O documento descreve o processo do Movimento Minas em desenvolver soluções colaborativas para o desafio da gravidez na adolescência. O projeto identificou o bem-estar da adolescente durante a gravidez como foco e gerou 99 ideias online e em workshops. As ideias foram consolidadas em 6 temáticas e 3 subtemas foram selecionados para testes piloto: educação, autoestima e saúde da adolescente gestante.
1. MOVIMENTO MINAS E O DESAFIO
“GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA”
Relato da experiência do Movimento Minas na
condução do seu primeiro projeto de cocriação.
Setores da sociedade e governo se aproximam para
desenhar, de forma colaborativa, soluções para o desafio:
Como promover o bem-
estar da adolescente
durante a gravidez?
2.
3. Movimento Minas
O Movimento Minas é um projeto que incentiva a
construção colaborativa de soluções para os
desafios da sociedade. O processo é composto de
três etapas: Desafios, um fórum virtual de
discussões e identificação de oportunidades para
atuação; Ideias, quebra-cabeças lançados no site
em busca de soluções e propostas relacionadas ao
tema; e Ações, que é a análise das ideias de acordo
com a sua viabilidade para que algumas possam ser
testadas, em pequena escala, na prática.
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Existem vários desafios em nossa sociedade que
poderiam facilmente servir de temas para longas
discussões e que certamente ofereceriam ótimas
oportunidades para se repensar alternativas de atuação,
visando encontrar formas inovadoras para sua
superação. No entanto, em um cenário de diversidade de
problemas, escassez de recursos e, também, de
inúmeras possibilidades de atuação, é preciso ter foco. É
preciso encontrar oportunidades de se concentrar em um
problema específico, mergulhar nas suas causas e nos
desdobramentos que o sucedem, além de entender os
diversos atores que o compõem para que, no final de todo
processo, se potencialize as chances de se desenhar
propostas de soluções efetivas e bem sucedidas.
Esse tem sido o mote defendido pelo Movimento Minas:
dentre todas as dificuldades enfrentadas pela sociedade,
opta-se por um tema específico que, por um lado, não
apenas demonstre ser relevante para a comunidade em
um momento específico, mas que, por outro, também
revele oportunidades de articulação de atores
importantes para seu debate, seja pela pré-disposição
desses em discuti-la, seja pelo cenário favorável para o
desenvolvimento de um projeto. Por isso, o primeiro
grande passo ao iniciar um processo de cocriação de
propostas via participação é definir um tema, dentro do
qual buscamos focar em uma abordagem mais
específica.
A escolha do tema “Gravidez na Adolescência” surgiu,
portanto, de um conjunto de fatores. Um ambiente
propício para a discussão aliado a atores internos e
externos ao governo dispostos a desenvolver um projeto
de participação social. Ao longo do processo, novos
colaboradores engajaram-se, sendo que todos eles
contribuíram de alguma forma para a execução deste
pioneiro processo no setor público mineiro.
7. Os Desafios podem surgir de várias fontes.
Podem ser solicitações externas ao governo,
problemas significantes para a vida de todos, ou
até mesmo via demandas de setores organiza-
dos da sociedade que se utilizam - virtual ou
presencialmente - do Movimento Minas como
plataforma para dar início a um processo de cola-
boração com a comunidade. Podem, inclusive,
surgir de fontes internas, órgãos ou Secretarias
do Governo do Estado que se utilizam da articula-
ção da sociedade para debater suas principais
questões.
A escolha do tema envolveu a presença de um
grande conjunto de fatores. Por ser o primeiro,
estávamos conscientes de que aprenderíamos
com o processo. Aproveitamos a relevância do
temadentrodoescopodoprojetoMãesdeMinas,
da Secretaria de Estado da Saúde, para definir-
mos que trabalharíamos na área da saúde mater-
no-infantil. Conversando com a equipe do projeto
MãesdeMinas,nosfoisugeridotrabalharaques-
tão do pré-natal, especificamente do público de
grávidas adolescentes. E em conversas com a
Secretaria, identificou-se que, ao tratar o público
adolescente, seria mais adequado tratar uma
questão de forma interdisciplinar, e não apenas
na área da Saúde, mas envolvendo também
Educação, Assistência Social, Juventude, dentre
outras políticas. Dessa forma, o tema decidido foi
o da Gravidez na Adolescência.
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Para definir o objeto de estudo e, posteriormente,
chegar à pergunta norteadora que seria lançada
no site do Movimento Minas, foi preciso um inten-
sotrabalhodeinvestigaçãonãoapenasdoproble-
ma, mas também dos atores e das redes de
relações que o compõem. Nesse caso, iniciou-se
uma busca de informações acadêmicas, textos,
artigos e estatísticas que pudessem ser utiliza-
das como referência pelos participantes. Além
disso, foram realizados alguns encontros presen-
ciais: nas ONGs Casa de Mãe em Nova Lima e
Escola da Gestante de Pedro Leopoldo; no Centro
de Reeducação Social São Jerônimo – CRSSJ e
MinistérioAMGI/IgrejaBatistadaLagoinha.Esses
encontros serviram para direcionar a construção
da pergunta e mobilizar a rede de apoiadores
incorporados ao projeto.
De forma geral, ficou evidente a complexidade do
tema. Após essas conversas, foi possível analisar
a questão em três distintas fases: antes, durante
e após a gravidez.
Evento de escuta, 30/06, Núcleo Amigo do Professor, Plug
Minas, Belo Horizonte (MG)
Desafio Ideias Ações
8. Desafio Ideias Ações
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A fase “antes da gravidez” envolveu a discussão
sobre os motivos que fazem a jovem engravidar.
Ao contrário do que diz o senso comum, não
necessariamente ocorre por falta de informação e
não necessariamente é um problema, sendo, em
alguns casos, desejada. Com base nas entrevistas
realizadas, a gravidez pode ser considerada fator
de crescimento pessoal, emancipação, respeito,
proteção, cidadania e autoestima. Em alguns
casos, ser mãe é, possivelmente, a realização de
um dos poucos sonhos possíveis para a adoles-
cente. Entretanto, pode também ser considerada
como parte de um ciclo de perpetuação de pobre-
za e marginalização. Adicionalmente, a questão
da moralização da discussão prejudica a desmis-
tificação de assuntos como, por exemplo, a ques-
tão do sexo durante a adolescência.
A fase “durante a gravidez” envolveu fatores
ligados ao bem-estar das adolescentes. Foi possí-
vel identificar a necessidade de acesso à informa-
ção e a importância de se acolher adequadamen-
te a adolescente, especialmente em relação ao
acesso ao sistema de saúde. Entretanto, não
houve consenso em relação à existência de
diferença em relação aos riscos biológicos da
gravideznaadolescênciacomparadosaosdafase
adulta.
A fase “após a gestação” evidenciou a preocupa-
ção da mãe adolescente em cuidar adequada-
mente e construir perspectivas de futuro para o
bebê. Para isso, levantou-se a necessidade de
garantir acolhimento à mãe e ao bebê.
Durante
Acesso á informação
Acesso ao sistema de saúde
Acolhimento (escola / sistema
de assitência social / família)
Gravidez desejável
Interrupção
da gravidez
Gravidez indesejável
Antes
Motivos para a
gravidez desejável
É planejada, consciente e feliz
Aspectos culturais e sociais
Ausência do Estado
Falta de informação
Falta de auto-estima
Falta de estrutura familiar
Violência
Motivos para a
gravidez indesejável
Após
Acesso à informação
Continuação do processo de educação formal da adolescente
Acolhimento (pela escola / sistema de assistência social / família)
Acesso ao sistema de saúde Cuidados de saúde com o bebê
9. Desafio Ideias Ações
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Para algumas jovens gestantes, não havia
problema algum, pois, segundo elas, haviam
engravidado conscientes das vantagens e
desvantagens da situação. Para as entidades de
apoio com orientação religiosa, o problema
residianafaltadeconsistênciadonúcleofamiliar
de origem das jovens grávidas. Ou seja, para eles
o problema está na decadência da instituição
familiar e a gravidez na adolescência é apenas
um dos muitos sintomas. Para alguns técnicos
do governo ligados ao tema, o foco seria a redu-
ção dos índices de gravidez indesejada. Para
outros, seria a redução do índice de abandono
escolar de jovens grávidas. Para grupos feminis-
tas organizados, o problema era a falta de alter-
nativas legais para o aborto da criança, na lógica
do direito ao próprio corpo para a adolescente
grávida. Para as adolescentes, em muitos casos,
a gravidez era encarada como um progresso,
uma transição rápida à fase adulta, a aquisição de
novo status social. E assim por diante, diferentes
grupos davam interpretações distintas ao tema.
Considerando a diversidade de problemas levan-
tados e a complexidade dos assuntos, alguns
envolvendo aspectos culturais e morais, de difícil
abordagem, e ainda assim, respeitando todas as
opiniões, legítimas, percebemos que não seria
possível abordar a questão da gravidez na adoles-
cência como um todo: era necessário focar.
Assim, definiu-se que o bem-estar da adolescente
durante a gravidez seria o fator transversal e
validado como o ponto de interseção de todos os
outros quesitos levantados. Formulou-se então a
pergunta: "Como promover o bem-estar da adoles-
cência durante a gravidez?" como ponto de parti-
da para o processo de escuta.
Encontro de escuta, 10/08, Secretaria Municipal dessaúde de Vespasiano (MG)
11. Definida a pergunta, peça-chave para lançar o
quebra-cabeça,pôde-seiniciarasegundafasedo
processo de cocriação, em que se busca a gera-
ção de ideias. Ela ocorreu tanto por meio virtual,
via participação no site, como presencialmente,
através dos workshops de Ideação.
Ao longo desse processo, foram realizados três
workshops (Secretaria Municipal de Saúde de
Vespasiano, ONG Casa da Mãe em Nova Lima e no
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Plug Minas, em Belo Horizonte). Os workshops
foram importantes para a divulgação do desafio,
mobilizando o público para a geração de ideias no
site e também na rede de atores para o Evento de
Ideação, oportunidade principal para se consoli-
dar as ideias que poderão ser levadas à fase de
testes. Graças à participação da comunidade, o
quebra-cabeça sobre “Como Promover o Bem-es-
tar da Adolescente durante a Gravidez?” contou
com 99 ideias.
As ideias dadas abrangiam uma série de aspectos
na vida da gestante adolescente e era necessário
decidir o que testar. Optamos por consolidar as
ideias válidas (que respeitavam os critérios
pré-estabelecidos no site) em algumas poucas
categorias para que, a partir daí, pudéssemos
priorizar as que fossem possíveis de serem testa-
das,dadasasnossasrestriçõesdetempoerecur-
sos.
Desafio Ideias Ações
Workshops de Ideação, 16/08; Plug Minas , BH/MG
12. Desafio Ideias Ações
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Para isso, após longas discussões, a equipe do
Movimento Minas, em conjunto com uma equipe
de design da Universidade do Estado de Minas
Gerais (UEMG), buscou convergir as 99 ideias
registradas no site mais os insumos colhidos no
Evento de Ideação em 20 categorias que, por sua
vez, foram agrupadas em seis temáticas:
• Criação de espaços de atendimento integrado;
• Utilização de ferramentas de gestão;
• Incentivos às adolescentes por meio de
transferência de recursos;
• Educação da gestante;
• Tratar a autoestima da adolescente;
• Promoção da saúde da adolescente.
Para os testes, decidiu-se focar em três subte-
mas: educação, autoestima e saúde. Não seria
possível testar a transferência de recursos e não
havia tempo para criar e testar espaços de aten-
dimento ou ferramentas de gestão.
Ainda assim, de forma a procurar respeitar as
ideias dadas, mas considerando o que seria
passível de testes, optamos em provar a hipótese
dequeinformaçõesdequalidadesobreagravidez
são armas poderosas a favor do bem-estar da
adolescente gestante. A conclusão que se pôde
chegar é que existe um problema de abordagem
junto a esse público. É extremamente difícil não
apenas chegar até elas, mas também torná-las
conscientes quanto aos cuidados da gestação.
Uma abordagem adequada facilita a assimilação e
o compartilhamento de informação, promovendo,
dessa forma, o bem-estar da adolescente gestan-
te. Assim, seria preciso identificar qual é a melhor
abordagem para informar às gestantes adoles-
centes sobre os cuidados da gestação.
Tendo isso em mente, pode-se dar início ao dese-
nho do protótipo. Avaliar na prática qual a melhor
forma de criar essa ponte com a gestante. Para
isso, o Movimento Minas voltou a campo e buscou
informações com adolescentes grávidas e espe-
cialistas, através de visitas técnicas ao Centro de
Referência da Juventude, da Prefeitura Municipal
de Vespasiano (MG) e à ONG Manjedoura, em Belo
Horizonte (MG), buscando desvendar quais são
suas necessidades e desenhar as estratégias
para aplicar essa abordagem.
Dadas as ideias, a equipe do Movimento Minas
entrou na última etapa do processo de cocriação:
a fase de Ação, em que se procura desenvolver as
ideias coletadas, levando algumas delas a serem
testadasnaprática,nalógicadeumlaboratóriode
políticas públicas.
Compilação ideias postadas no site.
13. Desafio Ideias Ações
Indexação
Agregação das contribuições dadas no site e nos encontros. O número entre parêntesis representa a
quantidade de ideias dentre as 99 inseridas no site que se encaixam em cada categoria. É preciso destacar
que uma mesma ideia pode se encaixar em mais de uma categoria. A tabela com o detalhamento da compi-
lação das ideias está disponível no link: http://goo.gl/KA34x.
• Criação de espaços de atendimento
integrado (7)
• Espaços para orientação às famílias (8)
ESPAÇO (15)
• Atendimento / acolhimento / cursos /
tratamento diferenciado na escola (8)
• Ensino à distância (2)
EDUCAÇÃO (10)
• Ferramentas de gestão (2)
• Intersetorialidade / Multidisciplinaridade (5)
• Diálogo (4)
• Capacitação de profissionais de saúde para
lidar com adolescentes gestantes (7)
GESTÃO (18)
• Dar incentivo financeiro (3)
• Dar recursos para ter/manter o bebê (21)
• Suporte financeiro ao pai (2)
RECURSOS (26)
IDEIAS
99 CATEGORIAS
20 INDEXADORES
6
• Dar orientação quanto aos cuidados (6)
• Incentivo para o pré-natal (4)
SAÚDE (10)
• Fortalecer a auto-estima (9)
• Apoio psicológico (4)
• Dar atenção / acolhimento /
acompanhamento profissional para
aumentar a auto-estima (29)
• Conscientização das famílias (14)
• Apoio da família para a auto-estima (8)
• Conscientizar pais ausentes (2)
• Grupos de conversa entre mães
e gestantes (12)
AUTO-ESTIMA (78)
15. Desafio Ideias Ações
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Tia legal
Alguém um pouco mais velho e experiente, com
credibilidade, acessível, que usa linguagem leve
e agradável. É alguém relativamente próximo à
jovem; podem ser professoras, vizinhas, tutoras,
profissionais de saúde, familiares, etc. Não são
amigas, mas mantêm relação de respeito,
confiança e proximidade. Essa pessoa conversa
principalmente sobre saúde da gestante e do
bebê, mas também compartilha sua experiência
de vida e aconselha sobre a relação com a crian-
ça, com sua mãe e com o pai do bebê, sobre os
estudos e o futuro, dentre outros assuntos.
Irmã mais velha
Alguém jovem, próximo à adolescente, que já
passou pela experiência da gravidez. Mantém
relação de amizade, de confiança, com troca de
confidências. Podem conversar sobre saúde da
gestante e do bebê, mas, principalmente, sobre
sua experiência de vida, sobre a relação com o
bebê,comsuamãeecomopaidobebê,sobreos
estudos e o futuro, dentre outros assuntos.
O tema da gravidez na adolescência é extremamente complexo e multifacetado. No entanto, à medida que se
busca mapear os contextos e as experiências pessoais dos envolvidos, tem-se um panorama mais claro, que
ajuda a identificar as oportunidades de solução de problemas. Com os testes, nos propusemos a provar que
uma abordagem adequada faz com que a informação não só chegue, mas que seja internalizada pela jovem.
Por isso foi definido que, apesar de envolver uma série de aspectos (tipo de conteúdo, ferramenta, contexto,
local, etc.), iríamos testar somente um deles: o arquétipo necessário para comunicar-se com a adolescente.
Os arquétipos funcionariam, aqui, como interlocutores, facilitadores na comunicação de informações impor-
tantes para essas jovens. Nesse caso, tanto especialistas quanto as próprias adolescentes relatam a prefe-
rência por uma figura próxima, de confiança, que inspire credibilidade. Por isso, foram criados dois “arquéti-
pos”, dois personagens que podem funcionar como possíveis interlocutores para essas jovens:
Aplicação dos testes de Abordagem, 05/12, Centro de Referência da Juventude, da Prefeitura Municipal de Vespasiano (MG)
16. Desafio Ideias Ações
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Apesar de não ser o foco dos testes, foi necessário definir, além dos arquétipos, a ferramenta (vídeo), o local
(posto de saúde) e o conteúdo (histórias reais ou fictícias) para a sua realização. Eles ocorreram no Centro
de Referência da Juventude, da Prefeitura Municipal de Vespasiano (MG), aonde realizamos uma série de
entrevistas em grupo com as gestantes e profissionais do local. Ali, pudemos exibir três vídeos com diferen-
tes abordagens: um abordando o arquétipo da “tia legal”, outro com a “irmã mais velha” e um terceiro, um
trecho de documentário com uma linguagem técnica, científica, uma abordagem diametralmente oposta aos
dois outros vídeos.
Os vídeos foram mostrados sempre em dupla: um dos arquétipos primeiro, e, logo após, o documentário. As
adolescentes que os assistiram eram pacientes do Centro de Referência do Adolescente e aguardavam ou
haviam acabado de realizar suas consultas médicas. Elas eram levadas para uma sala, em grupos de no
máximo cinco pessoas, onde o vídeo era mostrado em um laptop ou em um tablet. Após as exibições, a
equipe do projeto conversava com elas, recolhendo impressões.
Aplicação dos testes de Abordagem, 21/11, Centro de Referência da Juventude, da Prefeitura Municipal de Vespasiano (MG)
18. Outras contribuições que o Movimento Minas pode deixar para futuros projetos colaborativos são reflexões
sobre o que funcionou e o que poderia ser melhorado. Por isso, levantamos alguns pontos que merecem
destaque. No que diz respeito à assimilação da mensagem, percebemos ao longo dos testes que as adoles-
centes gestantes não apenas compreendiam a mensagem passada, mas também se sentiam estimuladas a
interagir umas com as outras. Ou seja, elas emitiam opiniões, remetiam à casos que já haviam vivenciado ou
que conheciam e conversavam a partir das histórias das duas personagens.
Desse modo, foi possível concluir que, para que a comunicação flua e seja mais facilmente compreendida, é
preciso que nossos personagens transmitam uma noção de confiança, de familiaridade. Na medida em que
as adolescentes grávidas se identificam com essas personagens, ou mesmo enxerguem nelas pessoas do
convívio familiar, da comunidade ou da escola, elas se sentem mais confiantes para dividir suas histórias
pessoais, seguras de que suas demandas e dúvidas estarão seguras com pessoas que, assim como elas,
passaram por experiências semelhantes.
É importante ressaltar que, ao aplicarmos os testes, não avaliamos seu conteúdo. O que quisemos foi avaliar
a capacidade de envolvimento e identificação pelo espectador dos personagens principais, a ver, os arquéti-
posda“tialegal”eda“irmãmaisvelha”.Certamente,diferençasnoconteúdodosvídeospodemafetaroresul-
tado do trabalho. Da mesma forma, se as adolescentes estivessem em outro local (escola, em casa, etc.),
suas reações poderiam ter sido diferentes. Assim, para que a realização deste protótipo fosse possível, foi
necessário restringir o seu escopo de atuação.
Isso acontece comigo hoje. Antes de engravidar dele (o namo-
rado), eu achava que a minha mãe não tinha aquele amor que ela
falava que tinha. E hoje eu tenho o meu filho e hoje eu sei qual o
amorqueelasentiapormim.(…)Setodasasmãesdessemoamor
que eu e o pai dele damos, todas as mulheres poderiam engravi-
dar. Todas. (…) Hoje eu entendo o amor que ela falou no vídeo, o
amor de uma mãe por um filho. Uma coisa que eu não sabia.
Leia abaixo alguns depoimentos das adolescentes expostas ao vídeo da “Tia legal”
Umexemplodevida,né?Vocêviucomoelafalados
filhos? Ela coloca os filhos como se fossem a única
coisa da vida dela.
Parece a minha tia. Ela procura, pergunta se comeu
direito, se tô indo ao médico.
Se eu não tivesse meu filho, nem ligaria. Acho que
se fosse alguém que nem ela, que a gente nem conhe-
ce, talvez... A mãe não é muito de falar o que ela disse.
Dizer ‘eu te amo’ é mais pra dar bronca. Hoje eu faço
isso com meu filho. E é o que a gente quer ouvir.
19. Portanto, tanto a “Tia Legal” quanto a “irmã mais velha” obtiveram o resultado esperado: validar a abordagem.
Asjovensdiscutiram,opinarameremeteramàcasosquejáhaviamvivenciadoouqueconheciamapartirdas
histórias das personagens. Assim, podemos afirmar que a abordagem, enquanto objeto a ser testado, foi um
acerto: conseguimos captar as percepções das jovens antes de seguir com qualquer iniciativa. Elas não
apenas apreenderam o teor das mensagens como demonstraram confiança nos arquétipos. Neste contexto,
elas puderam dividir suas próprias histórias ao se identificar com as personagens.
Ao compreender os problemas, tivemos que restringir o escopo nas três fases. Na fase “Desafios”, definimos
afaltadebemestardajovemduranteagravidez.Nafase“Ideias”,tomamoscomopressupostoqueainforma-
çãotrazbemestarparaajovem.Nafasede“Ações”,executamosumprotótipoparacalibrarnossashipóteses
com percepções do público-alvo. Estes passos foram dados pela primeira vez pela equipe do projeto e pelo
Governo de Minas, o que nos trouxe vários percalços, mas serviu para ajustarmos a metodologia do projeto.
Apesar de ter terminado com menos abrangência do que prevíamos, o tema “Gravidez na Adolescência” não
foi em vão. Ele trouxe importantes aprendizados para o Movimento Minas e outras iniciativas públicas que
envolvaminovaçãoabertaeparticipaçãosocial.Suaconclusãonãotrouxenecessariamentesoluçõesjamais
pensadas,masaformacomofoiconstruídatrazalgunselementosqueconsideramosdignosdeexperimenta-
ção. Nesse âmbito, mostrou-se promissora, apesar de desafiadora, a ideia de ter cidadãos engajados continu-
amente durante etapas diferentes de uma política pública.
Contudo, ainda resta um campo vasto a explorar. Com os testes, ficou claro que o formato de entrevista em
grupo em uma abordagem conversacional mais direta foi um determinante para o engajamento das jovens.
Issonospermitedarumpassoalém,jáqueváriasdasideiaspropostasnositeremetemaoacompanhamento
das jovens para aumentar sua autoestima, além da criação de grupos de conversas[1]. Um desdobramento
possível seria aproveitar os arquétipos para o aprimoramento de iniciativas que já existam.
[1] Ver tabela com a compilação das ideias geradas.
Para mim, enquanto gerente da unidade
aqui, achei que foi fantástico. Inclusive,
vou mais adiante e até colocar em práti-
ca na unidade esses encontros. O vídeo
sobre a nutrição e a fala sobre o amor,
vídeos que a gente teve aqui, que
fossem repetidos. É uma coisa de curto
tempo, mas que você pode atingir com
mais poder. A abordagem desse vídeo
toca muito mais.
O tema “Gravidez na Adolescência” é altamente complexo,
cercado de moralismos, juízos de valor, aspectos culturais e
preconceitos. Por envolver uma série de aspectos polêmicos
(ex: sexualidade, aborto, direitos da mulher, políticas de juven-
tude, etc.), houve dificuldade em conduzir as discussões e foi
necessário, em diversos pontos do processo, estabelecer
premissas, reestabelecer o problema e focar as discussões.
Por exemplo, a declaração de que a gravidez na adolescência
em si não era necessariamente um problema fez com que
redirecionássemos a condução do processo.
20. Equipe do projeto:
André Barrence, Adriana Veloso, Caio Werneck, Carla Eustáquio,
Cícero Marra, Paulo Emediato, Ricardo Kadouaki
Arte e Diagramação:
Armando Antonnioni
Revisão:
Marcelo Sander
Contato:
movimentominas@gmail.com
Apoiadores:
Escola de Design da UEMG, Plug Minas, Biblioteca Pública Estadual Luiz de
Bessa, Centro de Referência da Juventude da Prefeitura Municipal de
Vespasiano, ONG Casa da Mãe (Nova Lima), ONG Manjedoura (BH)
facebook.com
/MovimentoMinas @movimentominas
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