2. Trovadorismo
Podemos dizer que o trovadorismo foi a primeira
manifestação literária da língua portuguesa. Surgiu no
século XII, em plena Idade Média, período em que
Portugal estava no processo de formação nacional.
O marco inicial do Trovadorismo é a “Cantiga da
Ribeirinha” (conhecida também como “Cantiga da
Garvaia”), escrita por Paio Soares de Taveirós no ano de
1189. Esta fase da literatura portuguesa vai até o ano de
1418, quando começa o Quinhentismo.
3. No trovadorismo galego-português, as cantigas são
divididas em: Satíricas (Cantigas de Maldizer e Cantigas
de Escárnio) e Líricas (Cantigas de Amor e Cantigas de
Amigo).
Cantigas de Maldizer: através delas, os trovadores
faziam sátiras diretas, chegando muitas vezes a
agressões verbais. Em algumas situações eram
utilizados palavrões. O nome da pessoa satirizada podia
aparecer explicitamente na cantiga ou não.
Cantigas de Escárnio: nestas cantigas o nome da
pessoa satirizada não aparecia. As sátiras eram feitas
de forma indireta, utilizando-se de duplos sentidos.
4. Cantigas de Amor: neste tipo de cantiga o trovador destaca
todas as qualidades da mulher amada, colocando-se numa
posição inferior (de vassalo) a ela. O tema mais comum é o
amor não correspondido. As cantigas de amor reproduzem
o sistema hierárquico na época do feudalismo, pois o
trovador passa a ser o vassalo da amada (suserana) e
espera receber um benefício em troca de seus “serviços”
(as trovas, o amor dispensado, sofrimento pelo amor não
correspondido).
Cantigas de Amigo: enquanto nas Cantigas de Amor o eu-
lírico é um homem, nas de Amigo é uma mulher (embora os
escritores fossem homens). A palavra amigo nestas cantigas
tem o significado de namorado. O tema principal é a
lamentação da mulher pela falta do amado.
5. Principais Obras e Autores
De Amor
Cantiga da Ribeirinha
No mundo non me sei parelha,
entre me for como me vai,
Cá já moiro por vós, e – ai!
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraya
Quando vos eu vi em saya!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, desdaqueldi, ai!
Me foi a mi mui mal,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
Dhaver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, dalfaia
Nunca de vós houve nem hei
Valia dua correa.
Paio Soares de Taveirós
6. De amigo
Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?
(…)
D. Dinis
7. De escárnio
Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!…
João Garcia de Guilhade
8. De maldizer
Roi queimado morreu con amor
Em seus cantares por Sancta Maria
por ua dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lhela non quis [o] benfazer
fez-sel en seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao tercer dia!…
Pero Garcia Burgalês
9. Humanismo
O Humanismo pode ser definido como um
conjunto de ideais e princípios que valorizam as
ações humanas e valores morais (respeito,
justiça, honra, amor, liberdade, solidariedade,
etc). Para os humanistas, os seres humanos são
os responsáveis pela criação e desenvolvimento
destes valores. Desta forma, o pensamento
humanista entra em contradição com o
pensamento religioso que afirma que Deus é o
criador destes valores.
10. Surgimento e Desenvolvimento
O humanismo se desenvolveu e se manifestou
em vários momentos da história e em vários
campos do conhecimento e das artes.
Humanismo na antiguidade clássica (Grécia e
Roma): manifestou-se principalmente na
filosofia e nas artes plásticas. As obras de arte,
por exemplo, valorizavam muito o corpo
humano e os sentimentos.
11. Humanismo no Renascimento: nos séculos XV e
XVI, os escritores e artistas plásticos
renascentistas resgataram os valores humanistas
da cultura greco-romana. O antropocentrismo
(homem é o centro de tudo) norteou o
desenvolvimento intelectual e artístico desta
fase.
Positivismo: desenvolveu-se na segunda
metade do século XIX. Valorizava o pensamento
científico, destacando-o como única forma de
progresso. Teve em Auguste Comte seu principal
idealizador.
12. Autores e Obras do Humanismo
Miguel de Cervantes: O engenhoso fidalgo dom Quixote de La
Mancha; Novelas Exemplares; Viagem de Parnaso; Oito comédias e
oito entremezes novos nunca antes representados.
William Shakespeare: Romeu e Julieta; Hamlet; Rei Lear; Sonho de
uma Noite de Verão; Otelo; Macbeth; Noite de Reis; A
Tempestade; Megera Domada; Henrique V; A Comédia dos Erros;
Sonetos.
François Rabelais: Tiers Livre; Quart Livre; Gargântua e Pantagruel.
Luís de Camões: Os Lusíadas; Rimas; Auto de Filodemo;
Erasmo de Roterdã: O Elogio da Loucura; De Libero Arbitrio; As
Navegações dos Antigos; Preparação para a Morte.
Dante Alighieri: A Divina Comédia; Vita Nova; Sobre a Língua
Vulgar; Canzioneri; De Monarchia.
Francesco Petrarca: Canzoniere; Trionfi; Meu Livro Secreto; De Vita
Solitaria.
Giovanni Bocaccio: Decameron; Amorosa visione; Comedia delle
ninfe fiorentine; De Claris Mulieribus; Rime; Teseida delle nozze di
Emilia.
13. Exemplo
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
14. Classisismo
Classicismo, ou Quinhentismo (século XV) é o nome
dado ao período literário que surgiu na época
do Renascimento (Europa séc. XV a XVI). Um
período de grandes transformações culturais,
políticas e econômicas.
Vários foram os fatores que levaram a tais
transformações, dentre eles a crise religiosa (era a
época da Reforma Protestante, liderada por Lutero),
as grandes navegações (onde o homem foi além
dos limites da sua terra) e a invenção
da Imprensa que contribuiu muito para a divulgação
das obras de vários autores gregos e latinos (cultura
clássica) proporcionando mais conhecimento para
todos.
15. Foi na arte renascentista que
o antropocentrismo atingiu a sua plenitude,
agora, era o homem que passava a ser
evidenciado, e não mais Deus.
A arte renascentista se inspirava no
mundo greco-romano (Antiguidade Clássica) já
que estes também eram antropocêntricos.
16. Características do Classicismo
Racionalismo: a razão predomina sobre o sentimento, ou
seja, a expressão dos sentimentos era controlada pela
razão.
Universalismo: os assuntos pessoais ficaram de lado e as
verdades universais (de preocupação universal) passaram
a ser privilegiadas.
Perfeição formal: métrica, rima, correção gramatical, tudo
isso passa a ser motivo de atenção e preocupação.
Presença da mitologia greco-latina
Humanismo: o homem dessa época se liberta dos
dogmas da Igreja e passa a se preocupar com si próprio,
valorizando a sua vida aqui na Terra e cultivando a sua
capacidade de produzir e conquistar. Porém, a
religiosidade não desapareceu por completo.
17. Principais Autores e Obras
- Luís Vaz de Camões
Um dos maiores nomes da Literatura Universal, e
certamente, o maior nome da Literatura Portuguesa.
Escreveu poesias (líricas e épicas) e peças teatrais, porém
sua obra mais conhecida e consagrada é a epopéia “Os
Lusíadas” considerada uma obra-prima.
Essa obra é dividida em 10 partes (cantos) com 8816
versos distribuídos em 1120 estrofes e narra a viagem de
Vasco da Gama às Índias enfatizando alguns momentos
importantes da história de Portugal.
Outros escritores existiram, porém não tiveram tanto
destaque quanto Camões, são eles: Sá de Miranda,
Bernardim Ribeiro e Antonio Ferreira.
18. Exemplo:
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Algua cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
Luiz Vaz de Camões
19. Barroco
Barroco é o nome dado ao estilo artístico que
floresceu entre o final do século XVI e meados
do século XVIII, inicialmente naItália,
difundindo-se em seguida pelos
países católicos da Europa e da América, antes
de atingir, em uma forma modificada, as
áreas protestantes e alguns pontos do Oriente.
Considerado como o estilo correspondente
ao absolutismo e àContrarreforma, distingue-se
pelo esplendor exuberante.
20. Autores e Obras do Barroco
Gregório de Matos: Florilégio da Poesia Brasileira;
Buscando a Cristo; A Cristo N. S. Crucificado.
Padre Antônio Vieira: Sermão da Sexagésima; Sermão de
Santo Antônio aos Peixes; Sermão do Mandato; Sermão
da Quinta Dominga da Quaresma; Sermão do Bom
Ladrão; Sermão do Mandato; Sermão do Espírito Santo;
Sermão Pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal, contra
as da Holanda; Sermão de Nossa Senhora do Rosário;
História do Futuro; Esperanças de Portugal.
Bento Teixeira Pinto: Relações do Naufrágio; Diálogos das
Grandezas do Brasil; Prosopopéia.
Manoel Botelho de Oliveira: Mal Amigo; Música do
Parnaso.
Frei Manuel de Santa Maria
Itaparica: Eustáquios; Canção Fúnebre; Descrição da Ilha
de Itaparica; Epigrama Latino; Manifesto; Poemas
Avulsos; Relação Panegírica; Sobre as Vozes Tristes dos
Sinos.
21. O Amor Fino
O amor fino não busca causa nem fruto. Se amo, porque
me amam, tem o amor causa; se amo, para que me
amem, tem fruto: e amor fino não há-de ter porquê nem
para quê. Se amo, porque me amam, é obrigação, faço o
que devo: se amo, para que me amem, é negociação,
busco o que desejo. Pois como há-de amar o amor para
ser fino? Amo, quia amo; amo, ut amem: amo, porque
amo, e amo para amar. Quem ama porque o amam é
agradecido. quem ama, para que o amem, é interesseiro:
quem ama, não porque o amam, nem para que o amem,
só esse é fino.
Padre António Vieira, "Sermões"
22. Literatura Informativa e Jesuítica no Brasil
Os impérios ibéricos continham em sua expansão
uma profunda ambiguidade. Ao espírito capitalista-
mercantil associavam um certo ideal religioso e
salvacionista. Por essa razão, dezenas de religiosos
acompanhavam as expedições a fim de converter os
gentios.
Como consequência da Contrarreforma, chegam,
em 1549, os primeiros jesuítas ao Brasil.
Incumbidos de catequizar os índios e de instalar o
ensino público no país, fundaram os primeiros
colégios, que foram, durante muito tempo, a única
atividade intelectual existente na colônia.
23. Do ponto de vista estético, os jesuítas foram responsáveis
pela melhor produção literária do Quinhentismo
brasileiro. Além da poesia de devoção, cultivaram o
teatro de caráter pedagógico, inspirado em passagens
bíblicas, e produziram documentos que informavam aos
superiores na Europa o andamento dos trabalhos.
O instrumento mais utilizado para atingir os objetivos
pretendidos pelos jesuítas (moralizar os costumes dos
brancos colonos e catequizar os índios) foi o teatro. Para
isso, os jesuítas chegaram a aprender a língua tupi,
utilizando-a como veículo de expressão. Os índios não
eram apenas espectadores das peças teatrais, mas
também atores, dançarinos e cantores.
Os principais jesuítas responsáveis pela produção literária
da época foram o padre Manuel da Nóbrega, o
missionário Fernão Cardim e o padre José de Anchieta.
24. Autores e Obras Literatura
Informativa e Jesuítica
Pero Vaz de Caminha
Pero de Magalhães Gandavo
José de Anchieta
25. A Santa Inês
A Santa Inês
Cordeirinha linda,
Como folga¹ o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume² novo!
Cordeirinha santa,
De Jesus querida,
Vossa santa vida
O Diabo espanta.
Por isso vos canta
Com prazer o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.
Nossa culpa escura
Fugirá depressa,
Pois vossa cabeça
Vem com luz tão pura.
Vossa formosura
Honra é do povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.
Virginal cabeça,
Pela fé cortada,
Com vossa chegada
Já ninguém pereça;
Vinde mui depressa
Ajudar o povo,
Pois com vossa vinda
Lhe dais lume novo.
Vós sois cordeirinha
De Jesus Formoso;
Mas o vosso Esposo
já vos fez Rainha.
Também padeirinha
Sois do vosso Povo,
pois com vossa vinda,
Lhe dais trigo novo.
26. Arcadismo
O Arcadismo é uma escola literária que surgiu
na Europa no século XVIII, também denominada
de Setecentismo ou Neoclassicismo. O nome
"arcadismo" é uma referência à Arcádia, região
campestre do Peloponeso, na Grécia antiga, tida
como ideal de inspiração poética.
A principal característica desta escola é a
exaltação da natureza e de tudo o que lhe diz
respeito. Por essa razão muitos poetas do
arcadismo adotaram pseudônimos de pastores
gregos ou latinos. Caracteriza-se ainda pelo
recurso a esquemas rítmicos mais graciosos.
27. Numa perspectiva mais ampla, expressa a crítica
da burguesia aos abusos da nobreza e
do clero praticados no Antigo Regime.
Adicionalmente os burgueses cultuam o mito do
homem natural em oposição ao homem
corrompido pela sociedade, conceito
originalmente expresso por Jean-Jacques
Rousseau, na figura do “bom selvagem”.
28. Autores e Obras do Arcadismo
José Inácio de Alvarenga Peixoto (Eureste Fenício):
Poesia Lírico-Amorosa. Obras Poéticas – destaque para
os poemas Bárbara Heliodora e Estela e Nize.
Frei José de Santa Rita Durão: Poema Épico. Caramuru.
Manuel Inácio da Silva Alvarenga (Alcindo
Palmireno): Poema Heroico-Cômico. O Desertor das
Letras. Poesia Lírico-Amorosa. Glaura.
José Basílio da Gama (Termindo Sepílio): Poema
Épico. O Uraguai.
Cláudio Manuel da Costa (Glauceste Satúrnio): Poema
Épico. Vila Rica. Poesia. Obras Poéticas.
Tomás Antônio Gonzaga (Dirceu): Poemas Satíricos.
Cartas Chilenas. Poesia Lírico-Amorosa.Marília de
Dirceu.
29. Lira I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto. [...]
Tomás Antônio Gonzaga (Dirceu)