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V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015
Música popular e identidade
racial no Brasil
Martha Tupinambá de Ulhôa
UNIRIO
mulhoa@unirio.br
V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015
Raça, cultura, identidade
• 1600
• Palmares 1605-1694
• [invenção do mulato]
• 1822
• pátria, língua, território
• 1870
• raça, natureza, usos e costumes
• 1920
• cultura, civilização
• 2000
• diversidade cultural
• [multiculturalismo]
• Porto-Alegre, Debret, Martius (IHGB)
• Sílvio Romero (escola de Recife)
• Mário de Andrade
• Sistema de cotas
V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015
ALENCASTRO, Luiz Felipe (1946- ). O trato dos viventes: Formação do Brasil no
Atlântico Sul, séculos XVI e XVII. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.
• Espaço bipolar: enclaves da América portuguesa e feitorias de Angola
• Enquadramento político da colônia: dizimação dos indígenas e
controle da população afro.
• O fluxo regular do tráfico negreiro diminuiu a importância dos índios
como reserva potencial de mão-de-obra cativa, transformando-os
apenas num embaraço à expansão da fronteira agropastoril: abria-se
a via à sua exterminação. Após a dizimação dos povos indígenas no
sertão agropecuário na chamada “guerra dos bárbaros” [1651-1704]
(Alencastro 2000: 337) a doutrina antiquilombista complementa o
“enquadramento político do território da América portuguesa” (Idem:
343).
V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015
A invenção do mulato
(Alencastro, 2000, p. 345-353)
• Reação a Palmares (1605-1694): 1625 - posto de capitão-do-mato
para rastrear e capturar escravos fugidos; 1676 - formalização do
posto; 1699 – isenção de punição para assassinato de quilombolas; 3
mar. 1741 – fugitivos marcados a ferro com a marca “F” ; 6 mar. 1741
reduto de cinco foragidos = um quilombo nos termos da lei (p. 345).
• Alternativa p/ libertos = prestar serviços a quem lhes garantissem a
condição de não-escravo, favorecendo a mestiçagem biológica =
relação radicalmente hierarquizada. (p. 346).
• Mulatos (tratamento diferenciado) ≠ USA (segregação) e Angola . No
Brasil: pecuária (curraleiros); uso militar (quilombos, Guerra dos
bárbaros, os henriques).
V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015
V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015
Carl Friedrich Philipp von Martius (1794–1868)
• “Como se deve escrever a história do Brasil”
• Raças - cor de cobre ou americana, branca ou caucasiana, preta ou etíope
• Viagem pelo Brasil, 1817-1820 (Spix & Martius)
• Para o jogo, a música e a dança está o mulato [de Belém do Pará] sempre
disposto, e movimenta-se insaciável, nos prazeres, com a mesma agilidade dos
seus congêneres do sul, aos sons monótonos, sussurrantes do violão, do lascivo
lundu ou no desenfreado batuque. [Diferentemente da alta sociedade em Minas
e Bahia, um rapaz que] deixasse crescer a unha do dedo até um monstruoso
tamanho, para melhor ferir as cordas do violão, mal escaparia aqui aos motejos
da sociedade. (Martius, 1981 [1823-1831] vol. III, p. 29). [No entanto, na Bahia,
ao final de jantares nas casas mais ricas] [...] aparece no fim um grupo de
músicos, cujos acordes, às vezes desafinados, convidam ao lundu, que as
senhoras costumam dançar com muita graça (p. 150) (ênfase adicionada).
V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015
Manuel Araújo de Porto-Alegre (1806-1879)
• Música: “ cultivada desde a senzala ao palácio; de dia e noite soa a
marimba do escravo, a guitarra, e a viola do Capadócio, e o piano do
senhor” (Porto-Alegre, 1836, p. 180).
• Os proscritos e aventureiros de Portugal deram princípio à Nação
Brasileira. Privados de qualquer elemento que desse pasto à prosperidade,
circunscritos nos limites da agricultura e do tráfico, cansados e alimentados
pelo sol do equador, lançavam-se nos braços do amor, e o amor os
inspirava; e nos transportes d’alma choravam sua sorte. O amor produziu
as artes da imaginação, e o entusiasmo as elevou ao sublime; e os filhos da
floresta envoltos da mais rica louçania [elegância] da natureza cantavam, e
sua Música semelhante ao balanço da rede, que oscilando no ar forma um
zéfiro [brisa, aragem] artificial, que tempera a calidez (sic), apresenta o
cunho melódico: é uma nênia [elegia, canto fúnebre] amorosa onde respira
o bálsamo misterioso da voluptuosidade, é a prolação [prolongamento] do
gemido do infeliz, é uma Música do coração (Porto-Alegre, 1836, p.179).
(grifos adicionados).
V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015
Sílvio Romero (1851-1914) a Mário de Andrade (1893-1945)
• Mestiçagem, atraso, indecisão,
• Melancolia, saudade, nostalgia (Três raças tristes – Castro Alves)
• No Brasil houve a formação de uma “sub-raça mestiça e crioula” ...
“Não quero dizer que constituiremos uma nação de mulatos; pois que
a forma branca vai prevalecendo e prevalecerá” (Romero apud
Romero, 2014, p. 287).
• “O critério histórico atual da Música Brasileira é o da manifestação
musical que sendo feita por brasileiro ou indivíduo nacionalizado,
reflete as características musicais da raça. ... A música popular
brasileira é a mais completa, mais totalmente nacional, mais forte
criação da nossa raça até agora.” (Ensaio... Mário de Andrade).
V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015
Mestiçagem
• Gilberto Freyre (1900-1987) Casa Grande e Senzala, 1933 – [luso-
tropicalismo]
• Crítica das Histórias da música popular brasileira escritas por
folcloristas e “ainda” em textos dos 1980s:
• maior preocupação com os estilos musicais do que com os significados da
produção cultural dos agentes sociais, e a visão de que os processos culturais
ocorrem sem conflitos (...) [além do uso do] viciado viés do “mito das 3
raças” e da identidade nacional mestiça. (Abreu 2001: 705).
V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015
Produção na era da diversidade
• CARVALHO, José Jorge de. Black music of all colors. Série Antropologia n.
145. Departamento de Antropologia da UnB. Brasília: Unb, 1993.
Disponível em:
http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.471.4005&rep=
rep1&type=pdf Acesso em: 08 jun. 2015
• O texto se propõe a oferecer uma antologia de música popular com
representações sobre raça. Divisões: (1) Modelos musicais afro-brasileiros
disponíveis (Candomblé e Xangô [orixás], Congadas, Macumba e Umbanda,
Música Popular; (2) Conceito de Música Popular; (3) Modelo para análise
de letras das canções; (3) Imagens de gente preta na MPB: (a) mulher
negra louca, feira, estúpida; (b) mulher negra como objeto sexual; (c) o
homem negro pobre e humilde; (d) o preto malandro; (e) carnaval negro;
(f) imagens radicais de pretos e brancos.
V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015
Produção na era da diversidade
• TROTTA, Felipe C.; SANTOS, Kywza F. Respeitem meus cabelos, brancos:
música, política e identidade negra. Revista FAMECOS (Online), v. 19, p.
225-248, 2012. Disponível em:
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/vi
ew/11350/7740. Acesso em: 11 jun. 2015.
• Do resumo: ... nuances discursivas ... integram a canção “Respeitem meus
cabelos, brancos”, de Chico César [: ... ] por trás de um discurso militante e
acusatório revelam-se diversas ambiguidades discursivas que integram a
posição do autor sobre identidade negra. ... [O] posicionamento
dicotômico (brancos x negros), presente na letra, mas relativizado pela
ironia do uso não ortodoxo do reggae, pela ambiguidade da capa do CD,
pela indefinição tonal e pelo criativo uso da vírgula...
V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015
Respeitem Meus Cabelos, Brancos - Chico César
https://www.youtube.com/watch?v=25CBqBKV0ys
• Respeitem meus cabelos, brancos
• Chegou a hora de falar
• Vamos ser francos
• Pois quando um preto fala
• O branco cala ou deixa a sala
• Com veludo nos tamancos
•
• Cabelo veio da África
• Junto com meus santos
• Benguelas, zulus, gêges
• Rebolos, bundos, bantos
• Batuques, toques, mandingas
• Danças, tranças, cantos
• Respeitem meus cabelos, brancos
•
• Se eu quero pixaim, deixa
• Se eu quero enrolar, deixa
• Se eu quero colorir, deixa
• Se eu quero assanhar, deixa
• Deixa, deixa a madeixa balançar
V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015
Pontos para reflexão
•A leitura da geração de estudiosos de gerações
anteriores é contaminada pela agenda política
•Carlos Vega e o difusionismo
•Mário de Andrade e o nacionalismo
V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015
• REFERÊNCIAS:
• ABREU, Martha. Histórias da música popular brasileira: uma análise da produção sobre o período colonial,
In: JANCSÓ, István e KANTOR, Iris (Eds.) Festa: Cultura e Sociabilidade na América Portuguesa, vol. II. São
Paulo: Edusp; Fapesp; Imprensa Oficial; Hucitec, 2001, p. 683-705.
• ALENCASTRO, Luiz Felipe. O trato dos viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul, séculos XVI e XVII. São
Paulo: Cia. Das Letras, 2000. 5ª. Reimpressão.
• CARVALHO, José Jorge de. Black music of all colors. Série Antropologia n. 145. Departamento de
Antropologia da UnB. Brasília: Unb, 1993. Disponível em:
http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.471.4005&rep=rep1&type=pdf Acesso em: 08
jun. 2015
• PEREIRA, Avelino Romero. De Sílvio Romero a Heitor Villa-Lobos: meio, raça e história na música brasileira.
In: MENEZES, Lená Medeiros de; TRONCOSO, Hugo Cancino; DE LA MORA, Rogelio. (Org.). Intelectuais na
América Latina: Pensamento, Contextos e Instituições. Dos Processos de Independência à Globalização.
1ed.Rio de Janeiro: UERJ - LABIMI, 2014, p. 284-304. Texto completo disponível em:
http://latic.uerj.br/revista/ojs/index.php/ial/article/view/33/48. Acesso: 08 jun. 2015.
• PORTO-ALEGRE, Manuel Araújo. Ideias sobre a música. In Nitheroy. Revista brasiliense – Sciencias, Lettras e
Artes. Paris. [1ª. edição em 1836]. Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/ Acesso em 2013.
• SPIX, Johann Baptist von; MARTIUS, Carl Friedrich Philipp von. Viagem pelo Brasil. 1817-1820. 3 vol. Belo
Horizonte: Editora Itatiaia, 1981 [1ª. edição 1823-1831].
• TROTTA, Felipe C.; SANTOS, Kywza F. Respeitem meus cabelos, brancos: música, política e identidade negra.
Revista FAMECOS (Online), v. 19, p. 225-248, 2012. Disponível em:
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/11350/7740. Acesso em: 11
jun. 2015.
• ULHÔA, Martha; COSTA-LIMA NETO, Luiz. Memory, History and Cultural Encounters in the Atlantic the Case
of Lundu. The World of Music (Wilhelmshaven), v. 2, p. 47-72, 2013.

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MÚSICA POPULAR E IDENTIDADE RACIAL NO BRASIL - Musicologia e Diversidade/ Musicology and Diversity - Pirenópolis, GO - 15 a 19 de Junho de 2015

  • 1. V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015 Música popular e identidade racial no Brasil Martha Tupinambá de Ulhôa UNIRIO mulhoa@unirio.br
  • 2. V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015 Raça, cultura, identidade • 1600 • Palmares 1605-1694 • [invenção do mulato] • 1822 • pátria, língua, território • 1870 • raça, natureza, usos e costumes • 1920 • cultura, civilização • 2000 • diversidade cultural • [multiculturalismo] • Porto-Alegre, Debret, Martius (IHGB) • Sílvio Romero (escola de Recife) • Mário de Andrade • Sistema de cotas
  • 3. V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015 ALENCASTRO, Luiz Felipe (1946- ). O trato dos viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul, séculos XVI e XVII. São Paulo: Cia. das Letras, 2000. • Espaço bipolar: enclaves da América portuguesa e feitorias de Angola • Enquadramento político da colônia: dizimação dos indígenas e controle da população afro. • O fluxo regular do tráfico negreiro diminuiu a importância dos índios como reserva potencial de mão-de-obra cativa, transformando-os apenas num embaraço à expansão da fronteira agropastoril: abria-se a via à sua exterminação. Após a dizimação dos povos indígenas no sertão agropecuário na chamada “guerra dos bárbaros” [1651-1704] (Alencastro 2000: 337) a doutrina antiquilombista complementa o “enquadramento político do território da América portuguesa” (Idem: 343).
  • 4. V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015 A invenção do mulato (Alencastro, 2000, p. 345-353) • Reação a Palmares (1605-1694): 1625 - posto de capitão-do-mato para rastrear e capturar escravos fugidos; 1676 - formalização do posto; 1699 – isenção de punição para assassinato de quilombolas; 3 mar. 1741 – fugitivos marcados a ferro com a marca “F” ; 6 mar. 1741 reduto de cinco foragidos = um quilombo nos termos da lei (p. 345). • Alternativa p/ libertos = prestar serviços a quem lhes garantissem a condição de não-escravo, favorecendo a mestiçagem biológica = relação radicalmente hierarquizada. (p. 346). • Mulatos (tratamento diferenciado) ≠ USA (segregação) e Angola . No Brasil: pecuária (curraleiros); uso militar (quilombos, Guerra dos bárbaros, os henriques).
  • 5. V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015
  • 6. V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015 Carl Friedrich Philipp von Martius (1794–1868) • “Como se deve escrever a história do Brasil” • Raças - cor de cobre ou americana, branca ou caucasiana, preta ou etíope • Viagem pelo Brasil, 1817-1820 (Spix & Martius) • Para o jogo, a música e a dança está o mulato [de Belém do Pará] sempre disposto, e movimenta-se insaciável, nos prazeres, com a mesma agilidade dos seus congêneres do sul, aos sons monótonos, sussurrantes do violão, do lascivo lundu ou no desenfreado batuque. [Diferentemente da alta sociedade em Minas e Bahia, um rapaz que] deixasse crescer a unha do dedo até um monstruoso tamanho, para melhor ferir as cordas do violão, mal escaparia aqui aos motejos da sociedade. (Martius, 1981 [1823-1831] vol. III, p. 29). [No entanto, na Bahia, ao final de jantares nas casas mais ricas] [...] aparece no fim um grupo de músicos, cujos acordes, às vezes desafinados, convidam ao lundu, que as senhoras costumam dançar com muita graça (p. 150) (ênfase adicionada).
  • 7. V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015 Manuel Araújo de Porto-Alegre (1806-1879) • Música: “ cultivada desde a senzala ao palácio; de dia e noite soa a marimba do escravo, a guitarra, e a viola do Capadócio, e o piano do senhor” (Porto-Alegre, 1836, p. 180). • Os proscritos e aventureiros de Portugal deram princípio à Nação Brasileira. Privados de qualquer elemento que desse pasto à prosperidade, circunscritos nos limites da agricultura e do tráfico, cansados e alimentados pelo sol do equador, lançavam-se nos braços do amor, e o amor os inspirava; e nos transportes d’alma choravam sua sorte. O amor produziu as artes da imaginação, e o entusiasmo as elevou ao sublime; e os filhos da floresta envoltos da mais rica louçania [elegância] da natureza cantavam, e sua Música semelhante ao balanço da rede, que oscilando no ar forma um zéfiro [brisa, aragem] artificial, que tempera a calidez (sic), apresenta o cunho melódico: é uma nênia [elegia, canto fúnebre] amorosa onde respira o bálsamo misterioso da voluptuosidade, é a prolação [prolongamento] do gemido do infeliz, é uma Música do coração (Porto-Alegre, 1836, p.179). (grifos adicionados).
  • 8. V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015 Sílvio Romero (1851-1914) a Mário de Andrade (1893-1945) • Mestiçagem, atraso, indecisão, • Melancolia, saudade, nostalgia (Três raças tristes – Castro Alves) • No Brasil houve a formação de uma “sub-raça mestiça e crioula” ... “Não quero dizer que constituiremos uma nação de mulatos; pois que a forma branca vai prevalecendo e prevalecerá” (Romero apud Romero, 2014, p. 287). • “O critério histórico atual da Música Brasileira é o da manifestação musical que sendo feita por brasileiro ou indivíduo nacionalizado, reflete as características musicais da raça. ... A música popular brasileira é a mais completa, mais totalmente nacional, mais forte criação da nossa raça até agora.” (Ensaio... Mário de Andrade).
  • 9. V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015 Mestiçagem • Gilberto Freyre (1900-1987) Casa Grande e Senzala, 1933 – [luso- tropicalismo] • Crítica das Histórias da música popular brasileira escritas por folcloristas e “ainda” em textos dos 1980s: • maior preocupação com os estilos musicais do que com os significados da produção cultural dos agentes sociais, e a visão de que os processos culturais ocorrem sem conflitos (...) [além do uso do] viciado viés do “mito das 3 raças” e da identidade nacional mestiça. (Abreu 2001: 705).
  • 10. V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015 Produção na era da diversidade • CARVALHO, José Jorge de. Black music of all colors. Série Antropologia n. 145. Departamento de Antropologia da UnB. Brasília: Unb, 1993. Disponível em: http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.471.4005&rep= rep1&type=pdf Acesso em: 08 jun. 2015 • O texto se propõe a oferecer uma antologia de música popular com representações sobre raça. Divisões: (1) Modelos musicais afro-brasileiros disponíveis (Candomblé e Xangô [orixás], Congadas, Macumba e Umbanda, Música Popular; (2) Conceito de Música Popular; (3) Modelo para análise de letras das canções; (3) Imagens de gente preta na MPB: (a) mulher negra louca, feira, estúpida; (b) mulher negra como objeto sexual; (c) o homem negro pobre e humilde; (d) o preto malandro; (e) carnaval negro; (f) imagens radicais de pretos e brancos.
  • 11. V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015 Produção na era da diversidade • TROTTA, Felipe C.; SANTOS, Kywza F. Respeitem meus cabelos, brancos: música, política e identidade negra. Revista FAMECOS (Online), v. 19, p. 225-248, 2012. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/vi ew/11350/7740. Acesso em: 11 jun. 2015. • Do resumo: ... nuances discursivas ... integram a canção “Respeitem meus cabelos, brancos”, de Chico César [: ... ] por trás de um discurso militante e acusatório revelam-se diversas ambiguidades discursivas que integram a posição do autor sobre identidade negra. ... [O] posicionamento dicotômico (brancos x negros), presente na letra, mas relativizado pela ironia do uso não ortodoxo do reggae, pela ambiguidade da capa do CD, pela indefinição tonal e pelo criativo uso da vírgula...
  • 12. V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015 Respeitem Meus Cabelos, Brancos - Chico César https://www.youtube.com/watch?v=25CBqBKV0ys • Respeitem meus cabelos, brancos • Chegou a hora de falar • Vamos ser francos • Pois quando um preto fala • O branco cala ou deixa a sala • Com veludo nos tamancos • • Cabelo veio da África • Junto com meus santos • Benguelas, zulus, gêges • Rebolos, bundos, bantos • Batuques, toques, mandingas • Danças, tranças, cantos • Respeitem meus cabelos, brancos • • Se eu quero pixaim, deixa • Se eu quero enrolar, deixa • Se eu quero colorir, deixa • Se eu quero assanhar, deixa • Deixa, deixa a madeixa balançar
  • 13. V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015 Pontos para reflexão •A leitura da geração de estudiosos de gerações anteriores é contaminada pela agenda política •Carlos Vega e o difusionismo •Mário de Andrade e o nacionalismo
  • 14. V Simpósio Internacional de Musicologia - Musicologia e Diversidade – Pirenópolis, GO – 15 a 19 de Junho de 2015 • REFERÊNCIAS: • ABREU, Martha. Histórias da música popular brasileira: uma análise da produção sobre o período colonial, In: JANCSÓ, István e KANTOR, Iris (Eds.) Festa: Cultura e Sociabilidade na América Portuguesa, vol. II. São Paulo: Edusp; Fapesp; Imprensa Oficial; Hucitec, 2001, p. 683-705. • ALENCASTRO, Luiz Felipe. O trato dos viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul, séculos XVI e XVII. São Paulo: Cia. Das Letras, 2000. 5ª. Reimpressão. • CARVALHO, José Jorge de. Black music of all colors. Série Antropologia n. 145. Departamento de Antropologia da UnB. Brasília: Unb, 1993. Disponível em: http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.471.4005&rep=rep1&type=pdf Acesso em: 08 jun. 2015 • PEREIRA, Avelino Romero. De Sílvio Romero a Heitor Villa-Lobos: meio, raça e história na música brasileira. In: MENEZES, Lená Medeiros de; TRONCOSO, Hugo Cancino; DE LA MORA, Rogelio. (Org.). Intelectuais na América Latina: Pensamento, Contextos e Instituições. Dos Processos de Independência à Globalização. 1ed.Rio de Janeiro: UERJ - LABIMI, 2014, p. 284-304. Texto completo disponível em: http://latic.uerj.br/revista/ojs/index.php/ial/article/view/33/48. Acesso: 08 jun. 2015. • PORTO-ALEGRE, Manuel Araújo. Ideias sobre a música. In Nitheroy. Revista brasiliense – Sciencias, Lettras e Artes. Paris. [1ª. edição em 1836]. Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/ Acesso em 2013. • SPIX, Johann Baptist von; MARTIUS, Carl Friedrich Philipp von. Viagem pelo Brasil. 1817-1820. 3 vol. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1981 [1ª. edição 1823-1831]. • TROTTA, Felipe C.; SANTOS, Kywza F. Respeitem meus cabelos, brancos: música, política e identidade negra. Revista FAMECOS (Online), v. 19, p. 225-248, 2012. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/11350/7740. Acesso em: 11 jun. 2015. • ULHÔA, Martha; COSTA-LIMA NETO, Luiz. Memory, History and Cultural Encounters in the Atlantic the Case of Lundu. The World of Music (Wilhelmshaven), v. 2, p. 47-72, 2013.