1. Sociologia Unidade V.
Prof. João Paulo
C5: Cultura: formação do homem
A palavra cultura tem diversos sentidos, e dois deles se destacam: um popular, para
traduzir o atributo de toda pessoa possuidora de conhecimentos, com formação intelectual
desenvolvida; outro antropológico ou sociológico, em que a cultura é referida como
comportamento social do grupo. É nesse sentido que aqui se prega a palavra.
Numerosos são os conceitos sobre cultura. O mais antigo é possivelmente o
Tylor (1871): complexo total de conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes e quaisquer
outros aptidões e a hábitos, adquiridos pelo homem como membro da sociedade. Herskovits a
definem com a parte do ambiente feita pelo homem; Linton, como a herança cultural, e Lowie
como o total da tradução social. Mais recentemente Ashley Montagu a definiu como o modo
particular por que as pessoas se adaptam ao seu ambiente; é a resposta dos homens às suas
necessidades básicas. Em resumo, diz Montagu, é um modo de vida de um povo, o ambiente que
um grupo de seres humanos, ocupando um território comum, criou em forma de idéias,
instituições, linguagem, instrumentos, serviços e sentimentos. A cultura é sempre um complexo.
Criação do homem é recebida como herança dentro do grupo em que cada pessoa nasce e
adquirida ao contato com outros grupo.
Só o homem é portador de cultura, e por isso só ele a cria, a possui e a transmite. É
uma herança que o homem recebe ao nascer. Desde o momento em que é posto no mundo, a
criança começa a receber uma serie de influências do grupo em que nasceu: as maneiras de
alimentar-se; o vestuário; a cama ou a rede para dormir, a língua falada, a identificação de um pai
e de uma mãe, e assim por diante. À proporção que vai crescendo, novas influências desse
mesmo grupo, vai recebendo, de modo a integrá-la completamente na sua sociedade, da qual
participa como uma personalidade através da posição ou papel que nela exerce. Se
individualmente o homem age como reflexo de sua sociedade, faz aquilo que é normal e
constante nessa sociedade, quanto mais nela se integra, mais adquire novos hábitos, capazes de
fazer com que se considere um membro dessa sociedade, agindo e atuando dentro dos padrões
estabelecidos. Esses padrões são justamente a cultura da sociedade em que vive. Padrão cultural
é um expressão que se refere, em antropologia, à soma total das atividades-atos, idéias, objetos
de um grupo; ao ajustamento de diversos traços e complexos de uma sociedade.
Através do padrão cultural se evidencia a originalidade das culturas, ou, em
particular, de cada cultura; identifica-se o que há de específico ou de peculiar numa cultura. É em
torno dele que se formam as diferentes atividades de cada grupo humano, as quais, entre si,
constituem uma unidade funcional. Surgem então no quadro do padrão cultural, os complexos e
os traços. Os complexos de cultura são aqueles conjuntos de traços culturais, intimamente ligados
entre si, que formam unidade de função. Em termos mais rigorosamente técnicos, o complexo
cultural pode ser definido como o conjunto variável de fenômenos interdependentes que
concorrem para formar o perfil cultural próprio de uma área antropológica mais ou menos definida.
O traço cultural, de seu lado, são os atos, e objetos individuais ou específicos que constituem a
manifestação expressa de uma cultura. É unidade desta. Um grupo de traços culturais formam o
complexo. Pode-se, assim, no quadro cultural brasileiro, caracterizar o futebol como um complexo
de diferentes traços: a bola, o número de jogadores, o campo com dimensão prefixada, a
existência de metas. De seu lado, cada complexo, se relaciona com outros, e dessa inter-relação
surge o padrão cultural de uma sociedade ou de um grupo. Entretanto, a maioria dos autores
considera o traço como a unidade menor, e, por isso mesmo, aquele que, dentro de uma cultura,
mais facilmente se difunde a outra cultura. Nessa difusão o traço pode conservar a sua forma e
mudar seu uso. A forma é o aspecto passivo, observando e transmitido, do traço cultural; o uso é
o aspecto dinâmico, as relações com as coisas externas da cultura. O padrão cultural é, em suma,
aquele conjunto de valores que caracteriza uma cultura em relação com outras culturas. Os novos
elementos introduzidos tratarão sempre de acomodar-se aos modelos originais; isso se verifica
tanto em povos desenvolvidos ou chamados civilizados, consciente de suas características
nacionais, como em povo selvagens ou chamados primitivos. Esse conjunto de valores é o que
2. pode ser chamado de espírito da cultura. Por essa razão, modernas correntes antropológicas
substituem o conceito de padrão cultural pelo de personalidade.
Multiculturalismo ou de como viver junto
Nas democracias pluralistas, assistimos a um movimento generalizado de incremento
das identidades particulares. Minorias, populações autóctones, grupos de migrantes e imigrantes
manifestam seu desejo de reconhecimento cultural. "Viver junto" é uma questão cada vez mais
premente.
O termo "multiculturalismo" designa tanto um fato (sociedades são compostas de
grupos culturalmente distintos) quanto uma política (colocada em funcionamento em níveis
diferentes) visando à coexistência pacífica entre grupos étnica e culturalmente diferentes. Em
todas as épocas, sociedades pluriculturais coexistiram e, hoje, menos de 10% dos países do
planeta podem ser considerados como culturalmente homogêneos. Por outro lado, o tratamento
político da diversidade cultural é um fenômeno relativamente recente.
Há menos de trinta anos, as primeiras medidas políticas de inspiração multiculturalista
foram colocadas em ação na América do Norte (Canadá e EUA). Lá, a indiferença frente à cor da
pele foi substituída pelo princípio de consciência da cor. O debate sobre multiculturalismo foi
crescendo de intensidade e, a partir dos anos 90, difundiu-se na Europa e América do Sul. A
doutrina multiculturalista avança essencialmente a idéia de que as culturas minoritárias são
discriminadas e devem merecer reconhecimento público. Para se realizarem ou consolidarem,
singularidades culturais devem ser amparadas e protegidas pela lei. É o Direito que vai permitir
colocar em movimento as condições de uma sociedade multicultural.
Entre universalismo e multiculturalismo
Mas, de que diferenças culturais nós falamos? Muitas vezes reduzidas à questão da
etnicidade (condição ou consciência de pertencer a um grupo) ou, em alguns casos, reduzidas até
mesmo à "questão racial", as diferenças culturais não concernem apenas aos particularismos de
origem ou de tradição (religiosas ou lingüísticas).
As reivindicações se enraízam cada vez mais sobre no particularismo
dos mores (preferências sexuais, por exemplo), de idade, de traços ou de deficiências físicas
(obesos, cegos, paraplégicos). O multiculturalismo combate o que ele considera como uma forma
de etnocentrismo, ou seja, combate a visão de mundo da sociedade branca dominante que se
toma – desde que a idéia de raça nasceu no processo de expansão européia – por mais
importante do que as demais. A política multiculturalista visa, com efeito, resistir à homogeneidade
cultural, sobretudo quando esta homogeneidade afirma-se como única e legítima, reduzindo
outras culturas a particularismos e dependência.
Um detalhe importante nesta discussão é que, em nossos dias, um cidadão raramente
"esquece" sua condição particular para encarnar um pretenso universalismo. O universalismo
combina dificilmente com as condições da modernidade. Com a liberação dos mores e a
emancipação sexual, a vida privada foi maciçamente reconstruída revestindo-se de grande
potencial político. Nesta perspectiva, identidade e individualidade quase se sobrepõem. Isto pode
parecer paradoxal, mas a reivindicação cultural está claramente associada ao individualismo
moderno, ao primado do "sujeito individual". Ela emana da subjetividade pessoal daqueles que se
reconhecem neste ou naquele particularismo e resolvem se engajar coletivamente em
reivindicações identitárias.
O debate de idéias entre monoculturalismo e multiculturalismo funciona, de certa
forma, em duas vertentes de pensamento. Ele se organizou, primeiramente, em torno de uma
querela de filosofia política norte-americana: os liberais, ou individualistas, sustentavam que o
indivíduo é mais importante e antecede à comunidade. Liberais recusam a idéia de que direitos
minoritários possam ferir a preeminência legítima do indivíduo. O comunitarismo ou coletivismo,
ao contrário, acredita que os indivíduos são o produto das práticas sociais e que é preciso
proteger os valores comunitários ameaçados por valores individuais e, principalmente, reconhecer
as diferenças culturais.
Tal debate, contudo, já é coisa do passado. Pensadores como Charles Taylor e
Michael Walzer avançaram posições mais nuançadas. Inúmeros teóricos acreditam que os direitos
minoritários podem promover as condições culturais de liberdade potencial dos membros de
grupos minoritários. Na Europa, este "multiculturalismo liberal" parece ter se imposto por falta de
3. alguma idéia melhor. Abandonou-se, então, o modelo que prevalecia desde a Revolução
Francesa e que propugnava o cidadão unificado.
Vejamos, num exemplo, como procede esta vertente: a sopa passada no liquidificador
transforma tudo num todo homogêneo, no qual não se distinguem mais os elementos que a
compõem. Apenas um paladar avisado poderá adivinhar, no sabor, cada um dos ingredientes. Na
salada composta, por outro lado, cada ingrediente se distingue dos outros, conservando sua
aparência, seu gosto e sua textura. Nos EUA, o mito do "melting-pot", ou seja, da encruzilhada na
qual todas as culturas se fundem ao adotar o "american way of life" – jeito americano de viver –,
sucedeu o modelo do mosaico, ou da "salada", imagem possível do multiculturalismo: uma
justaposição um pouco heterogênea de grupos étnicos e minorias culturais coabitando num
mundo de concordância.
Industria cultural e cultura de massa.
A partir do século XVIII, a sociedade não seria a mesma. Não estamos nos referindo
somente aos ideais de liberdade e igualdade de direitos que sacudiram bandeiras e multidões e
incomodaram governantes da Europa e também da América. É claro que a Declaração dos
direitos do homem e do cidadão inspirou uma profunda mudança nas formas de gestão política e
econômica. No entanto, houve uma alteração mais intensa que começou, misturou e se espalhou
com a fumaça das chaminés das fábricas.
A marcha da indústria foi acompanhada por uma intensa urbanização e a população
camponesa foi atraída para as cidades. A máquina e o relógio funcionavam num ritmo alucinado
que condicionava os trabalhadores dentro do sistema capitalista a trabalharem sem parar.
O lucro era o principal objetivo da burguesia e do sistema capitalista. A tecnologia,
além de agilizar o processo de produção industrial, trazia conforto e entretenimento e inseria
novos hábitos ao público em geral. A norma agora era estimular cada vez mais o consumo,
ampliando sempre o mercado.
A produção cultural, em seus estudos, é vista como formadora de mercadorias.
Produtos culturais como filmes, programas de rádio e revistas seriam comparados em seus
processos de produção ao ritmo de produção no planejamento e concepção de um automóvel em
série. A indústria cultural forneceria bens padronizados simplesmente para satisfazer a diversos
níveis de demanda por cultura e entretenimento.
O poder da indústria cultural
THRILLER É ELEITO O MELHOR VIDEOCLIP DA HISTÓRIA DA INDÚSTRIA
CULTURAL.
Thriller, o videoclipe do cantor norte-americano Michael Jackson, foi eleito o melhor da
história, segundo uma pesquisa publicada Nos Estados Unidos. De acordo com a pesquisa, feita
pelo canal musical VH1 a cerca de 50 mil telespectadores, Thriller (1983) é o melhor clipe de
todos os tempos, seguido por Stan, do norte-americano Eminem. A lista continua com Like a
Prayer, de Madonna, em terceiro lugar, seguido por Rock DJ do britânico Robbie Williams e por
Sledgehammer de Peter Gabriel.
A modernização da imprensa, aumentou o número de livros, jornais e cartazes
publicados. Mais tarde, o rádio, o cinema e a televisão tornaram-se novas opções de lazer.
Não podemos ser ingênuos a ponto de ignorar que esses veículos de comunicação,
além de transmitirem diversão e informação, afirmavam e consolidavam ideologias e criavam
necessidades e hábitos de consumo.
A produção industrial era realizada em grande escala para o consumo de todos, ou
seja, para o consumo das massas. Tudo se transformava em mercadoria, inclusive os hábitos, as
ideias e a cultura. E é por essa razão que empregaremos o termo indústria cultural. Esta indústria
incentiva o consumo de uma cultura padronizada na forma de ideias, gostos, hábitos, formas de
vestir e tudo o que faz parte da cultura.
Os jornais, as revistas, o rádio, a televisão, o cinema e hoje a internet servem como
veículo de propagação da indústria cultural e esta faz cada vez mais uso dos anúncios
publicitários para criar o desejo de consumo. Desta forma, criou-se a cultura de massa, que é
consumida no mundo todo.
4. Identidade
A identidade cultural é um conjunto vivo de relações sociais e patrimônios simbólicos
historicamente compartilhados que estabelece a comunhão de determinados valores entre os
membros de uma sociedade. Sendo um conceito de trânsito intenso e tamanha complexidade,
podemos compreender a constituição de uma identidade em manifestações que podem envolver
um amplo número de situações que vão desde a fala até a participação em certos eventos.
Durante muito tempo, a ideia de uma identidade cultural não foi devidamente
problematizada no campo das ciências humanas. Com o desenvolvimento das sociedades
modernas, muitos teóricos tiveram grande preocupação em apontar o enorme “perigo” que o
avanço das transformações tecnológicas, econômicas e políticas poderiam oferecer a
determinados grupos sociais. Nesse âmbito, principalmente os folcloristas defendiam a
preservação de certas práticas e tradições.
Por outro lado, algumas recentes teorias culturais desenvolvidas no campo das
ciências humanas desempenharam o papel inovador de questionar o próprio conceito de
identidade cultural. De acordo com essa nova corrente, muito em voga com o desenvolvimento da
globalização, a identidade cultural não pode ser vista como sendo um conjunto de valores fixos e
imutáveis que definem o indivíduo e a coletividade da qual ele faz parte.
Um dos mais conhecidos exemplos dessa nova tendência que pensa a questão das
identidades pode ser encontrada na obra do pesquisador Nestor Garcia Canclini. Em vários de
seus escritos, este pensador tem a recorrente preocupação de analisar diversas situações nas
quais mostra que a cultura e as identidades não podem ser pensadas como um patrimônio a ser
preservado. Longe disso, ele assinala que o intercâmbio e a modificação são caminhos que
orientam a formulação e a construção das identidades.
Com esses referenciais, antigos problemas que organizavam os estudos culturais
perdem a sua força para uma visão de natureza mais ampla e flexível. A antiga dicotomia que
propunha a cisão entre “cultura popular” e “cultura erudita”, por exemplo, deixa de legitimar a
ordenação das identidades por meio de pressupostos que atestavam a presença de esferas
culturais intocáveis em uma mesma sociedade. Além disso, outras investigações cumpriram o
papel de questionar profundamente o clássico conceito de aculturação.
Partindo dessas novas noções de identidade, antigos temas relacionados à cultura
que aparentavam completo esgotamento ganharam um novo fôlego interpretativo. As identidades
passaram a ser trabalhadas com definições menos rígidas. Diversos estudos vão contra a ideia de
que uma população deve abraçar a sua cultura e garantir todas as formas possíveis de cristalizá-
la. Dessa forma, presenciamos a abertura de novas possibilidades de entender o comportamento
do homem com seu mundo.