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Manoel Neves
Os melhores poemas de Gonçalves Dias
A PRIMEIRA GERAÇÃO DO ROMANTISMO
a construção da literatura e da identidade brasileiras
A	LITERATURA
inserção	de	novos	temas	na	tradição	literária
uso	de	termos	indígenas
fixação	da	paisagem	nacional
A	IDENTIDADE
indianismo
nativismo
ufanismo
A PRIMEIRA GERAÇÃO DO ROMANTISMO
características
individualismo;
sentimentalismo;
nacionalismo [ingênuo];
nativismo;
ufanismo;
platonismo;
indianismo;
medievalismo.
EIXOS TEMÁTICOS
a poesia de Gonçalves Dias
a natureza enquanto paisagem
a	exuberância	da	flora	e	da	fauna	são	tematizados	em	poemas	como	“A	canção	do	exílio”
a morte
temática	afim	à	amorosa
o amor
normalmente	é	idealizado,	distante,	incorpóreo,	platônico
o indianismo
o	índio	aparece	como	o	[ante]passado	histórico	brasileiro
A NATUREZA ENQUANTO PAISAGEM
a poesia de Gonçalves Dias
A NATUREZA ENQUANTO PAISAGEM
a poesia de Gonçalves Dias
A	CANÇÃO	DO	EXÍLIO
Minha	terra	tem	palmeiras,	
Onde	canta	o	Sabiá;	
As	aves,	que	aqui	gorjeiam,	
Não	gorjeiam	como	lá.
Nosso	céu	tem	mais	estrelas,	
Nossas	várzeas	têm	mais	flores,	
Nossos	bosques	têm	mais	vida,	
Nossa	vida	mais	amores.
Em	cismar,	sozinho,	à	noite,	
Mais	prazer	encontro	eu	lá;	
Minha	terra	tem	palmeiras,	
Onde	canta	o	Sabiá.
Minha	terra	tem	primores,	
Que	tais	não	encontro	eu	cá;	
Em	cismar	–	sozinho,	à	noite	–	
Mais	prazer	encontro	eu	lá;	
Minha	terra	tem	palmeiras,	
Onde	canta	o	Sabiá.
Não	permita	Deus	que	eu	morra,	

Sem	que	eu	volte	para	lá;	

Sem	que	desfrute	os	primores	

Que	não	encontro	por	cá;	

Sem	qu’inda	aviste	as	palmeiras,	

Onde	canta	o	Sabiá.
temas:	nacionalismo	[fala-se	da	pátria],	nativismo	[natureza]	e	ufanismo	[orgulho	da	terra]
o	locutor	celebra	a	pátria	de	modo	ufanista:	a	natureza	deslumbrante	e	a	terra	é	sem	males
a	celebração	ufanista	da	natureza	se	insere	no	Projeto	de	Formação	da	Identidade	Nacional
forma:	três	tercetos	e	dois	sextetos;	versos	heptassílabos;	anáfora	[minha	terra]
UM PARALELO COM O MODERNISMO
relendo o discurso nativista-ufanista
REIFICAÇÃO,	Claudius	Hermann	Portugal
As	palmeiras	derrubaram	
para	no	lugar	construírem	uma	autoestrada	
O	Sabiá	ganhou	um	festival	nos	idos	de	68	
mas	está	sendo	rapidamente	exterminado	
ou	anda	preso	em	alguma	gaiola.	
O	exílio	de	minha	terra	deixou	de	ser	uma	canção.
ASPECTOS	FORMAIS
sextilha
versos	livres	e	brancos
intertextualidades
ASPECTOS	TEMÁTICOS
apropriação	paródica	do	discurso	ufanista	romântico
intertextos
[Canção	do	exílio,	Sabiá,	Festivais	dos	anos	1960]
A NATUREZA ENQUANTO PAISAGEM
a poesia de Gonçalves Dias
A	ESCRAVA	[fragmentos]
Oh!	Doce	país	de	Congo,	
Doces	terras	dalém-mar!	
Oh!	Dias	de	sol	formoso!	
Oh!	Noites	d’almo	luar
Desertos	de	branca	areia	
De	vasta,	imensa	extensão,	
Onde	livre	corre	a	mente,	
Livre	bate	o	coração.
Onde	longe	inda	se	avista	
O	turbante	muçulmano,	
O	Iatagã	recurvado,	
Preso	à	cinta	do	Africano!
Tão	depressa	corre	a	vida,	
Minha	Alsgá;	depois	morrer	
Só	nos	resta!...	–	Pois	a	vida	
Seja	instante	de	prazer.
Quando	a	noite	sobre	a	terra	
Desenrolava	o	seu	véu,	
Quando	sequer	uma	estrela	
Não	se	pintava	no	céu;
Quando	só	se	ouvia	o	sopro	
De	mansa	brisa	fagueira,	
Eu	o	aguardava	–	sentada	
Debaixo	da	bananeira.
E	ele	às	vezes	me	dizia:	
–	Minh’	Alsgá,	não	tenhas	medo	
Vem	comigo,	vem	sentar-te	
Sobre	o	cima	do	rochedo.
E	eu	respondia	animosa:	
–	Irei	contigo,	onde	fores!	–		
E	tremendo	e	palpitando	
Me	cingia	aos	meus	amores.
Assim	praticando	amigos	
A	aurora	nos	vinha	achar!	
Oh!	Doces	terras	do	Congo,	
Doces	terras	d’além-mar.
temas:	escrava	se	recorda	da	paisagem	africana	–	lugar	de	liberdade	e	de	realização	amorosa
forma:	quadras	heptassílabas;	seleção	vocabular	[Iatagã,	Alsgá];	narração	+	argumentação
tema:	mais	do	que	a	escravidão,	a	crítica	se	refere,	neste	poema,	à	idealização	da	paisagem
tema:	a	escravidão	rasura	a	imagem	utópica	que	se	insinua	na	“Canção	do	exílio”	[exceção]
A MORTE
a poesia de Gonçalves Dias
A MORTE
a poesia de Gonçalves Dias
A	MINHA	MUSA	[fragmentos]
Minha	Musa	não	é	como	ninfa	
Que	se	eleva	das	águas	–	gentil	–	
Co’um	sorriso	nos	lábios	mimosos,	
Com	requebros,	com	ar	senhoril.
Nem	lhe	pousa	nas	faces	redondas	
Dos	fagueiros	anelos	a	cor;	
Nesta	terra	não	tem	uma	esp’rança,	
Nesta	terra	não	tem	um	amor.
Como	fada	de	meigos	encantos,	
Não	habita	um	palácio	encantado,	
Que	em	meio	de	matas	sombrias,	
Qùer	à	beira	do	mar	levantado.
Não	tem	ela	uma	senda	florida,	
De	perfumes,	de	flores	bem	cheia,	
Onde	vague	com	passos	incertos,	
Quando	o	céu	de	luzeiros	se	arreia.
A MORTE
a poesia de Gonçalves Dias
A	MINHA	MUSA	[fragmentos]
Não	é	como	a	de	Horácio	a	minha	Musa;	
Nos	soberbos	alpendres	dos	Senhores	
Não	é	que	ele	reside;	
Ao	banquete	do	grande	em	lauta	mesa,	
Onde	gira	o	falerno	em	taças	d’oiro,	
Não	é	que	ela	preside.
Ela	ama	a	solidão,	ama	o	silêncio,	
Ama	o	prado	florido,	a	selva	umbrosa	
E	da	rola	o	carpir.	
Ela	ama	a	viração	da	tarde	amena,	
O	sussurro	das	águas,	os	acentos	
De	profundo	sentir.
D’Anacreonte	o	gênio	prazenteiro,	
Que	de	flores	cingia	a	fronte	calva	
Em	brilhante	festim,	
Tomando	inspirações	à	doce	amada,	
Que	leda	lh’enflorava	a	ebúrnea	lira;	
De	que	me	serve	a	mim?
Canções	que	a	turba	nutre,	inspira,	exalta	
Nas	cordas	magoadas	não	me	pousam	
Da	lira	de	marfim.	
Correm	meus	dias,	lacrimosos,	tristes,	
Como	a	noite	que	estende	as	negras	asas	
Por	céu	negro	e	sem	fim.
É	triste	minha	Musa,	como	é	triste	
O	sincero	verter	d’amargo	pranto	
D’órfã	singela;	
É	triste	como	o	som	que	a	brisa	espalha,	
Que		cicia	nas	folhas	do	arvoredo	
Por	noite	bela.
Então	corre	o	meu	pranto	muito	e	muito	
Sobre	as	úmidas	cordas	da	minha	Harpa,	
Que	não	ressoam;	
Ñ	choro	os	mortos,	ñ;	choro	os	meus	dias,	
Tão	sentidos,	tão	longos,	tão	amargos,	
Que	em	vão	escoam.
A MORTE
a poesia de Gonçalves Dias
A	MINHA	MUSA	[fragmentos]
Quem	m	dera	ser	como	eles!	
Quem	me	dera	descansar!	
Neste	pobre	cemitério	
Quem	me	dera	o	meu	logar,	
E	co’os	sons	das	Harpas	dos	anjos	
Da	minha	Harpa	os	sons	casar.
ASPECTOS	FORMAIS
métrica	e	estrofação	variada
metalinguagem	[musa	=	poética,	fazer	poético]
Intertextualidade:	diálogo	crítico	com	a	tradição	clássica	da	poesia	ocidental
ASPECTOS	TEMÁTICOS
num	primeiro	momento,	o	locutor	fala	como	sua	poesia	não	é	[imagens	clássicas]
em	seguida,	explicitam-se	as	imagens	e	temáticas		que	serão	caras	à	poesia	gonçalvina
[solidão,	silêncio,	natureza	e	melancolia]
da	tensão	clássico	x	moderno,	emerge	uma	profissão	de	fé	da	poesia	romântica
O AMOR
a poesia de Gonçalves Dias
O AMOR
a poesia de Gonçalves Dias
SE	SE	MORRE	DE	AMOR	[fragmentos]
Se	se	morre	de	amor!	Não,	não	se	morre,	
Quando	é	fascinação	que	nos	surpreende	
De	ruidoso	sarau	entre	os	festejos;	
Quando	luzes,	calor,	orquestra	e	flores	
Assomos	de	prazer	nos	raiam	n’alma,	
Que	embelezada	e	solta	em	tal	ambiente	
No	que	ouve,	e	no	que	vê	prazer	alcança!	
Simpáticas	feições,	cintura	breve,	
Graciosa	postura,	porte	airoso,	
Uma	fita,	uma	flor	entre	os	cabelos,	
Um	quê	mal	definido,	acaso	podem	
Num	engano	d’amor	arrebatar-nos	
Mas	isso	amor	é;	isso	é	delírio,	
Devaneio,	ilusão,	que	se	esvanece	
Ao	som	final	da	orquestra,	ao	derradeiro	
Clarão,	que	as	luzes	no	morrer	despedem:	
Se	outro	nome	lhe	dão,	se	amor	o	chamam,	
D’amor	igual	ninguém	sucumbe	à	perda.
O AMOR
a poesia de Gonçalves Dias
SE	SE	MORRE	DE	AMOR	[fragmentos]
Amor	é	vida;	é	ter	constantemente	
Alma,	sentidos,	coração	–	abertos	
Ao	grande,	ao	belo,	é	ser	capaz	d’extremos,	
D’altas	virtudes,	té	capaz	de	crimes!	
Compr’ender	o	infinito,	a	imensidade,	
E	a	natureza	de	Deus;	gostar	dos	campos,	
D’aves,	flores,	murmúrios	solitários;	
Buscar	a	natureza,	a	soledade,	o	ermo,	
E	ter	o	coração	em	riso	e	festa;	
E	à	branda	festa,	ao	riso	da	nossa	alma	
Fontes	de	pranto	intercalar	sem	custo;	
No	mesmo	tempo,	e	ser	no	mesmo	ponto	
O	ditoso,	o	misérrimo	dos	entes:	
Isso	é	amor	e	desse	amor	se	morre!
forma:	estrofes	irregulares	com	versos	decassílabos;	prosificação	do	discurso;	subjetivismo
conteúdo:	o	locutor	dissocia	o	amor	de	eventos	corpóreos,	triviais	e	concretos
conteúdo:	o	amor	é	ideia;	está	associado	a	um	estado	de	espírito	e	a	laivos	de	subjetividade
O AMOR
a poesia de Gonçalves Dias
AINDA	UMA	VEZ,	ADEUS!	[fragmentos]
Enfim	te	vejo!	–	Enfim	posso,	
Curvado	a	teus	pés,	dizer-te	
Que	não	cessei	de	querer-te,	
Pesar	de	quanto	sofri.	
Muito	penei!	Cruas	ânsias,	
Dos	teus	olhos	afastado,	
Houveram-me	acabrunhado,	
A	não	me	lembrar	de	ti!
Louco,	aflito,	a	saciar-me	
D’agravar	minha	ferida,	
Tomou-me	o	tédio	da	vida.	
Passos	da	morte	senti;	
Mas	quase	no	passo	extremo,	
No	último	arcar	da	esp’rança,	
Tu	me	vieste	à	lembrança:	
Quis	viver	mais	e	vivi!
Vivi;	pois	Deus	me	guardava	
Para	este	lugar	e	hora!	
Depois	de	tanto,	senhora,	
Ver-te	e	falar-te	outra	vez;	
Rever-me	em	teu	rosto	amigo,	
Pensar	em	quanto	hei	perdido	
E	este	pranto	dolorido,	
Deixar	correr	a	teus	pés.
platonismo:	o	locutor	ama	o	amor	que	devota	à	mulher	amada
idealização:	a	mulher	aparece	num	plano	superior	ao	do	sujeito	poético
subjetivismo:	o	poema	tem	ares	confessionais:	o	locutor	externa	seus	sentimentos
forma:	oitavas;	versos	heptassilábicos
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
I-JUCA-PIRAMA	[primeiro	canto,	fragmentos]
No	meio	das	tabas	de	amenos	verdores,	
Cercadas	de	troncos	–	cobertos	de	flores,	
Alteiam-se	os	tetos	d’altiva	nação;	
São	muitos	seus	filhos,	nos	ânimos	fortes,	
Temíveis	na	guerra,	que	em	densas	coortes	
Assombram	das	matas	a	imensa	extensão.
São	rudos,	severos,	sedentos	de	glória,	
Já	prélios	incitam,	já	cantam	vitória,	
Já	meigos	atendem	à	voz	do	cantor:	
São	todos	Timbiras,	guerreiros	valentes!	
Seu	nome	lá	voa	na	boca	das	gentes,	
Condão	de	prodígios,	de	glória	e	terror!
As	tribos	vizinhas,	sem	forças,	sem	brio,	
As	armas	quebrando,	lançando-as	ao	rio,	
O	incenso	aspiraram	dos	seus	maracás:	
Medrosos	das	guerras	qu’	os	fortes	acendem,	
Custosos	tributos	ignavos	lá	rendem,	
Aos	duros	guerreiros	sujeitos	na	paz.
No	centro	da	taba	se	estende	um	terreiro,	
Onde	ora	se	aduna	o	concílio	guerreiro	
Da	tribo	senhora,	das	tribos	servis:	
Os	velhos	sentados	praticam	d’outrora,	
E	os	moços	inquietos,	que	a	festa	enamora,	
Derramam-se	em	torno	dum	índio	infeliz.
forma:	oito	sextilhas	de	versos	hendecassílabos	[ritmo	lento,	grave	e	marcado]
conteúdo:	descrição	[natureza	exuberante]	+	caracterização	narrativo-descritiva	dos	Timbiras
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
I-JUCA-PIRAMA	[primeiro	canto,	fragmentos]
Quem	é?	–	ninguém	sabe:	seu	nome	é	ignoto,	
Sua	tribo	não	diz:	–	de	um	povo	remoto	
Descende	por	certo	–	dum	povo	gentil;	
Assim	lá	na	Grécia	ao	escravo	insulano	
Tornavam	distinto	do	vil	muçulmano	
As	linhas	corretas	do	nobre	perfil.
Por	casos	de	guerra	caiu	prisioneiro	
Nas	mãos	dos	Timbiras:	–	no	extenso	terreiro	
Assola-se	o	teto,	que	o	teve	em	prisão;	
Convidam-se	as	tribos	dos	seus	arredores,	
Cuidosos	se	incubem	do	vaso	das	cores,	
Dos	vários	aprestos	da	honrosa	função.
Acerva-se	a	lenha	da	vasta	fogueira	
Entesa-se	a	corda	da	embira	ligeira,	
Adorna-se	a	maça	com	penas	gentis:	
A	custo,	entre	as	vagas	do	povo	da	aldeia	
Caminha	o	Timbira,	que	a	turba	rodeia,	
Garboso	nas	plumas	de	vário	matiz.
Em	tanto	as	mulheres	com	leda	trigança,	
Afeitas	ao	rito	da	bárbara	usança,	
índio	já	querem	cativo	acabar:	
A	coma	lhe	cortam,	os	membros	lhe	tingem,	
Brilhante	enduape	no	corpo	lhe	cingem,	
Sombreia-lhe	a	fronte	gentil	canitar.
conteúdo:	apresentação	do	guerreiro	tupi	[cujo	porte	é	elogiado]	aprisionado	pelos	timbiras
conteúdo:	os	Timbiras	preparam	o	guerreiro	tupi	para	o	ritual	antropofágico	[adornos,	adereços]
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
I-JUCA-PIRAMA	[segundo	canto,	fragmentos]
Em	fundos	vasos	d’alvacenta	argila	
Ferve	o	cauim;	
Enchem-se	as	copas,	o	prazer	começa,	
Reina	o	festim.
O	prisioneiro,	cuja	morte	anseiam,	
Sentado	está,	
O	prisioneiro,	que	outro	sol	no	ocaso	
Jamais	verá!
A	dura	corda,	que	lhe	enlaça	o	colo,	
Mostra-lhe	o	fim	
Da	vida	escura,	que	será	mais	breve	
Do	que	o	festim!
Contudo	os	olhos	d’ignóbil	pranto	
Secos	estão;	
Mudos	os	lábios	não	descerram	queixas	
Do	coração.
Mas	um	martírio,	que	encobrir	não	pode,	
Em	rugas	faz	
A	mentirosa	placidez	do	rosto	
Na	fronte	audaz!
Que	tens,	guerreiro?	Que	temor	te	assalta	
No	passo	horrendo?	
Honra	das	tabas	que	nascer	te	viram,	
Folga	morrendo.
forma:	dez	quadras	com	esquema	métrico	variado	[10-4-10-4]
conteúdo:	descrição	do	festim	antropofágico;	guerreiro	tupi	começa	a	se	mostrar	preocupado
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
I-JUCA-PIRAMA	[segundo	canto,	fragmentos]
Folga	morrendo;	porque	além	dos	Andes	
Revive	o	forte,	
Que	soube	ufano	contrastar	os	medos	
Da	fria	morte.
Rasteira	grama,	exposta	ao	sol,	à	chuva,	
Lá	murcha	e	pende:	
Somente	ao	tronco,	que	devassa	os	ares,	
O	raio	ofende!
Que	foi?	Tupã	mandou	que	ele	caísse,	
Como	viveu;	
E	o	caçador	que	o	avistou	prostrado	
Esmoreceu!
Que	temes,	ó	guerreiro?	Além	dos	Andes	
Revive	o	forte,	
Que	soube	ufano	contrastar	os	medos	
Da	fria	morte.
conteúdo:	notando	que	o	guerreiro	tupi	está	um	pouco	reticente	e	pensativo,	os	timbiras	o
conteúdo:	encorajam	a	aceitar	o	sacrifício	pq	Tupã	vive	além	dos	Andes	para	cuidar	dele
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
I-JUCA-PIRAMA	[terceiro	canto,	fragmentos]
Em	larga	roda	de	novéis	guerreiros	
Ledo	caminha	o	festival	Timbira,	
A	quem	do	sacrifício	cabe	as	honras,	
Na	fronte	o	canitar	sacode	em	ondas,	
O	enduape	na	cinta	se	embalança,	
Na	destra	mão	sopesa	a	iverapeme,	
Orgulhoso	e	pujante.	–	Ao	menor	passo	
Colar	d’alvo	marfim,	insígnia	d’honra,	
Que	lh’orna	o	colo	e	o	peito,	ruge	e	freme,
Como	que	por	feitiço	não	sabido	
Encantadas	ali	as	almas	grandes	
Dos	vencidos	Tapuias,	inda	chorem	
Serem	glória	e	brasão	d’imigos	feros.
	“Eis-me	aqui”,	diz	ao	índio	prisioneiro;	
“Pois	que	fraco,	e	sem	tribo,	e	sem	família,	
“As	nossas	matas	devassaste	ousado,	
“Morrerás	morte	vil	da	mão	de	um	forte.”
forma:	estrofação	irregular	com	versos	decassílabos
conteúdo:	o	festival	encaminha-se	para	o	seu	apogeu	[sacrifício];	o	índio	tupi	se	apresenta
conteúdo:	e	pergunta	se	será	covardemente	morto
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
I-JUCA-PIRAMA	[terceiro	canto,	fragmentos]
Vem	a	terreiro	o	mísero	contrário;	
Do	colo	à	cinta	a	muçurana	desce:	
“Dize-nos	quem	és,	teus	feitos	canta,	
“Ou	se	mais	te	apraz,	defende-te.”	Começa	
O	índio,	que	ao	redor	derrama	os	olhos,	
Com	triste	voz	que	os	ânimos	comove.
forma:	estrofação	irregular	com	versos	decassílabos
conteúdo:	apesar	da	incredulidade	dos	guerreiros	timbiras,	o	guerreiro	tupi	é	convidado	a	se
conteúdo:	defender,	através	de	um	discurso;	o	índio	começa	a	chorar	e	usa	uma	voz	comovente.
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
I-JUCA-PIRAMA	[quarto	canto,	fragmentos]
Meu	canto	de	morte,	
Guerreiros,	ouvi:	
Sou	filho	das	selvas,	
Nas	selvas	cresci;	
Guerreiros,	descendo	
Da	tribo	tupi.
Da	tribo	pujante,	
Que	agora	anda	errante	
Por	fado	inconstante,	
Guerreiros,	nasci;	
Sou	bravo,	sou	forte,	
Sou	filho	do	Norte;	
Meu	canto	de	morte,	
Guerreiros,	ouvi.
Já	vi	cruas	brigas,	
De	tribos	imigas,	
E	as	duras	fadigas	
Da	guerra	provei;	
Nas	ondas	mendaces	
Senti	pelas	faces	
Os	silvos	fugaces	
Dos	ventos	que	amei.
Andei	longes	terras	
Lidei	cruas	guerras,	
Vaguei	pelas	serras	
Dos	vis	Aimoréis;	
Vi	lutas	de	bravos,	
Vi	fortes	–	escravos!	
De	estranhos	ignavos	
Calcados	aos	pés.
E	os	campos	talados,	
E	os	arcos	quebrados,	
E	os	piagas	coitados	
Já	sem	maracás;	
E	os	meigos	cantores,	
Servindo	a	senhores,	
Que	vinham	traidores,	
Com	mostras	de	paz.	
Aos	golpes	do	imigo,	
Meu	último	amigo,	
Sem	lar,	sem	abrigo	
Caiu	junto	a	mi!	
Com	plácido	rosto,	
Sereno	e	composto,	
O	acerbo	desgosto	
Comigo	sofri.
Meu	pai	a	meu	lado	
Já	cego	e	quebrado,	
De	penas	ralado,	
Firmava-se	em	mi:	
Nós	ambos,	mesquinhos	
Por	ínvios	caminhos,	
Cobertos	d’espinhos	
Chegamos	aqui!
O	velho	no	entanto	
Sofrendo	já	tanto	
De	fome	e	quebranto,	
Só	qu’ria	morrer!	
Não	mais	me	contenho,	
Nas	matas	m’embrenho,
Das	frechas	que	tenho	
Me	quero	valer.
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
I-JUCA-PIRAMA	[quarto	canto,	fragmentos]
Então,	forasteiro,	
Caí	prisioneiro	
De	um	troço	guerreiro	
Com	que	me	encontrei:	
O	cru	dessossêgo	
Do	pai	fraco	e	cego,	
Enquanto	não	chego	
Qual	seja,	–	dizei!
Eu	era	o	seu	guia	
Na	noite	sombria,	
A	só	alegria	
Que	Deus	lhe	deixou:	
Em	mim	se	apoiava,	
Em	mim	se	firmava,	
Em	mim	descansava,	
Que	filho	lhe	sou.
Ao	velho	coitado	
De	penas	ralado,	
Já	cego	e	quebrado,	
Que	resta?	–	Morrer.	
Enquanto	descreve	
O	giro	tão	breve	
Da	vida	que	teve,	
Deixai-me	viver!
Não	vil,	não	ignavo,	
Mas	forte,	mas	bravo,	
Serei	vosso	escravo:	
Aqui	virei	ter.	
Guerreiros,	não	coro	
Do	pranto	que	choro:	
Se	a	vida	deploro,	
Também	sei	morrer.
história	do	tupi:	depois	de	ver	seu	último	companheiro	de	guerra	cair	junto	de	si,	o	guerreiro
história	do	tupi:	foge	com	seu	pai;	então,	embrenha-se	na	floresta	e	acaba	por	cair	prisioneiro
história	do	tupi:	dos	timbiras;	após	tal	constatação,	pede	para	ser	solto	a	fim	de	que	cuide	do	pai
história	do	tupi:	até	o	fim	dos	dias	deste;	assim	que	o	velho	morresse,	ele	voltará
história	do	tupi:	para	ser	sacrificado	pelos	guerreiros	timbiras.
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
I-JUCA-PIRAMA	[quinto	canto,	enredo]
forma:	estrofação	irregular	com	versos	heterométricos
tema:	o	chefe	timbira	pede	para	que	soltem	o	tupi;	todos	ficam	assustados,	pois	isso	nunca
tema:	ocorrera	antes;	solto,	o	tupi	agradece	o	timbira,	que	o	manda	partir;	o	tupi	diz	que	voltará
tema:	então,	o	chefe	timbira	diz	que	será	em	vão,	pq	um	tupi	nunca	chora;	o	tupi	parte.
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
I-JUCA-PIRAMA	[sexto	canto,	enredo]
tema:	o	índio	tupi	reencontra	seu	pai,	que	estranha	a	falta	dos	adornos	da	tribo	tupi	e	ainda
o	cheiro	das	tintas	utilizadas	no	ritual	antropofágico;	o	índio	tupi	diz	que	foi	preso	pelos	timbiras
e	que	estes	o	soltaram	quando	souberam	da	existência	do	velho	pai	fraco	e	cego;	velho	tupi
pergunta	onde	fica	essa	tribo	e	pede	para	ser	levado	para	lá.
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
I-JUCA-PIRAMA	[sétimo	canto,	enredo]
tema:	o	velho	tupi	agradece	a	gentileza	dos	timbiras,	mas	diz	que	nunca	foi	vencido	nem	em
gentilezas;	solicita,	então,	que	o	ritual	antropofágico	se	realize;	o	chefe	timbira	humilha	o	velho
tupi	ao	dizer	que	o	jovem	é	indigno	do	sacrifício.
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
I-JUCA-PIRAMA	[oitavo	canto,	fragmentos]
“Tu	choraste	em	presença	da	morte?	
Na	presença	de	estranhos	choraste?	
Não	descende	o	cobarde	do	forte;	
Pois	choraste,	meu	filho	não	és!	
Possas	tu,	descendente	maldito	
De	uma	tribo	de	nobres	guerreiros,	
Implorando	cruéis	forasteiros,	
Seres	presa	de	via	Aimorés.
	“Possas	tu,	isolado	na	terra,	
Sem	arrimo	e	sem	pátria	vagando,	
Rejeitado	da	morte	na	guerra,	
Rejeitado	dos	homens	na	paz,	
Ser	das	gentes	o	espectro	execrado;	
Não	encontres	amor	nas	mulheres,	
Teus	amigos,	se	amigos	tiveres,	
Tenham	alma	inconstante	e	falaz!	
	“Não	encontres	doçura	no	dia,	
Nem	as	cores	da	aurora	te	ameiguem,	
E	entre	as	larvas	da	noite	sombria	
Nunca	possas	descanso	gozar:	
Não	encontres	um	tronco,	uma	pedra,	
Posta	ao	sol,	posta	às	chuvas	e	aos	ventos,	
Padecendo	os	maiores	tormentos,	
Onde	possas	a	fronte	pousar.
	“Que	a	teus	passos	a	relva	se	torre;	
Murchem	prados,	a	flor	desfaleça,	
E	o	regato	que	límpido	corre,	
Mais	te	acenda	o	vesano	furor;	
Suas	águas	depressa	se	tornem,	
Ao	contacto	dos	lábios	sedentos,	
Lago	impuro	de	vermes	nojentos,	
Donde	fujas	com	asco	e	terror!
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
I-JUCA-PIRAMA	[oitavo	canto,	fragmentos]
“Sempre	o	céu,	como	um	teto	incendido,	
Creste	e	punja	teus	membros	malditos	
E	oceano	de	pó	denegrido	
Seja	a	terra	ao	ignavo	tupi!	
Miserável,	faminto,	sedento,	
Manitôs	lhe	não	falem	nos	sonhos,	
E	do	horror	os	espectros	medonhos	
Traga	sempre	o	cobarde	após	si.
	“Um	amigo	não	tenhas	piedoso	
Que	o	teu	corpo	na	terra	embalsame,	
Pondo	em	vaso	d’argila	cuidoso	
Arco	e	frecha	e	tacape	a	teus	pés!	
Sê	maldito,	e	sozinho	na	terra;	
Pois	que	a	tanta	vileza	chegaste,	
Que	em	presença	da	morte	choraste,	
Tu,	cobarde,	meu	filho	não	és.”
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
I-JUCA-PIRAMA	[nono	canto,	fragmentos]
tema:	o	guerreiro	tupi,	ao	ouvir	as	palavras	do	velho,	lança	seu	grito	de	guerra	e	começa	a	lutar
tema:	a	esmo;	há,	então,	um	alarido	terrível	na	tribo;	correria;	combates;	então	o	velho	timbira
tema:	reconhece	a	bravura	do	guerreiro	tupi	e	diz	que	ele	está	apto	para	o	sacrifício;
tema:	o	pai	e	o	filho	tupis	choram	de	emoção.
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
I-JUCA-PIRAMA	[décimo	canto,	fragmentos]
Um	velho	Timbira,	coberto	de	glória,	
Guardou	a	memória	
Do	moço	guerreiro,	do	velho	Tupi!	
E	à	noite,	nas	tabas,	se	alguém	duvidava	
Do	que	ele	contava,	
Dizia	prudente:	–	“Meninos,	eu	vi!
	“Eu	vi	o	brioso	no	largo	terreiro	
Cantar	prisioneiro	
Seu	canto	de	morte,	que	nunca	esqueci:	
Valente,	como	era,	chorou	sem	ter	pejo;	
Parece	que	o	vejo,	
Que	o	tenho	nest’hora	diante	de	mi.
	“Eu	disse	comigo:	Que	infâmia	d’escravo!	
Pois	não,	era	um	bravo;	
Valente	e	brioso,	como	ele,	não	vi!	
E	à	fé	que	vos	digo:	parece-me	encanto	
Que	quem	chorou	tanto,	
Tivesse	a	coragem	que	tinha	o	Tupi!”
Assim	o	Timbira,	coberto	de	glória,	
Guardava	a	memória	
Do	moço	guerreiro,	do	velho	Tupi.	
E	à	noite	nas	tabas,	se	alguém	duvidava	
Do	que	ele	contava,	
Tornava	prudente:	“Meninos,	eu	vi!”.
forma:	quatro	sextilhas	de	metro	alternado	11	e	5
conteúdo:	velho	timbira	é	o	guardião	da	memória	do	célebre	guerreiro	tupi.
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
MARABÁ	[fragmentos]
Eu	vivo	sozinha,	ninguém	me	procura!

Acaso	feitura

Não	sou	de	Tupá!

Se	algum	dentre	os	homens	de	mim	não	se	esconde:

—	"Tu	és",	me	responde,

"Tu	és	Marabá!"
	—	Meus	olhos	são	garços,	são	cor	das	safiras,

—	Têm	luz	das	estrelas,	têm	meigo	brilhar;

—	Imitam	as	nuvens	de	um	céu	anilado,

—	As	cores	imitam	das	vagas	do	mar!
Se	algum	dos	guerreiros	não	foge	a	meus	passos:

"Teus	olhos	são	garços",

Responde	anojado,	"mas	és	Marabá:

"Quero	antes	uns	olhos	bem	pretos,	luzentes,

"Uns	olhos	fulgentes,

"Bem	pretos,	retintos,	não	cor	d'anajá!"
	—	É	alvo	meu	rosto	da	alvura	dos	lírios,

—	Da	cor	das	areias	batidas	do	mar;

—	As	aves	mais	brancas,	as	conchas	mais	puras

—	Não	têm	mais	alvura,	não	têm	mais	brilhar.
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
O	CANTO	DO	GUERREIRO	[fragmento]
Aqui	na	floresta	
Dos	ventos	batida,	
Façanhas	de	bravos	
Não	geram	escravos,	
Que	estimem	a	vida	
Sem	guerra	e	lidar.	
—	Ouvi-me,	Guerreiros,	
—	Ouvi	meu	cantar.
Valente	na	guerra,	
Quem	há,	como	eu	sou?	
Quem	vibra	o	tacape	
Com	mais	valentia?	
Quem	golpes	daria	
Fatais,	como	eu	dou?	
—	Guerreiros,	ouvi-me;	
—	Quem	há,	como	eu	sou?
ASPECTOS	FORMAIS
estrofes	regulares
redondilha	menor
vocabulário	acessível
o	locutor	é	o	índio
ASPECTOS	TEMÁTICOS
indianismo
o	herói	aparece	idealizado	[bravo,	forte,	orgulhoso]
o	índio	representa	o	[ante]passado	americano
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
O	CANTO	DO	PIAGA	[fragmentos]
Ó	Guerreiros	da	Taba	sagrada,	
Ó	Guerreiros	da	Tribo	Tupi,	
Falam	Deuses	nos	cantos	do	Piaga,	
Ó	Guerreiros,	meus	cantos	ouvi.
[...]	Por	que	dormes,	Ó	Piaga	divino?	
Começou-me	a	Visão	a	falar,	
Por	que	dormes?	O	sacro	instrumento	
De	per	si	já	começa	a	vibrar.	
Tu	não	viste	nos	céus	um	negrume	
Toda	a	face	do	sol	ofuscar;	
Não	ouviste	a	coruja,	de	dia,	
Seus	estrídulos	torva	soltar?
[...]	Ouve	o	anúncio	do	horrendo	fantasma,	
Ouve	os	sons	do	fiel	Maracá;	
Manitôs	já	fugiram	da	Taba!	
Ó	desgraça!	Ó	ruína!	Ó	Tupá!
Pelas	ondas	do	mar	sem	limites	
Basta	selva,	sem	folhas,	i	vem;	
Hartos	troncos,	robustos,	gigantes;	
Vossas	matas	tais	monstros	contêm.
[...]	Negro	monstro	os	sustenta	por	baixo,	
Brancas	asas	abrindo	ao	tufão,	
Como	um	bando	de	cândidas	garças,	
Que	nos	ares	pairando	-	lá	vão.
tema:	o	locutor	assume	o	ponto	de	vista	de	uma	voz	divina	que	fala	com	o	pajé
a	voz	alerta	o	piaga	para	o	desastre	que	está	por	vir	–	a	chegada	do	europeu	[5ª.	e	6ª.	estrofes]
forma:	quartetos	com	versos	predominantemente	eneassílabos	[ritmo	lento	e	grave]
O ÍNDIO
a poesia de Gonçalves Dias
O	CANTO	DO	PIAGA	[fragmentos]
Oh!	quem	foi	das	entranhas	das	águas,	
O	marinho	arcabouço	arrancar?	
Nossas	terras	demanda,	fareja...	
Esse	monstro...	-	o	que	vem	cá	buscar?
Não	sabeis	o	que	o	monstro	procura?	
Não	sabeis	a	que	vem,	o	que	quer?	
Vem	matar	vossos	bravos	guerreiros,	
Vem	roubar-vos	a	filha,	a	mulher!
Vem	trazer-vos	crueza,	impiedade	-	
Dons	cruéis	do	cruel	Anhangá;	
Vem	quebrar-vos	a	maça	valente,	
Profanar	Manitôs,	Maracás.
Vem	trazer-vos	algemas	pesadas,	
Com	que	a	tribo	Tupi	vai	gemer;	
Hão-de	os	velhos	servirem	de	escravos	
Mesmo	o	Piaga	inda	escravo	há	de	ser?	
Fugireis	procurando	um	asilo,	
Triste	asilo	por	ínvio	sertão;	
Anhangá	de	prazer	há	de	rir-se,	
Vendo	os	vossos	quão	poucos	serão.
Vossos	Deuses,	ó	Piaga,	conjura,	
Susta	as	iras	do	fero	Anhangá.	
Manitôs	já	fugiram	da	Taba,	
Ó	desgraça!	ó	ruína!!	ó	Tupá!
tema:	o	sujeito	poético	anuncia	os	desastres	que	serão	trazidos	pela	chegada	do	colonizador
o	discurso	do	locutor	se	configura	num	momento	anterior	à	chegada	do	branco	à	América
tema/forma:	fixação	de	costumes	e	vocabulário	indígenas
UM PARALELO COM O MODERNISMO
o indianismo na poesia de Murilo Mendes
MARCHA	FINAL	DO	GUARANI
Ninguém	mais	vive	quieto	na	terra.	
Outros	deuses	povoam	o	país	
Ando	agora	vestido	de	fraque,	
Pus	no	prego	a	gentil	açoiaba.
O	tacape	enferruja	num	canto,	
A	bengala	não	largo	da	mão.	
Sons	agudos	da	inúbia	não	ouço,	
Na	vitrola	só	tangos	escuto.
Já	não	tarda	o	final	desta	raça,	
Manitôs	abandonam	as	tabas.	
Meus	irmãos,	azulemos	pra	Europa:
O	inimigo	já	chega	bufando,	
Na	maloca	já	fogo	tocaram...	
Ó	desgraça!	Ó	ruína!	Ó	Rondon!
ASPECTOS	FORMAIS
soneto	eneassílabo
uso	de	metonímias	e	antíteses
paródia:	“O	canto	do	piaga”,	Iracema,	O	guarani
ASPECTOS	TEMÁTICOS
apropriação	paródica	do	indianismo	romântico
discurso	de	um	índio	já	aculturado
metonímias
[antepassado	indígena	x	cidadão	aculturado]
ironia	[versos	11	e	14]
revisão	crítica	do	passado	histórico	cultural
MATRIZES INTERTEXTUAIS
a poesia de Gonçalves Dias
LENDO	AS	EPÍGRAFES
diálogo	com	a	tradição	clássica
ruptura	com	tais	padrões
inserção	da	poesia	brasileira	na	tradição	ocidental
A LINGUAGEM
a poesia de Gonçalves Dias
UMA	LINGUAGEM	BRASILEIRA
uso	de	termos	de	origem	tupi
[maracá,	manitôs,	boré]
LAIVOS	MEDIEVAIS
uso	de	arcaísmos
[imigos,	voraces,	logar,	cálix,	frauta]
RECURSOS	POÉTICOS
largo	uso	de	figuras	de	linguagem
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Melhores poemas de gonçalves dias

  • 1. Manoel Neves Os melhores poemas de Gonçalves Dias
  • 2. A PRIMEIRA GERAÇÃO DO ROMANTISMO a construção da literatura e da identidade brasileiras A LITERATURA inserção de novos temas na tradição literária uso de termos indígenas fixação da paisagem nacional A IDENTIDADE indianismo nativismo ufanismo
  • 3. A PRIMEIRA GERAÇÃO DO ROMANTISMO características individualismo; sentimentalismo; nacionalismo [ingênuo]; nativismo; ufanismo; platonismo; indianismo; medievalismo.
  • 4. EIXOS TEMÁTICOS a poesia de Gonçalves Dias a natureza enquanto paisagem a exuberância da flora e da fauna são tematizados em poemas como “A canção do exílio” a morte temática afim à amorosa o amor normalmente é idealizado, distante, incorpóreo, platônico o indianismo o índio aparece como o [ante]passado histórico brasileiro
  • 5. A NATUREZA ENQUANTO PAISAGEM a poesia de Gonçalves Dias
  • 6. A NATUREZA ENQUANTO PAISAGEM a poesia de Gonçalves Dias A CANÇÃO DO EXÍLIO Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar – sozinho, à noite – Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, 
 Sem que eu volte para lá; 
 Sem que desfrute os primores 
 Que não encontro por cá; 
 Sem qu’inda aviste as palmeiras, 
 Onde canta o Sabiá. temas: nacionalismo [fala-se da pátria], nativismo [natureza] e ufanismo [orgulho da terra] o locutor celebra a pátria de modo ufanista: a natureza deslumbrante e a terra é sem males a celebração ufanista da natureza se insere no Projeto de Formação da Identidade Nacional forma: três tercetos e dois sextetos; versos heptassílabos; anáfora [minha terra]
  • 7. UM PARALELO COM O MODERNISMO relendo o discurso nativista-ufanista REIFICAÇÃO, Claudius Hermann Portugal As palmeiras derrubaram para no lugar construírem uma autoestrada O Sabiá ganhou um festival nos idos de 68 mas está sendo rapidamente exterminado ou anda preso em alguma gaiola. O exílio de minha terra deixou de ser uma canção. ASPECTOS FORMAIS sextilha versos livres e brancos intertextualidades ASPECTOS TEMÁTICOS apropriação paródica do discurso ufanista romântico intertextos [Canção do exílio, Sabiá, Festivais dos anos 1960]
  • 8. A NATUREZA ENQUANTO PAISAGEM a poesia de Gonçalves Dias A ESCRAVA [fragmentos] Oh! Doce país de Congo, Doces terras dalém-mar! Oh! Dias de sol formoso! Oh! Noites d’almo luar Desertos de branca areia De vasta, imensa extensão, Onde livre corre a mente, Livre bate o coração. Onde longe inda se avista O turbante muçulmano, O Iatagã recurvado, Preso à cinta do Africano! Tão depressa corre a vida, Minha Alsgá; depois morrer Só nos resta!... – Pois a vida Seja instante de prazer. Quando a noite sobre a terra Desenrolava o seu véu, Quando sequer uma estrela Não se pintava no céu; Quando só se ouvia o sopro De mansa brisa fagueira, Eu o aguardava – sentada Debaixo da bananeira. E ele às vezes me dizia: – Minh’ Alsgá, não tenhas medo Vem comigo, vem sentar-te Sobre o cima do rochedo. E eu respondia animosa: – Irei contigo, onde fores! – E tremendo e palpitando Me cingia aos meus amores. Assim praticando amigos A aurora nos vinha achar! Oh! Doces terras do Congo, Doces terras d’além-mar. temas: escrava se recorda da paisagem africana – lugar de liberdade e de realização amorosa forma: quadras heptassílabas; seleção vocabular [Iatagã, Alsgá]; narração + argumentação tema: mais do que a escravidão, a crítica se refere, neste poema, à idealização da paisagem tema: a escravidão rasura a imagem utópica que se insinua na “Canção do exílio” [exceção]
  • 9. A MORTE a poesia de Gonçalves Dias
  • 10. A MORTE a poesia de Gonçalves Dias A MINHA MUSA [fragmentos] Minha Musa não é como ninfa Que se eleva das águas – gentil – Co’um sorriso nos lábios mimosos, Com requebros, com ar senhoril. Nem lhe pousa nas faces redondas Dos fagueiros anelos a cor; Nesta terra não tem uma esp’rança, Nesta terra não tem um amor. Como fada de meigos encantos, Não habita um palácio encantado, Que em meio de matas sombrias, Qùer à beira do mar levantado. Não tem ela uma senda florida, De perfumes, de flores bem cheia, Onde vague com passos incertos, Quando o céu de luzeiros se arreia.
  • 11. A MORTE a poesia de Gonçalves Dias A MINHA MUSA [fragmentos] Não é como a de Horácio a minha Musa; Nos soberbos alpendres dos Senhores Não é que ele reside; Ao banquete do grande em lauta mesa, Onde gira o falerno em taças d’oiro, Não é que ela preside. Ela ama a solidão, ama o silêncio, Ama o prado florido, a selva umbrosa E da rola o carpir. Ela ama a viração da tarde amena, O sussurro das águas, os acentos De profundo sentir. D’Anacreonte o gênio prazenteiro, Que de flores cingia a fronte calva Em brilhante festim, Tomando inspirações à doce amada, Que leda lh’enflorava a ebúrnea lira; De que me serve a mim? Canções que a turba nutre, inspira, exalta Nas cordas magoadas não me pousam Da lira de marfim. Correm meus dias, lacrimosos, tristes, Como a noite que estende as negras asas Por céu negro e sem fim. É triste minha Musa, como é triste O sincero verter d’amargo pranto D’órfã singela; É triste como o som que a brisa espalha, Que cicia nas folhas do arvoredo Por noite bela. Então corre o meu pranto muito e muito Sobre as úmidas cordas da minha Harpa, Que não ressoam; Ñ choro os mortos, ñ; choro os meus dias, Tão sentidos, tão longos, tão amargos, Que em vão escoam.
  • 12. A MORTE a poesia de Gonçalves Dias A MINHA MUSA [fragmentos] Quem m dera ser como eles! Quem me dera descansar! Neste pobre cemitério Quem me dera o meu logar, E co’os sons das Harpas dos anjos Da minha Harpa os sons casar. ASPECTOS FORMAIS métrica e estrofação variada metalinguagem [musa = poética, fazer poético] Intertextualidade: diálogo crítico com a tradição clássica da poesia ocidental ASPECTOS TEMÁTICOS num primeiro momento, o locutor fala como sua poesia não é [imagens clássicas] em seguida, explicitam-se as imagens e temáticas que serão caras à poesia gonçalvina [solidão, silêncio, natureza e melancolia] da tensão clássico x moderno, emerge uma profissão de fé da poesia romântica
  • 13. O AMOR a poesia de Gonçalves Dias
  • 14. O AMOR a poesia de Gonçalves Dias SE SE MORRE DE AMOR [fragmentos] Se se morre de amor! Não, não se morre, Quando é fascinação que nos surpreende De ruidoso sarau entre os festejos; Quando luzes, calor, orquestra e flores Assomos de prazer nos raiam n’alma, Que embelezada e solta em tal ambiente No que ouve, e no que vê prazer alcança! Simpáticas feições, cintura breve, Graciosa postura, porte airoso, Uma fita, uma flor entre os cabelos, Um quê mal definido, acaso podem Num engano d’amor arrebatar-nos Mas isso amor é; isso é delírio, Devaneio, ilusão, que se esvanece Ao som final da orquestra, ao derradeiro Clarão, que as luzes no morrer despedem: Se outro nome lhe dão, se amor o chamam, D’amor igual ninguém sucumbe à perda.
  • 15. O AMOR a poesia de Gonçalves Dias SE SE MORRE DE AMOR [fragmentos] Amor é vida; é ter constantemente Alma, sentidos, coração – abertos Ao grande, ao belo, é ser capaz d’extremos, D’altas virtudes, té capaz de crimes! Compr’ender o infinito, a imensidade, E a natureza de Deus; gostar dos campos, D’aves, flores, murmúrios solitários; Buscar a natureza, a soledade, o ermo, E ter o coração em riso e festa; E à branda festa, ao riso da nossa alma Fontes de pranto intercalar sem custo; No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto O ditoso, o misérrimo dos entes: Isso é amor e desse amor se morre! forma: estrofes irregulares com versos decassílabos; prosificação do discurso; subjetivismo conteúdo: o locutor dissocia o amor de eventos corpóreos, triviais e concretos conteúdo: o amor é ideia; está associado a um estado de espírito e a laivos de subjetividade
  • 16. O AMOR a poesia de Gonçalves Dias AINDA UMA VEZ, ADEUS! [fragmentos] Enfim te vejo! – Enfim posso, Curvado a teus pés, dizer-te Que não cessei de querer-te, Pesar de quanto sofri. Muito penei! Cruas ânsias, Dos teus olhos afastado, Houveram-me acabrunhado, A não me lembrar de ti! Louco, aflito, a saciar-me D’agravar minha ferida, Tomou-me o tédio da vida. Passos da morte senti; Mas quase no passo extremo, No último arcar da esp’rança, Tu me vieste à lembrança: Quis viver mais e vivi! Vivi; pois Deus me guardava Para este lugar e hora! Depois de tanto, senhora, Ver-te e falar-te outra vez; Rever-me em teu rosto amigo, Pensar em quanto hei perdido E este pranto dolorido, Deixar correr a teus pés. platonismo: o locutor ama o amor que devota à mulher amada idealização: a mulher aparece num plano superior ao do sujeito poético subjetivismo: o poema tem ares confessionais: o locutor externa seus sentimentos forma: oitavas; versos heptassilábicos
  • 17. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias
  • 18. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias I-JUCA-PIRAMA [primeiro canto, fragmentos] No meio das tabas de amenos verdores, Cercadas de troncos – cobertos de flores, Alteiam-se os tetos d’altiva nação; São muitos seus filhos, nos ânimos fortes, Temíveis na guerra, que em densas coortes Assombram das matas a imensa extensão. São rudos, severos, sedentos de glória, Já prélios incitam, já cantam vitória, Já meigos atendem à voz do cantor: São todos Timbiras, guerreiros valentes! Seu nome lá voa na boca das gentes, Condão de prodígios, de glória e terror! As tribos vizinhas, sem forças, sem brio, As armas quebrando, lançando-as ao rio, O incenso aspiraram dos seus maracás: Medrosos das guerras qu’ os fortes acendem, Custosos tributos ignavos lá rendem, Aos duros guerreiros sujeitos na paz. No centro da taba se estende um terreiro, Onde ora se aduna o concílio guerreiro Da tribo senhora, das tribos servis: Os velhos sentados praticam d’outrora, E os moços inquietos, que a festa enamora, Derramam-se em torno dum índio infeliz. forma: oito sextilhas de versos hendecassílabos [ritmo lento, grave e marcado] conteúdo: descrição [natureza exuberante] + caracterização narrativo-descritiva dos Timbiras
  • 19. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias I-JUCA-PIRAMA [primeiro canto, fragmentos] Quem é? – ninguém sabe: seu nome é ignoto, Sua tribo não diz: – de um povo remoto Descende por certo – dum povo gentil; Assim lá na Grécia ao escravo insulano Tornavam distinto do vil muçulmano As linhas corretas do nobre perfil. Por casos de guerra caiu prisioneiro Nas mãos dos Timbiras: – no extenso terreiro Assola-se o teto, que o teve em prisão; Convidam-se as tribos dos seus arredores, Cuidosos se incubem do vaso das cores, Dos vários aprestos da honrosa função. Acerva-se a lenha da vasta fogueira Entesa-se a corda da embira ligeira, Adorna-se a maça com penas gentis: A custo, entre as vagas do povo da aldeia Caminha o Timbira, que a turba rodeia, Garboso nas plumas de vário matiz. Em tanto as mulheres com leda trigança, Afeitas ao rito da bárbara usança, índio já querem cativo acabar: A coma lhe cortam, os membros lhe tingem, Brilhante enduape no corpo lhe cingem, Sombreia-lhe a fronte gentil canitar. conteúdo: apresentação do guerreiro tupi [cujo porte é elogiado] aprisionado pelos timbiras conteúdo: os Timbiras preparam o guerreiro tupi para o ritual antropofágico [adornos, adereços]
  • 20. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias I-JUCA-PIRAMA [segundo canto, fragmentos] Em fundos vasos d’alvacenta argila Ferve o cauim; Enchem-se as copas, o prazer começa, Reina o festim. O prisioneiro, cuja morte anseiam, Sentado está, O prisioneiro, que outro sol no ocaso Jamais verá! A dura corda, que lhe enlaça o colo, Mostra-lhe o fim Da vida escura, que será mais breve Do que o festim! Contudo os olhos d’ignóbil pranto Secos estão; Mudos os lábios não descerram queixas Do coração. Mas um martírio, que encobrir não pode, Em rugas faz A mentirosa placidez do rosto Na fronte audaz! Que tens, guerreiro? Que temor te assalta No passo horrendo? Honra das tabas que nascer te viram, Folga morrendo. forma: dez quadras com esquema métrico variado [10-4-10-4] conteúdo: descrição do festim antropofágico; guerreiro tupi começa a se mostrar preocupado
  • 21. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias I-JUCA-PIRAMA [segundo canto, fragmentos] Folga morrendo; porque além dos Andes Revive o forte, Que soube ufano contrastar os medos Da fria morte. Rasteira grama, exposta ao sol, à chuva, Lá murcha e pende: Somente ao tronco, que devassa os ares, O raio ofende! Que foi? Tupã mandou que ele caísse, Como viveu; E o caçador que o avistou prostrado Esmoreceu! Que temes, ó guerreiro? Além dos Andes Revive o forte, Que soube ufano contrastar os medos Da fria morte. conteúdo: notando que o guerreiro tupi está um pouco reticente e pensativo, os timbiras o conteúdo: encorajam a aceitar o sacrifício pq Tupã vive além dos Andes para cuidar dele
  • 22. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias I-JUCA-PIRAMA [terceiro canto, fragmentos] Em larga roda de novéis guerreiros Ledo caminha o festival Timbira, A quem do sacrifício cabe as honras, Na fronte o canitar sacode em ondas, O enduape na cinta se embalança, Na destra mão sopesa a iverapeme, Orgulhoso e pujante. – Ao menor passo Colar d’alvo marfim, insígnia d’honra, Que lh’orna o colo e o peito, ruge e freme, Como que por feitiço não sabido Encantadas ali as almas grandes Dos vencidos Tapuias, inda chorem Serem glória e brasão d’imigos feros. “Eis-me aqui”, diz ao índio prisioneiro; “Pois que fraco, e sem tribo, e sem família, “As nossas matas devassaste ousado, “Morrerás morte vil da mão de um forte.” forma: estrofação irregular com versos decassílabos conteúdo: o festival encaminha-se para o seu apogeu [sacrifício]; o índio tupi se apresenta conteúdo: e pergunta se será covardemente morto
  • 23. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias I-JUCA-PIRAMA [terceiro canto, fragmentos] Vem a terreiro o mísero contrário; Do colo à cinta a muçurana desce: “Dize-nos quem és, teus feitos canta, “Ou se mais te apraz, defende-te.” Começa O índio, que ao redor derrama os olhos, Com triste voz que os ânimos comove. forma: estrofação irregular com versos decassílabos conteúdo: apesar da incredulidade dos guerreiros timbiras, o guerreiro tupi é convidado a se conteúdo: defender, através de um discurso; o índio começa a chorar e usa uma voz comovente.
  • 24. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias I-JUCA-PIRAMA [quarto canto, fragmentos] Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi. Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiros, nasci; Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte; Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi. Já vi cruas brigas, De tribos imigas, E as duras fadigas Da guerra provei; Nas ondas mendaces Senti pelas faces Os silvos fugaces Dos ventos que amei. Andei longes terras Lidei cruas guerras, Vaguei pelas serras Dos vis Aimoréis; Vi lutas de bravos, Vi fortes – escravos! De estranhos ignavos Calcados aos pés. E os campos talados, E os arcos quebrados, E os piagas coitados Já sem maracás; E os meigos cantores, Servindo a senhores, Que vinham traidores, Com mostras de paz. Aos golpes do imigo, Meu último amigo, Sem lar, sem abrigo Caiu junto a mi! Com plácido rosto, Sereno e composto, O acerbo desgosto Comigo sofri. Meu pai a meu lado Já cego e quebrado, De penas ralado, Firmava-se em mi: Nós ambos, mesquinhos Por ínvios caminhos, Cobertos d’espinhos Chegamos aqui! O velho no entanto Sofrendo já tanto De fome e quebranto, Só qu’ria morrer! Não mais me contenho, Nas matas m’embrenho, Das frechas que tenho Me quero valer.
  • 25. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias I-JUCA-PIRAMA [quarto canto, fragmentos] Então, forasteiro, Caí prisioneiro De um troço guerreiro Com que me encontrei: O cru dessossêgo Do pai fraco e cego, Enquanto não chego Qual seja, – dizei! Eu era o seu guia Na noite sombria, A só alegria Que Deus lhe deixou: Em mim se apoiava, Em mim se firmava, Em mim descansava, Que filho lhe sou. Ao velho coitado De penas ralado, Já cego e quebrado, Que resta? – Morrer. Enquanto descreve O giro tão breve Da vida que teve, Deixai-me viver! Não vil, não ignavo, Mas forte, mas bravo, Serei vosso escravo: Aqui virei ter. Guerreiros, não coro Do pranto que choro: Se a vida deploro, Também sei morrer. história do tupi: depois de ver seu último companheiro de guerra cair junto de si, o guerreiro história do tupi: foge com seu pai; então, embrenha-se na floresta e acaba por cair prisioneiro história do tupi: dos timbiras; após tal constatação, pede para ser solto a fim de que cuide do pai história do tupi: até o fim dos dias deste; assim que o velho morresse, ele voltará história do tupi: para ser sacrificado pelos guerreiros timbiras.
  • 26. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias I-JUCA-PIRAMA [quinto canto, enredo] forma: estrofação irregular com versos heterométricos tema: o chefe timbira pede para que soltem o tupi; todos ficam assustados, pois isso nunca tema: ocorrera antes; solto, o tupi agradece o timbira, que o manda partir; o tupi diz que voltará tema: então, o chefe timbira diz que será em vão, pq um tupi nunca chora; o tupi parte.
  • 27. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias I-JUCA-PIRAMA [sexto canto, enredo] tema: o índio tupi reencontra seu pai, que estranha a falta dos adornos da tribo tupi e ainda o cheiro das tintas utilizadas no ritual antropofágico; o índio tupi diz que foi preso pelos timbiras e que estes o soltaram quando souberam da existência do velho pai fraco e cego; velho tupi pergunta onde fica essa tribo e pede para ser levado para lá.
  • 28. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias I-JUCA-PIRAMA [sétimo canto, enredo] tema: o velho tupi agradece a gentileza dos timbiras, mas diz que nunca foi vencido nem em gentilezas; solicita, então, que o ritual antropofágico se realize; o chefe timbira humilha o velho tupi ao dizer que o jovem é indigno do sacrifício.
  • 29. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias I-JUCA-PIRAMA [oitavo canto, fragmentos] “Tu choraste em presença da morte? Na presença de estranhos choraste? Não descende o cobarde do forte; Pois choraste, meu filho não és! Possas tu, descendente maldito De uma tribo de nobres guerreiros, Implorando cruéis forasteiros, Seres presa de via Aimorés. “Possas tu, isolado na terra, Sem arrimo e sem pátria vagando, Rejeitado da morte na guerra, Rejeitado dos homens na paz, Ser das gentes o espectro execrado; Não encontres amor nas mulheres, Teus amigos, se amigos tiveres, Tenham alma inconstante e falaz! “Não encontres doçura no dia, Nem as cores da aurora te ameiguem, E entre as larvas da noite sombria Nunca possas descanso gozar: Não encontres um tronco, uma pedra, Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos, Padecendo os maiores tormentos, Onde possas a fronte pousar. “Que a teus passos a relva se torre; Murchem prados, a flor desfaleça, E o regato que límpido corre, Mais te acenda o vesano furor; Suas águas depressa se tornem, Ao contacto dos lábios sedentos, Lago impuro de vermes nojentos, Donde fujas com asco e terror!
  • 30. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias I-JUCA-PIRAMA [oitavo canto, fragmentos] “Sempre o céu, como um teto incendido, Creste e punja teus membros malditos E oceano de pó denegrido Seja a terra ao ignavo tupi! Miserável, faminto, sedento, Manitôs lhe não falem nos sonhos, E do horror os espectros medonhos Traga sempre o cobarde após si. “Um amigo não tenhas piedoso Que o teu corpo na terra embalsame, Pondo em vaso d’argila cuidoso Arco e frecha e tacape a teus pés! Sê maldito, e sozinho na terra; Pois que a tanta vileza chegaste, Que em presença da morte choraste, Tu, cobarde, meu filho não és.”
  • 31. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias I-JUCA-PIRAMA [nono canto, fragmentos] tema: o guerreiro tupi, ao ouvir as palavras do velho, lança seu grito de guerra e começa a lutar tema: a esmo; há, então, um alarido terrível na tribo; correria; combates; então o velho timbira tema: reconhece a bravura do guerreiro tupi e diz que ele está apto para o sacrifício; tema: o pai e o filho tupis choram de emoção.
  • 32. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias I-JUCA-PIRAMA [décimo canto, fragmentos] Um velho Timbira, coberto de glória, Guardou a memória Do moço guerreiro, do velho Tupi! E à noite, nas tabas, se alguém duvidava Do que ele contava, Dizia prudente: – “Meninos, eu vi! “Eu vi o brioso no largo terreiro Cantar prisioneiro Seu canto de morte, que nunca esqueci: Valente, como era, chorou sem ter pejo; Parece que o vejo, Que o tenho nest’hora diante de mi. “Eu disse comigo: Que infâmia d’escravo! Pois não, era um bravo; Valente e brioso, como ele, não vi! E à fé que vos digo: parece-me encanto Que quem chorou tanto, Tivesse a coragem que tinha o Tupi!” Assim o Timbira, coberto de glória, Guardava a memória Do moço guerreiro, do velho Tupi. E à noite nas tabas, se alguém duvidava Do que ele contava, Tornava prudente: “Meninos, eu vi!”. forma: quatro sextilhas de metro alternado 11 e 5 conteúdo: velho timbira é o guardião da memória do célebre guerreiro tupi.
  • 33. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias MARABÁ [fragmentos] Eu vivo sozinha, ninguém me procura!
 Acaso feitura
 Não sou de Tupá!
 Se algum dentre os homens de mim não se esconde:
 — "Tu és", me responde,
 "Tu és Marabá!" — Meus olhos são garços, são cor das safiras,
 — Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;
 — Imitam as nuvens de um céu anilado,
 — As cores imitam das vagas do mar! Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:
 "Teus olhos são garços",
 Responde anojado, "mas és Marabá:
 "Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,
 "Uns olhos fulgentes,
 "Bem pretos, retintos, não cor d'anajá!" — É alvo meu rosto da alvura dos lírios,
 — Da cor das areias batidas do mar;
 — As aves mais brancas, as conchas mais puras
 — Não têm mais alvura, não têm mais brilhar.
  • 34. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias O CANTO DO GUERREIRO [fragmento] Aqui na floresta Dos ventos batida, Façanhas de bravos Não geram escravos, Que estimem a vida Sem guerra e lidar. — Ouvi-me, Guerreiros, — Ouvi meu cantar. Valente na guerra, Quem há, como eu sou? Quem vibra o tacape Com mais valentia? Quem golpes daria Fatais, como eu dou? — Guerreiros, ouvi-me; — Quem há, como eu sou? ASPECTOS FORMAIS estrofes regulares redondilha menor vocabulário acessível o locutor é o índio ASPECTOS TEMÁTICOS indianismo o herói aparece idealizado [bravo, forte, orgulhoso] o índio representa o [ante]passado americano
  • 35. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias O CANTO DO PIAGA [fragmentos] Ó Guerreiros da Taba sagrada, Ó Guerreiros da Tribo Tupi, Falam Deuses nos cantos do Piaga, Ó Guerreiros, meus cantos ouvi. [...] Por que dormes, Ó Piaga divino? Começou-me a Visão a falar, Por que dormes? O sacro instrumento De per si já começa a vibrar. Tu não viste nos céus um negrume Toda a face do sol ofuscar; Não ouviste a coruja, de dia, Seus estrídulos torva soltar? [...] Ouve o anúncio do horrendo fantasma, Ouve os sons do fiel Maracá; Manitôs já fugiram da Taba! Ó desgraça! Ó ruína! Ó Tupá! Pelas ondas do mar sem limites Basta selva, sem folhas, i vem; Hartos troncos, robustos, gigantes; Vossas matas tais monstros contêm. [...] Negro monstro os sustenta por baixo, Brancas asas abrindo ao tufão, Como um bando de cândidas garças, Que nos ares pairando - lá vão. tema: o locutor assume o ponto de vista de uma voz divina que fala com o pajé a voz alerta o piaga para o desastre que está por vir – a chegada do europeu [5ª. e 6ª. estrofes] forma: quartetos com versos predominantemente eneassílabos [ritmo lento e grave]
  • 36. O ÍNDIO a poesia de Gonçalves Dias O CANTO DO PIAGA [fragmentos] Oh! quem foi das entranhas das águas, O marinho arcabouço arrancar? Nossas terras demanda, fareja... Esse monstro... - o que vem cá buscar? Não sabeis o que o monstro procura? Não sabeis a que vem, o que quer? Vem matar vossos bravos guerreiros, Vem roubar-vos a filha, a mulher! Vem trazer-vos crueza, impiedade - Dons cruéis do cruel Anhangá; Vem quebrar-vos a maça valente, Profanar Manitôs, Maracás. Vem trazer-vos algemas pesadas, Com que a tribo Tupi vai gemer; Hão-de os velhos servirem de escravos Mesmo o Piaga inda escravo há de ser? Fugireis procurando um asilo, Triste asilo por ínvio sertão; Anhangá de prazer há de rir-se, Vendo os vossos quão poucos serão. Vossos Deuses, ó Piaga, conjura, Susta as iras do fero Anhangá. Manitôs já fugiram da Taba, Ó desgraça! ó ruína!! ó Tupá! tema: o sujeito poético anuncia os desastres que serão trazidos pela chegada do colonizador o discurso do locutor se configura num momento anterior à chegada do branco à América tema/forma: fixação de costumes e vocabulário indígenas
  • 37. UM PARALELO COM O MODERNISMO o indianismo na poesia de Murilo Mendes MARCHA FINAL DO GUARANI Ninguém mais vive quieto na terra. Outros deuses povoam o país Ando agora vestido de fraque, Pus no prego a gentil açoiaba. O tacape enferruja num canto, A bengala não largo da mão. Sons agudos da inúbia não ouço, Na vitrola só tangos escuto. Já não tarda o final desta raça, Manitôs abandonam as tabas. Meus irmãos, azulemos pra Europa: O inimigo já chega bufando, Na maloca já fogo tocaram... Ó desgraça! Ó ruína! Ó Rondon! ASPECTOS FORMAIS soneto eneassílabo uso de metonímias e antíteses paródia: “O canto do piaga”, Iracema, O guarani ASPECTOS TEMÁTICOS apropriação paródica do indianismo romântico discurso de um índio já aculturado metonímias [antepassado indígena x cidadão aculturado] ironia [versos 11 e 14] revisão crítica do passado histórico cultural
  • 38. MATRIZES INTERTEXTUAIS a poesia de Gonçalves Dias LENDO AS EPÍGRAFES diálogo com a tradição clássica ruptura com tais padrões inserção da poesia brasileira na tradição ocidental
  • 39. A LINGUAGEM a poesia de Gonçalves Dias UMA LINGUAGEM BRASILEIRA uso de termos de origem tupi [maracá, manitôs, boré] LAIVOS MEDIEVAIS uso de arcaísmos [imigos, voraces, logar, cálix, frauta] RECURSOS POÉTICOS largo uso de figuras de linguagem [anáfora, aliteração, apóstrofe]
  • 40. SIGA-ME NAS REDES SOCIAIS!!! http://www.slideshare.net/ma.no.el.ne.ves https://www.facebook.com/nevesmanoel https://www.instagram.com/manoelnevesmn/ h t t p s : / / w w w . y o u t u b e . c o m / u s e r / TheManoelNeves https://twitter.com/Manoel_Neves
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