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Proposta de análise “Os Maias”,  de  Eça de Queirós
Importância da Analepse: A intriga secundária, presente na grande analepse, permite  enquadrar e explicar grande parte dos acontecimentos e  comportamentos que terão lugar na intriga principal (a  separação de dos dois irmãos, a educação dada a Carlos, o peso da hereditariedade, o sentimentalismo exagerado das  personagens).
- Fim da grande analepse. - Elipse. - Tempo histórico. ,[object Object], Carlos da Maia no meio lisboeta.
Pag. 63 O bom Vilaça, no entanto, dando estalinhos aos dedos, preparava uma observação. Não se podia decerto ter melhor prenda que montar a cavalo com as regras... Mas ele queria dizer se o Carlinhos já entrava com o seu Fedro, o seu Tito Liviozinho... — Vilaça, Vilaça — advertiu o abade, de garfo no ar e um sorriso de santa malícia — não se deve falar em latim aqui ao nosso nobre amigo... Não admite, acha que é antigo... Ele, antigo é... — Ora sirva-se desse fricassé, ande, abade — disse Afonso — que eu sei que é o seu fraco, e deixe lá o latim... O abade obedeceu com deleite; e escolhendo no molho rico os bons pedaços de ave, ia murmurando: — Deve-se começar pelo latinzinho, deve-se começar por lá... É a base; é a basezinha! — Não! latim mais tarde! — exclamou o Brown, com um gesto possante. Prrimeiroforrça! Forrça! Músculo... E repetiu, duas vezes, agitando os formidáveis punhos: — Prrimeiro músculo, músculo!... Afonso apoiava-o, gravemente. O Brown estava na verdade. O latim era um luxo de erudito... Nada mais absurdo que começar a ensinar a uma criança numa língua morta quem foi Fábio, rei dos Sabinos, o caso dos Gracos, e outros negócios de uma nação extinta, deixando-o ao mesmo tempo sem saber o que é a chuva que o molha, como se faz o pão que come, e todas as outras coisas do universo em que vive... — Mas enfim os clássicos — arriscou timidamente o abade. — Qual clássicos! O primeiro dever do homem é viver. E para isso é necessário ser são, e ser forte. Toda a educação sensata consiste nisto: criar a saúde, a força e os seus hábitos, desenvolver exclusivamente o animal, armá-lo de uma grande superioridade física. Tal qual como se não tivesse alma. A alma vem depois... A alma é outro luxo. É um luxo de gente grande... ,[object Object],(uso do diminutivo: traduz a ideia de pequenez, mesquinhice…) ,[object Object],o corpo deve ser desenvolvido, para que depois se desenvolva a mente: “Mente sã em corpo são” ,[object Object],a experiência, o contacto com a natureza (conhecimento empírico) ,[object Object],menosprezada
Pag. 72 Os noivos tinham chegado de uma pitoresca e perigosa viagem, e Carlos parecia descontente de sua mulher; comportara-se de uma maneira atroz; quando ele ia governando a mala-posta, ela quisera empoleirar-se ao pé dele na almofada... Ora senhoras não viajam na almofada. — E ele atirou-me ao chão, titi! — Não é verdade! Demais a mais é mentirosa! Foi como quando chegámos à estalagem... Ela quis-se deitar, e eu não quis... A gente, quando se apeia de viagem, a primeira coisa que faz é tratar do gado... E os cavalos vinham a escorrer... A voz de D. Ana interrompeu, muito severa: — Está bom, está bom, basta de tolices! Já cavalaram bastante. Senta-te aí ao pé da senhora viscondessa, Teresa... Olha essa travessa do cabelo... Que despropósito! Sempre destestara ver a sobrinha, uma menina delicada de dez anos, a brincar assim com o Carlinhos. Aquele belo e impetuoso rapaz, sem doutrina e sem propósito, aterrava-a; e pela sua imaginação de solteirona passavam sem cessar ideias, suspeitas de ultrajes que ele poderia fazer à menina. Em casa, ao agasalhá-la antes de vir para Santa Olávia, recomendava-lhe com força que não fosse com o Carlos para os recantos escuros, que o não deixasse mexer-lhe nos vestidos!... A menina, que tinha os olhos muito langorosos, dizia: «Sim, titi.» Mas, apenas na quinta, gostava de abraçar o seu maridinho. Se eram casados, porque não haviam de fazer nené, ou ter uma loja e ganharem a sua vida aos beijinhos? Mas o violento rapaz só queria guerras, quatro cadeiras lançadas a galope, viagens a terras de nomes bárbaros que o Brown lhe ensinava. Ela, despeitada, vendo o seu coração mal compreendido, chamava- lhe arrieiro; ele ameaçava boxá-la à inglesa; — e separavam-se sempre arrenegados. Mas quando ela se acomodou ao lado da viscondessa, gravezinha e com as mãos no regaço — Carlos veio logo estirar-se ao pé dela, meio deitado para as costas do canapé, bamboleando as pernas. — Vamos, filho, tem maneiras — rosnou-lhe muito seca D. Ana. - imaginação - visão crítica - energia - dinamismo ,[object Object],perversidade (D. Ana)
Pags. 73/74 De repente, porém, de um salto, precipitou-se sobre o Eusebiozinho. Queria-o levar à África, a combater os selvagens; e puxava-o já pelo seu belo plaid de cavaleiro da Escócia , quando a mamã acudiu aterrada: — Não, com o Eusebiozinho não, filho! Não tem saúde para essas cavaladas... Carlinhos, olhe que eu chamo o avô! Mas o Eusebiozinho, a um repelão mais forte, rolara no chão, soltando gritos medonhos. Foi um alvoroço, um levantamento. A mãe, trémula, agachada junto dele, punha-o de pé sobre as perninhas moles, limpando-lhe as grossas lágrimas, já com o lenço, já com beijos, quase a chorar também. O delegado, consternado, apanhara o boné escocês, e cofiava melancolicamente a bela pena de galo. E a viscondessa apertava às mãos ambas o enorme seio, como se as palpitações a sufocassem. O Eusebiozinho foi então preciosamente colocado ao lado da titi; e a severa senhora, com um fulgor de cólera na face magra, apertando o leque fechado como uma arma, preparava-se a repelir o Carlinhos, que, de mãos atrás das costas e aos pulos em roda do canapé, ria, arreganhando para o Eusebiozinho um lábio feroz. Mas nesse momento davam nove horas, e a desempenada figura do Brown apareceu à porta. Apenas o avistou, Carlos correu a refugiar-se por detrás da viscondessa, gritando: — Ainda é muito cedo, Brown, hoje é festa, não me vou deitar! Então Afonso da Maia, que se não movera aos uivos lancinantes do Silveirinha, disse de dentro, da mesa do voltarete, com severidade: — Carlos, tenha a bondade de marchar já para a cama. — Ó vovô, é festa, que está cá o Vilaça! Afonso da Maia pousou as cartas, atravessou a sala sem uma palavra, agarrou o rapaz pelo braço, e arrastou-o pelo corredor — enquanto ele, de calcanhares fincados no soalho, resistia, protestando com desespero: — É festa, vovô... É uma maldade!... O Vilaça pode-se escandalizar... Ó vovô, eu não tenho sono! Uma porta fechando-se abafou-lhe o clamor. - super-proteccionismo - ser abúlico, passivo, inexpressivo - método, rigor, hábitos saudáveis, disciplina
Pags. 75/76 - carácter passivo, sem energia — Ó filho, diz tu aqui ao Sr. Vilaça aqueles lindos versos que sabes... Não sejas atado, anda!... Vá, Eusébio, filho, sê bonito... Mas o menino, molengão e tristonho, não se descolava das saias da titi: teve ela de o pôr de pé, ampará-lo, para que o tenro prodígio não aluísse sobre as perninhas flácidas; e a mamã prometeu-lhe que, se dissesse os versinhos, dormia essa noite com ela... Isto decidiu-o: abriu a boca, e lassa veio de lá escorrendo, num fio de voz, um recitativo lento e babujado: É noite, o astro saudoso Rompe a custo um plúmbeo céu, Tolda-lhe o rosto formoso Alvacento, húmido véu... Disse-a toda — sem se mexer, com as mãozinhas pendentes, os olhos mortiços pregados na titi. A mamã fazia o compasso com a agulha do crochet; e a viscondessa, pouco a pouco, com um sorriso de quebranto, banhada no langor da melopeia, ia cerrando as pálpebras. — Muito bem, muito bem! — exclamou o Vilaça, impressionado, quando o Eusebiozinho findou coberto de suor. — Que memória! Que memória!... É um prodígio!... ,[object Object],protecção feminina - fragilidade física ,[object Object],(só reage a promessas doentias, inadequadas) - registo ultra-romântico - valorização da memorização
Pag. 97 — E agora? — perguntou-lhe o Sequeira, depois de um momento de silêncio em que Carlos estivera bebendo o seu conhaque e soda. — Agora que tencionas tu fazer? — Agora, general? — respondeu Carlos, sorrindo e pousando o copo. — Descansar primeiro e depois passar a ser uma glória nacional! Ao outro dia, com efeito, Afonso veio encontrá-lo na sala de bilhar — onde tinham sido colocados os caixotes — a despregar, a desempacotar, em mangas de camisa e assobiando com entusiasmo. Pelo chão, pelos sofás, alastrava-se toda uma literatura em rumas de volumes graves; e aqui e além, por entre a palha, através das lonas descosidas, a luz faiscava num cristal, ou reluziam os vernizes, os metais polidos dos aparelhos. Afonso pasmava em silêncio para aquele pomposo aparato do saber. — E onde vais tu acomodar este museu? Carlos pensara em arranjar um vasto laboratório ali perto no bairro, com fornos para trabalhos químicos, uma sala disposta para estudos anatómicos e fisiológicos, a sua biblioteca, os seus aparelhos, uma concentração metódica de todos os instrumentos de estudo... Os olhos do avô iluminavam-se ouvindo este plano grandioso. — E que não te prendam questões de dinheiro, Carlos! Nós fizemos nestes últimos anos de Santa Olávia algumas economias... — Boas e grandes palavras, avô! Repita-as ao Vilaça. As semanas foram passando nestes planos de instalação. Carlos trazia realmente resoluções sinceras de trabalho: a ciência como mera ornamentação interior do espírito, mais inútil para os outros que as próprias tapeçarias do seu quarto, parecia-lhe apenas um luxo de solitário: desejava ser útil. IDEALISMO DE CARLOS: ,[object Object]
 Vontade
 EntusiasmoApoio de Afonso (a educação havia  resultado)
Pag. 99 Carlos mobilou-o com luxo. Numa antecâmara, guarnecida de banquetas de marroquim, devia estacionar, à francesa, um criado de libré. A sala de espera dos doentes alegrava com o seu papel verde de ramagens prateadas, a plantas em vasos de Ruão, quadros de muita cor, e ricas poltronas cercando a jardineira coberta de colecções do Charivari, de vistas estereoscópicas, de álbuns de actrizes seminuas, para tirar inteiramente o ar triste de consultório, até um piano mostrava o seu teclado branco. O gabinete de Carlos ao lado era mais simples, quase austero, todo em veludo verde-negro, com estantes de pau-preto. Alguns amigos que começavam a cercar Carlos, Taveira, seu contemporâneo e agora vizinho do Ramalhete, o Cruges, o marquês de Souselas, com quem percorrera a Itália — vieram ver estas maravilhas. O Cruges correu uma escala no piano e achou-o abominável; Taveira absorveu-se nas fotografias de actrizes; e a única aprovação franca veio do marquês, que depois de contemplar o divã do gabinete, verdadeiro móvel de serralho, vasto, voluptuoso, fofo, experimentou-lhe a doçura das molas e disse, piscando o olho a Carlos: — A calhar. Não pareciam acreditar nestes preparativos. E todavia eram sinceros. Carlos até fizera anunciar o consultório nos jornais; quando viu, porém, o seu nome em letras grossas, entre o de uma engomadeira à Boa Hora e um reclamo de casa de hóspedes — encarregou Vilaça de retirar o anúncio. O luxo do consultório era mais propício ao ócio, às actividades lúdicas do que ao trabalho. Maior preocupação com a  aparência do que com a verdadeira finalidade.
Pags. 102/103 O seu gabinete, no consultório, dormia numa paz tépida entre os espessos veludos escuros, na penumbra que faziam os estores de seda verde corridos. Na sala, porém, as três janelas abertas bebiam à farta a luz; tudo ali parecia festivo; as poltronas em torno da jardineira estendiam os seus braços, amáveis e convidativos; o teclado branco do piano ria e esperava, tendo abertas por cima as Canções de Gounod; mas não aparecia jamais um doente. E Carlos — exactamente como o criado que, na ociosidade da antecâmara, dormitava sob o Diário de Notícias, acaçapado na banqueta — acendia um cigarro «Laferme», tomava uma revista, e estendia-se no divã. A prosa, porém, dos artigos estava como embebida do tédio moroso do gabinete: bem depressa bocejava, deixava cair o volume. Do Rossio, o ruído das carroças, os gritos errantes de pregões, o rolar dos americanos, subiam, numa vibração mais clara, por aquele ar fino de Novembro: uma luz macia, escorregando docemente do azul-ferrete, vinha dourar as fachadas enxovalhadas, as copas mesquinhas das árvores do município, a gente vadiando pelos bancos: e essa sussurração lenta de cidade preguiçosa, esse ar aveludado de clima rico, pareciam ir penetrando pouco a pouco naquele abafado gabinete e resvalando pelos veludos pesados, pelo verniz dos móveis, envolver Carlos numa indolência e numa dormência... Com a cabeça na almofada, fumando, ali ficava, nessa quietação de sesta, num cismar que se ia desprendendo, vago e ténue, como o ténue e leve fumo que se eleva de uma braseira meio apagada; até que, com um esforço, sacudia este torpor, passeava na sala, abria aqui e além pelas estantes um livro, tocava no piano dois compassos de valsa, espreguiçava-se — e, com os olhos nas flores do tapete, terminava por decidir que aquelas duas horas de consultório eram estúpidas! — Está aí o carro? — ia perguntar ao criado. Acendia bem depressa outro charuto, calçava as luvas, descia, bebia um largo sorvo de luz e ar, tomava as guias e largava, murmurando consigo: — Dia perdido! O ócio, a indolência A influência do meio: o meio circundante  ocioso e estagnado, pouco dinâmico, o clima ameno e agradável acabavam por  influenciar Carlos Pouca persistência e dedicação
Pags. 289/290 Quando nessa noite, uma noite triste de água, Carlos e Craft o acompanharam a Santa Apolónia, ele disse-lhes na carruagem estas palavras, triste resumo de um amor romântico: — Sinto-me como se a alma me tivesse caído a uma latrina! Preciso um banho por dentro! Afonso da Maia, ao saber este desastre do Ega, tinha dito a Carlos, com tristeza: — Má estreia, filho, péssima estreia! E nessa noite, depois de voltar de Santa Apolónia, Carlos pensava nestas palavras, dizia também consigo: «Péssima estreia!...». E nem só a estreia do Ega era péssima; também a sua. E talvez, por pensar nisso, as palavras do avô tinham tido aquela tristeza. Péssimas estreias! Havia seis meses que o Ega chegara de Celorico, embrulhado na sua grande peliça, preparado a deslumbrar Lisboa com as Memórias de Um Átomo, a dominá-la com a influência de uma revista, a ser uma luz, uma força, mil outras coisas... E agora, cheio de dívidas e cheio de ridículo, lá voltava para Celorico, escorraçado. Péssima estreia! Ele, por seu lado, desembarcara em Lisboa, com ideias colossais de trabalho, armado como um lutador: era o consultório, o laboratório, um livro iniciador, mil coisas fortes... E que tinha feito? Dois artigos de jornal, uma dúzia de receitas, e esse melancólico capítulo da Medicina entre os Gregos. Péssima estreia! IDEALISMO VS PRÁXIS A PRÁXIS: ,[object Object]
 crescente desmotivação
 existência apenas dedicada aodiletantismo ,[object Object],circundante Espaço psicológico – as reflexões de Carlos
Pag. 713 Então Ega perguntou, do fundo do sofá onde se enterrara, se, nesses últimos anos, ele não tivera a ideia, o vago desejo de voltar para Portugal... Carlos considerou Ega com espanto. Para quê? Para arrastar os passos tristes desde o Grémio até à Casa Havanesa? Não! Paris era o único lugar da Terra congénere com o tipo definitivo em que ele se fixara: «o homem rico que vive bem». Passeio a cavalo no Bois; almoço no Bignon; uma volta pelo boulevard; uma hora no clube com os jornais, um bocado de florete na sala de armas; à noite a ComédieFrançaise ou uma soirée; Trouville no Verão, alguns tiros às lebres no Inverno; e através do ano as mulheres, as corridas, certo interesse pela ciência, o bricabraque, e uma pouca de blague. Nada mais inofensivo, mais nulo, e mais agradável. — E aqui tens tu uma existência de homem! Em dez anos não me tem sucedido nada, a não ser quando se me quebrou o faetonte na estrada da Saint-Cloud... Vim no Figaro. Carlos enquanto ser absolutamente ocioso, parasita dos rendimentos da família, um perfeito diletante, em nada útil à sociedade. O anti-herói Ega ergueu-se, atirou um gesto desolado: — Falhámos a vida, menino! — Creio que sim... Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação. Diz-se: «Vou ser assim, porque a beleza está em ser assim.» E nunca se é assim, é-se invariavelmente assado, como dizia o pobre marquês. Às vezes melhor, mas sempre diferente. Ega concordou, com um suspiro mudo, começando a calçar as luvas. O desencanto de uma existência perfeitamente falhada (Anagnórise existencial). Porque falhou Carlos?
Porque falhou Carlos? Hereditariedade Fracasso  existencial Meio Educação Determinismo, de Taine Característica naturalista da obra
Hereditariedade Geneticamente, Carlos recebeu dos seus antepassados a tendência para o  diletantismo e para o sentimentalismo.  São precisamente dois dos aspectos que mais o vão desviar dos seus ideais e projectos iniciais, acabando mesmo por os abandonar. O diletantismo levou-o para uma dispersão de actividades de carácter lúdico e boémio que em nada o aproximava da sua vida profissional. O sentimentalismo sobrepôs-se sempre a todo e qualquer projecto de natureza profissional.
Meio O meio em que se enquadrou Carlos foi uma Lisboa da segunda metade do séc. XIX. A capital representava todo o país e pode-se concluir que se caracterizava pela ociosidade, ignorância, apatia e decadência generalizada. Ora, se Carlos, inicialmente, pretendia alterar este meio pela qualidade dos seus  projectos e prática profissional, rapidamente acabou por se conformar e deixar influenciar pelo marasmo típico e crónico que o cercava, entregando-se à inutilidade e ociosidade que caracterizavam a vida social, económica e cultural da época.
Educação A educação de Carlos valorizou apenas a vertente física. Consequentemente, a  vertente espiritual ou ética foi descurada, na medida em que não lhe foram trans- mitidos os princípios e valores que lhe permitissem a estruturação de uma “cons- ciência”. Assim, Carlos evoluiu de idealista para parasita social sem nunca ter tomado uma atitude impeditiva de tal percurso pessoal. E tal deve-se ao facto de Carlos “conscientemente” não ter tido a percepção de que evoluía num sentido negativo, capaz de o destruir ou, pelo menos, de o reduzir a uma verdadeira nulidade social.
O Espaço Físico - O Ramalhete - o consultório de Carlos - A Toca - Sta. Olávia - Sintra - Lisboa - A Vila Balzac
O Ramalhete, p. 5 ,[object Object]
simbolicamente associado à decadência da família e do País(jardim = abandonado / viçoso/ abandonado) - a simbologia do girassol representa a atitude do amante ou da amante, que se vira continuamente para ver o ser amado, isto é, representa a perfeição platónica na presença contemplativa e unificante; girando sempre numa atitude de submissão e  fidelidade para com o ser amado, o girassol associa-se à incapacidade de  ultrapassar a paixão e a falta de receptividade  do ser amado.  Daí metaforicamente aparecer ligado à terceira e quarta geração da família. - pag. 710
A Toca, p. 432 ,[object Object],camente, o “território” de Carlos e Maria Eduarda.  Realça o carácter bestial, animalesco desta relação, apenas dominada pelos desejo e o sentimento próprio de uma paixão incontrolável. ,[object Object],se rende a outras leis, através da relação incestuosa. - O amarelo predomina e traduz o gosto por sensações fortes e moralmente proibidas.
Lisboa - Pag., 170 (Lisboa é o espaço que espelha a  globalidade do país) - Pag.,697 (Espaço caracterizado pela degradação moral, onde os  portugueses exibem a sua ociosidade crónica. Lisboa é o  símbolo da decadência nacional – estátua de Camões) Espaço ao serviço da crónica de costumes
Espaço psicológico - conjunto de elementos que traduz a interioridade das personagens ,[object Object],  245) ,[object Object],  e reflexões, p. 492)
Espaço social        São de realçar alguns episódios, onde a criação de ambientes específicos revela a  preocupação do autor no sentido de evidenciar algumas das características mais  flagrantes do povo português.        Esses episódios (a par do recurso às personagens-tipo) constituem um dos vectores estruturais da obra. CRÓNICA DE COSTUMES (Descrição dos hábitos e costumes de uma população, de modo a melhor caracterizá-la)
O jantar no Hotel Central, p. 156 - 176 Neste jantar Ega pretende homenagear Cohen, o marido de Raquel, por quem Ega estava  apaixonado e com quem mantinha uma relação. É neste momento que Carlos entra no meio social lisboeta, adoptando, no entanto, uma atitude distante que o caracterizará até final da acção. Neste episódio, interessa realçar a emissão de juízos das personagens que nos permitem  compreender o panorama cultural do país. Destacam-se os seguintes: LITERATURA: Alencar defende o Ultra-Romantismo, Ega defende o Realismo e o Naturalismo (esta discussão revela uma sociedade dominada por valores tradicionais, a que se opõe uma nova geração, representada por Ega) – Pags.: ______________ b) POLÍTICA: Ega critica a decadência do país e afirma desejar a bancarrota e a invasão espanhola - Pags.: ______________ c) MANEIRA DE SER PORTUGUÊS: revelada através das acções/reflexões de várias  personagens - Pags.: ______________
A corrida de cavalos, p. 312 - 341 Um dos episódios preferidos pelo próprio autor, este quadro é uma crítica à tendência dos  portugueses para imitar aquilo que se fazia nos restantes países europeus e que se considerava como sinal de progresso, quando, afinal, muitas vezes, não nos identificávamos com aquilo que importávamos. Assim, o ambiente que deveria ser requintado, mas que também deveria apresen- tar a ligeireza desportiva para que remete o acontecimento, torna-se espelho da falta de gosto  e de educação dos participantes (os portugueses): realidade vs aparência. a) Falta de coerência entre o traje e a ocasião - Pags.: ______________ b) A sensaboria, revelada pelo facto de as pessoas não revelarem qualquer  interesse pelo evento - Pags.: ______________ c) A desordem e agressões físicas, nada adequadas ao evento –  Pags.: ______________
Outros episódios importantes: - Jantar em casa dos Gouvarinho, p. 389 - Jornal “A Tarde”, p. 571 - Sarau do Teatro da Trindade, p. 586 ACTIVIDADE:  Resolução das questões nº 3, 4, 5.1, 6.1, 6.1.1, 8, 9 (pag. 217)
O Narrador Tipo de narrador (presença): heterodiegético (De acordo com as características do Realismo/Naturalismo, pois permite uma análise social muito mais objectiva e eficaz, pelo distanciamento que caracteriza este tipo de narrador.) Marcas linguísticas: - formas verbais na terceira pessoa; - pronomes e determinantes na terceira pessoa; - discurso indirecto livre (nesta obra). - exemplo: p. 175

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Os Maias - Análise

  • 1. Proposta de análise “Os Maias”, de Eça de Queirós
  • 2.
  • 3. Importância da Analepse: A intriga secundária, presente na grande analepse, permite enquadrar e explicar grande parte dos acontecimentos e comportamentos que terão lugar na intriga principal (a separação de dos dois irmãos, a educação dada a Carlos, o peso da hereditariedade, o sentimentalismo exagerado das personagens).
  • 4.
  • 5.
  • 6.
  • 7.
  • 8. Pags. 73/74 De repente, porém, de um salto, precipitou-se sobre o Eusebiozinho. Queria-o levar à África, a combater os selvagens; e puxava-o já pelo seu belo plaid de cavaleiro da Escócia , quando a mamã acudiu aterrada: — Não, com o Eusebiozinho não, filho! Não tem saúde para essas cavaladas... Carlinhos, olhe que eu chamo o avô! Mas o Eusebiozinho, a um repelão mais forte, rolara no chão, soltando gritos medonhos. Foi um alvoroço, um levantamento. A mãe, trémula, agachada junto dele, punha-o de pé sobre as perninhas moles, limpando-lhe as grossas lágrimas, já com o lenço, já com beijos, quase a chorar também. O delegado, consternado, apanhara o boné escocês, e cofiava melancolicamente a bela pena de galo. E a viscondessa apertava às mãos ambas o enorme seio, como se as palpitações a sufocassem. O Eusebiozinho foi então preciosamente colocado ao lado da titi; e a severa senhora, com um fulgor de cólera na face magra, apertando o leque fechado como uma arma, preparava-se a repelir o Carlinhos, que, de mãos atrás das costas e aos pulos em roda do canapé, ria, arreganhando para o Eusebiozinho um lábio feroz. Mas nesse momento davam nove horas, e a desempenada figura do Brown apareceu à porta. Apenas o avistou, Carlos correu a refugiar-se por detrás da viscondessa, gritando: — Ainda é muito cedo, Brown, hoje é festa, não me vou deitar! Então Afonso da Maia, que se não movera aos uivos lancinantes do Silveirinha, disse de dentro, da mesa do voltarete, com severidade: — Carlos, tenha a bondade de marchar já para a cama. — Ó vovô, é festa, que está cá o Vilaça! Afonso da Maia pousou as cartas, atravessou a sala sem uma palavra, agarrou o rapaz pelo braço, e arrastou-o pelo corredor — enquanto ele, de calcanhares fincados no soalho, resistia, protestando com desespero: — É festa, vovô... É uma maldade!... O Vilaça pode-se escandalizar... Ó vovô, eu não tenho sono! Uma porta fechando-se abafou-lhe o clamor. - super-proteccionismo - ser abúlico, passivo, inexpressivo - método, rigor, hábitos saudáveis, disciplina
  • 9.
  • 10.
  • 12. EntusiasmoApoio de Afonso (a educação havia resultado)
  • 13. Pag. 99 Carlos mobilou-o com luxo. Numa antecâmara, guarnecida de banquetas de marroquim, devia estacionar, à francesa, um criado de libré. A sala de espera dos doentes alegrava com o seu papel verde de ramagens prateadas, a plantas em vasos de Ruão, quadros de muita cor, e ricas poltronas cercando a jardineira coberta de colecções do Charivari, de vistas estereoscópicas, de álbuns de actrizes seminuas, para tirar inteiramente o ar triste de consultório, até um piano mostrava o seu teclado branco. O gabinete de Carlos ao lado era mais simples, quase austero, todo em veludo verde-negro, com estantes de pau-preto. Alguns amigos que começavam a cercar Carlos, Taveira, seu contemporâneo e agora vizinho do Ramalhete, o Cruges, o marquês de Souselas, com quem percorrera a Itália — vieram ver estas maravilhas. O Cruges correu uma escala no piano e achou-o abominável; Taveira absorveu-se nas fotografias de actrizes; e a única aprovação franca veio do marquês, que depois de contemplar o divã do gabinete, verdadeiro móvel de serralho, vasto, voluptuoso, fofo, experimentou-lhe a doçura das molas e disse, piscando o olho a Carlos: — A calhar. Não pareciam acreditar nestes preparativos. E todavia eram sinceros. Carlos até fizera anunciar o consultório nos jornais; quando viu, porém, o seu nome em letras grossas, entre o de uma engomadeira à Boa Hora e um reclamo de casa de hóspedes — encarregou Vilaça de retirar o anúncio. O luxo do consultório era mais propício ao ócio, às actividades lúdicas do que ao trabalho. Maior preocupação com a aparência do que com a verdadeira finalidade.
  • 14. Pags. 102/103 O seu gabinete, no consultório, dormia numa paz tépida entre os espessos veludos escuros, na penumbra que faziam os estores de seda verde corridos. Na sala, porém, as três janelas abertas bebiam à farta a luz; tudo ali parecia festivo; as poltronas em torno da jardineira estendiam os seus braços, amáveis e convidativos; o teclado branco do piano ria e esperava, tendo abertas por cima as Canções de Gounod; mas não aparecia jamais um doente. E Carlos — exactamente como o criado que, na ociosidade da antecâmara, dormitava sob o Diário de Notícias, acaçapado na banqueta — acendia um cigarro «Laferme», tomava uma revista, e estendia-se no divã. A prosa, porém, dos artigos estava como embebida do tédio moroso do gabinete: bem depressa bocejava, deixava cair o volume. Do Rossio, o ruído das carroças, os gritos errantes de pregões, o rolar dos americanos, subiam, numa vibração mais clara, por aquele ar fino de Novembro: uma luz macia, escorregando docemente do azul-ferrete, vinha dourar as fachadas enxovalhadas, as copas mesquinhas das árvores do município, a gente vadiando pelos bancos: e essa sussurração lenta de cidade preguiçosa, esse ar aveludado de clima rico, pareciam ir penetrando pouco a pouco naquele abafado gabinete e resvalando pelos veludos pesados, pelo verniz dos móveis, envolver Carlos numa indolência e numa dormência... Com a cabeça na almofada, fumando, ali ficava, nessa quietação de sesta, num cismar que se ia desprendendo, vago e ténue, como o ténue e leve fumo que se eleva de uma braseira meio apagada; até que, com um esforço, sacudia este torpor, passeava na sala, abria aqui e além pelas estantes um livro, tocava no piano dois compassos de valsa, espreguiçava-se — e, com os olhos nas flores do tapete, terminava por decidir que aquelas duas horas de consultório eram estúpidas! — Está aí o carro? — ia perguntar ao criado. Acendia bem depressa outro charuto, calçava as luvas, descia, bebia um largo sorvo de luz e ar, tomava as guias e largava, murmurando consigo: — Dia perdido! O ócio, a indolência A influência do meio: o meio circundante ocioso e estagnado, pouco dinâmico, o clima ameno e agradável acabavam por influenciar Carlos Pouca persistência e dedicação
  • 15.
  • 17.
  • 18. Pag. 713 Então Ega perguntou, do fundo do sofá onde se enterrara, se, nesses últimos anos, ele não tivera a ideia, o vago desejo de voltar para Portugal... Carlos considerou Ega com espanto. Para quê? Para arrastar os passos tristes desde o Grémio até à Casa Havanesa? Não! Paris era o único lugar da Terra congénere com o tipo definitivo em que ele se fixara: «o homem rico que vive bem». Passeio a cavalo no Bois; almoço no Bignon; uma volta pelo boulevard; uma hora no clube com os jornais, um bocado de florete na sala de armas; à noite a ComédieFrançaise ou uma soirée; Trouville no Verão, alguns tiros às lebres no Inverno; e através do ano as mulheres, as corridas, certo interesse pela ciência, o bricabraque, e uma pouca de blague. Nada mais inofensivo, mais nulo, e mais agradável. — E aqui tens tu uma existência de homem! Em dez anos não me tem sucedido nada, a não ser quando se me quebrou o faetonte na estrada da Saint-Cloud... Vim no Figaro. Carlos enquanto ser absolutamente ocioso, parasita dos rendimentos da família, um perfeito diletante, em nada útil à sociedade. O anti-herói Ega ergueu-se, atirou um gesto desolado: — Falhámos a vida, menino! — Creio que sim... Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação. Diz-se: «Vou ser assim, porque a beleza está em ser assim.» E nunca se é assim, é-se invariavelmente assado, como dizia o pobre marquês. Às vezes melhor, mas sempre diferente. Ega concordou, com um suspiro mudo, começando a calçar as luvas. O desencanto de uma existência perfeitamente falhada (Anagnórise existencial). Porque falhou Carlos?
  • 19. Porque falhou Carlos? Hereditariedade Fracasso existencial Meio Educação Determinismo, de Taine Característica naturalista da obra
  • 20. Hereditariedade Geneticamente, Carlos recebeu dos seus antepassados a tendência para o diletantismo e para o sentimentalismo. São precisamente dois dos aspectos que mais o vão desviar dos seus ideais e projectos iniciais, acabando mesmo por os abandonar. O diletantismo levou-o para uma dispersão de actividades de carácter lúdico e boémio que em nada o aproximava da sua vida profissional. O sentimentalismo sobrepôs-se sempre a todo e qualquer projecto de natureza profissional.
  • 21. Meio O meio em que se enquadrou Carlos foi uma Lisboa da segunda metade do séc. XIX. A capital representava todo o país e pode-se concluir que se caracterizava pela ociosidade, ignorância, apatia e decadência generalizada. Ora, se Carlos, inicialmente, pretendia alterar este meio pela qualidade dos seus projectos e prática profissional, rapidamente acabou por se conformar e deixar influenciar pelo marasmo típico e crónico que o cercava, entregando-se à inutilidade e ociosidade que caracterizavam a vida social, económica e cultural da época.
  • 22. Educação A educação de Carlos valorizou apenas a vertente física. Consequentemente, a vertente espiritual ou ética foi descurada, na medida em que não lhe foram trans- mitidos os princípios e valores que lhe permitissem a estruturação de uma “cons- ciência”. Assim, Carlos evoluiu de idealista para parasita social sem nunca ter tomado uma atitude impeditiva de tal percurso pessoal. E tal deve-se ao facto de Carlos “conscientemente” não ter tido a percepção de que evoluía num sentido negativo, capaz de o destruir ou, pelo menos, de o reduzir a uma verdadeira nulidade social.
  • 23. O Espaço Físico - O Ramalhete - o consultório de Carlos - A Toca - Sta. Olávia - Sintra - Lisboa - A Vila Balzac
  • 24.
  • 25.
  • 26. simbolicamente associado à decadência da família e do País(jardim = abandonado / viçoso/ abandonado) - a simbologia do girassol representa a atitude do amante ou da amante, que se vira continuamente para ver o ser amado, isto é, representa a perfeição platónica na presença contemplativa e unificante; girando sempre numa atitude de submissão e fidelidade para com o ser amado, o girassol associa-se à incapacidade de ultrapassar a paixão e a falta de receptividade do ser amado. Daí metaforicamente aparecer ligado à terceira e quarta geração da família. - pag. 710
  • 27.
  • 28. Lisboa - Pag., 170 (Lisboa é o espaço que espelha a globalidade do país) - Pag.,697 (Espaço caracterizado pela degradação moral, onde os portugueses exibem a sua ociosidade crónica. Lisboa é o símbolo da decadência nacional – estátua de Camões) Espaço ao serviço da crónica de costumes
  • 29.
  • 30. Espaço social São de realçar alguns episódios, onde a criação de ambientes específicos revela a preocupação do autor no sentido de evidenciar algumas das características mais flagrantes do povo português. Esses episódios (a par do recurso às personagens-tipo) constituem um dos vectores estruturais da obra. CRÓNICA DE COSTUMES (Descrição dos hábitos e costumes de uma população, de modo a melhor caracterizá-la)
  • 31. O jantar no Hotel Central, p. 156 - 176 Neste jantar Ega pretende homenagear Cohen, o marido de Raquel, por quem Ega estava apaixonado e com quem mantinha uma relação. É neste momento que Carlos entra no meio social lisboeta, adoptando, no entanto, uma atitude distante que o caracterizará até final da acção. Neste episódio, interessa realçar a emissão de juízos das personagens que nos permitem compreender o panorama cultural do país. Destacam-se os seguintes: LITERATURA: Alencar defende o Ultra-Romantismo, Ega defende o Realismo e o Naturalismo (esta discussão revela uma sociedade dominada por valores tradicionais, a que se opõe uma nova geração, representada por Ega) – Pags.: ______________ b) POLÍTICA: Ega critica a decadência do país e afirma desejar a bancarrota e a invasão espanhola - Pags.: ______________ c) MANEIRA DE SER PORTUGUÊS: revelada através das acções/reflexões de várias personagens - Pags.: ______________
  • 32. A corrida de cavalos, p. 312 - 341 Um dos episódios preferidos pelo próprio autor, este quadro é uma crítica à tendência dos portugueses para imitar aquilo que se fazia nos restantes países europeus e que se considerava como sinal de progresso, quando, afinal, muitas vezes, não nos identificávamos com aquilo que importávamos. Assim, o ambiente que deveria ser requintado, mas que também deveria apresen- tar a ligeireza desportiva para que remete o acontecimento, torna-se espelho da falta de gosto e de educação dos participantes (os portugueses): realidade vs aparência. a) Falta de coerência entre o traje e a ocasião - Pags.: ______________ b) A sensaboria, revelada pelo facto de as pessoas não revelarem qualquer interesse pelo evento - Pags.: ______________ c) A desordem e agressões físicas, nada adequadas ao evento – Pags.: ______________
  • 33. Outros episódios importantes: - Jantar em casa dos Gouvarinho, p. 389 - Jornal “A Tarde”, p. 571 - Sarau do Teatro da Trindade, p. 586 ACTIVIDADE: Resolução das questões nº 3, 4, 5.1, 6.1, 6.1.1, 8, 9 (pag. 217)
  • 34. O Narrador Tipo de narrador (presença): heterodiegético (De acordo com as características do Realismo/Naturalismo, pois permite uma análise social muito mais objectiva e eficaz, pelo distanciamento que caracteriza este tipo de narrador.) Marcas linguísticas: - formas verbais na terceira pessoa; - pronomes e determinantes na terceira pessoa; - discurso indirecto livre (nesta obra). - exemplo: p. 175
  • 35.
  • 36.
  • 37.
  • 38. 3. Diálogo Exemplo: pag. _________ - existe intercomunicação entre duas ou mais personagens; - caracteriza-se pela presença dos dois pontos e do travessão. 4. Monólogo Exemplo: pag. 624, 625 - a personagem fala consigo própria, expondo os seus pensamentos; - não há intercomunicação com qualquer outra personagem.