1. Apresenta o estado de espírito de despedida dos vários elementos - tristeza, desespero e receio generalizados.
2. O Velho do Restelo critica a política dos descobrimentos, apontando os perigos e mortes que acarretará, apenas por vaidade e cobiça.
3. Sugere que seria melhor combater o inimigo mais próximo em vez de procurar outros tão longínquos.
Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!
10ºano Luís de Camões parte B
1. Luís Vaz de Camões parte B
Professora: Lurdes Augusto
10ºANO
2.
3. Canto IV – Plano da História de Portugal / narrador: Vasco da Gama
Despedidas de Belém e Velho do Restelo/ estâncias 84 – 93
estâncias 94 - 104
Mar Português
O homem do leme
4. Na preparação da partida das naus de Vasco da
Gama para a Índia, sobressai no meio da
confusão um alvoroço e ao mesmo tempo um
desejo de alcançar o trajeto pretendido.
Após a citação do chamado Velho do Restelo,
deu-se a partida; ficaram para trás as terras
portuguesas e apenas o mar e o céu infinitos
cabiam na visão dos lusitanos.
D. João II - 3 de Maio
de 1455 – Alvor, 25 de
Outubro de 1495
D. Manuel - 31 de
Maio de 1469 —
Lisboa, 13 de
Dezembro de 1521)
O projecto para o caminho marítimo para a Índia foi
delineado por D. João II como medida de redução dos
custos nas trocas comerciais com a Ásia e tentativa de
monopolizar o comércio das especiarias. A juntar à cada
vez mais sólida presença marítima portuguesa, D. João
almejava o domínio das rotas comerciais e expansão do
reino de Portugal que já se transformava em Império.
Porém, o empreendimento não seria realizado durante o
seu reinado. Seria o seu sucessor, D. Manuel I que iria
designar Vasco da Gama para esta expedição, embora
mantendo o plano original.
5. Foram de Emanuel remunerados,
Porque com mais amor se apercebessem,
E com palavras altas animados
Para quantos trabalhos sucedessem.
Assim foram os Mínias ajuntados,
Para que o Véu dourado combatessem,
Na fatídica Nau, que ousou primeira
Tentar o mar Euxínio, aventureira.
84
E já no porto da ínclita Ulisseia
C'um alvoroço nobre, e é um desejo,
(Onde o licor mistura e branca areia
Co'o salgado Neptuno o doce Tejo)
As naus prestes estão; e não refreia
Temor nenhum o juvenil despejo,
Porque a gente marítima e a de Marte
Estão para seguir-me a toda parte.
85
Pelas praias vestidos os soldados
De várias cores vêm e várias artes,
E não menos de esforço aparelhados
Para buscar do mundo novas partes.
Nas fortes naus os ventos sossegados
Ondeam os aéreos estandartes;
Elas prometem, vendo os mares largos,
De ser no Olimpo estrelas como a de Argos.
Partida das naus , o velho do restelo -
Plano da História de Portugal e início da viagem (narrador – Vasco da Gama) Canto – IV 83-89 / 94-104
D. Manuel é o responsável pela
organização deste grupo. Tê-
lo-á incentivado e motivado.
Tal como já acontecera no mar
Negro
Já no Porto de Lisboa, em
Belém, onde o rio Tejo
encontra o mar.
As naus já estão prontas e o
ânimo dos marinheiros e
soldados é elevado.
Perífrase -
Lisboa
Narrador
participante:
Vasco da
Gama a
contar a
própria
viagem
Descrição dos soldados,
prontos para descobrir novos
mundos.
As naus são personificadas e
prometem levar aqueles
homens à imortalidade.
Preparação do rei
Apresentação dos
marinheiros e
soldados
6. 86
Depois de aparelhados desta sorte
De quanto tal viagem pede e manda,
Aparelhamos a alma para a morte,
Que sempre aos nautas ante os olhos anda.
Para o sumo Poder que a etérea corte
Sustenta só coa vista veneranda,
Imploramos favor que nos guiasse,
E que nossos começos aspirasse.
87
Partimo-nos assim do santo templo
Que nas praias do mar está assentado,
Que o nome tem da terra, para exemplo,
Donde Deus foi em carne ao mundo dado.
Certifico-te, ó Rei, que se contemplo
Como fui destas praias apartado,
Cheio dentro de dúvida e receio,
Que apenas nos meus olhos ponho o freio.
Perífrase:
Deus
As condições físicas estão
asseguradas, há que
preparar o espírito para o
perigo da morte, que sempre
existe.
Vasco da Gama recorda a
oração e pedido de
protecção e ajuda a Deus
para esta viagem.
Partiram da ermida de Nossa
S. de Belém.
Deus
Cristão
Perífrase:
Belém
Apóstrofe ao rei de Melinde,
recordando a dúvida e o
receio que sentira, mas que
tentara disfarçar.
Apóstrofe:
Rei de
Melinde
Apresentação do
estado de espírito
de Vasco da
Gama
7. 88
A gente da cidade aquele dia,
(Uns por amigos, outros por parentes,
Outros por ver somente) concorria,
Saudosos na vista e descontentes.
E nós coa virtuosa companhia
De mil Religiosos diligentes,
Em procissão solene a Deus orando,
Para os batéis viemos caminhando.
89
Em tão longo caminho e duvidoso
Por perdidos as gentes nos julgavam;
As mulheres c'um choro piedoso,
Os homens com suspiros que arrancavam;
Mães, esposas, irmãs, que o temeroso
Amor mais desconfia, acrescentavam
A desesperarão, e frio medo
De já nos não tornar a ver tão cedo.
Apresentação do
estado de espírito
das gentes No dia da partida, havia
muitos presentes
descontentes/ infelizes.
A comitiva fez-se
acompanhar de religiosos em
procissão.
Enumeração
de pessoas
que não
acreditavam
voltar a ver
os que
embarcavam
O povo não acreditava no
sucesso desta expedição.
8. 90
Qual vai dizendo: -" Ó filho, a quem eu tinha
Só para refrigério, e doce amparo
Desta cansada já velhice minha,
Que em choro acabará, penoso e amaro,
Por que me deixas, mísera e mesquinha?
Por que de mim te vás, ó filho caro,
A fazer o funéreo enterramento,
Onde sejas de peixes mantimento!" –
91
"Qual em cabelo: -"Ó doce e amado esposo,
Sem quem não quis Amor que viver possa,
Por que is aventurar ao mar iroso
Essa vida que é minha, e não é vossa?
Como por um caminho duvidoso
Vos esquece a afeição tão doce nossa?
Nosso amor, nosso vão contentamento
Quereis que com as velas leve o vento?" -
92
Nestas e outras palavras que diziam
De amor e de piedosa humanidade,
Os velhos e os meninos os seguiam,
Em quem menos esforço põe a idade.
Os montes de mais perto respondiam,
Quase movidos de alta piedade;
A branca areia as lágrimas banhavam,
Que em multidão com elas se igualavam.
Apresentam-se dois casos de
lamúrias/queixas:
. Os filhos, que deveriam
acompanhar os pais e ajudá-
los, são afastados.
. Os homens que
abandonavam os lares para
se aventurarem no mar.
* Crítica aos descobrimentos
ao facto de se abandonar o
país e o seu
desenvolvimento.
O narrador diz que todos
tinham esta perspetiva.
E até a natureza responde a
esta dor.
Personificação
9. 93
Nós outros sem a vista alevantarmos
Nem a mãe, nem a esposa, neste estado,
Por nos não magoarmos, ou mudarmos
Do propósito firme começado,
Determinei de assim nos embarcarmos
Sem o despedimento costumado,
Que, posto que é de amor usança boa,
A quem se aparta, ou fica, mais magoa.
O narrador diz que a tripulação não parou os
seus olhos naqueles que deixava para não
sofrer, nem se deixar mover dos seus
propósitos.
Vasco da Gama não quis demorar as
despedidas que sempre magoam.
10. 1 – Apresenta o estado de espírito dos vários elementos presentes neste
episódio. (Vasco da Gama, os marinheiros e soldados e as gentes)
. Soldados e navegadores – com ânimo juvenil; prontos para seguir viagem.
. Vasco da gama – consciente; receoso; duvidoso.
. Gentes – saudosos; descontentes; em desespero; sem esperança; sem
acreditarem no sucesso desta armada.
2 – Nas estâncias 90 e 91 estão apresentados dois casos concretos de
consequências das descobertas. Apresenta-os.
11.
12. 94
Mas um velho d'aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
95
- Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
Apresentação de um velho
que fica nas praias:
- Aspeto respeitado
- Descontente
- Experiente
. As características do Velho
reforçam a legitimidade desta
figura.
. Atitude crítica em relação
à política dos
descobrimentos:
- Denuncia a atitude de
cobiça e vaidade
associada às
Descobertas,
apresentada com uma
imagem de Honra e
Fama.
. Tom de revolta/ desalento/
exclamações
13. 96
— "Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!
A fama e a glória é
apresentada como:
- Consome o dinheiro
do reino;
- Fonte de
desamparos e
adultérios;
- Forma de enganar
o povo inculto.
—"A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?
. Sucessão de
interrogações retóricas
dirigidas à Fama e À
Glória que levantam
suspeitas.
Tom irónico e acusativo
14. 98
"Mas ó tu, geração daquele insano,
Cujo pecado e desobediência,
Não somente do reino soberano
Te pôs neste desterro e triste ausência,
Mas inda doutro estado mais que humano
Da quieta e da simples inocência,
Idade d'ouro, tanto te privou,
Que na de ferro e d'armas te deitou:
99
"Já que nesta gostosa vaidade
Tanto enlevas a leve fantasia,
Já que à bruta crueza e feridade
Puseste nome esforço e valentia,
Já que prezas em tanta quantidade
O desprezo da vida, que devia
De ser sempre estimada, pois que já
Temeu tanto perdê-la quem a dá,
Nova apóstrofe, agora à
humanidade, que desde
do início se mostrou
desobediente
Perífrase
-Adão
Perífrase
-Guerra
Irónico
Acusa de haver uma errada
interpretação dos factos:
O que é crueldade é visto
como esforço e valentia.
16. 100
"Não tens junto contigo o Ismaelita,
Com quem sempre terás guerras sobejas?
Não segue ele do Arábio a lei maldita,
Se tu pela de Cristo só pelejas?
Não tem cidades mil, terra infinita,
Se terras e riqueza mais desejas?
Não é ele por armas esforçado,
Se queres por vitórias ser louvado?
101
"Deixas criar às portas o inimigo,
Por ires buscar outro de tão longe,
Por quem se despovoe o Reino antigo,
Se enfraqueça e se vá deitando a longe?
Buscas o incerto e incógnito perigo
Por que a fama te exalte e te lisonge,
Chamando-te senhor, com larga cópia,
Da Índia, Pérsia, Arábia e de Etiópia?
Aponta uma nova
possibilidade (com uma série
de perguntas retóricas) para:
- Demonstrar a coragem do
povo
- Difundir a fé cristã
- Aumentar a riqueza do
reino
- Encontrar um inimigo à
altura do povo português
Esse local é Norte de África
Acusa o povo português
de deixar o inimigo que
está perto para ir buscar
um outro que implica a
sua fragilidade.
Tudo é afinal uma farsa
17. 102
"Ó maldito o primeiro que no mundo
Nas ondas velas pôs em seco lenho,
Dino da eterna pena do profundo,
Se é justa a justa lei, que sigo e tenho!
Nunca juízo algum alto e profundo,
Nem cítara sonora, ou vivo engenho,
Te dê por isso fama nem memória,
Mas contigo se acabe o nome e glória.
"Trouxe o filho de Jápeto do Céu
O fogo que ajuntou ao peito humano,
Fogo que o mundo em armas acendeu
Em mortes, em desonras (grande engano).
Quanto melhor nos fora, Prometeu,
E quanto para o mundo menos dano,
Que a tua estátua ilustre não tivera
Fogo de altos desejos, que a movera!
Amaldiçoa o primeiro
Homem que navegou e
deseja que a
exploração dos mares
não seja motivo de
glória
Lembra a figura de
Prometeu: associado à
ambição desmedida
Prometeu- terá criado uma estátua
em barro à qual deu vida com o fogo
que roubou do carro do sol, assim
terá surgido a raça humana.
Prometeu foi castigado depois por
Zeus que o amarrou no monte
Cáucaso, onde os abutres lhe
devoram as entranhas que renascem
diariamente (castigo eterno)
18. 104
"Não cometera o moço miserando
O carro alto do pai, nem o ar vazio
O grande Arquiteto co'o filho, dando
Um, nome ao mar, e o outro, fama ao rio.
Nenhum cometimento alto e nefando,
Por fogo, ferro, água, calma e frio,
Deixa intentado a humana geração.
Mísera sorte, estranha condição!" —
Lembra a figura de
Faetonte e de Ícaro:
associados à ambição
desmedida e à
penalização da mesma
Conclusão
Faetonte, ao conduzir o
caro do Sol caiu no rio Pó.
Dédalo construir o labirinto
de Creta e ficou lá encerrado
com o filho, Ícaro, contruiu
umas asas de cera.
Fascinado com o voo
aproximou-se do céu e as
asas descolaram-se,
fazendo Ícaro cair no mar
19. Discurso contraditório do Velho do Restelo
• Crítica àquilo a que chama a condição humana;
• Tudo o que a vigem representa é, na opinião do Velho uma forma de enganar
o povo que não sabe a diferença entre o ser e o parecer
• As viagens só acarretam desgraças: desamparos, adultérios, ruína económica,
perigos, mortes
• Todo o discurso é pontuado por apóstrofes, interrogações, exclamações, logo
muito emotivo;
• O ser humano é apresentado como insatisfeito, inquieto, sempre pronto a
partir, a ousar, a arriscar
• Reflete um bom senso e um uso da razão associado à experiência e à
compreensão da vida e da natureza humana;
• Muito lúcido sabe que as suas palavras não vão ser ouvidas;
• Representa toda a corrente de opinião contrária às descobertas, que Camões
parece apoiar
• Herói – que surge desta contradição
- é aquele que em nome da lealdade, parte, arrisca;
- é o que é movido pelo impulso de grandeza sem uso do bom senso e razão;
- é animado pela força interior, na superação de todos os obstáculos, apesar
dos perigos
20. Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
21. - Cada um de nós à sua maneira
segura o leme da vida. Para onde
queres navegar?
Elabora um texto expositivo-
argumentativo onde desenvolvas
esta questão e onde faças
referências ao poema Homem do
leme.
Sozinho na noite
um barco ruma para onde vai.
Uma luz no escuro brilha a direito
ofusca as demais.
E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...
E uma vontade de rir, nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...
No fundo do mar
jazem os outros, os que lá ficaram.
Em dias cinzentos
descanso eterno lá encontraram.
E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...
E uma vontade de rir, nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...
No fundo horizonte
sopra o murmúrio para onde vai.
No fundo do tempo
foge o futuro, é tarde demais...
E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...
22. – O sonho é o caminho para o
sucesso ou é o caminho para a
ilusão?
Elabora um texto expositivo-
argumentativo onde desenvolvas
esta questão e onde faças
referências ao poema Pedra
Filosofal de António Gedeão.
Pedra Filosofal – António Gedeão
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se
agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é
fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa
Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem
sonham,
que o sonho comanda a
vida,
que sempre que um homem
sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma
criança.
23. Canto V – considerações do poeta após o final da narração de Vasco da Gama
A importância das artes; estâncias 90-100
24. Canto V – considerações do poeta após o final da narração de Vasco da Gama
A importância das artes; estâncias 90-100
90
Da boca do fecundo Capitão
Pendendo estavam todos, embebidos,
Quando deu fim à longa narração
Dos altos feitos, grandes e subidos.
Louva o Rei o sublime coração
Dos Reis em tantas guerras conhecidos;
Da gente louva a antiga fortaleza,
A lealdade d'ânimo e nobreza.
91
Vai recontando o povo, que se admira,
O caso cada qual que mais notou;
Nenhum deles da gente os olhos tira
Que tão longos caminhos rodeou.
Mas já o mancebo Délio as rédeas vira
Que o irmão de Lampécia(1) mal guiou,
Por vir a descansar nos Tétios braços;
E el-Rei se vai do mar aos nobres paços.
. Fim do discurso de Gama;
Camões retoma a narração
. Todos os que o ouviam
estavam fascinados com a
narração.
. O Rei de Melinde louva toda
a geração de reis, destacando
as características deste povo.
. O povo de Melinde vai
recordando o episódio de que mais
gostou e todos admiram os
portugueses.
. Construção de uma imagem
mitológica para representar o pôr
do sol.
. O rei de Melinde que tem estado
na embarcação de Gama vai para
terra
25. (1) “irmão de Lampécia” – Faetonte
Um dia pediu a seu pai as rédeas do carro do
Sol. Délio/ Apolo inicialmente recusou mas
acabou por aceder, dando-lhe a indicação se
que rota deveria seguir. No entanto Faetonte
não conseguiu manter essa rota ora subindo
demasiado e provocando oscilações nos astros
ora descendo e arriscando-se a provocar
destruição na terra. A fim de prevenir um
desastre Zeus viu-se obrigado a fulminá-lo com
um raio e Faetonte precipitou-se sobre o rio Pó,
no norte da Itália ).
26. 92
Quão doce é o louvor e a justa glória
Dos próprios feitos, quando são soados!
Qualquer nobre trabalha que em memória
Vença ou iguale os grandes já passados.
As envejas da ilustre e alheia história
Fazem mil vezes feitos sublimados.
Quem valerosas obras exercita,
Louvor alheio muito o esperta e incita.
93
Não tinha em tanto os feitos gloriosos
De Aquiles, Alexandro, na peleja,
Quanto de quem o canta os numerosos
Versos: isso só louva, isso deseja.
Os troféus de Milcíades, famosos,
Temístocles despertam só de enveja;
E diz que nada tanto o deleitava.
Como a voz que seus feitos celebrava.
. Início da reflexão propriamente dita
em tom exclamativo:
- O louvor quando é merecido é
doce, é bom.
- Todos desejam igualar os feitos
de uma gesta tão gloriosa
- O louvor dos feitos é
fundamental, pois incita. Quem
merece deve ser louvado/
reconhecido.
- Alusão a exemplos para a
confirmação dos seus
argumentos:
- Alexandre apreciou os versos de
Homero sobre Aquiles
- Milcíades e Temístocles são
generais gregos que também
apreciavam a poesia.
27. 94
Trabalha por mostrar Vasco da Gama
Que essas navegações que o mundo canta
Não merecem tamanha glória e fama
Como a sua, que o Céu e a Terra espanta.
Si; mas aquele Herói que estima e ama
Com dões, mercês (1), favores e honra tanta
A lira Mantuana (2) , faz que soe
Eneias, e a Romana glória voe.
95
Dá a terra Lusitana Cipiões, Césares,
Alexandros, e dá Augustos;
Mas não lhe dá contudo aqueles dões
Cuja falta os faz duros e robustos.
Octávio, entre as maiores opressões,
Compunha versos doutos e venustos
(Não dirá Fúlvia, certo, que é mentira,
Quando a deixava António por Glafira *).
- Gama tenta provar que os feitos
que são reconhecidos no mundo
não são tão gloriosos como
aqueles que ele desempenha,
pois a terra e o céu espanta.
(Hipérbole)
- Camões mostra a proteção de
Augusto a Vírgilio.
- (1) Augusto – Imperador que
valorizava as artes
- (2) e fez com que a obra épica
de de Virgílio (de Mantua) seja
reconhecida.
- A terra lusitana, ou seja Portugal,
tem grandes lideres militares
- Mas não tem o apreço pela cultura.
Por isso os portugueses são duros
e robustos, ou seja rudes. (crítica)
- Exemplificação: Otávio, mesmo
com muitas dificuldades fazia
versos.(1) Flúvia: mulher de Marco António que a abandonou
por Gladira. Na sequência desta história pediu a
Octávio que fizesse uns poemas.
28. 96
Vai César sojugando toda França
E as armas não lhe impedem a ciência;
Mas, nüa mão a pena e noutra a lança,
Igualava de Cícero a eloquência.
O que de Cipião se sabe e alcança
É nas comédias grande experiência.
Lia Alexandro a Homero de maneira
Que sempre se lhe sabe à cabeceira.
97
Enfim, não houve forte Capitão
Que não fosse também douto e ciente,
Da Lácia, Grega ou Bárbara nação,
Senão da Portuguesa tão somente.
Sem vergonha o não digo: que a razão
De algum não ser por versos excelente
É não se ver prezado o verso e rima,
Porque quem não sabe arte, não na estima.
Novos exemplos:
- César anda a combater, mas
continua um apreciador da ciência;
- Cipião (general) o que se sabe
dele está presente no teatro
(comédias)
- Alexandre lia Homero de forma
constante.
A ideia fundamental é salientar que a
bravura e a cultura devem andar lado
a lado, ou seja, numa mão a pena e
na outra a espada.
Só em Portugal isto não acontece o
que traz tristeza e vergonha ao poeta.
(caso de exceção)
Se não há mais louvores ao povo
português é porque não se valorizam
as artes.
Quem não conhece a arte não a
consegue apreciar e esse é o caso
dos portugueses
29. 98
Por isso, e não por falta de natura,
Não há também Virgílios nem Homeros;
Nem haverá, se este costume dura,
Pios Eneias nem Aquiles feros.
Mas o pior de tudo é que a ventura
Tão ásperos os fez e tão austeros,
Tão rudos e de engenho tão remisso,
Que a muitos lhe dá pouco ou nada disso.
99
Às Musas agardeça o nosso Gama
O muito amor da pátria, que as obriga
A dar aos seus, na lira, nome e fama
De toda a ilustre e bélica fadiga;
Que ele, nem quem na estirpe seu se chama,
Calíope não tem por tão amiga
Nem as filhas do Tejo, que deixassem
As telas d'ouro fino e que o cantassem.
- Por causa desse desprezo (e não
por falta de capacidades) em
Portugal também não há grandes
escritores como Vírgilio ou Homero;
Nem haverá heróis que essa atitude
continuar
- O destino fez os portugueses
ásperos, austeros, rudes.
- Volta ao caso de Gama, que
deve agradecer ao amor à pátria,
o facto de estar a ser louvado,
pois ele não é amigo de Calíope,
ou seja também não é um
apreciador da poesia.
portugueses
História de Portugal
Poesia lírica
30. 100
Porque o amor fraterno e puro gosto
De dar a todo o Lusitano feito
Seu louvor, é somente o pros[s]uposto
Das Tágides gentis, e seu respeito.
Porém não deixe, enfim, de ter disposto
Ninguém a grandes obras sempre o peito:
Que, por esta ou por outra qualquer via,
Não perderá seu preço e sua valia.
As tágides apenas querem
glorificar os feitos lusitanos
Mesmo assim, apesar de
tudo isto, as obras
valerosas deverão sempre
continuar que sempre
serão reconhecidas
• Comentário crítico ao não cultivo das artes e da poesia, entre os
portugueses.
• As artes são fundamentais para que se faça a divulgação dos feitos dos
heróis.
• Ser grandioso é sê-lo na coragem, mas também na proteção das artes;
• O ideal de herói será aliar a “espada” à “pena” como o fizeram os antigos e
como o faz Camões;
• Camões constrói assim a linha moral de Os Lusíadas.
31.
32. Canto VI– considerações do poeta; O mérito próprio; estâncias 95 - 99
95
Por meio destes hórridos perigos,
Destes trabalhos graves e temores,
Alcançam os que são de fama amigos
As honras imortais e graus maiores;
Não encostados sempre nos antigos
Troncos nobres de seus antecessores;
Não nos leitos dourados, entre os finos
Animais de Moscóvia zibelinos;
Não cos manjares novos e esquisitos,
Não cos passeios moles e ouciosos,
Não cos vários deleites e infinitos,
Que afeminam os peitos generosos;
Não cos nunca vencidos apetitos,
Que a Fortuna tem sempre tão mimosos,
Que não sofre a nenhum que o passo mude
Pera algüa obra heróica de virtude;
Os portugueses acabam de chegar à Índia
. Assim enfrentando perigos e
dificuldades, os portugueses
alcançam a imortalidade
E não como alguns fazem
Que se apoiam nos feitos dos
outros, nos antepassados e se
acomodam à proteção e
riqueza que têm.
Não recorrendo ao excêntrico
à preguiça
ao prazer
. O ambiente atraente e luxuoso
não permite que ninguém mude
o rumo para se dedicar à
realização de obras de
verdadeiro valor.
Enumeraçãodosfeitos/açõesquenão
conduzemàglória/honraimortal
Martas/peles caras
33. 97
Mas com buscar, co seu forçoso braço,
As honras que ele chame próprias suas;
Vigiando e vestindo o forjado aço,
Sofrendo tempestades e ondas cruas,
Vencendo os torpes frios no regaço
Do Sul, e regiões de abrigo nuas,
Engolindo o corrupto mantimento
Temperado com um árduo sofrimento;
98
E com forçar o rosto, que se enfia,
A parecer seguro, ledo, inteiro,
Pera o pelouro ardente que assovia
E leva a perna ou braço ao companheiro.
Destarte o peito um calo honroso cria,
Desprezador das honras e dinheiro,
Das honras e dinheiro que a ventura
Forjou, e não virtude justa e dura.
. Consegue-se a glória:
- Com a busca constante;
- O sofrimento as dificuldades, a
busca pessoal, as vitórias
O uso o infinitivo e do gerúndio
reforçam a ideia de um processo
contante, ininterrupto, contínuo.
E ainda
- Encarando o nosso sofrimento e
o sofrimento alheio;
- Dominando o medo, não
mostrando medo
Assim (introduz a conclusão da
reflexão)
- O peito fica fortalecido
- Despreza os bens materiais
- Valoriza a virtude justa e dura.
Por oposição à anáfora
34. 99
Destarte se esclarece o entendimento,
Que experiências fazem repousado,
E fica vendo, como de alto assento,
O baxo trato humano embaraçado.
Este, onde tiver força o regimento
Direito e não de afeitos ocupado,
Subirá (como deve) a ilustre mando,
Contra vontade sua, e não rogando.
- Novas considerações de caráter moral e pedagógico sobre como se pode
alcançar a glória;
- Para se ser herói e merecer glória, o Homem não se pode acomodar ou
deixar seduzir pela riqueza e tranquilidade ; deve buscar novos desafios;
deve enfrentar o seu sofrimento e o dos outros;
- Estas considerações constituem críticas indiretas aos seus contemporâneos
que ouvem ou leem o seu Poema.
Continua a conclusão:
- Assim, da forma descrita se
esclarece que se atinge a serenidade
que permite julgar as confusas
relações entre os homens.
- É este tipo de Homem que deve
ser líder e deve ser louvado:
- aquele que é regido pelo
direito e não pela amizade
- aquele que atinge a glória
contra sua vontade/ sem pedir
favores/ por mérito.
36. Canto VII– considerações do poeta;
estâncias 2,3,14 (empenho na difusão da fé)
2
A vós, ó geração de Luso, digo,
Que tão pequena parte sois no mundo,
Não digo inda no mundo, mas no amigo
Curral de Quem governa o Céu rotundo;
Vós, a quem não somente algum perigo
Estorva conquistar o povo imundo,
Mas nem cobiça ou pouca obediência
Da Madre que nos Céus está em essência;
3
Vós, Portugueses, poucos quanto fortes,
Que o fraco poder vosso não pesais;
Vós, que, à custa de vossas várias mortes,
A lei da vida eterna dilatais:
Assi do Céu deitadas são as sortes
Que vós, por muito poucos que sejais,
Muito façais na santa Cristandade.
Que tanto, ó Cristo, exaltas a humildade!
Apóstrofe repetida aos
portugueses;
Sacrifício pela dilatação da fé
Somos poucos mas temos
um grande impacto na
cristianização.
37. 14
Mas, entanto que cegos e sedentos
Andais de vosso sangue, ó gente insana,
Não faltaram Cristãos atrevimentos
Nesta pequena casa Lusitana.____Portugal
De Africa tem marítimos assentos;
É na Ásia mais que todas soberana;
Na quarta parte nova os campos ara; ___ Brasil/ América
E, se mais mundo houvera, lá chegara.
(empenho na difusão da fé)
- A propósito da chegada à India tecem-se considerações sobre a
necessidade dos povos europeus seguirem o exemplo dos portugueses e
se empenharem na missão de difundir a fé de Cristo entre os povos
pagãos;
- Reforço da noção de missão.
Nova apóstrofe
Aos povos europeus que
muitas vezes guerreiam
entre si/lutas fratricidas.
Acrescenta que a audácia
cristã nunca faltou em
Portugal.
38. 78
Um ramo na mão tinha... Mas, ó cego,
Eu, que cometo, insano e temerário,
Sem vós, Ninfas do Tejo e do Mondego,
Por caminho tão árduo, longo e vário!
Vosso favor invoco, que navego
Por alto mar, com vento tão contrário
Que, se não me ajudais, hei grande medo
Que o meu fraco batel se alague cedo.
Olhai que há tanto tempo que, cantando
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,
A Fortuna me traz peregrinando,
Novos trabalhos vendo e novos danos:
Agora o mar, agora experimentando
Os perigos Mavórcios inumanos,
Qual Cánace, que à morte se condena,
Nüa mão sempre a espada e noutra a pena;
Canto VII– Considerações do poeta; estâncias 78 – 87
(Invocação e proposição invertida: apresenta quem não cantará)
apóstrofe
Dirige-se à ninfas e desabafa
dizendo que este percurso da
escrita é longo e árduo.
Constrói uma metáfora entre a
escrita e o mar, pondo em
evidência que a escrita da
epopeia é difícil.
Metáfora:
Mar,
ventos=
obstáculos à
escrita
Remete para o presente da
escrita, mostrando que o destino
não lhe tem sido favorável.
Inicia a enumeração de factos
que caracterizam a sua vida:
- Enfrenta o mar e a guerra;
- Enfrenta os perigos, mas
nunca abandona a arte da
escrita;
39. 80
Agora, com pobreza avorrecida,
Por hospícios alheios degradado;
Agora, da esperança já adquirida,
De novo mais que nunca derribado;
Agora às costas escapando a vida,
Que dum fio pendia tão delgado
Que não menos milagre foi salvar-se
Que pera o Rei Judaico acrecentar-se.
81
E ainda, Ninfas minhas, não bastava
Que tamanhas misérias me cercassem,
Senão que aqueles que eu cantando andava
Tal prémio de meus versos me tornassem:
A troco dos descansos que esperava,
Das capelas de louro que me honrassem,
Trabalhos nunca usados me inventaram,
Com que em tão duro estado me deitaram!
- Enfrenta a pobreza;
- Encara a desilusão;
- Sofre um naufrágio e tem de
lutar pela vida, mas é
milagrosamente salvo.
Perífrase:
portugueses
apóstrofe
Além de todas as misérias
pessoais, Camões lamenta
que os portugueses não
valorizem o seu trabalho;
Em troco de tudo o que fez
ao glorificar os portugueses,
Camões apenas recebe
miséria e desprezo.
40. Vede, Ninfas, que engenhos de senhores
O vosso Tejo cria valerosos,
Que assi sabem prezar, com tais favores,
A quem os faz, cantando, gloriosos!
Que exemplos a futuros escritores,
Pera espertar engenhos curiosos,
Pera porem as cousas em memória
Que merecerem ter eterna glória!
83
Pois logo, em tantos males, é forçado
Que só vosso favor me não faleça,
Principalmente aqui, que sou chegado
Onde feitos diversos engrandeça:
Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado
Que não no empregue em quem o não
mereça,
Nem por lisonja louve algum subido,
Sob pena de não ser agradecido.
apóstrofe
ironia
Pede atenção para os ditos
senhores que não sabem
valorizar quem os glorifica.
Destaca o facto de estes
senhores serem maus
exemplos para futuros
escritores, que não se
sentirão inspirados a
escrever sobre alguém que
não os valoriza.
Neste contexto, só espera
que a inspiração e o apoio
das ninfas não lhe falte.
Jura que usará essa
inspiração de forma
correta:
- Louvando quem mereça;
- Não se deixando
influenciar de forma
alguma;
proposição invertida: apresenta quem não cantará
41. 84
Nem creiais, Ninfas, não, que fama desse
A quem ao bem comum e do seu Rei
Antepuser seu próprio interesse,
Imigo da divina e humana Lei.
Nenhum ambicioso que quisesse
Subir a grandes cargos, cantarei,
Só por poder com torpes exercícios
Usar mais largamente de seus vícios;
85
Nenhum que use de seu poder bastante
Pera servir a seu desejo feio,
E que, por comprazer ao vulgo errante,
Se muda em mais figuras que Proteio.
Nem, Camenas, também cuideis que cante
Quem, com hábito honesto e grave, veio,
Por contentar o Rei, no ofício novo,
A despir e roubar o pobre povo!
Usará a inspiração de
forma correta:
- Não louvará quem põe o
interesse próprio em
primeiro lugar;
- Não louvará os
ambiciosos, que apenas
querem poder;
- Não louvará quem use o
seu poder e quem seja
falso;
- Não louvará as pessoas
que apenas querem
agradar ao rei e
desrespeitam o povo.
42. 86
Nem quem acha que é justo e que é direito
Guardar-se a lei do Rei severamente,
E não acha que é justo e bom respeito
Que se pague o suor da servil gente;
Nem quem sempre, com pouco experto peito,
Razões aprende, e cuida que é prudente,
Pera taxar, com mão rapace e escassa,
Os trabalhos alheios que não passa.
87
Aqueles sós direi que aventuraram
Por seu Deus, por seu Rei, a amada vida,
Onde, perdendo-a, em fama a dilataram,
Tão bem de suas obras merecida.
Apolo e as Musas, que me acompanharam,
Me dobrarão a fúria concedida,
Enquanto eu tomo alento, descansado,
Por tornar ao trabalho, mais folgado.
- Não louvar os que
cumprem cegamente as
regras do rei não
respeitando o trabalho e
esforço do povo; (crítica
implícita às leis régias)
- não louvará quem não dá
a recompensa a quem
trabalha e se esforça.
Apresenta agora pela
positiva quem quer louvar:
- Aqueles que servem a
Deus e ao Rei dedicando
a sua vida e assim
ganhando a memória, a
glória e a imortalidade.
Camões acredita que a sua
inspiração sairá reforçada e
que voltará ao seu trabalho
de escrita mais inspirado e
folgado.
43. Importância e Atualidade
Pouca valorização da arte, em especial da literatura;
Informação tendenciosa, ou seja, na imprensa, por
vezes, os críticos e jornalistas privilegiam uma ou outra
parte;
44. Importância e Atualidade
o perfil de pessoa descrita:
Pessoas que só agem em função do seu interesse
pessoal ;
Pessoas ambiciosas e com fome de poder;
Pessoas falsas e oportunistas;
Pessoas bajuladoras
Pessoas que não respeitam as classes mais baixas;
Pessoas injustas.
45. Canto VIII– considerações do poeta; O poder do ouro/ traição; estâncias 96 - 99
96
Nas naus estar se deixa, vagaroso,
Até ver o que o tempo lhe descobre;
Que não se fia já do cobiçoso
Regedor, corrompido e pouco nobre.
Veja agora o juízo curioso
Quanto no rico, assi como no pobre,
Pode o vil interesse e sede imiga
Do dinheiro, que a tudo nos obriga!
97
A Polidoro mata o Rei Treício,
Só por ficar senhor do grão tesouro;
Entra, pelo fortíssimo edifício,
Com a filha de Acriso a chuva d'ouro;
Pode tanto em Tarpeia avaro vício
Que, a troco do metal luzente e louro,
Entrega aos inimigos a alta torre,
Do qual quási afogada em pago morre.
Em Calecute, Baco volta a intervir, Gama é retido e é-lhe exigido o pagamento de fazendas.
Gama, depois de ter sido retido
pelo Catual, não confia nele, pois
considera-o um homem cobiçoso,
corrompido e pouco nobre.
Reflexão/dimensão moral e
filosófica: Tese: o dinheiro
controla o pobre e o rico.
comparação
Exemplificação: Figuras
históricas e
lendárias/míticas que tudo
fizeram por dinheiro e
para manter os poderes
que tinham:
- Polidoro
- Acriso
- Tarpeia
46. 98
Este rende munidas fortalezas;
Faz trédoros e falsos os amigos;
Este a mais nobres faz fazer vilezas,
E entrega Capitães aos inimigos;
Este corrompe virginais purezas,
Sem temer de honra ou fama alguns perigos;
Este deprava às vezes as ciências,
Os juízos cegando e as consciências.
99
Este interpreta mais que sutilmente
Os textos; este faz e desfaz leis;
Este causa os perjúrios entre a gente
E mil vezes tiranos torna os Reis.
Até os que só a Deus omnipotente
Se dedicam, mil vezes ouvireis
Que corrompe este encantador, e ilude;
Mas não sem cor, contudo, de virtude!
O DINHEIRO Efeitos da ação corruptiva do
dinheiro:
- Constrói poder;
- Fomenta traições;
- Corrompe até os melhores;
- Torna tudo impuro;
- Manipula a ciência e cega as
consciências;
- Manipula a informação;
- Está na base de muitas leis;
- Provoca mentiras;
- É causa das tiranias;
- Corrompe até o clero
Mas sempre sob a aparência
de algo bom e positivo.
Dissimulação.
Perífrase:
Clero
47. O Dinheiro não Compra a Felicidade
O dinheiro não compra a felicidade, mas alivia a infelicidade. O dinheiro não
compra a felicidade, mas torna a infelicidade mais pura, livrando-a das distrações
desconfortáveis, provocadas pela falta de dinheiro, que concorrem com ela,
disputando prioridades.
A felicidade está para o dinheiro como o riso para o meio de transporte. Há uma
relação - mas estão apenas vagamente relacionados. Dito doutra maneira, é mais
fácil estar-se triste quando não se tem dinheiro. A frase propagandística tem de ter
alguma verdade para funcionar. Sim, o dinheiro não compra a felicidade - mas isso
é uma frouxa máxima para quem tem dinheiro e, por causa disso, pensa que pode
ser feliz.
Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público (9 Out 2011)‘
48. Episódio da ilha dos amores - plano da viagem e plano mitológico – canto IX
episódio simbólico
49. • A Ilha dos Amores simboliza a glorificação pelos feitos heroicos, a
imortalidade do nome, para sempre gravado na História.
• Ainda antes de os nautas encontrarem a ilha, Cupido organiza uma
expedição contra todos os que não amam, abrindo espaço para a crítica
de Camões aos mais favorecidos, clero, nobreza, rei.
• Os marinheiros adivinham e avistam por
entre os ramos das árvores as cores dos
tecidos das vestes das ninfas, as quais,
deliberadamente, se vão deixando alcançar.
Outras são surpreendidas no banho e
correm nuas por entre o mato, enquanto
alguns jovens entram vestidos na água.
Elas não fogem e deixam-se cair aos pés
de seus perseguidores.
Ação narrativa: encontro entre o plano mitológico e o plano da viagem