O documento apresenta informações sobre Luís Vaz de Camões e sua obra épica Os Lusíadas. Em três frases, resume-se:
1) Apresenta dados biográficos sobre Camões, nascido em 1524 e falecido em 1580, e características gerais do período literário renascentista português. 2) Detalha aspectos da estrutura da epopeia como a presença de mitologia greco-latina, divisão em cantos e estâncias, e os quatro planos narrativos da obra. 3) Discor
1. Luís Vaz de Camões parte A
Professora: Lurdes Augusto
10ºANO
2. Época - 1524 (?) - 1580
Professora: Lurdes Augusto
3.
4. Em síntese:
Características gerais:
* Racionalidade
* Rigor Científico
* Dignidade do Ser Humano
* Ideal Humanista
* Reutilização das artes greco-romana s
a) Racionalismo – a razão é o único caminho para se chegar ao conhecimento.
b) Experimentalismo – todo o conhecimento deverá ser demonstrado
racionalmente.
c) Antropocentrismo – colocava o homem como a suprema criação de Deus e como
o centro do universo.
d) Humanismo – glorificação do homem e da natureza humana, em contraposição
ao divino e ao sobrenatural.
e) Classicismo - movimento cultural que valoriza e recupera os elementos artísticos
da cultura clássica (greco-romana). Ocorreu nas artes plásticas, teatro e literatura,
nos séculos XIV ao XVI.
6. Mitificação do herói
• Exaltação dos heróis;
• Verdadeiros símbolos da capacidade de ultrapassar “a força humana” e de
merecerem um lugar na memória;
• Vasco da gama é mais do que um herói individual ou a representação do
herói coletivo, representa o espírito de aventura;
• A viagem é mais do que um percurso é a passagem do desconhecido, do
velho continente, do medo de mitos indefinidos ao conhecimento e à
realidade de um mundo a descobrir;
7. Contra a cobiça e
as desigualdades
Elogio da
experiência
Contra a
degeneração da
nobreza e ainda
contra a
adulação
Contra a má
prática religiosa
Crítica ao
desprezo pelas
artes e pelas
letras
O Poder do amor
Crítica à vã
Glória, ao desejo
de Fama e à
cobiça.Linha moral
Reflexões do poeta
8. As características da epopeia:
• A epopeia é um género narrativo em verso;
•é um género narrativo e que exige a presença de uma ação, desempenhada por personagens num
determinado tempo e espaço.
• visa celebrar feitos grandiosos de heróis fora do comum reais ou lendários.;
• tem pois sempre um fundo histórico;
• funciona como um exemplo universal;
•PRESENÇA DE MITOLOGIA GRECO-LATINA - contracenando heróis mitológicos e heróis humanos.
• O estilo é elevado e grandioso e possui uma estrutura interna própria:
• Tem uma estrutura externa própria ( no caso de Os Lusíadas):
- Divisão em dez cantos
- cada canto dividido em estâncias
- cada estância com oito versos
- cada verso com dez silabas métricas - decassilabos
- PROPOSIÇÃO - em que o autor apresenta a matéria do poema;
- INVOCAÇÃO – pedido de inspiração às musas ou outras divindades e entidades míticas protetoras das
artes;
- DEDICATÓRIA - em que o autor dedica o poema a alguém (facultativa);
- NARRAÇÃO - a ação inicia-se já no decurso dos acontecimentos (“in media res”), sendo a parte inicial
narrada posteriormente num processo de retrospetiva, “flash-back” ou “analepse”;
Ver silabas
métricas
9. A narrativa organiza-se em quatro planos:
Plano da viagem - A viagem de Vasco da Gama de Lisboa até à Índia.
Saída de Belém, paragem em Melinde e chegada a Calecut e por fim, regresso a Lisboa
Plano Mitológico, em alternância, ocupa uma posição importante.
Plano da História de Portugal – Quando Vasco da Gama ou outro
narrador conta, por exemplo ao rei de Melinde, a História de Portugal.
Está encaixada na viagem.
Plano do Poeta – ou as considerações pessoais aparecem normalmente
nos finais de canto e constituem, de um modo geral, a visão crítica do
poeta sobre o seu tempo.
A narrativa organiza-se de forma anacrónica:
Passado – reconto da História de Portugal desde as origens até D. Manuel I. (analepse)
Presente – tempo da acção central do poema, ou seja, da viagem de Vasco da Gama,
iniciada “ in media res”.
Futuro – Profecias . (prolepse)
10.
11.
12. Proposição I
As armas, e os barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
Sinédoque –
apresentar a
parte pelo
todo
Hipérbole –
exagero da
realidade
Todos os homens ilustres
Que, saíram de Portugal
E foram por mares desconhecidos -
navegadores
Passaram além da já conhecida ilha de
Ceilão
Enfrentaram perigos enormes,
Mesmo superiores ao seu estatuto de
ser humano – afasta-os do comum
mortal
Construíram um novo império em
terras distantes. Um reino que tanto
desejaram
O sujeito poético começa por apresentar os destinatários da epopeia, valorizando já os
seus feitos e aproximando-os já de um estatuto acima do humano.
Fazem-se referências a factos históricos e locais concretos.
13. II
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando.
E aqueles reis que estiveram
envolvidos na reconquista cristã
/nas cruzadas contra os
mouros/infiéis em África e na
Ásia
Conjunção
coordenativa
copulativa –
enumeração de
figuras a ser
exaltadas
E aqueles que fazem obras com
valor e que, por isso, não cairão
no esquecimento – vão –se
imortalizando
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
enumeração
Gerúndio –
processo de
continuidade
O sujeito poético compromete-
se a exaltar a louvar, a cantar os
feitos daqueles que enumerou
anteriormente. Usando a
primeira pessoa – plano do
poeta.
1ª pessoa do
singular –
envolvimento do
poeta
14. III
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
Para demonstrar a superioridade e a legitimidade da realização desta epopeia, o
poeta compara os feitos dos Portugueses aos de Ulisses, herói da Odisseia de Homero e
aos de Eneias, o troiano que, na Eneida de Virgílio, chegou ao Lácio e fundou Roma, ou
seja compara o seu herói com os heróis das epopeias de referência.
Imperativo
Herói de
Odisseia -
Ulisses
Herói de
Eneida -
Eneias
Num tom imperativo, de ordem
manda suspender/cessar a fama
dos gregos e romanos
Manda suspender a fama das
vitórias de reis e imperadores
clássicos
Conjunção
subordinativa
causal (= porque)
. Apresenta a
causa da
desvalorização
dos clássicos
Porque o poeta louva o povo
lusitano ao qual pertence.
Povo esse que dominou o mar
(Neptuno)e a guerra (Marte).
Patriotismo,
valores
nacionais
Neptuno – deus do mar
Marte – deus da guerra
1ª pessoa do
singular –
envolvimento
do poeta
Continua em tom imperativo,
ordenando que os clássicos
suspendam a sua fama, porque
agora há um novo povo que
apresenta feitos ainda com mais
valor.
15. Proposição e os três grandes grupos
que constituem o herói coletivo
Canto I, est. 1-3,
• Camões proclama ir cantar as grandes vitórias e os homens ilustres –
“as armas e os barões assinalados”;
• As conquistas e navegações no Oriente (reinados de D. Manuel e de D. João III);
As vitórias em África e na Ásia desde D. João a D. Manuel, que dilataram “a fé e o
império”;
• e, por último, todos aqueles que pelas suas obras valorosas “se vão da lei da morte
libertando”, todos aqueles que mereceram e merecem a “imortalidade” na memória
dos homens.
16. A proposição aponta também para os “ingredientes” que constituem os quatro planos
do poema:
Plano da Viagem - celebração de uma viagem:
"...da Ocidental praia lusitana / Por mares nunca dantes navegados
/ Passaram além da Tapobrana...";
Plano da História - vai contar-se a história de um povo:
"...o peito ilustre lusitano..."."...as memórias gloriosas /
Daqueles Reis que foram dilatando / A Fé, o império e as
terras viciosas / De África e de Ásia...";
Plano dos Deuses (ou do Maravilhoso) aos quais os Portugueses se equiparam:
"... esforçados / Mais do que prometia a força humana..."."A quem Neptuno e Marte
obedeceram...";
Plano do Poeta - em que a voz do poeta se ergue, na primeira pessoa:
"...Cantando espalharei por toda a parte. / Se a tanto me ajudar o engenho e
arte..."."...Que eu canto o peito ilustre lusitano...".
17. Invocação
Canto I, est. 4-5, o poeta pede ajuda a entidades mitológicas, chamadas musas. Isso
acontece várias vezes ao longo do poema, sempre que o autor precisa de inspiração:
Tágides ou ninfas do Tejo (Canto I, est. 4-5);
Calíope - musa da eloquência e da poesia épica (Canto II, est. 1-2);
Ninfas do Tejo e do Mondego (Canto VII, est. 78-87);
Calíope (Canto X, est. 8-9);
Calíope (Canto X, est. 145).
18. Algumas curiosidades:
Conta o Mito que, após a vitória dos deuses do Olimpo sobre os seis filhos de Urano, conhecidos como
titãs, foi solicitado a Zeus que se criassem divindades capazes de cantar a vitória e perpetuar a glória
dos Olímpicos.
Zeus então partilhou o leito com Mnemósine, a deusa da memória, durante nove noites consecutivas e,
um ano depois, Mnemósine deu à luz nove filhas num lugar próximo ao monte Olimpo. Criou-as ali o
caçador Croto, que depois da morte foi transportado, pelo céu, até a constelação de Sagitário.
As musas cantavam o presente, o passado e o futuro, acompanhados pela lira de Apolo, para deleite
das divindades do panteão. Eram, originalmente, ninfas dos rios e lagos. O seu culto era originário da
Trácia ou em Piéria, região a leste do Olimpo, de cujas encostas escarpadas desciam vários rios
produzindo sons que sugeriam uma música natural, levando a crer que a montanha era habitada por
deusas amantes da música. Nos primórdios, eram apenas deusas da música, formando um maravilhoso
coro feminino. Posteriormente, suas funções e atributos diversificaram-se.
As suas moradas, normalmente estavam situadas próximas das fontes e riachos, ficavam na Pieria,
leste do Olimpo (musas pierias), no monte Helicon, na Beócia (musas beócias) e no monte Parnaso em
Delfos (musas délficas). Nesses locais dançavam e cantavam, acompanhadas muitas vezes de Apolo
(líder das musas). Eram bastante zelosas da sua honra e puniam os mortais que ousassem presumir
igualdade com elas na arte da música.
O coro das musas tornou o seu lugar de nascimento um santuário e um local de danças especiais.
Também frequentavam o monte Hélicon, onde duas fontes, Aganipe e Hipocrene, tinham a virtude de
conferir inspiração poética a quem bebesse as suas águas. Ao lado das fontes, faziam graciosos
movimentos de uma dança, com os seus pés incansáveis, enquanto exibiam a harmonia de suas vozes
cristalinas.
19. Invocação estrofes 4-5
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente
Se sempre, em verso humilde, celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado
Um estilo grandíloco e corrente,
Por que de vossas águas Febo ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene.
Dai-me hua fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda.
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no Universo
Se tão sublime preço cabe em verso.
Invocar significa apelar, pedir, suplicar.
Daí a presença do Imperativo.
Nestas estrofes, Camões dirige-se às
Tágides, as ninfas do Tejo, pedindo-lhes
que o ajudem a cantar os feitos dos
portugueses de uma forma sublime.
Até aí apenas usou a inspiração na
humilde lírica, mas agora precisa de
uma inspiração superior.
Mod.
apositivo Perífrase
Metáfora –
dar coragem
inspira a
vontade e a
ação
Anáfora - é uma figura de estilo que
consiste em repetir a mesma palavra
ou expressão
Apóstrofe
Imperativo
O estilo da epopeia aparece aqui descrito:
“alto e sublimado”
”Um estilo grandíloco e corrente.“
“fúria grande e sonorosa”
“tuba canora e belicosa”
“Que se espalhe e se cante no Universo”
-“Que se espalhe e se cante no Universo, Se
tão Sublime preço cabe em verso” Ou seja,
Camões quer que a mensagem se espalhe e
que cante ao universo os feitos dos
portuguesesConjunção
subordinativa
condicional
20. Dedicatória
Canto I, est. 6-18, é o oferecimento do poema a D.
Sebastião, que encara toda a esperança do poeta,
que quer ver nele um monarca poderoso, capaz de
retomar “a dilatação da fé e do império” e de
ultrapassar a crise do momento.
Termina com uma exortação ao rei para que
também se torne digno de ser cantado,
prosseguindo as lutas contra os Mouros.
Exórdio (est. 6-8) - início do discurso;
Exposição (est. 9-11) - corpo do discurso;
Confirmação (est. 12-14) - onde são apresentados os exemplos;
Peroração (est. 15-17) - espécie de recapitulação ou remate;
Epílogo (est. 18) - conclusão.
21. - Filho do príncipe D. João e de D. Joana de Áustria;
- nasceu em Lisboa a 20 de janeiro de 1554, e morreu em
Alcácer Quibir, a 4 de agosto de 1578.
- Sucedeu a seu avô D. João III
o seu nascimento foi esperado com ansiedade, enchendo
de júbilo o povo, pois a coroa corria o perigo de vir a ser
herdada por outro neto de D. João III, o príncipe D. Carlos,
filho de Filipe II de Espanha.
- De saúde precária, D. Sebastião mostrou desde muito cedo duas grandes
paixões: a guerra e o zelo religioso. Cresceu na convicção de que Deus o criara
para grandes feitos;
- Foi educado entre dois partidos palacianos de interesses opostos - o de sua avó
que pendia para a Espanha, e o do seu tio-avô o cardeal D. Henrique favorável a
uma orientação nacional.
- D. Sebastião, desde a sua maioridade, afastou-se abertamente dum e doutro,
aderindo ao partido dos validos, homens da sua idade, temerários a exaltados, que
estavam sempre prontos a seguir as suas determinações.
Algumas curiosidades:
22. - Tinha o sonho de sujeitar a si toda a Berbéria e trazer à sua soberania a veneranda
Palestina,
- nunca se interessou pelo povo, nunca reuniu cortes nem visitou o País, só
pensando em recrutar um exército e armá-lo, pedindo auxílio a Estados
estrangeiros, contraindo empréstimos a arruinando os cofres do reino, tendo o
único fito de ir a África combater os mouros.
- Chefe de um numeroso exército, na sua maioria aventureiros e miseráveis, parte
para a África em Junho de 1578; chega perto de Alcácer Quibir a 3 de agosto e a
4, o exército português esfomeado e estafado pela marcha e pelo calor, e dirigido
por um rei incapaz, foi completamente destroçado, figurando o próprio rei entre os
mortos.
- D. Sebastião (1554-1578) transformou-se num mito após o seu
desaparecimento na batalha de Alcácer Quibir, no norte de África. A sua morte
abriu as portas à crise dinástica que vai colocar os reis de Espanha no trono
português.
- ver:: http://ensina.rtp.pt/artigo/d-sebastiao-1554-1578/#sthash.LRDQ0veF.dpuf
23. Dedicatória estrofes 6-8
E vós, ó bem nascida segurança
Da Lusitana antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena Cristandade,
Vós, ó novo temor da Maura lança,
Maravilha fatal da nossa idade,
Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,
Pera do mundo a Deus dar parte grande.
Vós, tenro e novo ramo florecente,
De hua árvore, de Cristo mais amada
Que nenhua nascida no Ocidente,
Cesária ou Cristianíssima chamada,
Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas e deixou
As que Ele pera Si na Cruz tomou;
Vós, poderoso Rei, cujo alto Império
O Sol, logo em nascendo, vê primeiro;
Vê-o também no meio do Hemisfério,
E, quando dece, o deixa derradeiro;
Vós, que esperamos jugo e vitupério
Do tope Ismaelita cavaleiro,
Do Turco Oriental e do Gentio
Que inda bebe o licor do santo Rio: (...)
Metáfora e Apóstrofe : Vós, tenro e novo ramo florecente”,
-“E vós” 6estrofe-1linha: A D.Sebastião
-“Maravilha Fatal da Nossa Idade”: Elogio a D.Sebastião
Exórdio(est.6-8)-iníciododiscurso;
24. 9
Inclinai por um pouco a majestade
Que nesse tenro gesto vos contemplo,
Que já se mostra qual na inteira idade,
Quando subindo ireis ao eterno templo;
Os olhos da real benignidade
Ponde no chão: vereis um novo exemplo
De amor dos pátrios feitos valerosos,
Em versos divulgado numerosos.
Perífrase - morte
. O sujeito lírico usa o imperativo para pedir a atenção do rei;
. Reforça novamente a juventude, a majestade e superioridade do rei;
. O sujeito poético apresenta-se como um humilde servo (“ Ponde no chão”);
. Reforça o seu patriotismo.
Exposição(est.9-11)-corpododiscurso;
25. 10
Vereis amor da pátria, não movido
De prémio vil, mas alto e quási eterno;
Que não é prémio vil ser conhecido
Por um pregão do ninho meu paterno.
Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor supremo,
E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo Rei, se de tal gente.
11
Ouvi, que não vereis com vãs façanhas,
Fantásticas, fingidas, mentirosas,
Louvar os vossos, como nas estranhas
Musas, de engrandecer-se desejosas:
As verdadeiras vossas são tamanhas
Que excedem as sonhadas, fabulosas,
Que excedem Rodamonte e o vão Rugeiro
E Orlando, inda que fora verdadeiro.
Exposição(est.9-11)-corpododiscurso;
Perífrase
Hipérbole
Imperativo
Anáfora
. Camões refere que
escreverá não para ser
reconhecido, pois é
impulsionado pelo
patriotismo.
. Através do uso do
imperativo, Camões
pede a atenção ao rei e
reforça que louvará os
portugueses de quem
ele tem o privilégio de
ser Rei.
. O que irá ser
contado é verdade
e não fantasia
como acontece em
alguns casos;
. O que se vai
contar excede o
que já foi contado.
.
26. 12
Por estes vos darei um Nuno fero,
Que fez ao Rei e ao Reino tal serviço,
Um Egas e um Dom Fuas, que de Homero
A cítara par'eles só cobiço;
Pois polos Doze Pares dar-vos quero
Os Doze de Inglaterra e o seu Magriço;
Dou-vos também aquele ilustre Gama,
Que para si de Eneias toma a fama.
Pois se a troco de (Carlos, Rei de França,
Ou de César, quereis igual memória,
Vede o primeiro Afonso, cuja lança
Escura faz qualquer estranha glória;
E aquele que a seu Reino a segurança
Deixou, com a grande e próspera vitória;
Outro Joane, invicto cavaleiro;
O quarto e quinto Afonsos e o terceiro.
Nem deixarão meus versos esquecidos
Aqueles que nos Reinos lá da Aurora
Se fizeram por armas tão subidos,
Vossa bandeira sempre vencedora:
Um Pacheco fortíssimo e os temidos
Almeidas, por quem sempre o Tejo chora,
Albuquerque terríbil, Castro forte,
E outros em quem poder não teve a morte
Confirmação(est.12-14)-ondesãoapresentadososexemplos
Perífrase
Perífrase
:
D. João I
- Nuno Álvares Pereira – líder militar
- Egas Moniz – aio de D. Afonso
Henriques
- Homero – escritor grego da Ilíada e
Odisseia
- Doze nobre – Carlos Magno
- Guerreiros portugueses – história
lendária
- Vasco da Gama – navegador
- Eneias – herói da Eneida de Virgílio
- Carlos Magno – 1º imperador do
império romano e germânico
- Júlio Cesar – conquistador das Gálias
- D. Afonso Henriques
- D. João I – vencedor de Aljubarrota
- D. João II, o príncipe perfeito (1455-
1495)
- D. Afonso III, IV e V
- Todos os que lutaram na Índia
- Duarte Pacheco Pereira, navegador,
militar e cosmógrafo (1460-1533)
- D. Francisco de Almeida e filho, 1º vice-
rei da Índia
- Afonso de Albuquerque, 2ºVice-rei da
Índia
- D. João de Castro, governador, vice-rei
da Índia (1500-1548)
27. 12
Por estes vos darei um Nuno fero,
Que fez ao Rei e ao Reino tal serviço,
Um Egas e um Dom Fuas, que de Homero
A cítara par'eles só cobiço;
Pois polos Doze Pares dar-vos quero
Os Doze de Inglaterra e o seu Magriço;
Dou-vos também aquele ilustre Gama,
Que para si de Eneias toma a fama.
Pois se a troco de (Carlos, Rei de França,
Ou de César, quereis igual memória,
Vede o primeiro Afonso, cuja lança
Escura faz qualquer estranha glória;
E aquele que a seu Reino a segurança
Deixou, com a grande e próspera vitória;
Outro Joane, invicto cavaleiro;
O quarto e quinto Afonsos e o terceiro.
Nem deixarão meus versos esquecidos
Aqueles que nos Reinos lá da Aurora
Se fizeram por armas tão subidos,
Vossa bandeira sempre vencedora:
Um Pacheco fortíssimo e os temidos
Almeidas, por quem sempre o Tejo chora,
Albuquerque terríbil, Castro forte,
E outros em quem poder não teve a mor
Confirmação(est.12-14)-ondesãoapresentadososexemplos
Perífrase
Perífrase
:
D. João I
São apresentados
exemplos variados
de figuras
portuguesas reais ou
lendárias de renome:
reis, governadores,
navegadores, vice-
reis, aio.
Estabelece-se a
relação com algumas
Figuras da
antiguidade.
28. 15
E, enquanto eu estes canto - e a vós não posso,
Sublime Rei, que não me atrevo a tanto - ,
Tomai as rédeas vós do Reino vosso:
Dareis matéria a nunca ouvido canto.
Comecem a sentir o peso grosso
(Que polo mundo todo faça espanto)
De exércitos e feitos singulares,
De África as terras e do Oriente os mares.
16
Em vós os olhos tem o Mouro frio,
Em quem vê seu exício afigurado;
Só com vos ver, o bárbaro Gentio
Mostra o pescoço ao jugo já inclinado;
Tétis todo o cerúleo senhorio
Tem pera vós por dote aparelhado,
Que, afeiçoada ao gesto belo e tento,
Deseja de comprar-vos pera genro.
17
Em vós se vêm, da Olímpica morada,
Dos dous avós as almas cá famosas;
üa, na paz angélica dourada,
Outra, pelas batalhas sanguinosas.
Em vós esperam ver-se renovada
Sua memória e obras valerosas;
E lá vos têm lugar, no fim da idade,
No templo da suprema Eternidade.
Peroração(est.15-17)-espéciederecapitulaçãoouremate;
. Camões acrescenta que
canta estes que enumerou,
mas ainda não se atreve a
cantar os feitos do reinado de
D. Sebastião.
Considera que D. Sebastião
tem tudo para liderar o seu
povo e ser autor de grandes
feitos em África e no Oriente.
Futuro
Hipérbole
. Refere que os mouros temem D.
Sebastião e preveem a sua
perdição. Mostram-se já disponíveis
para se entregar.
. A deusa do mar que está disponível
para aceitar D. Sebastião = sucesso
no mar.
. D. Sebastião é descendente de D. João
III e Carlos V, que são apresentados
com origem divina.
. Agora há a esperança que o valor dos
antepassados seja continuada por D.
Sebastião.
. Desta forma alcançará a glória imortal.
Hipérbole
D. João III
Carlos V
29. 18
Mas, enquanto este tempo passa lento
De regerdes os povos, que o desejam,
Dai vós favor ao novo atrevimento,
Pera que estes meus versos vossos sejam,
E vereis ir cortando o salso argento
Os vossos Argonautas, por que vejam
Que são vistos de vós no mar irado,
E costumai-vos já a ser invocado.
Epílogo(est.18)-conclusão.
. Referência à estagnação do país;
. Entretanto, Camões pede que a sua obra tenha o seu lugar e
oferece os seus versos ao rei;
. Antecipa mais uma vez a temática do mar e o louvor futuro ao rei
D. Sebastião.
Os Lusíadas
30. Questionário:
- Relaciona o assunto das estâncias 11 a 14 com o conteúdo da
Proposição.
- Explica o uso do Imperativo e do Vocativo nas estâncias da
Dedicatória.
- Explica de que forma está presente na Dedicatória o passado, o
presente e o futuro de Portugal.
31. Narração
Começa no Canto I, est. 19
• constitui a ação principal que, à maneira clássica, se inicia “in media res”, isto é,
quando a viagem já vai a meio, “Já no largo oceano navegavam”, encontrando-se já
os portugueses em pleno Oceano Índico.
• Este começo da ação central, a viagem da descoberta do caminho marítimo para a
Índia, quando os portugueses se encontram já a meio do percurso do canal de
Moçambique, e vai permitir:
A narração do percurso até Melinde (narrador heterodiegético);
A narração da História de Portugal até à viagem (por Vasco da Gama);
A inclusão da narração da primeira parte da viagem (por Vasco da Gama);
A apresentação do último troço da viagem (narrador heterodiegético).
34. Consílio dos Deuses - plano mitológico Canto I – 19-41c
Os Deuses reúnem-se para decidir se ajudam ou não os portugueses a chegar à Índia.
Esta reunião foi presidida por Júpiter, tendo estado presentes todos os Deuses convocados.
Os Deuses sentem a necessidade de reunir face aos feitos gloriosos conseguido até ao
momento.
Júpiter decide ajudá-los, pois considera que os portugueses, pelos seus feitos passados,
são dignos de tal ajuda.
Baco, pelo contrário, não queria que os portugueses fossem para a Índia, com medo
de perder a sua fama no Oriente.
Vénus apoia Júpiter, pois vê refletida nos portugueses a força e a coragem do seu filho
Eneias e dos seus descendentes, os romanos. Vénus defende os portugueses não só por se
tratar de uma gente muito semelhante à do seu amado povo latino e com uma língua
derivada do Latim, como também por terem demonstrado grande valentia no norte de
África. Sabe ainda que será louvada onde os portugueses tiverem sucesso.
Marte - deus defensor desta gente lusitana, porque o amor antigo que o ligava a Vénus o
leva a tomar essa posição e porque reconhece a bravura deste povo. Marte consegue
convencer Júpiter a não abdicar da sua decisão e assim, os portugueses serão recebidos
num porto amigo. Pede a Mercúrio - o Deus mensageiro - que colha informações sobre a
Índia, pois começa a desconfiar da posição tomada por Baco.
Este consílio termina com a decisão favorável aos portugueses e cada um dos deuses
regressa ao seu domínio celeste.
35. . Tenta ainda desviar a frota para Mombaça, onde Vasco da Gama acredita que
poderá encontrar nativos com a fé cristã;
. Mais uma vez Baco intriga o rei, mais uma vez Vénus protege os portugueses;
. Plano do Poeta
- Escurso de caráter filosófico da reflexão sobre as falsidades da vida
- Fragilidade do Homem
- Extrema insegurança em que se encontra o Homem
- Onde o homem deposita grande esperança é onde sucede o grande perigo;
- Passa de um acontecimento particular para a dimensão universal – epopeia
- O homem luta contra forças muito fortes:
no mar há o perigo, tormenta e a morte
na terra há guerra, engano e traição
- Ser humano é “um bicho da terra tão pequeno”
- Levanta questões:
- Poderá o homem ultrapassar a sua pequenez?
- Na proposição já respondera: os homens vencem o poder da morte
- O homem infinitamente pequeno vai tornar-se infinitamente grande,
apesar da sua fragilidade
36. Canto I – Plano do Poeta estâncias 103-106
103
Estava a ilha à terra tão chegada,
Que um estreito pequeno a dividia;
Uma cidade nela situada,
Que na fronte do mar aparecia,
De nobres edifícios fabricada,
Como por fora ao longe descobria,
Regida por um Rei de antiga idade:
Mombaça é o nome da ilha e da cidade.
E sendo a ela o Capitão chegado,
Estranhamente ledo, porque espera
De poder ver o povo batizado,
Como o falso piloto lhe dissera,
Eis vêm batéis da terra com recado
Do Rei, que já sabia a gente que era:
Que Baco muito de antes o avisara,
Na forma doutro Mouro, que tomara.
Localização e descrição da
cidade de Mombaça
Vasco da Gama chega ao
local e vem muito feliz, pois
acredita encontrar um povo
cristianizado.
No entanto, Baco tinha
intrigado o rei contra os
portugueses.
37. 105
O recado que trazem é de amigos,
Mas debaixo o veneno vem coberto;
Que os pensamentos eram de inimigos,
Segundo foi o engano descoberto.
Ó grandes e gravíssimos perigos!
Ó caminho de vida nunca certo:
Que aonde a gente põe sua esperança,
Tenha a vida tão pouca segurança!
No mar tanta tormenta, e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme, e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?
Traição: oposição entre a
aparência de amigos e a verdade
do veneno
Reflexão do poeta:
Tom de lamento, desilusão em
relação à fragilidade da vida humana;
Onde o homem deposita grande
esperança é onde sucede o grande
perigo.
Interjeição e exclamação =
expressividade
O homem luta contra forças muito
fortes: no mar há o perigo,
tormenta e a morte
na terra há guerra, engano e
traição
Interrogação retórica = reflexão e dimensão filosófica:
Poderá o homem ultrapassar a sua pequenez?(Na proposição já respondera: os homens vencem o poder da morte)
O homem infinitamente pequeno vai tornar-se infinitamente grande, apesar da sua
fragilidade
Hipérbole
40. Canto IV – Plano da História de Portugal / narrador: Vasco da Gama
Despedidas de Belém e Velho do Restelo/ estâncias 84 – 93
estâncias 94 - 104
Mar Português
O homem do leme
41. Na preparação da partida das naus de Vasco da
Gama para a Índia, sobressai no meio da
confusão um alvoroço e ao mesmo tempo um
desejo de alcançar o trajeto pretendido.
Após a citação do chamado Velho do Restelo,
deu-se a partida; ficaram para trás as terras
portuguesas e apenas o mar e o céu infinitos
cabiam na visão dos lusitanos.
D. João II - 3 de Maio
de 1455 – Alvor, 25 de
Outubro de 1495
D. Manuel - 31 de
Maio de 1469 —
Lisboa, 13 de
Dezembro de 1521)
O projecto para o caminho marítimo para a Índia foi
delineado por D. João II como medida de redução dos
custos nas trocas comerciais com a Ásia e tentativa de
monopolizar o comércio das especiarias. A juntar à cada
vez mais sólida presença marítima portuguesa, D. João
almejava o domínio das rotas comerciais e expansão do
reino de Portugal que já se transformava em Império.
Porém, o empreendimento não seria realizado durante o
seu reinado. Seria o seu sucessor, D. Manuel I que iria
designar Vasco da Gama para esta expedição, embora
mantendo o plano original.
42. Foram de Emanuel remunerados,
Porque com mais amor se apercebessem,
E com palavras altas animados
Para quantos trabalhos sucedessem.
Assim foram os Mínias ajuntados,
Para que o Véu dourado combatessem,
Na fatídica Nau, que ousou primeira
Tentar o mar Euxínio, aventureira.
84
E já no porto da ínclita Ulisseia
C'um alvoroço nobre, e é um desejo,
(Onde o licor mistura e branca areia
Co'o salgado Neptuno o doce Tejo)
As naus prestes estão; e não refreia
Temor nenhum o juvenil despejo,
Porque a gente marítima e a de Marte
Estão para seguir-me a toda parte.
85
Pelas praias vestidos os soldados
De várias cores vêm e várias artes,
E não menos de esforço aparelhados
Para buscar do mundo novas partes.
Nas fortes naus os ventos sossegados
Ondeam os aéreos estandartes;
Elas prometem, vendo os mares largos,
De ser no Olimpo estrelas como a de Argos.
Partida das naus , o velho do restelo -
Plano da História de Portugal e início da viagem (narrador – Vasco da Gama) Canto – IV 83-89 / 94-104
D. Manuel é o responsável pela
organização deste grupo. Tê-
lo-á incentivado e motivado.
Tal como já acontecera no mar
Negro
Já no Porto de Lisboa, em
Belém, onde o rio Tejo
encontra o mar.
As naus já estão prontas e o
ânimo dos marinheiros e
soldados é elevado.
Perífrase -
Lisboa
Narrador
participante:
Vasco da
Gama a
contar a
própria
viagem
Descrição dos soldados,
prontos para descobrir novos
mundos.
As naus são personificadas e
prometem levar aqueles
homens à imortalidade.
Preparação do rei
Apresentação dos
marinheiros e
soldados
43. 86
Depois de aparelhados desta sorte
De quanto tal viagem pede e manda,
Aparelhamos a alma para a morte,
Que sempre aos nautas ante os olhos anda.
Para o sumo Poder que a etérea corte
Sustenta só coa vista veneranda,
Imploramos favor que nos guiasse,
E que nossos começos aspirasse.
87
Partimo-nos assim do santo templo
Que nas praias do mar está assentado,
Que o nome tem da terra, para exemplo,
Donde Deus foi em carne ao mundo dado.
Certifico-te, ó Rei, que se contemplo
Como fui destas praias apartado,
Cheio dentro de dúvida e receio,
Que apenas nos meus olhos ponho o freio.
Perífrase:
Deus
As condições físicas estão
asseguradas, há que
preparar o espírito para o
perigo da morte, que sempre
existe.
Vasco da Gama recorda a
oração e pedido de
protecção e ajuda a Deus
para esta viagem.
Partiram da ermida de Nossa
S. de Belém.
Deus
Cristão
Perífrase:
Belém
Apóstrofe ao rei de Melinde,
recordando a dúvida e o
receio que sentira, mas que
tentara disfarçar.
Apóstrofe:
Rei de
Melinde
Apresentação do
estado de espírito
de Vasco da
Gama
44. 88
A gente da cidade aquele dia,
(Uns por amigos, outros por parentes,
Outros por ver somente) concorria,
Saudosos na vista e descontentes.
E nós coa virtuosa companhia
De mil Religiosos diligentes,
Em procissão solene a Deus orando,
Para os batéis viemos caminhando.
89
Em tão longo caminho e duvidoso
Por perdidos as gentes nos julgavam;
As mulheres c'um choro piedoso,
Os homens com suspiros que arrancavam;
Mães, esposas, irmãs, que o temeroso
Amor mais desconfia, acrescentavam
A desesperarão, e frio medo
De já nos não tornar a ver tão cedo.
Apresentação do
estado de espírito
das gentes No dia da partida, havia
muitos presentes
descontentes/ infelizes.
A comitiva fez-se
acompanhar de religiosos em
procissão.
Enumeração
de pessoas
que não
acreditavam
voltar a ver
os que
embarcavam
O povo não acreditava no
sucesso desta expedição.
45. 90
Qual vai dizendo: -" Ó filho, a quem eu tinha
Só para refrigério, e doce amparo
Desta cansada já velhice minha,
Que em choro acabará, penoso e amaro,
Por que me deixas, mísera e mesquinha?
Por que de mim te vás, ó filho caro,
A fazer o funéreo enterramento,
Onde sejas de peixes mantimento!" –
91
"Qual em cabelo: -"Ó doce e amado esposo,
Sem quem não quis Amor que viver possa,
Por que is aventurar ao mar iroso
Essa vida que é minha, e não é vossa?
Como por um caminho duvidoso
Vos esquece a afeição tão doce nossa?
Nosso amor, nosso vão contentamento
Quereis que com as velas leve o vento?" -
92
Nestas e outras palavras que diziam
De amor e de piedosa humanidade,
Os velhos e os meninos os seguiam,
Em quem menos esforço põe a idade.
Os montes de mais perto respondiam,
Quase movidos de alta piedade;
A branca areia as lágrimas banhavam,
Que em multidão com elas se igualavam.
Apresentam-se dois casos de
lamúrias/queixas:
. Os filhos, que deveriam
acompanhar os pais e ajudá-
los, são afastados.
. Os homens que
abandonavam os lares para
se aventurarem no mar.
* Crítica aos descobrimentos
ao facto de se abandonar o
país e o seu
desenvolvimento.
O narrador diz que todos
tinham esta perspetiva.
E até a natureza responde a
esta dor.
Personificação
46. 93
Nós outros sem a vista alevantarmos
Nem a mãe, nem a esposa, neste estado,
Por nos não magoarmos, ou mudarmos
Do propósito firme começado,
Determinei de assim nos embarcarmos
Sem o despedimento costumado,
Que, posto que é de amor usança boa,
A quem se aparta, ou fica, mais magoa.
O narrador diz que a tripulação não parou os
seus olhos naqueles que deixava para não
sofrer, nem se deixar mover dos seus
propósitos.
Vasco da Gama não quis demorar as
despedidas que sempre magoam.
47. 1 – Apresenta o estado de espírito dos vários elementos presentes neste
episódio. (Vasco da Gama, os marinheiros e soldados e as gentes)
. Soldados e navegadores – com ânimo juvenil; prontos para seguir viagem.
. Vasco da gama – consciente; receoso; duvidoso.
. Gentes – saudosos; descontentes; em desespero; sem esperança; sem
acreditarem no sucesso desta armada.
2 – Nas estâncias 90 e 91 estão apresentados dois casos concretos de
consequências das descobertas. Apresenta-os.
48.
49. 94
Mas um velho d'aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
95
- Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
Apresentação de um velho
que fica nas praias:
- Aspeto respeitado
- Descontente
- Experiente
. As características do Velho
reforçam a legitimidade desta
figura.
. Atitude crítica em relação
à política dos
descobrimentos:
- Denuncia a atitude de
cobiça e vaidade
associada às
Descobertas,
apresentada com uma
imagem de Honra e
Fama.
. Tom de revolta/ desalento/
exclamações
50. Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
51. - Cada um de nós à sua maneira
segura o leme da vida. Para onde
queres navegar?
Elabora um texto expositivo-
argumentativo onde desenvolvas
esta questão e onde faças
referências ao poema Homem do
leme.
Sozinho na noite
um barco ruma para onde vai.
Uma luz no escuro brilha a direito
ofusca as demais.
E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...
E uma vontade de rir, nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...
No fundo do mar
jazem os outros, os que lá ficaram.
Em dias cinzentos
descanso eterno lá encontraram.
E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...
E uma vontade de rir, nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...
No fundo horizonte
sopra o murmúrio para onde vai.
No fundo do tempo
foge o futuro, é tarde demais...
E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...