O documento discute as diferenças entre reencarnação e ressurreição na tradição judaica. A ressurreição envolve a alma retornando ao corpo original no mundo vindouro, enquanto a reencarnação envolve a alma entrando em um novo corpo no mundo atual. A reencarnação é mencionada em textos cabalísticos como o Zohar como uma forma de corrigir falhas de vidas passadas ou alcançar perfeição.
Siddur ha miphorush_kavanas_ha_leiv - 28-08 - yossef
Reencarnação e ressureição
1. REENCARNAÇÃO E RESSUREIÇÃO
Em comparação a um conceito como o "Mundo Vindouro",
reencarnação não é, tecnicamente falando, uma verdadeira
escatologia. A reencarnação é meramente um veículo para se
atingir um fim escatológico. É a reentrada da alma num
corpo inteiramente novo no mundo atual. A ressurreição, em
contraste, é a reunificação da alma com o corpo anterior
(recém reconstituído) no Mundo Vindouro, um mundo que a
história ainda não testemunhou.
A ressurreição é assim um conceito puramente escatológico.
Seu objetivo é recompensar o corpo com a eternidade e a
alma com perfeição mais elevada. O propósito da
reencarnação geralmente é duplo: compensar uma falha na
existência prévia ou criar um estado de perfeição pessoal
novo, mais elevado, ainda não atingido. Assim, a
ressurreição é um tempo de recompensa; a reencarnação um
tempo de reparar. A ressurreição é um tempo de colher; a
reencarnação um tempo de semear.
O fato de que a reencarnação seja parte da tradição judaica
é surpresa para muita gente. Apesar disso, é mencionada em
numerosos locais em todos os textos clássicos do misticismo
judaico, começando com a preeminente obra da Cabalá, o
Zohar.
Se alguém é mal sucedido no seu propósito neste mundo, o
Eterno, Bendito seja, o desenraiza e planta mais e mais vezes.
(Zohar I 186b)
Todas as almas estão sujeitas à reencarnação, e as pessoas
não conhecem os caminhos do Eterno, Bendito seja! Eles não
sabem que são trazidos perante o Tribunal, antes de entrar
neste mundo e depois de tê-lo deixado; são ignorantes das
muitas reencarnações e obras secretas que têm de passar, e
do número de almas nuas, e quantos espíritos nus vagam no
outro mundo, incapazes de entrar no véu do Palácio do Rei.
Os homens não sabem como as almas se revolvem como uma
pedra atirada de um estilingue. Mas está aproximando-se a
época a em que estes mistérios serão revelados. (Zohar II
99b)
O Zohar e a literatura paralela estão repletos de referências
à reencarnação, tocando em questões como: qual corpo
ressuscitará e o que acontece com aqueles corpos que não
atingem a perfeição definitiva; quantas chances uma alma
2. recebe de atingir a perfeição por meio da reencarnação; se
um marido e mulher podem reencarnar juntos; se a demora
no sepultamento pode afetar a reencarnação; e se uma alma
pode reencarnar em um animal.
A reencarnação é mencionada pelos comentaristas bíblicos
clássicos, incluindo o Ramban (Nachmânides), Menachem
Recanti e RabeinuBachya. Entre os diversos volumes de Rabi
Yitschac Luria, conhecido como o "Ari", dos quais a maioria
nos chega através da pena de seu principal discípulo, Rabi
Chayim Vital, são profundos discernimentos relacionados à
reencarnação. De fato, seu ShaarHaGilgulim, "Os Portões da
Reencarnação", é um livro dedicado exclusivamente ao tema,
incluindo detalhes a respeito das raízes da alma de muitas
personalidades bíblicas e em quem eles reencarnaram, desde
os tempos da Bíblia até o Ari.
Os ensinamentos do Ari e os sistemas de ver o mundo
espalharam-se como fogo após sua morte, em todo o mundo
judaico na Europa e no Oriente Médio. Se a reencarnação
tinha sido geralmente aceita pelo povo judeu e pela
Inteligentsia anteriormente, tornou-se parte do tecido do
idioma e estudos judaicos depois do Ari, fazendo parte do
pensamento e dos escritos de grandes eruditos e líderes,
desde os comentaristas clássicos sobre o Talmud (por
exemplo, o Maharsha, Rabi MosheEidels), até o fundador do
Movimento Chassídico, o Báal Shem Tov.
Muitos ficam igualmente
surpresos ao descobrir que
a reencarnação era uma
crença aceita por
numerosos das mentes
notáveis nas quais se baseia
a civilização Ocidental.
Embora o Judaísmo,
obviamente, não concorde
necessariamente com todas suas idéias e filosofias, mesmo
assim Platão, por exemplo, (em Meno, Fedo, Timeus, Fedro e
a República), partilha a crença na doutrina da reencarnação.
Ele parece ter sido influenciado pelas primeiras mentes
clássicas gregas, como Pitágoras e Empédocles. No século
Dezoito, na Era do Iluminismo e Racionalismo, pensadores
como Voltaire ("Afinal, não é mais surpreendente nascer
duas vezes que nascer uma vez") e Benjamim Franklyn
expressaram uma afinidade pela noção da reencarnação. No
século Dezenove, Schopenhauer escreveu (Parerga e
A ressurreição é um tempo de
recompensa;a reencarnação
um tempo de reparar. A
ressurreição é um tempo de
colher; a reencarnação um
tempo de semear.
3. Paralipomena), "Se um asiático me pedisse uma definição de
Europa, eu seria forçado a responder-lhe: É aquela parte do
mundo que é assombrada pela incrível ilusão de que o
presente nascimento da pessoa é sua primeira entrada na
vida…" Dostoievski (em Os Irmãos Karamazov) refere-se à
idéia, ao passo que Tolstoi parece ter sido categórico em
afirmar que tinha vivido antes. Thoreau, Emerson, Walt
Whitman, Mark Twain e muitos outros reconheceram e/ou
partilharam alguma forma de crença na reencarnação. Deve-
se registrar, no entanto, que algumas clássicas autoridades
da Torá, mais especificamente, a autoridade do Século Dez,
SaadiaGaon, negaram a reencarnação como dogma judaico.
EmunotV'Deyot 6:3.
O Talmud relata que o sábio do segundo século, Rabi Shimon
bar Yochai e seu filho Elazar se refugiaram numa caverna
para escapar à perseguição romana. Durante os treze anos
que se seguiram, eles estudaram noite e dia, sem distração.
Segundo a tradição cabalista (TicuneiZohar 1a) foi durante
estes treze anos que ele e seu filho primeiro compuseram os
principais ensinamentos do Zohar. Oculto por muitos séculos,
o Zohar foi publicado e disseminado por Rabi Moshe de
Leon, no Século Treze.
Embora o Zohar seja geralmente considerado uma obra de
um único volume, compreendendo o Zohar, TikuneiZohar e
ZoharChadash, na verdade é uma compilação de diversos
pequenos tratados ou sub-seções. Segue abaixo apenas
alguns deles.
O Zohar (I 131a): "Rabi Yossi respondeu: 'Aqueles corpos
que não são merecedores e não atingiram seu propósito,
serão considerados como não tendo sido… ‘ Rabi Yitschac
[discordou e] disse: ‘Para estes corpos o Eterno
providenciará outros espíritos, e se forem considerados
merecedores, eles obterão uma morada no mundo; caso
contrário, eles serão cinzas sob os pés dos justos.’ CfZohar II
105b.
O Zohar III 216a; TicuneiZohar6 (22b), 32 (76b) sugerem
três ou quatro chances. TicuneiZohar 69 (103a) sugere que
mesmo que seja feito um pequeno progresso a cada vez, a
alma recebe mil oportunidades de reencarnação para atingir
sua plenitude. Zohar III 216a sugere que uma pessoa
essencialmente justa que passa pela provação de perambular
de cidade em cidade, de casa em casa – até para tentar
4. vender pela insistência (ZoharChadashTicunim 107a) – é
como se ele passasse por muitas reencarnações.
Depois que a alma deixou o corpo e o corpo permanece sem
vida, é proibido deixá-lo insepulto (MoedKaton, 28a; Baba
Kama, 82b). Pois um corpo morto que é deixado insepulto
por 24 horas causa uma fraqueza nos membros do Chariot e
impede que o desígnio de D’us seja cumprido; pois talvez
D’us tenha decretado que ele deveria passar pela
reencarnação imediatamente, no dia em que morreu, o que
seria melhor para ele, mas como o corpo não foi enterrado, a
alma não pode ir até a presença do Eterno, nem ser
transferida para outro corpo. Pois uma alma não pode entrar
num segundo corpo até que o primeiro seja sepultado…"
Zohar III 88b.
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