O documento discute características do realismo literário como: 1) análise psicológica das personagens; 2) tipificação social das classes; 3) descrição detalhada para aumentar a verossimilhança.
2. REALISMO NA EUROPA
crítica à hipocrisia da moral burguesa
Madame Bovary, a origem
Colocando
a
român,ca
Ema
Bovary
em
contato
com
a
realidade,
Flaubert
reflete
sobre
a
impossibilidade
de
concre,zação
das
fantasias
sen,mentais.
Ela
sonha
com
uma
vida
diferente
e
excitante,
ao
lado
de
alguém
que
seja
a
encarnação
de
um
príncipe
encantado.
A
decepção
com
o
marido
e
a
busca
do
mundo
de
beleza,
prazer
e
refinamento
que
os
textos
român,cos
lhe
haviam
mostrado,
carregam-‐na
em
direção
ao
adultério.
Trai
duas
vezes
e
em
ambas
as
traições
experimenta
a
"grande
paixão"
e
em
seguida
o
abandono
do
amante.
Desiludida,
compreende
a
impotência
e
a
alienação
român,ca
de
seus
desejos,
mas
não
tem
forças
para
suportar
a
grosseria
e
o
u,litarismo
da
existência
pequeno-‐burguesa,
preferindo
o
arsênico
à
lenta
asfixia
de
um
co,diano
vazio.
3. REALISMO
características
análise psicológica
Estudam-‐se
as
mo,vações
que
impulsionam
as
personagens.
Isso
é
feito,
normalmente,
através
do
discurso
indireto
livre.
Entretanto,
é
comum
a
observação
minuciosa
das
ações
das
personagens
com
o
intuito
de
lhes
analisar
o
comportamento.
4. REALISMO
características
tipificação social
Apesar
de
focalizar
mais
de,damente
as
classes
médias
urbanas,
o
romance
realista
se
detém
na
observação
dos
mecanismos
de
ascensão
social
e
na
análise
do
arrivismo
social.
5. REALISMO
características
Não
bonita,
nem
simpá,ca
[...]
Dona
Evarista
reunia
condições
fisiológicas
e
anatômicas
de
primeira
ordem,
digeria
com
facilidade,
dormia
regularmente,
,nha
bom
pulso,
e
excelente
vista;
estava
assim
apta
para
dar-‐lhe
filhos
robustos,
sãos
e
inteligentes.
Se
além
dessas
prendas,
-‐
únicas
dignas
da
preocupação
de
um
sábio,
D.
Evarista
era
mal
composta
de
feições,
longe
de
las,má-‐lo,
agradecia-‐o
a
Deus,
porquanto
não
corria
o
risco
de
preterir
os
interesses
da
ciência
na
contemplação
exclusiva,
miúda
e
vulgar
da
consorte.
ASSIS,
Machado
de.
Papeis
avulsos.
Belo
Horizonte:
Ita,aia,
2005.
desidealização
As
personagens
são
apresentadas
obje,vamente.
O
narrador
preza
pela
verossimilhança
e
apresenta
o
ser
humano
tal
qual
ele
é.
6. REALISMO
características
E
não
faltará
quem
ache
que
a
alma
deste
homem
é
uma
colcha
de
retalhos.
Pode
ser;
moralmente
as
colchas
inteiriças
são
raras!
O
principal
é
que
as
cores
se
não
desmintam
umas
às
outras
–
quando
não
podem
obedecer
à
simetria
e
regularidade.
Era
o
caso
do
nosso
homem.
Tinha
o
aspecto
baralhado
à
primeira
vista;
mas
atentando
bem,
por
mais
opostos
que
fossem
os
ma,zes,
lá
se
achava
a
unidade
moral
da
pessoa.
ASSIS,
Machado
de.
Quincas
Borba.
São
Paulo:
Á,ca,
2001.
amargura e ironia na observação do ser humano
7. REALISMO
características
descrições detalhadas
As
descrições
detalhadas
deixam
a
narra,va
mais
lenta
e
visam
a
aumentar
o
grau
de
verossimilhança
e
garan,r
um
efeito
de
real
às
obras.
8. REALISMO
características
A
noite
era
clara;
fiquei
cerca
de
meia
hora,
entre
o
mar
e
a
sua
casa.
A
senhora
aposto
que
nem
sonhava
comigo?
Entretanto
eu
quase
que
ouvia
a
sua
respiração.
O
mar
ba,a
com
força,
é
verdade,
com
esta
diferença
que
o
mar
é
estúpido,
sem
saber
por
quê,
e
o
meu
coração
sabe
que
ba,a
pela
senhora.
ASSIS,
Machado
de.
Quincas
Borba.
São
Paulo:
Á,ca,
2001.
antirromantismo
Crí,ca
ao
sen,mentalismo
român,co.
9. REALISMO
características
O
encontro
de
duas
expansões,
ou
a
expansão
de
duas
formas,
pode
determinar
a
supressão
de
uma
delas;
mas,
rigorosamente,
não
há
morte,
há
vida,
porque
a
supressão
de
uma
é
a
condição
da
sobrevivência
da
outra,
e
a
destruição
não
a,nge
o
princípio
universal
e
comum.
Daí
o
caráter
conservador
e
benéfico
da
guerra.
Supõe
tu
um
campo
de
batatas
e
duas
tribos
famintas.
As
batatas
apenas
chegam
para
alimentar
uma
das
tribos,
que
assim
adquire
forças
para
transpor
a
montanha
e
ir
à
outra
vertente,
onde
há
batatas
em
abundância;
mas,
se
as
duas
tribos
dividirem
em
paz
as
batatas
do
campo,
não
chegam
a
nutrir-‐se
suficientemente
e
morrem
de
inanição.
A
paz,
nesse
caso,
é
a
destruição;
a
guerra
é
a
conservação.
Uma
das
tribos
extermina
a
outra
e
recolhe
os
despojos.
Daí
a
alegria
da
vitória,
os
hinos,
aclamações,
recompensas
públicas
e
todos
os
demais
efeitos
das
ações
bélicas.
Se
a
guerra
não
fosse
isso,
tais
demonstrações
não
chegariam
a
dar-‐se,
pelo
mo,vo
real
de
que
o
homem
só
comemora
e
ama
o
que
lhe
é
aprazível
ou
vantajoso,
e
pelo
mo,vo
racional
de
que
nenhuma
pessoa
canoniza
uma
ação
que
virtualmente
a
destrói.
Ao
vencido,
ódio
ou
compaixão;
ao
vencedor,
as
batatas.
ASSIS,
Machado
de.
Quincas
Borba.
São
Paulo:
Á,ca,
2001.
ceticismo e niilismo
Da
descrença
em
alguns
ideais
[ce,cismo],
as
obras
realistas
evoluem,
em
alguns
casos
para
a
descrença
absoluta
[niilismo].
É
o
que
se
vê
na
metáfora
das
batatas.
10. REALISMO
características
Era
uma
vez
uma
choupana
que
ardia
na
estrada;
a
dona
–
um
triste
molambo
de
mulher
–,
chorava
o
seu
desastre,
a
poucos
passos,
sentada
no
chão.
Senão
quando,
indo
a
passear
um
homem
ébrio,
viu
o
incêndio,
viu
a
mulher,
perguntou-‐lhe
se
a
casa
era
dela.
–
É
minha,
sim,
meu
senhor;
é
tudo
o
que
eu
possuía
neste
mundo.
–
Dá-‐me
então
licença
que
acenda
ali
o
meu
charuto?
ASSIS,
Machado
de.
Quincas
Borba.
São
Paulo:
Á,ca,
2001.
humor negro
11. REALISMO
características
Começo
a
arrepender-‐me
deste
livro.
Não
que
ele
me
canse;
eu
não
tenho
que
fazer;
e,
realmente,
expedir
alguns
magros
capítulos
para
esse
mundo
sempre
é
tarefa
que
distrai
um
pouco
da
eternidade.
Mas
o
livro
é
enfadonho,
cheira
a
sepulcro,
traz
certa
contração
cadavérica;
vício
grave,
e
aliás
ínfimo,
porque
o
maior
defeito
deste
livro
és
tu,
leitor.
Tu
tens
pressa
de
envelhecer,
e
o
livro
anda
devagar;
tu
amas
a
narração
direita
e
nutrida,
o
es,lo
regular
e
fluente,
e
este
livro
e
o
meu
es,lo
são
como
os
ébrios,
guinam
à
direita
e
à
esquerda,
andam
e
param,
resmungam,
urram,
gargalham,
ameaçam
o
céu,
escorregam
e
caem...
ASSIS,
Machado
de.
Memórias
póstumas
de
Brás
Cubas.
São
Paulo:
Á,ca,
2005.
conversa com o leitor
12. REALISMO
características
Lembrou-‐me
congregar
os
principais
de
Fuchéu
para
que
me
ouvissem
tanger
o
instrumento,
os
quais
vieram,
escutaram
e
foram-‐se
repe,ndo
que
nunca
antes
,nham
ouvido
coisa
tão
extraordinária.
E
confesso
que
alcancei
um
tal
resultado
com
o
só
recurso
de
ademanes,
da
graça
em
arquear
os
braços
para
tomar
a
charamela,
que
me
foi
trazida
em
uma
bandeja
de
prata,
da
rigidez
do
busto,
da
unção
com
que
alcei
os
olhos
ao
ar,
e
do
desdém
e
ufania
com
que
os
baixei
à
mesma
assembleia.
ASSIS,
Machado
de.
O
segredo
do
bonzo.
Papeis
avulsos.
Belo
Horizonte:
Ita,aia,
2005.
conflito aparência x essência
13. REALISMO
características
Imagine
a
leitora
que
está
em
1813,
na
Igreja
do
Carmo,
ouvindo
uma
daquelas
boas
festas
amigas,
que
eram
todo
o
recreio
público
e
toda
a
arte
musical.
Sabem
o
que
é
uma
missa
cantada;
podem
imaginar
o
que
seria
uma
missa
cantada
daqueles
tempos
remotos.
Não
lhe
chamo
a
atenção
para
os
padres
e
os
sacristãos,
nem
para
o
sermão,
nem
para
os
olhos
das
moças
cariocas,
que
já
eram
bonitos
nesse
tempo,
nem
para
as
man,lhas,
das
senhoras
graves,
os
calções,
as
cabeleiras,
as
sanefas,
as
luzes,
os
incensos,
nada.
Não
falo
sequer
da
orquestra,
que
é
excelente;
limito-‐me
a
mostrar-‐lhes
uma
cabeça
branca,
a
cabeça
desse
velho
que
rege
a
orquestra,
com
alma
e
devoção.
ASSIS,
Machado
de.
Can,ga
de
esponsais.
Disponível
em:
hlp://www.releituras.com/machadodeassis_can,ga.asp
metalinguagem digressão
14. MACHADO DE ASSIS
tensão entre o regional e o universal
INSTINTO DE NACIONALIDADE
e a crítica literária de fins do século XIX
no
final
do
século
XIX,
o
crí,co
Sílvio
Romero
acusou
Machado
de
Assis
de
ter
um
es>lo
des>tuído
de
compromisso
com
o
projeto
de
nacionalidade;
na
verdade,
na
obra
de
Assis,
a
paisagem
plano
de
fundo
para
a
discussão
de
temas
de
caráter
universal
“Pai contra mãe”
Num
de
seus
contos
mais
geniais,
Machado
põe
um
caçador
de
escravos,
por
nome
Cândido
Neves,
num
dilema
moral
–
entrega
seu
filho
para
adoção
ou
uma
escrava
grávida
para
seu
senhor.
A
branquíssima
personagem
nem
pensa
duas
vezes,
res,tui
a
escrava
ao
seu
an,go
senhor
e,
com
o
dinheiro
que
ganhou,
salda
as
contas
e
leva
comida
para
casa.
15. MACHADO DE ASSIS
dissecando a “segunda natureza”
o corpus
burguesia
fluminense
final
do
século
XIX
doenças da alma
adultério
falsas
amizades
dissimulação
interesse
financeiro
arrivismo
social
ostentação
de
aparências
arrivismo social
personagens
menos
favorecidas
economicamente
executam
projeto
de
ascensão
social
16. MACHADO DE ASSIS
principais obras
obras românticas obras realistas
a formação do autor maturidade e análise psicológica
Helena
Memórias
póstumas
de
Brás
Cubas
Iaiá
Garcia
Quincas
Borba
A
mão
e
a
luva
Dom
Casmurro
Ressurreição
Casa
velha
[caráter
sen,mental
e
adesão
à
moral
burguesa]
Esaú
e
Jacó
[caráter
melodramá,co:
valorização
do
enredo]
Memorial
de
Aires
[suspenses,
antecipações,
função
moralizante]
Papéis
avulsos