Apresentação para décimo ano de 2017 8, aula 33-34
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 75-76
1.
2. O soneto de Camões usa a 1.ª pessoa,
exprimindo o desalento do poeta, resultante da
retrospetiva que faz da sua vida: infeliz e pontuada
de desilusões amorosas (o que o sujeito poético
atribui ao destino mas também a culpas próprias).
O poema de Sophia, dirigido a uma segunda
pessoa, que corresponderá a Luís de Camões,
recupera algumas frases do texto camoniano, mas
molda-as a outra situação: os culpados são agora
os portugueses, ou o governo português, que não
teriam tratado o poeta (e toda a arte, talvez) com o
reconhecimento devido — o poema tem a marca
até de uma crítica ao poder político.
[ca. 100 palavras]
3. No poema de Sophia […] é dirigido a
O poema
No poema de Sophia […] o sujeito dirige-
se a
16. A fermosura desta fresca serra,
e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;
17. o rouco som do mar, a estranha terra,
o esconder do sol pelos outeiros,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;
18. enfim, tudo o que a rara natureza
com tanta variedade nos ofrece,
me está (se não te vejo) magoando.
19. Sem ti, tudo me enoja e m' avorrece;
sem ti, perpetuamente estou passando
nas mores alegrias, mor tristeza.
20.
21. pílula / *pírula / dissimilação / evita-se
a semelhança que havia entre dois
sons. Neste caso particular, um dos
LL modificou-se em R.
22. fizeram-lo / fizeram-no /
assimilação / o pronome (lo) passa a
ligar-se por uma consoante nasal
(n), porque assim se aproxima do
som nasal da última sílaba do verbo.
23. festra (arc.) (<fenestra) / fresta /
metátese/houve a transposição da
consoante r da segunda para a
primeira sílaba (há uma metátese
quando um som muda o seu lugar
dentro da palavra).
24. crudu / cruu (arc.) / síncope /síncope
é a perda de um som a meio da
palavra. Neste caso, uma consoante
que havia na palavra latina «crudu»,
-d-, desapareceu na palavra
portuguesa arcaica «cruu» (que
aliás, depois, ainda evoluiria para
«cru»).
25. a + a; a + as / à; às / crase / a
contracção da preposição «a» com o
artigo definido «a» e «as» é a crase
mais frequente.
26. tio / *tiu / sinérese / tal como a crase, a
sinérese também contrai duas vogais,
só que tornando as duas vogais num
ditongo (neste caso: i-o > iu).
27. sic / si (arc.) / apócope / apócope é a
perda de um som ou sílaba finais.
No exemplo, a palavra latina «sic»
veio a dar «si» (que, depois, evoluiu
para sim).
28. Alandroal / *Landroal /aférese /
aférese é a perda dos sons do início
de uma palavra.
29. você / cê / aférese / esta pronúncia
pode acontecer no português do
Brasil.
30. portanto / *ptanto / síncope / o
autarca que ouvimos não
pronunciava um som a meio da
palavra.
32. ignorante / *iguinorante / epêntese/a
epêntese é o desenvolvimento de um
som a meio da palavra. Neste caso, a
vogal inserida, i, desfez um grupo que
não é natural no português, gn, criando
uma sequência mais conforme ao nosso
padrão (este tipo de epênteses é comum
no português do Brasil).
33. pneu / *peneu / epêntese / de novo um
grupo de consoantes demasiado
erudito (-PN-) a ser desfeito pela
inserção de uma vogal (em Portugal,
produzimos um e; os brasileiros
podem inserir um i [*pineu]).
34. Skip / *cequipe / epêntese / assim
estava escrito num supermercado.
Quem escreveu mal inseria um som
vocálico entre [s] e [k].
35. sexo / *cequisso (no pg. do Brasil) /
epêntese / aqui o par de consoantes
desfeito foi o que existia escondido na
letra <x>, os sons ks.
36. sport (ingl.) / esporte / prótese / o
desenvolvimento de um som no início
da palavra é uma prótese. Os
brasileiros costumam fazer esta
adaptação aos seus empréstimos
começados por s- seguido de
consoante (snob > esnobe), enquanto
em Portugal é mais comum a
manutenção da sequência estrangeira
(snob).
37. mora / amora / prótese / a palavra
portuguesa que descendeu da palavra
latina mora tem um som inicial que não
havia no seu étimo.
38. alguidar / *alguidare / paragoge / a
paragoge é o desenvolvimento de som
no final da palavra. É comum, por
exemplo, na pronúncia alentejana.
39. estar / *tar / aférese / no português
europeu, a não ser em situações
formais, raramente dizemos a primeira
sílaba das formas do verbo «estar» (na
escrita temos de ter cuidado!).
40. ski (ingl.) / esqui / prótese / na
adaptação do anglicismo ao português
acrescentou-se um som no início da
palavra.
43. alteração
(mudança de sons)
aproximação a um som vizinho:
assimilação
diferenciação relativamente a um som
vizinho: dissimilação
contração de duas vogais numa só:
crase
contração de duas vogais num ditongo:
sinérese
47. Aquela cativa,
que me tem cativo
porque nela vivo
já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
em suaves molhos,
que para meus olhos
fosse mais formosa.
48. Nem no campo flores,
nem no céu estrelas,
me parecem belas
como os meus amores.
Rosto singular,
olhos sossegados,
pretos e cansados,
mas não de matar.
49. Uma graça viva,
que neles lhe mora,
para ser senhora
de quem é cativa.
Pretos os cabelos,
onde o povo vão
perde opinião
que os louros são belos.
50. Pretidão de Amor,
tão doce a figura,
que a neve lhe jura
que trocara a cor.
Leda mansidão
que o siso acompanha;
bem parece estranha,
mas bárbora não.
51. Presença serena
que a tormenta amansa;
nela enfim descansa
toda a minha pena.
Esta é a cativa
que me tem cativo,
e, pois nela vivo,
é força que viva.
52. Nem no campo flores,
nem no céu estrelas,
me parecem belas
como os meus amores.
Rosto singular,
olhos sossegados,
pretos e cansados,
mas não de matar.
53.
54. TPC — Para a próxima aula prepara a
leitura expressiva, ou tendencialmente
expressiva, destes sonetos de Camões.
Os números entre parênteses retos
reportam-se aos números dos alunos.
Cada número aparece duas vezes, o que
significa que cada um terá de preparar a
leitura de dois poemas (um já estudado
em aula; outro, ainda por estrear). No
caso dos sonetos novos, além do ensaio
em voz alta, bastante repetido, aconselha-
se uma prévia compreensão do texto,
ainda que, naturalmente, superficial.
55. [1, 5, 9, 13, 17, 21, 25, 29] «O dia em que eu nasci, moura e pereça» (p. 148)
[2, 6, 10, 14, 18, 22, 26, 30] «Erros meus, má fortuna, amor ardente» (p. 155)
[1, 6, 11, 16, 21, 26, 32] «Grão tempo há já que soube da Ventura (p. 158)
[2, 7, 12, 17, 22, 27, 31] «Busque Amor novas artes, novo engenho» (p. 159)
[3, 7, 11, 15, 19, 23, 27, 31] «Amor é um fogo que arde sem se ver» (p. 160)
[3, 8, 13, 18, 23, 28] «Tanto de meu estado me acho incerto» (p. 161)
[4, 9, 14, 19, 24, 29] «Leda serenidade deleitosa» (p. 164)
[5, 10, 15, 20, 25, 30] «Um mover d’olhos, brando e piadoso» (p. 164)
[4, 8, 12, 16, 20, 24, 28, 32] «A fermosura desta fresca serra» (p. 170)