As Juntas de Freguesia de Braga enfrentam desafios na área social, especialmente no apoio a estudantes desempregados e idosos isolados. A Junta de S. Lázaro tem desenvolvido iniciativas como um gabinete de apoio ao emprego e formação digital para diferentes grupos, mas carece de mais recursos e competências delegadas pela Câmara Municipal para melhor atender às necessidades da comunidade.
1. 8 www.diariodominho.pt Entrevista Diário do Minho
SEGUNDA-FEIRA, 5 de março de 2012
Entrevista Diário do Minho/Rádio FF à Junta de Freguesia de S. Lázaro
O insucesso do país é o nosso insucesso e vice-versa
DR
Continuamos, na presen- rais. Segundo esta tipologia, seniores têm outras dificulda-
te entrevista, em parceria das 62 freguesias do conce- des que não têm os jovens”.
com o programa Periscópio lho de Braga, não há uma que Um curso que poderia demo-
da Rádio FF, a auscultar os seja predominantemente ru- rar 2 meses, acaba por demo-
ral. São todas mediamente ur- rar 3 ou 4. Se me permite,
anseios, as realizações e as
banas ou predominantemen- gostaria de complementar a
dificuldades das Juntas de
te urbanas. informação do meu colega
Freguesia do concelho de
Jacinto Lanços. Costumo di-
Braga. Cabe hoje a vez aos LM Muitas delas albergam zer que uma junta de fregue-
autarcas da freguesia de indústrias e outras fazem sia urbana é como um muro
S. Lázaro, João Pires e Jacin- fronteira com áreas urbanas das lamentações. Somos nós
to Lanços. A entrevista pode de outros concelhos, não que aceitamos a queixa da-
ser ouvida, na sua totalida- é? quela lâmpada que está fun-
JP Sim, é mais pela concen- dida, do muro donde caíram
de, no site da Rádio FF, www.
facfil.braga.ucp.pt tração urbana, pelos serviços umas pedras, enfim, assuntos
disponibilizados aos cidadãos. que não podemos resolver
Isso é que define as 3 tipolo- mas que dirigimos a outros
Luís da Silva Pereira gias. Quero com isto dizer que serviços, à Câmara Municipal,
Luísa Magalhães/FF uma freguesia rural desenvol- João Pires e Jacinto Lanços nos estúdios da Rádio FF à EDP, etc.
ve, por delegação da Câmara
Luísa Magalhães(LM): Sr. Municipal, determinadas tare- cretário deve ter muito tra- atividade que ele veja mini- to público de internet, com LM E como é que caracteri-
presidente João Pires, o que fas: arranjo de caminhos, con- balho… mamente interessante. Temos quatro unidades, cada vez za a relação entre a Junta e
é que tem feito na sua fre- servação e pequenas obras Jacinto Lanços (JL) Uma jun- também a Univa, que deixou mais utilizadas. Estão quase esse serviços responsá-
guesia? em escolas. As freguesias ur- ta dá muito trabalho porque de estar ligada ao centro de sempre cheios. Estamos tam- veis?
João Pires (JP): Aquilo que banas não têm essa compe- a nossa ação é virada funda- emprego. É um gabinete de bém a dar formação de infor- JP A relação é ótima. Muitas
temos vindo a fazer é o que tência. Qualquer intervenção mentalmente para a tercei- apoio, uma espécie de base mática, quer aos jovens quer vezes, basta um telefonema
a lei consigna: acompanhar e na rede viária ou nas escolas ra idade e para a juventude. de dados, que tem uma fun- às pessoas mais idosas. para resolver um problema.
dar voz aos cidadãos e ir ao en- é a Câmara Municipal que as Quando digo isto estou refi- cionária licenciada, vocacio- Quando o meu colega falava
contro das suas necessidades desenvolve. As freguesias ur- rir carências sociais, financei- nada para tentar canalizar as LM E a essa formação de in- no apoio às famílias mais ca-
e anseios. As competências de banas têm outras competên- ras, culturais, situações de iso- pessoas para eventuais em- formática, Sr. presidente renciadas, queria realçar um
uma junta urbana são um tan- cias: na área social, da educa- lamento. pregos que tenha em cartei- João Pires, como é que rea- aspeto muito importante. A
to diferentes das de uma jun- ção, da defesa do património, ra. É uma corrida incessante gem os seniores? Junta apoia financeiramente
ta rural. Temos no concelho de da cultura… LM E em relação ao desem- à doutora. Há empresas que JP Reagem bastante bem, na
várias instituições da fregue-
Braga bons exemplos do que prego? contactam com ela e ela ten- medida em que são eles que sia. Temos a sorte de conter
JL A vertente da juventude ta ajudar as pessoas nesse sen- pedem. Temos imensos pedi-
são as competências das jun-
LM Que têm feito na área da na nossa área geográfica dois
tas rurais. Na prática, ultrapas- educação? que ganhou uma dimensão tido. dos de frequência. Quem mui- excelentes centros sociais, o
sam as competências que es-
JP Temos, por exemplo, uma muito grande com o desem- tas vezes não está muito con- Centro Paroquial de S. Lázaro
tão na lei porque desenvolvem tarefa que também é delega- prego. Os estudantes que LM E vai ao encontro dos tente são os próprios forma- e o Centro Social e Cultural de
competências delegadas pela da pela Câmara Municipal: o saem das universidades com perfis que as empresas pro- dores, porque pensam que é Santo Adrião, que prestam ines-
Câmara Municipal. acompanhamento e o apoio licenciaturas andam comple- curam? como dar aulas a jovens ou timável apoio às pessoas. Nós
às famílias dos alunos do pré- tamente aos caídos. Não sa- JL Exatamente. Não quer di- crianças. estabelecemos parcerias com
LM Quantas freguesias ru- -escolar. Temos a cargo a ges- bem por onde se virar. Inven- zer que este trabalho tenha essas instituições. A nossa téc-
rais tem o concelho de Bra- tão do apoio à família. Acei- tam ações quase inúteis, mas tido grande sucesso porque, LM Então, precisamos de fa- nica de serviço social trata de
ga? tamos os meninos, entre os 3 que tentamos apoiar. O pre- compreende, o insucesso do zer uma recomendação aos todos os casos que nos apa-
JP O concelho de Braga tem e os 5 anos, desde as 8h00 da sidente João Pires tem facul- país é o nosso insucesso, e vi- formadores. recem e depois canalizamo-
62 páginas. As urbanas são 7. manhã até às 18h30. Isto em tado a alguns desses licencia- ce-versa. Para esses temos JP Quando vão para lá, nós
los para essas entidades. Nin-
As restantes são rurais. A ti- relação às famílias em que os dos que desenvolvam alguma também a funcionar um pos- já lhes dizemos, “olhe que os guém está em melhores con-
pologia que usamos para de- dois trabalham, não tendo hi- dições do que essas equipas
pótese de manter os filhos em sócio-caritativas, porque têm
“
finir as freguesias, que é uma
casa. A Junta de Freguesia dá- a sua base de dados, e vamos
tipologia do Instituto Nacio-
-lhes o almoço, o lanche e
Os estudantes que saem das universidades sabendo quem é que tem mais
nal de Estatística (INE), refere
acompanha-os nas horas não com licenciaturas andam completamente necessidades e quem tem me-
que há 3 tipos de freguesias:
as predominantemente urba- letivas. aos caídos. Não sabem por onde se virar. nos.
Inventam ações quase inúteis,
”
nas, que são a maior parte, as
mediamente urbanas e as ru-
LM Sr. Jacinto Lanços, o se- mas que tentamos apoiar Continua na página 9
2. Diário do Minho
SEGUNDA-FEIRA, 5 de março de 2012 Entrevista www.diariodominho.pt 9
Defender a freguesia e não fazer o seu funeral
DR
Continuação da página 8 unidade de apoio especiali- mei logo de negro. Também
zado a crianças carenciadas como dirigente da Associação
com dificuldades ao nível do Nacional de Freguesias tive
LM Na Junta de Freguesia
desenvolvimento. O que faz que estar contra porque a as-
de S. Lázaro quantas pesso- sociação tomou esta atitude.
esta unidade e a quem é que
as trabalham a tempo intei- se dedica? Há pessoas que não entende-
ro? JL É uma unidade que fun- ram a posição da ANAFRE.
JP A tempo inteiro, temos 3
ciona na escola e Jardim de Como associação representa-
funcionárias em cada jardim Infância de S. Lázaro. Não é tiva de todas as freguesias por-
de infância, portanto 9, e 3 na propriamente da junta. Está tuguesas, a ANAFRE não po-
própria junta. São doze fun- ligada ao agrupamento de Es- deria aceitar que sequer uma
cionárias, para além dos ele- colas André Soares. É uma es- delas fosse extinta.
mentos do executivo que so- trutura de apoio a crianças em
mos 5. Cada um tem a sua ati- idade escolar portadoras de LM Julgo que o Governo vai
vidade. Um trata da educação, deficiências. É uma unidade publicar um novo documen-
outro da parte social, o secre- que temos todo o prazer em to…
tário das tarefas administrati- apoiar, porque sabemos, por JP Há uma outra proposta
vas. Dizem-nos que a junta um lado, que as famílias que que parece vai sair dentro de
não deve servir só para pas- têm estas crianças veem na dias e que passa a responsa-
sar atestados, mas também unidade uma hipótese de tra- bilidade da reestruturação ad-
serve. Temos duas funcioná- tamento dos filhos. Por outro ministrativa para as assem-
rias administrativas a tratar lado, como agora as crianças bleias municipais. Dizia-se que
dos casos de cidadãos que portadoras de deficiências têm não havia perda de identida-
querem regularizar a sua si- que estar integradas no ensi- de nem de autonomia, mas a
tuação junto do Serviço de Es- no oficial, a escola tem um verdade é que uma freguesia
trangeiros e Fronteiras e têm corpo de técnicas especializa- que se agregue a 3 ou 4 na-
que ter os seus documentos. das. Constitui um exemplo do turalmente perde alguma
Temos que saber se as pesso- João Pires, presidente da Junta de S. Lázaro que é a prestação de serviço identidade. As que se agre-
as residem ou não naquele lo- à comunidade. gam deixam de ter, pelo me-
cal, se são as pessoas que pe- Jacinto Lanços, em que é tências, há muita coisa que municação para resolver es- nos, o seu nome. A nossa as-
dem um atestado para entre- que se pode desenvolver podemos projetar e fazer. Nós tas situações... LM Sr. presidente, em rela- sembleia de freguesia mani-
gar na Segurança Social para mais a ação predominante- não temos competência nem JL Claro, mas se tivéssemos ção ao novo mapa autárqui- festou-se contra o documen-
comprovar o seu agregado fa- mente social da Junta de para pôr uma pedrinha no competências para tratar de co, algum comentário que to. Os cidadãos de S. Lázaro
miliar. O nosso trabalho admi- Freguesia de S. Lázaro? chão porque compete à Câ- situações que surgem na fre- lhe ocorre neste momen- elegeram esta junta para de-
nistrativo é de quase 7 horas JL A resposta é fácil: a Jun- mara. Nós, simplesmente guesia, pode ter a certeza que to? fender a freguesia e não para
JL Sou um dos que estive-
diárias. ta deve ter mais competên- como o presidente disse, es- seriam tratadas de outra ma- fazer o seu funeral. A minha
cias e mais capacidade huma- tamos atentos às situações neira. ram sempre contra o mapa posição é contrária àquilo que
LM Vou lançar aos dois o na e financeira para realizar que vão surgindo. que o Governo decidiu pôr à o documento verde quis im-
último desafio, que é per- aquilo que tem a realizar. Se LM Sr. presidente, a Junta discussão, através do famoso plementar em termos de re-
guntar o que falta fazer? Sr. a Câmara nos delegar compe- LM E abrem os canais de co- de S. Lázaro dispõe de uma documento verde, que eu cha- organização.
Já viu um agente policial
concertar torneiras em casa de velhotas?
LM Que medidas pode uma junta de freguesia tomar, no problemáticos, onde não há bem exclusão social, mas isola- às casas onde as pessoas vivem isoladas, bate à porta, pergun-
sentido de diminuir o isolamento dos idosos? mento social, e a freguesia procura corresponder às necessi- ta se estão, e faz feedback connosco. Se temos conhecimento
JL Há várias. Uma é promover passeios com caráter lúdico dades das pessoas. Funcionamos, às vezes, como confessio- de que alguém precisa de ser visitado, pedimos ao Sr. agente
e cultural, retirando as pessoas do seu isolamento e levan- nários. As pessoas vão expor à Junta de Freguesia problemas Duarte, que é uma pessoa extraordinária, que tem uma valia
do-as a locais que lhes ensinem algo que não conheciam. que aparentemente não seriam dela. social extraordinária. Já viu um agente policial concertar tor-
Além desses passeios, incentivamos formações em diversas neiras em casa de velhotas no bairro Nogueira da Silva?
áreas: formação musical, informática, artes decorativas. É uma LM Isso significa uma grande cadeia solidária em relação aos
das vertentes que nos dá muito trabalho. Outra é dar apoio mais idosos. LM Acho extraordinário!
financeiro mais direto, através das Conferências Vicentinas. JL É verdade, estamos vocacionados ou tornámo-nos voca- JL É uma realidade. Se há, por exemplo, uma senhora que
Temos uma enormidade de famílias carenciadas e uma per- cionados para isso. Inclusivamente, há um agente da PSP que vive completamente sozinha, apesar de ter família, ele vai lá
centagem grande de pessoas idosas. E temos alguns bairros percorre a freguesia. Chama-se polícia de proximidade. Vai falar com ela e fazer companhia.