Mário de Sá-Carneiro nasceu em Lisboa em 1890 e estudou Direito em Coimbra e Paris, onde se dedicou à poesia. Correspondeu-se com Fernando Pessoa sobre problemas emocionais e ideais de morte. Publicou poemas futuristas em 1915 que causaram polêmica. Em 1916, enfrentando depressão e dificuldades financeiras, suicidou-se em Paris como havia anunciado a Pessoa.
1. Mário de Sá-Carneiro
Nasceu em Lisboa a 19 de maio de 1890. Em 1911 matricula-se na Faculdade
de direito de Coimbra e, no ano seguinte, transfere-se para a universidade
de Paris a fim de dar continuidade ao curso de Direito, que não conseguiu
concluir. De temperamento instável e inadaptado, dedicou-se à produção de
grande parte da sua obra poética na capital francesa. Começa a
corresponder-se com Fernando Pessoa e nessa correspondência damos
conta dos seus problemas emocionais e ideias de morte e suicídio. Em 1914
essa correspondência intensifica-se, enviando também poemas e projetos
de obras. Em 1915, como integrante do grupo modernista em Portugal,
participa do lançamento da revista Orpheu. No segundo volume desta
revista publica o poema futurista ‘Manucure’ que, ao lado da ‘Ode Triunfal’
de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos), provoca impacto e polémicas nos
meios literários. Em 1915 regressa a Paris onde passa por constantes crises
de depressões, agravadas pelas dificuldades financeiras. Em 26 de abril de
1916 suicida-se num quarto do Hotel Nice em Paris, tal como anunciara
numa carta a Fernando Pessoa.
O Recreio
Na minha Alma há um balouço
Que está sempre a balouçar ---
Balouço à beira dum poço,
Bem difícil de montar...
--- E um menino de bibe
Sobre ele sempre a brincar...
Se a corda se parte um dia
(E já vai estando esgarçada),
Era uma vez a folia:
Morre a criança afogada...
--- Cá por mim não mudo a corda,
Seria grande estopada...
Se o indez morre, deixá-lo...
Mais vale morrer de bibe
Que de casaca... Deixá-lo
Balouçar-se enquanto vive...
--- Mudar a corda era fácil...
Tal ideia nunca tive.
Mário de Sá-Carneiro