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Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ




         CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

Disciplina: Sistemas Mecânicos Automotivos
        Professor: Carlo Giuseppe Filippin, M. Eng.




    Sistemas Mecânicos Automotivos




                                                                             1
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin


                                                             ÍNDICE

1  HISTÓRICO DO AUTOMÓVEL .......................................................................................10
 1.1    História dos Logotipos de Fabricantes de Automóveis............................................37
 1.2    Cronologia ...............................................................................................................60
2 dinâmica de marcha.........................................................................................................63
 2.1    Rendimento .............................................................................................................67
 2.2    Componentes do Trem Motriz .................................................................................67
 2.3    Disposição do Trem Motriz ......................................................................................67
 2.4    Objetivo do Trem Motriz ..........................................................................................68
   2.4.1 Resistências ao Movimento .................................................................................68
 2.5    Força Trativa ...........................................................................................................73
   2.5.1 Variação da Força Trativa Com a Velocidade......................................................73
   2.5.2 Curvas de Performance .......................................................................................75
   2.5.3 Curvas de Potência Constante ............................................................................75
   2.5.4 Curvas de Potência e Torque ..............................................................................78
 2.6    Determinação do Conjunto de Relações de Transmissão de uma Caixa de
 Engrenagens ......................................................................................................................79
 2.7    Equação de Equilíbrio de Forças.............................................................................82
 2.8    Configurações .........................................................................................................83
   2.8.1 Características das principais configurações: ......................................................89
3 EMBREAGEM E ACOPLAMENTOS ...............................................................................95
 3.1    Embreagem de Fricção ...........................................................................................95
 3.2    Torque Transmissível ..............................................................................................96
 3.3    Embreagem de Fricção Cônica ...............................................................................97
 3.4    Outras Configurações de Embreagens por Atrito ....................................................98
 3.5    Embreagens Eletromagnéticas..............................................................................102
 3.6    Embreagem Hidráulica ..........................................................................................103
4 CAIXAS DE TRANSMISSÃO.........................................................................................108
 4.1    Tipos......................................................................................................................108
   4.1.1 Caixa de transmissão por engrenamento por deslocamento .............................109
   4.1.2 Caixas de transmissão por engrenamento constante ........................................110
   4.1.3 Caixas de transmissão por engrenamento constante sincronizada ...................113
   4.1.4 Caixas de transmissão direta e indireta .............................................................117
   4.1.5 Caixa de transmissão com eixos intermediários opostos ..................................118
   4.1.6 Caixa de transmissão epicíclica.........................................................................120
   4.1.7 Caixa de transmissão automática ......................................................................122
 4.2    Transmissões Auxiliares........................................................................................131
 4.3    Conversores de Torque.........................................................................................136
 4.4    Transmissões Continuamente Variáveis ...............................................................139
5 EIXO MOTRIZ ...............................................................................................................142
 5.1    Tipos......................................................................................................................142
 5.2    Velocidade.............................................................................................................142
 5.3    Configurações .......................................................................................................143
   5.3.1 Eixo motriz com simples redução ......................................................................143
   5.3.2 Eixo motriz com dupla redução..........................................................................144
   5.3.3 Eixo motriz com redução nos cubos ..................................................................146
   5.3.4 Eixo motriz de dupla redução com dupla velocidade .........................................147
 5.4    Diferencial .............................................................................................................149
   5.4.1 Diferencial aberto...............................................................................................151


                                                                                                                                    2
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin

   5.4.2 Eixo bloqueado ..................................................................................................153
   5.4.3 Diferencial com deslizamento controlado ..........................................................154
6 TRAÇÃO 4X4, 6x4 E INTEGRAL ..................................................................................161
 6.1    Controle de Tração................................................................................................171
7 JUNTAS UNIVERSAIS ..................................................................................................176


                                                      ÍNDICE DE FIGURAS


Figura 1: Pictografia Sumeriana de um veículo com rodas, 3500 a.C. ..................................11
Figura 2: Veículo a vapor de Nicholas Cugnot, 1771.............................................................12
Figura 3: Carruagem a vapor de Richard Trevithick, 1800. ...................................................12
Figura 4: Veículo de Gottlieb Daimler com motro à combustão interna, 1885. ......................13
Figura 5: Veículo de Karl Benz com motro à combustão interna, 1885. ................................13
Figura 6: O primeiro veículo de Daimler. ...............................................................................14
Figura 8: Henry Ford e o Quadriciclo, de 1896. .....................................................................16
Figura 9: Ford Modelo A de 1903. .........................................................................................17
Figura 10: Henry Ford e o Modelo T de 1908. .......................................................................17
Figura 11: Linha de montagem da Ford.................................................................................17
Figura 12: A fábrica da Ford Motor Company em Highland Park, em 1918...........................18
Figura 13: O piloto Ralph DePalma e seu Packard V-12 in 1919. .........................................20
Figura 14: Lancia Lambda, com carroceria monobloco e suspensão dianteira independente.
    .........................................................................................................................................20
Figura 15: Transmissão automática para caminhões. ...........................................................21
Figura 16: Pierce-Arrow Silver Arrow 1933 V 12 ...................................................................22
Figura 17: Chrysler Airflow 1935, 8 cilindros em linha, 5.3 litros, 138 HP..............................23
Figura 18: Peugeot 402, 2.0 litros desenvolvendo 55 CV ......................................................23
Figura 19: BMW 307 1956 e BMW Z4.................................................................................24
Figura 20: Chevrolet SSR e Chevrolet Pick-up 1951 ..........................................................24
Figura 21: Chrysler PT Cruiser. .............................................................................................24
Figura 22: Protótipos do KDF wagen construídos onde se percebe as portas abrindo-se para
    trás...................................................................................................................................25
Figura 23: O Kommandeurwagen, veículo militar com base na plataforma do Sedan. .........26
Figura 24: O Kübelwagen, veículo militar. .............................................................................26
Figura 25: O Schwimmwagen, veículo militar anfíbio. ...........................................................26
Figura 26: Bantam 40 BRC....................................................................................................30
Figura 27: Willys MA ..............................................................................................................30
Figura 28: Ford Pigmy ...........................................................................................................30
Figura 29: Willys MB ..............................................................................................................31
Figura 30: CJ-2A....................................................................................................................31
Figura 31: CJ-3A....................................................................................................................32
Figura 32: CJ-3B....................................................................................................................32
Figura 33: Jeep modelo CJ-5.................................................................................................32
Figura 34: CJ-7 ......................................................................................................................33
Figura 35: Pneu diagonal.......................................................................................................34
Figura 36: Pneu radial. ..........................................................................................................34
Figura 37: Estrutura de um pneu. ..........................................................................................35
Figura 38: Pneu diagonal sem carga e área de contato com o piso. .....................................36
Figura 39: Pneu diagonal com carga e área de contato com o piso. .....................................36
Figura 40: Comportamento em curva do pneu diagonal. .......................................................36
Figura 41: Pneu radial sem carga e área de contato com o piso...........................................36

                                                                                                                                             3
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin

Figura 42: Pneu radial com carga e área de contato com o piso...........................................37
Figura 43: Comportamento em curva do pneu radial.............................................................37
Figura 44: Logotipo Alfa Romeo. ...........................................................................................38
Figura 45: Logotipo Aston Martin...........................................................................................38
Figura 46: Logotipo Audi........................................................................................................39
Figura 47: Logotipo BMW. .....................................................................................................40
Figura 48: Logotipo Buick. .....................................................................................................41
Figura 49: Logotipo Cadillac. .................................................................................................42
Figura 50: Logotipo Chevrolet................................................................................................43
Figura 51: Logotipo Chrysler..................................................................................................43
Figura 52: Logotipo Citroën. ..................................................................................................43
Figura 53: Logotipo Dodge. ...................................................................................................43
Figura 54: Logotipo Ferrari. ...................................................................................................44
Figura 55: Logotipo FIAT. ......................................................................................................45
Figura 56: Logotipo Ford........................................................................................................45
Figura 57: Logotipo Gurgel. ...................................................................................................47
Figura 58: Logotipo Honda. ...................................................................................................47
Figura 59: Logotipo Jeep. ......................................................................................................47
Figura 60: Logotipo Lamborghini. ..........................................................................................47
Figura 61: Logotipo Lotus. .....................................................................................................48
Figura 62: Logotipo Maserati. ................................................................................................48
Figura 63: Logotipo Mazda. ...................................................................................................49
Figura 64: Logotipo Mercedes-Benz......................................................................................49
Figura 65: Logotipo Mitsubishi. ..............................................................................................50
Figura 68: Logotipo Peugeot..................................................................................................52
Figura 69: Logotipo Porsche..................................................................................................52
Figura 70: Logotipo Quadrifoglio............................................................................................53
Figura 71: Logotipo Renault...................................................................................................53
Figura 72: Logotipo Rolls Royce............................................................................................54
Figura 73: Logotipo Saab.......................................................................................................55
Figura 74: Logotipo Subaru. ..................................................................................................56
Figura 75: Logotipo Volkswagen............................................................................................56
Figura 76: Logotipo Volvo. .....................................................................................................58
Figura 77: Logotipo Willys......................................................................................................59
Figura 78: Curvas típicas de um motor ciclo Otto apresentando a potência máxima e o
    torque máximo. ..............................................................................................................64
Figura 79: Curvas típicas de um motor Diesel apresentando a potência máxima e o torque
    máximo. Com a indicação da curva de consumo de combustível pode-se determinar a
    faixa ótima de funcionamento. A seleção do trem motriz deve ser feita de modo a manter
    o motor funcionando preferencialmente na faixa de consumo ótimo. ..............................65
Figura 80: Curva de desempenho de um veículo, apresentado o desenvolvimento das
    velocidades em cada marcha em função da rotação do motor. Nota-se a faixa de
    utilização do veículo em cada marcha, em função dos limites mínimos e máximos de
    rotação recomendados para o motor, e a faixa econômica, onde o consumo de
    combustível é mínimo. .....................................................................................................66
Figura 81: Curva de resistência ao rolamento de um ônibus comparando o desempenho do
    veículo equipado cm pneus diagonais (convencionais) e com pneus radiais. Nota-se o
    menor atrito gerado pelos pneus radiais, que para a velocidade de 80 km/h chega a
    consumir 30 CV a menos que os pneus diagonais. .........................................................71
Figura 82: Curva de resistência aerodinâmica de um ônibus em função da velocidade,
    comparando-se a diminuição do arraste aerodinâmico conseguido com a melhora do


                                                                                                                                 4
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin

    coeficiente de penetração aerodinâmica do veículo, que chega a ser de 42% a 80 km/h.
    .........................................................................................................................................71
Figura 83: Curva de resistência total de um ônibus apresentando-se a potência consumida
    em função da velocidade desenvolvida e das características de rampa a ser superada.72
Figura 84: Curva de performance. .........................................................................................74
Figura 85: Curva de performance. .........................................................................................76
Figura 86: Curva de potência constante, representando a situação ideal onde o veículo teria
    infinitas relações de transmissão, com o motor trabalhando sempre na melhor faixa de
    consumo ou de desempenho...........................................................................................78
Figura 87: Curva de potência e de torque do motor. .............................................................79
Figura 88: Curva de desempenho de um caminhão-trator com caixa de câmbio de 10
    marchas e um eixo motriz de simples redução. ...............................................................82
Figura 89: Tração dianteira com motor dianteiro. ..................................................................84
Figura 90: Tração traseira com motor traseiro transversal. ...................................................84
Figura 91: Tração traseira com motor traseiro longitudinal....................................................85
Figura 92: Tração traseira com motor traseiro transversal. ...................................................85
Figura 93: Tração traseira com motor traseiro transversal. ...................................................85
Figura 94: Tração traseira com correntes. .............................................................................86
Figura 95: Tração traseira com suspensão De Dion..............................................................86
Figura 96: Tração traseira com motor central. .......................................................................87
Figura 97: Tração dianteira com motor dianteiro transversal.................................................88
Figura 98: Tração dianteira com motor dianteiro longitudinal. ...............................................88
Figura 99: Tração integral com motor dianteiro longitudinal. .................................................89
Figura 100: Variante da configuração Standard com tração traseira, motor dianteiro
    longitudinal e caixa de câmbio traseira. ...........................................................................90
Figura 101: Configuração Standard com tração traseira, motor dianteiro longitudinal. .........91
Figura 102: Configuração com motor e tração traseiros. .......................................................92
Figura 103: Configuração com tração dianteira e motor dianteiro transversal.......................93
Figura 104: Clássica configuração com tração 4x4 parcial com motor dianteiro longitudinal.94
Figura 105: Esquema de acoplamento por embreagem. .......................................................95
Figura 106: Esquema de acoplamento por embreagem de fricção. ......................................95
Figura 107: Acionamento hidráulico de embreagem de fricção. Ao acionar o pedal o condutor
    comuta a válvula que permite o enchimento do cilindro hidráulico que por sua vez aciona
    a embreagem. Ao liberar o pedal da embreagem o condutor comuta a válvula para a
    posição de esvaziamento do cilindro que libera a embreagem. ......................................96
Figura 108: Esquema de isolamento de vibrações em embreagem de fricção......................97
Figura 109: Esquema de acoplamento por embreagem cônica de fricção. ...........................97
Figura 110: Esquema de acoplamento por embreagem multidisco de fricção.......................98
Figura 111: Embreagem multidisco – com dois discos - aplicada em motor Diesel de
    caminhão pesado. ...........................................................................................................99
Figura 112: Esquema de acoplamento por embreagem com mola tipo diafragma................99
Figura 113: Embreagem de diafragma de acionamento inverso (puxando). Permite o
    acionamento de sincronizador auxiliar na entrada da caixa de câmbio através do mesmo
    mecanismo. ...................................................................................................................100
Figura 114: Esquema de acoplamento por embreagem Borg & Beck. ................................101
Figura 115: Esquema de acoplamento por embreagem de discos em banho de óleo. .......101
Figura 116: Esquema de acoplamento por embreagem centrífuga. ....................................102
Figura 117: Esquema de acoplamento por embreagem por corrente parasita. ...................102
Figura 118: Esquema de acoplamento por embreagem eletromagnética Ferlec.................103
Figura 119: Esquema de acoplamento por embreagem hidráulica......................................104
Figura 120: Esquema de um rotor de uma embreagem hidráulica. .....................................105
Figura 121: Esquema de acoplamento por embreagem hidráulica......................................106

                                                                                                                                             5
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin

Figura 122: Disco e platô de embreagem de fricção. ..........................................................107
Figura 123: Volante do motor sobre o qual se acoplam o disco e platô de embreagem de
    fricção. ...........................................................................................................................107
Figura 124: Esquema de uma caixa de câmbio...................................................................108
Figura 125: Esquema de uma caixa de câmbio por deslocamento de engrenagens...........109
Figura 126: Caixa de câmbio por deslocamento de engrenagens.......................................110
Figura 127: Esquema de caixa de câmbio por engrenamento constante. ...........................111
Figura 128: Caixa de câmbio mista. ....................................................................................111
Figura 129: Caixa de câmbio continuamente engrenada, exceto a primeira marcha. .........112
Figura 130: Mecanismos de seleção de marcha. ................................................................112
Figura 131: A selector fork / Ball-type. .................................................................................113
Figura 132: Mecanismos de sincronização de carga constante, podendo ser aplicados
    externa ou internamente às engrenagens a sincronizar. ...............................................113
Figura 133: Mecanismo de sincronização tipo "baulk”; (Vauxhall Motors)...........................114
Figura 134: Mecanismo sincronizador com anéis sincronizadores postiços........................114
Figura 135: Mecanismo sincronizador com cone duplo postiço (Smiths Industries)............115
Figura 136: Mecanismo sincronizador com cone duplo postiço (ZF D-series).....................115
Figura 137: Mecanismo de sincronização Porsche. ............................................................115
Figura 138: Mecanismo de sincronização Scania: 1. Engrenagem; 2. Luva acionadora; 3.
    Luva de engate; 4. Engrenagem; Sistema de travamento - marcha engatada ..............116
Figura 139: Caixa de câmbio totalmente indireta de quatro marchas com a redução final do
    eixo motriz acoplada diretamente no eixo secundário da caixa.....................................118
Figura 140: Caixa de câmbio de veículo de passageiros com 5 velocidades, com marcha
    direta (ZF Synchroma S5-31). 1 – Eixo de entrada; 2 – Eixo secundário; 3 – Haste de
    acionamento; 4 – Eixo intermediário; 5 – Eixo de saída. ..............................................118
Figura 141: Caixa de câmbio com eixos intermediários opostos (Fuller).............................119
Figura 142: Caixa de câmbio com eixos intermediários opostos (Rockwell). ......................119
Figura 143: Esquema de funcionamento de uma transmissão epicicloidal. ........................122
Figura 144: Transmissão automática para caminhões, ônibus e veículos especiais com
    retarder integrado (ZF Ecomat 5 HP 500). 1 Conversor de torque hidrodinâmico com
    lock-up; 2 Retarder hidrodinâmico; 3 Conjunto planetário com 5 velocidades; 4 Bomba de
    óleo; 5 Controle da transmissão. ...................................................................................123
Figura 145: Caixa de câmbio automática Borg-Wamer 65. .................................................124
Figura 146: Caixa de câmbio convencional com acionamento automático. ........................125
Figura 147: Caixa de câmbio convencional com acionamento automático. ........................126
Figura 148: Motor e caixa de câmbio convencional de motocicleta.....................................126
Figura 149: Caixa de câmbio automática.............................................................................127
Figura 150: Diagrama de processo de estratégias de mudança de marcha no câmbio
    Tiptronic. ........................................................................................................................127
Figura 151: Diagrama de desempenho da caixa de câmbio automática de 5 velocidades ZF 5
    HP 18.............................................................................................................................128
Figura 152: Sistema de controle da caixa de câmbio automática AP. .................................129
Figura 153: Sistema de controle eletrônico de transmissão. ...............................................129
Figura 154: Esquema da caixa de câmbio automática ZF 5 e ZF 6 HP 5000......................130
Figura 155: Caixa de câmbio SCANIA com 10 marchas (5 x 2) empregando grupo redutor. 1
    - Árvore principal; 2 -Caixa de mudanças principal; 3 - Seção planetária; 4 - Árvore de
    saída. .............................................................................................................................131
Figura 156: Caixa de câmbio ZF - VOLVO, Mercedes-Benz - com 16 marchas (2x4x2)
    empregando splitter e grupo redutor e integral retarder (ZF-16 S 220 Ecosplit)............132
Figura 157: Caixa de câmbio VOLVO com 14 marchas (2 + (2 x 3 x 2) empregando splitter e
    grupo redutor. ................................................................................................................132


                                                                                                                                         6
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin

Figura 158: Caixa de câmbio VOLVO com 14 marchas (2 + (2 x 3 x 2) empregando splitter e
    grupo redutor. ................................................................................................................133
Figura 159: Caixa de câmbio VOLVO com 14 marchas (2 + (2 x 3 x 2) empregando splitter e
    grupo redutor. ................................................................................................................133
Figura 160: Caixa de câmbio VOLVO com 14 marchas (2 + (2 x 3 x 2) empregando splitter e
    grupo redutor. ................................................................................................................134
Figura 161: 1 Árvore secundária; 2 Engrenagem solar; 3 Porta-planetárias; 4 Rolamento de
    agulhas; 5 Engrenagem planetária; 6 Coroa; 7 Disco de acionamento; 8 Cubo de
    sincronização; 9 Dispositivo de sincronização; 10 Luva de engate; 11 Árvore de saída; 12
    Engrenagem acionadora; 13 Rolamento de esferas; 14 Sensor de velocidade; 15
    Acionamento do velocímetro; 16 Flange de acoplamento. ............................................135
Figura 162: Acionamento de grupos redutores planetários. ................................................136
Figura 163: Conversor de torque hidrodinâmico com lockup. 1- Lockup; 2 – Turbina; 3 -
    Bomba; 4 – Estator; 5 – Roda livre. ...............................................................................137
Figura 164: Conversor de torque Trilok (curva de desempenho típica para veículo de
    passageiros). .................................................................................................................137
Figura 165: Conversor de torque. ........................................................................................137
Figura 166: Conversor de torque Allison..............................................................................138
Figura 167: Transmissão continuamente variável do Ford CTX 811. ..................................139
Figura 168: Transmissão Variomatic com correia (CVT). ....................................................140
Figura 169: Transmissão Variomatic Van Doorne (CVT).....................................................140
Figura 170: Transmissão continuamente variável por polias cônicas e correia metálica.....141
Figura 171: Transmissão continuamente variável por rodas de atrito. ................................141
Figura 172: Redução simples por engrenamento cônico hipoidal. ......................................144
Figura 173: Dupla redução por engrenamento cilíndrico + engrenamento cônico...............145
Figura 174: Dupla redução por parafuso sem-fim + engrenamento epicicloidal (Kirkstall). .145
Figura 175: Dupla redução por engrenamento cônico + duplo engrenamento cilíndrico. ....145
Figura 176: Dupla redução por engrenamento cônico + engrenamento epicicloidal duplo..146
Figura 177: Dupla redução por engrenamento cônico + engrenamento cilíndrico...............146
Figura 178: Redução nos cubos por engrenamento cilíndrico.............................................146
Figura 179: Redução nos cubos por engrenamento epicicloidal. ........................................147
Figura 180: Redução nos cubos por engrenamento cônico.................................................147
Figura 181: Dupla redução com dupla velocidade...............................................................148
Figura 182: Eixo motriz de caminhão pesado com redução nos cubos por engrenamento
    epicicloidal. ....................................................................................................................148
Figura 183: Carcaças de eixos motrizes..............................................................................148
Figura 184: Esquema de eixo motriz com diferencial. .........................................................149
Figura 185: Sistema diferencial. ..........................................................................................151
Figura 186: Esquemas de diferencial aberto. ......................................................................151
Figura 187: Diferencial aberto por engrenamento cônico e por engrenamento epicicloidal.152
Figura 188: Diferencial aberto por engrenamento epicicloidal com distribuição desigual de
    torque e velocidade entre os semi-eixos........................................................................152
Figura 189: Diferencial aberto com engrenagens cônicas. ..................................................153
Figura 190: Bloqueio manual de diferencial por acionamento pneumático, bloqueando um
    semi-eixo na carcaça diferencial....................................................................................153
Figura 191: Bloqueio manual de diferencial por acionamento pneumático, bloqueando uma
    planetária na carcaça diferencial. ..................................................................................154
Figura 192: Bloqueio manual de diferencial por acionamento pneumático, bloqueando uma
    planetária na carcaça diferencial. ..................................................................................154
Figura 193: Diferencial autoblocante. ..................................................................................155
Figura 194: Diferencial autoblocante Dana Trac-Loc™. ......................................................156
Figura 195: Diferencial autoblocante Salisbury....................................................................157

                                                                                                                                       7
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin

Figura 196: Diferencial autoblocante ENSIMEC Full-Lock...................................................158
Figura 197: Diferencial Inteligente Kaiser. ...........................................................................158
Figura 198: Diferencial autoblocante Torsen™....................................................................159
Figura 199: Diferencial autoblocante Torsen II™.................................................................159
Figura 200: Diferencial viscoso instalado entre semi-eixo e carcaça do eixo. .....................160
Figura 201: Diferencial viscoso instalado entre semi-eixo e semi-eixo. ...............................160
Figura 202: Diferencial autoblocante ZF. .............................................................................161
Figura 203: Sistema de tração integral do Daimler UNIMOG. .............................................162
Figura 204: Sistema de tração 4x4 do FIAT Campagnolo. ..................................................163
Figura 205: Sistema de tração integral do Audi Quattro. .....................................................163
Figura 206: Diferenciais viscosos e Torsen empregados como diferenciais centrais em
    sistemas de tração integral. ...........................................................................................164
Figura 207: Caixa de transferência com reduzida empregando engrenagens.....................165
Figura 208: Caixa de transferência e diferencial central do BMW 525iX. ............................166
Figura 209: Sistema de transmissão integral do BMW 525iX. .............................................166
Figura 210: Vantagem da tração integral e 4x4 na subida de rampa e em pisos lisos. .......167
Figura 211: Comparação entre tração integral e dianteira, e entre pneus de verão e de
    inverno. ..........................................................................................................................167
Figura 212: Sistema de tração 6x4 de caminhões...............................................................168
Figura 213: Sistema de suspensão e tração 6x4 tipo boogie (Scammell Routeman)..........168
Figura 214: Sistema de tração 6x4 de caminhão mostrando os dois eixos motrizes e o
    diferencial central (aqui deslocado para a parte anterior do conjunto). .........................168
Figura 215: Sistema de tração 6x4 de caminhões...............................................................169
Figura 216: Sistema de tração 4x4 de veículo leve com motor dianteiro transversal. .........169
Figura 217: Esquema geral de uma transmissão de trator agrícola 4x4..............................170
Figura 218: Esquema detalhado de uma transmissão com 12 marchas de trator agrícola 4x4.
    .......................................................................................................................................170
Figura 219: Esquema detalhado de uma transmissão com 20 marchas de trator agrícola
    4x4. ................................................................................................................................170
Figura 220: Curvas de adesão / escorregamento................................................................172
Figura 221: Sistema eletrônico de controle de tração integrado ao gerenciamento do motor.
    .......................................................................................................................................172
Figura 222: Sistema eletrônico de controle de tração integrado ao gerenciamento do motor.
    .......................................................................................................................................173
Figura 223: Sistema ABS/ASR 2I de controle de tração para carro de passageiros. ..........173
Figura 224: Sistema de controle de tração para carro de passageiros................................174
Figura 225: Sistema de diferencial viscoso compatível com sistema antitravamento de freios.
    .......................................................................................................................................175
Figura 226: Junta universal de Hooke. ................................................................................177
Figura 227: Gráfico mostrando as variações de velocidade e aceleração angular, para ½
    volta do eixo de acionamento (180o). Neste caso a junta apresenta um ângulo de 30o
    entre os eixos de entrada e de saída.............................................................................177
Figura 228: Junta elástica Layrub........................................................................................177
Figura 229: Junta elástica Metalastik...................................................................................178
Figura 230: Junta elástica Moulton. .....................................................................................178
Figura 231: Junta de velocidade constante Bendix Tracta. .................................................178
Figura 232: Junta de velocidade constante Bendix Weiss...................................................179
Figura 233: Junta de velocidade constante Dana Rzeppa...................................................179
Figura 234: Junta de velocidade constante Birfield. ............................................................179
Figura 235: Par de juntas universais formando um eixo FWD (Four Wheel Drive Company),
    de velocidade constante. ...............................................................................................180


                                                                                                                                            8
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin

Figura 236: Par de juntas universais formando um eixo Glaenzer, de velocidade constante.
    .......................................................................................................................................180
Figura 237: Par de juntas universais formando um eixo Kirkstall, de velocidade constante.
    .......................................................................................................................................180
Figura 238: Vista frontal do motor do BMW 525iX, DOHC 24V. O veículo básico apresenta
   tração 4x2 traseira. Para a versão 4x4 foi necessário modificar o Cárter para acomodar o
   eixo motriz dianteiro. Aqui se vê os dois semi-eixos ligados por duas juntas
   homocinéticas. ...............................................................................................................181




                                                      ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1:           Rendimento da transmissão.............................................................................67
Tabela 2:           Configuração de trem motriz. ...........................................................................68
Tabela 3:           Relações de transmissão da caixa ZF-16 S 220. ...........................................132
Tabela 4:           Fator de velocidade........................................................................................143
Tabela 5:           Resumo dos diversos diferenciais autoblocantes...........................................161




                                                                                                                                            9
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin


1   HISTÓRICO DO AUTOMÓVEL



     O automóvel é um dos aparelhos criados pelo homem que mais intensamente se
integrou às nossas vidas. Estendendo-se o termo para englobar caminhões e ônibus,
praticamente toda pessoa tem contato diário com o automóvel. Mesmo na condição de
pedestre. Ao mesmo tempo, a indústria automotiva se esforça por apresentar ao consumidor
e ao entusiasta do automóvel uma série de novidades. Novidades tecnológicas que
melhoram o desempenho do veículo, que afetam a aparência, que possibilitam maior
conforto ao dirigir e, até, que permitem a integração do carro com outras novidades da
eletrônica, como sistemas de telefonia e de música. Logo, é interessante que se conheça um
pouco da história dos veículos automotores, para entender as novidades que surgem na
indústria automotiva. Pode-se apresentar um breve histórico do automóvel, buscando
identificar as inovações tecnológicas introduzidas, descrevendo uma cronologia da evolução
dos veículos ao longo do tempo, detendo-se mais detalhadamente no final do século XIX e
início do século XX.
        O primeiro registro de um invento que foi precursor da tecnologia automotiva indica
que aproximadamente em 4000 a.C. o homem inventou a roda. Considerando, inclusive, os
veículos terrestres que se deslocam sobre esteiras, todos dependem de rodas para se
locomover. Logo, foi o invento mais importante da tecnologia automotiva. Porém, apenas em
3500 a.C., na Suméria, encontrou-se registro de um trenó sobre rodas. Portanto, com base
nos registros históricos, o homem demorou 500 anos para aplicar a roda como elemento de
um veículo. Talvez ele a tenha criado como um totem ou objeto de rituais.
        O trenó que era usado até então dependia do esforço humano para operar.
Informações do Egito de 1600 a.C. já mostram uma plataforma de tração animal. Esta
configuração de veículo perdurou por quase 3000 anos. A próxima novidade registrada em
termos de veículo foi na Inglaterra, em 1555, de uma carruagem de tração animal com
suspensão. Ou seja, somente em 1555 agregou-se alguma inovação tecnológica ao veículo
padrão da época.
        Restava, agora, tornar o veículo autopropulsado, ou seja, independente de tração
animal ou humana. Na Holanda, em 1637, o conde de Nassau desenvolveu uma canhoneira
à vela – nos moldes dos pequenos veículos que às vezes se vê nas praias. Tinha, ainda,
uma aplicação bélica, para combater em um terreno propício. Dependia, porém, das
correntes de vento, que poderiam variar de direção e intensidade afetando a marcha do
veículo. Surge, então, o primeiro veículo autopropulsado com geração própria de energia a
partir do combustível que o próprio veículo poderia carregar: o veículo a vapor de Cugnot,
construído na França em 1771. Como se pode ver na figura, o veículo consistia em uma
plataforma de três rodas à qual se instalou uma caldeira e um motor a vapor. Como a
caldeira ficava à frente do eixo dianteiro a manobrabilidade do, então, automóvel, era
precária. Por conta disso que Cugnot e seu veículo foram os protagonistas do primeiro
acidente automobilístico da história, quando, ao descrever uma curva, Cugnot atingiu um
muro.
        Como os sistemas desenvolvidos eram patenteados, e aproveitando das dificuldades
do carro de Cugnot, James Watt, na Inglaterra em 1775, criou o veículo a vapor de alta
pressão. Com a caldeira produzindo vapor com pressão mais elevada que aquela
empregada por Cugnot, Watt conseguiu construir um veículo mais leve e mais manobrável.
Com isso, melhorou a credibilidade sobre os automóveis, até que em 1800, também na
Inglaterra, Trevithick empregou um veículo a vapor como o primeiro veículo de transporte de
passageiros autopropulsado. Ou seja, o primeiro ônibus.



                                                                                               10
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin

       Com a popularização do automóvel a vapor, e com as dificuldades operacionais deste
– exigia um motorista e um foguista, para alimentar a caldeira, a busca por combustíveis
alternativos levou Rivaz, na Suíça, em 1807, a construir o primeiro veículo com motor de
combustão interna manual, queimando hidrogênio. Sim, hoje, em pleno século XXI estamos
buscando, também, a aplicação do hidrogênio como combustível. É claro, em condições
mais elaboradas que as da época. Brown, dezenove anos depois, em 1826 na Inglaterra,
apresentou seu veículo com motor a combustão interna sem explosão, queimando álcool.
Cabe, aqui, lembrar que estes motores não apresentavam uma vela para promover a
explosão do combustível. Empregavam um filamento aquecido, uma resistência elétrica,
para que, sob compressão, a mistura ar e combustível queimasse, porém, em explodir.
Logo, eram motores lentos, que trabalhavam a rotações de poucos rpm. Buscando, então,
maior agilidade nos motores, na França em 1862 Lenoir construiu o primeiro veículo com
motor de combustão interna de dois tempos operando a gás de carvão – gasogênio.
       Percebe-se que o desenvolvimento de veículos se concentrou na Europa. Porém, os
países do novo mundo absorviam estas novidades e nos EUA, em 1863, Roper, aplicando
bem o capitalismo americano, produziu o primeiro veículo motorizado vendido em série –
ainda que apenas 9 unidades e, é claro, era movido a vapor. O veículo a vapor apresentava-
se bastante confiável e estava nos últimos estágios de desenvolvimento.
       Com o surgimento do petróleo veio, também, o primeiro veículo motorizado com
motor de dois tempos à gasolina, na Áustria, desenvolvido por Marcus em 1865. Duas
décadas depois, na Alemanha, em 1885, Gottlieb Daimler desenvolve o primeiro veículo com
motor quatro tempos à gasolina. Na realidade era uma motocicleta. No mesmo ano, também
na Alemanha, Carl Benz desenvolve o primeiro veículo com motor de dois tempos com
ignição por centelha, à gasolina. A ignição por centelha era o último estágio de
desenvolvimento para o conceito básico do motor moderno à combustão interna.




           Figura 1: Pictografia Sumeriana de um veículo com rodas, 3500 a.C.




                                                                                              11
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin




  Figura 2: Veículo a vapor de Nicholas Cugnot, 1771.




Figura 3: Carruagem a vapor de Richard Trevithick, 1800.




                                                                             12
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin




        Figura 4: Veículo de Gottlieb Daimler com motor à combustão interna, 1885.




           Figura 5: Veículo de Karl Benz com motor à combustão interna, 1885.


   Pode-se apresentar um breve histórico do automóvel, buscando identificar as inovações
tecnológicas introduzidas, descrevendo uma cronologia da evolução dos veículos ao longo
do tempo, detendo-se mais detalhadamente no final do século XIX e início do século XX.
       Em continuação à análise da evolução do automóvel cabe, agora, abordar o
automóvel na sua concepção conceitual atual, ou seja, com as características básicas para
que seja classificado como automóvel. Estas características podem ser descritas como
veículo autopropulsado, acionado por motor com controle automático de alimentação e
queima de combustível, dirigível por um único motorista e produzido em série.



                                                                                              13
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin

       Como foi apresentado, o primeiro veículo com estas características foi inventado e
produzido por Karl Benz e por Gottlieb Daimler, de forma independente (a Daimler-Benz
somente surgiu década depois). Ambos trabalharam na Alemanha e apresentaram seus
inventos em 1885. A partir deste ponto todos os automóveis que se seguiram apresentavam
motor à combustão interna com ignição por centelha (vela) sincronizada com a rotação do
motor (sistema equivalente ao distribuidor). É claro que, nesta época, se está falando de
motores monocilíndricos de 1 a 2 CV a 700 rpm, equipando veículos que desenvolviam
velocidades máximas de 20 km/h. Em 1885 Benz havia desenvolvido um veículo de 3 rodas
e Daimler um de 2 rodas (motocicleta). No ano seguinte, em 1886, Daimler desenvolveu o
primeiro veículo com motor quatro tempos à gasolina, com ignição por centelha, com quatro
rodas. Este padrão se sucedeu e uma série de construtores repetiu a receita agregando,
cada um, alguma melhoria ao projeto original.




                         Figura 6: O primeiro veículo de Daimler.

    Na seqüência, na França, em 1891, Panhard e Levassor construíram o primeiro veículo
com chassi como estrutura primária do veículo, ao qual foram agregados os demais
componentes. No mesmo ano, Armand Peugeot construía o primeiro veículo à gasolina
vendido em série (68 unidades). Na Alemanha Benz continuou seu trabalho e apresentou,
em 1895, um veículo com três marchas. Na França, no mesmo ano, De Dion constrói o
primeiro veículo com motor refrigerado a ar.
    Os EUA também começaram a investir na indústria automotiva. Em 1895 Balzar
desenvolve um veículo com transmissão por engrenamento constante. A transmissão por
engrenamento constante é a que se usa normalmente. Neste tipo de transmissão as
engrenagens estão constantemente engrenadas, de forma que as trocas de marcha ocorrem
pelo acoplamento ou não de cada engrenagem ao seu respectivo eixo. Até então as
transmissões ocorriam por deslocamento de engrenagens, dificultando em muito a troca de
marcha como veículo em movimento. A marcha à ré de muitos carros atuais ainda é
engrenada por deslocamento de engrenagem. Este assunto será completamente abordado
em edições posteriores.
       O veículo a vapor de Cugnot (abordado na edição anterior), em função de sua
construção, tinha um perfil de aplicação como plataforma de carga. Os automóveis com
motor à combustão interna (o motor a vapor é de combustão externa, ou seja, o combustível
é queimado em uma caldeira, externa ao motor, onde o vapor gerado pelo aquecimento da
água na caldeira atua sobre um êmbolo produzindo potência) tinham o perfil de transporte
pessoal. Daimler, em 1896, construiu o primeiro caminhão com motor à combustão interna.
    Na Alemanha Opel, em 1897, incluiu a marcha à ré em seu veículo. Hoje, item
imprescindível. Outras idéias, da época, talvez fossem tão audaciosas que não se tornaram
comercialmente aplicadas. Um exemplo é de Porsche que, na Áustria em 1899, criou um
veículo com moto-gerador à gasolina acionando motores elétricos nas rodas, nos mesmos
moldes das locomotivas diesel-elétricas.


                                                                                              14
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin

    Os automóveis eram semelhantes aos veículos com tração animal do ponto de vista do
desenho do habitáculo. Não apresentavam capota. Foi Louis Renault, na França, em 1900,
que criou o primeiro veículo com habitáculo fechado, ou seja, com capota. Na seqüência,
Renault e seus irmãos criaram sua própria fábrica de veículos, que com os acontecimentos
da segunda guerra mundial foi estatizada pelo governo francês.
    Nos EUA Ranson Olds estrutura a produção em massa do OLDSMOBILE, chegando a
mais de 2 milhares de unidades produzidas. As melhorias continuavam a surgir, muitas
delas facilitando a fabricação e permitindo a produção de carros em massa. As rodas dos
veículos eram montadas em mancais de buchas, até que a SCANIA, na Suécia em 1901,
apresentou um veículo com rolamentos de esferas nas rodas. Os componentes de um
fabricante já começavam a serem aplicados em veículos de outro. Foi o caso de um veículo
DAIMLER equipado com motor PEUGEOT com turbocompressor, na Alemanha em 1902.
Com os automóveis ficando mais rápidos (o recorde de velocidade em 1898 era de 63 km/h
e em 1902 já alcançava 123 km/h) e mais comuns, melhorias na dinâmica de marcha e no
conforto foram necessárias. Surgiu, assim, o amortecedor, em 1902. Criado por Mors, na
França, inicialmente funcionava por atrito. Em 1908 Mors desenvolveu o amortecedor
hidráulico.




                   Figura 7: Um dos veículos de Armand Peugeot, 1896.

        Os motores dos veículos dessa época eram, tipicamente, monocilíndricos. Alguns
fabricantes apresentavam automóveis com motores de 2 ou até 4 cilindros. Quanto mais
cilindros apresentar um motor, para uma mesma configuração de projeto, maior será sua
potência. Porém, mais peças móveis são necessárias, maior precisão de fabricação e
montagem é exigida e maior é o custo do veículo. Porém, como o automóvel era e ainda é
um produto em contínua evolução, a CGV lança um veículo com motor de 8 cilindros em
linha, na França em 1902. No mesmo ano, na Holanda, a SPYKER apresenta o primeiro
veículo com motor de 6 cilindros e tração 4x4.
        Itens de conforto e segurança continuam a surgir. Na Inglaterra, em 1902, o volante
ajustável é oferecido. Cabe lembrar que, mais de 100 anos depois, este item ainda é visto
como opcional por alguns fabricantes. Talvez por questões de responsabilidade civil nos
EUA, também em 1902, surgem em um Baker cintos de segurança. E muita gente ainda
reluta em usá-los ainda hoje. Melhorias mecânicas também continuam ocorrendo. A Buick
apresenta nos EUA em 1903 um motor OHV 2.6 de 2 cilindros. A sigla OHV significa Over
Head Valve, ou seja, válvulas no cabeçote. Os motores apresentavam, tipicamente, válvulas
no bloco. No Brasil, o último motor que não era OHV foi o que equipava o Maverick 6
cilindros. Os freios operavam com o sistema a tambor – e muitas vezes apenas nas rodas
traseiras. O freio a disco surgiu na Inglaterra em um LANCHESTER em 1903. As carrocerias

                                                                                               15
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin

dos veículos eram construídas em madeira, às vezes completamente (nos EUA na década
de 40 do século passado portas de alguns utilitários ainda eram construídas em madeira). A
primeira carroceria totalmente em aço foi a de um VAUXHALL inglês, em 1903. A Vauxhall
viria a ser a subsidiária da GM na Europa. A carroceria em aço gerou um aspecto mais
definitivo do veículo moderno – atualmente materiais que produzem fragmentos perfurantes
em forma de lascas são proibidos por normativas de segurança.
        Continuando com mais uma etapa da história do automóvel no mundo, cabe se
dedicar alguns parágrafos a uma empresa em especial. Em 1903 é criada a Ford Motor
Company, por Henry Ford com mais 11 sócios. Henry Ford era filho de um fazendeiro, na
região de Dearborn no Michigan, EUA. Nunca gostou do trabalho no campo. Foi sempre
interessado em máquinas. Abandonou a vida no campo mudando-se para Detroit, a cidade
fundada por Antoine Cadillac. Sempre estudando mecânica, Ford construiu seu primeiro
motor à combustão interna em 1893. Era um pequeno motor que Ford fez funcionar sobre a
pia da cozinha. Três anos mais tarde construiu seu primeiro automóvel, o Quadriciclo. Em
1899 Ford criou a Detroit Automobile Company, tendo fechado no ano seguinte porque os
investidores não acreditavam na proposta de Ford em fabricar um automóvel barato. Como a
população ainda via o automóvel como um brinquedo veloz, Ford precisa construir um carro
de corrida e ganhar uma corrida importante para ter credibilidade. Construiu o Sweepstakes
e venceu, em uma corrida na pista oval de terra, o então campeão americano. Surgiram
investidores e foi criada a Henry Ford Company, em 1901. Houve atrito entre Ford e os
investidores, já que, agora, Ford queria fabricar carros de competição. Ford, então, demitiu-
se e a empresa foi rebatizada como Cadillac Automobile Company. Em 1902, Ford passou a
criar sua terceira empresa automobilística, a Ford & Malcomson, Ltd. Com poucas vendas
ele era incapaz de pagar seus fornecedores John e Horace Dodge. Incentivado por Thomas
Edison (o fundador da General Electric – GE) que trouxe um grupo de investidores e ainda
convenceu os “Dodge Brothers” a aceitar ações da empresa. Em 16 de junho de 1903,
Henry Ford e seus sócios criam a Ford Motor Company, com US$ 28.000, algumas
ferramentas e projetos. Ford estava com 39 anos de idade. Mais tarde, os “Dodge Brothers”
passaram a formar a sua própria empresa.




                       Figura 8: Henry Ford e o Quadriciclo, de 1896.

    Entre 1903 e 1908 a Ford vendeu 20.000 carros, dos Modelo A (com potência de 8 CV)
ao Modelo S, em uma série de desenvolvimento do produto. Ford denominava seus veículos
segundo a seqüência das letras do alfabeto, para cada projeto. Cabe lembrar que em 1928
Ford desenvolveu novo projeto denominado de Ford Modelo A, novamente, que ficou
conhecido no Brasil como “Ford Bigode”. Eram sempre carros muito simples, sem luxo,
voltados à população em geral. Foi em 1º de outubro de 1908 que o Modelo T estava pronto


                                                                                                16
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin

para entrar em produção. Era um carro que poderia se chamar de “popular”, apesar do
automóvel ser novidade e um bem tipicamente voltado para a população de maior renda. O
Ford T invertia esta abordagem de mercado, ao vender 10.660 unidades no primeiro ano de
produção, a US$ 825. No final da sua produção custaria US$ 259. Era movido por um motor
2.8, 4 cilindros, desenvolvendo 20 CV a 1800 rpm. Atingia 72 km/h consumindo 11,5 km/l de
gasolina, que custava US$ 0,20.




                            Figura 9: Ford Modelo A de 1903.




                      Figura 10: Henry Ford e o Modelo T de 1908.

   O processo de fabricação de um automóvel, na época, ocorria com o veículo fixo e os
operários trabalhando em torno dele. Neste ritmo, um Ford T levava doze horas e meia para
ser produzido. Ford percebeu que esse sistema resultava em uma produção reduzida e
determinava o preço de veículo, em função da mão-de-obra consumida. Adotando o método
sugerido por Taylor, Ford implantou uma “linha de produção” para o Ford T. Na linha o
veículo era movido lentamente em um trecho de 45 metros enquanto os operários
adicionavam os componentes e executavam a montagem. Em 1914 o tempo consumido
para produzir um Ford T era de 94 minutos.




                         Figura 11: Linha de montagem da Ford.

   Foi a grande revolução na produção em escala, fazendo a empresa passar dos 82.388
carros vendidos em 1912 a US$ 600, para 308.162 carros vendidos em 1914, e para


                                                                                              17
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin

585.388 Ford T vendidos a US$ 360 em 1916. Produzindo tantos veículos era preciso
vendê-los. Os próprios operários poderiam, também, comprá-los. Ford dobrou o salário de
seus operários para US$ 5 por dia de 12 horas de trabalho. Foram os mais bem pagos
operários do setor. Bons salários e produção em grande escala foram, na época,
denominados de “Fordismo”. Até sair de produção, em 1927, foram produzidos 15.007.033
Ford T.




         Figura 12: A fábrica da Ford Motor Company em Highland Park, em 1918.

        Nesse período, no mundo todo, dezenas de fábricas de veículos eram criadas. Nos
EUA cabe citar algumas. David Buick fabricava carros Buick, tendo, entretanto, que contrair
um empréstimo com Benjamin Briscoe, dono da Maxwell-Briscoe Motor Company, dando
como garantia a própria fábrica. Briscoe se tornou, então, sócio da empresa, tendo vendido
sua parte para William Durant, em 1904. Em 1908 Durant sai da Buick. Durant era dono de
duas pequenas marcas, a Little e a Republic. Contratou, então, os irmãos franceses Louis,
Gaston e Arthur Chevrolet para desenvolver suas pequenas marcas sob o nome Chevrolet.
Em seguida, ainda em 1908, George Perkins, dono da Perkins, sugere a criação de um
grande grupo de fabricantes de automóveis para sobreviver ao mercado. Apesar de não
terem conseguido convencer Henry Ford, da Ford Motor Company, nem Ramson Eli Olds,
da Olds Motor Works, foi fundada a General Motors Company – GMC (Maxwell-Briscoe
Motor Company, Reo, Scripps-Booth, Sheridam, Perkins e Cadillac). Até o final do ano
formam compradas a Buick, a Stewart Company e a Olds. No ano seguinte, a Oakland Motor
Company, que deu origem à divisão Poniac. Em 1918 a Chevrolet passa a fazer parte da
GMC, agora como General Motors Corporation, com Durant como presidente e Walter Percy
Chrysler como vice-presidente.
        Walter Chrysler sai da GMC em 1922 e passa a trabalhar na Maxwell-Chalmers com
a missão de salvar a empresa. Na seqüência, a empresa cede a Chrysler os direitos de
produção. Em 1928 a Chrysler compra a Dodge, a Plymouth e a De Soto. Em seguida,
compra a Fargo.
        Na época, a Ford também compra a Mercury e a Lincoln. Surgem, então, as “três
grandes”, as três maiores empresas de produção automotiva do século XX. Em 1919 a Ford
instala-se no Brasil. Em 1925 é a vez da GMC. A Chrysler surge ao comprar a Simca,
assumindo a Simca do Brasil em 1967.
        Complementando o assunto, quando se apresentou a conjuntura onde surgiram as
três grandes empresas automotivas americanas, serão comentados alguns aspectos que
identificam os “Vintage Cars”, ou carros das décadas de 1920 e 1930.
    Aproveitando a citação, após a época dos “vintage” desencadeou-se a Segunda Guerra
Mundial. Neste período praticamente nenhum novo modelo de automóvel foi construído
pelos paises que participaram da guerra. Ainda, estes países eram os principais produtores
de veículos no mundo. Após o conflito, os carros produzidos no final da década de 1940


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eram praticamente os mesmos da década anterior. Foram os veículos pós-guerra. Nos
países que restaram vencedores do conflito, particularmente os EUA, com o crescimento
acentuado da economia, surgiram os modelos exuberantes das décadas de 1950 e 1960,
denominados de clássicos. Os mais atuais são denominados de contemporâneos.
     Os veículos produzidos até 1904 são chamados de antigos; entre 1904 e 1918 são
veteranos. Segundo a Federação Brasileira de Automóveis Antigos, veículos produzidos
entre 1930 e 1945 seriam pós-vintage e aqueles produzidos entre 1945 e 1960 seriam pós-
guerra. Contemporâneos 1 seriam aqueles fabricados entre 1960 e 1970 e contemporâneos
2 entre 1970 e 1979.
     Retornando à época dos “vintage”, neste período houve um grande salto tecnológico. O
parâmetro de maior impacto neste período foi a potência específica dos motores. Potência
específica é o valor da potência do motor dividida pelo volume deslocado pelos êmbolos do
motor (cilindrada). Por exemplo, um motor com deslocamento volumétrico de 2000 cm³ (2.0
ou 2 litros), desenvolvendo 140 CV apresenta potência específica de 70 CV por litro. Como
referência, um motor de Fórmula 1, de 2007, desenvolvendo 850 CV com deslocamento de
3 litros, tem potência específica de 283 CV/litro. Pelas normas brasileiras, atualmente, e na
maior parte do mundo, a potência dos motores é apresentada em unidades do sistema
métrico, ou seja, em Watts. Mais especificamente em kW (quilo-Watts), que corresponde a
1000 Watts. A relação é 1 kW igual a 1,36 CV. Cabe lembrar que as unidades “práticas” de
potência, o Cavalo Vapor (CV) é a potência desenvolvida por um cavalo para levantar 75 kg
a uma altura de 1 m em 1 segundo. Para os ingleses e americanos o “Horse Power” (HP) é a
potência desenvolvida por um cavalo para levantar 550 libras a um pé de altura em 1
segundo (1 libra é igual a 453,6 gramas e 1 pé é igual a 12 polegadas ou 304,8 mm). Logo,
1 W é equivalente à potência necessária para levantar 1 kg a 1 metro de altura em 1
segundo. Para os alemães é o PS – Pferdestärke, equivalente ao CV francês.
     Na primeira década do século XX (até 1910) a potência específica dos motores era de
5,5 a 6,5 CV/litro. Na segunda década (até 1920) a potência específica passou para 9,0 a
11,0 CV/litro. Já na década de 1921 a 1930 evoluiu para 20,0 CV/litro. As maiores evoluções
tecnológicas que permitiram este aumento de potência estavam associadas à maior
resistência dos materiais e à qualidade do combustível. Em 1920 foi desenvolvido o aço
ligado ao molibdênio. O aço é uma liga (junção de vários materiais) formando um material
uniforme e mais resistente que os elementos individuais que compõem a liga. O aço mais
comum é composto por 99,0% de ferro, 0,1% de carbono, 0,1% de fósforo e enxofre, 0,4%
de silício e 0,4% de manganês. Nesta ocasião adicionou-se molibdênio ao aço, além de
outros elementos. Para efeito de comparação, as ferramentas manuais (chave de fenda,
chave fixa) de boa qualidade são fabricadas com aço ligado ao cromo e ao molibdênio. Com
isso as principais partes do motor do veículo suportavam maiores esforços e, por
conseqüência, maiores potências poderiam ser desenvolvidos no mesmo tamanho de motor.
     Na seqüência, em 1922, foi desenvolvido o filtro de ar para o motor. Logo, o ar aspirado
pelo motor passou a ser mais limpo, isento de partículas de poeira que poderiam atuar como
abrasivo nas paredes do cilindro, que forçaria o motor a operar com potências reduzidas. Em
1924, a gasolina passou a ser fornecida com adição de chumbo tetra-etila, permitindo o
aumento da taxa de compressão dos motores de 3:1 para 4,5:1. A potência é, praticamente,
uma função contínua da taxa da compressão – logo este aumento de taxa de compressão
permitiria, associado a novos materiais, um aumento da potência específica.
     Em concordância, os processos produtivos também evoluíram, assim como mais alguns
dispositivos auxiliares do veículo. Afinal, era preciso, cada vez mais, buscar novos
mercados. Do ponto de vista de produção, a intercambiabilidade de peças, na indústria
automotiva, teve como pioneira a Cadillac, desde 1908. Surge, nos EUA em 1920, a tinta
DuCo – dual componente – de secagem mais rápida. Até então somente se empregava
esmalte sintético. Como as fábricas não dispunham de linhas de pintura com estufas, a
secagem ocorria em função da temperatura ambiente. Isto explica porque a Ford somente

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oferecia o Ford T na cor preta. A cor preta, com maior capacidade de absorver calor, secava
mais rápido que as demais cores.
   Na evolução dos veículos, a Packard apresenta o primeiro motor V12, em 1912,
disponibilizando maior potência, já que, tipicamente, um motor com mais cilindros pode
desenvolver mais potência que outro motor, de mesmo deslocamento volumétrico, com
menor número de cilindros. Em 1916 surge o limpador de pára-brisa. Na Itália, em 1908
surge, em um Isotta Fraschini, o freio nas 4 rodas. Até então os veículos freavam apenas
com o eixo traseiro. Na França um Hispano – Suiza é lançado com servo-freio, em 1919.




              Figura 13: O piloto Ralph DePalma e seu Packard V-12 in 1912.

   A Oldsmobile desenvolveu o 1° veículo com carroceria em material compósito (papel e
epóxi). Na Itália, em 1922, a Lancia produz o 1° veículo com carroceria monobloco. A
carroceria monobloco, como na grande maioria dos veículos atuais, integra o habitáculo com
a estrutura do veículo, formando um único bloco estrutural. As caminhonetes, por exemplo,
assim como os caminhões, dispõem de um chassi sobre o qual assenta-se a cabine
(habitáculo), a carroceria e os componentes mecânicos. A General Motor Corporation, em
1929, lança um veículo com ar condicionado. O sistema era da marca Frigidaire, de
propriedade da própria GMC, que, também, diversificava mercados.




Figura 14: Lancia Lambda, com carroceria monobloco e suspensão dianteira independente.

    Buscando particularmente o público feminino, a Cadillac desenvolveu o motor de partida
elétrico para o veículo em 1912. Até então a partida do motor do carro era realizada através
da ação muscular do motorista por meio de uma manivela, processo difícil e até perigoso.

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Em 1926 a Cadillac apresenta o pára-brisa laminado. Desde algumas décadas o pára-brisa
laminado é item de segurança obrigatório nos veículos. Fica visível que a Cadillac se
posiciona, e ainda hoje mantém esta posição, como fabricante de veículos com maior nível
de sofisticação e de recursos. Em 1928 oferece o Cadillac com caixa de câmbio
sincronizada (exceto a primeira) e rádio, da marca Motorola. As caixas de câmbio eram de
engrenamento constante, porém não dispunham de sistemas auxiliares de sincronismo para
facilitar os engates das marchas, tornando a direção de um veículo uma atividade quase
profissional.
    As contribuições para melhorias nos automóveis freqüentemente vinham de pilotos.
Pedroso era um piloto espanhol de competições tipo rali. Como necessitava de mais
potência, desenvolveu um sistema manual de controle e variação do comando de válvulas
do motor de seu carro. Isto em 1926. O primeiro veículo com um sistema com essa função,
no Brasil, foi produzido em 2001. Claro que com um sistema mais complexo e sofisticado,
mas o objetivo era o mesmo.
         O início da década de 1930, após a crise na bolsa de valores americana, os veículos
foram construídos com aperfeiçoamentos dos sistemas mecânicos disponíveis,
particularmente com desenhos de carroceria mais ergonômicos e funcionais. Com a eclosão
da Segunda Guerra Mundial em 1939 os esforços de projeto e construção de veículos foi
redirecionado para aplicações bélicas e militares.
         No início dos anos 30 surgiram os câmbios automáticos. Primeiro em um Buick, em
1932 – era um câmbio semi-automático. Depois em um Oldsmobile, em 1939, com uma
transmissão automática de 4 velocidades. Na década de 50 os câmbios automáticos se
popularizaram, fortemente, nos EUA. Existiam versões com 2, 3 e 4 velocidades.
         As caixas de transmissão automáticas proporcionam a mudança de marcha de
maneira automática, sem a necessidade de intervenção do operador. A seleção da marcha a
ser empregada em cada instante é feita, basicamente, em função da velocidade do veículo,
da rotação do motor e da posição do acelerador do motor. Os mecanismos empregados nas
caixas automáticas são os engrenamentos planetários, isoladamente ou um conjunto deles,
conforme o número de marchas que for necessário para a caixa de câmbio. Algumas caixas
empregam transmissões em conjunto com outros tipos de engrenamentos. O acoplamento
do motor com a caixa automática é feito através de um conversor de torque.




                   Figura 15: Transmissão automática para caminhões.

A figura anterior mostra uma transmissão automática para caminhões, ônibus e veículos
especiais com retarder integrado (ZF Ecomat 5 HP 500). A indicação 1 refere-se ao
conversor de torque hidrodinâmico com lock-up – sistema de fricção de acoplamento final da
embreagem. O número 2 indica um retarder hidrodinâmico – sistema de freio auxiliar que,
através da passagem forçada de óleo consome energia da tem motriz auxiliando no controle

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de velocidade do veículo, particularmente em descidas (disponível apenas em caixas de
câmbio automáticas de veículos pesados). O item 3 é o conjunto planetário com 5
velocidades. A lubrificação e o controle da caixa de câmbio é hidráulico, acionado pela
bomba de óleo (indicação 4). As válvulas de controle do câmbio estão alojadas no Carter da
caixa (item 5).
       Neste período o desenho das carrocerias evoluiu. Alguns construtores arriscavam
desenhos ousados, com apelo aerodinâmico. Poucos efetuam análises técnicas para
desenvolver um desenho efetivamente aerodinâmico. Em 1934 a Chrysler lança o “Airflow”.
Era um veículo projetado para apresentar uma carroceria com desenho aerodinamicamente
melhor. Os únicos veículos anteriores aos Chrysler Airflow onde esse efeito foi estudado
foram o Peugeot 402 e o Silver Arrow 1933, este último, um carro produzido sob
encomenda, em pequena escala.
       O Chrysler Airflow foi desenhado em função dos testes em túnel de vento e testes de
campo em protótipos em estradas desertas. Quando foi apresentado ao público não foi bem
aceito pelo mercado, pois, apesar de apresentar inovações que, atualmente, são
encontradas em todos os automóveis, era diferente de tudo aquilo que se estava
acostumado a ver em veículos. Seu chassi tinha um novo desenho e nele era rebitada a
carroceria; o motor era colocado sobre o eixo dianteiro e a suspensão, com molas longas,
era muito mais suave. O centro de gravidade, mais baixo, e o tratamento aerodinâmico
davam ao veículo melhor estabilidade em relação aos carros de sua época. Sua carroceria
com poucas arestas, faróis embutidos, pára-brisa curvado e inclinado para trás, saias
recobrindo grande parte das rodas traseiras e o pneu sobressalente coberto, davam ao carro
um coeficiente de resistência aerodinâmica pouco superior a 0,5, o que permitia uma maior
economia de combustível e maior velocidade. Além do maior espaço interno que foi
conseguido pela distribuição racional dos componentes mecânicos, o banco dianteiro
acomodava três pessoas e o traseiro, tão cômodo como aquele, vinha colocado 50 cm para
frente do eixo de trás, ao contrário dos carros da mesma época, em que esse banco vinha
sobre o eixo, o que implicava desconforto e numa maior altura da carroceria.




                      Figura 16: Pierce-Arrow Silver Arrow 1933 V 12

       Das resistências ao movimento de um veículo o arrasto aerodinâmico é a mais
representativa, em velocidades mais elevadas. Ao se passar de 40 km/h para 120 km/h o
arrasto aerodinâmico é aumentado em 9 vezes, exigindo 27 vezes mais potência para mover
o veículo. Por exemplo, um veículo com área frontal de 2 m² trafegando a 40 km/h, ao nível
do mar, com coeficiente de penetração aerodinâmica de 0,4 encontra uma resistência de 6
kgf devido ao arraste aerodinâmico, exigindo 0,9 CV para vencê-lo. Já a 120 km/h essa
resistência será de 54 kgf, exigindo 24 CV. A 200 km/h a potência exigida seria de 112 CV.
Os veículos atuais apresentam, em média, um coeficiente de arrasto aerodinâmico de 0,3.
Este coeficiente representa a forma como a carroceria é desenhada, sendo tão menor
quanto mais aerodinâmica for a forma da carroceria. Portanto, um veículo, também com área

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frontal de 2 m², com coeficiente de 0,3, exigiria, a 200 km/h, 84 CV para vencer o arrasto
com o ar.
        As demais parcelas a serem vencidas para o movimento do veículo são: subidas (nas
descidas esta parcela passa a ser favorável), atrito de rolamento dos pneus com o piso e a
inércia (resistência à aceleração do veículo). A soma das quatro parcelas vem compor a
potência necessária para o movimento do veículo em cada condição de carga, de piso e de
velocidade.




          Figura 17: Chrysler Airflow 1935, 8 cilindros em linha, 5.3 litros, 138 HP




                  Figura 18: Peugeot 402, 2.0 litros desenvolvendo 55 CV

      As linhas de antigos veículos com excepcional desenho inspiram recentes
lançamentos. A Chrysler inspirou-se no Airflow ao lançar o PT Cruiser. A BMW inspirou-se
no 307 para lançar o Z4. A Chevrolet também relembra as linhas das antigas pick-ups da
década de 50 na SLR.




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      Figura 19: BMW 307 1956 e BMW Z4




Figura 20: Chevrolet SSR e Chevrolet Pick-up 1951




         Figura 21: Chrysler PT Cruiser.




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Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin

        A evolução tecnológica dos veículos de passeio e de carga foi interrompida com a
eclosão da Segunda Guerra Mundial em 1939. Os veículos civis permaneceram sem
alterações significativas até o final do conflito. Os principais esforços produtivos foram
canalizados para o projeto e construção de veículos para aplicações bélicas e militares.
Naturalmente, após o conflito, as inovações desenvolvidas para os veículos militares foram
aproveitadas no desenvolvimento dos veículos civis do final da década de 1940 e início
década de 1950.
        Neste período da Segunda Guerra Mundial, as características de combate exigiram,
particularmente, um veículo tático leve e ágil. Neste segmento cabe citar, especialmente, o
Jeep americano e o Kübelwagen alemão. Neste capítulo da História do Automóvel será
apresentada a história do Volkswagen e, no próximo capítulo, a história do Jeep. São
histórias com rumos distintos, já que o Kübelwagen foi derivado de um veículo civil e o Jeep
originou todo um segmento de aplicações civis de um veículo militar.
        O Sedan nasceu no período anterior à Segunda Guerra Mundial. Adolf Hitler sonhava
com a motorização da população alemã e definiu as características de um carro popular: ser
capaz de trafegar continuamente a 100 km/h, transportar quatro pessoas e suas malas e
custar no máximo 1.000 marcos imperiais. A convite do governo alemão, o engenheiro
Ferdinand Porsche deu continuidade ao projeto do carro barato com que também sonhava,
construindo vários protótipos. Talvez Hitler quisesse dar ao povo alemão a mesma
oportunidade que os americanos tiveram com um Ford “T” robusto e barato. O Volkswagen
Sedan surgiu antes da própria fábrica e da própria marca. Na realidade o automóvel
Volkswagen, um sedan duas portas, emprestou seu nome à fábrica e criou a marca.
Inicialmente foi batizado como KDF (Kraft durch Freude, ou Força através da Alegria, um
dos lemas do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães).




Figura 22: Protótipos do KDF wagen construídos onde se percebe as portas abrindo-se para
                                           trás.



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Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin

     Já havia protótipos prontos para testes em 1935/36. Como não havia uma fábrica, ainda,
a pedido de Hitler a Daimler-Benz fabricou uma série de 30 exemplares em 1937,
possibilitando a conclusão dos testes, conduzidos pela SS, a tropa de elite do governo. Em
26 de maio de 1938 era aprovada a construção de uma fábrica, em Fallersleben.
     Segundo a história, na abertura do Salão de Berlim de 1938, Hitler e sua comitiva
chegaram ao estande da Opel e um diretor disse-lhe, mostrando um novo modelo da
empresa: "Aqui está o seu carro do povo (volkswagen, em alemão), Herr Hitler". Hitler,
irritado, respondeu: "Só existe um carro do povo, o carro KdF". Logo, quem criou o nome
Volkswagen foi a Opel.




    Figura 23: O Kommandeurwagen, veículo militar com base na plataforma do Sedan.




                         Figura 24: O Kübelwagen, veículo militar.




                   Figura 25: O Schwimmwagen, veículo militar anfíbio.

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Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin



        Com o desencadear da Segunda Guerra o governo alemão solicitou que Ferdinand
Porsche criasse um veículo militar robusto e leve, com base na plataforma do KdF. Foram
apresentados os protótipos Typ 62 em 1938, os testes de campo foram imediatamente
iniciados. As principais vantagens, além da leveza, é que com um motor refrigerado a ar
poderia operar no rigoroso inverno europeu ou nos desertos das colônias africanas. A
versão forma final, o Typ 82, surgiu em 1939. Com o decorrer dos anos de guerra, outras
modificações ocorreram, como o aumento da cilindrada de 985 para 1.131 cm³.
        Resumindo-se a história do Volkswagen, apresenta-se uma cronologia de sua
evolução: em 1932, Ferdinand Porsche, nascido no dia 3 de setembro de 1875 no Império
Austro-Húngaro, esboça o desenho do veículo; em 1934 Porsche cria o NSU, protótipo do
Volkswagen que rodou até 1955, quando foi adquirido pelo Auto-Museum da Volkswagen,
na Alemanha; em 1935 Porsche recebe 200 000 marcos do governo alemão para, no prazo
de dez meses, produzir três protótipos, que saíram com 16 meses de atraso, em 1936, da
garagem da casa de Porsche, batizados de Volksauto-série VW-3, que seriam testados por
50.000 km; em 1937 Porsche, Daimler-Benz e Reuter & Co. produzem mais de 30
protótipos, batizados de VW-30, e realizam 2 400 000 de km de testes. O governo alemão, já
sob o comando de Adolf Hitler, cria uma empresa estatal e viabiliza a fabricação do carro. O
capital inicial, de 50.000.000 de marcos, veio da Kdf (iniciais em alemão de Força da
Alegria), um dos departamentos da Frente Trabalhista Alemã, o sindicato oficial. Porsche
viaja para os Estados unidos para visitar as linhas de montagem de Detroit e se encontrar
com Henry Ford; em 1938, começa a ser construída em Fallersleben, na baixa Saxônica
(região entre o rio Reno e o mar Báltico), a fábrica para a produção do carro e uma cidade
para 90 000 habitantes, destinada aos futuros operários e suas famílias. Depois, a cidade
recebeu o nome de Wolfsburg. Parte do dinheiro destinado às obras provinha de alemães
que, mesmo sem saber a data da entrega, queriam um Kdf-Wagen; em 1939, com o início
da II Guerra Mundial, os Kdf-Wagen não chegam a ser fabricados e a nova fábrica estréia
produzindo veículos militares, com destaque para Kommandeurwagen, um carro para
oficiais, com tração nas quatro rodas e um chassis mais elevado, e de que foram
construídos 667 exemplares, o Kubelwagen, do qual foram produzidos 50.788 exemplares e
para os Schwimmwagen (carro anfíbio), com produção de 14.283 veículos; em 1944 os
aliados atacam e destroem a fábrica.
      1946 - Começa a reconstrução da fábrica e a produção é limitada.
      1947 - Ingleses, Soviéticos e Norte-americanos não se interessam pela fábrica.
      1948 - Heinrich Nordhoff assume a presidência da fábrica e eleva a produção
      para 19.214 unidades/ano.
      1949 - A produção cresce para 46.154 unidades e um acordo com a Chrysler
      permite a utilização da rede de revendas da marca norte-americana em todo o
      mundo. Foi o primeiro ano do Fusca nos Estados Unidos e apenas duas
      unidades foram vendidas.
      1950 - O primeiro lote de Fuscas desembarca no Brasil, via porto de Santos.
      As 30 unidades que vieram foram rapidamente vendidas.
      1951 - Morre Ferdinand Porsche.
      1953 - Com peças da Alemanha, inclusive o motor de 1.200 centímetros
      cúbicos (cc), o carro começa a ser montado em um pequeno armazém alugado
      na Rua do Manifesto, no bairro do Ipiranga (zona sudeste de são Paulo).


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1954 - O carro Volks começa a consquitar os norte-americanos, que o
apelidam de Beetle (besouro).
1956 - A Volkswagen inicia a construçào de sua fábrica de 10.200 m² no km
23,5 da via Anchieta (São Bernardo do Campo).
1957 - A fábrica solta seu primeiro produto, a Kombi.
1959 - O Fusca começa a ser produzido no dia 3 de janeiro, com um índice de
nacionalização de 54%. A primeira unidade é adquirida pelo empresário
paulista Eduardo Andrea Matarazzo. No dia 18 de novembro, a fábrica é
inaugurada oficialmente. A Volks brasileira fecha o ano com 8.406 unidades
vendidas.
1962 - O Fusca torna-se líder de vendas no Brasil, com 31.014 veículos
vendidos.
1964 - A Volks lança o Fusca com teto solar, mas, apelidado de "Cornowagen",
fica só alguns meses no mercado.
1965 - A Volks lança a versão "Pé de Boi", cerca de 15% mais barata (não
possuía nenhum item cromado).
1967 - O carro troca o motor de 1.200 cc (36 CV) pelo 1.300 cc (46 CV) e, para
aumentar a visibilidade, ganha um vidro traseiro 20% maior e os limpadores do
pára-brisa são melhor posicionados.
1969 - Walt Disney lança o filme "Se Meu Fusca Falasse", no qual o carro,
chamado de Herbie, nada, anda sobre duas rodas e até pensa.
1970 - O carro ganha opção de motor 1.500 cc (52 CV), bitola traseira 62 mm
mais larga, eixo traseiro com barra compensadora, capô do motor com
aberturas para ventilação, novas lanternas traseiras e passa a incorporar cintos
de segurança dianteiros. Nesse ano, um incêndio destrói o setor de pintura da
fábrica e o primeiro Fusca brasileiro é exportado para a Bolívia.
1972 - A Volkswagen do Brasil atinge a produção de 1 milhão de Fuscas.
1974 - O motor 1.600 cc (65 CV) passa a ser opção para o Fusca. As vendas
do carro batem recordes, com 237.323 unidades no ano, número que nunca
seria superado.
1978 - A Volkswagen alemã deixa de produzir o Fusca.
1979 - O Fusca ganha motor movido a álcool e as lanternas traseiras crescem,
sendo apelidadas de "Fafá".
1986 - O Fusca ganha bancos reclináveis com apoio de cabeça e janelas
laterais traseiras basculantes. No final do ano, no entanto, por razões
mercadológicas (as vendas decresciam anualmente desde 1980 devido à
chegada de carros mais modernos), a Volks tira o carro de linha.
1987 - Com o fim do Fusca, o Opala é adotado pela Polícia Militar de São
Paulo.




                                                                                         28
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin

      1993 - Setembro: oito meses após o pedido do então presidente Itamar Franco
      ao então presidente da Volkswagen Pierre-Alain De Smedt e com
      investimentos de US$ 30 milhões, a Volkswagem retoma a produção do Fusca.
      Entre as novidades do modelo, destacam-se vidros laminados, catalisador,
      barras estabilizadoras na dianteira e na traseira, pneus radiais, freios dianteiros
      a disco, reforços estruturais e cintos de segurança de três pontos. Pesquisa
      Datafolha aponta o Fusca como a marca mais lembrada. Por outro lado, as
      vendas ficam abaixo das expectativas e o preço do carro cai cerca de
      US$1.000.
      1996 - Em junho, o Fusca novamente deixa de ser produzido. O México passa
      a ser o único país a produzir o carro. Em novembro é instituído oficialmente o
      dia do Fusca (20 de janeiro).
      1998 - No dia 14 de fevereiro, a fábrica de Puebla, no México, começa a
      produzir o novo Fusca em grande escala. O carro vira mania nos Estados
      Unidos. Em maio, a Volks promove um "recall" para trocar a fiação próxima à
      bateria devido à possibilidade de incêndio.

        Apresenta-se, agora, uma breve história de outro ícone do desenvolvimento
automotivo no mundo. A história do Jeep. Se existir algum benefício em uma guerra este é a
evolução tecnológica em equipamentos e veículos. O Jeep surgiu como veículo
especificamente para uso militar.
        Após a Primeira Guerra Mundial – a guerra de trincheiras – que foi extremamente
penosa para todos, militares e civis, o exército americano buscou alternativas para prover de
mobilidade suas tropas. Adaptações de veículos civis sempre foram a alternativa
encontrada. Versões do Ford T militarizado, do caminhão Marmon 4x4, entre outras foram
avaliadas. Alguns militares estavam preparando especificações para um veículo específico
para uso em combate - Quarter Ton 4x4 - e, em 1940, lançaram uma concorrência para
identificar um potencial fabricante para este veículo. Participaram da concorrência 135
empresas americanas, tendo sido produzidos 70 veículos. Apenas a Bantan Motor
Company, a Willys Overland e a Ford Motor Company apresentaram veículos compatíveis
com as perspectivas do exército americano.
        As especificações estabeleciam distância entre eixos de 80”, tração nas quatro rodas,
perfil baixo – capota de lona com pára-brisas rebatível -, fácil manobrabilidade, peso máximo
de 500 kg (que nunca foi atendido), entre outros itens. Cada participante deveria apresentar
para testes 10 protótipos dentro de um prazo de 45 dias. A Bantan tinha o melhor conjunto; a
Willys o melhor motor – um Go-Devil 2.2 4 cilindros de 60 HP -, e a Ford a maior capacidade
produtiva. Após as avaliações o exército americano condensou as características dos três
proponentes em uma especificação final que, resumidamente, era o projeto Bantam com o
motor Willys e a grade dianteira Ford.
Durante os anos de 1940 e 41 muitas versões foram produzidas pelas três empresas. Cabe
citar:
        Bantan: apresentou o modelo GPV em 23 de setembro de 1940. Em 1941 foram
produzidas 2675 unidades da versão Bantam 40 BRC, com motor Continental de 45 HP e
câmbio de 3 velocidades Warner T84.




                                                                                                 29
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin




                               Figura 26: Bantam 40 BRC


Willys: apresentou o Quad, em 11 de novembro de 1940. A versão melhorada da Willys foi o
Willys MA, com motor "Go Devil" de 60 HP e câmbio de 3 velocidades.




                                  Figura 27: Willys MA

Ford: apresentou o Pigmy, em 23 de novembro de 1940. A Ford apresentou 3550 unidades
da versão GP com motor Owen Fergusson Dearborn de 45 HP e câmbio de 3 velocidades.




                                 Figura 28: Ford Pigmy

   Em julho de 1941 foi estabelecida a configuração final do veículo, resultando
basicamente no modelo Willys modificado, denominado de MA. Este modelo foi produzido
como pré-série até ser melhorado para o modelo MB, que foi produzido em grande escala.
Em função da demanda, a Ford produziu o mesmo veículo, partindo do chassi Willys. O
veículo Ford era denominado GPW – General Purpose Willys –, ou seja, veículo modelo
Willys produzido pela Ford.


                                                                                              30
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin




                                   Figura 29: Willys MB

        Com o encerramento dos combates, e percebendo que os agricultores dos países
onde houve conflito estavam utilizando os Jeeps abandonados após a guerra como tratores,
a Willys continuou a produção do Jeep em uma versão civil. Esta versão era derivada da
versão militar, removendo-se os equipamentos padrão militares (lanternas, suporte para
fuzil, interruptor de partida sem chave, etc.) e inserindo preparação para receber
implementos agrícolas (arado, polia, lâmina para subsolador, lâmina para terraplanagem,
broca para perfuração, etc.). A primeira versão de 1944 foi denominada de CJ-1 (ou modelo
CJ-1 – de Civilian Jeep Modelo 1). Era basicamente um MB desmilitarizado. Não se sabe
quantos foram produzidos, porém nenhum sobreviveu até hoje. Modificações levaram a uma
versão especificamente civil, denominada de AgriJeep ou CJ-2, que ficou restrita a uma
pequena pré-série. Somente os CJ-2 números 09, 11, 12, 32, 37 e 39 sobreviveram.
Apresentavam alavanca de câmbio na coluna (caixa de câmbio Spicer T90, mais robusta
que a do CJ-1) e pneu sobressalente atrás do pára-lama dianteiro direito. Logo em seguida
surgiu a versão CJ-2A, retratando o Jeep mais conhecido por todos. Foram produzidas
214760 unidades entre 1945 e 1949.




                                    Figura 30: CJ-2A

       Como evolução natural do modelo, surgiu a versão CJ-3A. Era basicamente o mesmo
veículo (mesmo trem motriz) apenas com algumas modificações na carroceria – 81” de
distância entre eixos e pára-brisas inteiriço. Foram produzidas 131843 unidades entre 1949
e 1953. O motor era o mesmo do CJ-2A, um Go-Devil L134, eixo dianteiro Dana 25 e
traseiro Dana 44.




                                                                                              31
Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin




                                   Figura 31: CJ-3A

   Continuando a evolução, o motor com válvulas no bloco foi substituído pelo motor F134
Hurricane, com válvulas de admissão no cabeçote. Como este motor era mais alto, o capô
teve de ser aumentado em altura, surgindo assim o modelo CJ-3B ou “Cara de Cavalo”.
Foram produzidas mais de 30000 unidades entre 1953 e 1954. Foram produzidas mais de
190000 unidades em versões militares entre 1953 e 1967.




                                     Figura 32: CJ-3B
        A versão civil do CJ-3B apresentou vida curta em função do lançamento da versão
CJ-4 (como pré-série) seguida da versão CJ-5. O modelo CJ-5 apresentava a mesma
mecânica do CJ-3B, sendo modernizada ao longo dos anos. Esta foi a versão produzida no
Brasil, que iniciou a produção em 1958 com motor 2.6 6 cilindros, BF 161, derivado do F
134.




                             Figura 33: Jeep modelo CJ-5.

                                                                                              32
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História e evolução dos sistemas mecânicos automotivos

  • 1. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA Disciplina: Sistemas Mecânicos Automotivos Professor: Carlo Giuseppe Filippin, M. Eng. Sistemas Mecânicos Automotivos 1
  • 2. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin ÍNDICE 1 HISTÓRICO DO AUTOMÓVEL .......................................................................................10 1.1 História dos Logotipos de Fabricantes de Automóveis............................................37 1.2 Cronologia ...............................................................................................................60 2 dinâmica de marcha.........................................................................................................63 2.1 Rendimento .............................................................................................................67 2.2 Componentes do Trem Motriz .................................................................................67 2.3 Disposição do Trem Motriz ......................................................................................67 2.4 Objetivo do Trem Motriz ..........................................................................................68 2.4.1 Resistências ao Movimento .................................................................................68 2.5 Força Trativa ...........................................................................................................73 2.5.1 Variação da Força Trativa Com a Velocidade......................................................73 2.5.2 Curvas de Performance .......................................................................................75 2.5.3 Curvas de Potência Constante ............................................................................75 2.5.4 Curvas de Potência e Torque ..............................................................................78 2.6 Determinação do Conjunto de Relações de Transmissão de uma Caixa de Engrenagens ......................................................................................................................79 2.7 Equação de Equilíbrio de Forças.............................................................................82 2.8 Configurações .........................................................................................................83 2.8.1 Características das principais configurações: ......................................................89 3 EMBREAGEM E ACOPLAMENTOS ...............................................................................95 3.1 Embreagem de Fricção ...........................................................................................95 3.2 Torque Transmissível ..............................................................................................96 3.3 Embreagem de Fricção Cônica ...............................................................................97 3.4 Outras Configurações de Embreagens por Atrito ....................................................98 3.5 Embreagens Eletromagnéticas..............................................................................102 3.6 Embreagem Hidráulica ..........................................................................................103 4 CAIXAS DE TRANSMISSÃO.........................................................................................108 4.1 Tipos......................................................................................................................108 4.1.1 Caixa de transmissão por engrenamento por deslocamento .............................109 4.1.2 Caixas de transmissão por engrenamento constante ........................................110 4.1.3 Caixas de transmissão por engrenamento constante sincronizada ...................113 4.1.4 Caixas de transmissão direta e indireta .............................................................117 4.1.5 Caixa de transmissão com eixos intermediários opostos ..................................118 4.1.6 Caixa de transmissão epicíclica.........................................................................120 4.1.7 Caixa de transmissão automática ......................................................................122 4.2 Transmissões Auxiliares........................................................................................131 4.3 Conversores de Torque.........................................................................................136 4.4 Transmissões Continuamente Variáveis ...............................................................139 5 EIXO MOTRIZ ...............................................................................................................142 5.1 Tipos......................................................................................................................142 5.2 Velocidade.............................................................................................................142 5.3 Configurações .......................................................................................................143 5.3.1 Eixo motriz com simples redução ......................................................................143 5.3.2 Eixo motriz com dupla redução..........................................................................144 5.3.3 Eixo motriz com redução nos cubos ..................................................................146 5.3.4 Eixo motriz de dupla redução com dupla velocidade .........................................147 5.4 Diferencial .............................................................................................................149 5.4.1 Diferencial aberto...............................................................................................151 2
  • 3. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin 5.4.2 Eixo bloqueado ..................................................................................................153 5.4.3 Diferencial com deslizamento controlado ..........................................................154 6 TRAÇÃO 4X4, 6x4 E INTEGRAL ..................................................................................161 6.1 Controle de Tração................................................................................................171 7 JUNTAS UNIVERSAIS ..................................................................................................176 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1: Pictografia Sumeriana de um veículo com rodas, 3500 a.C. ..................................11 Figura 2: Veículo a vapor de Nicholas Cugnot, 1771.............................................................12 Figura 3: Carruagem a vapor de Richard Trevithick, 1800. ...................................................12 Figura 4: Veículo de Gottlieb Daimler com motro à combustão interna, 1885. ......................13 Figura 5: Veículo de Karl Benz com motro à combustão interna, 1885. ................................13 Figura 6: O primeiro veículo de Daimler. ...............................................................................14 Figura 8: Henry Ford e o Quadriciclo, de 1896. .....................................................................16 Figura 9: Ford Modelo A de 1903. .........................................................................................17 Figura 10: Henry Ford e o Modelo T de 1908. .......................................................................17 Figura 11: Linha de montagem da Ford.................................................................................17 Figura 12: A fábrica da Ford Motor Company em Highland Park, em 1918...........................18 Figura 13: O piloto Ralph DePalma e seu Packard V-12 in 1919. .........................................20 Figura 14: Lancia Lambda, com carroceria monobloco e suspensão dianteira independente. .........................................................................................................................................20 Figura 15: Transmissão automática para caminhões. ...........................................................21 Figura 16: Pierce-Arrow Silver Arrow 1933 V 12 ...................................................................22 Figura 17: Chrysler Airflow 1935, 8 cilindros em linha, 5.3 litros, 138 HP..............................23 Figura 18: Peugeot 402, 2.0 litros desenvolvendo 55 CV ......................................................23 Figura 19: BMW 307 1956 e BMW Z4.................................................................................24 Figura 20: Chevrolet SSR e Chevrolet Pick-up 1951 ..........................................................24 Figura 21: Chrysler PT Cruiser. .............................................................................................24 Figura 22: Protótipos do KDF wagen construídos onde se percebe as portas abrindo-se para trás...................................................................................................................................25 Figura 23: O Kommandeurwagen, veículo militar com base na plataforma do Sedan. .........26 Figura 24: O Kübelwagen, veículo militar. .............................................................................26 Figura 25: O Schwimmwagen, veículo militar anfíbio. ...........................................................26 Figura 26: Bantam 40 BRC....................................................................................................30 Figura 27: Willys MA ..............................................................................................................30 Figura 28: Ford Pigmy ...........................................................................................................30 Figura 29: Willys MB ..............................................................................................................31 Figura 30: CJ-2A....................................................................................................................31 Figura 31: CJ-3A....................................................................................................................32 Figura 32: CJ-3B....................................................................................................................32 Figura 33: Jeep modelo CJ-5.................................................................................................32 Figura 34: CJ-7 ......................................................................................................................33 Figura 35: Pneu diagonal.......................................................................................................34 Figura 36: Pneu radial. ..........................................................................................................34 Figura 37: Estrutura de um pneu. ..........................................................................................35 Figura 38: Pneu diagonal sem carga e área de contato com o piso. .....................................36 Figura 39: Pneu diagonal com carga e área de contato com o piso. .....................................36 Figura 40: Comportamento em curva do pneu diagonal. .......................................................36 Figura 41: Pneu radial sem carga e área de contato com o piso...........................................36 3
  • 4. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin Figura 42: Pneu radial com carga e área de contato com o piso...........................................37 Figura 43: Comportamento em curva do pneu radial.............................................................37 Figura 44: Logotipo Alfa Romeo. ...........................................................................................38 Figura 45: Logotipo Aston Martin...........................................................................................38 Figura 46: Logotipo Audi........................................................................................................39 Figura 47: Logotipo BMW. .....................................................................................................40 Figura 48: Logotipo Buick. .....................................................................................................41 Figura 49: Logotipo Cadillac. .................................................................................................42 Figura 50: Logotipo Chevrolet................................................................................................43 Figura 51: Logotipo Chrysler..................................................................................................43 Figura 52: Logotipo Citroën. ..................................................................................................43 Figura 53: Logotipo Dodge. ...................................................................................................43 Figura 54: Logotipo Ferrari. ...................................................................................................44 Figura 55: Logotipo FIAT. ......................................................................................................45 Figura 56: Logotipo Ford........................................................................................................45 Figura 57: Logotipo Gurgel. ...................................................................................................47 Figura 58: Logotipo Honda. ...................................................................................................47 Figura 59: Logotipo Jeep. ......................................................................................................47 Figura 60: Logotipo Lamborghini. ..........................................................................................47 Figura 61: Logotipo Lotus. .....................................................................................................48 Figura 62: Logotipo Maserati. ................................................................................................48 Figura 63: Logotipo Mazda. ...................................................................................................49 Figura 64: Logotipo Mercedes-Benz......................................................................................49 Figura 65: Logotipo Mitsubishi. ..............................................................................................50 Figura 68: Logotipo Peugeot..................................................................................................52 Figura 69: Logotipo Porsche..................................................................................................52 Figura 70: Logotipo Quadrifoglio............................................................................................53 Figura 71: Logotipo Renault...................................................................................................53 Figura 72: Logotipo Rolls Royce............................................................................................54 Figura 73: Logotipo Saab.......................................................................................................55 Figura 74: Logotipo Subaru. ..................................................................................................56 Figura 75: Logotipo Volkswagen............................................................................................56 Figura 76: Logotipo Volvo. .....................................................................................................58 Figura 77: Logotipo Willys......................................................................................................59 Figura 78: Curvas típicas de um motor ciclo Otto apresentando a potência máxima e o torque máximo. ..............................................................................................................64 Figura 79: Curvas típicas de um motor Diesel apresentando a potência máxima e o torque máximo. Com a indicação da curva de consumo de combustível pode-se determinar a faixa ótima de funcionamento. A seleção do trem motriz deve ser feita de modo a manter o motor funcionando preferencialmente na faixa de consumo ótimo. ..............................65 Figura 80: Curva de desempenho de um veículo, apresentado o desenvolvimento das velocidades em cada marcha em função da rotação do motor. Nota-se a faixa de utilização do veículo em cada marcha, em função dos limites mínimos e máximos de rotação recomendados para o motor, e a faixa econômica, onde o consumo de combustível é mínimo. .....................................................................................................66 Figura 81: Curva de resistência ao rolamento de um ônibus comparando o desempenho do veículo equipado cm pneus diagonais (convencionais) e com pneus radiais. Nota-se o menor atrito gerado pelos pneus radiais, que para a velocidade de 80 km/h chega a consumir 30 CV a menos que os pneus diagonais. .........................................................71 Figura 82: Curva de resistência aerodinâmica de um ônibus em função da velocidade, comparando-se a diminuição do arraste aerodinâmico conseguido com a melhora do 4
  • 5. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin coeficiente de penetração aerodinâmica do veículo, que chega a ser de 42% a 80 km/h. .........................................................................................................................................71 Figura 83: Curva de resistência total de um ônibus apresentando-se a potência consumida em função da velocidade desenvolvida e das características de rampa a ser superada.72 Figura 84: Curva de performance. .........................................................................................74 Figura 85: Curva de performance. .........................................................................................76 Figura 86: Curva de potência constante, representando a situação ideal onde o veículo teria infinitas relações de transmissão, com o motor trabalhando sempre na melhor faixa de consumo ou de desempenho...........................................................................................78 Figura 87: Curva de potência e de torque do motor. .............................................................79 Figura 88: Curva de desempenho de um caminhão-trator com caixa de câmbio de 10 marchas e um eixo motriz de simples redução. ...............................................................82 Figura 89: Tração dianteira com motor dianteiro. ..................................................................84 Figura 90: Tração traseira com motor traseiro transversal. ...................................................84 Figura 91: Tração traseira com motor traseiro longitudinal....................................................85 Figura 92: Tração traseira com motor traseiro transversal. ...................................................85 Figura 93: Tração traseira com motor traseiro transversal. ...................................................85 Figura 94: Tração traseira com correntes. .............................................................................86 Figura 95: Tração traseira com suspensão De Dion..............................................................86 Figura 96: Tração traseira com motor central. .......................................................................87 Figura 97: Tração dianteira com motor dianteiro transversal.................................................88 Figura 98: Tração dianteira com motor dianteiro longitudinal. ...............................................88 Figura 99: Tração integral com motor dianteiro longitudinal. .................................................89 Figura 100: Variante da configuração Standard com tração traseira, motor dianteiro longitudinal e caixa de câmbio traseira. ...........................................................................90 Figura 101: Configuração Standard com tração traseira, motor dianteiro longitudinal. .........91 Figura 102: Configuração com motor e tração traseiros. .......................................................92 Figura 103: Configuração com tração dianteira e motor dianteiro transversal.......................93 Figura 104: Clássica configuração com tração 4x4 parcial com motor dianteiro longitudinal.94 Figura 105: Esquema de acoplamento por embreagem. .......................................................95 Figura 106: Esquema de acoplamento por embreagem de fricção. ......................................95 Figura 107: Acionamento hidráulico de embreagem de fricção. Ao acionar o pedal o condutor comuta a válvula que permite o enchimento do cilindro hidráulico que por sua vez aciona a embreagem. Ao liberar o pedal da embreagem o condutor comuta a válvula para a posição de esvaziamento do cilindro que libera a embreagem. ......................................96 Figura 108: Esquema de isolamento de vibrações em embreagem de fricção......................97 Figura 109: Esquema de acoplamento por embreagem cônica de fricção. ...........................97 Figura 110: Esquema de acoplamento por embreagem multidisco de fricção.......................98 Figura 111: Embreagem multidisco – com dois discos - aplicada em motor Diesel de caminhão pesado. ...........................................................................................................99 Figura 112: Esquema de acoplamento por embreagem com mola tipo diafragma................99 Figura 113: Embreagem de diafragma de acionamento inverso (puxando). Permite o acionamento de sincronizador auxiliar na entrada da caixa de câmbio através do mesmo mecanismo. ...................................................................................................................100 Figura 114: Esquema de acoplamento por embreagem Borg & Beck. ................................101 Figura 115: Esquema de acoplamento por embreagem de discos em banho de óleo. .......101 Figura 116: Esquema de acoplamento por embreagem centrífuga. ....................................102 Figura 117: Esquema de acoplamento por embreagem por corrente parasita. ...................102 Figura 118: Esquema de acoplamento por embreagem eletromagnética Ferlec.................103 Figura 119: Esquema de acoplamento por embreagem hidráulica......................................104 Figura 120: Esquema de um rotor de uma embreagem hidráulica. .....................................105 Figura 121: Esquema de acoplamento por embreagem hidráulica......................................106 5
  • 6. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin Figura 122: Disco e platô de embreagem de fricção. ..........................................................107 Figura 123: Volante do motor sobre o qual se acoplam o disco e platô de embreagem de fricção. ...........................................................................................................................107 Figura 124: Esquema de uma caixa de câmbio...................................................................108 Figura 125: Esquema de uma caixa de câmbio por deslocamento de engrenagens...........109 Figura 126: Caixa de câmbio por deslocamento de engrenagens.......................................110 Figura 127: Esquema de caixa de câmbio por engrenamento constante. ...........................111 Figura 128: Caixa de câmbio mista. ....................................................................................111 Figura 129: Caixa de câmbio continuamente engrenada, exceto a primeira marcha. .........112 Figura 130: Mecanismos de seleção de marcha. ................................................................112 Figura 131: A selector fork / Ball-type. .................................................................................113 Figura 132: Mecanismos de sincronização de carga constante, podendo ser aplicados externa ou internamente às engrenagens a sincronizar. ...............................................113 Figura 133: Mecanismo de sincronização tipo "baulk”; (Vauxhall Motors)...........................114 Figura 134: Mecanismo sincronizador com anéis sincronizadores postiços........................114 Figura 135: Mecanismo sincronizador com cone duplo postiço (Smiths Industries)............115 Figura 136: Mecanismo sincronizador com cone duplo postiço (ZF D-series).....................115 Figura 137: Mecanismo de sincronização Porsche. ............................................................115 Figura 138: Mecanismo de sincronização Scania: 1. Engrenagem; 2. Luva acionadora; 3. Luva de engate; 4. Engrenagem; Sistema de travamento - marcha engatada ..............116 Figura 139: Caixa de câmbio totalmente indireta de quatro marchas com a redução final do eixo motriz acoplada diretamente no eixo secundário da caixa.....................................118 Figura 140: Caixa de câmbio de veículo de passageiros com 5 velocidades, com marcha direta (ZF Synchroma S5-31). 1 – Eixo de entrada; 2 – Eixo secundário; 3 – Haste de acionamento; 4 – Eixo intermediário; 5 – Eixo de saída. ..............................................118 Figura 141: Caixa de câmbio com eixos intermediários opostos (Fuller).............................119 Figura 142: Caixa de câmbio com eixos intermediários opostos (Rockwell). ......................119 Figura 143: Esquema de funcionamento de uma transmissão epicicloidal. ........................122 Figura 144: Transmissão automática para caminhões, ônibus e veículos especiais com retarder integrado (ZF Ecomat 5 HP 500). 1 Conversor de torque hidrodinâmico com lock-up; 2 Retarder hidrodinâmico; 3 Conjunto planetário com 5 velocidades; 4 Bomba de óleo; 5 Controle da transmissão. ...................................................................................123 Figura 145: Caixa de câmbio automática Borg-Wamer 65. .................................................124 Figura 146: Caixa de câmbio convencional com acionamento automático. ........................125 Figura 147: Caixa de câmbio convencional com acionamento automático. ........................126 Figura 148: Motor e caixa de câmbio convencional de motocicleta.....................................126 Figura 149: Caixa de câmbio automática.............................................................................127 Figura 150: Diagrama de processo de estratégias de mudança de marcha no câmbio Tiptronic. ........................................................................................................................127 Figura 151: Diagrama de desempenho da caixa de câmbio automática de 5 velocidades ZF 5 HP 18.............................................................................................................................128 Figura 152: Sistema de controle da caixa de câmbio automática AP. .................................129 Figura 153: Sistema de controle eletrônico de transmissão. ...............................................129 Figura 154: Esquema da caixa de câmbio automática ZF 5 e ZF 6 HP 5000......................130 Figura 155: Caixa de câmbio SCANIA com 10 marchas (5 x 2) empregando grupo redutor. 1 - Árvore principal; 2 -Caixa de mudanças principal; 3 - Seção planetária; 4 - Árvore de saída. .............................................................................................................................131 Figura 156: Caixa de câmbio ZF - VOLVO, Mercedes-Benz - com 16 marchas (2x4x2) empregando splitter e grupo redutor e integral retarder (ZF-16 S 220 Ecosplit)............132 Figura 157: Caixa de câmbio VOLVO com 14 marchas (2 + (2 x 3 x 2) empregando splitter e grupo redutor. ................................................................................................................132 6
  • 7. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin Figura 158: Caixa de câmbio VOLVO com 14 marchas (2 + (2 x 3 x 2) empregando splitter e grupo redutor. ................................................................................................................133 Figura 159: Caixa de câmbio VOLVO com 14 marchas (2 + (2 x 3 x 2) empregando splitter e grupo redutor. ................................................................................................................133 Figura 160: Caixa de câmbio VOLVO com 14 marchas (2 + (2 x 3 x 2) empregando splitter e grupo redutor. ................................................................................................................134 Figura 161: 1 Árvore secundária; 2 Engrenagem solar; 3 Porta-planetárias; 4 Rolamento de agulhas; 5 Engrenagem planetária; 6 Coroa; 7 Disco de acionamento; 8 Cubo de sincronização; 9 Dispositivo de sincronização; 10 Luva de engate; 11 Árvore de saída; 12 Engrenagem acionadora; 13 Rolamento de esferas; 14 Sensor de velocidade; 15 Acionamento do velocímetro; 16 Flange de acoplamento. ............................................135 Figura 162: Acionamento de grupos redutores planetários. ................................................136 Figura 163: Conversor de torque hidrodinâmico com lockup. 1- Lockup; 2 – Turbina; 3 - Bomba; 4 – Estator; 5 – Roda livre. ...............................................................................137 Figura 164: Conversor de torque Trilok (curva de desempenho típica para veículo de passageiros). .................................................................................................................137 Figura 165: Conversor de torque. ........................................................................................137 Figura 166: Conversor de torque Allison..............................................................................138 Figura 167: Transmissão continuamente variável do Ford CTX 811. ..................................139 Figura 168: Transmissão Variomatic com correia (CVT). ....................................................140 Figura 169: Transmissão Variomatic Van Doorne (CVT).....................................................140 Figura 170: Transmissão continuamente variável por polias cônicas e correia metálica.....141 Figura 171: Transmissão continuamente variável por rodas de atrito. ................................141 Figura 172: Redução simples por engrenamento cônico hipoidal. ......................................144 Figura 173: Dupla redução por engrenamento cilíndrico + engrenamento cônico...............145 Figura 174: Dupla redução por parafuso sem-fim + engrenamento epicicloidal (Kirkstall). .145 Figura 175: Dupla redução por engrenamento cônico + duplo engrenamento cilíndrico. ....145 Figura 176: Dupla redução por engrenamento cônico + engrenamento epicicloidal duplo..146 Figura 177: Dupla redução por engrenamento cônico + engrenamento cilíndrico...............146 Figura 178: Redução nos cubos por engrenamento cilíndrico.............................................146 Figura 179: Redução nos cubos por engrenamento epicicloidal. ........................................147 Figura 180: Redução nos cubos por engrenamento cônico.................................................147 Figura 181: Dupla redução com dupla velocidade...............................................................148 Figura 182: Eixo motriz de caminhão pesado com redução nos cubos por engrenamento epicicloidal. ....................................................................................................................148 Figura 183: Carcaças de eixos motrizes..............................................................................148 Figura 184: Esquema de eixo motriz com diferencial. .........................................................149 Figura 185: Sistema diferencial. ..........................................................................................151 Figura 186: Esquemas de diferencial aberto. ......................................................................151 Figura 187: Diferencial aberto por engrenamento cônico e por engrenamento epicicloidal.152 Figura 188: Diferencial aberto por engrenamento epicicloidal com distribuição desigual de torque e velocidade entre os semi-eixos........................................................................152 Figura 189: Diferencial aberto com engrenagens cônicas. ..................................................153 Figura 190: Bloqueio manual de diferencial por acionamento pneumático, bloqueando um semi-eixo na carcaça diferencial....................................................................................153 Figura 191: Bloqueio manual de diferencial por acionamento pneumático, bloqueando uma planetária na carcaça diferencial. ..................................................................................154 Figura 192: Bloqueio manual de diferencial por acionamento pneumático, bloqueando uma planetária na carcaça diferencial. ..................................................................................154 Figura 193: Diferencial autoblocante. ..................................................................................155 Figura 194: Diferencial autoblocante Dana Trac-Loc™. ......................................................156 Figura 195: Diferencial autoblocante Salisbury....................................................................157 7
  • 8. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin Figura 196: Diferencial autoblocante ENSIMEC Full-Lock...................................................158 Figura 197: Diferencial Inteligente Kaiser. ...........................................................................158 Figura 198: Diferencial autoblocante Torsen™....................................................................159 Figura 199: Diferencial autoblocante Torsen II™.................................................................159 Figura 200: Diferencial viscoso instalado entre semi-eixo e carcaça do eixo. .....................160 Figura 201: Diferencial viscoso instalado entre semi-eixo e semi-eixo. ...............................160 Figura 202: Diferencial autoblocante ZF. .............................................................................161 Figura 203: Sistema de tração integral do Daimler UNIMOG. .............................................162 Figura 204: Sistema de tração 4x4 do FIAT Campagnolo. ..................................................163 Figura 205: Sistema de tração integral do Audi Quattro. .....................................................163 Figura 206: Diferenciais viscosos e Torsen empregados como diferenciais centrais em sistemas de tração integral. ...........................................................................................164 Figura 207: Caixa de transferência com reduzida empregando engrenagens.....................165 Figura 208: Caixa de transferência e diferencial central do BMW 525iX. ............................166 Figura 209: Sistema de transmissão integral do BMW 525iX. .............................................166 Figura 210: Vantagem da tração integral e 4x4 na subida de rampa e em pisos lisos. .......167 Figura 211: Comparação entre tração integral e dianteira, e entre pneus de verão e de inverno. ..........................................................................................................................167 Figura 212: Sistema de tração 6x4 de caminhões...............................................................168 Figura 213: Sistema de suspensão e tração 6x4 tipo boogie (Scammell Routeman)..........168 Figura 214: Sistema de tração 6x4 de caminhão mostrando os dois eixos motrizes e o diferencial central (aqui deslocado para a parte anterior do conjunto). .........................168 Figura 215: Sistema de tração 6x4 de caminhões...............................................................169 Figura 216: Sistema de tração 4x4 de veículo leve com motor dianteiro transversal. .........169 Figura 217: Esquema geral de uma transmissão de trator agrícola 4x4..............................170 Figura 218: Esquema detalhado de uma transmissão com 12 marchas de trator agrícola 4x4. .......................................................................................................................................170 Figura 219: Esquema detalhado de uma transmissão com 20 marchas de trator agrícola 4x4. ................................................................................................................................170 Figura 220: Curvas de adesão / escorregamento................................................................172 Figura 221: Sistema eletrônico de controle de tração integrado ao gerenciamento do motor. .......................................................................................................................................172 Figura 222: Sistema eletrônico de controle de tração integrado ao gerenciamento do motor. .......................................................................................................................................173 Figura 223: Sistema ABS/ASR 2I de controle de tração para carro de passageiros. ..........173 Figura 224: Sistema de controle de tração para carro de passageiros................................174 Figura 225: Sistema de diferencial viscoso compatível com sistema antitravamento de freios. .......................................................................................................................................175 Figura 226: Junta universal de Hooke. ................................................................................177 Figura 227: Gráfico mostrando as variações de velocidade e aceleração angular, para ½ volta do eixo de acionamento (180o). Neste caso a junta apresenta um ângulo de 30o entre os eixos de entrada e de saída.............................................................................177 Figura 228: Junta elástica Layrub........................................................................................177 Figura 229: Junta elástica Metalastik...................................................................................178 Figura 230: Junta elástica Moulton. .....................................................................................178 Figura 231: Junta de velocidade constante Bendix Tracta. .................................................178 Figura 232: Junta de velocidade constante Bendix Weiss...................................................179 Figura 233: Junta de velocidade constante Dana Rzeppa...................................................179 Figura 234: Junta de velocidade constante Birfield. ............................................................179 Figura 235: Par de juntas universais formando um eixo FWD (Four Wheel Drive Company), de velocidade constante. ...............................................................................................180 8
  • 9. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin Figura 236: Par de juntas universais formando um eixo Glaenzer, de velocidade constante. .......................................................................................................................................180 Figura 237: Par de juntas universais formando um eixo Kirkstall, de velocidade constante. .......................................................................................................................................180 Figura 238: Vista frontal do motor do BMW 525iX, DOHC 24V. O veículo básico apresenta tração 4x2 traseira. Para a versão 4x4 foi necessário modificar o Cárter para acomodar o eixo motriz dianteiro. Aqui se vê os dois semi-eixos ligados por duas juntas homocinéticas. ...............................................................................................................181 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1: Rendimento da transmissão.............................................................................67 Tabela 2: Configuração de trem motriz. ...........................................................................68 Tabela 3: Relações de transmissão da caixa ZF-16 S 220. ...........................................132 Tabela 4: Fator de velocidade........................................................................................143 Tabela 5: Resumo dos diversos diferenciais autoblocantes...........................................161 9
  • 10. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin 1 HISTÓRICO DO AUTOMÓVEL O automóvel é um dos aparelhos criados pelo homem que mais intensamente se integrou às nossas vidas. Estendendo-se o termo para englobar caminhões e ônibus, praticamente toda pessoa tem contato diário com o automóvel. Mesmo na condição de pedestre. Ao mesmo tempo, a indústria automotiva se esforça por apresentar ao consumidor e ao entusiasta do automóvel uma série de novidades. Novidades tecnológicas que melhoram o desempenho do veículo, que afetam a aparência, que possibilitam maior conforto ao dirigir e, até, que permitem a integração do carro com outras novidades da eletrônica, como sistemas de telefonia e de música. Logo, é interessante que se conheça um pouco da história dos veículos automotores, para entender as novidades que surgem na indústria automotiva. Pode-se apresentar um breve histórico do automóvel, buscando identificar as inovações tecnológicas introduzidas, descrevendo uma cronologia da evolução dos veículos ao longo do tempo, detendo-se mais detalhadamente no final do século XIX e início do século XX. O primeiro registro de um invento que foi precursor da tecnologia automotiva indica que aproximadamente em 4000 a.C. o homem inventou a roda. Considerando, inclusive, os veículos terrestres que se deslocam sobre esteiras, todos dependem de rodas para se locomover. Logo, foi o invento mais importante da tecnologia automotiva. Porém, apenas em 3500 a.C., na Suméria, encontrou-se registro de um trenó sobre rodas. Portanto, com base nos registros históricos, o homem demorou 500 anos para aplicar a roda como elemento de um veículo. Talvez ele a tenha criado como um totem ou objeto de rituais. O trenó que era usado até então dependia do esforço humano para operar. Informações do Egito de 1600 a.C. já mostram uma plataforma de tração animal. Esta configuração de veículo perdurou por quase 3000 anos. A próxima novidade registrada em termos de veículo foi na Inglaterra, em 1555, de uma carruagem de tração animal com suspensão. Ou seja, somente em 1555 agregou-se alguma inovação tecnológica ao veículo padrão da época. Restava, agora, tornar o veículo autopropulsado, ou seja, independente de tração animal ou humana. Na Holanda, em 1637, o conde de Nassau desenvolveu uma canhoneira à vela – nos moldes dos pequenos veículos que às vezes se vê nas praias. Tinha, ainda, uma aplicação bélica, para combater em um terreno propício. Dependia, porém, das correntes de vento, que poderiam variar de direção e intensidade afetando a marcha do veículo. Surge, então, o primeiro veículo autopropulsado com geração própria de energia a partir do combustível que o próprio veículo poderia carregar: o veículo a vapor de Cugnot, construído na França em 1771. Como se pode ver na figura, o veículo consistia em uma plataforma de três rodas à qual se instalou uma caldeira e um motor a vapor. Como a caldeira ficava à frente do eixo dianteiro a manobrabilidade do, então, automóvel, era precária. Por conta disso que Cugnot e seu veículo foram os protagonistas do primeiro acidente automobilístico da história, quando, ao descrever uma curva, Cugnot atingiu um muro. Como os sistemas desenvolvidos eram patenteados, e aproveitando das dificuldades do carro de Cugnot, James Watt, na Inglaterra em 1775, criou o veículo a vapor de alta pressão. Com a caldeira produzindo vapor com pressão mais elevada que aquela empregada por Cugnot, Watt conseguiu construir um veículo mais leve e mais manobrável. Com isso, melhorou a credibilidade sobre os automóveis, até que em 1800, também na Inglaterra, Trevithick empregou um veículo a vapor como o primeiro veículo de transporte de passageiros autopropulsado. Ou seja, o primeiro ônibus. 10
  • 11. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin Com a popularização do automóvel a vapor, e com as dificuldades operacionais deste – exigia um motorista e um foguista, para alimentar a caldeira, a busca por combustíveis alternativos levou Rivaz, na Suíça, em 1807, a construir o primeiro veículo com motor de combustão interna manual, queimando hidrogênio. Sim, hoje, em pleno século XXI estamos buscando, também, a aplicação do hidrogênio como combustível. É claro, em condições mais elaboradas que as da época. Brown, dezenove anos depois, em 1826 na Inglaterra, apresentou seu veículo com motor a combustão interna sem explosão, queimando álcool. Cabe, aqui, lembrar que estes motores não apresentavam uma vela para promover a explosão do combustível. Empregavam um filamento aquecido, uma resistência elétrica, para que, sob compressão, a mistura ar e combustível queimasse, porém, em explodir. Logo, eram motores lentos, que trabalhavam a rotações de poucos rpm. Buscando, então, maior agilidade nos motores, na França em 1862 Lenoir construiu o primeiro veículo com motor de combustão interna de dois tempos operando a gás de carvão – gasogênio. Percebe-se que o desenvolvimento de veículos se concentrou na Europa. Porém, os países do novo mundo absorviam estas novidades e nos EUA, em 1863, Roper, aplicando bem o capitalismo americano, produziu o primeiro veículo motorizado vendido em série – ainda que apenas 9 unidades e, é claro, era movido a vapor. O veículo a vapor apresentava- se bastante confiável e estava nos últimos estágios de desenvolvimento. Com o surgimento do petróleo veio, também, o primeiro veículo motorizado com motor de dois tempos à gasolina, na Áustria, desenvolvido por Marcus em 1865. Duas décadas depois, na Alemanha, em 1885, Gottlieb Daimler desenvolve o primeiro veículo com motor quatro tempos à gasolina. Na realidade era uma motocicleta. No mesmo ano, também na Alemanha, Carl Benz desenvolve o primeiro veículo com motor de dois tempos com ignição por centelha, à gasolina. A ignição por centelha era o último estágio de desenvolvimento para o conceito básico do motor moderno à combustão interna. Figura 1: Pictografia Sumeriana de um veículo com rodas, 3500 a.C. 11
  • 12. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin Figura 2: Veículo a vapor de Nicholas Cugnot, 1771. Figura 3: Carruagem a vapor de Richard Trevithick, 1800. 12
  • 13. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin Figura 4: Veículo de Gottlieb Daimler com motor à combustão interna, 1885. Figura 5: Veículo de Karl Benz com motor à combustão interna, 1885. Pode-se apresentar um breve histórico do automóvel, buscando identificar as inovações tecnológicas introduzidas, descrevendo uma cronologia da evolução dos veículos ao longo do tempo, detendo-se mais detalhadamente no final do século XIX e início do século XX. Em continuação à análise da evolução do automóvel cabe, agora, abordar o automóvel na sua concepção conceitual atual, ou seja, com as características básicas para que seja classificado como automóvel. Estas características podem ser descritas como veículo autopropulsado, acionado por motor com controle automático de alimentação e queima de combustível, dirigível por um único motorista e produzido em série. 13
  • 14. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin Como foi apresentado, o primeiro veículo com estas características foi inventado e produzido por Karl Benz e por Gottlieb Daimler, de forma independente (a Daimler-Benz somente surgiu década depois). Ambos trabalharam na Alemanha e apresentaram seus inventos em 1885. A partir deste ponto todos os automóveis que se seguiram apresentavam motor à combustão interna com ignição por centelha (vela) sincronizada com a rotação do motor (sistema equivalente ao distribuidor). É claro que, nesta época, se está falando de motores monocilíndricos de 1 a 2 CV a 700 rpm, equipando veículos que desenvolviam velocidades máximas de 20 km/h. Em 1885 Benz havia desenvolvido um veículo de 3 rodas e Daimler um de 2 rodas (motocicleta). No ano seguinte, em 1886, Daimler desenvolveu o primeiro veículo com motor quatro tempos à gasolina, com ignição por centelha, com quatro rodas. Este padrão se sucedeu e uma série de construtores repetiu a receita agregando, cada um, alguma melhoria ao projeto original. Figura 6: O primeiro veículo de Daimler. Na seqüência, na França, em 1891, Panhard e Levassor construíram o primeiro veículo com chassi como estrutura primária do veículo, ao qual foram agregados os demais componentes. No mesmo ano, Armand Peugeot construía o primeiro veículo à gasolina vendido em série (68 unidades). Na Alemanha Benz continuou seu trabalho e apresentou, em 1895, um veículo com três marchas. Na França, no mesmo ano, De Dion constrói o primeiro veículo com motor refrigerado a ar. Os EUA também começaram a investir na indústria automotiva. Em 1895 Balzar desenvolve um veículo com transmissão por engrenamento constante. A transmissão por engrenamento constante é a que se usa normalmente. Neste tipo de transmissão as engrenagens estão constantemente engrenadas, de forma que as trocas de marcha ocorrem pelo acoplamento ou não de cada engrenagem ao seu respectivo eixo. Até então as transmissões ocorriam por deslocamento de engrenagens, dificultando em muito a troca de marcha como veículo em movimento. A marcha à ré de muitos carros atuais ainda é engrenada por deslocamento de engrenagem. Este assunto será completamente abordado em edições posteriores. O veículo a vapor de Cugnot (abordado na edição anterior), em função de sua construção, tinha um perfil de aplicação como plataforma de carga. Os automóveis com motor à combustão interna (o motor a vapor é de combustão externa, ou seja, o combustível é queimado em uma caldeira, externa ao motor, onde o vapor gerado pelo aquecimento da água na caldeira atua sobre um êmbolo produzindo potência) tinham o perfil de transporte pessoal. Daimler, em 1896, construiu o primeiro caminhão com motor à combustão interna. Na Alemanha Opel, em 1897, incluiu a marcha à ré em seu veículo. Hoje, item imprescindível. Outras idéias, da época, talvez fossem tão audaciosas que não se tornaram comercialmente aplicadas. Um exemplo é de Porsche que, na Áustria em 1899, criou um veículo com moto-gerador à gasolina acionando motores elétricos nas rodas, nos mesmos moldes das locomotivas diesel-elétricas. 14
  • 15. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin Os automóveis eram semelhantes aos veículos com tração animal do ponto de vista do desenho do habitáculo. Não apresentavam capota. Foi Louis Renault, na França, em 1900, que criou o primeiro veículo com habitáculo fechado, ou seja, com capota. Na seqüência, Renault e seus irmãos criaram sua própria fábrica de veículos, que com os acontecimentos da segunda guerra mundial foi estatizada pelo governo francês. Nos EUA Ranson Olds estrutura a produção em massa do OLDSMOBILE, chegando a mais de 2 milhares de unidades produzidas. As melhorias continuavam a surgir, muitas delas facilitando a fabricação e permitindo a produção de carros em massa. As rodas dos veículos eram montadas em mancais de buchas, até que a SCANIA, na Suécia em 1901, apresentou um veículo com rolamentos de esferas nas rodas. Os componentes de um fabricante já começavam a serem aplicados em veículos de outro. Foi o caso de um veículo DAIMLER equipado com motor PEUGEOT com turbocompressor, na Alemanha em 1902. Com os automóveis ficando mais rápidos (o recorde de velocidade em 1898 era de 63 km/h e em 1902 já alcançava 123 km/h) e mais comuns, melhorias na dinâmica de marcha e no conforto foram necessárias. Surgiu, assim, o amortecedor, em 1902. Criado por Mors, na França, inicialmente funcionava por atrito. Em 1908 Mors desenvolveu o amortecedor hidráulico. Figura 7: Um dos veículos de Armand Peugeot, 1896. Os motores dos veículos dessa época eram, tipicamente, monocilíndricos. Alguns fabricantes apresentavam automóveis com motores de 2 ou até 4 cilindros. Quanto mais cilindros apresentar um motor, para uma mesma configuração de projeto, maior será sua potência. Porém, mais peças móveis são necessárias, maior precisão de fabricação e montagem é exigida e maior é o custo do veículo. Porém, como o automóvel era e ainda é um produto em contínua evolução, a CGV lança um veículo com motor de 8 cilindros em linha, na França em 1902. No mesmo ano, na Holanda, a SPYKER apresenta o primeiro veículo com motor de 6 cilindros e tração 4x4. Itens de conforto e segurança continuam a surgir. Na Inglaterra, em 1902, o volante ajustável é oferecido. Cabe lembrar que, mais de 100 anos depois, este item ainda é visto como opcional por alguns fabricantes. Talvez por questões de responsabilidade civil nos EUA, também em 1902, surgem em um Baker cintos de segurança. E muita gente ainda reluta em usá-los ainda hoje. Melhorias mecânicas também continuam ocorrendo. A Buick apresenta nos EUA em 1903 um motor OHV 2.6 de 2 cilindros. A sigla OHV significa Over Head Valve, ou seja, válvulas no cabeçote. Os motores apresentavam, tipicamente, válvulas no bloco. No Brasil, o último motor que não era OHV foi o que equipava o Maverick 6 cilindros. Os freios operavam com o sistema a tambor – e muitas vezes apenas nas rodas traseiras. O freio a disco surgiu na Inglaterra em um LANCHESTER em 1903. As carrocerias 15
  • 16. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin dos veículos eram construídas em madeira, às vezes completamente (nos EUA na década de 40 do século passado portas de alguns utilitários ainda eram construídas em madeira). A primeira carroceria totalmente em aço foi a de um VAUXHALL inglês, em 1903. A Vauxhall viria a ser a subsidiária da GM na Europa. A carroceria em aço gerou um aspecto mais definitivo do veículo moderno – atualmente materiais que produzem fragmentos perfurantes em forma de lascas são proibidos por normativas de segurança. Continuando com mais uma etapa da história do automóvel no mundo, cabe se dedicar alguns parágrafos a uma empresa em especial. Em 1903 é criada a Ford Motor Company, por Henry Ford com mais 11 sócios. Henry Ford era filho de um fazendeiro, na região de Dearborn no Michigan, EUA. Nunca gostou do trabalho no campo. Foi sempre interessado em máquinas. Abandonou a vida no campo mudando-se para Detroit, a cidade fundada por Antoine Cadillac. Sempre estudando mecânica, Ford construiu seu primeiro motor à combustão interna em 1893. Era um pequeno motor que Ford fez funcionar sobre a pia da cozinha. Três anos mais tarde construiu seu primeiro automóvel, o Quadriciclo. Em 1899 Ford criou a Detroit Automobile Company, tendo fechado no ano seguinte porque os investidores não acreditavam na proposta de Ford em fabricar um automóvel barato. Como a população ainda via o automóvel como um brinquedo veloz, Ford precisa construir um carro de corrida e ganhar uma corrida importante para ter credibilidade. Construiu o Sweepstakes e venceu, em uma corrida na pista oval de terra, o então campeão americano. Surgiram investidores e foi criada a Henry Ford Company, em 1901. Houve atrito entre Ford e os investidores, já que, agora, Ford queria fabricar carros de competição. Ford, então, demitiu- se e a empresa foi rebatizada como Cadillac Automobile Company. Em 1902, Ford passou a criar sua terceira empresa automobilística, a Ford & Malcomson, Ltd. Com poucas vendas ele era incapaz de pagar seus fornecedores John e Horace Dodge. Incentivado por Thomas Edison (o fundador da General Electric – GE) que trouxe um grupo de investidores e ainda convenceu os “Dodge Brothers” a aceitar ações da empresa. Em 16 de junho de 1903, Henry Ford e seus sócios criam a Ford Motor Company, com US$ 28.000, algumas ferramentas e projetos. Ford estava com 39 anos de idade. Mais tarde, os “Dodge Brothers” passaram a formar a sua própria empresa. Figura 8: Henry Ford e o Quadriciclo, de 1896. Entre 1903 e 1908 a Ford vendeu 20.000 carros, dos Modelo A (com potência de 8 CV) ao Modelo S, em uma série de desenvolvimento do produto. Ford denominava seus veículos segundo a seqüência das letras do alfabeto, para cada projeto. Cabe lembrar que em 1928 Ford desenvolveu novo projeto denominado de Ford Modelo A, novamente, que ficou conhecido no Brasil como “Ford Bigode”. Eram sempre carros muito simples, sem luxo, voltados à população em geral. Foi em 1º de outubro de 1908 que o Modelo T estava pronto 16
  • 17. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin para entrar em produção. Era um carro que poderia se chamar de “popular”, apesar do automóvel ser novidade e um bem tipicamente voltado para a população de maior renda. O Ford T invertia esta abordagem de mercado, ao vender 10.660 unidades no primeiro ano de produção, a US$ 825. No final da sua produção custaria US$ 259. Era movido por um motor 2.8, 4 cilindros, desenvolvendo 20 CV a 1800 rpm. Atingia 72 km/h consumindo 11,5 km/l de gasolina, que custava US$ 0,20. Figura 9: Ford Modelo A de 1903. Figura 10: Henry Ford e o Modelo T de 1908. O processo de fabricação de um automóvel, na época, ocorria com o veículo fixo e os operários trabalhando em torno dele. Neste ritmo, um Ford T levava doze horas e meia para ser produzido. Ford percebeu que esse sistema resultava em uma produção reduzida e determinava o preço de veículo, em função da mão-de-obra consumida. Adotando o método sugerido por Taylor, Ford implantou uma “linha de produção” para o Ford T. Na linha o veículo era movido lentamente em um trecho de 45 metros enquanto os operários adicionavam os componentes e executavam a montagem. Em 1914 o tempo consumido para produzir um Ford T era de 94 minutos. Figura 11: Linha de montagem da Ford. Foi a grande revolução na produção em escala, fazendo a empresa passar dos 82.388 carros vendidos em 1912 a US$ 600, para 308.162 carros vendidos em 1914, e para 17
  • 18. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin 585.388 Ford T vendidos a US$ 360 em 1916. Produzindo tantos veículos era preciso vendê-los. Os próprios operários poderiam, também, comprá-los. Ford dobrou o salário de seus operários para US$ 5 por dia de 12 horas de trabalho. Foram os mais bem pagos operários do setor. Bons salários e produção em grande escala foram, na época, denominados de “Fordismo”. Até sair de produção, em 1927, foram produzidos 15.007.033 Ford T. Figura 12: A fábrica da Ford Motor Company em Highland Park, em 1918. Nesse período, no mundo todo, dezenas de fábricas de veículos eram criadas. Nos EUA cabe citar algumas. David Buick fabricava carros Buick, tendo, entretanto, que contrair um empréstimo com Benjamin Briscoe, dono da Maxwell-Briscoe Motor Company, dando como garantia a própria fábrica. Briscoe se tornou, então, sócio da empresa, tendo vendido sua parte para William Durant, em 1904. Em 1908 Durant sai da Buick. Durant era dono de duas pequenas marcas, a Little e a Republic. Contratou, então, os irmãos franceses Louis, Gaston e Arthur Chevrolet para desenvolver suas pequenas marcas sob o nome Chevrolet. Em seguida, ainda em 1908, George Perkins, dono da Perkins, sugere a criação de um grande grupo de fabricantes de automóveis para sobreviver ao mercado. Apesar de não terem conseguido convencer Henry Ford, da Ford Motor Company, nem Ramson Eli Olds, da Olds Motor Works, foi fundada a General Motors Company – GMC (Maxwell-Briscoe Motor Company, Reo, Scripps-Booth, Sheridam, Perkins e Cadillac). Até o final do ano formam compradas a Buick, a Stewart Company e a Olds. No ano seguinte, a Oakland Motor Company, que deu origem à divisão Poniac. Em 1918 a Chevrolet passa a fazer parte da GMC, agora como General Motors Corporation, com Durant como presidente e Walter Percy Chrysler como vice-presidente. Walter Chrysler sai da GMC em 1922 e passa a trabalhar na Maxwell-Chalmers com a missão de salvar a empresa. Na seqüência, a empresa cede a Chrysler os direitos de produção. Em 1928 a Chrysler compra a Dodge, a Plymouth e a De Soto. Em seguida, compra a Fargo. Na época, a Ford também compra a Mercury e a Lincoln. Surgem, então, as “três grandes”, as três maiores empresas de produção automotiva do século XX. Em 1919 a Ford instala-se no Brasil. Em 1925 é a vez da GMC. A Chrysler surge ao comprar a Simca, assumindo a Simca do Brasil em 1967. Complementando o assunto, quando se apresentou a conjuntura onde surgiram as três grandes empresas automotivas americanas, serão comentados alguns aspectos que identificam os “Vintage Cars”, ou carros das décadas de 1920 e 1930. Aproveitando a citação, após a época dos “vintage” desencadeou-se a Segunda Guerra Mundial. Neste período praticamente nenhum novo modelo de automóvel foi construído pelos paises que participaram da guerra. Ainda, estes países eram os principais produtores de veículos no mundo. Após o conflito, os carros produzidos no final da década de 1940 18
  • 19. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin eram praticamente os mesmos da década anterior. Foram os veículos pós-guerra. Nos países que restaram vencedores do conflito, particularmente os EUA, com o crescimento acentuado da economia, surgiram os modelos exuberantes das décadas de 1950 e 1960, denominados de clássicos. Os mais atuais são denominados de contemporâneos. Os veículos produzidos até 1904 são chamados de antigos; entre 1904 e 1918 são veteranos. Segundo a Federação Brasileira de Automóveis Antigos, veículos produzidos entre 1930 e 1945 seriam pós-vintage e aqueles produzidos entre 1945 e 1960 seriam pós- guerra. Contemporâneos 1 seriam aqueles fabricados entre 1960 e 1970 e contemporâneos 2 entre 1970 e 1979. Retornando à época dos “vintage”, neste período houve um grande salto tecnológico. O parâmetro de maior impacto neste período foi a potência específica dos motores. Potência específica é o valor da potência do motor dividida pelo volume deslocado pelos êmbolos do motor (cilindrada). Por exemplo, um motor com deslocamento volumétrico de 2000 cm³ (2.0 ou 2 litros), desenvolvendo 140 CV apresenta potência específica de 70 CV por litro. Como referência, um motor de Fórmula 1, de 2007, desenvolvendo 850 CV com deslocamento de 3 litros, tem potência específica de 283 CV/litro. Pelas normas brasileiras, atualmente, e na maior parte do mundo, a potência dos motores é apresentada em unidades do sistema métrico, ou seja, em Watts. Mais especificamente em kW (quilo-Watts), que corresponde a 1000 Watts. A relação é 1 kW igual a 1,36 CV. Cabe lembrar que as unidades “práticas” de potência, o Cavalo Vapor (CV) é a potência desenvolvida por um cavalo para levantar 75 kg a uma altura de 1 m em 1 segundo. Para os ingleses e americanos o “Horse Power” (HP) é a potência desenvolvida por um cavalo para levantar 550 libras a um pé de altura em 1 segundo (1 libra é igual a 453,6 gramas e 1 pé é igual a 12 polegadas ou 304,8 mm). Logo, 1 W é equivalente à potência necessária para levantar 1 kg a 1 metro de altura em 1 segundo. Para os alemães é o PS – Pferdestärke, equivalente ao CV francês. Na primeira década do século XX (até 1910) a potência específica dos motores era de 5,5 a 6,5 CV/litro. Na segunda década (até 1920) a potência específica passou para 9,0 a 11,0 CV/litro. Já na década de 1921 a 1930 evoluiu para 20,0 CV/litro. As maiores evoluções tecnológicas que permitiram este aumento de potência estavam associadas à maior resistência dos materiais e à qualidade do combustível. Em 1920 foi desenvolvido o aço ligado ao molibdênio. O aço é uma liga (junção de vários materiais) formando um material uniforme e mais resistente que os elementos individuais que compõem a liga. O aço mais comum é composto por 99,0% de ferro, 0,1% de carbono, 0,1% de fósforo e enxofre, 0,4% de silício e 0,4% de manganês. Nesta ocasião adicionou-se molibdênio ao aço, além de outros elementos. Para efeito de comparação, as ferramentas manuais (chave de fenda, chave fixa) de boa qualidade são fabricadas com aço ligado ao cromo e ao molibdênio. Com isso as principais partes do motor do veículo suportavam maiores esforços e, por conseqüência, maiores potências poderiam ser desenvolvidos no mesmo tamanho de motor. Na seqüência, em 1922, foi desenvolvido o filtro de ar para o motor. Logo, o ar aspirado pelo motor passou a ser mais limpo, isento de partículas de poeira que poderiam atuar como abrasivo nas paredes do cilindro, que forçaria o motor a operar com potências reduzidas. Em 1924, a gasolina passou a ser fornecida com adição de chumbo tetra-etila, permitindo o aumento da taxa de compressão dos motores de 3:1 para 4,5:1. A potência é, praticamente, uma função contínua da taxa da compressão – logo este aumento de taxa de compressão permitiria, associado a novos materiais, um aumento da potência específica. Em concordância, os processos produtivos também evoluíram, assim como mais alguns dispositivos auxiliares do veículo. Afinal, era preciso, cada vez mais, buscar novos mercados. Do ponto de vista de produção, a intercambiabilidade de peças, na indústria automotiva, teve como pioneira a Cadillac, desde 1908. Surge, nos EUA em 1920, a tinta DuCo – dual componente – de secagem mais rápida. Até então somente se empregava esmalte sintético. Como as fábricas não dispunham de linhas de pintura com estufas, a secagem ocorria em função da temperatura ambiente. Isto explica porque a Ford somente 19
  • 20. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin oferecia o Ford T na cor preta. A cor preta, com maior capacidade de absorver calor, secava mais rápido que as demais cores. Na evolução dos veículos, a Packard apresenta o primeiro motor V12, em 1912, disponibilizando maior potência, já que, tipicamente, um motor com mais cilindros pode desenvolver mais potência que outro motor, de mesmo deslocamento volumétrico, com menor número de cilindros. Em 1916 surge o limpador de pára-brisa. Na Itália, em 1908 surge, em um Isotta Fraschini, o freio nas 4 rodas. Até então os veículos freavam apenas com o eixo traseiro. Na França um Hispano – Suiza é lançado com servo-freio, em 1919. Figura 13: O piloto Ralph DePalma e seu Packard V-12 in 1912. A Oldsmobile desenvolveu o 1° veículo com carroceria em material compósito (papel e epóxi). Na Itália, em 1922, a Lancia produz o 1° veículo com carroceria monobloco. A carroceria monobloco, como na grande maioria dos veículos atuais, integra o habitáculo com a estrutura do veículo, formando um único bloco estrutural. As caminhonetes, por exemplo, assim como os caminhões, dispõem de um chassi sobre o qual assenta-se a cabine (habitáculo), a carroceria e os componentes mecânicos. A General Motor Corporation, em 1929, lança um veículo com ar condicionado. O sistema era da marca Frigidaire, de propriedade da própria GMC, que, também, diversificava mercados. Figura 14: Lancia Lambda, com carroceria monobloco e suspensão dianteira independente. Buscando particularmente o público feminino, a Cadillac desenvolveu o motor de partida elétrico para o veículo em 1912. Até então a partida do motor do carro era realizada através da ação muscular do motorista por meio de uma manivela, processo difícil e até perigoso. 20
  • 21. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin Em 1926 a Cadillac apresenta o pára-brisa laminado. Desde algumas décadas o pára-brisa laminado é item de segurança obrigatório nos veículos. Fica visível que a Cadillac se posiciona, e ainda hoje mantém esta posição, como fabricante de veículos com maior nível de sofisticação e de recursos. Em 1928 oferece o Cadillac com caixa de câmbio sincronizada (exceto a primeira) e rádio, da marca Motorola. As caixas de câmbio eram de engrenamento constante, porém não dispunham de sistemas auxiliares de sincronismo para facilitar os engates das marchas, tornando a direção de um veículo uma atividade quase profissional. As contribuições para melhorias nos automóveis freqüentemente vinham de pilotos. Pedroso era um piloto espanhol de competições tipo rali. Como necessitava de mais potência, desenvolveu um sistema manual de controle e variação do comando de válvulas do motor de seu carro. Isto em 1926. O primeiro veículo com um sistema com essa função, no Brasil, foi produzido em 2001. Claro que com um sistema mais complexo e sofisticado, mas o objetivo era o mesmo. O início da década de 1930, após a crise na bolsa de valores americana, os veículos foram construídos com aperfeiçoamentos dos sistemas mecânicos disponíveis, particularmente com desenhos de carroceria mais ergonômicos e funcionais. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial em 1939 os esforços de projeto e construção de veículos foi redirecionado para aplicações bélicas e militares. No início dos anos 30 surgiram os câmbios automáticos. Primeiro em um Buick, em 1932 – era um câmbio semi-automático. Depois em um Oldsmobile, em 1939, com uma transmissão automática de 4 velocidades. Na década de 50 os câmbios automáticos se popularizaram, fortemente, nos EUA. Existiam versões com 2, 3 e 4 velocidades. As caixas de transmissão automáticas proporcionam a mudança de marcha de maneira automática, sem a necessidade de intervenção do operador. A seleção da marcha a ser empregada em cada instante é feita, basicamente, em função da velocidade do veículo, da rotação do motor e da posição do acelerador do motor. Os mecanismos empregados nas caixas automáticas são os engrenamentos planetários, isoladamente ou um conjunto deles, conforme o número de marchas que for necessário para a caixa de câmbio. Algumas caixas empregam transmissões em conjunto com outros tipos de engrenamentos. O acoplamento do motor com a caixa automática é feito através de um conversor de torque. Figura 15: Transmissão automática para caminhões. A figura anterior mostra uma transmissão automática para caminhões, ônibus e veículos especiais com retarder integrado (ZF Ecomat 5 HP 500). A indicação 1 refere-se ao conversor de torque hidrodinâmico com lock-up – sistema de fricção de acoplamento final da embreagem. O número 2 indica um retarder hidrodinâmico – sistema de freio auxiliar que, através da passagem forçada de óleo consome energia da tem motriz auxiliando no controle 21
  • 22. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin de velocidade do veículo, particularmente em descidas (disponível apenas em caixas de câmbio automáticas de veículos pesados). O item 3 é o conjunto planetário com 5 velocidades. A lubrificação e o controle da caixa de câmbio é hidráulico, acionado pela bomba de óleo (indicação 4). As válvulas de controle do câmbio estão alojadas no Carter da caixa (item 5). Neste período o desenho das carrocerias evoluiu. Alguns construtores arriscavam desenhos ousados, com apelo aerodinâmico. Poucos efetuam análises técnicas para desenvolver um desenho efetivamente aerodinâmico. Em 1934 a Chrysler lança o “Airflow”. Era um veículo projetado para apresentar uma carroceria com desenho aerodinamicamente melhor. Os únicos veículos anteriores aos Chrysler Airflow onde esse efeito foi estudado foram o Peugeot 402 e o Silver Arrow 1933, este último, um carro produzido sob encomenda, em pequena escala. O Chrysler Airflow foi desenhado em função dos testes em túnel de vento e testes de campo em protótipos em estradas desertas. Quando foi apresentado ao público não foi bem aceito pelo mercado, pois, apesar de apresentar inovações que, atualmente, são encontradas em todos os automóveis, era diferente de tudo aquilo que se estava acostumado a ver em veículos. Seu chassi tinha um novo desenho e nele era rebitada a carroceria; o motor era colocado sobre o eixo dianteiro e a suspensão, com molas longas, era muito mais suave. O centro de gravidade, mais baixo, e o tratamento aerodinâmico davam ao veículo melhor estabilidade em relação aos carros de sua época. Sua carroceria com poucas arestas, faróis embutidos, pára-brisa curvado e inclinado para trás, saias recobrindo grande parte das rodas traseiras e o pneu sobressalente coberto, davam ao carro um coeficiente de resistência aerodinâmica pouco superior a 0,5, o que permitia uma maior economia de combustível e maior velocidade. Além do maior espaço interno que foi conseguido pela distribuição racional dos componentes mecânicos, o banco dianteiro acomodava três pessoas e o traseiro, tão cômodo como aquele, vinha colocado 50 cm para frente do eixo de trás, ao contrário dos carros da mesma época, em que esse banco vinha sobre o eixo, o que implicava desconforto e numa maior altura da carroceria. Figura 16: Pierce-Arrow Silver Arrow 1933 V 12 Das resistências ao movimento de um veículo o arrasto aerodinâmico é a mais representativa, em velocidades mais elevadas. Ao se passar de 40 km/h para 120 km/h o arrasto aerodinâmico é aumentado em 9 vezes, exigindo 27 vezes mais potência para mover o veículo. Por exemplo, um veículo com área frontal de 2 m² trafegando a 40 km/h, ao nível do mar, com coeficiente de penetração aerodinâmica de 0,4 encontra uma resistência de 6 kgf devido ao arraste aerodinâmico, exigindo 0,9 CV para vencê-lo. Já a 120 km/h essa resistência será de 54 kgf, exigindo 24 CV. A 200 km/h a potência exigida seria de 112 CV. Os veículos atuais apresentam, em média, um coeficiente de arrasto aerodinâmico de 0,3. Este coeficiente representa a forma como a carroceria é desenhada, sendo tão menor quanto mais aerodinâmica for a forma da carroceria. Portanto, um veículo, também com área 22
  • 23. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin frontal de 2 m², com coeficiente de 0,3, exigiria, a 200 km/h, 84 CV para vencer o arrasto com o ar. As demais parcelas a serem vencidas para o movimento do veículo são: subidas (nas descidas esta parcela passa a ser favorável), atrito de rolamento dos pneus com o piso e a inércia (resistência à aceleração do veículo). A soma das quatro parcelas vem compor a potência necessária para o movimento do veículo em cada condição de carga, de piso e de velocidade. Figura 17: Chrysler Airflow 1935, 8 cilindros em linha, 5.3 litros, 138 HP Figura 18: Peugeot 402, 2.0 litros desenvolvendo 55 CV As linhas de antigos veículos com excepcional desenho inspiram recentes lançamentos. A Chrysler inspirou-se no Airflow ao lançar o PT Cruiser. A BMW inspirou-se no 307 para lançar o Z4. A Chevrolet também relembra as linhas das antigas pick-ups da década de 50 na SLR. 23
  • 24. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin Figura 19: BMW 307 1956 e BMW Z4 Figura 20: Chevrolet SSR e Chevrolet Pick-up 1951 Figura 21: Chrysler PT Cruiser. 24
  • 25. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin A evolução tecnológica dos veículos de passeio e de carga foi interrompida com a eclosão da Segunda Guerra Mundial em 1939. Os veículos civis permaneceram sem alterações significativas até o final do conflito. Os principais esforços produtivos foram canalizados para o projeto e construção de veículos para aplicações bélicas e militares. Naturalmente, após o conflito, as inovações desenvolvidas para os veículos militares foram aproveitadas no desenvolvimento dos veículos civis do final da década de 1940 e início década de 1950. Neste período da Segunda Guerra Mundial, as características de combate exigiram, particularmente, um veículo tático leve e ágil. Neste segmento cabe citar, especialmente, o Jeep americano e o Kübelwagen alemão. Neste capítulo da História do Automóvel será apresentada a história do Volkswagen e, no próximo capítulo, a história do Jeep. São histórias com rumos distintos, já que o Kübelwagen foi derivado de um veículo civil e o Jeep originou todo um segmento de aplicações civis de um veículo militar. O Sedan nasceu no período anterior à Segunda Guerra Mundial. Adolf Hitler sonhava com a motorização da população alemã e definiu as características de um carro popular: ser capaz de trafegar continuamente a 100 km/h, transportar quatro pessoas e suas malas e custar no máximo 1.000 marcos imperiais. A convite do governo alemão, o engenheiro Ferdinand Porsche deu continuidade ao projeto do carro barato com que também sonhava, construindo vários protótipos. Talvez Hitler quisesse dar ao povo alemão a mesma oportunidade que os americanos tiveram com um Ford “T” robusto e barato. O Volkswagen Sedan surgiu antes da própria fábrica e da própria marca. Na realidade o automóvel Volkswagen, um sedan duas portas, emprestou seu nome à fábrica e criou a marca. Inicialmente foi batizado como KDF (Kraft durch Freude, ou Força através da Alegria, um dos lemas do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães). Figura 22: Protótipos do KDF wagen construídos onde se percebe as portas abrindo-se para trás. 25
  • 26. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin Já havia protótipos prontos para testes em 1935/36. Como não havia uma fábrica, ainda, a pedido de Hitler a Daimler-Benz fabricou uma série de 30 exemplares em 1937, possibilitando a conclusão dos testes, conduzidos pela SS, a tropa de elite do governo. Em 26 de maio de 1938 era aprovada a construção de uma fábrica, em Fallersleben. Segundo a história, na abertura do Salão de Berlim de 1938, Hitler e sua comitiva chegaram ao estande da Opel e um diretor disse-lhe, mostrando um novo modelo da empresa: "Aqui está o seu carro do povo (volkswagen, em alemão), Herr Hitler". Hitler, irritado, respondeu: "Só existe um carro do povo, o carro KdF". Logo, quem criou o nome Volkswagen foi a Opel. Figura 23: O Kommandeurwagen, veículo militar com base na plataforma do Sedan. Figura 24: O Kübelwagen, veículo militar. Figura 25: O Schwimmwagen, veículo militar anfíbio. 26
  • 27. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin Com o desencadear da Segunda Guerra o governo alemão solicitou que Ferdinand Porsche criasse um veículo militar robusto e leve, com base na plataforma do KdF. Foram apresentados os protótipos Typ 62 em 1938, os testes de campo foram imediatamente iniciados. As principais vantagens, além da leveza, é que com um motor refrigerado a ar poderia operar no rigoroso inverno europeu ou nos desertos das colônias africanas. A versão forma final, o Typ 82, surgiu em 1939. Com o decorrer dos anos de guerra, outras modificações ocorreram, como o aumento da cilindrada de 985 para 1.131 cm³. Resumindo-se a história do Volkswagen, apresenta-se uma cronologia de sua evolução: em 1932, Ferdinand Porsche, nascido no dia 3 de setembro de 1875 no Império Austro-Húngaro, esboça o desenho do veículo; em 1934 Porsche cria o NSU, protótipo do Volkswagen que rodou até 1955, quando foi adquirido pelo Auto-Museum da Volkswagen, na Alemanha; em 1935 Porsche recebe 200 000 marcos do governo alemão para, no prazo de dez meses, produzir três protótipos, que saíram com 16 meses de atraso, em 1936, da garagem da casa de Porsche, batizados de Volksauto-série VW-3, que seriam testados por 50.000 km; em 1937 Porsche, Daimler-Benz e Reuter & Co. produzem mais de 30 protótipos, batizados de VW-30, e realizam 2 400 000 de km de testes. O governo alemão, já sob o comando de Adolf Hitler, cria uma empresa estatal e viabiliza a fabricação do carro. O capital inicial, de 50.000.000 de marcos, veio da Kdf (iniciais em alemão de Força da Alegria), um dos departamentos da Frente Trabalhista Alemã, o sindicato oficial. Porsche viaja para os Estados unidos para visitar as linhas de montagem de Detroit e se encontrar com Henry Ford; em 1938, começa a ser construída em Fallersleben, na baixa Saxônica (região entre o rio Reno e o mar Báltico), a fábrica para a produção do carro e uma cidade para 90 000 habitantes, destinada aos futuros operários e suas famílias. Depois, a cidade recebeu o nome de Wolfsburg. Parte do dinheiro destinado às obras provinha de alemães que, mesmo sem saber a data da entrega, queriam um Kdf-Wagen; em 1939, com o início da II Guerra Mundial, os Kdf-Wagen não chegam a ser fabricados e a nova fábrica estréia produzindo veículos militares, com destaque para Kommandeurwagen, um carro para oficiais, com tração nas quatro rodas e um chassis mais elevado, e de que foram construídos 667 exemplares, o Kubelwagen, do qual foram produzidos 50.788 exemplares e para os Schwimmwagen (carro anfíbio), com produção de 14.283 veículos; em 1944 os aliados atacam e destroem a fábrica. 1946 - Começa a reconstrução da fábrica e a produção é limitada. 1947 - Ingleses, Soviéticos e Norte-americanos não se interessam pela fábrica. 1948 - Heinrich Nordhoff assume a presidência da fábrica e eleva a produção para 19.214 unidades/ano. 1949 - A produção cresce para 46.154 unidades e um acordo com a Chrysler permite a utilização da rede de revendas da marca norte-americana em todo o mundo. Foi o primeiro ano do Fusca nos Estados Unidos e apenas duas unidades foram vendidas. 1950 - O primeiro lote de Fuscas desembarca no Brasil, via porto de Santos. As 30 unidades que vieram foram rapidamente vendidas. 1951 - Morre Ferdinand Porsche. 1953 - Com peças da Alemanha, inclusive o motor de 1.200 centímetros cúbicos (cc), o carro começa a ser montado em um pequeno armazém alugado na Rua do Manifesto, no bairro do Ipiranga (zona sudeste de são Paulo). 27
  • 28. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin 1954 - O carro Volks começa a consquitar os norte-americanos, que o apelidam de Beetle (besouro). 1956 - A Volkswagen inicia a construçào de sua fábrica de 10.200 m² no km 23,5 da via Anchieta (São Bernardo do Campo). 1957 - A fábrica solta seu primeiro produto, a Kombi. 1959 - O Fusca começa a ser produzido no dia 3 de janeiro, com um índice de nacionalização de 54%. A primeira unidade é adquirida pelo empresário paulista Eduardo Andrea Matarazzo. No dia 18 de novembro, a fábrica é inaugurada oficialmente. A Volks brasileira fecha o ano com 8.406 unidades vendidas. 1962 - O Fusca torna-se líder de vendas no Brasil, com 31.014 veículos vendidos. 1964 - A Volks lança o Fusca com teto solar, mas, apelidado de "Cornowagen", fica só alguns meses no mercado. 1965 - A Volks lança a versão "Pé de Boi", cerca de 15% mais barata (não possuía nenhum item cromado). 1967 - O carro troca o motor de 1.200 cc (36 CV) pelo 1.300 cc (46 CV) e, para aumentar a visibilidade, ganha um vidro traseiro 20% maior e os limpadores do pára-brisa são melhor posicionados. 1969 - Walt Disney lança o filme "Se Meu Fusca Falasse", no qual o carro, chamado de Herbie, nada, anda sobre duas rodas e até pensa. 1970 - O carro ganha opção de motor 1.500 cc (52 CV), bitola traseira 62 mm mais larga, eixo traseiro com barra compensadora, capô do motor com aberturas para ventilação, novas lanternas traseiras e passa a incorporar cintos de segurança dianteiros. Nesse ano, um incêndio destrói o setor de pintura da fábrica e o primeiro Fusca brasileiro é exportado para a Bolívia. 1972 - A Volkswagen do Brasil atinge a produção de 1 milhão de Fuscas. 1974 - O motor 1.600 cc (65 CV) passa a ser opção para o Fusca. As vendas do carro batem recordes, com 237.323 unidades no ano, número que nunca seria superado. 1978 - A Volkswagen alemã deixa de produzir o Fusca. 1979 - O Fusca ganha motor movido a álcool e as lanternas traseiras crescem, sendo apelidadas de "Fafá". 1986 - O Fusca ganha bancos reclináveis com apoio de cabeça e janelas laterais traseiras basculantes. No final do ano, no entanto, por razões mercadológicas (as vendas decresciam anualmente desde 1980 devido à chegada de carros mais modernos), a Volks tira o carro de linha. 1987 - Com o fim do Fusca, o Opala é adotado pela Polícia Militar de São Paulo. 28
  • 29. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin 1993 - Setembro: oito meses após o pedido do então presidente Itamar Franco ao então presidente da Volkswagen Pierre-Alain De Smedt e com investimentos de US$ 30 milhões, a Volkswagem retoma a produção do Fusca. Entre as novidades do modelo, destacam-se vidros laminados, catalisador, barras estabilizadoras na dianteira e na traseira, pneus radiais, freios dianteiros a disco, reforços estruturais e cintos de segurança de três pontos. Pesquisa Datafolha aponta o Fusca como a marca mais lembrada. Por outro lado, as vendas ficam abaixo das expectativas e o preço do carro cai cerca de US$1.000. 1996 - Em junho, o Fusca novamente deixa de ser produzido. O México passa a ser o único país a produzir o carro. Em novembro é instituído oficialmente o dia do Fusca (20 de janeiro). 1998 - No dia 14 de fevereiro, a fábrica de Puebla, no México, começa a produzir o novo Fusca em grande escala. O carro vira mania nos Estados Unidos. Em maio, a Volks promove um "recall" para trocar a fiação próxima à bateria devido à possibilidade de incêndio. Apresenta-se, agora, uma breve história de outro ícone do desenvolvimento automotivo no mundo. A história do Jeep. Se existir algum benefício em uma guerra este é a evolução tecnológica em equipamentos e veículos. O Jeep surgiu como veículo especificamente para uso militar. Após a Primeira Guerra Mundial – a guerra de trincheiras – que foi extremamente penosa para todos, militares e civis, o exército americano buscou alternativas para prover de mobilidade suas tropas. Adaptações de veículos civis sempre foram a alternativa encontrada. Versões do Ford T militarizado, do caminhão Marmon 4x4, entre outras foram avaliadas. Alguns militares estavam preparando especificações para um veículo específico para uso em combate - Quarter Ton 4x4 - e, em 1940, lançaram uma concorrência para identificar um potencial fabricante para este veículo. Participaram da concorrência 135 empresas americanas, tendo sido produzidos 70 veículos. Apenas a Bantan Motor Company, a Willys Overland e a Ford Motor Company apresentaram veículos compatíveis com as perspectivas do exército americano. As especificações estabeleciam distância entre eixos de 80”, tração nas quatro rodas, perfil baixo – capota de lona com pára-brisas rebatível -, fácil manobrabilidade, peso máximo de 500 kg (que nunca foi atendido), entre outros itens. Cada participante deveria apresentar para testes 10 protótipos dentro de um prazo de 45 dias. A Bantan tinha o melhor conjunto; a Willys o melhor motor – um Go-Devil 2.2 4 cilindros de 60 HP -, e a Ford a maior capacidade produtiva. Após as avaliações o exército americano condensou as características dos três proponentes em uma especificação final que, resumidamente, era o projeto Bantam com o motor Willys e a grade dianteira Ford. Durante os anos de 1940 e 41 muitas versões foram produzidas pelas três empresas. Cabe citar: Bantan: apresentou o modelo GPV em 23 de setembro de 1940. Em 1941 foram produzidas 2675 unidades da versão Bantam 40 BRC, com motor Continental de 45 HP e câmbio de 3 velocidades Warner T84. 29
  • 30. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin Figura 26: Bantam 40 BRC Willys: apresentou o Quad, em 11 de novembro de 1940. A versão melhorada da Willys foi o Willys MA, com motor "Go Devil" de 60 HP e câmbio de 3 velocidades. Figura 27: Willys MA Ford: apresentou o Pigmy, em 23 de novembro de 1940. A Ford apresentou 3550 unidades da versão GP com motor Owen Fergusson Dearborn de 45 HP e câmbio de 3 velocidades. Figura 28: Ford Pigmy Em julho de 1941 foi estabelecida a configuração final do veículo, resultando basicamente no modelo Willys modificado, denominado de MA. Este modelo foi produzido como pré-série até ser melhorado para o modelo MB, que foi produzido em grande escala. Em função da demanda, a Ford produziu o mesmo veículo, partindo do chassi Willys. O veículo Ford era denominado GPW – General Purpose Willys –, ou seja, veículo modelo Willys produzido pela Ford. 30
  • 31. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin Figura 29: Willys MB Com o encerramento dos combates, e percebendo que os agricultores dos países onde houve conflito estavam utilizando os Jeeps abandonados após a guerra como tratores, a Willys continuou a produção do Jeep em uma versão civil. Esta versão era derivada da versão militar, removendo-se os equipamentos padrão militares (lanternas, suporte para fuzil, interruptor de partida sem chave, etc.) e inserindo preparação para receber implementos agrícolas (arado, polia, lâmina para subsolador, lâmina para terraplanagem, broca para perfuração, etc.). A primeira versão de 1944 foi denominada de CJ-1 (ou modelo CJ-1 – de Civilian Jeep Modelo 1). Era basicamente um MB desmilitarizado. Não se sabe quantos foram produzidos, porém nenhum sobreviveu até hoje. Modificações levaram a uma versão especificamente civil, denominada de AgriJeep ou CJ-2, que ficou restrita a uma pequena pré-série. Somente os CJ-2 números 09, 11, 12, 32, 37 e 39 sobreviveram. Apresentavam alavanca de câmbio na coluna (caixa de câmbio Spicer T90, mais robusta que a do CJ-1) e pneu sobressalente atrás do pára-lama dianteiro direito. Logo em seguida surgiu a versão CJ-2A, retratando o Jeep mais conhecido por todos. Foram produzidas 214760 unidades entre 1945 e 1949. Figura 30: CJ-2A Como evolução natural do modelo, surgiu a versão CJ-3A. Era basicamente o mesmo veículo (mesmo trem motriz) apenas com algumas modificações na carroceria – 81” de distância entre eixos e pára-brisas inteiriço. Foram produzidas 131843 unidades entre 1949 e 1953. O motor era o mesmo do CJ-2A, um Go-Devil L134, eixo dianteiro Dana 25 e traseiro Dana 44. 31
  • 32. Sistemas Mecânicos Automotivos – Carlo Giuseppe Filippin Figura 31: CJ-3A Continuando a evolução, o motor com válvulas no bloco foi substituído pelo motor F134 Hurricane, com válvulas de admissão no cabeçote. Como este motor era mais alto, o capô teve de ser aumentado em altura, surgindo assim o modelo CJ-3B ou “Cara de Cavalo”. Foram produzidas mais de 30000 unidades entre 1953 e 1954. Foram produzidas mais de 190000 unidades em versões militares entre 1953 e 1967. Figura 32: CJ-3B A versão civil do CJ-3B apresentou vida curta em função do lançamento da versão CJ-4 (como pré-série) seguida da versão CJ-5. O modelo CJ-5 apresentava a mesma mecânica do CJ-3B, sendo modernizada ao longo dos anos. Esta foi a versão produzida no Brasil, que iniciou a produção em 1958 com motor 2.6 6 cilindros, BF 161, derivado do F 134. Figura 33: Jeep modelo CJ-5. 32