O documento discute as seis funções da linguagem no ato da comunicação: 1) Função referencial ou denotativa, 2) Função emotiva ou expressiva, 3) Função apelativa ou conativa, 4) Função fática ou de contato, 5) Função metalinguística, 6) Função poética. Exemplos ilustram cada uma dessas funções da linguagem.
2. Ao usar a linguagem no ato da
comunicação, fazemo-lo, na maioria das
vezes, de forma automática. Na realidade, o
falante ou o escrevente, para transmitir a
mensagem, escolhe as palavras e as frases
de acordo com a ênfase que pretende dar a
este ou àquele componente do processo
comunicativo, desse modo, orienta a
linguagem de acordo com a função que ele
quer que ela exerça.
A linguagem possui seis funções, todas
relacionadas com os elementos do ato
comunicativo. São elas:
3. 1.Função referencial ou denotativa
O comunicador a utiliza quando tem a
intenção de apenas transmitir alguma
informação, dar alguma notícia, descrever
um objeto ou relatar e explicar um aspecto
científico da realidade, não permitindo mais
de uma interpretação. Para isso, escolhe
uma linguagem clara e objetiva, atendo-se
ao sentido comum e preciso das palavras,
como é o caso do texto 2 sobre florestas
tropicais.
4. 2.Função emotiva ou expressiva
Quando faz uso dessa função, o
comunicador transmite informações de
modo subjetivo, ou seja, ele expõe o seu
ponto de vista com o intuito de impressionar
o receptor. Nesse caso, a informação abre
espaço a mais de uma interpretação. A
resposta do Chefe Seattle ao presidente
americano é exemplo de texto expressivo e
figurado em que há presença da função
emotiva ou expressiva.
5. 3.Função apelativa ou conativa
Leia o texto:
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ANDRADE, Carlos Drummond. A bolsa &
a vida. Rio de Janeiro, Ed. Do Autor, 1963.
9. Como se vê, o texto anterior é enfático,
envolvente, persuasivo. O emissor procurou
atuar fortemente sobre o receptor da
mensagem, através das palavras, da
imagem, da emoção, do emprego dos
verbos no imperativo, etc. Quando isso
ocorre, dizemos que a linguagem tem uma
função predominantemente apelativa,
conativa ou impressiva.
10. 4.Função fática ou de contato
Leia este trecho da bem-humorada
crônica de Luís Fernando Veríssimo:
Na Fila
- Olha a fila! Olha a fila! Tem gente
furando aí.
- Tanta pressa só pra ver um caixão...
- Um caixão, não: o caixão do Dom
Pedro.
11. - Como é que eu sei que é o Dom Pedro
mesmo que está lá dentro?
- A gente tem que acreditar, ora. Já se
acredita em tanta coisa que o Go...
- Com licença, é aqui a inauguração do
Dom Pedro Segundo?
- Meu filho, duas coisas. Primeiro: não é
segundo, é primeiro. E segundo: a
inauguração do viaduto foi ontem. Esta fila é
para ver o caixão do Dom Pedro.
- Eles inauguraram o viaduto primeiro?
- Como, primeiro?
12. - Primeiro inauguraram o viaduto e
depois chegou o Dom Pedro Segundo?
- Segundo, não, primeiro.
- Primeiro o quê?
- O Dom Pedro! O Dom Pedro Primeiro!
- Primeiro chegou o Dom Pedro e depois
inauguraram o viaduto?
- Olha a fila!
13. - Primeiro inauguraram o Viaduto Dom
Pedro Primeiro, segundo, chegou o Dom
Pedro Primeiro em pessoa. Quer dizer, no
caixão. Está claro? E eu acho que o senhor
está puxando conversa para pegar lugar na
fila.Não pode não. Eu cheguei primeiro.
- Ouvi dizer que ele não serviu para
nada.
- Como, para nada? E o grito? E a
Independência?
- Não! O viaduto.
14. - Ah. Não sei. Mas é bonito. Como esse
negócio todo, o caixão, os restos do
Imperador, as bandeiras, Brasil e Portugal
irmanados, essas coisas simbólicas e tal. Eu
acho bacana.
- Olha a fila! Vamos andar, gente. Pra
frente, Brasil.
(...)
VERÍSSIMO, Luís Fernando. O nariz e
outras crônicas. São Paulo, Ática,1994.p. 19.
15. Nessa crônica, o narrador usa frases que
mantêm o diálogo entre as personagens e
que servem para testar se o receptor está
realmente entendendo o emissor. Há
inúmeras interrogações a fim de desfazer
equívocos ou vencer os ruídos que
atrapalham o canal de comunicação.
Dizemos, então, que a linguagem aqui
exerce a chamada função fática ou de
contato.
16. 5.Função metalinguística
Observe agora a linguagem deste texto:
Quando as expressões deixam de
expressar
Quase tão comuns quanto alguns erros
gramaticais, são certos hábitos ou vícios de
linguagem e expressão: os chamados
clichês. Eles não chegam a ser infrações,
mas bem que podiam ser tachados como
supérfluos. Cômodos porque estão sempre
17. à mão, os clichês são formas
expressivamente inúteis, já que, pelo
desgaste do uso, não querem dizer mais
nada. Por exemplo:Caiu como uma Iuva –
Via de regra- Dirimir dúvidas - Tachado de -
Em foco - Preencher uma lacuna – Conjugar
esforços - Grosso modo - A nível de - etc.
A exemplo do que ocorre com a
economia, o esporte ou a política, a crítica
literária também criou os seus clichês, em
geral sofisticados. Uma leitura de alguns
desses textos, aparecidos em jornais, leva
às seguintes conclusões:
18. Toda prosa que motiva é instigante, todo
pesquisador mergulha, emerge e desvenda
alguma coisa. Todos têm potencial idades -
de preferência, infinitas.O humor ou é
corrosivo ou é delicioso. Qualquer estudo é
fruto - de esforço, talento - só não é de
árvore. Os escritores em geral vivem num
universo onde tecem imagens, conjugam
esforços, têm nuanças e compõem tramas
intrigantes.Todos têm um traço marcante,
mesmo que nunca tenham desenhado nada.
O resultado desse trabalho intelectual
costuma ser revigorante.
WYLER, V. & VENTURA, Z. Quando as expressões...
Jornal do Brasil, RJ, 10 ago.1986.Caderno 8, p. 7.
19. Quando o código, no caso a língua
portuguesa, é usado para definir, explicar,
analisar, criticar o próprio código, dizemos
que a linguagem exerce uma função
metalingüística.
20. 6.Função poética
Por fim, leia com atenção este poema:
Canção da tarde no campo
Caminho do campo verde,
estrada depois de estrada.
Cercas de flores, palmeiras,
serra azul, água calada.
21. Eu ando sozinha
no meio do vale.
Mas a tarde é minha.
Meus pés vão pisando a terra
que é a imagem da minha vida:
tão vazia, mas tão bela,
Tão certa, mas tão perdida!
22. Eu ando sozinha
por cima de pedras.
Mas a flor é minha.
Os meus passos no caminho
são como os passos da lua:
vou chegando, vais fugindo,
minha alma é a sombra da tua.
23. Eu ando sozinha
por dentro de bosques.
Mas a fonte é minha.
De tanto olhar para longe,
não vejo o que passa perto.
Subo monte, desço monte,
meu peito é puro deserto.
24. Eu ando sozinha
ao longo da noite.
Mas a estrela é minha.
MElRELES,Cecília. Obra poética. Rio de
Janeiro, José Aguilar, 1958. p. 229-30.
25. Neste poema lírico, o emissor revela seu
mundo subjetivo. Embora nele a função
emotiva ou expressiva também esteja
presente, o que aflora predominantemente é
a função poética, ou seja, a ênfase dada à
forma como o texto foi elaborado. Para
escrever seu poema, Cecília Meireles se
valeu de elementos como ritmo, versos e
estrofes. A repetição do verso "Eu ando
sozinha", por exemplo, põe em relevo a
solidão da autora.
27. 1. Leia os textos que se seguem e classifique
as funções de linguagem.
a) E nunca mais chega o dia 18 de setembro…
Estou em pulgas! É a primeira vez que vou
entrar na cidade do Rock!!
b) "Há menos de um mês para a realização de
mais um Rock in Rio, a organização do super-
festival carioca divulgou uma lista de itens
considerados proibidos - e que serão
bloqueados na revista realizada por seguranças
em cada pessoa que quiser entrar na Cidade
do Rock." (26 de Agosto de 2015, in Estadão)
28. 2. Identifique a frase em que a função
predominante da linguagem é a
REFERENCIAL:
a) Dona Casemira vivia sozinha com seu
cachorrinho.
b) Vem, Dudu!
c) Pobre Dona Casemira...
d) O que ... O que foi que você disse?
e) Um cachorro falando?
29. 3. A função metalinguística predomina em
todos os fragmentos, exceto em:
a) “Amo-te como um bicho simplesmente
de um amor sem mistério e sem virtude
com um desejo maciço e
permanente.” (Vinicius de Morais)
b) “Proponho-me a que não seja complexo
o que escreverei, embora obrigada a usar
as palavras que vos sustentam.” (Clarice
Lispector)
30. c) “Não narro mais pelo prazer de saber.
Narro pelo gosto de narrar, sopro palavras
e mais palavras, componho frases e mais
frases.” (Silviano Santiago)
d) “Agarro o azul do poema pelo fio mais
delgado de lã de seu discurso e vou
traçando as linhas do relâmpago no vidro
opaco da janela.” (Gilberto Mendonça
Teles)
e) Que é Poesia? Uma ilha cercada de
palavras por todos os lados.” (Cassiano
Ricardo)
31. 4. O texto seguinte também é de natureza
poética. Nele, qual a função secundária da
linguagem?
“Lutar com as palavras/ é a luta mais vã./
Entanto lutamos/ mal rompe a
manhã.” (Carlos Drummond de Andrade)
a) Função emotiva.
b) Função conativa.
c) Função referencial.
d) Função metalinguística.
e) Função fática.