O senhor é meu pastor e hospedeiro salmo 23 (2012)
Gaivota 183 encarte
1. Encarte Especial • Maio – Junho/2015
Ausentes de corpo
presentes na mente
Uma breve reflexão para este tempo de luto
Queridos irmãos e irmãs, graça e paz!
Fui convidado pela redatora da Gaivota, irmã Rosália
Ometto, para escrever uma breve reflexão sobre o luto, já
que nestes últimos dias quatro irmãos de nossa igreja local
encerraram sua jornada terrestre: Urias Martins, Mirce La-
voura, Maria Amélia e Almir Maia.
Despedir-nos das pessoas com quem construímos par-
te de nossa história não é uma tarefa fácil. A dor causada
pelos primeiros sentimentos de ausência é muito forte e la-
tente. Podemos até duvidar de nossa capacidade de conti-
nuar a jornada. A família e os mais chegados que o digam.
Estes queridos irmãos e irmãs que foram protagonis-
tas da IGREJA MILITANTE (Catedral) agora fazem parte
da IGREJA TRIUNFANTE (eternidade). Em seu tempo e
segundo os seus dons, contribuíram missionariamente. Fi-
zeram sua parte. Sonharam, projetaram e realizaram. Vive-
ram entre nós.
Agora, porém, será impossível encontrá-los nos cul-
tos, nas festas ou mesmo em suas casas. Não conseguire-
mos dialogar mais com eles. Será impossível abraçá-los ou
beijá-los. Não poderemos ouvir mais o timbre das vozes,
sentir o aroma dos perfumes que se misturavam ao cheiro
da pele, sentir-se observados por seus olhares ou mesmo
vislumbrar seus sorrisos.
Resta-nos, então, exercitar a memória. Se não pode-
mos tê-los fisicamente, façamo-los presentes através das
lembranças. Vamos contar alguns “causos”. Vamos rir de
alguns fatos, chorar pela falta, refletir sobre a ausência. Por
mais que tenham sido boas pessoas, eles não foram perfei-
tos, mas isso não importa, pois, nós também não somos.
Para amenizar a dor neste início de luto, convido-os a
verbalizarmos nossas lembranças e agradecer a Deus pela
oportunidade de termos convivido com nossos queridos.
Como sou o propositor, inicio a tarefa com uma breve par-
tilha:
Do irmão URIAS MARTINS me lembro da voz de tro-
vão e o jeito carinhoso com que me chamava, carregando
no R: rrrrrrrrrreverendo Paulo ou pastorrrrrrrrrr Paulo.
Uma história que ele me contou e me marcou foi que ele era
criança quando o atual templo da Catedral Metodista de
Piracicaba foi construído. Por volta de uns 10 anos de idade
ele era responsável por levar a marmita de almoço para o
seu pai que era um dos pedreiros na construção. Ele dizia
que se lembrava de ver o prédio sendo erguido.
Da irmã MIRCE LAVOURA, trago na memória sua
dedicação ao coral e ao No Cenáculo. Sua presença cons-
tante nas atividades da SMM e sua participação na equipe
da cozinha era notável. Mesmo com toda a limitação física
que tinha, ela se esforçava por estar na igreja e ajudar nas
tarefas. Revendo muitas fotos da última década, notei que
ela sempre estava com um caderninho na mão anotando al-
go. Vó Mirce, como muitos a chamavam, também marcou
minha vida.
No início do meu pastorado na Catedral, época em
que a irmã MARIA AMÉLIA ainda freqüentava os cultos
e era uma das pianistas, ela chegava perto de mim e entre-
gava uma lista de hinos do Hinário Evangélico alusivos ao
período e dizia: Pastor agora é época de cantar estes hinos.
Neste período ela também era muito engajada na SMM. Te-
nho na memória o tempo em que pude acompanhá-la no
processo de enlutamento do irmão Bruno, tempo de difícil
elaboração.
Do irmão ALMIR MAIA ficaram marcadas as palavras
de carinho ditas no momento de homenagens no culto de
ação de graças por meu ministério em Piracicaba, que tam-
bém foi o momento de minha despedida. Uma, entre outras
lições que aprendi com ele, foi que não se deve responder
pragmaticamente às urgências, sem levar em consideração
um projeto duradouro. Claro que não deixaria de apontar
aqui sua forma processual de conduzir os encaminhamen-
tos. E também, não poderia deixar de lembrar de seus e-
-mails comunicando os encaminhamentos e aguardando
um retorno. Quem os recebeu sabe do que estou falando
(rssss).
Citei aqui algumas lembranças que ficaram em minha
memória durante o tempo que convivi com eles. Pode ser
que você tenha se relacionado em tempo diferente, com
papéis diferentes e intensidade diferente, mas não impor-
ta. Meu convite é para que possamos trazer à memória a
lembrança deles e assim amenizar a saudade. Desejo que
esse exercício possa aliviar um pouco da dor e nos conduzir
num período de luto mais saudável e curativo.
Que Deus nos abençoe!
Rev. Paulo Dias Nogueira1
1 Pastor da Igreja Metodista
Diretor do Instituto Educacional Metodista Bispo Scilla Franco
2. GAIVOTA Encarte Especial • Maio/Junho • 2015 • L2
Encarte Especial de Luto
Inayá Toledo Veiga Ometto
Presidente da Sociedade Metodista de Mulheres
da Catedral Metodista de Piracicaba.
MIRCE LAVOURA
É
com profundo pesar que noticiamos o fale-
cimento de nossa grande amiga Mirce La-
voura.
Membro da igreja e sócia muito antiga da
SMM, era conhecida por todos, sendo que, em
várias ocasiões, quando falecia alguém, os fami-
liares a procuravam (antes mesmo do que ao pas-
tor) para dar a notícia. Cabia a ela, então, fazer o
comunicado formal.
Sempre pronta para qualquer atividade tan-
to da Igreja como da Sociedade, não se cansava
de passar até o dia todo trabalhando, auxiliando
em tudo que podia. Brincávamos dizendo que
iríamos providenciar um colchão para ela poder
dormir na igreja.
Tinha uma linda voz e cantou aproximada-
mente 40 anos no coral J. W, Koger. Somente se
aposentou muito a contragosto quando sua saúde
não mais permitiu. Amava o coral.
Foi agente de “No Cenáculo” por mais de 30
anos, o que a tornou conhecida fora do âmbito da
igreja. Era chamada por muitos, carinhosamente,
de vó.
Esteve presente pela última vez na reunião
de oração – que ela amava – por ocasião de seu
aniversário em 5 de março. As amigas organiza-
ram uma festa em sua homenagem. Ela cantou,
falou da alegria de estar presente e também cho-
rou bastante. Foi a sua despedida.
Por ocasião de seus funerais, vários pasto-
res fizeram uso da palavra, com destaque para
o neto Rodrigo, que falou lindamente em nome
da família.
O coral esteve presente, cantando para ho-
menageá-la, comovendo a todos. Agora, ela está
cantando e abrilhantando o coro Celeste.
Aos familiares nossas condolências.
3. GAIVOTA Encarte Especial • Maio/Junho • 2015 • L3
MARIA AMÉLIA
VILLARA
C
omunicamos com muita tristeza o fale-
cimento de outra grande amiga, Maria
Amélia Villara, ocorrido em São Paulo
no dia 23 de maio.
Maria Amélia foi uma pessoa singular. Veio
com a família para cá no início da década de 1960
e imediatamente passou a trabalhar na Igreja. A
SMM ganhou de imediato uma sócia dinâmica
e muito atuante. Logo foi eleita presidente, car-
go que exerceu de maneira impar, impondo um
dinamismo até então desconhecido. Foi tão espe-
tacular sua atuação, que a SMM viveu seus anos
dourados e até hoje não igualados. Dentre outros
inúmeros feitos, idealizou o bazar de artesanato,
que ficou sob sua responsabilidade durante anos,
e que até hoje é um dos nossos maiores eventos
anuais. Devemos a ela essa rica herança.
Tinha uma percepção apurada das necessida-
des funcionais do templo, então, não raro tomava
a iniciativa de resolver a questão, auxiliando o
pastor nesta tarefa.
Dirigiu durante anos a reunião de oração,
com determinação e entusiasmo.
Era pianista e organista, enfim, mulher de
múltiplos e maravilhosos talentos.
É uma perda inestimável para todos.
Particularmente perco uma amiga queridíssi-
ma, na qual procurei me espelhar, sem, contudo,
chegar nem perto do seu imenso brilho.
Às filhas Sônia, Marina e Regina nossos
pêsames. Tenham a certeza que a marca que sua
mãe deixou na SMM e na Igreja de Piracicaba foi
tão forte, mas tão forte, que nunca será apagada e
jamais será igualada.
O céu está em festa!
4. GAIVOTA Encarte Especial • Maio/Junho • 2015 • L4
Cada pessoa guarda uma maneira especial de lembrança. Me-
mória tem a ver com aquilo que vivemos com cada pessoa, mui-
to mais do que ouvimos falar dela, do que sabemos por tercei-
ros. Por vezes, um abraço dado, passa a significar mais do que uma
imensa obra que alguém tenha desempenhado em favor do grupo,
da sociedade, do núcleo maior. Quando a morte chega, cada memória
pessoal passa, então, a significar muito mais. É quando descobrimos se al-
guém foi mesmo especial, para além do que significou como figura pública,
como profissional, ou em qualquer outra dimensão.
M
e alegra muito a certeza
de que, para os metodis-
tas que conheceram e con-
viveram com Almir Maia nos últi-
mos anos, na Escola Dominical, nos
cultos, nas atividades mais próxi-
mas da Igreja, cada um terá lembra-
do, nos últimos dias, um momento
pessoal que tenha vivido com ele.
A marca de suas despedidas, que
reuniu, na UNIMEP e na Catedral,
um universo múltiplo e diversifica-
do de pessoas, das mais diferentes
origens, histórias, convívios, mostra
claramente isso.
Cada abraço trocado, cada
emoção partilhada, cada palavra
que não conseguia sair, me pareceu
tentar expressar esta lembrança pessoal que cada um
tinha de Almir Maia, com a marca de uma atenção
pessoal, um cuidado generoso, uma atitude de preo-
cupação dele para as pessoas. As múltiplas lembran-
ças de Almir que foram divididas por conhecidos e
desconhecidos comigo, envolviam sempre cordiali-
dade, o sorriso fácil, os cartões, a disponibilidade em
atender quem o tivesse procurado para refletir junto,
para encontrar respostas, para pedir ajuda.
Tive o privilégio de conviver com Almir Maia
por mais de 20 anos, quase que diariamente. Discor-
damos muito – ele querendo de mim mais cautela e
eu provocando-o a ousar e ir mais rápido -, fomos aos
poucos aumentando o respeito de um pelo outro, di-
vidimos momentos de alegria e de mágoas. Aprendi
muito com ele, mudei algumas de minhas atitudes em
função de nosso convívio. Nossa amizade sempre se
pautou pela sinceridade e pela leal-
dade. É a partir desta convivência
preciosa, que tenho a certeza que
nada o alegraria mais do que sa-
ber que, em sua despedida, tantas
pessoas simples, os mais humildes,
aqueles que normalmente não se
distinguem na multidão, estavam
ali para homenageá-lo, para dizer
um último muito obrigado. Eles
eram em maior número do que as
autoridades, especialmente as me-
todistas, que tantas vezes preferi-
ram ignorá-lo, ao contrário da ci-
dade, que o reconheceu de maneira
muito mais efetiva. Almir tinha,
em algum momento, abraçado cada
uma daquelas pessoas, ouvido, in-
centivado, tratado-as com respeito e lhes dado impor-
tância e atenção.
Não tenho dúvidas que, por tudo isso, as mar-
cas de Almir permanecerão. Para as instituições, para
além do tempo, haverão de ser reconhecidas sua ética,
sua honestidade, sua fidelidade a princípios que en-
tendia como essenciais, justos e corretos e hoje tão in-
comuns à maioria da sociedade. Para as pessoas, cer-
tamente permanecerão o carinho, o zelo, o respeito, o
cuidado e o afeto. E seu sorriso feliz, que tantas vezes
expressava uma alegria incomum por saber que esta-
va fazendo o melhor, a cada momento, a cada novo
desafio.
Beatriz Vicentini,
jornalista,
trabalhou com Almir Maia nos Últimos ₃₀ anos