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O anel de Polícrates,
   de Machado de Assis
       Manoel Neves
O ENREDO
                                     o anel de Polícrates
A e Z conversam sobre o Xavier; A é eloquente [medalhão?] enquanto Z possui um discurso que
se aproxima do bíblico; para A, Xavier fora rico, pródigo, mulherengo e tudo perdera; Z, por sua
 vez, vê o protagonista como um homem austero, simples, de vida regrada e sem namoradas;
segundo A, Xavier era original – odiava seguir ideias alheias [abomina o senso comum/iteração];
gostava da sociedade, mas não amava os sócios; apólogo das cuias: cada sócio era uma cuia de
 água e a sociedade era uma banheira; tinha muitas ideias, como não as registrava, acabou por
perder a paternidade; com o passar dos tempos, perde sua inventividade – chega a chamar uma
mulher de flor; um dia, ao ver um cavalo manhoso, compara a vida a um cavalo chucro; fica feliz:
Xavier repetiu a ideia a diversos ouvintes: vejamos se a minha ideia, lançada ao mar, pode
tornar ao meu poder, como o anel de Polícrates, no bucho de algum peixe, ou se o meu
caiporismo será tal, que nunca mais lhe ponha a mão.
  a frase se espalha pela cidade, porque se trata de uma ideia previsível, adaptável a qualquer
  situação; ao final da história, Xavier, apesar de prolífico em ideias originais, acaba por se ver
 reconhecido apenas pela comparação entre a vida e o cavalo xucro. Eis sua morte intelectual.
ASPECTOS TÉCNICOS
                                   o anel de Polícrates
                              a metáfora do título
Polícrates: Rei de Samos, ilha do arquipélago das Espórades. Durante quarenta anos viveu na
mais completa felicidade. Entediado, resolveu experimentar o gosto da tristeza e do sofrimento.
Lançou ao mar o seu anel, joia que estimava acima de todas as riquezas. Entretanto, a [deusa]
Fortuna não aceitou seu sacrifício. Os pescadores encontraram o precioso objeto e devolveram-
no ao soberano [o anel estava na barriga de um peixe que foi pescado e levado ao palácio].
O ENREDO
                                    o anel de Polícrates

                                 o gênero literário
   neste conto, como em toda a coletânea, Machado faz uma intertextualidade inter-gêneros

                                        o diálogo
          o uso do gênero literário diálogo aproxima o texto machadiano da filosofia,
tal qual ocorre em “Teoria do medalhão”, o enredo é pretexto p/ a discussão de ideias filosóficas
O ENREDO
                                o anel de Polícrates

           lendo a produção literária do II Império
 aceitam-se metáforas previsíveis e de gosto duvidoso sem se questionar seu conteúdo

                                  lendo o clichê
                                 01. linguagem ridículo;
                               02. discurso vazio, inócuo.

                            desvelando a ironia
                  busca-se não a ideia criativa, mas o orgulho criativo;
intenta-se romper com a literatura [senso comum, clichê, eloquência vazia] do II Império.

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Análise de o anel de polícrates, de machado de assis

  • 1. O anel de Polícrates, de Machado de Assis Manoel Neves
  • 2. O ENREDO o anel de Polícrates A e Z conversam sobre o Xavier; A é eloquente [medalhão?] enquanto Z possui um discurso que se aproxima do bíblico; para A, Xavier fora rico, pródigo, mulherengo e tudo perdera; Z, por sua vez, vê o protagonista como um homem austero, simples, de vida regrada e sem namoradas; segundo A, Xavier era original – odiava seguir ideias alheias [abomina o senso comum/iteração]; gostava da sociedade, mas não amava os sócios; apólogo das cuias: cada sócio era uma cuia de água e a sociedade era uma banheira; tinha muitas ideias, como não as registrava, acabou por perder a paternidade; com o passar dos tempos, perde sua inventividade – chega a chamar uma mulher de flor; um dia, ao ver um cavalo manhoso, compara a vida a um cavalo chucro; fica feliz: Xavier repetiu a ideia a diversos ouvintes: vejamos se a minha ideia, lançada ao mar, pode tornar ao meu poder, como o anel de Polícrates, no bucho de algum peixe, ou se o meu caiporismo será tal, que nunca mais lhe ponha a mão. a frase se espalha pela cidade, porque se trata de uma ideia previsível, adaptável a qualquer situação; ao final da história, Xavier, apesar de prolífico em ideias originais, acaba por se ver reconhecido apenas pela comparação entre a vida e o cavalo xucro. Eis sua morte intelectual.
  • 3. ASPECTOS TÉCNICOS o anel de Polícrates a metáfora do título Polícrates: Rei de Samos, ilha do arquipélago das Espórades. Durante quarenta anos viveu na mais completa felicidade. Entediado, resolveu experimentar o gosto da tristeza e do sofrimento. Lançou ao mar o seu anel, joia que estimava acima de todas as riquezas. Entretanto, a [deusa] Fortuna não aceitou seu sacrifício. Os pescadores encontraram o precioso objeto e devolveram- no ao soberano [o anel estava na barriga de um peixe que foi pescado e levado ao palácio].
  • 4. O ENREDO o anel de Polícrates o gênero literário neste conto, como em toda a coletânea, Machado faz uma intertextualidade inter-gêneros o diálogo o uso do gênero literário diálogo aproxima o texto machadiano da filosofia, tal qual ocorre em “Teoria do medalhão”, o enredo é pretexto p/ a discussão de ideias filosóficas
  • 5. O ENREDO o anel de Polícrates lendo a produção literária do II Império aceitam-se metáforas previsíveis e de gosto duvidoso sem se questionar seu conteúdo lendo o clichê 01. linguagem ridículo; 02. discurso vazio, inócuo. desvelando a ironia busca-se não a ideia criativa, mas o orgulho criativo; intenta-se romper com a literatura [senso comum, clichê, eloquência vazia] do II Império.