3. Importância da Analepse: A intriga secundária, presente na grande analepse, permite enquadrar e explicar grande parte dos acontecimentos e comportamentos que terão lugar na intriga principal (a separação de dos dois irmãos, a educação dada a Carlos, o peso da hereditariedade, o sentimentalismo exagerado das personagens).
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8. Pags. 73/74 De repente, porém, de um salto, precipitou-se sobre o Eusebiozinho. Queria-o levar à África, a combater os selvagens; e puxava-o já pelo seu belo plaid de cavaleiro da Escócia , quando a mamã acudiu aterrada: — Não, com o Eusebiozinho não, filho! Não tem saúde para essas cavaladas... Carlinhos, olhe que eu chamo o avô! Mas o Eusebiozinho, a um repelão mais forte, rolara no chão, soltando gritos medonhos. Foi um alvoroço, um levantamento. A mãe, trémula, agachada junto dele, punha-o de pé sobre as perninhas moles, limpando-lhe as grossas lágrimas, já com o lenço, já com beijos, quase a chorar também. O delegado, consternado, apanhara o boné escocês, e cofiava melancolicamente a bela pena de galo. E a viscondessa apertava às mãos ambas o enorme seio, como se as palpitações a sufocassem. O Eusebiozinho foi então preciosamente colocado ao lado da titi; e a severa senhora, com um fulgor de cólera na face magra, apertando o leque fechado como uma arma, preparava-se a repelir o Carlinhos, que, de mãos atrás das costas e aos pulos em roda do canapé, ria, arreganhando para o Eusebiozinho um lábio feroz. Mas nesse momento davam nove horas, e a desempenada figura do Brown apareceu à porta. Apenas o avistou, Carlos correu a refugiar-se por detrás da viscondessa, gritando: — Ainda é muito cedo, Brown, hoje é festa, não me vou deitar! Então Afonso da Maia, que se não movera aos uivos lancinantes do Silveirinha, disse de dentro, da mesa do voltarete, com severidade: — Carlos, tenha a bondade de marchar já para a cama. — Ó vovô, é festa, que está cá o Vilaça! Afonso da Maia pousou as cartas, atravessou a sala sem uma palavra, agarrou o rapaz pelo braço, e arrastou-o pelo corredor — enquanto ele, de calcanhares fincados no soalho, resistia, protestando com desespero: — É festa, vovô... É uma maldade!... O Vilaça pode-se escandalizar... Ó vovô, eu não tenho sono! Uma porta fechando-se abafou-lhe o clamor. - super-proteccionismo - ser abúlico, passivo, inexpressivo - método, rigor, hábitos saudáveis, disciplina
13. Pag. 99 Carlos mobilou-o com luxo. Numa antecâmara, guarnecida de banquetas de marroquim, devia estacionar, à francesa, um criado de libré. A sala de espera dos doentes alegrava com o seu papel verde de ramagens prateadas, a plantas em vasos de Ruão, quadros de muita cor, e ricas poltronas cercando a jardineira coberta de colecções do Charivari, de vistas estereoscópicas, de álbuns de actrizes seminuas, para tirar inteiramente o ar triste de consultório, até um piano mostrava o seu teclado branco. O gabinete de Carlos ao lado era mais simples, quase austero, todo em veludo verde-negro, com estantes de pau-preto. Alguns amigos que começavam a cercar Carlos, Taveira, seu contemporâneo e agora vizinho do Ramalhete, o Cruges, o marquês de Souselas, com quem percorrera a Itália — vieram ver estas maravilhas. O Cruges correu uma escala no piano e achou-o abominável; Taveira absorveu-se nas fotografias de actrizes; e a única aprovação franca veio do marquês, que depois de contemplar o divã do gabinete, verdadeiro móvel de serralho, vasto, voluptuoso, fofo, experimentou-lhe a doçura das molas e disse, piscando o olho a Carlos: — A calhar. Não pareciam acreditar nestes preparativos. E todavia eram sinceros. Carlos até fizera anunciar o consultório nos jornais; quando viu, porém, o seu nome em letras grossas, entre o de uma engomadeira à Boa Hora e um reclamo de casa de hóspedes — encarregou Vilaça de retirar o anúncio. O luxo do consultório era mais propício ao ócio, às actividades lúdicas do que ao trabalho. Maior preocupação com a aparência do que com a verdadeira finalidade.
14. Pags. 102/103 O seu gabinete, no consultório, dormia numa paz tépida entre os espessos veludos escuros, na penumbra que faziam os estores de seda verde corridos. Na sala, porém, as três janelas abertas bebiam à farta a luz; tudo ali parecia festivo; as poltronas em torno da jardineira estendiam os seus braços, amáveis e convidativos; o teclado branco do piano ria e esperava, tendo abertas por cima as Canções de Gounod; mas não aparecia jamais um doente. E Carlos — exactamente como o criado que, na ociosidade da antecâmara, dormitava sob o Diário de Notícias, acaçapado na banqueta — acendia um cigarro «Laferme», tomava uma revista, e estendia-se no divã. A prosa, porém, dos artigos estava como embebida do tédio moroso do gabinete: bem depressa bocejava, deixava cair o volume. Do Rossio, o ruído das carroças, os gritos errantes de pregões, o rolar dos americanos, subiam, numa vibração mais clara, por aquele ar fino de Novembro: uma luz macia, escorregando docemente do azul-ferrete, vinha dourar as fachadas enxovalhadas, as copas mesquinhas das árvores do município, a gente vadiando pelos bancos: e essa sussurração lenta de cidade preguiçosa, esse ar aveludado de clima rico, pareciam ir penetrando pouco a pouco naquele abafado gabinete e resvalando pelos veludos pesados, pelo verniz dos móveis, envolver Carlos numa indolência e numa dormência... Com a cabeça na almofada, fumando, ali ficava, nessa quietação de sesta, num cismar que se ia desprendendo, vago e ténue, como o ténue e leve fumo que se eleva de uma braseira meio apagada; até que, com um esforço, sacudia este torpor, passeava na sala, abria aqui e além pelas estantes um livro, tocava no piano dois compassos de valsa, espreguiçava-se — e, com os olhos nas flores do tapete, terminava por decidir que aquelas duas horas de consultório eram estúpidas! — Está aí o carro? — ia perguntar ao criado. Acendia bem depressa outro charuto, calçava as luvas, descia, bebia um largo sorvo de luz e ar, tomava as guias e largava, murmurando consigo: — Dia perdido! O ócio, a indolência A influência do meio: o meio circundante ocioso e estagnado, pouco dinâmico, o clima ameno e agradável acabavam por influenciar Carlos Pouca persistência e dedicação
18. Pag. 713 Então Ega perguntou, do fundo do sofá onde se enterrara, se, nesses últimos anos, ele não tivera a ideia, o vago desejo de voltar para Portugal... Carlos considerou Ega com espanto. Para quê? Para arrastar os passos tristes desde o Grémio até à Casa Havanesa? Não! Paris era o único lugar da Terra congénere com o tipo definitivo em que ele se fixara: «o homem rico que vive bem». Passeio a cavalo no Bois; almoço no Bignon; uma volta pelo boulevard; uma hora no clube com os jornais, um bocado de florete na sala de armas; à noite a ComédieFrançaise ou uma soirée; Trouville no Verão, alguns tiros às lebres no Inverno; e através do ano as mulheres, as corridas, certo interesse pela ciência, o bricabraque, e uma pouca de blague. Nada mais inofensivo, mais nulo, e mais agradável. — E aqui tens tu uma existência de homem! Em dez anos não me tem sucedido nada, a não ser quando se me quebrou o faetonte na estrada da Saint-Cloud... Vim no Figaro. Carlos enquanto ser absolutamente ocioso, parasita dos rendimentos da família, um perfeito diletante, em nada útil à sociedade. O anti-herói Ega ergueu-se, atirou um gesto desolado: — Falhámos a vida, menino! — Creio que sim... Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação. Diz-se: «Vou ser assim, porque a beleza está em ser assim.» E nunca se é assim, é-se invariavelmente assado, como dizia o pobre marquês. Às vezes melhor, mas sempre diferente. Ega concordou, com um suspiro mudo, começando a calçar as luvas. O desencanto de uma existência perfeitamente falhada (Anagnórise existencial). Porque falhou Carlos?
19. Porque falhou Carlos? Hereditariedade Fracasso existencial Meio Educação Determinismo, de Taine Característica naturalista da obra
20. Hereditariedade Geneticamente, Carlos recebeu dos seus antepassados a tendência para o diletantismo e para o sentimentalismo. São precisamente dois dos aspectos que mais o vão desviar dos seus ideais e projectos iniciais, acabando mesmo por os abandonar. O diletantismo levou-o para uma dispersão de actividades de carácter lúdico e boémio que em nada o aproximava da sua vida profissional. O sentimentalismo sobrepôs-se sempre a todo e qualquer projecto de natureza profissional.
21. Meio O meio em que se enquadrou Carlos foi uma Lisboa da segunda metade do séc. XIX. A capital representava todo o país e pode-se concluir que se caracterizava pela ociosidade, ignorância, apatia e decadência generalizada. Ora, se Carlos, inicialmente, pretendia alterar este meio pela qualidade dos seus projectos e prática profissional, rapidamente acabou por se conformar e deixar influenciar pelo marasmo típico e crónico que o cercava, entregando-se à inutilidade e ociosidade que caracterizavam a vida social, económica e cultural da época.
22. Educação A educação de Carlos valorizou apenas a vertente física. Consequentemente, a vertente espiritual ou ética foi descurada, na medida em que não lhe foram trans- mitidos os princípios e valores que lhe permitissem a estruturação de uma “cons- ciência”. Assim, Carlos evoluiu de idealista para parasita social sem nunca ter tomado uma atitude impeditiva de tal percurso pessoal. E tal deve-se ao facto de Carlos “conscientemente” não ter tido a percepção de que evoluía num sentido negativo, capaz de o destruir ou, pelo menos, de o reduzir a uma verdadeira nulidade social.
23. O Espaço Físico - O Ramalhete - o consultório de Carlos - A Toca - Sta. Olávia - Sintra - Lisboa - A Vila Balzac
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26. simbolicamente associado à decadência da família e do País(jardim = abandonado / viçoso/ abandonado) - a simbologia do girassol representa a atitude do amante ou da amante, que se vira continuamente para ver o ser amado, isto é, representa a perfeição platónica na presença contemplativa e unificante; girando sempre numa atitude de submissão e fidelidade para com o ser amado, o girassol associa-se à incapacidade de ultrapassar a paixão e a falta de receptividade do ser amado. Daí metaforicamente aparecer ligado à terceira e quarta geração da família. - pag. 710
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28. Lisboa - Pag., 170 (Lisboa é o espaço que espelha a globalidade do país) - Pag.,697 (Espaço caracterizado pela degradação moral, onde os portugueses exibem a sua ociosidade crónica. Lisboa é o símbolo da decadência nacional – estátua de Camões) Espaço ao serviço da crónica de costumes
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30. Espaço social São de realçar alguns episódios, onde a criação de ambientes específicos revela a preocupação do autor no sentido de evidenciar algumas das características mais flagrantes do povo português. Esses episódios (a par do recurso às personagens-tipo) constituem um dos vectores estruturais da obra. CRÓNICA DE COSTUMES (Descrição dos hábitos e costumes de uma população, de modo a melhor caracterizá-la)
31. O jantar no Hotel Central, p. 156 - 176 Neste jantar Ega pretende homenagear Cohen, o marido de Raquel, por quem Ega estava apaixonado e com quem mantinha uma relação. É neste momento que Carlos entra no meio social lisboeta, adoptando, no entanto, uma atitude distante que o caracterizará até final da acção. Neste episódio, interessa realçar a emissão de juízos das personagens que nos permitem compreender o panorama cultural do país. Destacam-se os seguintes: LITERATURA: Alencar defende o Ultra-Romantismo, Ega defende o Realismo e o Naturalismo (esta discussão revela uma sociedade dominada por valores tradicionais, a que se opõe uma nova geração, representada por Ega) – Pags.: ______________ b) POLÍTICA: Ega critica a decadência do país e afirma desejar a bancarrota e a invasão espanhola - Pags.: ______________ c) MANEIRA DE SER PORTUGUÊS: revelada através das acções/reflexões de várias personagens - Pags.: ______________
32. A corrida de cavalos, p. 312 - 341 Um dos episódios preferidos pelo próprio autor, este quadro é uma crítica à tendência dos portugueses para imitar aquilo que se fazia nos restantes países europeus e que se considerava como sinal de progresso, quando, afinal, muitas vezes, não nos identificávamos com aquilo que importávamos. Assim, o ambiente que deveria ser requintado, mas que também deveria apresen- tar a ligeireza desportiva para que remete o acontecimento, torna-se espelho da falta de gosto e de educação dos participantes (os portugueses): realidade vs aparência. a) Falta de coerência entre o traje e a ocasião - Pags.: ______________ b) A sensaboria, revelada pelo facto de as pessoas não revelarem qualquer interesse pelo evento - Pags.: ______________ c) A desordem e agressões físicas, nada adequadas ao evento – Pags.: ______________
33. Outros episódios importantes: - Jantar em casa dos Gouvarinho, p. 389 - Jornal “A Tarde”, p. 571 - Sarau do Teatro da Trindade, p. 586 ACTIVIDADE: Resolução das questões nº 3, 4, 5.1, 6.1, 6.1.1, 8, 9 (pag. 217)
34. O Narrador Tipo de narrador (presença): heterodiegético (De acordo com as características do Realismo/Naturalismo, pois permite uma análise social muito mais objectiva e eficaz, pelo distanciamento que caracteriza este tipo de narrador.) Marcas linguísticas: - formas verbais na terceira pessoa; - pronomes e determinantes na terceira pessoa; - discurso indirecto livre (nesta obra). - exemplo: p. 175
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38. 3. Diálogo Exemplo: pag. _________ - existe intercomunicação entre duas ou mais personagens; - caracteriza-se pela presença dos dois pontos e do travessão. 4. Monólogo Exemplo: pag. 624, 625 - a personagem fala consigo própria, expondo os seus pensamentos; - não há intercomunicação com qualquer outra personagem.