1) O documento descreve um estudo sobre a identificação de espécies de leveduras de interesse enológico através de perfis isoenzimáticos e sequenciamento genético.
2) Foram analisadas 32 estirpes de 19 espécies de leveduras encontradas em diferentes ambientes vínicos.
3) Os resultados demonstraram que a análise isoenzimática e sequenciamento do rDNA permitiram diferenciar as espécies estudadas.
Contributo à Diferenciação de Leveduras de Interesse Enológico por Perfis Isoenzimáticos
1. Contributo à diferenciação de
leveduras de interesse
enológico por perfis
isoenzimáticos
Nuno Pedro Herculano Pimentel
2. Objectivos do trabalho
Focou-se a aplicabilidade da análise isoenzimática na identificação de
espécies de levedura relevantes ao processo de vinificação. Para tal:
• Visou-se dar continuidade a estudos anteriores, complementando a
base de dados de perfis isoenzimáticos de leveduras existente na EVN.
3. Estirpes em estudo
Efectuou-se uma pesquisa bibliográfica de espécies de leveduras
encontradas em ambientes vínicos, e assim:
• Fez-se a selecção de espécies de leveduras relevantes ao processo de vinificação,
não presentes na base de perfis isoenzimáticos de leveduras da EVN.
Os diversos ambientes vínicos presentes nas diferentes
etapas de fabrico do vinho podem ser (Sponholz, 1993):
Vinha
Adega:
processos pré-fermentativos
fermentação alcoólica
processos pós-fermentativos
4. Vinha
•Dispersão entomófila
Em microbiotas associados com abelhas (género
Apis) foram identificadas as espécies de
leveduras:
– géneros Metschnikowia e Wickerhamiella;
– Wickerhamiella domercqiae.
•Uvas
Em microbiotas associados com uvas foram identificadas as espécies de
leveduras:
– Candida pulcherrima (Metschnikowia pulcherrima);
– Hanseniaspora uvarum / Kloeckera apiculata;
– Hanseniaspora osmophila;
– Kloeckera apis (Hanseniaspora guilliermondii);
– Saccharomyces veronae (Pichia mexicana);
– Lodderomyces elongisporus.
•Uvas infectadas por Botrytis cinerea
Especialmente em más condições de vindimas, vindimas
com pluviosidade.
– Torulopsis bacillaris (Candida stellata);
– Candida vini (Pichia fluxuum);
– Pichia carsonii.
5. Adega • Fase pré-fermentativa
As espécies Metschnikowia pulcherrima e Kloeckera apiculata (anamorfo de
Hanseniaspora uvarum) tratam-se das espécies mais encontradas no microbiota
proveniente das uvas, nas fases pré-fermentativas e de início de fermentação
(Rosini et al.,1982).
– Candida pulcherrima (Metschnikowia pulcherrima);
– Hanseniaspora uvarum / Kloeckera apiculata;
– Kluyveromyces thermotolerans;
– Torulopsis bacillaris (Candida stellata);
– Candida vini (Pichia fluxuum).
• Fase fermentativa
– Torulopsis bacillaris (Candida stellata) - no início / durante a primeira fase
fermentativa);
– C. mycoderma (Pichia fluxuum);
– C. pulcherrima (Metschnikowia pulcherrima);
– Debaryomyces hansenii;
– Hanseniaspora uvarum / Kloeckera apiculata;
– Kloeckera apis (Hanseniaspora guilliermondii);
– Kluyveromyces thermotolerans;
– Lodderomyces elongisporus;
– Saccharomyces veronae (Pichia mexicana);
– S. exiguus;
– Saccharomycodes ludwigii.
6. Adega
• Fase pós-fermentativa
Em vinhos armazenados foram detectadas as espécies:
– géneros Dekkera / Brettanomyces;
• Kloeckera apiculata (anamorfo de Hanseniaspora uvarum);
• Torulopsis bacillaris / Torulopsis stellata (Candida stellata);
• Torulopsis domercqii (Wickerhamiella domercqiae);
• Candida mycoderma (Pichia fluxuum);
• Saccharomycodes ludwigii.
Em vinificações especiais como é o caso do vinho Xerez, foi
identificada a espécie:
– Saccharomyces exiguus.
Em linhas de engarrafamento ou em vinhos
engarrafados foram isoladas as espécies:
― Torulopsis stellata (Candida stellata);
― Candida pulcherrima (Metschnikowia pulcherrima);
― Candida mycoderma / C. vini (Pichia fluxuum);
― Lodderomyces elongisporus;
― Saccharomyces baillii var. baillii
(Zygosaccharomyces baillii ).
7. Métodos de identificação de leveduras
Análise de perfis electroforéticos:
Proteína total
Isoenzimas
Em leveduras a análise isoenzimática tem sido aplicada:
Em estudos taxonómicos:
• na delimitação de espécies
• na descrição formal da espécie
• no esclarecimento de relações anamorfo/ teleomorfo
No estudo de populações
Em estudos epidemiológicos
Sequenciação da região D1/D2 do rDNA 26S
Em leveduras a sequenciação do rDNA 26S (D1/D2) tem sido usada:
No estudo dos relacionamentos filogenéticos entre as espécies de leveduras;
Na identificação de leveduras ao nível da espécie;
9. Material e métodos
Análise isoenzimática
Crescimento das Rebentamento Electroforese
Extracto proteíco
células das células (PAGE-nativa)
Solução de revelação de actividade enzimática
(EST, LDH, ADH, ACP e G6PD)
(37ºC, ao abrigo da luz)
•Mobilidade electroforética relativa (Rm)
Nota
Rm = a / b
a b Foram efectuados duplicados
de crescimento em 10 %
a – distância da migração da banda de actividade das estirpes analisadas,
enzimática
que foram submetidos à
b – distância da migração do corante de referência análise isoenzimática
juntamente com as estirpes
em estudo.
10. Material e métodos
•Análise numérica dos resultados
Matriz dos resultados Matriz de semelhanças - coeficiente de DICE
Rm EVN EVN EVN EVN EVN
…
Estirpes E0.21E0.28E0.32E0.40E0.42E0.48 … 365 366 367 368 369 …
EVN 365 0 0 0 0 0 1 … EVN 365 Sii Sij Sik … …
EVN 366 0 0 0 0 1 0 … EVN 366 Sji Sjj Sjk …
EVN 367 0 0 0 0 0 0 … EVN 367 Ski Skj Skk …
EVN 368 0 0 0 0 0 0 … EVN 368 … … … …
EVN 369 0 0 0 0 0 0 … EVN 369 …
..
EVN 370
. 0 0 0 0 0 1 … .
.
. … … … … … …
Dendrograma
Método de aglomeração com
médias não-ponderadas (UPGMA)
11. Material e métodos
• Sequenciação da região D1/D2 do rDNA 26S
ITS5 NL1 NL4 LR6
5S NTS2 ETS 17 – 18 S ITS1 5.8S ITS2 25 – 28 S NTS1 5S
D1 / D2
Esquema dos genes do rRNA com indicação da localização dos primers utilizados e da região sequenciada.
Reacção de
Extracção do Amplificação DNA por PCR Purificação do sequenciação,
DNA primers ITS5 e LR6 produto PCR primers:
• NL1 • NL4
Observação Observação Observação do prod.
do DNA do prod. PCR PCR purificado
extraído Sequenciação no
sequenciador
automático CEQ 8000
15. Resultados obtidos
Sequenciação da região D1/D2 do rDNA 26S
EVN 366 EVN 365T EVN 367 EVN 387T
1,1 % dissemelhança 9,0 % dissemelhança
EJ1 – Candida
EVN 367 EJ1 10-372
10-372 – Candida cf.
stellata
0,0 % dissemelhança
EVN 373 EVN 372T EVN 385 EVN 384T
0,2 % dissemelhança 0,4 % dissemelhança
A variabilidade intraespecífica ≤ 1% de substituições nucleotídicas (Kurtzman e Robnett, 1998)
16. 260
253
255
r = 0.88 É necessário efectuar uma comparação
256
251
167
262
166
267
de mobilidades electroforéticas (Rm)
237
263
258
261
264
similares no mesmo gel.
257
265
266
268
254
252NT
259
216
230
I 382
383
381NT
329T
222
284T
285
Agrupamento I
299
302
292
293
298
301
290
291
303
287
269
271T
270
272
273
274
276
277
275NT
278
235
355
242T
243
Agrupamento II
244
245
248
246
247
249
390
279NT
280
281
283
282
II 370NT
371
III 378T
Agrupamento III
380
379
212
223
217
219
213
215
218
224
229
227
220
221
225
228
226T
312NT
310
311
340
341
342
Agrupamento IV
384T
• Saccharomycodes ludwigii
392T
391T
345
346NT
231T
368T
373
387T
354T
IV 348
349
395T
V 339
Agrupamento V
394T
• Hanseniaspora uvarum
393
367NT
305
308
307
388T
168
VI 350
351
396T
294
288
289
300
Agrupamento VI
295
• Schizosaccharomyces pombe
336
337
338T
326NT
327
372T
374
232
234
233
241NT
238
239
333T
334
335
330T
331
332
Agrupamento VII
385
236
VII 375T
376
377
343
344
VIII 386T
389T
296
369T
304
306
297
Agrupamento VIII • Lodderomyces elongisporus
286
309
365T
366
325
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00
Índice de semelhança
17. Conclusões
A análise dos perfis isoenzimáticos obtidos na generalidade conseguiu efectuar a distinção das
19 espécies de leveduras em estudo.
• Verificou-se que 4 das 32 estirpes analisadas, não agruparam com as estirpes tipo da sua espécie
Com os resultados da sequenciação do rDNA 26 S (D1/D2), verificou-se que:
• Para 2 das 4 estirpes analisadas a sequenciação do rDNA confirmou uma incorrecta identificação na
espécie (EVN 366- Candida cantarellii e 367- C. stellata);
• Para as restantes 2 estirpes confirmou a sua classificação (EVN 373 - Kluyveromyces thermotolerans
e 385 - Wickerhamiella domercqiae). Assim:
É necessário o estudo de sistemas enzimáticos adicionais para permitir a identificação e
discriminação das espécies Kluyveromyces thermotolerans e Wickerhamiella domercqiae).
A inclusão dos resultados obtidos, na análise isoenzimática, na BD de perfis isoenzimáticos
de leveduras existente na EVN, permitiu a diferenciação da generalidade das 50 espécies de
leveduras associadas com a indústria de vinificação.
• Para algumas espécies é necessário focar outros sistemas enzimáticos adicionais para permitir a sua
diferenciação mediante a análise electroforética.
18. Referências bibliográficas
Barnett, J., A.; M., A., Delaney; E., Jones; A., B., Magson; B., Winch.1972. The number of yeasts associated with wine grapes of Bordeaux. Arch. Microbiol., 83,
52-55.
Bréchot, P.; J., Chauvet; H., Girard.1962. Identification des levures d'un moût de Beaujolais au cours de sa fermentation. Ann. Technol. Agric., 11, 235-244.
Castelli, T.; S. Georgantas.1970. Gli agenti della fermentazione vinaria nel nord della Grecia. Vini d'Italia,12, 185-191.
Davenport, R., R.1974. Microecology of yeasts and yeast-like organisms associated with an English vineyard. Vitis, 13, 123-130.
Duarte, F., L.2000. Perfis electroforéticos de isoenzimas na diferenciação de leveduras de interesse enológico. Tese Doutoramento, Universidade do Minho,
Braga.
Fleet, G., H.; S., Lafon-Lafourcade; P., Ribéreau-Gayon.1984. Evolution of yeasts and lactic acid bacteria during fermentation and storage of Bourdeaux wines.
Appl. Environ. Microbiol., 48, 1034-1038.
Gandini, A.1969. Microbiological investigations of Moscato d'Asti. Infection occurring during bottling and the effect of using an iodine-containing compound. Vini
d'Italia, 11, 455-527 (abstract).
Goto, S.; H., Oguri; M., Yamazaki.1984. Yeast population in botrytized grapes. J. Inst. Enol. Vitic. Yamanashi Univ., 19, 1-5 (abstract).
Hidalgo, P.; M., Flores.1994. Occurrence of the killer character in yeasts associated with Spanish wine production. Food Microbiol., 11, 161-167 (abstract).
Kurtzman, C., P.; C., J., Robnett.1998. Identification and phylogeny of ascomycetous yeasts from analysis of nuclear large subunit (26S) ribosomal DNA partial
sequences. Antonie van Leeuwenhoek, 73, 331-371.
Kyselakova, M.1994. Observation of yeast occurrence in wine cellars. Acta Universitatis Agriculturae Facultas Horticulture, Bro., 9, 11-15 (abstract).
Kyselakova, M.1995. Investigation no the occurrence of Candida sp. in cellars and cellar equipment. Vinohrad, Bratislava., 33, 13-14 (abstract).
Lachance, M., A.; W., T., Starmer; C., A., Rosa; J., M., Bowles; J., Stuart; F., Barker; D., H., Janzen.2001.Biogeography of the yeasts of ephemeral flowers and
their insects. FEMS Yeast Res. I, 1-8.
Longo, E.; J., Cansado; D., Agrelo; T.,G., Villa.1991. Effect of climatic conditions on yeast diversity in grape musts from northwest Spain. Am. J. Enol. Vitic., 42,
141-144.
Malfeito-Ferreira, M.1996. Perfis de ácidos gordos e toxicidade de ácidos fracos em leveduras de contaminação de alimentos. Tese Doutoramento, Instituto
Superior de Agronomia, U.T.L., Lisboa.
Maiquez, E., G.1995. Los microorganismos del Jerez. Microbiología Sem., 11, 51-58.
Minarik, E.1971. Etude de la flore levurienne des régions viticoles périphériques en Tchécoslovaquie. Conn. Vigne Vin., 5, 185-197.
Minarik, E.1982. Levures de contamination des vins embouteillés. Bulletin OIV, 628, 414-419.
Nadal, D.; B., Colomer; B., Piña.1996. Molecular polymorphism distribution in phenotypically distinct populations of wine yeast strains. Appl. Environ. Microbiol.,
62, 1944-1950.
Pardo, I.; M., J., García; M., Zúñiga; F., Urubu.1989. Dynamics of microbial populations during fermentation of wines from Utiel-Requena region of Spain. Appl.
Environ. Microbiol., 55, 539-541.
Parish, A., E.; D., E., Carrol.1985. Indigenous yeasts associated with muscadine (Vitis rotundifolia) grapes and musts. Am. J. Enol. Vitic., 36, 165-169.
Peynaud, E.; S., Domerq.1959. A review of microbiological problems in wine-making in France. Am. J. Enol. Vitic., 10, 69-77.
Rosini, G.; F., Federici; A., Martini.1982. Yeast flora of grape berries during ripening. Microb. Ecol., 8, 3-89.
Sneath, P., H., A.; R., R., Sokal.1973. Numerical taxonomy, the principles and practice of numerical classification. W. W. Freeman and Company, São Francisco.
Stollarova, V.1992. Populations of yeasts on grapes, Vitis vinifera L., in the vinicity of the nuclear power station at Mochovce. Biologia Bratislava., 47, 697-701
(abstract).
Sponholz, W., R.1993. Wine spoilage by microorganisms, In: Wine microbiology and biotechnology, (G., H., Fleet ed.), 395-420. Harwood academic publishers,
Chur.
Van der Walt e van Kerken (1958; cit. in Duarte, 2000)
Van Zyl e Du Plessis (1961; cit. in Davenport, 1974).