com/sergio.almeida.jardim twitter: http://twitter.com/SERGI0_ALMEIDA linkedin: http://br.linkedin.com/pub/jardim/2b/22/a7b google +: https://plus.google.com/+sergioalmeidaJardim skoob: http://www.skoob.com.br/autor/7181-jardim