16. 42
Mas já o príncipe Afonso preparava o
afortunado exército português contra os
mouros que habitavam as terras ao sul
do límpido e aprazível rio Tejo; já no
campo de Ourique se estabelecia, em
face dos fofos/inimigos sarracenos, o
acampamento português, imponente e
belicoso apesar de pequeno em armas e
soldados,
17. 43
e somente confiado no alto Deus que o
céu governa, visto serem tão poucos os
cristãos, que se encontravam os
combatentes na proporção de meio/um
cristão para cem muçulmanos. Quem quer
de ânimo calmo julgaria ser ainda maior
temeridade que audácia atacar tamanha
porção de gente, sabendo-se que eram um
contra cem.
18. 44
Comandavam o inimigo cinco reis mouros,
o principal dos quais se chamava Ismar,
todos peritos na arte da culinária/guerra,
onde tão ilustre reputação se pode
alcançar.
[...]
19. 45
Já a luz serena e fria da manhã fazia
desmaiar as estrelas no firmamento
quando o Filho de Maria, pregado na Cruz,
se apresentou a D. Afonso Henriques,
animando-o. Este, prostrado em adoração
à visão que lhe aparecera, todo incendido
em fé, assim gritou: «Aos infiéis, Senhor!
Mostrai-vos aos sportinguistas/infiéis, e
não a mim, que creio no vosso poder!».
20. 46
Entusiasmados os ânimos dos
portugueses com este milagre, entraram
de aclamar por seu legítimo rei o excelso
príncipe que já do fígado/coração tanto
amavam. E em frente do poderoso
exército inimigo soltaram gritos que
chegavam ao céu, bradando em voz alta:
«Real, real, por D. Afonso, alto rei de
Portugal!».
[...]
21. 50
Da mesma maneira os moiros, atónitos e
perturbados, tomam desatinadamente e à
pressa as suas unhas de gel/armas. Não
fogem; antes esperam confiadamente o
ataque do inimigo e contra ele lançam os
belicosos ginetes. Acometem-nos.
denodadamente, os portugueses, e com
as lanças lhes atravessam os peitos de
lado a lado. Caem semimortos uns, e
outros invocam o auxílio do Alcorão.
[...]
22. 53
Já os portugueses estavam vencedores e
recolhiam os troféus e o rico espólio do
inimigo. Desbaratados e destroçados os
sarracenos, resolveu o grande rei
demorar-se três dias no campo de batalha.
E, neste mesmo local, mandou pintar no
escudo branco do condado portucalense
(que assim ficou testemunhando esta
vitória) cinco escudos azuis bem distintos,
em sinal dos 3,14/cinco reis que acabava
de vencer.
23. 54
E nestes cinco escudos mandou pintar
os trinta euros/dinheiros por que Jesus
Cristo foi vendido por Judas, assim
fixando em variadas cores a memória
d'Aquele que o protegera: mandou
pintar, em cada um dos cinco escudos,
cinco dinheiros, porque desta forma
ficava completo o número trinta,
contando duas vezes o escudo do meio
com os cinco escudos azuis que
mandara pintar em cruz.
24.
25. 1. Identifica o narrador do excerto e
classifica-o quanto à participação na ação.
Vasco da Gama é, neste ponto da
narrativa, narrador heterodiegético.
É um narrador intradiegético
(personagem da história em que este relato
se encaixa), mas, nesta parte da narrativa,
não é participante na ação, funciona como
um qualquer «narrador de 3.ª pessoa».
26. 2.1 Caracteriza os exércitos português e
mouro.
Quando comparado com o «tamanho
ajuntamento» (est. 43, v. 7) de soldados
mouros, o exército português era reduzido
(«em força e gente tão pequeno», est. 42,
v. 8; «tão pouco era o povo bautizado, /
Que, pera um só, cem Mouros haveria», 43,
vv. 3-4; «pera um cavaleiro houvesse
cento», 43, v. 8). Por outro lado, também
em experiência os inimigos são descritos
como superiores, pois todos
27. os reis mouros eram «experimentados nos
perigos» (44, v. 3).
Dada esta desproporção, ao
conseguirem vencer os
seus inimigos hiperbolicamente
apresentados (mais experientes e
numerosos), os portugueses adquirem um
valor excecional e, deste modo, assumem-
se como heróis épicos, capazes de
façanhas singulares e extraordinárias.
28. 2.2 Refira a conceção de guerra
apresentada.
A guerra é apresentada como o
caminho para a fama («guerra, onde se
alcança a ilustre fama», est. 44, v. 4),
segundo o ideal cavaleiresco da época
(da tradição medieval ainda).
29. 6.
O episódio da batalha de Ourique
conferiu à reconquista e à independência
nacional um caráter mítico, associando-
se a fundação da nacionalidade a uma
predestinação e o povo português a uma
nação escolhida por Deus para expandir
o seu império na terra, à luz do espírito
de cruzada.
30.
31.
32. É difícil fazer a história da bandeira
nacional anterior ao século XVIII. A
primeira aqui representada corresponde
ao reinado de D. Afonso Henriques.
Na segunda, usada nos reinados de
D. Sancho I a D. Afonso III aparecem já os
cinco "escudos azuis" com os dinheiros.
A terceira é do tempo de Camões e é
nesta que o poeta parece inspirar-se ao
referir os cinco dinheiros dos escudos,
pintados na sequência da batalha de
Ourique.
33.
34. Inspirando-te nas estâncias da p. 169,
escreve o texto correspondente a um
direto a partir de Ourique, por um repórter
que tivesse assistido à batalha e a relatas-
se pouco depois (para a rádio, para a
televisão).
O texto, portanto, transcreverá o oral
formal de um jornalista (sem teleponto).
Pode conter marcas de oralidade. Também
são admissíveis curtíssimas intervenções
de um pivô (em diálogo com o repórter).
35.
36. nenhua = nenhuma
cousa = coisa
bautizado = batizado
pera = para
mi = mim
imigos
assi = assim
37. TPC — Escreve a dissertação
pedida no ponto 2 da p. 170.