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1
A ARTE COMO FENÔMENO PSICO-SOCIAL: UMA ANALISE
ENTORNO DO IMPACTO DA INDUSTRIA CULTURAL SOBRE O
JUIZO DE GOSTO
BARROS, Rafael.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar o conceito de beleza como resultado
de um conjunto de relações sociais sendo este produto cultural que tem o poder de
moldar o comportamento dos indivíduos que em tal conceitos tentam se enquadrar,
deste modo a beleza pode ser entendida como fenômeno psico-social no sentido de
que molda o juízo de gosto dos indivíduos de uma dada sociedade instituindo desta
forma uma normatização para o conceito de belo. Para realização do trabalho foi
utilizada uma metodologia de pesquisa bibliográfica sendo necessária a análise de
obra filosóficas para o encaminhamento da reflexão tendo como base a teoria de
indústria cultural.
Palavra chave: Estética, Beleza, Industria Cultural, Consciência Individual.
2
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÂO…………………………………………………………………..
03
2 O CONCEITO DE ESTÉTICA …………………………………………......... 05
3 VISÕES SOBRE O CONCEITO DE
BELO.................................................
07
3.1 A visão idealista da
beleza……......……………….………………....
3.2 A visão empirista da beleza.......……………………………………..
3.3 A visão kantiana do belo................................................................
07
08
09
4 O ARTISTA COMO SER PSICO-SOCIAL......................…………………... 12
5 A INDUSTRIA CULTURAL E SEU IMPACTO SOBRE O JUÍZO DE
GOSTO.......................................................................................................... 15
CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………………………... 17
REFERÊNCIAS………………………………………………………………....... 18
3
1 INTRODUÇÃO
O conceito de estética se faz presente em nosso cotidiano seja no sentido de
tratamento de saúde relacionado diretamente a busca dos indivíduos pela beleza
idealizada por estes, seja como reflexão entorno do conceito de belo como proposto
pela filosofia, sociologia e psicologia. Em ambos os aspectos é inegável a relação
do termo estética com o conceito de belo uma vez que este pode se apresentar
como resultado e busca pratica para alcançar um ideal seja como forma de reflexão
criadora de tal conceito.
A indagação sobre o belo faz parte da vida humana no sentido de que há
uma necessidade da arte e da contemplação de algo belo como afirmam alguns
autores como por exemplo o filósofo Ernest Ficher que escreve em sua obra “ A
necessidade da Arte”:
A arte concebida como “substituto da vida”, a arte
concebida como meio de colocar o homem em estado
de equilíbrio com o meio circundante – trata-se de uma
ideia que contém o reconhecimento parcial da natureza
da arte e da sua necessidade. Desde que um
permanente equilíbrio entre homem e mundo que
circunda não pode ser previsto nem para a mais
desenvolvida das sociedades, trata-se de uma ideia
que surge, também, que a arte não só é necessária e
tem sido necessária, mas igualmente que a arte
continuará sendo sempre necessária. (FICHER, p.11)
A ideia de arte traz consigo o conceito de belo atrelado a sim como uma
essência indissociável desta que garante a validade da arte como contemplação. A
arte ultrapassa o transcendental invadindo o transcendente indo de fora para dentro
dos indivíduos, deste modo, o corpo se torna não só objeto da arte mas a própria
arte em si mesma.
A arte invadindo os corpos no sentido da busca pelo corpo perfeito faz com
que o conceito de belo seja pouco refletido por aqueles que praticam ações
consideradas pela sociedade de modo geral ou, até mesmo pela medicina como
prejudiciais a saúde física e mental. Deste modo o conceito de belo marca de modo
4
determinante a vida dos indivíduos moldando mais que seu juízo de gosto suas
ações, que tem como objeto o belo, em outras palavras a indústria cultural mais que
produzir uma arte considerada como sendo de caráter alienante produz uma forma
de comportamento e de pensamento dos indivíduos que visa a busca pela beleza
idealizada ou “produzida” pela cultura alienante.
O trabalho discutira temas como o conceito de Estética, a Industria Cultural, o
Conceito de Beleza e a forma como estes interagem em sociedade produzindo um
juízo de gosto individual direcionado e alienado capaz de provocar prejuízos a
saúde.
5
2 O CONCEITO DE ESTÉTICA
É comum em nosso cotidiano nos depararmos nas ruas com clinicas de
Estética, ou falarmos em nossas conversas cotidianas que a casa possui uma
estética boa ou que uma pessoa está bem esteticamente, no entanto em nosso uso
coloquial do termo há uma, no mínimo, despreocupação com o verdadeiro sentido
do termo, em outras palavras, o costume faz com que os indivíduos utilizem o termo
desvinculando-o de seu sentido. É necessário para continuar a investigação acerca
do belo e de suas implicações psicológicas produzindo modos de comportamento
nos indivíduos considerar brevemente o conceito de estética.
A palavra estética tem origem grega, sendo uma derivação do termo
aisthetike, que significa percepção pelos sentidos, ou seja um tipo de conhecimento
totalmente empírico dependente dos sentidos, uma espécie de sensação que traz
consigo uma espécie de conhecimento, a saber, o conhecimento do belo ou do que
é considerado belo por um grupo especifico de indivíduos que compõe uma
determinada sociedade.
O termo estética ganhou ao longo da história um uso frequente que se
relaciona ao conhecimento ou sensação gerada pelos sentidos à ideia do belo,
deste modo a estética passou a designar um tipo de sensação gerada pelos
sentidos promovendo conhecimento para ser utilizado como termo de designação
para indicar o que é agradável aos sentidos, em outras palavras, o agradável e belo
podendo ser captado pelos sentidos. Deste modo podemos dizer que o termo
estética deixa de designar um tipo de conhecimento gerado pelo sentido para
designar uma sensação que apraz o sentido gerando a sensação de belo.
No âmbito da filosofia a palavra estética ganha com Immanuel Kant um
caráter de disciplina ou área de reflexão que designa o estudo das condições da
percepção pelos sentidos. Segundo Aranha (2010) “A palavra estética designa uma
área especifica de estudo da filosofia, definida pelo filosofo alemão Immanuel Kant
(1724-18040 como o estudo das condições da percepção pelos sentidos”, deste
modo a estética é a área de reflexão filosófica acerca das condições e processo de
sentimento de beleza gerados pelos sentidos.
Outra importante definição do termo foi dada por outro filósofo alemão,
Alexander Baumgarten, que defino o termo como sendo “teoria do belo e de suas
manifestações através da arte”, no sentido dado por Baumgarten a estética
designaria a disciplina filosófica que tem como objeto o entendimento do conceito de
6
belo a partir de suas manifestações sensíveis pela obra de arte, sendo a estética o
estudo do belo e da arte que a manifesta.
Podemos concluir a partir da análise feita acima que o termo pode ser
definido segundo Cotrim (2010,p. 346)
A estética, por sua vez, parte da experiência sensorial,
da sensação, da percepção sensível para chegar a um
resultado que não apresenta a mesma clareza e
distinção da lógica e da matemática. Seu principal
objeto de investigação é o fenômeno artístico que se
traduz na obra de arte.
Neste sentido a estética designa o campo de investigação que tem como
objeto a obra de arte como manifestação sensível do belo ligado a um juízo de
gosto.
3 VISÕES SOBRE O CONCEITO DE BELO
7
Para alcançar a finalidade do trabalho, analisar o modo pelo qual a indústria
cultural produz um conceito de belo que gera influência sobre a ação dos indivíduos,
se faz necessário nesta etapa da pesquisa analisar algumas perspectivas sobre o
conceito de beleza.
O conceito de belo se apresenta ao longo de explicação de diversas
maneiras sendo este definido por diferente teóricos ao longo da história, partindo da
visão idealista da beleza passando pela definição de belo proposto pela teoria
empirista, assim como as teorias do belo de Kant e Hegel.
3.1 A VISÃO IDEALISTA DA BELEZA
Para os filósofos idealistas, cuja tradição tem início com Platão – filosofia
grego discípulo de Sócrates – a beleza possui caráter ou forma ideal, sendo este um
conceito objetivo que existe e que se basta a si mesmo. Seguindo o raciocínio de
Platão e sua teoria dualista da realidade que tende a dividir o universo em duas
realidades chamadas por este de Mundo Sensível ou Sub Lunar e Mundo Inteligível
ou Supra Lunar, a beleza se apresenta como uma forma ideal.
Para Platão o Mundo sensível seria constituído por sombras da verdadeira
essência das coisas, um mundo marcado pelo devir e pela aparência das coisas –
aqui o sentido aparência apareço como fenômeno não essencial – onde o homem
se vê preso a aparência que esconde a verdadeira essência das coisas afastando o
homem da verdade.
Em oposição ao Mundo Sensível Platão apresenta o Mundo inteligível onde
residem as “ideias” perfeitas correspondentes a verdadeira essência das coisas,
deste modo, conhecer a verdade para o filosofo corresponde a conhecer a verdade
em si mesma. A beleza na filosofia de Platão se apresenta como uma destas
“ideias” objetivas que se apresentam para a alma a partir do reconhecimento das
características físicas dos objetos do mundo sensível à ideia objetiva de beleza
existente no mundo das ideias, neste sentido a beleza para o filosofo se apresenta
como uma forma ideal existente no mundo inteligível.
Para os filósofos idealistas [...] a beleza é algo que
existe em si, é objetiva. De acordo com a teoria
platônica, a beleza seria uma forma ideal que subsistiria
8
por si mesma, como um modelo, no mundo das ideias.
E o que percebemos no mundo sensível e achamos
bonito só pode ser considerado belo porque se
assemelha a ideia de beleza que trazemos guardado
em nossa alma. (COTRIN, 2010.p. 347)
Podemos definir o belo genericamente para Platão como o reconhecimento
no mundo físico das características da ideia do belo, portanto, é belo o que se
parece com a ideia perfeita e imutável.
3.2 A VISÃO EMPIRISTA DA BELEZA
Diferentemente da concepção platônica da beleza que tende a qualifica-la
com objetividade, a visão empirista do belo desenvolvida pelo filosofo escocês
David Hume (1711-1776) propõe uma análise do belo a partir da experiência
sensível de cada indivíduo com o mundo objetivo, deste modo a beleza perderia seu
caráter de objetividade para ganhar um caráter subjetivo.
A concepção empirista da beleza parte da ideia de que o belo não se define
como algo objetivo, presente nos objetos captados pelos sentidos, mas sim como
algo que depende da sensibilidade subjetiva, deste modo o belo não se encontra
objetivamente no mundo mas nos sujeitos que percebem este mundo pelos sentidos
dando-lhe a qualidade do belo.
A qualificação dos objetos como belos ou não depende segundo a teoria
empirista da maneira como os indivíduos internalizam e percebem pelos sentidos o
mundo e o valorizam, deste modo o juízo do belo se apresenta como subjetivo na
medida em que cada indivíduo de acordo com suas próprias percepções do real
qualifica e valora esta percepção. A valoração da percepção acontece de modo
social, ou seja, o juízo de gosto é resultado do conjunto de percepções do mundo do
indivíduo desenvolvido sob influência das factividades.
Deste modo podemos concluir que o belo na perspectiva empirista se define
pelo modo ao qual o indivíduo, influenciado pelo mundo cultural que circunda recebe
deste mundo as condições de possibilidade para valorar ou qualificar suas
sensações do real como belas.
Para os materialistas – empíricos como o filosofo
escocês David Hume (1711-1776), a beleza não está
9
propriamente nos objetos (não é algo puramente
objetivo), mas depende do gosto individual, da maneira
como cada pessoa vê e valoriza o objeto – ou seja, o
juízo do que é ou não belo é subjetivo. (COTRIN,
2010.p. 347)
A beleza portanto, se apresenta ligada ao juízo de gosto que, por sua vez, se
relaciona com o mundo cultural em que o individuo se insere, podendo o conceito de
belo, uma vez que não é objetivo, mudar de uma cultura a outra ou até mesmo de
um indivíduo a outro dentro de uma mesma base cultural.
3.3 A VISÃO KANTIANA DO BELO
Diferentemente do idealismo que atribui caráter objetivo ao belo, e do
empirismo que julga o belo como sendo resultado de um juízo de gosto construído
culturalmente de modo subjetivo, a visão Kantiana da beleza propõe que mesmo
que o juízo estético seja uma capacidade subjetiva, este pode apresentar caráter
universal, sendo deste modo objetivo.
Em uma tentativa de superar o impasse entre objetividade e subjetividade do
juízo do belo, o filosofo Immanuel Kant em sua obra “Critica da Faculdade do Juízo”
propões uma análise das condições necessárias à percepção do belo, atribuindo
aos sentidos o papel de captar os objetos do mundo e a imaginação o papel de
atribuir a algo o caráter de belo, como afirma Cotrim (2010).
[...] nossa estrutura sensível (os órgãos dos sentido) e
nossa imaginação são as condições que tornam
possível a percepção estética, mas essas condições
são comuns a todos os seres humanos e, nesse
sentido, pode haver certa universalidade na avaliação
estética. (COTRIM, 2010.p. 347)
Deste modo a beleza possui uma universalidade ao mesmo tempo que se
apresenta como subjetiva. Para Kant o juízo de gosto é uma faculdade da
imaginação não podendo ser captado ou conceituado pela razão, deste modo,
julgamos belo não o racional mas aquilo que nos apraz, que nos proporciona prazer,
um prazer dos sentidos guiado pela imaginação que para Kant é individual, deste
modo, podemos afirmar que cada juízo estético julga belo de modo distinto a cada
10
visada da percepção, sendo desta forma cada juízo de gosto se apresenta como
singular na filosofia de Kant.
Julgamos belo aquilo que nos proporciona prazer, o
que não é nada lógico ou racional, mas sim subjetivo, já
que se relaciona ao prazer ou desprazer individual.
Para o filósofo, “todos os juízos de gosto são
singulares”. (COTRIM, 2010.p. 347)
Por outro lado, a definição de beleza de Kant visa superar a dicotomia
objetivo-subjetivo, para tanto se faz necessário para o filosofo, o mais sistemático de
sua época, encontrar o caráter objetivo do belo. A objetividade do juízo de gosto é
em Kant a manifestação dos sentidos e da imaginação, que segundo o filosofo é
característica presente em todos os homens, deste modo, a percepção o belo pode
assumir uma mesma face em diversas individualidades. Como afirma Kant “belo é o
que apraz universalmente e sem conceito”, deste modo o conceito de belo é
inacessível na estética kantiana uma vez que este transfigura a ideia de sensação
do belo retirando-lhe todo o caráter imaginativo e estético transformando-o em
conceito vazio.
Isso significa que é impossível conceituar, definir
racionalmente o belo, pois “quando se julgam objetos
somente segundo conceitos, toda a representação da
beleza é perdida. Mas quando dizemos que algo é belo,
pretendemos que este juízo esteja afirmando algo
realmente pertencente ao objeto [...] esperando que os
demais concordem com esse julgamento. Portanto esse
julgamento pretende ser voz universal. (COTRIM
2012.p.347)
Conclui-se deste modo que o belo para Kant é o que agrada aos sentidos de
modo subjetivos, sendo o juízo de gosto particular, no entanto devido a
universalidade dos sentidos e da imaginação é comum que o julgamento ocorra de
modo idêntico em vários indivíduos, deste modo a beleza é um conceito indefinível
de caráter universal.
4. O ARTISTA COMO SER PSICO-SOCIAL
11
Uma vez apresentadas a definição de estética e algumas definições sobre o
conceito de beleza, faz-se necessário nesta etapa da pesquisa identificar a arte
como criação humana necessária e de caráter social, uma vez que estes termos são
indissociáveis pois a arte é uma produção humana e o homem é nas palavras de
Aristóteles um “animal essencialmente político” ou seja, o homem tem como parte
de sua natureza a vida em sociedade portanto ignorar o caráter social da arte seria
ignorar a própria natureza do homem que a cria.
Os dois termos desta relação – sentido e objeto – são
tais numa relação social. Os sentidos humanos se
formaram como tais de um modo histórico e social, e,
neste processo de humanização dos sentidos, o olho e
o ouvido se converteram em sentidos estéticos; os
objetos estéticos – naturais ou artísticos – possuem um
conteúdo humano que se foi enriquecido no curso do
desenvolvimento histórico-social da humanidade. Mas a
relação estética não só possui um caráter social por
sua origem e desenvolvimento, como também porque o
sujeito desta relação é um homem social e o objeto –
por seu conteúdo humano, social – só tem sentido para
este homem social. O homem é sujeito de relação
estética. (VAZQUEZ,1978.p.89)
Deste modo, como afirma Vazquez a dissociabilidade dos conceitos de
homem e belo não fazem qualquer sentido uma vez que o homem é o objeto da
estética, ou seja, é a ele que o belo deve afetar e por ele este belo deve ser
produzido, desta forma, a arte como produção promove junto a si a produção
matéria e abstrata do conceito de beleza promovendo uma relação dialética de
criação, onde, o homem cria e é criado pelo conceito de belo.
A arte como criação, transmite consigo um significado que promove no
mundo uma relação dialética entre objetividade histórica e subjetividade do artista,
deste modo, o artista como ser social inserido em um contexto transmite pela sua
criação seu ponto de vista, seus sentimentos, anseios e desejos com relação a tal
contexto. No entanto o artista como ser social tem o dever de promover mudanças
em seu ambiente e o faz por meio da arte, influenciando, instigando, chamando a
reflexão pela sensibilização do belo.
A arte como produto psico-social proporciona uma relação dialética do artista
com o mundo que o circunda, na medida em que o mundo afeta o artista físico e
psicologicamente direcionando sua produção de modo inconsciente a uma arte que
transmita sua insatisfação com o mundo, em contra partida o resultado da arte no
âmbito social é a mudança provocada pelo impacto do seu significado.
12
O artista vive em sociedade e – queira ou não – existe
uma influência reciproca entre ele e a sociedade. O
artista – queira ou não – se apoia numa determinada
concepção do mundo, que ele exprime igualmente em
seu estilo (LUKÁCS. p. 176)
Por mais intima que seja a concepção de mundo do artista este promove uma
reação no mundo na medida em que os indivíduos a percebem e a caracterizam
como experiência estética válida. Deste modo a arte sempre provocara no mundo
um efeito, mesmo que este não seja desejado por seu criador.
Uma arte que seja por definição sem eco,
incompreensível para os outros – uma arte que tenha o
caráter de puro monólogo – só seria possível num asilo
de loucos [...] A necessidade de repercussão, tanto do
ponto de vista da forma, quanto do conteúdo, é a
característica inseparável, o traço essencial de toda
obra de arte autêntica em todos os tempos (LUKÁCS.p.
163)
Deste modo é impossível em termos gerais dissociar produção artística de
sociedade assim como ignorar o caráter dialético da relação existente entre arte e
realidade objetiva.
Arte e sociedade não podem se ignorar, já que a
própria arte é um fenômeno social. Em primeiro lugar,
porque o artista – por mais originária que seja sua
experiência vital – é um ser social; em segundo, porque
sua obra – por mais profunda que seja a marca nela
deixada pela experiência originária de seu criador, por
singular e irrepetivel seja sua plasmação, sua
objetivação nela – é sempre uma ponte, um traço de
união, entre o criador e outros membros da sociedade;
terceiro, dado que a obra afeta aos demais, contribui
para elevar ou devalorizar neles certas finalidades,
ideias ou valores; ou seja, é uma força social que, com
sua carga emocional ou ideológica, sacode ou comove
aos demais. Ninguém continua a ser exatamente como
era, depois de ter sido abalado por uma verdadeira
obra de arte. (VAZQUEZ, 1978.p. 122)
13
Deste modo, torna-se inegável a relação arte – sociedade assim como o
impacto que a primeira gera a segunda promovendo uma mudança qualitativa nos
indivíduos que dela fazem parte, incluindo o criador da arte.
5. A INDUSTRIA CULTURAL E SEU IMPACTO SOBRE O JUÍZO DE GOSTO
[...] a arte é filha da liberdade e quer ser legislada pena
necessidade do espirito, não pela carência da matéria.
14
Hoje, porém, a carência impera e curva em seu jogo
tirânico a humanidade caída. O proveito [a vantagem, o
lucro] é o grande ídolo do tempo; quer ser servido por
todas as foças e cultuado por todos os talentos. Nessa
balança grosseira o mérito espiritual da Arte não pesa,
e ela, roubada de todo estimulo, desaparece no ruidoso
mercado do século. (SCHILLER, p.35)
Com esta passagem o filósofo Friedrich von Schiller aponta para uma
previsão quase profética da ideia de arte como produto, onde essa perde seu
caráter humano no sentido de satisfação do espirito apontando para uma arte
interessada, desvinculada totalmente do homem e de sua alma sendo guiada para a
lógica do mercado perdendo seu caráter artístico assumindo papel comercial.
O termo indústria cultural apresentado por Theodor Adorno (1906-1969)
designa um evento onde a obra artística se apresenta como produção comercial
com vistas ao mercado alienante da lógica capitalista, deste modo, a arte perde seu
caráter estético relacionado a ideia de beleza como necessidade humana de
satisfação do espirito para assumir um papel ilustrativo, o sentido que “ilustra a ideia
do belo” transmitindo uma falsa humanização e valorização humana pela beleza.
A indústria cultural segundo Adorno transforma um conjunto de valores e
bens culturais em produtos destinados ao consumo de mercado gerado pela
alienação da massa da população na sociedade capitalista, dessa forma, a cultura,
assim como o ideal de beleza, passa a ser produzido como bem não cultural mas de
consumo.
A arte entendida como produto a partir da teoria da indústria cultural produz
nos indivíduos alienados pela lógica de consumo a construírem um conjunto de
valores voltados a satisfação dos interesses do mercado, em outras palavras, o
indivíduo imerso em uma sociedade em que é “obrigado” pela lógica de consumo
gerada pelo sistema capitalista a se adequar a um padrão de consumo que o insere
no seio da sociedade, gerando um direcionamento que influencia o juízo de gosto
dos indivíduos fazendo com que estes atribuam o caráter de belo a um conjunto de
produtos, costumes, valores e pensamentos exteriores a eles, fugindo ao conceito
de belo como satisfação individual dos sentidos.
A beleza enquanto imposição social gerada pela indústria cultural abandona
todavia o conceito puro de beleza atribuído por filósofos como Kant onde a
sensação do belo se apresenta como algo interior ao indivíduo, passando a ser um
conceito objetivo imposto aos indivíduos.
15
[...] pela difusão de suas “mercadorias culturais” (filmes,
musicas, shows, revistas), ela vende – na interpretação
de Adorno – os valores dominantes do capitalismo,
promovendo uma “colonização do espirito” dos
consumidores. Em algumas de suas expressões, como
o cinema, a arte chega a ser convertida, em certas
produções, em uma vitrine para vender mercadorias.
(COTRIM, 2010.p. 353)
Deste modo mais que influenciar o juízo de gosto dos indivíduos incutindo-
lhes o conceito de belo com um conjunto de ferramentas alienantes que produzem
arte como produto, esta indústria tem o poder de influir nas ações dos indivíduos
que buscam se enquadrar em tais conceitos, deste modo o indivíduo em busca da
adequação de si o conceito de belo produz um comportamento quase que
desesperado pela “ditadura da beleza”.
A arte direcionada a produção do conceito de belo força os indivíduos a
tomarem um conjunto de atitudes que muitas vezes se apresenta como prejudicial à
saúde podendo inclusive desenvolver doenças em prol da busca pelo belo. Prova
deste fato é o número crescente de jovens, em sua maioria do sexo feminino, com
doenças físico e mentais como a anorexia e a bulimia¹.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conceito de estética se apresenta como campo da reflexão filosófica
correspondente a ideia de belo, sendo tal reflexão tradicional ao longo da história da
humanidade.
16
A ideia do belo pensada pela estética se refere ao sentimento ligada ao juízo
de gosto que caracteriza os objetos como belo, sendo tal conceito identificado e
pensado por filósofos tradicionais como Platão, Hume e Kant.
A arte perde seu caráter de satisfação do espirito humano quando esta se
torna um produto voltado ao consumo alienado produzindo nos indivíduos um
conjunto de juízos de valor de modo a influenciar no julgamento do belo feito pelos
indivíduos imersos na lógica de consumo imposta pelo sistema capitalista.
A indústria cultural promove nos indivíduos um tipo de comportamento
especifico que se relaciona a busca pela ideia de beleza ideal imposto pela indústria
cultural, tais ações promovidas pela busca do belo pode ser prejudicial ao indivíduo
física e psicologicamente.
Podemos concluir que a arte enquanto produto tal como apresentada pela
teoria da indústria cultural, influência de modo significativo o juízo de gosto dos
indivíduos do modo a incutir-lhes um ideal de beleza apresentado nos programas de
teve, revistas, filmes, etc. que serve como modelo a ser seguido e buscado pelos
indivíduos.
REFERÊNCIAS
ADORNO, Theodor. Teoria estética, in: Duarte, Rodrigo (org). O belo autônomo.
Belo Horizonte: UFMG, 1997.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos de filosofia. São Paulo: 1ª Ed, Editora Saraiva,
2010.
FICHER, Ernest. A necessidade da arte. Rio de Janeiro: 9ª Ed, Editora Guanabara
Koogan, 2002.
17
SCHILLER, Friedrich. Sobre a educação estética. São Paulo: Editora Herder,
1963.
VAZQUEZ, Adolfo Sanchez. As ideias estéticas de marx. Trad. Nelson Coutinho.
Rio de Janeiro: 2ª Ed, Editora Paz e Terra, 1978.

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A influência da indústria cultural no juízo estético

  • 1. 1 A ARTE COMO FENÔMENO PSICO-SOCIAL: UMA ANALISE ENTORNO DO IMPACTO DA INDUSTRIA CULTURAL SOBRE O JUIZO DE GOSTO BARROS, Rafael. RESUMO O presente trabalho tem como objetivo analisar o conceito de beleza como resultado de um conjunto de relações sociais sendo este produto cultural que tem o poder de moldar o comportamento dos indivíduos que em tal conceitos tentam se enquadrar, deste modo a beleza pode ser entendida como fenômeno psico-social no sentido de que molda o juízo de gosto dos indivíduos de uma dada sociedade instituindo desta forma uma normatização para o conceito de belo. Para realização do trabalho foi utilizada uma metodologia de pesquisa bibliográfica sendo necessária a análise de obra filosóficas para o encaminhamento da reflexão tendo como base a teoria de indústria cultural. Palavra chave: Estética, Beleza, Industria Cultural, Consciência Individual.
  • 2. 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÂO………………………………………………………………….. 03 2 O CONCEITO DE ESTÉTICA …………………………………………......... 05 3 VISÕES SOBRE O CONCEITO DE BELO................................................. 07 3.1 A visão idealista da beleza……......……………….……………….... 3.2 A visão empirista da beleza.......…………………………………….. 3.3 A visão kantiana do belo................................................................ 07 08 09 4 O ARTISTA COMO SER PSICO-SOCIAL......................…………………... 12 5 A INDUSTRIA CULTURAL E SEU IMPACTO SOBRE O JUÍZO DE GOSTO.......................................................................................................... 15 CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………………………... 17 REFERÊNCIAS………………………………………………………………....... 18
  • 3. 3 1 INTRODUÇÃO O conceito de estética se faz presente em nosso cotidiano seja no sentido de tratamento de saúde relacionado diretamente a busca dos indivíduos pela beleza idealizada por estes, seja como reflexão entorno do conceito de belo como proposto pela filosofia, sociologia e psicologia. Em ambos os aspectos é inegável a relação do termo estética com o conceito de belo uma vez que este pode se apresentar como resultado e busca pratica para alcançar um ideal seja como forma de reflexão criadora de tal conceito. A indagação sobre o belo faz parte da vida humana no sentido de que há uma necessidade da arte e da contemplação de algo belo como afirmam alguns autores como por exemplo o filósofo Ernest Ficher que escreve em sua obra “ A necessidade da Arte”: A arte concebida como “substituto da vida”, a arte concebida como meio de colocar o homem em estado de equilíbrio com o meio circundante – trata-se de uma ideia que contém o reconhecimento parcial da natureza da arte e da sua necessidade. Desde que um permanente equilíbrio entre homem e mundo que circunda não pode ser previsto nem para a mais desenvolvida das sociedades, trata-se de uma ideia que surge, também, que a arte não só é necessária e tem sido necessária, mas igualmente que a arte continuará sendo sempre necessária. (FICHER, p.11) A ideia de arte traz consigo o conceito de belo atrelado a sim como uma essência indissociável desta que garante a validade da arte como contemplação. A arte ultrapassa o transcendental invadindo o transcendente indo de fora para dentro dos indivíduos, deste modo, o corpo se torna não só objeto da arte mas a própria arte em si mesma. A arte invadindo os corpos no sentido da busca pelo corpo perfeito faz com que o conceito de belo seja pouco refletido por aqueles que praticam ações consideradas pela sociedade de modo geral ou, até mesmo pela medicina como prejudiciais a saúde física e mental. Deste modo o conceito de belo marca de modo
  • 4. 4 determinante a vida dos indivíduos moldando mais que seu juízo de gosto suas ações, que tem como objeto o belo, em outras palavras a indústria cultural mais que produzir uma arte considerada como sendo de caráter alienante produz uma forma de comportamento e de pensamento dos indivíduos que visa a busca pela beleza idealizada ou “produzida” pela cultura alienante. O trabalho discutira temas como o conceito de Estética, a Industria Cultural, o Conceito de Beleza e a forma como estes interagem em sociedade produzindo um juízo de gosto individual direcionado e alienado capaz de provocar prejuízos a saúde.
  • 5. 5 2 O CONCEITO DE ESTÉTICA É comum em nosso cotidiano nos depararmos nas ruas com clinicas de Estética, ou falarmos em nossas conversas cotidianas que a casa possui uma estética boa ou que uma pessoa está bem esteticamente, no entanto em nosso uso coloquial do termo há uma, no mínimo, despreocupação com o verdadeiro sentido do termo, em outras palavras, o costume faz com que os indivíduos utilizem o termo desvinculando-o de seu sentido. É necessário para continuar a investigação acerca do belo e de suas implicações psicológicas produzindo modos de comportamento nos indivíduos considerar brevemente o conceito de estética. A palavra estética tem origem grega, sendo uma derivação do termo aisthetike, que significa percepção pelos sentidos, ou seja um tipo de conhecimento totalmente empírico dependente dos sentidos, uma espécie de sensação que traz consigo uma espécie de conhecimento, a saber, o conhecimento do belo ou do que é considerado belo por um grupo especifico de indivíduos que compõe uma determinada sociedade. O termo estética ganhou ao longo da história um uso frequente que se relaciona ao conhecimento ou sensação gerada pelos sentidos à ideia do belo, deste modo a estética passou a designar um tipo de sensação gerada pelos sentidos promovendo conhecimento para ser utilizado como termo de designação para indicar o que é agradável aos sentidos, em outras palavras, o agradável e belo podendo ser captado pelos sentidos. Deste modo podemos dizer que o termo estética deixa de designar um tipo de conhecimento gerado pelo sentido para designar uma sensação que apraz o sentido gerando a sensação de belo. No âmbito da filosofia a palavra estética ganha com Immanuel Kant um caráter de disciplina ou área de reflexão que designa o estudo das condições da percepção pelos sentidos. Segundo Aranha (2010) “A palavra estética designa uma área especifica de estudo da filosofia, definida pelo filosofo alemão Immanuel Kant (1724-18040 como o estudo das condições da percepção pelos sentidos”, deste modo a estética é a área de reflexão filosófica acerca das condições e processo de sentimento de beleza gerados pelos sentidos. Outra importante definição do termo foi dada por outro filósofo alemão, Alexander Baumgarten, que defino o termo como sendo “teoria do belo e de suas manifestações através da arte”, no sentido dado por Baumgarten a estética designaria a disciplina filosófica que tem como objeto o entendimento do conceito de
  • 6. 6 belo a partir de suas manifestações sensíveis pela obra de arte, sendo a estética o estudo do belo e da arte que a manifesta. Podemos concluir a partir da análise feita acima que o termo pode ser definido segundo Cotrim (2010,p. 346) A estética, por sua vez, parte da experiência sensorial, da sensação, da percepção sensível para chegar a um resultado que não apresenta a mesma clareza e distinção da lógica e da matemática. Seu principal objeto de investigação é o fenômeno artístico que se traduz na obra de arte. Neste sentido a estética designa o campo de investigação que tem como objeto a obra de arte como manifestação sensível do belo ligado a um juízo de gosto. 3 VISÕES SOBRE O CONCEITO DE BELO
  • 7. 7 Para alcançar a finalidade do trabalho, analisar o modo pelo qual a indústria cultural produz um conceito de belo que gera influência sobre a ação dos indivíduos, se faz necessário nesta etapa da pesquisa analisar algumas perspectivas sobre o conceito de beleza. O conceito de belo se apresenta ao longo de explicação de diversas maneiras sendo este definido por diferente teóricos ao longo da história, partindo da visão idealista da beleza passando pela definição de belo proposto pela teoria empirista, assim como as teorias do belo de Kant e Hegel. 3.1 A VISÃO IDEALISTA DA BELEZA Para os filósofos idealistas, cuja tradição tem início com Platão – filosofia grego discípulo de Sócrates – a beleza possui caráter ou forma ideal, sendo este um conceito objetivo que existe e que se basta a si mesmo. Seguindo o raciocínio de Platão e sua teoria dualista da realidade que tende a dividir o universo em duas realidades chamadas por este de Mundo Sensível ou Sub Lunar e Mundo Inteligível ou Supra Lunar, a beleza se apresenta como uma forma ideal. Para Platão o Mundo sensível seria constituído por sombras da verdadeira essência das coisas, um mundo marcado pelo devir e pela aparência das coisas – aqui o sentido aparência apareço como fenômeno não essencial – onde o homem se vê preso a aparência que esconde a verdadeira essência das coisas afastando o homem da verdade. Em oposição ao Mundo Sensível Platão apresenta o Mundo inteligível onde residem as “ideias” perfeitas correspondentes a verdadeira essência das coisas, deste modo, conhecer a verdade para o filosofo corresponde a conhecer a verdade em si mesma. A beleza na filosofia de Platão se apresenta como uma destas “ideias” objetivas que se apresentam para a alma a partir do reconhecimento das características físicas dos objetos do mundo sensível à ideia objetiva de beleza existente no mundo das ideias, neste sentido a beleza para o filosofo se apresenta como uma forma ideal existente no mundo inteligível. Para os filósofos idealistas [...] a beleza é algo que existe em si, é objetiva. De acordo com a teoria platônica, a beleza seria uma forma ideal que subsistiria
  • 8. 8 por si mesma, como um modelo, no mundo das ideias. E o que percebemos no mundo sensível e achamos bonito só pode ser considerado belo porque se assemelha a ideia de beleza que trazemos guardado em nossa alma. (COTRIN, 2010.p. 347) Podemos definir o belo genericamente para Platão como o reconhecimento no mundo físico das características da ideia do belo, portanto, é belo o que se parece com a ideia perfeita e imutável. 3.2 A VISÃO EMPIRISTA DA BELEZA Diferentemente da concepção platônica da beleza que tende a qualifica-la com objetividade, a visão empirista do belo desenvolvida pelo filosofo escocês David Hume (1711-1776) propõe uma análise do belo a partir da experiência sensível de cada indivíduo com o mundo objetivo, deste modo a beleza perderia seu caráter de objetividade para ganhar um caráter subjetivo. A concepção empirista da beleza parte da ideia de que o belo não se define como algo objetivo, presente nos objetos captados pelos sentidos, mas sim como algo que depende da sensibilidade subjetiva, deste modo o belo não se encontra objetivamente no mundo mas nos sujeitos que percebem este mundo pelos sentidos dando-lhe a qualidade do belo. A qualificação dos objetos como belos ou não depende segundo a teoria empirista da maneira como os indivíduos internalizam e percebem pelos sentidos o mundo e o valorizam, deste modo o juízo do belo se apresenta como subjetivo na medida em que cada indivíduo de acordo com suas próprias percepções do real qualifica e valora esta percepção. A valoração da percepção acontece de modo social, ou seja, o juízo de gosto é resultado do conjunto de percepções do mundo do indivíduo desenvolvido sob influência das factividades. Deste modo podemos concluir que o belo na perspectiva empirista se define pelo modo ao qual o indivíduo, influenciado pelo mundo cultural que circunda recebe deste mundo as condições de possibilidade para valorar ou qualificar suas sensações do real como belas. Para os materialistas – empíricos como o filosofo escocês David Hume (1711-1776), a beleza não está
  • 9. 9 propriamente nos objetos (não é algo puramente objetivo), mas depende do gosto individual, da maneira como cada pessoa vê e valoriza o objeto – ou seja, o juízo do que é ou não belo é subjetivo. (COTRIN, 2010.p. 347) A beleza portanto, se apresenta ligada ao juízo de gosto que, por sua vez, se relaciona com o mundo cultural em que o individuo se insere, podendo o conceito de belo, uma vez que não é objetivo, mudar de uma cultura a outra ou até mesmo de um indivíduo a outro dentro de uma mesma base cultural. 3.3 A VISÃO KANTIANA DO BELO Diferentemente do idealismo que atribui caráter objetivo ao belo, e do empirismo que julga o belo como sendo resultado de um juízo de gosto construído culturalmente de modo subjetivo, a visão Kantiana da beleza propõe que mesmo que o juízo estético seja uma capacidade subjetiva, este pode apresentar caráter universal, sendo deste modo objetivo. Em uma tentativa de superar o impasse entre objetividade e subjetividade do juízo do belo, o filosofo Immanuel Kant em sua obra “Critica da Faculdade do Juízo” propões uma análise das condições necessárias à percepção do belo, atribuindo aos sentidos o papel de captar os objetos do mundo e a imaginação o papel de atribuir a algo o caráter de belo, como afirma Cotrim (2010). [...] nossa estrutura sensível (os órgãos dos sentido) e nossa imaginação são as condições que tornam possível a percepção estética, mas essas condições são comuns a todos os seres humanos e, nesse sentido, pode haver certa universalidade na avaliação estética. (COTRIM, 2010.p. 347) Deste modo a beleza possui uma universalidade ao mesmo tempo que se apresenta como subjetiva. Para Kant o juízo de gosto é uma faculdade da imaginação não podendo ser captado ou conceituado pela razão, deste modo, julgamos belo não o racional mas aquilo que nos apraz, que nos proporciona prazer, um prazer dos sentidos guiado pela imaginação que para Kant é individual, deste modo, podemos afirmar que cada juízo estético julga belo de modo distinto a cada
  • 10. 10 visada da percepção, sendo desta forma cada juízo de gosto se apresenta como singular na filosofia de Kant. Julgamos belo aquilo que nos proporciona prazer, o que não é nada lógico ou racional, mas sim subjetivo, já que se relaciona ao prazer ou desprazer individual. Para o filósofo, “todos os juízos de gosto são singulares”. (COTRIM, 2010.p. 347) Por outro lado, a definição de beleza de Kant visa superar a dicotomia objetivo-subjetivo, para tanto se faz necessário para o filosofo, o mais sistemático de sua época, encontrar o caráter objetivo do belo. A objetividade do juízo de gosto é em Kant a manifestação dos sentidos e da imaginação, que segundo o filosofo é característica presente em todos os homens, deste modo, a percepção o belo pode assumir uma mesma face em diversas individualidades. Como afirma Kant “belo é o que apraz universalmente e sem conceito”, deste modo o conceito de belo é inacessível na estética kantiana uma vez que este transfigura a ideia de sensação do belo retirando-lhe todo o caráter imaginativo e estético transformando-o em conceito vazio. Isso significa que é impossível conceituar, definir racionalmente o belo, pois “quando se julgam objetos somente segundo conceitos, toda a representação da beleza é perdida. Mas quando dizemos que algo é belo, pretendemos que este juízo esteja afirmando algo realmente pertencente ao objeto [...] esperando que os demais concordem com esse julgamento. Portanto esse julgamento pretende ser voz universal. (COTRIM 2012.p.347) Conclui-se deste modo que o belo para Kant é o que agrada aos sentidos de modo subjetivos, sendo o juízo de gosto particular, no entanto devido a universalidade dos sentidos e da imaginação é comum que o julgamento ocorra de modo idêntico em vários indivíduos, deste modo a beleza é um conceito indefinível de caráter universal. 4. O ARTISTA COMO SER PSICO-SOCIAL
  • 11. 11 Uma vez apresentadas a definição de estética e algumas definições sobre o conceito de beleza, faz-se necessário nesta etapa da pesquisa identificar a arte como criação humana necessária e de caráter social, uma vez que estes termos são indissociáveis pois a arte é uma produção humana e o homem é nas palavras de Aristóteles um “animal essencialmente político” ou seja, o homem tem como parte de sua natureza a vida em sociedade portanto ignorar o caráter social da arte seria ignorar a própria natureza do homem que a cria. Os dois termos desta relação – sentido e objeto – são tais numa relação social. Os sentidos humanos se formaram como tais de um modo histórico e social, e, neste processo de humanização dos sentidos, o olho e o ouvido se converteram em sentidos estéticos; os objetos estéticos – naturais ou artísticos – possuem um conteúdo humano que se foi enriquecido no curso do desenvolvimento histórico-social da humanidade. Mas a relação estética não só possui um caráter social por sua origem e desenvolvimento, como também porque o sujeito desta relação é um homem social e o objeto – por seu conteúdo humano, social – só tem sentido para este homem social. O homem é sujeito de relação estética. (VAZQUEZ,1978.p.89) Deste modo, como afirma Vazquez a dissociabilidade dos conceitos de homem e belo não fazem qualquer sentido uma vez que o homem é o objeto da estética, ou seja, é a ele que o belo deve afetar e por ele este belo deve ser produzido, desta forma, a arte como produção promove junto a si a produção matéria e abstrata do conceito de beleza promovendo uma relação dialética de criação, onde, o homem cria e é criado pelo conceito de belo. A arte como criação, transmite consigo um significado que promove no mundo uma relação dialética entre objetividade histórica e subjetividade do artista, deste modo, o artista como ser social inserido em um contexto transmite pela sua criação seu ponto de vista, seus sentimentos, anseios e desejos com relação a tal contexto. No entanto o artista como ser social tem o dever de promover mudanças em seu ambiente e o faz por meio da arte, influenciando, instigando, chamando a reflexão pela sensibilização do belo. A arte como produto psico-social proporciona uma relação dialética do artista com o mundo que o circunda, na medida em que o mundo afeta o artista físico e psicologicamente direcionando sua produção de modo inconsciente a uma arte que transmita sua insatisfação com o mundo, em contra partida o resultado da arte no âmbito social é a mudança provocada pelo impacto do seu significado.
  • 12. 12 O artista vive em sociedade e – queira ou não – existe uma influência reciproca entre ele e a sociedade. O artista – queira ou não – se apoia numa determinada concepção do mundo, que ele exprime igualmente em seu estilo (LUKÁCS. p. 176) Por mais intima que seja a concepção de mundo do artista este promove uma reação no mundo na medida em que os indivíduos a percebem e a caracterizam como experiência estética válida. Deste modo a arte sempre provocara no mundo um efeito, mesmo que este não seja desejado por seu criador. Uma arte que seja por definição sem eco, incompreensível para os outros – uma arte que tenha o caráter de puro monólogo – só seria possível num asilo de loucos [...] A necessidade de repercussão, tanto do ponto de vista da forma, quanto do conteúdo, é a característica inseparável, o traço essencial de toda obra de arte autêntica em todos os tempos (LUKÁCS.p. 163) Deste modo é impossível em termos gerais dissociar produção artística de sociedade assim como ignorar o caráter dialético da relação existente entre arte e realidade objetiva. Arte e sociedade não podem se ignorar, já que a própria arte é um fenômeno social. Em primeiro lugar, porque o artista – por mais originária que seja sua experiência vital – é um ser social; em segundo, porque sua obra – por mais profunda que seja a marca nela deixada pela experiência originária de seu criador, por singular e irrepetivel seja sua plasmação, sua objetivação nela – é sempre uma ponte, um traço de união, entre o criador e outros membros da sociedade; terceiro, dado que a obra afeta aos demais, contribui para elevar ou devalorizar neles certas finalidades, ideias ou valores; ou seja, é uma força social que, com sua carga emocional ou ideológica, sacode ou comove aos demais. Ninguém continua a ser exatamente como era, depois de ter sido abalado por uma verdadeira obra de arte. (VAZQUEZ, 1978.p. 122)
  • 13. 13 Deste modo, torna-se inegável a relação arte – sociedade assim como o impacto que a primeira gera a segunda promovendo uma mudança qualitativa nos indivíduos que dela fazem parte, incluindo o criador da arte. 5. A INDUSTRIA CULTURAL E SEU IMPACTO SOBRE O JUÍZO DE GOSTO [...] a arte é filha da liberdade e quer ser legislada pena necessidade do espirito, não pela carência da matéria.
  • 14. 14 Hoje, porém, a carência impera e curva em seu jogo tirânico a humanidade caída. O proveito [a vantagem, o lucro] é o grande ídolo do tempo; quer ser servido por todas as foças e cultuado por todos os talentos. Nessa balança grosseira o mérito espiritual da Arte não pesa, e ela, roubada de todo estimulo, desaparece no ruidoso mercado do século. (SCHILLER, p.35) Com esta passagem o filósofo Friedrich von Schiller aponta para uma previsão quase profética da ideia de arte como produto, onde essa perde seu caráter humano no sentido de satisfação do espirito apontando para uma arte interessada, desvinculada totalmente do homem e de sua alma sendo guiada para a lógica do mercado perdendo seu caráter artístico assumindo papel comercial. O termo indústria cultural apresentado por Theodor Adorno (1906-1969) designa um evento onde a obra artística se apresenta como produção comercial com vistas ao mercado alienante da lógica capitalista, deste modo, a arte perde seu caráter estético relacionado a ideia de beleza como necessidade humana de satisfação do espirito para assumir um papel ilustrativo, o sentido que “ilustra a ideia do belo” transmitindo uma falsa humanização e valorização humana pela beleza. A indústria cultural segundo Adorno transforma um conjunto de valores e bens culturais em produtos destinados ao consumo de mercado gerado pela alienação da massa da população na sociedade capitalista, dessa forma, a cultura, assim como o ideal de beleza, passa a ser produzido como bem não cultural mas de consumo. A arte entendida como produto a partir da teoria da indústria cultural produz nos indivíduos alienados pela lógica de consumo a construírem um conjunto de valores voltados a satisfação dos interesses do mercado, em outras palavras, o indivíduo imerso em uma sociedade em que é “obrigado” pela lógica de consumo gerada pelo sistema capitalista a se adequar a um padrão de consumo que o insere no seio da sociedade, gerando um direcionamento que influencia o juízo de gosto dos indivíduos fazendo com que estes atribuam o caráter de belo a um conjunto de produtos, costumes, valores e pensamentos exteriores a eles, fugindo ao conceito de belo como satisfação individual dos sentidos. A beleza enquanto imposição social gerada pela indústria cultural abandona todavia o conceito puro de beleza atribuído por filósofos como Kant onde a sensação do belo se apresenta como algo interior ao indivíduo, passando a ser um conceito objetivo imposto aos indivíduos.
  • 15. 15 [...] pela difusão de suas “mercadorias culturais” (filmes, musicas, shows, revistas), ela vende – na interpretação de Adorno – os valores dominantes do capitalismo, promovendo uma “colonização do espirito” dos consumidores. Em algumas de suas expressões, como o cinema, a arte chega a ser convertida, em certas produções, em uma vitrine para vender mercadorias. (COTRIM, 2010.p. 353) Deste modo mais que influenciar o juízo de gosto dos indivíduos incutindo- lhes o conceito de belo com um conjunto de ferramentas alienantes que produzem arte como produto, esta indústria tem o poder de influir nas ações dos indivíduos que buscam se enquadrar em tais conceitos, deste modo o indivíduo em busca da adequação de si o conceito de belo produz um comportamento quase que desesperado pela “ditadura da beleza”. A arte direcionada a produção do conceito de belo força os indivíduos a tomarem um conjunto de atitudes que muitas vezes se apresenta como prejudicial à saúde podendo inclusive desenvolver doenças em prol da busca pelo belo. Prova deste fato é o número crescente de jovens, em sua maioria do sexo feminino, com doenças físico e mentais como a anorexia e a bulimia¹. CONSIDERAÇÕES FINAIS O conceito de estética se apresenta como campo da reflexão filosófica correspondente a ideia de belo, sendo tal reflexão tradicional ao longo da história da humanidade.
  • 16. 16 A ideia do belo pensada pela estética se refere ao sentimento ligada ao juízo de gosto que caracteriza os objetos como belo, sendo tal conceito identificado e pensado por filósofos tradicionais como Platão, Hume e Kant. A arte perde seu caráter de satisfação do espirito humano quando esta se torna um produto voltado ao consumo alienado produzindo nos indivíduos um conjunto de juízos de valor de modo a influenciar no julgamento do belo feito pelos indivíduos imersos na lógica de consumo imposta pelo sistema capitalista. A indústria cultural promove nos indivíduos um tipo de comportamento especifico que se relaciona a busca pela ideia de beleza ideal imposto pela indústria cultural, tais ações promovidas pela busca do belo pode ser prejudicial ao indivíduo física e psicologicamente. Podemos concluir que a arte enquanto produto tal como apresentada pela teoria da indústria cultural, influência de modo significativo o juízo de gosto dos indivíduos do modo a incutir-lhes um ideal de beleza apresentado nos programas de teve, revistas, filmes, etc. que serve como modelo a ser seguido e buscado pelos indivíduos. REFERÊNCIAS ADORNO, Theodor. Teoria estética, in: Duarte, Rodrigo (org). O belo autônomo. Belo Horizonte: UFMG, 1997. COTRIM, Gilberto. Fundamentos de filosofia. São Paulo: 1ª Ed, Editora Saraiva, 2010. FICHER, Ernest. A necessidade da arte. Rio de Janeiro: 9ª Ed, Editora Guanabara Koogan, 2002.
  • 17. 17 SCHILLER, Friedrich. Sobre a educação estética. São Paulo: Editora Herder, 1963. VAZQUEZ, Adolfo Sanchez. As ideias estéticas de marx. Trad. Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: 2ª Ed, Editora Paz e Terra, 1978.